Rose e Alvo se apavoraram com a chegada do domingo. Para eles, o tempo passou rápido demais, tamanha era a ansiedade. Ela, naturalmente, estava o nervosismo em pessoa. Enrolou Hermione e não tomou o café da manhã, pois nada cairia bem no estômago. A mãe apenas aceitou sem restrições porque imaginou ser o dia da revelação sobre o namoro da filha com o primo.

- Rony, ela não quis comer. Acredito ser o final do mistério.

- E vai ser – a convicção dele a deixou desconfiada. – O Alvo garantiu.

- Você está contando muito com isto. Sabe de algo que não sei?

- Não. Mas no quesito honrar a palavra, Alvo parece ser igual ao Harry. Tem que ser.

- Tomara mesmo. Será o ideal para os dois, nossa Rose está sofrendo muito.

Ela se abateu ao se lembrar da agonia da garota naquela semana. Rony percebeu e a amparou, pensativo. Hugo foi para a cozinha levar seu prato e mal olhou para Mione.

- Pensei que estava tudo bem pelo menos com ele, porém vejo agora que além de tudo, o magoei e não consigo reparar o erro. Cada conversa é um novo fracasso. Sempre inteligente em tantas áreas e pouco sei lidar com os sentimentos dos meus próprios filhos.

Finalmente, ele saiu de seu transe e prestou atenção nas palavras dela.

- Você só pode estar tirando sarro de mim! Sabe que é uma ótima mãe, são eles que estão numa fase complicada.

- Isso não justifica. Por que é difícil mostrar para o Hugo o quanto o quero bem? Por mim, ele nem precisava escolher direto uma carreira, bastava pensar nisto com mais atenção para depois estar seguro das próprias decisões.

- Mione, de vez em quando só sabemos o que devemos fazer da vida quando nos sentimos preparados pra encarar qualquer coisa. Pode demorar, mas uma hora isso acontece. Talvez sair de Hogwarts não faça nosso filho amadurecer como você espera. Pode ser em outro momento, mais tarde.

- Ele vai sofrer se for assim...

- Como você sabe? Eu só descobri que queria seria auror depois de pensar muito no assunto enquanto trabalhava com o Jorge. Antes disso, tinha dúvidas. Agora estou seguro. Adianta ele escolher uma profissão porque você diz que é o melhor e depois ele se arrepender, não querer mais fazer nada?

- Não brinque com isso, Rony! – ela começou a se desesperar, entrando em conflito com suas impressões.

- Você consegue entender minha opinião? Hugo deve pensar o mesmo, se bem o conheço.

- Entendo. Apenas não sei se a aceito como uma verdade. Eu preciso pensar.

Naquele instante, seus filhos entraram na cozinha preparados para ir à Toca. Miravam-os com uma expressão de enfado, pois julgavam a conversa como mais uma das brigas intermináveis dos dois.

- Vamos! – exclamou Hermione, disposta a analisar o embate com o marido em outra ocasião. Aquele domingo aparentava ser incomum.

Chegaram na aconchegante casa com uma ótima recepção. Todos estavam satisfeitos de se reunirem novamente. Resolvida a briga entre os primos por causa do jogo de quadribol, cogitaram de tentar outra partida, porém Harry adiantou para Teddy, James e Jorge:

- Pelo menos por hoje, merecemos um pouco de paz. Lílian ainda está de castigo e eu agradeceria se vocês me ajudassem. Se jogarem, não vou deixar ela participar.

- Padrinho, ela só vai aprender a se controlar se testando!

- Concordo. Mas por enquanto, ela precisa valorizar o quadribol para ter o direito de jogá-lo. Terá sim uma chance de provar que melhorou, mas agora é muito cedo – respondeu Harry, mortificado por dentro com a atitude, porém certo dela.

- Das outras vezes, sempre deixamos ela voltar a jogar de alguma forma. Parou em Hogwarts oficialmente, mas certamente dava um jeito de praticar um pouco. Aqui, quase todos os dias estava correndo com um pomo para tudo quanto é canto. Precisamos ser mais enérgicos para ela entender como magoa as pessoas com aquelas atitudes impulsivas. O quanto isso está prejudicando suas amizades e até a entrada em um time – complementou Gina, entrando na rodinha quando notou os três mais afastados da família toda na sala.

