How I wish, how I wish you were here. We're just two lost souls swimming in a fish bowl, year after year.

Talvez você nunca houvesse se sentido tão sozinha.

Você achava doloroso olhar pra trás e enxergar que tudo em que acreditara com todas as forças havia se desfeito com um simples termo – sangue-ruim. E assim como um castelo de areia levado pelas ondas, você não via modo algum de voltar a ser como era. Por outro lado não conseguia deixar de acompanhar, mesmo que à distância, o fato de que ele vinha se tornando exatamente o que você havia pedido para que ele não se tornasse, e esse pensamento amargo tirava o seu sono.

Já havia a muito passado da meia-noite, mas você continuava lá, encolhida em um canto, fitando as grandes janelas de vidro sem realmente as ver. Vez ou outra seus olhos recaíam por sobre a rosa que tinha em mãos, já muito ressequida pelo tempo. Seus pensamentos então se perdiam na lembrança em preto e branco da ocasião em que a ganhara – Severus lhe dissera que você era exatamente como aquela flor, tão delicada e ao mesmo tempo cheia de espinhos. Você então a guardou no bolso interno da vestes, próxima ao coração, e nunca mais a tirou dali.

Nunca, porém, realmente entendera o que ele quisera dizer. Não até aquele momento.

Ergueu a cabeça, levemente sobressaltada, ao escutar o pesado barulho da porta de um dos dormitórios sendo batida, e prendeu a respiração por alguns instantes até avistar Potter no topo das escadas. Por uma fração de segundo considerou seriamente acusá-lo por estar se sentindo do modo como se sentia, até que a infantilidade desse pensamento a atingiu; preferiu simplesmente voltar a baixar a cabeça, enquanto girava o caule da rosa por entre os dedos.

Lenta e quase que timidamente Potter se sentou ao seu lado, e a atenção dele sobre você lhe obrigou a olhar novamente para ele. Ele sorriu à guisa de cumprimento, ao que você correspondeu com um outro sorriso, talvez menos sincero. Nunca havia notado como Potter sorria bonito - seu sorriso tinha uma aura de espontaneidade quase infantil, e a covinha que se formava do lado esquerdo da boca dele era simplesmente adorável.

Instintivamente, como se encorajado pelo seu sorriso, ele apoiou a mão esquerda sobre o seu joelho, o olhar se perdendo na parede de pedra à frente. Pareceu ensaiar um início de conversação, mas desistiu no meio do caminho e você agradeceu internamente por isso. E seguindo o exemplo dele, deixou seu olhar também se perder na frieza da parede. Por dentro, entretanto, se sentia inexplicavelmente aquecida, confortada.

Foram longos os minutos em que permaneceram daquele modo, até que o sono viesse finalmente a se abater sobre você. Seu bocejo chamou a atenção de Potter, que sorriu uma vez mais, parecendo notar pela primeira vez a rosa que você segurava. Gentilmente, como se pedisse licença, ele a retirou de suas mãos e a colocou dentro do bolso do próprio pijama, no lado esquerdo do peito. Alguns anos mais tarde você a encontraria no bolso do paletó que ele usaria no casamento de vocês.

Então você se lembraria daquela longínqua noite de novembro, e em como nunca mais havia se sentido sozinha.

Running over the same old ground, what have you found? The same old fears. Wish you were here.


Essa pequena história é dedicada a alguém que jamais irá lê-la. (: