A Próxima Geração

Quando olhava para trás, Andrômeda Tonks sentia um arrepio percorrer-lhe a espinha.

Já eram três da manhã quando ela acendeu a lareira com a varinha e sentou para aquecer-se. Uma tempestade rugia lá fora, mas não era só isso que a mantinha acordada. Ela vidrou seu olhar esgazeado no fogo, mas o que via não eram labaredas.

Ted, Nymphadora, Lupin.

Enrolou-se mais no sofá. Naquela manhã, sua filha e genro haviam sido enterrados. A família Weasley comparecera em massa, acompanhado pelos Aurores e por algumas pessoas que ela sequer ouvira falar. E também por Harry Potter.

Ele viera até ela e olhara cuidadosamente para o embrulhinho em seus braços. 'É o Teddy?' perguntou.

'Sim,' ela respondera sem ar, tentando conter as lágrimas, e afastou um pouco do tecido do rosto do neto. Um bebê rosado com um pequeno tufo de cabelo preto meia-noite mexeu-se e bocejou, entreabrindo os olhinhos.

Ela acompanhou quando os olhos verdes do herói da guerra encheram-se de água.

O bebê, interessado, inclinou a cabeça para o lado enquanto seus próprios olhos ficaram verde-esmeralda. Depois, ele sorriu banguela, arrancando um sorriso do padrinho.

'Ele é... puxa. Não acredito que não tinha visto meu afilhado até agora.' Harry dissera, estendendo o dedo para que o garoto segurasse com as mãozinhas. 'Alô, Teddy. Eu sou o Harry.' O garoto pegou o dedo e colocou-o na boca. O gesto lembrou o herói da guerra de algo. 'Ah, me diga... ele é...?'

'Um lobisomem?' Andrômeda lembrou-se de que ela própria falara. 'Sim. Toma a poção uma vez por mês, mas não conseguiria fazer muita coisa por enquanto, mesmo sem ela. Sabe, ele ainda não tem... dentes.'

Harry riu. E seu riso foi interrompido de repente na lembrança de Andrômeda por uma batida na porta.

Trazida bruscamente de volta à realidade, ela se levantou. Eram três da manhã e a chuva caía torrencialmente lá fora, seria possível que alguém tivesse batido?

Uma nova batida, dessa vez mais vigorosa, quase desesperada, confirmou que não fora uma alucinação. Andrômeda olhou para os lados em busca da varinha, mas a deixara na mesa de cabeceira, no quarto. Teria tempo de buscá-la?

Chegou a subir os primeiros degraus antes que uma nova batida soasse, dessa vez acompanhada de uma voz.

"Andie!"

Ela gelou as escadas, e não por causa do frio que de repente a envolveu quando deixou cair o cobertor.

Os amigos a chamavam de 'Ann'. Nymphadora a chamava de 'mãe'. Ted a chamava de 'Dromeda'. Ela não ouvia o apelido Andie há anos, e as únicas pessoas que a chamavam assim eram...

Atravessou a sala devagar. As batidas se tornavam mais e mais desesperadas, até que ela abriu o trinco e girou a maçaneta. "Cissy," Ela constatou em voz alta.

Nacissa Malfoy estava encharcada, os longos cabelos louros, que normalmente formavam cachos perfeitos nas pontas, grudando no rosto. Ela apertava contra si um casaco que outrora tivera uma gola de pele, mas que agora parecia esfiapado. A face estava pálida e o que restava de sua maquiagem escorria.

Ao seu lado, o marido e o filho faziam o melhor para se proteger da chuva. Mas não olharam para Andrômeda quando ela apareceu na porta.

"Andie," Disse Nacissa, com um sorriso trêmulo. "Andie, por favor, nos ajude."

"O que foi?" Perguntou ela, na defensiva. A irmã cortara relações com ela desde que começada a sair com Ted Tonks, e a última vez que a vira fora no casamento com Lucius. Numa matéria de jornal. "O que você quer?"

"Precisamos de ajuda, Andie," Implorou a mais nova. "Não conseguiram por Lucius em Azkaban, porque os alunos de Hogwarts testemunharam que ele não matou ninguém na guerra, mas tiraram tudo de nós Andie, tudo! A casa, o ouro, as varinhas, os amigos... Jogaram nosso nome na lama."