- Vocês estão certos. Apesar da menina ter puxado à você, maninha. Igual em teimosia e fúria incontrolável... Parece uma TPM permanente, tá louco.

- Obrigada pela observação útil, Jorge! – ironizou Gina. – Seu filho também está crescendo, cuidado.

- Cuidado com o quê? Ele é muito parecido comigo e com o Fred quando crianças. Eu e Angelina podemos arrancar os cabelos de tanto cansaço de correr atrás do garoto, mas de susto a gente não morre. Repeteco, sabe?

- Sei! As suas histórias com o tio Fred são as melhores! – disse James, empolgado.

- É, o tanto que você aprontou em Hogwarts me indica como você gosta delas, James Sirius.

- Chamar pelos dois nomes é sacanagem, mãe! Esse chiclete não pára de rir de mim depois.

- Antes ter cabelo rosa do que ser chamado de James Sirius. A cor eu posso mudar, já o seu nome...

- Ted John também está longe de ser o nome mais bonito do mundo, só para avisar – disse Jorge, em tom de confidência.

Com os três procurando defeitos em nomes e características próprias, Harry e Gina os observavam divertidos, sabendo que foram compreendidos. Ambos lembraram-se de Alvo e Rose, porém tinham consciência de estarem de mãos atadas no caso.

Molly arrumou a mesa tendo os netos como ajudantes. Eles aproveitavam para tentarem beliscar algo ou conversarem sem a presença constante da maioria dos adultos. Alvo derrubava os talheres com mais freqüência, Rose mal encarava os primos. Hugo e Lílian eram visivelmente cúmplices em seus olhares e frases enigmáticas. A avó argumentou para descobrir qual era a razão de tanto mistério, mas apenas conseguiu respostas vagas.

Quando o almoço começou, Rony e Harry olhavam para seus filhos fixamente. Às vezes, Gina chutava um dos dois de leve para lembrá-los de prestar mais atenção ao caminho do prato para a boca. Estava inconformada com a indiscrição deles. Hermione também disfarçava variando o tema das conversas, a fim de entretê-los e não despertar a curiosidade do resto da família. Sabia que dependendo de quem notasse o clima estranho, as perguntas indiscretas seriam fáceis de acontecer.

Estavam quase na sobremesa. Era sufocante demais. Com um pulo desajeitado e fazendo um pouco de suco de amora voar em Victoire, Rony disse:

- Devia ter feito isso desde o início, mas não queria me precipitar. Por favor, todo mundo brinde a uma boa notícia. Eu achei estranho quando soube dela, ainda gostaria de ver um pedido formal na minha frente, como um homem normalmente faz a um pai quando quer namorar a filha dele, mas vou perdoar esse atraso porque sei que não foi por maldade. Saibam que nós, seus pais, os apoiamos e os entendemos porque só nos interessa a felicidade de vocês. E pra finalizar esse discurso, já que eles não falar nada até agora, um brinde para o namoro de Alvo e Rose!

Victoire parou de enfeitiçar seu vestido para secá-lo e voltá-lo para a natural cor verde-água. Os mais novos ficaram estarrecidos. Molly e Arthur olhavam do filho para os dois netos, perdidos pelo choque. Hermione se perguntava como não supôs aquela reação. Gina não sabia se estapeava o irmão ou o agradecia por ter tomado uma atitude, mesmo descumprindo o combinado. Harry buscava consolo em Alvo, contudo ele se mantinha inexpressivo. Rose fazia menção de chorar e estava no limite da tensão.

O suposto casal se entreolhou por alguns segundos. Alvo sentiu que sua melhor amiga não teria coragem de desmentir o pai diante de todos. Completamente surpresos somente por imaginarem o relacionamento entre primos, seria perturbador demais substituir um baque por outro maior e com sobrenome indesejável. Ele precisava protegê-la das críticas em massa ao menos por um tempo.

- É verdade, estamos juntos. Desculpem não ter contado antes, tivemos medo da reação de vocês, porque somos primos de primeiro grau...

- Não podem ter filhos. Mas se estão felizes, é o que importa, querido – disse a matriarca dos Weasley.

- Fiquem descansados. Confesso ainda estar surpreso, mas como disse seu tio, os apóio sinceramente.

- Obrigado, vovó e vovô – Alvo estava inseguro, porém não havia mais saída. – Esse apoio conta muito para nós. Não é, Rose?

Ela fez um esforço grande para sorrir abertamente em resposta e depois aprontar um sorriso enviesado. Seus lábios tremiam de nervoso. A única solução prática era mordê-los por dentro da boca, de uma maneira um pouco mais escondida do que sua mãe costumava fazer. Pensou em levantar e ficar ao lado do primo, tornar a cena convincente, porém suas pernas a desobedeceram. Prontamente, Alvo deu a volta na mesa e colocou as mãos sobre os ombros dela. Rose retribuiu acariciando uma das mãos dele, e para os presentes aquilo foi prova o suficiente. Devagar, foram parabenizando o casal. Jorge fazia piadas sobre a confusão de parentescos e, com o passar do tempo, os ânimos se acalmaram.

Rony, Hermione, Harry e Gina foram até os dois. A tranqüilidade foi interrompida.

- Vocês estão se sentindo bem agora? Sem aqueles ataques de tristeza ou raiva? – perguntou Rony, sem um pingo de cerimônia.

- Não os sufoque! Deve ter sido difícil – ponderou Gina.

- Se vocês desconfiavam, por que não falaram com a gente? – Rose, recuperada da forte apreensão, procurava sustentar a mentira enquanto não tivesse um plano mais eficiente.

- Nós combinamos de esperar vocês se manifestarem, mas seu pai tem memória um pouco curta quando convém – ralhou Hermione.

- Confiei na palavra do Alvo, mas ele não falou nada!

- Como assim, tio?

Gina ficou tão vermelha quanto seus cabelos. Harry resolveu poupá-la da explicação, sabia como estava envergonhada do que fez.

- Sua mãe ouviu uma conversa entre você e sua irmã. Sem querer, devo alertar. Ela ficou preocupada, nenhum de nós pensava que você e Rose estavam apaixonados. Não podíamos ignorar isso, ainda mais vendo como vocês se fecharam depois de voltarem para casa.

- Queríamos ajudá-los, não imaginam a nossa agonia em vê-los cabisbaixos e sem poder fazer nada. Perdão, meu filho...

- Tudo bem, mãe. Agora já foi. Mas eu ficaria mais feliz se da próxima vez você conversasse comigo antes de qualquer coisa.

- Eu também. Entendo que erramos em ter escondido isso tudo de vocês, porém não precisavam ter esperado. Bem, íamos contar hoje de qualquer maneira.

- Quando? Porque eu já não me suportava! – reclamou Rony.

- Depois do almoço, ou durante a sobremesa – respondeu Alvo, calmo.

- O que a ansiedade faz com as pessoas, não é? Francamente, Rony! Custava muito cumprir o acordo? Eles ficaram sem jeito diante de todos!

- Hermione, você também estava louca para fazer isso. Aliás, nós queríamos resolver esse assunto logo!

- Não precisam brigar. Agora está tudo bem – disse Rose, indisposta a ver os pais discutindo. – Podemos esquecer isso?

- A confusão, sim. O fato, nem se vocês quiserem! Eu fico feliz de saber que vocês se gostam, pois realmente se importam um com o outro há muito tempo.

Harry conseguia enxergar uma certa felicidade nos olhos do filho. Contudo, sua sobrinha deveria estar mais alegre e aliviada. Seus amigos pensaram o mesmo. Intrigados, porém sem razões concretas para questioná-los.

No final da noite, finalmente esqueceram por alguns instantes a existência de Alvo e Rose. No jardim, ela cedeu ao desespero e o abraçou forte.

- Obrigada por me ajudar tanto... Apesar de sermos amigos, eu nunca vou conseguir recompensar tudo o que sempre fez por mim, Alvo.

- Contar a verdade naquela hora era loucura – disse, se separando lentamente dela. – Eles distorceram os fatos, mas será mais fácil conversar em particular com nossos pais do que ter exposto a situação para todos.

