CAPÍTULO 5

A Busca Rígida

-Rony, eu trouxe comida da rua e...

A casa estava cheia de velas. Aromáticas, coloridas, multiformes. Dezenas de pontos luminosos tremeluzentes salpicando aqui e ali as paredes cuidadosamente trabalhadas e os tapetes que levavam anos para serem tecidos por completo, os artefatos de cerâmica e folheados à ouro. Objetos típicos das casas tradicionais do Marrocos. Harry ficou imóvel na sala de luz turva. Correu o olho pelo corredor. O grito de um animal qualquer ecoou do lado de fora da casa. Harry sorriu de canto.

Um ruído de água dançou com o vento. Harry seguiu-o. Sentia-se em uma dança muda. Seus passos eram ritmados com as batidas cada vez mais aceleradas de seu coração. Suas mãos trabalhavam em harmonia com suas veias pulsantes, despindo-se das capas e dos tecidos suados pela correria do dia. Seus pensamentos fluíam como sua respiração. Velas. Rony. Enfim encontrou a porta do banheiro. Não precisaria de várias velas para indicar seu caminho. Seguiria seu olfato. Seu coração.

Abriu a porta lentamente. Olhou para seus pés brancos e limpos por causa dos sapatos, usados o dia todo, nada comparado à sua jeans empoeirada e manchada que ele insistia em continuar usando mesmo embaixo das tantas túnicas e tecidos. Ergueu os olhos.

-Veio para o jantar? - Rony estava igual à Harry, tronco nu, apenas de jeans, excitado. Sentado na borda da banheira de madeira lisa, olhando-o com um olhar cheio de humor. Safado.

-Parece que teremos banquete hoje, não? - Harry deu um passo e fechou a porta atrás de si com um estrondo.

-Se você está esperando um javali com uma maçã na boca... - Rony riu animado.

-Na verdade eu esperava um ruivo com outra coisa na boca. - Harry olhou para seu próprio baixo ventre, mais precisamente para o zíper da calça e depois olhou para um Rony que se indignava falsamente enquanto ria.

-Seu desejo é uma ordem, Marajá. - E com um passo longo lançou-se no pescoço de Harry e beijou sua boca com saudade e desejo. Ficaram assim por longos minutos, beijando-se, apalpando-se as jeans molhadas, lambendo-se a carne nua, amando-se.

Harry girou o corpo de Rony e encaixou-se nas costas do amigo. Enquanto roçava seu pênis ereto debaixo da jeans na traseira das calças de Rony, com suas mãos apalpava com paixão toda área da jeans do ruivo. Malditas calças.

Antes que Harry pudesse se despir, Rony conduziu-o até a banheira e empurrou-o com vontade para seu interior. Harry deu um salto e encarou, com os óculos tortos, Rony acabando-se de rir por causa do susto de Harry. A água estava gelada e aquilo apagou completamente a "energia" de Harry. Por fim, Rony entrou na banheira e ficaram abraçados, alimentando-se com calor humano e paixão. Harry recostado na borda da banheira e abraçado em Rony que recostava-se em seu peito.

-Quem sabe esse não seria o lugar ideal?

-Como? - Rony brincava com os dedos de Harry entrelaçados nos seus na água fria.

-O lugar ideal. Você sabe, pra gente começar uma vida nova.

-Como se fosse fácil.

-Falando assim parece que você não deseja isso.

-Ótimo, eu não desejo! Por Merlin! Sabe como eu quero isso! Sabe como olho pra lua todas noites e peço pros céus uma vida diferente! E você acha que não quero isso? Eu apenas me irrito com você suspirando e falando isso a toda hora mesmo sabendo que nunca vai acontecer! Por que, você não largaria Gina, largaria? - Rony virou-se e sentou na outra extremidade da banheira encarando os olhos verdes.

-E você largaria Hermione? - Harry observou-o calmamente.

-O que eu sinto por você é mais forte do que um matrimônio. - Lançou a Harry enquanto olhava para outro lado. Machucado.

-Oh! Não fale assim, ruivo... - Harry queria acaricia-lo queria tê-lo. Rony. Pequeno. Frágil.

-Alguma coisa quebrou, você sabe. A sorte tem sido injusta conosco.

-Pare de falar besteiras. Eu te amo.

-Você não me ama, Harry.

Harry permaneceu de joelhos na banheira, olhando-o estático. Uma ira começou a serpentear em suas veias.

-Seu depravado! Claro que amo! O que mais faria eu trair minha mulher? Meus filhos? Desgraçar a minha vida? O que mais?