"Mataram meu marido e minha filha." Murmurou Andrômeda entre dentes e, para a sua surpresa, Narcissa pareceu genuinamente chocada.

"Sua... sua filha?" Ela repetiu. "Ah... Eu—eu sinto tanto..."

"Não sente, não."

"Eu entendo você! Se Lucius... Draco..." A loura balbuciou, roubando um olhar para o filho, que continuava a se proteger da chuva sem olhar a tia nos olhos. "Eu acho que não sobreviveria. Mas precisamos de ajuda, Andie, faz dias que não dormimos com um teto sobre nossas cabeças. Lucius está doente!"

Andrômeda olhou nos olhos profundamente azuis da irmã mais nova. Ela sabia o quanto deveria estar sendo difícil para ela implorar daquela forma.

"Bella está morta. Você é a única família que me resta, Andie."

Ela é como eu disse algo na parte de trás do cérebro da irmã do meio das Black. Uma mulher destruída pela guerra.

Alguns segundos correram velozes pelas duas conforme o olhar de Andrômeda se suavizou. Lembrou-se das tardes de sol na mansão dos Black, em tempos há muitos idos, quando as três irmãs ainda eram amigas. Lembrou-se do cabelo da Narcissa quase tão reluzente quanto seu sorriso. Tão bonita, tão eterna, tão irreal.

"Entre," Ela disse, de repente, dando passagem. Narcissa abriu um sorriso, mas esse era apenas uma fraca imitação do que fora outrora, e entrou, seguida rapidamente pelo marido e pelo filho.

Lucius se sentou em frente ao fogo, ainda sem olhar a dona da casa. Ele tinha de fato um ar doente, tremia compulsivamente e as pontas de seus dedos estavam brancas como giz.

Draco, entretanto, com toda a dignidade que possuía, puxou uma varinha de dentro das vestes e, apontando-a para si mesmo, murmurou dryfindo, ficando imediatamente seco. Fez o mesmo com o pai e a mãe, antes de guardar a varinha.

"Draco," Disse uma Narcissa já seca. "onde conseguiu essa varinha?"

"Algum idiota a perdeu e eu peguei," Respondeu o garoto secamente, sentando-se na poltrona. Andrômeda não deixou escapar a gentileza de ele não ter-se acomodado até estar seco. "Não funciona muito bem, mas dá pro gasto."

Narcissa suspirou ligeiramente derrotada e foi-se ajoelhar ao lado do marido. Ele continuava encarando fixamente o fogo.

"Lucius?" Ela perguntou, cautelosa. "Lucius, está tudo bem?"

Ele balançou a cabeça afirmativamente, de leve. Andrômeda sentiu uma lâmina afiada de piedade atravessar seu coração: ele parecia quase louco.

"Podem ficar no quarto de hóspedes," Ela disse, de repente. "As camas estão... estão feitas." E sentiu um arrepio percorrê-la: não tivera coragem de tocar no quarto da filha e do genro ainda.

"Ouviu, querido?" Narcissa voltou-se para o marido como quem dirige-se a uma criança. "Vamos dormir numa cama, com um teto, não é maravilhoso?"

Ele assentiu novamente. Narcissa levantou-se e puxou-o pelas mãos, conduzindo-o até as escadas. Ao passar pela irmã, murmurou um obrigada, e sorriu-lhe ternamente, como há muito não sorria.

Andrômeda sentou-se na poltrona voltando-se para o sobrinho, que encarava o fogo com os cotovelos apoiados nos joelhos. Ele, como ela, parecia estar vendo alguma coisa mais que as labaredas.

"O que aconteceu?" Perguntou a mulher, reparando que Draco não iria iniciar um diálogo.

"Acho que Narcissa resumiu tudo muito bem," Ele respondeu secamente, e Andrômeda se surpreendeu ao ouvi-lo chamar a mãe pelo nome. "Depois do fim da guerra, descobriram que nossa casa era a sede e confiscaram-na. Só não nos jogaram em Azkaban porque nenhum aluno deu queixa de uma morte feita por um Malfoy e os próprios Comensais ajudaram, gritando em seus julgamentos que éramos traidores do sangue e nos recusávamos a sair de casa..."

Draco riu secamente.

