Naruto pertence à Kishimoto-sensei.

É com alegria e pesar que comunico que este é o último capítulo da fic. Espero de coração que tenham gostado.

Agradeço a todos que mandaram review. Isso me motivou muito.

Agradecimento especial à Ane Caroline que me deu a idéia de como fazer o final.

Boa leitura

Hóspede na Primavera

10º dia de convivência

Ino arregalou os olhos ao mesmo tempo em que sentava na cama e colocava a mão no peito, no local do coração. Havia acordado assustada, devido um barulho relativamente alto e próximo.

Olhou ao redor atentamente, fazendo os orbes azuis cintilarem. Não viu nada suspeito. Soltou o ar com força, exasperada, mas logo voltou a ficar atenta quando ouviu outra vez o barulho que a fizera acordar.

Levantou da cama com um pulo e saiu do quarto. Novamente o barulho, e vinha do quarto de hóspedes. Ino foi até a porta, que estava aberta, e olhou para dentro.

Gaara já estava de pé, a cama arrumada, nenhuma roupa espalhada e o livro que ela havia emprestado para ele jazia solitário no criado-mudo. Ino lançou um olhar mais atento para o quarto e viu que Gaara provavelmente, por razões desconhecidas, havia atirado a pequena mala contra a parede.

Vendo que não estava sozinho, o ruivo volta seu olhar para a porta e quase sorri ao ver o rosto de Ino, com um pouco de sonolência estampado nele. Quase sorri, pois ele lembra-se de Ino dizendo que o odiava e isso faz com que à vontade de sorrir evapore.

"Não queria te acordar, desculpe." – Fala Gaara ainda olhando para a loira, que sabia ser linda mesmo quando acabara de acordar, sem maquiagem e com os cabelos despenteados

"Tudo bem." – Murmura e sai dali o mais rápido possível antes que se jogue nos braços fortes do shinobi

Lutando contra as lágrimas que insistiam em embaçar sua visão, Ino foi para o banheiro, onde poderia usufruir de uma ducha morna para acalmar os ânimos.

Gaara ia embora, e ao ver a mala pronta dele, essa notícia de tornou ainda mais verdadeira e cruelmente real. Ele ia embora.

Escorando as costas na parede fria, foi escorregando até o chão, onde abraçou seus joelhos e escorou a cabeça nos mesmos. Deixou a água caindo pelo corpo encolhido. Queria entender desde quando a presença de Gaara se tornou tão importante para ela. O simples fato de saber que ele ia voltar para Suna fazia seu coração se apertar.

"Mas foram apenas dez dias..." – Murmurava baixo – "Como posso estar tão dependente dele em míseros dez dias?" – E foi com incrível força de vontade que reprimiu as lágrimas e os soluços

Ouviu uma batida na porta e mais do que depressa se levantou. Os fios loiros grudados nas costas. O lábio inferior estava um pouco vermelho, visto que Ino o havia mordido para conter os soluços que subiam pela sua garganta.

"Está tudo bem?" – Ouviu a voz do ruivo

"Sim... Por que?" – Perguntou alto o suficiente para ele ouvir

"Está no banho há quase uma hora."

"Eu já vou sair." – Gritou de volta

A loira nem havia se dado conta que havia passado tanto tempo assim. Praguejou baixinho ao imaginar o que seu pai diria quando visse a conta da água e da luz.

Ao sair do banheiro, com os cabelos pingando água perfumada, foi direto para seu quarto colocar uma roupa mais apropriada, para em seguida ir comer alguma coisa e ir trabalhar.

Aparentemente, Gaara manteve-se no quarto de hóspedes desde que havia ido ver se estava tudo bem com a kunoichi. Fato este que Ino agradecia, pois ainda não tinha coragem de ficar perto do ruivo, apesar de esta ser a coisa que mais queria no momento. Estar perto de Gaara.

Com um suspiro baixo, Ino abriu a floricultura e foi arrumando alguns vasos para ficarem mais perto da janela onde o sol estava batendo. Colocando o avental e prendendo o cabelo num rabo de cavalo baixo, foi encher um regador e começar a molhar a terra daquelas flores maravilhosas.

