Olá... como prometido aqui está a nova fanfic, novinha em folha e espero que gostem. "Armadilhas do Outono" – vocês nem imaginam o trabalho que deu escolher esse título – bem, enfim... Não será uma fic longa, espero não exceder o número de dez capítulos.
É a segunda parte da série "As Quatro Estações!". Uma série que se iniciou com a fic "As Cores do Inverno!", mas não é uma continuação e nem está interligada. Então se você não leu a primeira história, poderá ler essa tranqüilamente.
Atenção: A fic é classificação M. Ou seja... conteúdo maduro, por haver citações de violência e insinuações "sensuais". Caso você não goste de ver os personagens Sakura e Syaoran em cenas desse tipo... não aconselho a leitura... e respondendo as perguntas que acabaram de brotar na imaginação de vocês... não... não é hentai!
A história: Há muito tempo atrás, assisti ao filme "Alguém Como Você" e decidi escrever sobre uma situação parecida... na verdade só um aspecto é parecido com o filme... Mesmo assim, foi o ponta pé inicial da inspiração.
Dedicatória: Em especial, dedico essa história a amiga e revisora "Cris-chan", que fez aniversário dia 11. Parabéns, amiga! Eu te adoro! Kissus!
Dedico também, merecidamente, a grande amiga e escritora "Yoruki Hiiragizawa", que me estimulou a continuar com a história quando eu já havia desistido dela. Um grande abraço!
Lembrando: Os personagens originais de CCS, pertencem ao grupo CLAMP e essa é apenas uma história de ficção escrita de fã para fãs!
Armadilhas do Outono.
Por RubbyMoon
Capítulo 1: O Quarto Vazio.
As folhas vermelhas das árvores caíam abundantes pela grama e pela rua. Pra qualquer lugar que olhasse, Sakura via maravilhosos tons de vermelho, marrom e cores da terra. Mais uma vez era outono, e a estação enfeitava o campus universitário por toda parte com suas lindas cores. Todo lugar estava mais belo e colorido. Além do clima estar levemente seco, o ar possuía uma leve fragrância amadeirada. Se não estive tão atrasada, Sakura passaria horas contemplando a beleza da estação.
'Quer fazer o favor de esperar, Sakura! Dá pra você parar um pouco de correr pra eu poder falar com você?' – Tomoyo corria pra alcançar a garota com quem falava.
'Agora não dá mesmo, Tomoyo! Se eu perder essa prova eu estarei em sérios apuros!' – Sakura disse acelerando ainda mais os passos.
'Pare sua boba, lembre-se de que você deixa sempre seu relógio de pulso adiantado em vinte minutos, já que vive atrasada!'
Sakura parou de correr ao reparar que Tomoyo estava certa. Ela deixava o relógio adiantado para se assustar com o horário e estar nos compromissos na hora certa. Como era uma pessoa absurdamente distraída, ela se esquecia sempre desse fato.
'Está bem!' – ela suspirou cansada – 'Então diga o que quer logo! Estou muito nervosa com essa prova e não posso correr o risco de ficar com a corda no pescoço!' – Sakura falou recuperando-se do cansaço da corrida.
'É que estou preocupada com você, Sakura! Você tem certeza de que não quer se mudar lá para casa?'
'Tenho certeza absoluta! Eu só preciso arranjar alguém para poder dividir o aluguel do meu apartamento!' – ela estava sentindo-se desconfortável com o convite. Era orgulhosa demais para aceitar ajuda.
'Mas já tem mais de dois meses que você está aguardando! Tem certeza de que não está passando dificuldades?'
'Claro que sim, Tomoyo. Até parece que eu não sei me cuidar!' – ela respondeu indignada.
Sakura estava mentindo, mas não poderia dizer para Tomoyo que a despensa de seu lar havia se transformado em apartamento de insetos. Tudo que havia no armário eram teias de aranhas. Ela estava feliz, pois no dia seguinte receberia o seu baixo salário de balconista da papelaria universitária, e finalmente poderia fazer algumas compras. Mesmo sendo pouco, já dava pra se manter por mais umas duas semanas e depois não saberia o que fazer.
'Tem certeza? Você não está mentindo para mim, está? Eu conheço esse seu orgulho bobo!' – Tomoyo perguntou, demonstrando que as palavras de Sakura não a convenciam.