"Andamos vivendo só com o que sobrou do dinheiro que eu tinha levado para Hogwarts. Quando conseguimos encontrar uma estalagem que não nos expulse, ficamos lá.. Acho que Lucius está começando a ficar meio louco..."

"Você está muito diferente, Draco." Exclamou Andrômeda, sem se conter.

Nunca conhecera o sobrinho pessoalmente mas, claro, ouvira falar sobre ele. Nymphadora lhe contou como ele imobilizara e quebrara o nariz de Harry Potter, ano passado, e como andava sempre cercado de guarda costas por ser um covarde.

"Nem tanto," Ele respondeu, dando de ombros. "Sabe, a primeira vez que eu notei que era contra o Lorde das Trevas foi no ano passado. Quando me mandaram matar Dumbledore."

Andrômeda arregalou os olhos. Não podiam ter mandado um garoto tão pequeno matar o maior bruxo que já existiu!

"Quando eu estava a um feitiço de matá-lo, eu percebi que não conseguia." Ele prosseguiu, encarando o fogo. "Estuporá-las, azará-las, até machucá-las. Mas não matá-las. Eu percebi o quão horrível isso era e como eu definitivamente não queria estar do lado de alguém que o fazia com tanta facilidade."

"Seu pai te forçou a continuar comensal?" Ela perguntou, muito interessada.

"Não. Pode não parecer, mas Lucius é um homem de família. Ele se juntou aos comensais porque queria o que era melhor pra família dele. Acho que acabou indo mais fundo do que devia."

"Como você."

Draco suspirou. "Como eu. Mas sabe, você não pode simplesmente desertar o Lorde das Trevas. Ele ia matar todos nós. Todos nós. Foi covarde, eu sei, mas foi tudo o que pude fazer."

Andrômeda sorriu, entendendo: assim como o pai, Draco era um homem de família.

E de repente a conversa foi cortada por um choro alto. A mais velha se pôs de pé rapidamente.

"Com licença," Ela começou, correndo escada acima o mais depressa que podia. Entrou no quarto do neto e debruçou-se sobre o berço. O cabelo ralo do bebê estava azul-água, como as lágrimas que rolavam de seu rosto. Quando voltou à sala, trazendo o neto no colo, Draco estava de pé.

"Quem é?" Ele perguntou, como se nunca tivesse visto um bebê na vida.

"Ted Lupin, meu neto," Ela respondeu, embalando a criança no colo. Ele acomodou-se junto ao seio quente da avó. "Deve ser seu primo de segundo ou terceiro grau."

"Lupin?" Repetiu Draco, estreitando os olhos. "Como em Remus Lupin? Isso quer dizer que ele é um..."

"Lobisomem, perfeitamente," Respondeu Andrômeda, erguendo o queixo orgulhosa. "E um Metamorphmagus, também, como a minha filha. Agora, acho que ele quer a mamadeira, se puder me dar licença..."

Mas Draco não deu licença. Ele inspirou profundamente e, para a surpresa de sua tia, estendeu os braços, mas parecia fazer um esforço enorme.

"Posso—posso segurá-lo?"

Andrômeda piscou várias vezes e seus lábios se entreabriram. Draco estava mudando. Definitivamente estava mudando. Estava tentando dominar seu medo por tudo que era diferente—como se, perante a decepção de que estava errado em relação a Voldemort, tivesse que revolucionar todas as suas idéias.

Ele recebeu o primo nos braços, conforme sua tia saía para esquentar o leite. O choro do pequeno diminuiu um pouco quando Draco abaixou a cabeça. Ele nunca havia visto cabelos louros na vida e a descoberta o divertiu muito.

Estendeu uma das mãozinhas e puxou de leve uma das madeixas douradas.

"Hey!" Exclamou Draco, diante de um puxão mais forte. "Veja lá o que faz com essa—wow."

O cabelo azul turquesa de repente se tornou louro. Fantasticamente louro, de fato. Teddy, então, mudou seu alvo para o nariz pontudo do primo, tentado alcançá-lo com a mãozinha.

"Eh—Umm... é quase fofo." Constatou Draco, torcendo o nariz na esperança de desencorajar o primo, mas isso só serviu para diverti-lo imensamente e deixá-lo ainda mais interessado. "Deixe a minha cara em paz, ok? Eu não posso mudá-la, como você, se acontecer alguma coisa errada. Ei, não, não faz essa cara! O que será que significa quando o seu cabelo fica vermelho vivo? Ah, ok pode pegar o estúpido nariz, mas não acostume, hein, pirralho?"

