A Honra e o Poder

Alma Torturada – Coração Partido

Personagens: Saga (em POV), Shura, Camus, Shion, MDM, Afrodite, espectros.

Não contém yaoi, mas devido ao tema um tanto dramático, sugere-se a classificação para maiores de dezesseis anos.

Esta fanfic se passa quando Saga e outros cavaleiros foram ressuscitados por Hades para irem atentar contra Atena.

Disclaimer: Saint Seiya não me pertence. Todos os direitos pertencem à Toei, Shueisha, Long Jump, Bandai e, ao seu autor, Masami Kurumada. Fanfic sem fins lucrativos.

Capítulo 2

Saga POV

Casa de Virgem.

Shaka.

Giganto e outros espectros se acercam do indiano. Eu, Camus e Shura aguardamos. Precisamos passar. Enfrentamento. Não, o virginiano não é um inimigo qualquer. O homem mais próximo de Deus, mas ainda um homem. Seres humanos, somos todos, como eu, como a própria Atena. Almas grandiosas e poderes estratosféricos contidos em carne e sangue e músculos.

Previsivelmente, Shaka nos percebe. Nada passa em branco a esse homem. Tenho dúvidas sobre se ele sabia quem eu era na verdade quando dominei o Santuário com minha alma negra. Deixo tais pensamentos para outra hora, se essa hora chegar algum dia. Somos forçados a atacar para passar.

Gelo.

Lâmina.

Impacto.

Camus, Shura, Eu.

E ainda não é o suficiente. Por quê? A barreira, Kahn. Não é só isso. Por mais que tenhamos uma missão, não pudemos, não conseguimos atacar com toda nossa vontade. A vontade integra o cosmo, o amor integra o cosmo. Mesmo sendo ludibriados e domados pelos desígnios de Hades, nós não pudemos. Não pudemos atacar com tudo que temos. Não posso.

Mas eu devo.

Estupidamente, Giganto ousa, ah sim, ousadia demais. Desobedecer o conselho de Shaka de que permaneceriam vivos se recuassem. Dessa vez sou eu quem impede os espectros. Marionetes. Somos marionetes de Hades num confronto antigo.

Derrotados os espectros, restamos quatro homens com missões a cumprir e Shaka parece nos permitir passar. O frio aliviado por parcos momentos.

Não dura. Fácil demais. Ele nos pergunta pela verdade. Eu sinto o calor dele, o cosmo quente, elevado, atencioso e em guarda. A energia dele é tão bonita. A honra de Shaka não foi perdida. A força de Shaka não foi consumida pelas trevas.

Qual a verdade? Qual verdade ele quer saber?

Oh, por que tudo tem que ser dual como eu mesmo? Iremos matar Atena. A resposta é curta e direta e crua. Não posso expor toda a verdade. Não posso dizer a ele o que me faz tão miserável. Será que a ampla e decantada inteligência do indiano vai me poupar de exteriorizar a verdade por palavras que condenariam a todos? Estamos sendo vigiados, não posso titubear. Por favor, Shaka, perceba a natureza de minha dor, de nossa dor. Entenda o sentido real de tudo isso. Entenda...

Cavaleiros. Dentro das súrplices, no âmago e na mente, somos cavaleiros. Guerreiros, vencedores de lutas impossíveis e agora viria mais uma. Olho meus companheiros. A impassividade soberba de Camus. A fria dedicação de Shura. Seguimos todos para o Jardim das Árvores Gêmeas, um território antes desconhecido. É tão bonito. O andar suave do cavaleiro de Virgem esconde a tensão crescente. Eu suspiro uma dor impossível. O que terei que fazer? Como vou sobreviver?

A luta é dolorosa e, sinceramente, eu gostaria de deixá-lo vencer. Eu tentei me conter, eu tentei não fazer. Todos nós tentamos. Não é uma escolha possível

Dever. Honra. Poder. Meus deveres, meu dever, minha dor e expiação.

O próprio Shaka nos transmite seu anseio por... Ele pretende...

Morrer.

Meu desespero beira o desequilíbrio. Ele compreendeu. Shaka sabe. Ele sabe. Oh, céus, por que temos que ser nós três a atentar agora contra a vida do Cavaleiro de Virgem? Odeio Hades. Como eu o odeio! Com todas as forças de meu coração e alma eterna. Choro enclausurado no quão cruel é meu dever.

Dever. Dever. Dever.

A honra e o poder. Precisam andar juntos. A ânsia eterna por ser útil à Atena, por ser seu defensor, por amar a Deusa acima de qualquer possibilidade. Acima dos poderes dos humanos normais. Acima da vida e da morte.

A morte. Até ela me foi negada.

A vida. Também me foi negada. Vago por um estado que não sei descrever.

A honra e o poder.

Não me sinto honrado. Não me sinto poderoso. Sinto-me... Triste. Não posso hesitar. Não devo.

Dever.

A palavra badala em meu cérebro enquanto chego ao único caminho possível: desonra, vergonha, banimento.