-Desculpe-me. É só que às vezes eu posso jurar que isso é só uma aventura e que um dia terá que acabar e...

-Só vai acabar quando houver morte. E eu espero sinceramente, que morramos juntos.

-Desculpe-me. Estraguei nosso último dia.

-Tudo bem. Haverá outras viagens a trabalho em que completaremos a missão e teremos alguns dias de "férias".

-Estivemos brigando muito ultimamente. Talvez seja um sinal, não?

-Só se for para nos fortalecermos.

-É, talvez seja. - Rony olhou triste para Harry. Aos poucos parecia mais e mais distante. Talvez Rony estivesse certo e os dois estivessem se distanciando mesmo. Talvez fosse o ruivo que escorregava por um vale escuro... Ou Harry.


Harry acordou.

Olhou para o teto atordoado. Tinha a impressão de que Luna estivera nesse mesmo quarto há séculos e não há horas. Olhou para o vaso de flores mortas. Uma mancha alaranjada deixava-se observar na escuridão da noite. Olhou paras as janelas, para as estrelas.

Prendeu a respiração. Levara um susto.

Quem era aquele homem que estava parado na janela há segundos?

A pergunta martelou em seu cérebro enquanto ele tentava, com sua respiração ofegante, abrir o vidro. Ali, no parapeito da janela, um objeto fez o peito de Harry disparar ainda mais. Um frasco de cristal resplandecente. Um frasco de perfume.

Harry deixou pensamentos e promessas conflitarem-se com toda força em seu cérebro. Histórias. Assassinatos. Perfumes.

Alguém mais sabia, alguém queria que Harry soubesse... Para quê?

Olhou para o horizonte pontilhado por luzes das ruas seguintes, banhado pelo luar. E enfim, encontrou-o. Um rosto enrugado, no portão da pequena praça em frente, encarando-o.

Harry atirou-se no chão do quarto. Olhou rapidamente para todos os lados, apanhou o roupão e a varinha. Saiu em disparada pelo corredor. Parou de súbito e voltou ao quarto, atirou-se de joelhos perto do guarda-roupa e observou o pingente dourado...Reconheceu pelo canto do olho a mancha ruiva no vaso abandonado. Sabia que do outro lado do quarto, encarando seu perfil estava o Rony de Luna, a flor ruiva, o símbolo da esperança. Preferiu não olhar, não queria alimentar possibilidades talvez impossíveis.

Já estava na soleira da porta. Sua mente não conseguia trabalhar, perguntas irritantes e persistentes pulsavam em suas veias. Atravessou a praça, a varinha em punho, o pingente firme na outra mão, o roupão aberto deixando seu pijama amarrotado á mostra. Se houvessem trouxas na rua logo iriam julga-lo como um maníaco com aquela aparência deplorável. Barba. Cabelo. Olheiras.

Albus abriu a porta de seu quarto.

-Pai? - Sua voz percorreu o corredor e estancou-se no quarto de Harry, agora vazio.

O garoto passou de cômodo em cômodo da casa, aumentando cada vez mais seu desespero á cada ambiente vazio que encontrava. Chamou. Gritou. O silêncio da casa o envolvia cada vez mais. Saiu da cozinha, sua última tentativa de achar o pai. Olhou ao longo do estreito corredor. A porta estava aberta. A praça adornada com a escuridão da noite semelhava-se á uma pintura, onde a porta era o quadro. Mas, naquele momento, a ultima coisa que Albus desejava era uma obra de arte.

Correu até a lareira que ouviu-o murmurar enquanto o pó que ele jogara no chão se transformava em chamas esmeraldas: "A Toca".

Parou na calçada do outro lado da praça e ficou olhando para todos os lados. Tudo parecia turvo. Nem ele sabia direito o por que de seguir um velho que, ele imaginava, tinha alguma ligação com um suposto perfume que... Parecia loucura. Era loucura.

Avistou, correndo freneticamente por uma rua íngreme que dava para uma ladeira, o velho que olhava para trás a cada passo.

Harry desatou a correr pela rua. Ignorando a razão. Correndo velozmente. Logo alcançou a ladeira escura. Estava próximo ao velho, mais alguns minutos e... O velho virou de supetão e adentrou na escuridão mais densa de um beco ao lado, colocando uma lixeira próxima na passagem. Harry desceu a ladeira aos trancos e barrancos com medo que o velho fugisse mal percebeu a luz azulada da lixeira quando a agarrou e jogou-a longe para liberar seu caminho. No próximo passo, não existia mais chão, nem beco, nem rua. Tudo estava vazio. Harry virou-se rapidamente e logo percebeu o que acontecera. A lixeira continuava nesse vazio, começara a girar. Harry agarrou-a antes de começar a girar freneticamente e soltou-a quando encontrou o chão novamente.