Estranhamente, houve poucos clientes naquela manhã, deixando Ino extremamente entediada. Mas aproveitando o pouco movimento que a floricultura estava tendo, fechou-a momentaneamente e foi comprar alguma coisa para comer em uma casa de chás ali perto.

Voltou para seu local de trabalho carregando um pacote que continha alguns biscoitos da sorte e um copo plástico contendo um chá de jasmim que exalava um cheiro maravilhoso.

Sentando-se no balcão e bebericando o chá, não se incomodou de parecer desleixada quase algum cliente resolve-se aparecer. Mas ninguém apareceu.

Quebrando ao meio um dos biscoitos da sorte, riu amargamente ao ler sua sorte.

"Não permita que o orgulho estrague o amor."

Amassando o papelzinho e arremessando para trás do balcão, mordeu e mastigou furiosamente o pobre biscoitinho. Nem se deu ao trabalho de ler o papel que trazia a sorte nos demais biscoitos. Dando um último gole em seu chá, levantou-se do balcão e deu a volta no mesmo, juntando todas as embalagens descartáveis que vieram em seu almoço e abaixando-se para jogar tudo no lixo.

Quando voltar a se erguer e endireitar as costas, sentiu os pêlos da nuca se arrepiarem ao constatar que não estava mais sozinha.

Um rapaz ruivo fazia companhia para ela agora, a encarando com aqueles profundos olhos verde água.

Ver Gaara ali era quase surreal para Ino. E para completar a cena surreal, uma brisa um pouco mais forte soprou, fazendo os fios dourados de Ino soltarem-se do rabicó, uma mecha ruiva cobrir o kanji na testa de Gaara e a porta da floricultura bater fortemente, fazendo Ino dar um leve pulo com o susto que tomara.

"O que veio fazer aqui?" – Sentiu a voz trêmula, mas não se importou em esconder isso de Gaara, ele perceberia de qualquer forma

"Me despedir." – E foi então que Ino percebeu a mala de Gaara no chão, um pouco atrás dele

"Certo, então... Tchau." – Voltou o rosto para o outro lado na última palavra, tentando conter a tristeza de sua voz

"Obrigada pela hospitalidade." – A frieza era evidente em sua voz, mas a mesma tinha um timbre que não deixava dúvidas que ele não estava sendo sarcástico

"Era minha obrigação, visto que a Hokage-sama mandou." – E Ino fracassou terrivelmente em tentar parecer firme com suas palavras

"A Hokage também disse que se apaixonasse por mim, para tornar a estadia mais interessante?" – A frieza da voz vinha acompanhada de veneno

"Você veio se despedir, já o fez, então vai embora." – Não pode evitar de gritar

Ino sentia-se triste, e com a imagem do ruivo a sua frente ali a havia deixado esperançosa, mas as palavras cruéis dele a despedaçaram.

Viu quando Gaara virou-se de costas para ela e segurou sua mala, caminhando até a porta. A mão do shinobi tocou a maçaneta, mas a porta continuou fechada. Puxou mais uma vez, e nada aconteceu. Usando um pouco mais de força, pode-se ouvir o barulho do vidro balançando, com o se fosse se espatifar no chão a qualquer momento.

"Para. Vai quebrar a porta desse jeito." – Pediu Ino quase em desespero podendo visualizar em sua mente todo aquele vidro estilhaçado no chão

"Ela não quer abrir." – Declarou o ruivo como se aquilo fosse uma justificativa para quebrar quanto vidro ele quisesse

"Nem por isso você vai quebrar a porta. Vai sair uma fortuna repor todo esse vidro." – E a voz feminina estava relativamente mais calma agora, sem toda aquela tristeza e mágoa de antes

"Eu preciso voltar para Suna, e não ficar trancado em uma floricultura."

Fazendo questão de ignorar o comentário de Gaara, Ino olhou atentamente para a maçaneta e fechadura, tentando ver o que estava impossibilitando a porta de abrir.

"Está trancada. Deve ter trancado sozinha quando bateu. É só abrir com a chave." – Explicou com a voz serena e permitindo-se sorrir após isso

"Então abra." – Ordenou com a voz baixa e séria

Revirando os olhos, meteu a mão delicada no bolso frontal do avental à procura das chaves para abrir aquela porta e deixar o seu amado livre para ir embora para terras distantes.

