Parte 6 – Confundido.
L
ucius não conseguia acreditar no que acontecia. Thiago Potter era um imbecil exibicionista que gostava de fazer graças para se aparecer, mas simplesmente ataca-lo, do nada?! Percebeu a fúria que o rapaz se dirigiu a ele, apenas por tê-lo visto sentado em seu canto de sempre, na mesa de sua Casa!

Que diabos aquele imbecil doido-varrido estava pensando?!

Por sorte, ele tinha um sexto sentido eficiente. Se não estivesse com sua varinha já em punho, teria sido atingido pelo feitiço do grifinório, e Merlim sabe o que mais faria com ele, estando desarmado e vulnerável.

Não havia tempo para tentar entender agora essa atitude violenta do Potter. Se ele ficasse ali onde estava, encurralado entre as cadeiras e a parede do Salão, logo seria atingido por algum feitiço que não conseguisse deter. Pulou para cima de sua mesa e dela saltou para cima da mesa da Corvinal, saltando para o corredor de passagem entre as duas alas do Salão, ao menos ali teria espaço para duelar ou escapar.

HARRY, NÃO! NÃO É O MALFOY! NÃO É DRACO! – Gina gritou estridente, empunhando sua própria varinha para impedir que os dois garotos se matassem um ao outro.

Tanto Harry quanto Lucius estacaram e desviaram suas atenções para ela. E tudo passou muito rápido pela cabeça do sonserino: a ruivinha que ele jamais vira na vida, mas era aluna da escola; o garoto que pensava ser Thiago Potter ser chamado de Harry; e, finalmente, a garota mencionar seu sobrenome, dizendo que ele não era Malfoy.. não era Draco!

Mas ele não ficaria ali perdendo seu tempo tentando entender tudo aquilo. Aproveitando o segundo de distração do seu atacante, Lucius desferiu um feitiço sobre Harry, que foi lançado sobre a mesa da Grifinória, fazendo estardalhaço que ecoou por todo o salão. Viu que a garota ficou indecisa entre enfrentá-lo e ajudar o moleque com cara de Thiago e aproveitou a ocasião para sair de vez daquele lugar, correndo para o corredor principal, rumo às escadarias que desciam para as Masmorras.

PARE!! – Gina gritou, lançando um feitiço de pernas presas que Lucius conseguiu desviar.

Harry se recuperou e ele e Gina foram correndo atrás do estranho. Lucius ouviu os baques nervosos às suas costas e olhou por sobre o ombro, sem parar sua corrida.

Por apenas esse segundo de desatenção no caminho que fazia, Lucius pagou caro; Rony se dirigia ao Salão Principal para esperar por lá pela hora do almoço quando ouviu a confusão e não teve nenhuma dúvida de que não era boa coisa e correu ao encontro, dando de cara com Lucius que, assim como Harry, pensou que se tratasse de Malfoy.

O que Harry desejava, Rony concretizou. Com apenas um soco, sem empregar muita força e aproveitando apenas a força contrária do próprio rapaz, Rony jogou Lucius ao chão, que caiu e deslizou até bater de costas na parede do corredor, sem saber o que e quem o havia atingido.

Atordoado, o rapaz levou a mão ao queixo, temendo tê-lo deslocado por conta da brutalidade desse trasgo ruivo. Perdeu toda a sua força de reação com esse golpe inesperado e quando deu por si, o trasgo ruivo estava sobre ele, erguendo-o do chão pela gola de sua jaqueta. Já esperava por um novo soco que desta vez, certamente, lhe afundaria a cara e fechou os olhos com toda a força que tinha, sentindo-se um inseto prestes a ser esmagado por um brutamontes – pois, sendo Rony alto e forte, ele deveria mesmo parecer um brutamontes para alguém de estrutura minguada como Lucius.

Rony já puxava o braço para trás, com seu punho preparado, quando Gina e Harry chegaram, parando aos tropeços. Gina se interpôs entre o irmão e o estranho, correndo o risco de ser socada no lugar de Lucius.

RONY! NÃO!

O punho de Rony parou centímetros do rosto da irmã e isso o fez sair de um estado de ira cega. Sem que a própria Gina percebesse seu ato, ela sobraçou um estupefato Lucius, afastando-o dos punhos do irmão.

GINA! ENLOUQUECEU?! POR POUCO NÃO LHE ARREBENDO A CARA!

Gina, raivosa, ralha com o irmão: E por pouco você não arrebenta a cara desse garoto!

VOCE ESTÁ DEFENDENDO DRACO?! É por culpa dele que tudo aquilo aconteceu!!

ELE NÃO É DRACO! – Gina repetiu, com raiva. Vocês dois estão paranóicos a ponto de ver coisas!

Harry parou ao lado de Rony, os dois olhando rancorosos e confusos para Gina, que ainda protegia a Lucius, mantendo-o às suas costas.

Paranóico, Gina?! Por acaso você não viu o que ele me fez agora mesmo?! – Bravejou Harry. Eu poderia ter quebrado as costelas naquele impacto!