'Estou bem, Tomoyo!' – disse revirando os olhos – 'Agradeço a preocupação, mas não há necessidade! Preciso ir agora pra não me atrasar para minha prova. Depois a gente se fala!' – saiu correndo mais uma vez, deixando uma Tomoyo preocupada para trás.
Depois da prova, mais uma vez Sakura colocou um anúncio no quadro de avisos disponibilizando o quarto vazio do seu apartamento. O apartamento era alugado e por isso não podia arcar sozinha com as despesas apenas com o seu emprego de meio período. Olhou mais uma vez para o anúncio impresso:
"Procuro moça para dividir apartamento. Sala, dois quartos, banheiro, cozinha, telefone. Localizado perto do campus universitário. Bastante tranqüilo. Tratar com Sakura Kinomoto, pelo telefone...''
Estava tão distraída conferindo o anúncio que nem percebeu a aproximação de um rapaz bastante interessado no anúncio. Tratava-se de alguém a quem Sakura costumava prestar sempre bastante atenção.
'Droga...' – o rapaz falou, chamando sem querer a atenção de Sakura.
Ela ficou nervosa imediatamente. Lá estava Syaoran Li, maravilhoso como sempre no seu jeans justo, com jeito de garotão. Ela amava os cabelos do rapaz, castanhos, sempre desalinhados e com um lindo brilho. E os olhos? Por duas vezes, ela encontrara aquele olhar e sentira-se como se estivesse desvendando sua alma. Aqueles olhos eram de um castanho distinto, sempre confiante e investigador. Possuía nariz e queixo com contornos sensuais, mas a boca era um poço de desejo.
Syaoran era alto, atlético, com ombros largos, as pernas e o tórax eram típicos dos homens que jogavam futebol. Ela já o conferira de uniforme no campo e jamais esquecera aquele físico atraente. Ele estava ali ao seu alcance e se ela esticasse um braço poderia tocá-lo. Reparou que ele estava com algum problema e achou que era a hora perfeita pra tentar ser agradável, perguntando se ela poderia ajudá-lo.
'Aconteceu alguma coisa?' – ela perguntou timidamente.
'Acontece tudo comigo!' – ele falou desanimado – 'Nunca vi alguém com tanto azar na vida como eu!' – ele dramatizou.
'Será que posso te ajudar de alguma forma?' – ela perguntou, imaginando de onde tinha conseguido tirar tanta coragem para perguntar aquilo.
'Se você fosse essa tal de Sakura Kinomoto eu perguntaria se não estaria disposta a dividir o apartamento com um rapaz. Ela sempre coloca vaga para moças...'
A colocação dele a deixou confusa. O problema de Syaoran era um lugar para morar?
'Mas você não mora com sua família?' – ela tentou descobrir algo.
'Moro com um amigo! Mas minha casa fica muito longe da universidade. Já não tenho mais ânimo pra levantar tão cedo! O pior é que está prejudicando o meu rendimento!'
'Mas você não tem condições de alugar um apartamento sozinho?'
'Tenho, mas quem disse que há algum disponível aqui perto? Bem... deixa pra lá! Obrigado pela gentileza, mas acho que vou ter que continuar madrugando todos os dias! Até logo!' – ele sorriu para a garota e virou as costas, começando a ir embora.
'Espere um momento...' – ela falou impulsivamente.
Ele olhou espantado para trás e reparou que ela estava com uma cara estranha, querendo lhe dizer algo. Sakura se perguntava se estava ficando louca, mas ela poderia oferecer o quarto para ele e sentiu o sangue ferver ao se imaginar dividindo o teto com o homem de seus sonhos. Era só tomar cuidado para que seu irmão não descobrisse. Finalmente poderia parar de se preocupar com as suas despesas... e por Deus... era o Syaoran Li! Havia melhor razão?
'Eu sou Sakura Kinomoto!' – ela falou de forma decidida.
Syaoran olhou para Sakura por um longo momento sem saber o que dizer. Finalmente estava diante de Sakura Kinomoto e ela era linda demais. Cabelos na altura dos ombros, cor castanho claro, com um corte moderno e de bom gosto, repicado na frente, deixando-a com um ar jovial. Possuía maravilhosos olhos verdes, tão brilhantes e tão expressivos que hipnotizavam. Um pequeno nariz arrebitado, que junto com a boca delicada formavam uma das faces mais lindas que ele era capaz de se lembrar. Não era alta, mas o corpo era esguio e a roupa justa valorizava as formas bem delineadas. Era uma garota muito atraente.