Franziu o cenho quando sentiu em seus dedos apenas o tecido macio do avental. Olhou para dentro do bolso e viu que não estavam ali suas chaves. Revirou novamente os olhos e checou os bolsos de sua calça. Nada ali também.

Ino tinha consciência de que Gaara estava ficando impaciente. Ela mesma estava ficando impaciente por não achar as chaves.

"E então?" – Pediu a voz masculina com um pouco de irritação

"Não encontro às chaves, gênio." – Retrucou mau humorada – "Se quer tanto assim se ver livre de mim, que saia pela janela." – E num gesto desnecessário, indicou as janelas

Pode visualizar o semblante pensativo de Gaara enquanto fitava as janelas.

Era óbvio que ia ser mais fácil ele pegar uma colher e cavar uma saída no chão do que conseguir sair por aquelas minúsculas janelas. Mas Ino teve que morder o interior da bochecha quando viu o olhar desiludido do ruivo. Ele parecia quase como uma criança esperando ver o Papai Noel e descobrir que era apenas um tio distante e gordo disfarçado.

Mas então a loira lembrou-se que estava zangada e magoada com ele, então tratou de ir procurar as malditas chaves no balcão.

"Não quero me livrar de você."

A kunoichi parou o que estava fazendo e tentou processar a informação recém adquirida.

"Como?"

"Não quero me livrar de você." – Repetiu com a mesma – falta de – emoção que antes – "Apenas tenho que terminar a missão que comecei."

"Me de um minuto, eu já vou acha-las." – E sua voz baixou consideravelmente, e finalmente parecia que ela havia entendido

Gaara não queria se ver livre dela. Mas ele era um shinobi, ele tinha obrigações, ele tinha que cumprir uma missão.

Ela havia sido egoísta. Pior do que isso havia sido sentimental. Deixou as emoções a dominarem de tal forma que havia sido injusta e grosseira com Gaara.

Tateando embaixo do balcão sentiu os dedos encostarem-se a algo gelado. Puxando para a claridade, pode ver que eram as chaves.

Sem dizer palavra, foi até a porta e a destrancou, deixando assim o caminho livre para Gaara sair.

O ruivo passou pela porta sem dizer palavra, apenas lançando um rápido olhar para a loira. Se ele fosse de suspirar, com certeza já teria deixado escapar muitos suspiros. Queria indagá-la se era verdade que ela o odiava, mas não podia fazer aquilo. Seu orgulho não permitiria.

Ino observou as costas do ruivo e sentiu a garganta apertar e os olhos marejarem. Não queria que ele fosse, não quando uma das últimas coisas que disse a ele foi 'eu te odeio'.

Lembrou da sorte que veio em seu biscoito e sorriu com a ironia do destino. Se ela quisesse fazer a coisa certa, teria que se desculpar e desmentir o que dissera.

"Gaara..." – Chamou incerta vendo que ele continuava andando, mesmo tendo ouvido o chamado dela – "Gaara, espera." – Tinha certa urgência na voz feminina

"O que você quer agora?" – O ruivo disse sem ao menos se virar para ficar de frente para a loira

"Olha para mim." – Pediu gentilmente enquanto tocava no ombro dele

Gaara deu-se por vencido e virou para observar aqueles orbes azuis que o deixavam hipnotizado. Algumas pessoas na rua começavam a se interessar pelo que estava acontecendo ali.

"Vamos entrar." – Disse apontando com o queixo a floricultura – "É apenas por um instante." – E lançou um olhar rancoroso para os curiosos que os observavam

Gaara seguiu a loira até dentro da floricultura. Ela parecia muito inquieta e estava deixando o ruivo impaciente. Tinha uma missão para terminar, não poderia perder ainda mais tempo.

"Me desculpe." – Falou um pouco baixo e timidamente, mas conseguiu atrair ainda mais a atenção do ruivo para si – "Eu fui rude com você."

Limitando-se a observá-la, Gaara manteve-se em silêncio enquanto procurava traços de sarcasmo na voz e feição da loira, não encontrando nada além de arrependimento, sinceridade e carinho.