"Vejo que estão se entendendo."

A voz divertida de Andrômeda veio da porta da cozinha, onde ela aguardava com a mamadeira. Draco se deu conta da situação ridícula em que estava, a cabeça abaixada, a mão gorducha do bebê sobre o seu nariz, e recompôs-se rapidamente.

"Moleque mimado." Ele constatou, passando o primo para as mãos da tia.

"Como se você estivesse em posição de dizer muita coisa." Riu Andrômeda. Teddy rapidamente encontrou o bico da mamadeira e seu cabelo se tornou rosa-brilhante de prazer.

Ficaram em silêncio, então. Draco sentou-se no sofá e cruzou os braços, observando pelo canto do olho sua tia fazendo barulhinhos incompreensíveis que pareciam divertir até que o leite acabasse.

"Ei, tia Andrômeda."

"Sim?"

"Posso pô-lo para dormir?"

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Posteriormente, Teddy não lembraria da época em que Draco ainda morava em sua casa, pois mal tinha três anos quando o primo foi morar sozinho, depois de um tortuoso caminho para conseguir um emprego. Lugar nenhum o aceitava, e ele teve que começar debaixo. Muito debaixo.

O que Teddy lembraria, e essas eram algumas de suas lembranças mais queridas, era que o primo os visitava sempre que possível, aparecendo quase toda a semana. Na maior parte das vezes, ele tinha alguma história para contar, principalmente sobre seu novo emprego.

O único lugar que aceitara Draco foi uma empresa recém-fundada que arrecadava fundos para os bruxos destruídos pela Guerra da Libertação. A chefe de seu departamento era uma mestiça chamada Cassiopéia que parecia estar fazendo de tudo para infernizá-lo ao máximo possível.

"Eu jamais imaginei que algum dia sangue-puro viesse a se tornar um xingamento." Ele reclamou uma vez, engolindo vorazmente a sopa que sua tia Andrômeda tinha feito. Ela a comida mais gostosa que comia em semanas. "Bom, pelo menos é assim que aquela... que aquela maldita faz soar."

Andrômeda não deixou de reparar que ele reprimira o xingamento racista que outrora estava sempre na ponta da língua.

E Teddy também lembraria que Harry Potter aparecia em sua casa com igual com freqüência.

Quando perguntou para sua avó Andrômeda porque Harry e Draco nunca apareciam para visitá-lo juntos, ela meramente riu e contou sobre como fora engraçado da primeira vez que Harry viera visitar o afilhado e encontrara Draco, e o modo como o louro simplesmente se trancara em algum lugar aleatório, deixando um Harry muito confuso brincando com o bebê.

Nas vezes seguintes, Harry os visitara com a namorada Ginny, e Draco até mesmo fizera o esforço de apertar a mão dela antes de sumir.

Entretanto, quando Harry passou a visitá-los com Ginny, Ron, Hermione ou algum outro Weasley, Draco decidiu que não poderia permanecer na casa. Sempre que ouvia o bater na porta, rapidamente inventava alguma coisa e saía da casa. Odiava especialmente quando Hagrid vinha visitar o pequeno, pois parecia decidido a perdoar Draco e sempre tentava puxar algum assunto quando via o garoto partir.

Teddy adorava o padrinho. Harry sempre tinha alguma história legal para contar, e era capaz de jurar que todas elas eram verdadeiras. Mas Ted tinha lá suas dúvidas. Um bruxo de quatorze anos não poderia enfrentar um Rabo-Córneo Húngaro, ele se convenceu depois que Charlie lhe contara o que era tal coisa.

Além disso, Harry era muito bom em Quadribol. Muito bom em Quadribol.

Ele gostava especialmente desses momentos, porque normalmente a casa parecia morta.

Sua avó Andrômeda andava pelos cômodos como um fantasma, envolvida pela fina gaze invisível da viuvez que parecia separá-la do mundo. Ela era animada em frente ao neto, claro, mas sempre que se distraía perdia o olhar num horizonte imaginário. Estes olhares foram ficando cada vez mais longos através dos anos, conforme via Ted crescer, seu rosto se tornando cada vez mais parecido com o de Tonks.