Seu coração batia acelerado ao estar de frente com a garota por quem procurava há tempos. Ele sempre imaginou que quando a encontrasse não saberia o que dizer no momento e estava certo. Entretanto, precisava dizer algo logo, ou ela acharia que ele era alguma espécie de idiota.
'Então precisamos conversar!' – ele sorriu para ela, tentando disfarçar seu nervosismo. – 'Aceitaria um suco na lanchonete?'
'Eu não acredito, Sakura! Você está maluca? Só pode ser!' – Tomoyo andava nervosa de um lado para o outro na sala do apartamento de Sakura.
'Maluca por quê, Tomoyo? Eu precisava de alguém pra dividir o apartamento e consegui!' – ela respondeu sem ao menos desviar os olhos de seu computador, enquanto realizava uma pesquisa na internet.
'Mas Sakura... ele é um estranho, pode ser um tarado!' – Tomoyo disse, como se fosse realmente o fato.
'Seria bom...' – ela disse de forma inaudível e sorriu com a idéia.
'O que disse?' – ela se aproximou pra ouvir melhor.
'Nada, Tomoyo! Eu não disse nada! Por favor, não faça tanta tempestade por causa disso. Eu conheço o Li de vista há muito tempo. Ele é um cara legal!'
'Mas sabe como são os homens! Não podem ver uma garota bonita que logo atacam...'
'Muito obrigada por me chamar de bonita!' – Sakura disse sorrindo ao olhar para a prima – 'Mas acho que o Li não é nenhum tarado. Além disso...' – pausou de repente.
'Além disso o quê?' – Tomoyo estava curiosa e aflita.
'Acho que ele é gay!' – ela falou torcendo o nariz convincentemente.
Tomoyo parou de perambular pela sala e arregalou os olhos. Sakura intimamente estava feliz por imaginar que Tomoyo finalmente deixaria de fazer todo aquele drama. Ela havia mentindo novamente, mas pelo menos havia se livrado dos sermões angustiados. Entendia a preocupação de Tomoyo. Ela era sua prima e apesar de conviver há pouco tempo com ela, pois viera ao Japão recentemente viver com a mãe, desfrutavam de uma grande amizade. Sakura nunca havia comentado com Tomoyo sobre a paixão secreta que sentia por Syaoran e nesse momento percebeu que havia sido melhor manter o segredo.
'Gay?' – ela estava surpresa.
'Isso mesmo...' – Sakura reforçou.
'Quer dizer que... ele é meio afeminado?'
'Não! Ele é bem discreto, você nem vai reparar a diferença!' – Sakura segurava-se para não cair na gargalhada.
'Melhor! Eu acho...' – estava meio incerta – 'Agora imagino que posso ir viajar mais tranqüila. Você não vai ter mais problemas com as despesas e nem com algum tarado!'
'Pode ir sossegada, Tomoyo! A propósito... quando você vai partir? Poxa... Eu nem acredito que você mal chegou ao Japão e irá partir novamente...' – Sakura referia-se ao fato da prima ter ficado apenas pouco mais de um ano no país.
'Meu vôo é amanhã! Mas não quero que vá ao aeroporto. Detesto despedidas. Vou ficar um ano fora, mas se precisar de mim eu venho correndo!'
'Eu sei me cuidar, Tomoyo! Mande um beijo para os franceses por mim!'
'Espero realmente beijar muitos franceses, diria mais, quero experimentar o autêntico beijo francês!'
'Uh lá lá! Sua assanhada!' – começou a rir junto com a prima. – 'Vou sentir sua falta nas baladas!'
'Eu também, mas um ano passa rapidinho!' – Tomoyo disse, indo abraçar Sakura com os olhos cheios de lágrimas.
Era sábado de manhã quando Sakura pulou da cama. Ela queria dormir mais, mas não podia, já que Syaoran poderia chegar a qualquer momento com a sua mudança. Foi ao banheiro, tomou um banho rápido e tratou de ficar bem bonita. Na verdade, ela detestava sua aparência. Apesar de ter completado dezenove anos, aparentava ter apenas quinze. Além disso, era magra e desprovida de curvas exuberantes. Desejava ser bela como as modelos brasileiras que via nas revistas. Correu para a cozinha, preparou café e assou um bolo. Finalmente havia despejado os insetos de sua despensa, que agora esta estava repleta de tudo que ela merecia. A geladeira também estava abastecida com coisas gostosas.