O desespero do mais leal à Atena dói em meu âmago, a tristeza imensa de Aquário verte torrentes de desilusão em meu coração. Sem saída, sem opção, encurralados numa técnica assassina e arrasadora.

Atena Exclamation.

A Exclamação de Atena. A técnica proibida e destruidora. A desonra em forma de atos. Que podemos fazer?

Perdemos variados sentidos, Shaka e sua técnica suprema. Tesouro do Céu. Melhor seria Inferno. Não temos mais tempo para ficar decidindo o que já está definido. Perdão, indiano. Perdão anjo loiro, suplico-lhe que entenda. E nem posso falar nada. Perdão, criança.

Eu, o mais velho dos Cavaleiros da nova geração. Eu, que recebi vários deles no Santuário e que fui mentor de muitos. Eu, Saga de Gêmeos, irei assassinar uma alma pura em nome de meu dever. Por amor a uma deusa que precisará compreender o que estamos fazendo e talvez nos perdoar. Shura, Camus...

A Exclamação de Atena.

Um jardim arrasado e o cosmo de Shaka se esvai. Choro, choro, desespero-me. Cumpri meu dever, maldito dever, cruel dever, cruel... Shura chora. A dor dele é palpável. Camus não derrama lágrima alguma, mas o cosmo dele está explodindo de desgosto.

Quanto mais busco um caminho para a expiação, mais me embrenho em morte, desonra, perdição. Para quem, em seus anseios megalomaníacos, ansiava ser um Deus, reduzo-me agora a um amontoado de células que entregou sua alma ao demônio para cumprir... Seu dever.

Temos que ir. Não podemos sequer lamentar por Shaka. Nem a isso temos direito.

Abrem-se as portas e, mais provação. Encarar Mu. Sua dor premente faz meu coração falhar uma batida. Ah, meu amigo ariano. Não bastasse a luta na primeira casa, agora aqui estamos novamente e eu lhe entrego o rosário de Virgem.

O mesmo rosário que Asmita deu a vida para conceber e deixar-nos de legado e salvação. Hakurei e Asmita. Sérios e decentes cavaleiros da antiga geração. O que pensariam desses meus atos? Nem quero pensar no quão envergonhados estariam. Eu me envergonho. Eu me sinto honrado. Dentre tantos cavaleiros, eu, Shura e Camus fomos escolhidos para essa tortura em forma de salvação.

Não posso falar. Não acho como me expressar. A fúria de Aiolia.

Mu de Áries.

Ele compreendeu. Não o todo, mas parcelas de nossa missão. Não nos impediu no assassínio de Shaka e tenta conter Aiolia mas... Os Cavaleiros de Bronze estão aqui e, também...

Milo de Escorpião.

O melhor amigo de Camus de Aquário surge com seu costumeiro gênio explosivo e intenções assassinas. Ele sentiu, todos sentiram. Ele nos acusa, não posso me defender. E tenho, por acaso, defesa? Os olhares dos espiões de Hades ainda nos deixam sem poder explicar. Não nos resta nada, quase nada.

O ataque de Escorpião é doloroso, cruel e rápido. Quatorze agulhas torturantes. Rendição ou morte? Ah, Milo. Já estamos mortos. Há tanto tempo.

Vejo Camus e sinto tanto por ele. Sua guerra interna e sua sentida afeição por Milo devem estar torturando-o.

Preparo meu golpe mais mortal com o pouco que me resta de força e o desfiro contra o guardião da oitava casa. Mais uma morte em minhas costas. Não. O ataque teria sido mortal se Seiya não tivesse avisado Milo. Maldito sagitariano.

Não.

Bendito sagitariano que me impediu de matar outro Cavaleiro. Não tenho escolha e não temos opção. O último ataque. De novo. Corpos destroçados, súrplices aos pedaços, sentidos tolhidos. Não há mais nada. Ou melhor, ainda há algo.

Atena Exclamation.


Nota da Autora: Há pouco tempo houve um embate entre yaoistas e não-yaoistas numa comunidade do orkut. Debatia-se que escritoras de yaoi deveriam "abrir seus horizontes" para temas não-yaoi pois o que não faltaria em Saint Seiya seria material para estórias não yaoi. Ninguém "converte" uma escritora yaoi para não-yaoi se ela já não gostar. Isso é fato. Eu costumo escrever yaoi muito mais que não-yaoi e não me arrependo. O que julgo engraçado é a discrepância de reviews que recebo num gênero e noutro. Chega a fazer-me rir quando para cada dez reviews em minhas fanfictions yaoi eu recebo uma, ou no máximo duas quando escrevo não-yaoi. Até gosto de hentai e não-yaoi, mas acontece que gosto de receber reviews também. Sinceramente? Adoro yaoi e creio que mesmo que não tivesse um review sequer em minhas fics yaoi continuaria gostando. Agora, que é divertido eu escrever fora da minha área e ver o quão pouco sucesso eu faço... É. (E depois não querem que eu morra de rir com isso.) Só para deixar bem claro: eu adoro yaoi e não vou ficar escrevendo não-yaoi só porque há falta de estórias fora do universo homossexual nos sites. Isso não é problema meu...