Lucius também parecia distante. Beirando a depressão, pois não suportava viver de favores após ver destruído tudo aquilo em que acreditara por uma vida inteira. Apenas Narcissa conseguia arrancar sorrisos e conversas dele.

Quando Ted lhe perguntou, uma vez, sem o menor tato, como ela conseguia gostar tanto de um homem que mais parecia um zumbi, ela abaixou-se até ter os olhos na altura dos dele, e respondeu.

"Ouça, Ted. Quando eu estava no quinto ano de Hogwarts, fiz aquele teste vocacional. Me perguntaram o que eu queria ser quando crescer, e eu respondi sem pestanejar, Sra. Malfoy."

Desde então, o garoto nunca mais tocou no assunto.

Ele também se lembrava com muito carinho de como levara as alianças para o altar no casamento de Harry e Ginny, quando tinha sete anos. Tinha escolhido um cabelo louro quase branco, inspirado no de sua tia Fleur, mas conforme ia andando entre as cadeiras, foi ficando tão envergonhado que seu cabelo avermelhou junto com o rosto, e todos riram.

Quando a cerimônia acabou e todos estavam ocupados se divertindo, Teddy viu, no fundo do salão, uma figura conhecida. Correu para lá, derrubando alguns garçons no caminho. Nunca, nem em um milhão de anos, esperara ver seu primo Draco naquele casamento.

"Draco!" Ele exclamou, chegando. "Achei que você não vinha! Achei que você odiava Harry e Ginny!"

"Bom, eu odeio." Ele respondeu com uma careta. "Mas eu não podia perder a sua grande entrada, não é?"

Ted sorriu largamente.

"Agora, se o Potter pensa que vai te comprar com esse tipo de coisa, ele está enganado. Você também vai ser o damo de honra ou sei lá como isso se chama, do meu casamento, ouviu?"

"Você vai casar?" Os olhos de Ted brilharam. Draco piscou pra ele. "Com quem?"

"Cassiopéia."

Alguns segundos de choque. O cabelo castanho-claro de Ted foi clareando até estar quase louro. Ele juntou as sobrancelhas, numa expressão de típica confusão infantil.

"Cassiopéia? Aquela sua chefa chata que não parava de pegar no seu pé, antes de você ser promovido?"

"Essa."

"Aquela que dizia que você tinha que trabalhar o dobro se quisesse ser aceito de novo no mundo dos bruxos?"

"É."

"Aquela que dizia que você era mimado e arrogante?"

"Quantas Cassiopéias eu conheço, Ted?" Cortou Draco, impaciente. "É, a Cassiopéia que não parava de me atormentar. Ela é boa nisso."

"Mas você sempre me disse que ela é uma idiota—Porque—porque vai casar com ela!" Ted perguntou, incrédulo.

"Bom," Começou Draco, e corou levemente. O rosado das bochechas contrastava de forma incrível com a palidez do rosto e dos cabelos. "sabe, desde de que ela parou de mandar em mim, ela ficou mais aceitável—e, bom, quando ela sorri... acho que qualquer um casaria de cara com ela se a visse sorrir."

Teddy piscou várias vezes, ainda mais confuso do que antes. Draco disse que aquilo não era assunto para uma criança de sete anos e resolveu partir antes que mais alguém o visse ali.

Mais tarde, no mesmo dia, Teddy contou o incidente estranho à sua avó. Ela ouviu tudo e abriu um de seus agora raros sorrisos, antes de explicar.

"Seu primo Draco está apaixonado, querido."

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Muito cedo, Teddy aprendeu a amar a lua cheia.

Três dias antes da transformação, era necessário tomar a primeira dose da poção Wolfsbane e Teddy já começava a ficar animado. Por um tempo, sua avó pensou que fosse uma espécie de efeito colateral da poção, que havia sido atualizada e agora tirava a dor da transformação e a substituía por uma sensação semelhante a ser coberto por uma manta que pinica. Mas logo percebeu que era pura animação do garoto diante da perspectiva de virar um lobo.