Ela olhou para o relógio e notou que faltavam dez minutos para as oito horas. Sentou-se no sofá e começou a ver TV enquanto Syaoran não chegava, porém ela nem prestava atenção na programação. Seus pensamentos estavam todos voltados para o novo colega. Ela o conhecia de vista há muito tempo. Ele era calouro na universidade, assim como ela, e estava cursando medicina, enquanto ela cursava arqueologia. A primeira vez que o viu foi quando estava assistindo a um jogo de futebol promovido entre calouros e veteranos. Syaoran arrasou na partida, marcando o gol da vitória e também marcando pontos em seu coração.
Aquilo foi somente o principio. A partir de então começou a perguntar tudo sobre a vida dele aos conhecidos que tinham em comum, tentando ser discreta e falhando miseravelmente. Não conseguia esconder que estava louca por ele, ainda mais ele sendo tão perfeito. Atleta, primeiro da classe e ainda por cima herói, pois um dia havia salvado um colega de se afogar, quando esse sentiu câimbras ao nadar. Sabia que ele era novo na cidade e que vivia com um amigo. Sem dúvidas ela tinha a melhor impressão possível sobre a pessoa dele.
Agora as coisas eram bem diferentes. Ela havia o conhecido pessoalmente e, além disso, dividiriam o mesmo teto. Era quase como um sonho. No dia anterior conversaram sobre ele se mudar e ele deixou claro que ajudaria com o aluguel, as despesas domésticas, contas e ainda ajudaria com os afazeres em geral. Ela só faltou levitar de emoção.
A campainha tocou e ela quase caiu do sofá com o susto. Foi dar uma conferida em sua aparência no espelho e finalmente abriu a porta.
'Bom dia! Já cheguei!' – Syaoran apareceu sorrindo.
'Bom dia! Seja bem vindo!' – ela respondeu, tentando acalmar o ritmo desenfreado de seu coração. – 'Entre! A casa é sua!' – e eu também, pensou.
Ele entrou no apartamento e achou um ambiente bastante agradável. Era simples, pequeno e acolhedor. Ele suspirou, sorrindo satisfeito. Tudo possuía o toque pessoal de Sakura.
'Onde estão suas coisas?' – ela perguntou ao notar que ele não trazia nada.
'Estão lá embaixo. Meu amigo Wei está encarregado por cuidar delas!' – ele respondeu sorrindo para ela, o que fez a menina corar – 'Onde é o meu quarto?'
'Aquele... venha!' – ela o conduziu até o cômodo. – 'Mas não seria melhor se fôssemos ajudar esse seu amigo?' – ela ainda estava incerta, achando que poderia ajudar.
'Não se preocupe! Ele ficaria muito chateado se nos atrevêssemos!'
Sakura não entendeu nada, pois não conhecia nenhum amigo no mundo que fizesse questão de servir a uma pessoa assim de forma tão dedicada. Ele voltou a sorrir, fazendo com que gotas de suor começassem a se acomodar na testa da garota. Ela achou que o tempo havia esquentado de repente.
Syaoran observou o quarto espaçoso. Havia uma cama de casal com colchão, uma estante vazia, uma escrivaninha e um armário. O chão era acarpetado de cor grafite e as paredes do quarto eram pintadas de bege. A janela estava aberta e percebeu o quanto era arejado o ambiente.
'É um excelente apartamento! O quarto também é muito bom! Estou feliz que tenha concordado em me ceder esse espaço!'
'Imagine!' – ela sorriu sem graça – 'Eu precisava de alguém pra dividir as despesas e você de um lugar mais perto da universidade. Estamos ambos nos beneficiando!'
'Mesmo assim... foi muita gentileza!' – dessa vez ele sorriu estando muito próximo a ela.
Sakura não agüentava mais todos aqueles sorrisos. Ela não tinha mais idade pra bancar a adolescente apaixonada pelo príncipe encantado. Já temia pelos seus atos e precisava disfarçar o que estava sentindo.
'Já tomou café da manhã?' – ela desconversou, afastando-se do rapaz antes que pulasse nos braços dele e ficou surpresa em descobrir como era assanhada. – 'Eu assei um bolo de chocolate e...'
