Capítulo 11 – All We Know Is Falling.

Imediatamente, as nuvens que vira na noite que os banhava lembraram-no de seu dever, do porquê de estar ali, naquele momento. Os Comensais precisavam da Sala Precisa vazia para poderem se deslocar para lá através do armário que Draco estivera arrumando e, se os dois estivessem ali, seria impossível utilizar tal artefato.

Não podia mais arriscar nem a sua honra nem a garota que se encontrava desnuda, acariciando seus desarrumados cabelos acinzentados.

- Luna, temos de sair daqui... – disse, levantando-se e vestindo um tanto quanto rápido suas roupas.

- O que houve? – a garota ainda estava um pouco em transe com tudo aquilo, mas tratou de se vestir. Sentia que algo ruim estava para acontecer.

- Esse tempo todo... Ah, não importa. Quero que me prometa que não vai se meter a dar uma de Potter. Não posso garantir nada a você se fizer isso...

- Não entendo... Diz que não devo começar a imitar ele? Mas... Eu sou eu. Não tenho porque fazer isso. – dizia, terminando de vestir a saia e a meia calça azul clara, que realçava seus olhos para o garoto. Este deu uma longa pausa, aproximou-se bruscamente da menina, agora já vestindo a camisa, e deu-lhe um longo e terno beijo na testa.

- Quando sairmos daqui, você vai direto para a Torre da Corvinal, entendeu?

Ela questionou-o com o olhar ingênuo, porém incisivo. O que queria dizer com aquilo? Seria ele mais sensitivo que ela e, tendo então detectado algum mal que os atordoaria ali, estava se precavendo com tal ordem? Talvez... Ou então, a fivela que deixara com ele fora eficaz como prevera, aguçando-o para sinais subentendidos no ambiente.

Mas não houve tempo para uma resposta. De repente, tudo ficou preto e branco e, como um papel queimando, a Sala foi se dissolvendo aos poucos, forçando os dois a correr em direção à porta.

Logo, foram cuspidos pela Sala Precisa para o corredor, agora iluminado por algumas poucas velas ali acesas.

Ambos caíram com uma pancada no chão, mas Draco teve a sorte de ter a queda amortecida por uma armadura que ali estava. Já Luna, esta tivera o infortúnio de se chocar de costas com a parede. Ele olhou para a garota, que agora estava desacordada e levemente ralada pelo áspero material do qual eram feitas as paredes de Hogwarts. Cerrou os olhos por um momento, enfrentando toda a agonia que aos poucos ia retornando ao seu velho casebre, dentro dele. Ele a pegou nos braços, ajeitando-a de forma que ficasse deitada sobre a armadura que ele havia derrubado:

- Espero que você saiba que nunca mais nos tocaremos... Não enquanto algumas coisas interferirem no mundo bruxo, então... Só posso te garantir que, mesmo que seja capturada, morta não será. Adeus, Luna Lovegood.

Dando um último beijo nos lábios da menina para certificar-se que esta ainda respirava, Draco ergueu-se e, então, a ponta de um pequeno objeto amarelo e trincado enganchou numa aresta da armadura, fazendo-o cair para trás no mesmo momento que alguns Comensais saíram daquela porta.

Sendo pego por um deles, exclamou:

- Lovegood nojenta! Achou que poderia me pegar? – tentou se recompor com as próprias mãos, como se desprezasse o auxílio que o Comensal lhe prestou.

- Draco? Porque ainda está aqui? – estranhou o Comensal, ignorando o ato arrogante da parte do garoto.

- Esse verme achou de me seguir, e quase me pegou desprevenido. Mas, como sabem, não seria uma excêntrica como a Lovegood que me faria de trouxa no momento final, certo? – limpou as vestes com as mãos, como quem tira pêlos de gato da roupa.

- Hahaha... Esses protótipos de gente são muito divertidos, sabe? Acham mesmo que podem ser bruxos algum dia.

- Bobagem... – respondeu outro Comensal – Mas chega disso. Não deixaremos que essa imunda atrapalhe nossos planos.

- Claro que não. E escute aqui – disse o primeiro Comensal, aproximando-se de Draco – Não somos sua escolta, mas o Lorde exige que seja você quem vai matar Dumbledore, entendeu? Você não chega a ser nem um Comensal ainda, e espero que saiba que ser um Malfoy não significa nada para nós. Agora, vamos assegurar que você chegue a seu objetivo o mais rápido possível, mas não se esqueça do que eu disse. Não estamos te fazendo um favor.

Draco olhou-o com extrema repulsa, mas sabia que faria todos daquela plebe medíocre que se denominava "leal" a Voldemort serem silenciados por sua família novamente, e muito em breve.

- E porque perde seu tempo aqui? Por acaso eu deveria me afogar em lágrimas com seu discurso filantrópico? – satirizou Draco – Vou terminar de cuidar dessa criatura para que não acorde tão cedo...

Os Comensais entreolharam-se, e um deles balbuciou algo como "Agora são necrófilos também?". Mas Draco não ouviu nada além de seus passos se distanciando, com alguns risos de escárnio. Pouco importavam a ele, na verdade.

Sabia que cuspiria neles um dia, assim como estavam cuspindo nele. E não tinha pressa para fazer isso, pois saborearia cada momento de sua vingança.

Olhou para Luna, indefesa e, em seguida, para a fivela, agora caída entre uma articulação da armadura. Olhou novamente para o fim do corredor e, vendo-se sozinho, apanhou a fivela, já bastante avariada.

Desde o dia que ganhara tal adereço, ele inconscientemente continuou carregando-o, trocando-o de bolso sempre que trocava de vestimenta. Sabia que seu primeiro intuito fora se livrar daquilo, mas nunca conseguira... E a imagem de Luna perdida em seus sonhos, ali, no meio daquela guerra que acabara de começar, lhe dizia que não poderia fazer tal coisa. Apertou o restante do objeto contra o peito e, em seguida, guardou-o no bolso novamente, com uma pequena reverência para a garota. Ergueu o perfil com um semblante decidido e petulante e seguiu andando.

Era sua hora.