Xingou-se mentalmente por não reconhecer a chave de portal, por pouco não se soltara dela e não concluíra o transporte.

Enfim, viu-se de joelhos num chão úmido e frio. Olhou para os lados, avistava grama, um lago refletindo a luz da lua, uma casa torta ao longe. A Toca.

-Desculpe-me. Precisava ter certeza que você procurava respostas.

-Você...Quem é você? - Harry encarou-o rancoroso.

-De que adianta saber? - O velho riu - Saiba que mudei completamente minha vida por sua causa. Totalmente.

-Escute. Eu não tenho a mínima idéia de quem seja você, ok? Eu estou me enchendo dessa história de perfumes, por que você deixou aquele frasco na minha janela? Por que...? - Suas palavras perderam-se no escuro.

-Estou aqui justamente por isso. Por erros. Erros meus, erros de terceiros... O importante é que eu consegui acertá-los, pelo menos assim espero.

Harry permaneceu de joelhos, imóvel.

-Você já deve saber sobre Aawenik, meu aprendiz. Sim, eu sou o perfumista. - O velho riu - Parece que você já sabe um pouco sobre mim, não? - Harry estava ofegante - Aawenik inspirava total confiança, tanta que tentou me matar... Mas um bom bruxo sabe que sem controle do poder, as pessoas enlouquecem, Aawenik não foi diferente. O vampiro fez um perfume para sua paixão, usando tudo de mais poderoso que possuíamos, ele tinha olfato e inteligência, admito. Mas a sanidade era pouca.

-Então essa história do perfume e tudo que acontece por causa dele é... É real?

-Sim e não. A história é real. Tudo que acontece, não.

-Eu preciso de respostas, você mesmo disse que eu vim buscá-las, explique-me, por favor. - Harry decidiu entrar de vez nessa historia maluca. Se sua vida tinha virado um circo, ele estava pronto pra se apresentar.

-Sim, sim. O fato é que eu sei que sua vida foi alterada por interferência dupla de Aawenik. Uma vez colocando esse perfume na sua vida involuntariamente e a outra vez, assassinando seu amigo.

Amigo... Harry lembrou de uma flor laranja.

-E eu estou aqui para isso. Para extinguir todo mal que Aawenik causou, para consertar todo erro que ele causou. Deixar tudo como estava antes e...

-Quer dizer que... Tudo isso... - Harry engoliu em seco - T-tem volta?

-Claro. E nada mais justo do que eu sanar toda dor que o vampiro causou. Ele mesmo o faria se não tivesse abalado demais para continuar, ele viu o amor de vocês e todo o mundo encantado que ele não conseguiu ter. Por isso eu vim até você.

-Então Rony voltará à vida? - Harry estava feliz de mais para duvidar do velho.

-Não.

-Como não? - Harry murchou. - Você acabou de dizer...

-Eu não disse que seu amigo voltaria a vida. Que revivesse ou ressuscitasse.

-Seu... Seu velho desgraçado! - Harry levantou-se - Você e seu vampiro estão brincando de ser Deus! Brincam com as pessoas como se fossemos vudus! Onde está sua inteligência? Entrevada com seus ossos? Hein? Faça um perfume que o traga à vida, já que você faz perfumes espetaculares! Faça!

-Não posso. - O velho respondeu calmamente.

-Como não pode? Onde está seu grande talento? - Harry gritava a centímetros do nariz do velho. Com a varinha apontada para seu peito.

-Eu não posso revivê-lo. Por que ele nunca morreu.


"Seu desejo é uma ordem, Marajá".

Ruivo...

-As pessoas da casa ouviram seus gritos. Preciso ser rápido!

Harry permanecia caído ao chão. As lágrimas brotando de sua face estática.

-Acredite se quiser, eu criei um perfume que pode controlar o mundo. Um perfume que acelera o cérebro, que desperta inteligência. Uma gota e tudo estará nas suas mãos. E eu estou usando-o para te ajudar do mesmo modo que meu aprendiz usou-o para fabricar o perfume que te arruinou. Ajudar você e a seu amigo. Por que descobri que alguma coisa estava errada com Aawenik quando ele voltou, quando voltou jurando-me obediência, pedindo-me perdão. Ela já havia tentado me matar antes então como prova de seu arrependimento, pedi que ele consertasse os estragos que seu suposto "perfume perfeito" poderia ter feito. Ele saiu por aí, em busca de pistas do perfume, invadiu casas, não tinha noção do perigo. Por fim, descobriu duas vítimas do Perfume. Você e seu amigo.