Você o atacou primeiro, Harry! E só porque achou que ele fosse o Draco!

Lucius nada respondia e nada fazia para escapar, pois ele estava ainda mais confuso que aqueles três grifinórios que ele nunca vira na sua vida. E prestava atenção em tudo, desesperadamente, para tentar conseguir um fio de compreensão que fosse.

De qualquer forma esse cara é um estranho! Quem é você, afinal? – Rony perguntou, apontando perigosamente para Lucius, que se recostou um pouco mais firme contra a parede do corredor.

Vendo que Harry e Rony já não eram mais uma grande ameaça à integridade física do estranho, Gina se afastou dele, virando-se para ele e lhe estudando a fisionomia.

De perto, o rapaz era ainda mais diferente de Draco: o rosto e nariz mais finos e angulosos; a testa mais larga; os olhos mais repuxados e de um cinza mais escuro, quase negro. Ele estava semi curvado, ainda acalantando a dor no seu queixo produzida pelo soco de Rony; os cabelos muito lisos e bastos escorriam por seu ombro e iam quase à altura dos cotovelos e eram realmente louros, não aquela cor descolorada dos cabelos de Draco.

Gina o encorajou a responder à pergunta de Harry, com calma, porém com firmeza:

Desculpe o que aconteceu aqui, foi realmente um terrível mal entendido! Mas diga-nos quem você é! De longe você se parece muito com um cara que trouxe muitos problemas para nós!

Lucius se empertigou, voltando toda sua atenção apenas à Gina, tentando veemente ignorar os dois estúpidos às costas dela:

Não sei quem é esse Draco, nunca conheci alguém com um nome ridículo desses! Meu nome é Lucius...

Gina ficou estranhamente aterrorizada. Aproximou-se mais do rapaz, perscrutando-o: Lucius?! Você disse Lucius?!

Sim! Lucius... – No entanto, o garoto não teve a coragem de dizer que seu sobrenome é Malfoy; seu sexto sentido lhe dizia que isso lhe traria muitos problemas e sua mente começou a buscar outra saída freneticamente para ter as respostas prontas no momento em que forem solicitadas. Algum problema com isso? Já não basta vocês tentarem me trucidar só porque eu pareço com algum conhecido de vocês, agora meu nome é problema também?! – Lucius representou a cara mais indignada que jamais fez em sua vida.

Talvez, Lucius... porque esse seu nome associado a um outro é um enorme problema, sim! O que faz aqui em Hogwarts, afinal?! – Gina tornou a palavra, açulando o louro estranho.

Agora Lucius não representava, sua indignação era mesmo verdadeira. Como assim o que ele fazia em Hogwarts?! Ele era quase o dono daquela escola, visto que seu pai fazia doações generosas à escola, com certa freqüência! Ele é quem deveria perguntar que são esses três grifinórios que nunca viu em sua vida, mas que estavam ali como alunos e atacando a ele! E lhe tratando como um ladrão ou coisa pior!

Eu estudo aqui, ruivinha! E há sete anos! Vocês é que parecem ter surgido do nada, de hora pra outra! Isso é alguma brincadeira daquele quarteto demente, tenho certeza!

Harry puxou sua varinha e a apontou para o peito de Lucius, que se encolheu e empalideceu ainda mais.

Acha que somos imbecis?!


Minerva McGonagall estava com o rosto escondido em suas mãos e os cotovelos apoiados sobre um grosso livro antigo. Ao seu lado, sobre a sua escrivaninha, havia uma pilha de livros igualmente grossos e antigos, com encadernações de várias cores e estados de conservação. A maga descansava suas vistas e sua mente do exercício extenuante que vinha fazendo desde as sete da manhã, desde que havia deixado o jovem Snape encarcerado no quarto de luxo. Estava tão longe dali que não percebeu que batiam a sua porta e que esta se abriu mesmo sem sua permissão e deu lugar a duas figuras: Hermione e um muito contrariado Igor Karkaroff.

Professora? Professora McGonagall, a senhora está bem? – Só depois de ouvir por uma segunda ou terceira vez o apelo de Hermione, foi que a mulher saiu de seu torpor.

A princípio não deu muita importância à companhia de Hermione, embora Igor fosse alguém que não passaria facilmente despercebido. Só depois que Hermione repetiu a pergunta e se adiantava até ela, foi que Minerva levantou-se de sua escrivaninha e se aprumou, calçando a máscara de dama de ferro.

Sim, senhorita Granger, eu estou muito bem, obrigada! O que querem aqui? Você e... – Minerva, finalmente, voltou a sua atenção ao rapaz impassível ao lado de Hermione, não o reconhecendo de imediato, mas uma ponta de desagradável compreensão passou por sua mente, mas ela esperaria por maiores conclusões antes de dar asas as suas especulações.

Igor ia se "apresentar", mas foi interrompido por Hermione, que o fez calar apenas segurando-o levemente pelo braço. Ela não poderia permitir que Igor se revelasse assim a queima-roupa.

Professora... o problema do Snape é um pouco mais grave...