"E eu não te odeio."

"Mas você diss-"

"Eu falei porque estava com raiva." – Ino sabia que não era sensato interromper Gaara, mas tinha necessidade de falar tudo de uma vez – "Eu gosto de você, você sabe disso. Eu fui... idiota. Me perdoe, por favor." – E odiou-se, não por estar pedindo perdão, mas por estar chorando

Soltou novamente a mala no chão e levou uma mão até o rosto de Ino, secando as lágrimas que escorriam daqueles orbes tão lindos. Puxou o corpo delicado para mais perto e a abraçou.

Sentiu o rosto feminino se esconder na curva de seu pescoço e não pode evitar um sorriso. Ele havia sentido falta dela e havia temido que ela realmente o odiasse.

Não demorou muito para Ino se acalmar e levantar o rosto, podendo assim olhar diretamente para os orbes verde água de Gaara. Ela se preparava para falar mais alguma coisa quando sua boca foi selada com os lábios de Gaara.

Ambos desejavam aquele contato e ficaram realmente felizes quando puderam sentir um o gosto do outro.

Quando se separavam, Ino teve a certeza que havia sido perdoada e sorriu com isso. Estava feliz por ter feito as pazes com o garoto que gostava. Estava um pouco triste também, pois sabia que ele estava partindo, mas a felicidade era maior que a tristeza.

"Melhor você ir." – Disso com uma calma que surpreendeu ela mesma – "Eu te acompanho até os portões."

Não querendo contestar a loira, novamente pegou sua mala do chão e foi para fora da floricultura. Pode perceber que algumas pessoas espiavam discretamente para tentar entender o que havia se passado, mas após lançar um olhar assassino a elas, resolveu ignorar.

Esperou Ino arrancar de si o avental e chavear a porta, para só depois ficar ao lado dele, segurando sua mão, e caminharem em direção aos portões de Konoha.

Kankurou e Temari já aguardavam nos portões quando Gaara chegou. Kankurou pareceu agradecido de ver o irmão ali, visto que devia estar se sentindo incomodado com o fato de ter um Nara Shikamaru grudado em sua irmã.

"Gaara." – Exclamou Temari contente, soltando momentaneamente a mão de Shikamaru para abraçar o irmão

Ino olhou sapeca para Shikamaru, que retribui com um sorriso e dando um levantar de ombros.

"O que ele está fazendo ali?" – Perguntou friamente Gaara, sem desviar os olhos do Nara

"O mesmo que Ino." – Retrucou Temari mostrando a língua para o irmão e indo despedir-se do Nara

Ino aproximou-se de Gaara com um sorriso no rosto. Sorriso que se transformou em uma risada abafada ao ouvir Kankurou bufar e caminhar em círculos impaciente. Devia ser difícil para o irmão do ruivo ter ficado dez dias com um clã adorador de insetos e depois presenciar seus irmãos acompanhados sendo que ele estava sozinho.

"Eu posso vir a solicitar a presença do time 10 para algumas missões na Suna, de vez em quando."

Ino gargalhou diante do que Gaara falou. Postou as mãos na cintura e fez uma cara incrivelmente bela na opinião de Gaara.

"Somos muito caros, sabe, porque somos muito bons." – E deu uma piscadela para Gaara

O ruivo mal pode contar o meio sorriso que se formava em seus lábios ao apreciar a kunoichi a sua frente. Tão jovial e... fresca. Oras, porque não?! Ela era que nem a brisa primaveril: fresca e agradável.

Selando os lábios por uma última vez, Ino permitiu-se contemplar a figura de Gaara se afastando – junto com um Kankurou emburrado e uma Temari alegre –, ao lado de Shikamaru que observava a kunoichi dona de cabelos loiros escuros.

Ino não se sentia triste e nem sentia um vazio em seu peito. Ela estava começando a amar Gaara e sabia que eles iriam se ver logo. Podia sentir dentro do peito que Gaara ia retornar a Konoha antes que ela pudesse ir a Suna.

Ele com certeza ia retornar por ela, pois ele não precisava, mas correspondia aos sentimentos da loira fresca. Fresca como a primavera que os unira.