Capítulo 01: It's the way that he makes you feel.
Experimente passar 17 anos de vida sendo comparada a uma boneca. Sendo tratada como uma. Usada, guardada, trocada e ao fim jogada de lado, porque sempre aparece outra mais bonita.
Isso resumia a vida de uma garota chamada Marion Phauna, Italiana abandonada pelos pais em uma cidade esquecida no Japão. A vizinhança a chamava de bruxa por sempre andar de preto e não cortar os cabelos que já batiam nos joelhos, lindos, brilhantes e louros.
Ela ignorava os comentários e continuava a viver. Bem ate demais para uma "criança". Apesar da maioria dos japoneses adorar pintar o cabelo aquilo não era muito comum na cidade, e o sotaque falsamente nipônico atraía algumas pessoas, garotos e homens de terno e gravata. Que pagariam bem. Mas não usariam bem.
Ela não estava à venda, mas tinha uma taxa de validade para algumas pessoas. Seus clientes. Aqueles que pagavam bem. Detestava garotinhos de 18/19 anos que falavam mais do que faziam e não pagavam bem. Aprendera a se defender de tarados nojentos. Ficara com um cliente por 1 ano e meio que era professor de ninjutsu.
Naquele dia em especial, deixara a casa cedo, o sol nem havia nascido direito e andava mancando pela rua.
Cliente estúpido. Masoquista doente.
Pensou enquanto arrastava o pé esquerdo até a farmácia, precisava de bandagens novas. Mais. Pagou e saiu com a sacola com bandagens e esparadrapos andando devagar pela rua, algumas pessoas mudavam de calçada ao vê-la, não se importava. Não conhecia aquelas pessoas. Não ligava para a opinião delas. Não devia satisfação a ninguém.
Já havia virado um quarteirão quando duas garotas passaram por perto correndo e a empurraram, acabou caindo de mal jeito, machucando o pulso e ralando os joelhos.
-Bruxa!
Ouviu as duas garotas gritarem, não deveriam ter mais do que 14 anos. E aquilo era uma cena normal. Não se preocupou em lançar um olhar bravo para elas, apenas se levantou. Facilmente. Olhou para o lado assustada ao ver um rapaz gentil a segurando pelo braço.
Lição número 1: Nunca agradeça até que a pessoa diga algo. Ela pode ser pior do que as que fizeram algo.
-Tudo bem senhorita?
O garoto de longos cabelos castanhos tinha um sorriso gentil no rosto.
Lição número 2: Desconfie.
-É claro.
E puxou o braço para longe dele, percebeu que havia ralado um pouco a palma da mão. Como conseguia se machucar tanto? Se abaixou ignorando a dor no abdômen, mas o garoto foi mais rápido pegando a sacola. Não a oferecendo de volta.
-Não tem nada pra você roubar aí, a não ser que precise de ataduras...
Disse friamente o encarnado com os olhos verdes que brilhavam de forma estranha, ele sorriu ainda mais e se agachou na frente dela, estava de costas.
-Suba. Você está machucada.
-Ficou louco? Eu nem conheço você.
-Do que está falando? Você não precisa conhecer as pessoas certo? Você não se importa com isso.
Lição 3: As pessoas nunca precisam saber nada pessoal. Elas nunca duram.
Ignorou a pequena pontada no coração, apesar de tudo não era comum as pessoas colocarem as coisas dessa forma. Dizer que era uma prostituta, bruxa, infame; era esse o tipo de comentário que ouvia. Não surtia efeito porque era feito por pessoas ignorantes e sempre se considerou superior aqueles seres que nada sabiam de uma vida sofrida e sem amor materno. A única pessoa em que realmente amou a colocara naquela vida.
Subiu nas costas do garoto que havia divido o cabelo em dois e o jogado para frente. As pessoas passavam com uniformes escolares e com suas mães ao lado. Olhando estranho e se desviando dos dois.
Não ficou surpresa quando ele e deixou na porta de casa. Tirou a chave do bolso do vestido e destrancou o portão, passaram uma por pequeno quintal, onde haviam algumas flores, embora estivesse sujo de copos e pacote de biscoito, Hao olhou tudo atentamente, Mari pareceu ignorar e abriu a porta de madeira dando passagem para ele, que sorriu em agradecimento e tirou os sapatos os deixando junto aos dela.
Era tudo impecavelmente limpo. Parecia uma casa de boneca, os móveis arrumadinhos, a sala era grande, porém bem vazia, as paredes pintadas em um tom de lilás, os sofás alinhados e a mesinha de centro com o jornal certinho no meio.
-Vai ficar ai olhando?
Hao seguiu com as mãos no bolso da calça e foram para o quarto da loira, não ficou surpresa ao ver a organização do cômodo como se nunca fosse utilizado, a cama bem arrumada com um lençol pesado e negro com caracteres brancos de kanjis espalhados, havia um boneco de coelho costurado e reformado sob a cama a mesinha ao lado tinha um abajur antigo e remédios espalhados por cima do livro e óculos de grau.
-Pode se sentar aí, eu já volto.
Dito isso entrou na porta ao fundo que concluiu que era o banheiro. A parede do quarto tinha um papel de parede de tom pastel com listras, estava cortado, como se alguém tivesse arrastado uma faca com violência por ele. Era um quarto...sem graça. Organizado mas não havia nada de extraordinário nele. O armário embutido o tapete recém lavado as cortinas limpas.
-Me ajude.
Marion estava de volta usando uma toalha e o cabelo preso em um rabo de cavalo alto, se sentou na cama de costas para Hao que tirou da sacola os produtos.
-Você está doente? Tem muitos remédios ali em cima.
-Não.
-Hn...Você já pensou em ir ao hospital?
-Não. Eu odeio hospitais.
Se livrou da toalha a jogando na beirada da cama, o corpo magro, os ossos bem visíveis nas costas, haviam roxos por todo o corpo, alguns cortes e arranhões nas coxas e uma área bem vermelha no ombro.
-Isso deve estar dolorido.
-Apenas me ajude a enfaixar.
Hao separou as faixas as cortou e a amarrou sem apertar muito, Mari olhou de lado para ele enquanto desfilava ate o armário no que Hao pode perceber que só haviam roupas pretas e brancas. Vestiu rapidamente um short preto e uma blusa branca, quando estava pegando o pente e os prendedores de cabelo, viu Hao se levantar e abrir o armário.
-O que está fazendo?
-Você tem um machucado na cintura, não use um short tão apertado – E puxou um vestido parecido com o que ela usava mais cedo – Use isso.
-Você é esquisito – Disse pegando a roupa e a vestindo.
-Você que é se trocando na minha frente.
-Você é gay?
-Você quer que eu faça algo?
E os dois ficaram se encarando como se esperassem por um passo.
-Você seria mais bonita se não fosse tão magra.
Disse dando um sorriso divertindo
-Cale a boca!
Mari corou com o comentário e arremessou a almofada da cama contra ele que apenas a pegou.
-Como você é explosiva. Achei que fosse apenas uma boneca sem expressão, isso me agradou um pouco.
-Cale a boca desconhecido.
Os dois estavam calmos, o que tornava os comentários não ofensivos, Marion bufando algumas vezes e depois séria e o rapaz sorrindo e surpreso.
-Asakura Hao.
-O que?
-Não sou um desconhecido é esse o meu nome.
Os dois ficaram novamente se encarando, Mari virou o rosto fitando o papel de parede ligeiramente estraçalhado.
-Marion Phauna.
-É, eu sei.
Continua.