O conto de Draco Malfoy por Remus Lupin

Existem poucas coisas que um lobisomem pode fazer para ganhar a vida honestamente no mundo mágico. E se viver em florestas, longe de qualquer humano e caçando coelhos para sobreviver não é algo que o apetece, a lista diminui consideravelmente.

Tornar-se um professor de Hogwarts nunca esteve na lista de Lupin. Parecia algo extremamente perigoso, morar num castelo cheio de crianças, apenas há alguns passos de levarem uma mordida amaldiçoada que arruinaria suas vidas.

Sem falar que, por mais que Lupin tivesse o conteúdo e o conhecimento de sua matéria, ele sempre acreditou que definitivamente não tinha o talento para o ensino de adolescentes. Dumbledore, no entanto, discordou. Talvez por falta de opção, claro.

Se ele era ou não um bom professor, Lupin ainda não tinha certeza. Só sabia que era o primeiro emprego em anos que parecia valer a pena, que trazia a esperança de que o mundo não era tão sem cor assim. Seus alunos eram lembrança constante de uma vida mais normal, mais alegre e não tão solitária.

Alguns até o lembravam de sua própria experiência em Hogwarts. Às vezes ele estava no Salão Principal durante o café da manhã e pegava de relance um James. Talvez até uma Lily. Em alguns ele via Peter e Sirius e não sabia o que pensar: se culpa, se raiva, se tristeza. A diferença era que, com sorte, nenhuma daquelas crianças teria que passar pelas mesmas dificuldades que ele passou em seus anos escolares. Sem guerra, sem perda, sem mortes.

Nem tudo era perfeito. Havia também Snapes andando por ai. E, claro, o próprio Snape, sempre buscando alguma brecha ou erro para criticar Lupin. Felizmente, Lupin sempre se prezou em ter uma grande paciência.

Ajudava tentar lembrar que, pelo menos os alunos, ainda eram jovens e, mesmo aqueles que tentavam esconder, tinham inseguranças ainda.

Então quando, por exemplo, Draco Malfoy criticava os métodos, aparência e escolha de roupas de Lupin, o professor focava no modo como o aluno ficou apavorado com seu bicho-papão. Ironicamente, o bicho-papão de Draco era o mesmo de Harry: um dementador.

Diferente de Harry, Lupin acreditava que Draco temia dementadores não por medo do "medo", mas sim porque era a primeira criatura das trevas que ele já vira de perto. A fascinação de Draco por Defesa de Artes das Trevas era pura fantasia de criança, sem nenhum pingo de realidade envolvida. Quando de frente com a realidade, a reação de Draco era medo. Algo que, do ponto de vista de Lupin, era uma boa notícia.

Draco, no fundo, não passava de um menino imaturo, mimado pelos pais e encantado com histórias do passado que na verdade não compreendia. Se Lupin fosse compará-lo com algum dos marotos seria com James.

James também se considerava superior à grande parte dos alunos, principalmente da Casa que ele odiava. Seus pais eram pessoas boas que não acreditavam na importância de status de sangue, mas que, como os Malfoy, mimavam James a toda e qualquer oportunidade. Por ser filho único e o primeiro depois de anos de tentativas, James era a jóia mais preciosa do casal, recebia doces todo dia da sua mãe e cartas constantes de seu pai. Tudo que ele pedia, ele recebia.

Mas a maior diferença, e a mais importante, entre os dois era que James teve ajuda de seus amigos e, principalmente, de Lily. Se não fosse por Sirius, James não saberia como as famílias puro sangue podiam ser. Se não tivesse conhecido Lupin não teria aprendido como o preconceito pode afetar a vida de alguém. Se não fosse por Lily ele jamais teria percebido que não precisava provar para ninguém sua superioridade para ser amado, apenas precisava ser ele mesmo.

Draco não tinha ninguém. Era claro para Lupin que, por mais que ele tivesse popularidade em sua própria Casa, amigos de infância e apoio dos pais, Draco não tinha ninguém para desafiá-lo, para mostrar-lhe um mundo diferente.

Com muita sorte, Draco encontraria uma Lily em sua vida e se tornaria uma pessoa melhor.

Enquanto isso não acontecia, Lupin fazia um grande esforço para não azará-lo.