- Também acho. Mas preciso falar com Scorpius sobre isso, certamente ele já falou com os Malfoys.

- Ele vai entender.

- Não sei, Alvo. Talvez seja prudente falar apenas que não pude falar na ocasião e não falar que fingimos ser namorados. Ele pode ficar com ciúme.

- Ciúme de mim? Você o ama tanto...

- Você sempre esteve próximo. Seria natural.

"Mas não é", pensou ele, desanimado.

- Vou escrever para ele nesta noite. E de novo, muito obrigada pela sua amizade. Não sei o que faria sem você durante esses anos todos, posso dizer que é como um irmão e amo muito você.

O abraço foi repetido com ternura. O amor fraternal e o romântico se enlaçavam e embalavam mentiras. Não por muito tempo.

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Scorpius levantou tarde naquele domingo. Afinal, passara a noite praticamente em claro, pensando nas escolhas que fizera. A semana tinha se arrastado depois de sua conversa com o pai, logo na sua chegada. Draco evitara conversar com ele depois da briga, talvez na esperança que esquecesse a loucura de não seguir no comando dos negócios da família, mas ele mal sabia que esse seria a menor das decepções que enfrentaria, no período depois da volta do filho.

O rapaz encarou o teto e recordou como toda aquela loucura havia começado.

"Era muita sorte, pensava Scorpius, enquanto arrastava Hugo Weasley, com a perna torta, pelo corredor, para entregá-lo ao professor Zabini. Ele fora pego duelando com outro aluno nas masmorras, e iria sofrer as conseqüências por aquilo. Ele deixara o outro aluno, que brilhava e soltava faíscas, com Fireglass, um outro monitor da Sonserina.

Grifinória iria perder vários pontos e, conseqüentemente, a liderança da taça das casas. Hugo iria sofrer uma detenção séria, o que não desagradava Scorpius. Ele sempre ouvira o pai falar como os Weasleys eram ralé, e que nunca o trataram com o devido respeito.

A única coisa o incomodando era a Corvinal assumir a liderança, e ele não suportava o monitor-chefe de lá, o Spader.

- Espere! Por favor, me escute um pouco, Malfoy - disse uma voz que Scorpius conhecia, mas que nunca fora agradável para ele.

Ele parou de andar ao ouvi-la, porém não soltou Hugo e não se virou para trás.

- Meu irmão é meio inconseqüente, mas entregá-lo para o professor Zabini é um pouco demais! Eu o levo para o professor Longbottom agora, mas por favor, deixe Zabini fora disso.

- Rose, não se meta! Não precisa me defender, eu sei me cuidar! – disse Hugo.

- Estou vendo, seu irresponsável! O que me diz Malfoy? – perguntou Rose.

- Que pedi para outro monitor levar o aluno para nossa sala de reuniões, e não estou com vontade de ser chamado de incompetente por deixar escapar quem fez ele brilhar nos corredores e sair gritando sem voz – respondeu Scorpius, gostando do que aquele comentário poderia causar a monitora da Grifinória.

- Você está querendo humilhar o meu irmão, ou pensa que sou boba? – perguntou Rose. - Mandar ele levar uma bronca de um dos professores mais exigentes e ranzinzas de Hogwarts! Depois ainda encarar Longbottom e perder um monte de pontos para a Grifinória! Não ensinam esse tipo de feitiço nas aulas, ainda tem esse agravante. E falo porque sei que você sabe disso, sempre tirou notas boas em feitiços no ano passado! Eu devia ter me lembrado que apesar de tudo, sonserinos gostam de ser vingativos e arbitrários com grifinórios, estava vendo de longe meu irmão com uma das pernas totalmente torta! Não adianta disfarçar com as vestes, Hugo, é evidente! E isso você não vai falar para o seu querido professor, não é, Malfoy?

A primeira coisa em que Scorpius pensou foi numa resposta bem malcriada para dar a garota, mas uma idéia surgiu em sua cabeça, com clareza. Seria ótimo ter um monitor da Grifinória lhe devendo um favor, e pelo que ouvira falar de Rose, ela era o tipo de pessoa que dava muito valor a essas coisas.