'Bolo de chocolate?' – ele perguntou bastante interessado – 'Eu adoro bolo de chocolate!'
'Mesmo? Que bom!' – ela respondeu, enquanto pensava animadamente que já o conquistava pelo estômago. – 'Então vamos até a cozinha e eu te servirei!'
A campainha tocou e Syaoran disse que deveria ser seu amigo Wei com a bagagem. Então Sakura abriu a porta e encontrou um senhor que aparentemente teria uns cinqüenta anos. Ela ficou na dúvida se era o tal amigo, mas, quando o viu trazendo os pertences de Syaoran em um carrinho, resolveu deixá-lo entrar, achando estranho o amigo do novo colega ser tão mais velho que eles. Voltou para a cozinha e começou a tomar café da manhã com o Syaoran.
'Será que Wei não precisa de nossa ajuda?' – ela perguntou preocupada.
'Duvido muito! Em menos de dez minutos ele vai deixar o quarto impecável. Posso comer mais bolo?'
'Claro! Deseja mais alguma coisa? Ontem à tarde eu fiz compras!' – levantou e foi até a geladeira abrindo a porta – 'O que deseja? Leite, geléia, beijo?'
'Como?' – ele perguntou espantado.
'Queijo!' – ela corrigiu rapidamente – 'Temos queijo branco fresquinho!'
'Só o bolo está ótimo! Mas da próxima vez eu farei as compras. Só peço para que me faça uma lista!'
'Tudo bem!'
'Senhor Li... tudo está arrumado!' – Wei disse ao voltar do quarto.
'Já falei pra não me chamar assim, Wei! Chame-me apenas de Syaoran!' – sussurrou disfarçadamente.
'Mas senhor...' – o homem parecia sofrer só de imaginar tal cena.
'Syaoran! Entendeu?' – ele pediu passando confiança.
O homem parecia bastante nervoso, como se fosse um pecado mortal chamar o rapaz ali presente pelo primeiro nome.
'Sim, Syaoran!' – ele disse de forma inconformada.
'Mas ele já arrumou tudo e sozinho?' – Sakura parecia não acreditar.
'Veja com seus próprios olhos!' – Syaoran a convidou.
Sakura não acreditava quando viu que tudo estava em seu devido lugar. A cama arrumada, o armário organizado, os livros na estante, cortinas na janela, quadros na parede, tudo perfeito.
'Ele é mágico?' – ela perguntou abobada.
'Imagina... ele só é muito competente.'
'Fico feliz em ter sido útil, senhor... digo... Syaoran! Se não precisa mais de minha presença, peço permissão para me retirar!' – Wei falou fazendo uma breve reverência.
'Oras... pra que pedir permissão... amigos não fazem essas coisas!' – Syaoran respondeu um pouco desconcertado. – 'Eu que agradeço o favor! Você foi muito gentil! Até breve!'
'Com licença, senhorita! Foi um prazer conhecê-la!' – Wei despediu-se de Sakura e finalmente partiu.
'Esse seu amigo é muito... prestativo!' – ela disse ainda estranhando a situação.
'Sim! Mas agora eu preciso sair! Tenho mil coisas a fazer!' – ele disse olhando para o relógio de pulso.
'Vai sair? Mas acabou de chegar!' – ela disfarçava a sua decepção – 'Que bobagem a minha... não é da minha conta! Até logo!' – ela disfarçou o desapontamento.
Uma semana se passou desde que Syaoran mudou-se para o apartamento de Sakura. Eles mal tinham tempo pra se falarem diante das atividades da faculdade. Sakura achou melhor não comentar com ninguém que Syaoran era seu novo inquilino, pois se a notícia vazasse poderia chegar ao ouvido de certo irmão ciumento. Não podia negar que estava frustrada, pois Syaoran estava sob o mesmo teto que ela, porém ainda parecia bem distante.
Ao mesmo tempo em que ela resolvia o problema com as despesas, ela notou os pontos negativos daquela parceria. Ela estava cada vez mais dispersa e desconcentrada nos estudos. Só conseguia estudar na biblioteca, pois em casa sabia que Syaoran estava fechado em seu quarto e ela pegava-se imaginando o que ele estaria fazendo ou o que estaria vestindo. Na hora de dormir, com todo o silêncio presente e deitada em sua cama ela conseguia ouvir o barulho das páginas de um livro sendo viradas. Ele parecia estudar por horas até enfim ir se deitar, então ela podia ouvir ele se mexendo em sua cama, o ruído de sua respiração, um ou outro sussurro.