McGonagall já havia entendido tudo, embora não conseguisse reconhecer o rapaz da distância em que estava dele. Saiu detrás de sua escrivaninha, vindo até Hermione e Igor, olhando perscrutadora para ele, que se sentiu desconfortável com aquele olhar severo e penetrante. Hermione ainda segurava, imperceptivelmente, o braço de Igor, e o apertou um pouco mais quando percebeu que o garoto tencionava fugir da averiguação da professora. Minerva boquiabriu-se quando ficou cara a cara com Igor. Hermione não precisou fazer nenhuma apresentação.

Meu Deus! V-você é... Karkaroff.. Igor Krkaroff! Meu Deus! Meu Deus! Mas, então, Snape não é o único!

A professora de afastou dos dois alunos, mergulhando em conjecturas, pasmada com uma situação que não podia ser ainda pior do que já era. Igor se voltou para Hermione, sussurrando-lhe com sarcasmo:

Fico contente em saber que sou um cara inesquecível...

Hermione não compartilhou do bom humor do rapaz e lhe devolveu, como resposta, um olhar aborrecido. Deixou Igor de lado, indo até McGonagall que continuava a andar de um lado ao outro da sala circular e a balbuciar coisas para si mesma.

Professora... professora!

O que mais tem a me dizer, Hermione?! – Minerva respondeu com rancor por ter seu raciocínio interrompido pela aluna.

Que a coisa é ainda pior... um pouco mais pior do que parece ser agora!

Minerva se tornou altiva e se voltou de nariz em pé para Igor, que apenas apreciava a situação, esperando que decidissem por ele o que fariam com ele mesmo.

E o que poderia ser ainda mais pior do que eu ter aqui dois alunos que viajaram no tempo?

Eeeh, bem... ter três alunos! Lucius Malfoy também está por aqui!


Harry não estava para brincadeiras e olhava feroz para Lucius; até mesmo Rony e Gina ficaram apreensivos quanto a ele.

Você deve mesmo achar que somos imbecis! Se passar por um estudante de Hogwarts?! Conheço quase todos os alunos dos últimos anos e você não passaria despercebido, ainda mais com essa semelhança com Draco! O que fez para ter essa aparência, Lucius Malfoy? Poção rejuvenecedora? Ou seu mestre lhe ensinou truques novos?!

Se for possível Lucius ficar mais pálido, ele ficou. E ainda mais confuso. Como assim "ter esta aparência" e "Poção rejuvenecedora" ??

Gina pareceu ter a mesma confusão e externou isso. Rony apenas olhava de um para outro.

Isso não existe, Harry! Não existem poções ou feitiços que façam as pessoas rejuvenecerem! Se houvessem, não haveriam tantos bruxos velhos e feios! Minha tia Muriel teria sido a primeira a fazer uso disso! E, ademais, não é porque o garoto se chama Lucius que quer dizer que ele é o Sr Malfoy!

Agora foi a vez de Harry se indignar: Por que você está tão empenhada a defender esse cara que quase me quebra as costelas?! E você esquece, Gina, que para Voldemort muitas coisas são possíveis! Ele recompôs o próprio corpo! Fazer pessoas rejuvenecerem é fichinha!

À menção do nome Voldemort fez os outros três se encolherem, além de ter arregalado os olhos de Lucius! Ele entendeu direito ou esse moleque atrevido com cara de Potter o associou aquele que não deve ser nomeado?!

Uma raiva repentina fez Lucius criar coragem para peitar a Harry, sem se importar se o moreno lhe apontava a varinha. Neste momento se deu conta de que não portava a sua própria, que devia ter caído de sua mão quando foi socado pelo trasgo ruivo.

Pra mim já chega dessa brincadeira! Esta é a minha verdadeira aparência! Não tomei nenhuma maldita poção e menos ainda sou algum assecla Daquele-que-não-deve-ser-nomeado! Sou Lucius Malfoy e você sabe muito bem disso!

Gina se afastou, olhando horrorizada para Lucius, como se não conseguisse acreditar em suas palavras. Rony sacou de imediato sua varinha, apontando-a para o rapaz enquanto a raiva crescia em Harry.

Maldito! Acha mesmo que somos imbecis!

O que aconteceu em seguida foi uma seqüência de luzes e estampidos que se misturaram. Não apenas o som reverberou pelo corredor, mas também jatos de luzes que ricochetearam pelas paredes e teto. Por um instante tudo ficou numa enorme desordem de luz e cores, até que a vista de todos ficasse novamente nítida para descobrir o que havia acontecido.

Harry e Rony ainda empunhavam suas varinhas, mas tentavam ainda a se proteger de feitiços que haviam partido de outro ponto. Gina estava agachada contra a parede, protegendo sua cabeça e Lucius Malfoy estava preso e protegido dentro de uma enorme bolha transparente, flutuando debilmente alguns centímetros do chão.

Minerva McGonagall estava parada com a varinha em riste e uma expressão furiosa.


Continua...

Snake Eye's – Dezembro de 2008.


N/A: Obrigado pelos comentários!

Felicidades e muitas conquistas neste 2009!