Com uma rapidez quase bruta, ele continuou arrastando Hugo pelo braço e o largou devagar perto de Rose. O garoto cambaleou, porém se recusou a apoiar-se na irmã.

- Siga para o final deste corredor, atrás de você. A sala é uma marcada por um distintivo, mas somente os monitores daqui conseguem enxergá-lo. Então, se você for com algum objeto meu, a porta ficará destrancada. Fale com Fireglass, ele está lá dentro com o garoto. Você sabe reverter o feitiço, Weasley? – perguntou Scorpius.

Hugo hesitou. Rose o ameaçou, impaciente:

- Ande logo, Hugo! Responda!

- Você quer mesmo saber qual detenção vem depois da limpeza de troféus, Weasley? Porque a novidade agora é outra, e tem professor aqui tentado para aplicar no primeiro petulante que fizer uma besteira – Scorpius ameaçou Hugo, já sem paciência.

- Nossa, você parece tão assustador, Malfoy! – respondeu Hugo.

- Hugo, cale a boca. Ele está certo sobre as novas detenções. Por isso vim defendê-lo também – Rose ameaçou o irmão, com um olhar penetrante.

- Eu sei. Tenho uma poção pra isso - respondeu Hugo.

- Sabia que tio Jorge tinha algo a ver com isso! – era o tipo de coisa que Rose esperava do tio.

- É, Rose. Está satisfeita?

- Estou. Mas o que você...? – perguntou Rose.

- Vá para a sala que mandei e explique tudo. Depois, vá pegar a tal poção. O Weasley fica lá com o monitor – explicou Scorpius.

Scorpius sentiu que Rose tentava entender o que estava acontecendo, mas ele era muito bom em não transparecer suas reais intenções.

- Como posso confiar na sua palavra? – perguntou ela.

- Confiando, se você quiser. Eu ouvi a confusão no corredor quando saí da sala do professor Zabini. Tenho que voltar para dar satisfações a ele. Ou você faz o que eu disse agora, ou está tudo acabado, Weasley. Aliás, aqui está meu lenço. Tem as minhas iniciais com fios de prata. Vai lá ou não? – finalizou Scorpius.

- O que você quer em troca, Malfoy? – perguntou Rose.

- Que você corra logo atrás da poção, devolva meu lenço e nunca abra a boca para falar sobre o que aconteceu. Antes que eu me esqueça, deixe seu irmão como ele está, com uma perna torta. Por enquanto – Scorpius iria guardar aquele favor com todo o cuidado, para que na hora oportuna pudesse favorecer a Sonserina, e não ajudar Corvinal na luta pela taça das casas.

Após Rose e Hugo saírem em direção à sala indicada por Scorpius, ele se dirigiu à sala do professor Zabini, para enrolá-lo.

A conversa com Zabini não tinha sido fácil, mas após convencê-lo que o professor Neville tinha visto tudo, e que ele o impediu de trazer os responsáveis diretamente para Zabini, o mal humorado professor acabou aceitando.

Ele voltou à sala onde Fireglass estava com o aluno que tinha duelado com Hugo, e ficou satisfeito em ver que Rose, como toda grifinória inocente, tinha cumprido o combinado, pois seu irmão estava lá, aguardando o retorno dela com a poção.

Quando Rose chegou e medicou o outro aluno sob o olhar de Malfoy e Fireglass, ele aguardou até ela dizer:

- Agora eu posso ajudar meu irmão? Olhar para ele me dá agonia.

- Pode – respondeu Scorpius, sem emoção.

Após Rose girar a perna de Hugo para a posição correta com um feitiço reparador, todos saíram da sala em silêncio.

Scorpius achou melhor não pegar o lenço naquele momento, já que Fireglass achou muito estranha a atitude dele, livrando a cara de Hugo. O melhor era que ninguém soubesse o que ele planejara.

No dia seguinte, Scorpius foi abordado por Rose no final da aula de Herbologia.

- Muito obrigada pelo o que fez por meu irmão. E me perdoe por ter desconfiado de suas intenções – disse a garota.