De manhã, a situação era bem pior. Ele costumava acordar mais cedo do que ela e por isso usava o banheiro primeiro. Quando ela entrava, sentia o vapor quente e o perfume do banho que ele tomara. Observava os seus pertences no armário. Barbeador, escova de dente, pasta de dente mentolada, fio dental. Sobre o pequeno gabinete da pia estavam o desodorante e uma suave colônia pós-barba. Vez ou outra ela se pegava sentindo a fragrância e fantasiava que estava sentindo diretamente na pele dele, com seu nariz coladinho em seu pescoço. Quando ela finalmente saía do banho, pronta pra mais um dia, Syaoran já havia saído de casa. Ele era muito rápido, enquanto ela sempre se atrapalhava e acabava se atrasando para tudo. Assim como ela, Syaoran não tinha o costume de tomar café da manhã e por isso eles nunca tinham uma oportunidade para conversarem durante a refeição tão normal em qualquer lar.
Sakura já perdia as esperanças de poder conhecê-lo melhor. Durante o período de aulas eles nunca se cruzavam pelos corredores da universidade. Estudavam em prédios diferentes e ela não podia assistir aos jogos de futebol de que ele participava, pois estava trabalhando na papelaria. À noite, quando ela retornava para casa, ele já estava trancado em seu quarto estudando e ela não se atrevia a bater à porta para desejar boa noite, com receio de atrapalhá-lo.
Mas com a chegada do final de semana ela achava que enfim poderia ter a oportunidade de interagir com ele. Era ainda muito cedo, mas ela acordara para realizar uma pesquisa para a universidade e desenvolver parte do seu projeto. Sem fome, ela apenas pegou uma xícara generosa de chá, sentou-se em frente ao computador e começou a trabalhar. Abriu o arquivo desejado e começou a revisar, mas logo os pensamentos sobre o que Syaoran estaria fazendo a dominaram. Ele ainda estava no quarto, provavelmente aproveitando para dormir até mais tarde. A casa estava em total silêncio.
'Tenho que me concentrar! Estou ficando cada vez mais certa de que estou maluca!' – ela balançou a cabeça para dispersar os pensamentos e distrações.
Tomou um pouco do chá e voltou a ficar atenta ao trabalho. Depois de revisar alguns erros, começou a complementar a pesquisa com dados novos. Logo estava totalmente concentrada somente no trabalho que ela tanto amava. A admiração pela arqueologia era algo que ela havia herdado geneticamente, costumava brincar dessa forma. Tanto seus pais e seu irmão também trabalhavam nesse ramo. Agora ela estava desenvolvendo uma pesquisa sobre fósseis encontrados recentemente em um país estrangeiro. Tudo que ela queria era fazer o trabalho perfeito e assim provar que era digna de uma gorda bolsa de estudos e poder se dedicar somente à pesquisa. Mas para isso ela teria que convencer o seu exigente professor de sua capacidade.
'Isso parece interessante!' – Syaoran falou, perto de seu ouvido, quase a matando de susto.
'Isso foi perigoso!' – ela falou se recompondo do susto. – 'Se eu fosse cardíaca poderia ter tido uma parada nesse momento!'
'Eu a socorreria! Já tenho experiência nesses casos!' – ele sorriu e ela se lembrou que ele cursava medicina. – 'Peço desculpas! Eu não queria assustá-la!'
Sakura agora sentia um arrepio percorrer por toda sua espinha. Ser surpreendida por Syaoran era algo inesperado, porém mais inesperado ainda era tê-lo tão perto e sorrindo daquele modo, que para ela era perigoso. Ela ainda achava que a qualquer momento seria traída pelos seus impulsos e se jogaria nos braços dele. Passado o susto, ela sorriu para ele e desejou bom dia, sorrindo espontaneamente. Syaoran sentiu-se desconfortável e então voltou novamente a atenção para a pesquisa do computador.
'Isso realmente parece muito interessante!' – ele demonstrou grande interesse.
'É o meu projeto! Esse trabalho é muito importante para mim!' – ela também voltou a prestar atenção no trabalho.
'Você estuda arqueologia, não é mesmo?' – ele perguntou e ela afirmou com um movimento de cabeça – 'Por que é tão importante?'