Ele adorava virar aquele filhotinho e correr de um lado para o outro do jardim, tão veloz quanto o vento. Adorava rolar na grama, saltar, perseguir passarinhos e tentar uivar para a lua, e Andrômeda normalmente o encontrava exausto, estendido na grama na manhã seguinte.

Quando James Sirius Potter nasceu, em dezembro daquele ano, Teddy ficou tão animado que prometeu ao padrinho que seria o bichinho de estimação do garoto, uma vez por mês.

Entretanto, quando Harry e Ginny apareceram, na lua cheia seguinte, o pequeno James de menos de um mês começou a chorar diante da visão do lobo. Teddy enfiou o rabo entre as pernas e correu para o jardim, pela primeira vez plenamente consciente de que era assustador.

"Hey," Ele sentiu, de repente, uma mão no topo da cabeça. Voltou-se e encontrou Harry. "desculpe por aquilo. Acho que ele é um pouco pequeno demais."

Teddy abaixou a cabeça tristemente.

"Ora, anime-se, camarada!" Harry piscou. "Venha, vamos tentar de novo."

E seguiu para o jardim. O garoto foi atrás, hesitante e viu, ao longe, na frente da porta, Ginny segurando o bebê James no colo. Juntos, ele e o padrinho foram se aproximando devagar.

"Teddy!" Disse Harry de repente, batendo com as mãos nos joelhos. "Vem cá!"

E Ted rapidamente pôs-se sobre duas patas e começou a lamber o rosto do padrinho, que riu e bagunçou os pêlos da cabeça dele.

"Olha só que cachorro bonzinho, James." Sussurrou Ginny ternamente para o filho. "Quer fazer carinho nele, quer?" E se inclinou ligeiramente, de forma que Teddy pudesse alcançar o bebê. James olhou confuso para a forma à sua frente, cuja língua pendia amigavelmente para fora da boca. Esticou a mãozinha e tocou o focinho frio.

Ted lambeu os dedos rechonchudos, fazendo James rir e selando uma amizade que duraria para sempre.

No ano seguinte, veio Albus Severus. Para ambos, seu 'primo lobinho' foi um herói.

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"Ano que vem você vai pra Hogwarts, não é, Ted?" Perguntou Narcissa, numa noite particularmente fria de novembro.

Draco e Cassiopeia tinham aparecido para o jantar, juntamente com o pequeno Scorpius, o que tornava o ambiente muito mais agradável. A mulher, concentrada em certificar-se que o filho de quatro anos não fizesse muita bagunça, voltou-se com os olhos luminosos.

"Ano que vem? Você já tem dez, Teddy?" Ela perguntou, abrindo um dos sorrisos pelos quais Draco de apaixonara.

"Onze em vinte e três de abril." Ele respondeu alegremente. "Mal posso esperar para ir parar em Hogwarts!"

"Vamos torcer para que você seja sorteado em Slytherin, Ted." Narcissa falou brandamente.

"Slytherin?" Repetiu Ted. "Harry disse que achava que eu ia parar em Gryffindor."

"Bem, diga ao Potter que levamos a opinião da lula-gigante mais em conta que a dele." Draco descartou a idéia com altivez. "Slytherin é uma casa muito boa."

"Eu fui da Hufflepuff." Cassiopéia acrescentou com um sorriso, e toda a família Malfoy engasgou como se ela tivesse acabado de dizer que ia largar sua vida e dedicá-la a trabalho voluntário com uma tribo de pigmeus.

"Huff—Cassy!" Draco se recuperou. "Porque você nunca me disse uma coisa dessas!"

"Qual é o problema? É uma casa muito respeitável." Ela pôs as mãos na cintura e jogou seu cabelo louro-escuro para trás. "Alguma coisa contra?"

"Nada, só que todos os Hufflepuffs que conheci na minha época eram panacas totais."

"Que nada. Você quem era um panaca total."

"Minha mãe foi uma Hufflepuff!" Ted interviu o casal de repente. "Tenho certeza de que é uma boa casa."

"Bem, se vocês vão fazer grupinho contra mim, então eu me rendo." Draco ergueu as mãos em posição defensiva. Cassiopeia riu e enlaçou-lhe o pescoço com os braços, fazendo as pazes. Lucius pareceu torcer o nariz diante da cena, quando enrolava seu spaghetti com a ponta do garfo.