Ela estendeu o lenço adornado com as iniciais dele em prata. Ele o pegou, escondeu no bolso das vestes e respondeu:

- Apenas não deixe ele chegar perto daquelas masmorras de novo. E obrigado por ter lembrado do meu pedido de ontem. O assunto do seu irmão morre aqui.

Scorpius sorriu de modo cordial, tentando não entregar suas reais intenções para a monitora da Grifinória. Rose sorriu de volta de um modo que nenhuma outra garota havia sorrido para ele, e pela primeira vez Scorpius notou o quanto Rose Weasley lhe agradava. Todas as garotas com quem tinha se relacionado até então pareciam mais interessadas em seu nome e fortuna do que nele mesmo, permitindo a ele manter certa distância em seus relacionamentos.

A partir daquele momento, ele resolveu tratar Rose menos friamente, chegando até a conversar com elas em algumas oportunidades. Afinal, ela parecia gostar de sua presença mais do que qualquer sonserino tinha deixado transparecer."

"E tudo por causa do idiota do irmão dela", pensou Scorpius, sorrindo, enquanto se levantava decidido a enfim terminar com aquela agonia.

Scorpius foi ao banheiro, tomou um banho, fez sua higiene matinal, e desceu as escadas que davam acesso ao seu quarto, rumo à sala de jantar.

Ao entrar na sala, onde tomara seus cafés da manhã desde o seu nascimento, ele lembrou que teria de aprender a viver sem tanto luxo pelo menos por um tempo. Não negava que o dinheiro era importante para ele, pois se acostumara com a vida que levara, mas de certa forma optar por Rose não era um mau negócio.

Além de ser uma garota brilhante, Rose era muito bem conceituada em Hogwarts, e seria otimamente recomendada para qualquer carreira que escolhesse. Ele sabia que o pai tentaria deserdá-lo assim que soubesse de seu relacionamento com Rose Weasley, mas sua mãe iria ficar do seu lado. Além disso, cedo ou tarde a fortuna dos Malfoys, dele por direito, iria para suas mãos. Seria só uma questão de tempo, pois não tinha irmãos.

Tinha pesado muito bem tudo o que aquela decisão iria acarretar em sua vida, e decidira por Rose. Ele a amava, pelo menos achava isso, e no fim das contas teria controle sobre sua vida, além do dinheiro dos Malfoys.

- Bom dia – disse Scorpius, para o pai e a mãe, que ainda tomavam o café da manhã.

- Bom dia, meu filho – respondeu somente a mãe, enquanto Draco apenas bufou em resposta. – Dormiu bem?

- Dentro do possível – respondeu Scorpius.

O desjejum transcorreu normalmente como num dia qualquer, e quando Draco levantou-se, parecendo ter a intenção de ir ao escritório, Scorpius lhe dirigiu a palavra.

- Pai, preciso muito falar com o senhor e com mamãe. Poderia ser agora?

- Agora infelizmente estou com outros planos – respondeu Draco, dando a entender ao filho que nem tudo seria na hora em que ele desejava. – Vou sair, e só volto de noite para o jantar. Portanto, você terá que esperar.

- Tudo bem – respondeu Scorpius, com desdém. – Depois do jantar eu falo com vocês.

Scorpius passou o resto do dia em seu quarto, remoendo o ódio que estava sentindo do pai. Saiu apenas para almoçar na companhia da mãe, que insistia em saber sobre a conversa que ele queria ter com ela e Draco.

Ele repetia que só iria falar na presença dos dois, por se tratar de um assunto sério, e se sua vida não era importante para seu pai, ela infelizmente teria de esperar seu retorno.

Scorpius não fazia isso para punir a mãe, mas para jogá-la contra o pai. Quando eles soubessem da novidade, ela culparia o pai pela saída do filho de casa.

Por volta das oito horas da noite, Draco retornou, encontrando Scorpius e a mãe jantando. Ele fizera questão de não esperar o pai, para que esse soubesse que ele não se importava com ele também.

Draco se juntou aos dois, e após todos acabarem o jantar, se dirigiu ao filho:

- Então, o que desejava falar comigo e com sua mãe?

- Acho melhor irmos ao escritório, onde teremos mais privacidade – respondeu Scorpius.