-Quem está aí? - Uma voz grave soou da porta dos fundos d'A Toca.

Harry ainda não achava palavras para descrever ou desenrolar sua confusão. Abriu a mão esquerda, o pingente de ouro parecia ganhar vida à luz do luar.

-O perfume não é do amor, ou para se apaixonar. O perfume é feito de ar rarefeito. É um perfume dos sonhos. Do sonho. - O velho tagarelava e gesticulava tão velozmente que Harry acabava não entendendo algumas palavras. - Suas partículas fazem com que a pessoa que entrar em contato com o perfume tenha uma oportunidade única de despertar um sentimento. Veja bem, ele não cria esse sentimento, ele desperta algo desacordado no coração do tomador. E por quem o tomador do perfume se desperta cria-se um laço que os transporta para outra dimensão. Para um sonho perfeito a dois. Mas se existe uma coisa que esse mundo surreal não é, é perfeito. Por que tudo acontece na mente dos dois envolvidos, levando-os à loucura. Estamos nesse mundo. Na sua mente. Aawenick e eu entramos nesse suposto "mundo" usando outros métodos, mas, Aawenik foi forçado a sair por que você o matou. Nessa hora você está normalmente levando sua vida real num mundo real e nós estamos, ao mesmo tempo, nesse plano surreal, de delírio.

-Identifique-se agora! - A silhueta de um homem esgueirou-se pelo jardim na direção do velho e de Harry. Uma mulher apareceu á porta segurando um garoto agitado que insistia em desvencilhar-se e seguir o homem que caminhava cauteloso pelo jardim.

-È o meu pai! Pai! - Albus gritava em pânico.

-Isso é um sonho, homem! Acorde! Isso é o sonho de dois apaixonados!

-Estupef...

-Sr. Weasley! Sou eu, o Harry! - Harry levantou-se.

-Harry! Seu amigo já acordou, eu e Aawenik entramos na mente dos dois usando o perfume da inteligência, Aawenik precisava matá-los, mas você escapou. Não podemos definir o tempo desse universo em relação ao mundo real por que, na verdade, isso não existe - Abriu os braços, indicando seu redor. - Nós demoramos estudando um meio de trazê-los ao mundo real mesmo sabendo que você estava vivendo sua vida normal lá. Sabíamos que se você estivesse no mundo real, alguém tinha interferido em vosso sonho.

-Pai, o que aconteceu? Você precisa voltar pra casa! - A voz de seu filho fez Harry sentir o coração apertar-se no peito como se estivesse tentando quebrar suas próprias costelas.

- Com o perfume da inteligência eu descobri meios de interferir nessa história, meio de salvá-los! Meios de entrar nesse "mundo"! Eu precisava te trazer para o lugar onde tudo começou, onde vocês despertaram! Para voltarmos ao início de tudo e juntar as partes, real e surreal para vocês seguirem com vossas vidas!

-Harry! Quem é esse velho que...

-O perfume do sonho não funcionou com o vampiro por que sua amada não o correspondia. O amor tem que ser recíproco e é por esse amor que eu imploro! Harry, se mate! É o único jeito de... Despertar novamente!

-Sr. Weasley está tudo bem... Eu...Albus, vai ficar tudo bem, sim? Por favor...

-O que ele está falando? Fique onde você está Albus! - Agora o choro da também descontrolada Sra. Weasley era audível pelo jardim.

-Despertar não sentimentos dessa vez! Despertar para o real! Como Aawenik que morreu para este mundo e salvou-se no mundo real!

Harry observou o Sr. Weasley, seus pensamentos em Rony e no excesso de informações dos últimos minutos... Nada fazia sentido. Olhou triste para o velho, lembrou-se dos últimos dias, de Luna, de tudo que poderia evitar se esse "mundo" surreal não existisse. Não pensou em si mesmo. Pensou em seus filhos, nas lágrimas de Gina, no rosto sem vida de Rony. Tudo que poderia evitar. Uma gota brilhante e escorregadia.

"Harry, preciso que você saiba...".

-Mate-me. - Harry olhou firmemente para o velho.

-Mas o que...? - O Sr. Weasley encarou-os incrédulo.

-Avada Kedavra!