"Eu tive muitas amigas Ravenclaws." Andrômeda comentou, e abriu um sorriso triste para uma piada há muito esquecida. Seus olhos, perdidos em um lugar qualquer desde a menção do nome da filha, voltaram ao foco de repente. "Mas Teddy, vamos ficar orgulhosos de você não importa a casa em que cair."

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A notícia Teddy está indo para Hogwarts espalhou-se depressa.

Na manhã de primeiro de setembro, quando Ted Lupin chegou na plataforma 9 ¾ com sua avó e Draco, ficou surpreso ao ver que a comissão que viera despedir-se dele estava praticamente dominando todo o espaço. Harry, com James e Albus; Ron, Rose e Hermione, que trazia Hugo recém nascido nos braços; Luna, e ainda Bill e Fleur, acompanhados pela pequena Victoire.

Draco fez uma careta.

"Hey, Ted!" Começou Harry, sorrindo para o afilhado. "Ginny pede desculpas por não vir, mas sabe como é. O bebê pode nascer a qualquer momento..."

"Ahh, Teddy, vamos senti' saudade!" Resmungou James, abraçando seu herói. "Vô escrever pra você todo dia!"

"Você sabe escrever?" Perguntou uma Rose muito admirada.

"Bom, não, mas eu falo e o papai escreve!" James concluiu com orgulho.

"Se divirta lá em Hogwarts, ok, Teddy?" Ron pôs a mão no topo da cabeça castanha do garoto e bagunçou-a. "E se tiver alguma dúvida crucial para sua sobrevivência nas provas... Hum, escreve pra gente que a Mione ajuda."

Hermione riu do marido. "É muito mais fácil perguntar para os próprios professores, mas você pode escrever se quiser."

"E se precisar de conselhos sobre garotas, Ted, pode escrever pra mim." Bill piscou. "Se bem que acho que você não vai precisar, sendo um lobisomem e tudo."

"Ué, como assim?" Perguntou o garoto, corando um pouco. Bill abaixou-se para ficar na altura dos olhos dele e prosseguiu, em tom de confidente.

"Nunca se perguntou como eu consegui uma mulher linda como sua tia Fleur, apesar dessas cicatrizes? Ou como seu pai se casou como uma garota quinze anos mais nova que ele? É que nós, lupinos..." Ele passou a mão pelo cabelo e sorriu de modo dramático. "... somos irresistíveis!"

Todos riram. O apito do trem soou, então rapidamente começaram a dar seus últimos conselhos, assustando a pequena Victoire, que escondeu-se atrás da mãe de forma extremamente bonitinha.

Andrômeda deixou com o neto uma carta a ser entregue à diretora, sobre a poção mensal a ser pedida para o professor de poções; Luna entregou-lhe um amuleto de proteção contra Headley-Kows; Draco advertiu-o para manter-se longe da Floresta Negra até saber alguns feitiços; Hermione completou o conselho avisando para manter-se longe da Floresta a menos que fosse absolutamente necessário, e bem quando Teddy achou que nunca conseguiria se lembrar de tudo, ele foi repentinamente empurrado para dentro do trem junto com seu malão.

A coruja piou desconfortavelmente, e antes que ele percebesse estavam partindo. Debruçou-se sobre a janela e acenou para todos, na plataforma, enquanto se afastava rapidamente, até que sumiram atrás de uma curva.

"Bom, Morpheus," Ele disse, sorrindo para a coruja. "aqui vamos nós!"

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A/N: Olá!

Qual é o ponto dessa história? Na verdade, nem eu sei, mas foi exatamente assim que eu imaginei a infância do Ted. Se vai ter continuação ou não vai depender estritamente da resposta do público!

Quero dizer, o que eu queria tirar de dentro da cabeça está aí. Eu tenho uma idéia geral dos anos seguintes, mas como sou uma ATTENTION WHORE só vou pô-las no papel se o público assim pedir... #sorriso maligno#

Então, se você quiser continuação, já sabe o que fazer.

Ah, sim. Uma das minhas preocupações enquanto escrevia era deixar tudo estritamente verossímil, então reli várias vezes o sétimo livro. Ted realmente nasceu um Abril, embora não se especifique o dia, e as diferenças de idade entre as crianças estão certas.

Espero que tenham se divertido!

Hell's Angel & Heavens Demon