- Então vamos logo, porque não tenho tempo a perder com problemas de adolescentes que acabaram de sair dos cueiros – respondeu Draco, levantando-se e seguindo para o escritório.

Draco, Astoria e Scorpius agora se encontravam no escritório. Draco sentado na poltrona que outrora fora de seu pai, Astoria em um sofá que ficava mais do lado direito do escritório, e Scorpius em pé, de frente ao pai, após fechar as portas.

- Tenho algo muito importante para lhes dizer – começou. – E tenho a impressão de que não irão aprovar.

- Nada que vem de você me surpreende mais – Draco disse. - Após a sua total desconsideração com o nome da família, nada pode ser pior.

- Eu não contaria com isso se fosse você, pai – respondeu, provocando-o.

- Pare logo com essa ladainha e vamos direto ao assunto – Draco pareceu irritado com o filho, determinado a desafiá-lo. – Meu tempo é precioso.

- Vou me casar – disse Scorpius, de maneira simples.

Por alguns segundos houve um silêncio. Draco finalmente soltou uma risada alta, e dirigiu-se ao filho:

- É isso? Pois saiba que a aproveitadorazinha logo vai te dar um "pé na bunda" assim que souber que não tem um tostão furado. Você realmente me dá pena, filho. Achei que fosse mais esperto.

- Quem é a moça, filho? – perguntou Astoria, de modo tímido.

- Rose Weasley.

- O quê? – Draco pareceu possesso. – Uma pobretona, filha de duas das pessoas que mais odiei na vida? Isso é só para me atingir, não é? Seu ingrato, depois de tudo que eu e sua mãe fizemos por você!

- Isso não tem nada a ver com você! – Scorpius respondeu na mesma altura que o pai. – O mundo não gira em torno do seu umbigo, se quer saber. O caso é que eu a amo, e ela a mim, e você não vai decidir o que eu faço da minha vida!

- Moleque insolente! – Draco partiu pra cima do filho, com a nítida impressão de agredi-lo, mas foi contido pela esposa. – Eu nunca tratei meu pai dessa maneira. Sabia que eu estava sendo muito mole com você. Casar com uma filha de trouxa com um pé rapado, eu não criei meu filho para isso.

- Calma, querido – dizia a mulher, dividida. – Vamos conversar.

- O que a família dela é não me importa – Scorpius não recuou um centímetro, mesmo com a investida de Draco. – Estou me casando com ela, e só isso me interessa.

- Seu idiota! É claro que a família importa! Pois saiba que você será tão bem recebido lá, como ela seria aqui! Nojo é tudo que eles sentirão por você! Isso se a garota tiver coragem de assumir essa loucura. Ela deve dar o mesmo valor que os outros dão a aquela família de pobretões. Assim que o pai dizer que é contra ela vai te largar!

- Nunca! Ela me ama! E vai enfrentar tudo para ficar comigo. Você nunca amou ninguém durante toda a sua vida, não sabe o que é isso! Eu tenho é pena da minha mãe por viver com você!

- Agora chega! Suma da minha casa e não volte nunca mais! A partir de hoje eu não tenho mais filho! Prefiro dar tudo aos pobres a ver você com um centavo da família Malfoy, seu ingrato!

- Já esperava isso de você! Incapaz de saber o que é amar uma pessoa, e só liga para o dinheiro. Pois saiba que a partir desse momento não sou um Malfoy, e assumirei o nome da minha mãe, que é muito melhor do que o seu!

Scorpius saiu do escritório e começou a subir as escadas, quando foi impedido por Draco, que segurou seu braço e disse:

- Se não é um Malfoy, nada nessa casa lhe pertence! Vai sair daqui com a roupa do corpo, e só não lhe tiro isso também porque não quero ver o nome de meus pais num escândalo por mandá-lo embora nu!

Scorpius deu meia volta e saiu da casa seguindo pelos jardins, em direção ao portão que dava acesso a rua. Quando estava quase fora da propriedade, foi alcançado pela mãe:

- Não importa o que seu pai disse, não vou lhe deixar sair daqui sem um tostão. Você é meu filho, e não vai ficar por aí como um mendigo. Tome – ela entregou a ele um saco repleto de galeões. – Alugue um quarto no Caldeirão Furado e o encontrarei lá amanhã. Vou levar roupas e depois decidiremos o que fazer – a mãe o abraçou, e retornou correndo para dentro da Mansão dos Malfoy.