Harry viu vários elementos unidos em uma imagem só, sua última imagem. O Sr. Weasley, o velho, o lugar onde tudo começou, uma luz verde intensa, o contorno de seu filho amado, a lua. Seu último pensamento pousou numa cidadela do Marrocos. Suspirou.


Abriu os olhos. Lembranças de vinte e tantos anos correram pelo seu cérebro como um risco de lâmina. Um corte. Um expurgar.

-Nada, é só que...

Harry ouviu as palavras saírem automáticas de sua própria boca. Como se tivessem vida própria. Congelou. Lembrou do que aconteceria a seguir, seu coração parou com a premonição, com a visão sua e de Rony jovens, de Rony... Agarrou o braço do amigo e puxou-o a seu encontro. No mesmo instante, o vento arrastou a cabana com toda força na direção onde antes estivera Rony e lançou-se no lago.

Caíram no chão. Harry por baixo, Rony por cima. Os olhos de Rony logo encontraram refúgio nos de Harry. Encontraram-se num passado que não existiu, encontraram-se num segundo. Harry não sabia onde estavam durante esse segundo, sentia uma presença maior que todas as forças que o fizeram lutar contra o Lorde das Trevas. Uma presença ligeiramente laranja. Permaneceu ali, aconchegado num torpor lunático enquanto sentia seu corpo dissolver-se, libertar-se de tanta mágoa, raiva, desgosto e tristeza... Sentiu os ombros caírem, os lábios salientarem-se e encontrarem os de Rony. Abriu os olhos.

Observou os orbes azuis do ruivo. Uma luz apagou-se, os deixando brevemente opacos. Respirou fundo, o ar entrando em seus pulmões, inflando-os e logo esvaindo-se devagar. Lembrou de seus encontros furtivos com Rony. Aonde? Quando? Lembrou de sua família desestruturada por um amor secreto. Quem eram as crianças que sumiam timidamente de sua mente? Congelou.

Num último suplício por memórias, por conciência, acariciou os cabelos de Rony. Sentiu-o tremer com seu abraço. Sentiu-o em seus braços.

Sua primeira vez com Rony, seu primeiro contato, tudo estava ali intacto no ambiente. Ainda colado a Rony em um abraço demorado. Sua primeira transa assemelhava-se a um trem que ganhava velocidade aos poucos, levando cargas pesarosas e bagagens, levando pessoas e personagens, sua primeira vez, sua história de amor, irrompendo pelos trilhos do esquecimento. Com um último aviso, um apito, um gemido de Rony. Dentes fechando-se na carne branca. Branco. Vazio. E o trem se fora.

Levantou-se, ainda enlaçado em Rony. Caminharam sem falar palavra. Ainda com os braços em cima dos ombros. Não precisaram explicar o beijo e o abraço. Não se lembraram o por que realmente de terem feito aquilo. Apenas sabiam que precisavam ficar juntos. Precisavam manter a amizade viva. Sabiam que alguma coisa acontecera, mas a realidade pediu para esquecerem, ou talvez... O leve cheiro de tabaco e pêssego no ar fizera-os pensar em sopa de cebola fumegante no calor d'A Toca, mais a noite, com todos reunidos. Harry retomava os pensamentos que foram interrompidos de sua mente por causa de um... Sonho.

-Parece que eu fiquei dormindo por séculos! E sonhei com... Não consigo me lembrar... - Harry falou displicentemente enquanto encaminhavam-se abraçados para A Toca. Um laço de camaradagem, os dois sabiam, nada mais.

-Sonho? Besteira! A gente nem dormiu, Harry! Estivemos ali o tempo todo! - Rony meteu um tapa na nuca do amigo. - Tudo bem, Luna, o que você fez com o Harry? - Riram. Amigos para sempre.

O beijo estava longe, nenhum dos dois conseguia lembrar-se de nada. Não despertariam sozinhos. Eram jovens demais pra isso.

FIM


Então, chegamos a mais um FIM. Como eu já havia escrito esta história já faz tempinhos, dei uam relida e, sabe de uma coisa? Gostei do que li. Acho que está bem bonzinho. Claaaaaro que eu podereia ter melhorado e pans... Mas, era minha primeira idéia de HRon e, como eu já falei pur aew, a fic quase escreveu-se sozinha D

E com essa fic, ganhei o Prêmio Twister - Por que não se pode parar a força surpreendente da natureza. P

Enfim, orbigado pra quem acompanhou até aqui. Obrigado especial á Beta AndromedaBlack, á Rapousa que fez a capa e á Betynha e Amandita que lançaram um chall lindoso.

Abraços e até a próxima o/