Scorpius sorriu. Tudo havia ocorrido como planejado. Podia se casar com Rose e continuar tendo a fortuna dos Malfoys, não renunciaria a nada. Teria a mulher que amava, e não abriria mão do conforto a que estava acostumado.

Ele girou e segundos depois aparatou na entrada do Caldeirão Furado.

Scorpius alugou um quarto com Ana Abbott, a nova dona do Caldeirão Furado, e subiu pensando em descansar. Deitou-se na cama, e ficou imaginando o que teria acontecido com Rose. Afinal, ela já devia ter contado aos pais sobre eles, e não deveria estar em melhor situação. Pelo o que conversaram, ela acreditava que a mãe não iria deixar seu pai expulsá-la de casa, mas se isso acontecesse, ela iria para a casa dos avós, ou na pior das hipóteses, para a casa de sua tia Gina.

"Ela já deve ter contado. O melhor é escrever uma carta, contando onde estou, e que meus pais já sabem de nós", pensou ele. Levantou-se da cama, desceu as escadas e pediu pergaminho, uma pena e tinta a Suzanne, para escrever uma carta, e mandou incluir tudo na conta do quarto. Perguntou-lhe se o Caldeirão possuía uma coruja, para uso dos hóspedes, e ela de imediato lhe trouxe uma enorme coruja parda para ele levar até o seu quarto.

Scorpius deixou a coruja na cômoda perto da cama. Sentou-se e começou a escrever a carta a Rose.

"Rose,

Contei tudo aos meus pais. Como prevíamos, a reação foi a pior possível. Saí de casa e estou hospedado no Caldeirão Furado. Não se preocupe, pois minha mãe me arrumou o suficiente para nos manter até nos arrumarmos. Ela não tem nada a ver com a briga entre nossas famílias e, portanto, ficará do nosso lado, tenho certeza.

Estou lhe esperando para combinarmos quando irei falar com seus pais, e oficializar nosso casamento. Saiba que não me arrependo de nada, e ficar contigo é a única coisa que me interessa.

Conto os dias para ficarmos juntos, e tenho certeza de que seremos muito felizes, independente dos problemas aparecerem, ou se colocarem no nosso caminho.

Não demore para me responder, sabe como sou impulsivo, e é bem capaz de ir atrás de você antes mesmo de conversarmos.

Eu te amo, e nada vai nos separar.

Scorpius."

Ele releu a carta e ficou satisfeito com o resultado. Estava romântica como devia, sem estar melosa demais. Gostava de Rose, mas não daquelas cenas melodramáticas adoradas por muitos. Sabia que amar não era ser irracional, e se podia conciliar amor com os interesses em comum.

Não era insensível, como muitos podiam pensar. Sabia que seus sentimentos e os de Rose eram suficientemente fortes para mantê-los juntos, mas que várias coisas poderiam acabar separando-os, e a falta de dinheiro era uma delas.

Riu sozinho. Se alguém lhe falasse há alguns anos atrás que estaria saindo de casa para se casar com uma Grifinória, ele chamaria a pessoa no mínimo de louca, nada o faria abandonar sua casa. Contudo, o rosto de Rose sempre lhe lembrava o porquê daquilo tudo, e que valia a pena.

Scorpius dobrou a carta e a prendeu na coruja, que aguardava na cômoda. Em seguida, apanhou-a, a levou até a janela e se dirigiu a ela:

- Encontre Rose Weasley e só entregue essa carta a ela quando estiver sozinha. Entendeu?

A coruja piscou rapidamente, sinalizando a Scorpius que havia entendido, e voou pela noite, para entregar a carta.

Scorpius retornou a cama, e deitou-se, apreciando o teto do quarto. Só lhe restava esperar a resposta de Rose.

Achou que a resposta viria rapidamente, mas lá pelas 3 da madrugada o sono finalmente o venceu. Ele adormeceu vencido pelo cansaço, mal sabendo que as notícias que estavam para chegar não atendessem às suas expectativas.