'Ele pode garantir uma boa bolsa de estudos para mim! Se eu provar ao meu professor que estou capacitada, resolverei meus problemas financeiros!'
'Sua família não a ajuda com as despesas?'
'Eu não poderia aceitar! Preciso provar a todos que sou capaz! Eles todos não acreditaram em mim, mas vou provar que estavam errados! Eu vou ganhar a bolsa de estudos!' – ela parecia um pouco ressentida com aquilo que falava.
'Como faz então para se manter?' – ele queria entender.
'Trabalho numa papelaria do campus! Sou atendente!' – ela disse sem embaraço algum. Trabalhar era uma honra.
'O que é isso na fotografia?' – ele apontou para uns objetos expostos no trabalho.
'Essa é a foto de um dos fósseis da expedição do meu professor! Provavelmente são ossos com mais de dois mil anos, de algum soldado de um exército muito antigo! Essa descoberta trouxe muito crédito à universidade e fama ao meu professor!'
'E onde foi essa expedição?' – Syaoran estava muito interessado no assunto. Na verdade estava fascinado com aquilo.
'Foi uma expedição na China! Esses fósseis foram encontrados na ilha de Hong Kong!'
'Hong Kong?' – ele perguntou sem esconder a grande surpresa. Sakura estranhou a reação dele.
'Sim! Por acaso você conhece Hong Kong?'
Syaoran disfarçou um pouco sua reação. Ele imaginou que o mundo havia ficado pequeno demais de repente. Por mais que ele fugisse de suas origens, elas sempre o perseguiam. Mas no momento não queria falar sobre a sua vida. A pesquisa de Sakura parecia muito interessante e ele queria saber mais a respeito. Ele com grande sucesso voltou a falar sobre o projeto, fazendo Sakura desviar a atenção.
'E o que você faz exatamente nessa pesquisa? Você participou dessa expedição?'
'Seria um sonho, mas somente os alunos que fazem parte da equipe são financiados pela universidade. É por isso que estou fazendo esse trabalho. Na verdade estou dando assistência ao meu professor! Se ele aprovar os meus arquivos a bolsa restante será minha!'
'Você parece amar a arqueologia!'
'E realmente amo!' – ela respondeu com um sorriso espontâneo que fez Syaoran sentir-se desconfortável novamente. – 'E você? Também ama a medicina?' – ela finalmente poderia descobrir um pouco sobre ele.
Syaoran puxou uma cadeira e sentou-se próximo a ela. Próximo demais, Sakura percebeu e respirou fundo para disfarçar o tremor que passou pelo seu corpo quando a perna dele tocou a dela por um momento.
'Não sei se amo com o mesmo entusiasmo que você ama a arqueologia, mas estou gostando do desafio!'
'Mas por que você se interessou por medicina?'
'Parecia interessante! Eu precisava fazer algo e tive que escolher! A escolha estava entre medicina e biologia marítima! Então me decidi por medicina por causa dessa universidade!'
'Então você não sofreu influência na sua decisão? Escolheu por escolher?'
'Podemos dizer que realmente foi isso! E você, sofreu influência?'
'Minha família toda é formada por arqueólogos!'
'Então eles poderiam te dar uma boa assistência!'
'Eu não quero! Não quero que os professores me rotulem como a "filha" de doutores renomados e não vejam a minha própria capacidade!' – ela demonstrava um pouco de rancor na voz.
'Entendo como se sente! Isso é admirável de sua parte!'
Sakura disfarçou a timidez diante do elogio. Syaoran era muito gentil e tinha um jeito muito carinhoso de falar com ela. Ela sabia da fama que ele possuía na universidade. Não se falava de outra coisa a não ser no aluno revelação que ele se mostrara. Elogiado pelos professores, querido entre os colegas. Ele parecia ser perfeito.
Syaoran começava a admirar Sakura. Já havia notado que ela era bastante esforçada, mas agora descobrira que ela era uma lutadora e por isso ganhara definitivamente sua simpatia. Ela usava uma blusa de tiras por causa do calor, fazendo-o perceber grande parte da sua beleza, e um short curto, exibindo suas pernas longas e aparentemente sedosas. Ele já havia a evitado a semana inteira, pois desde o primeiro dia que mudara para o apartamento descobrira que se sentia atraído por ela, mas agora estava brincando com fogo permitindo-se ficar tão próximo. Isso não poderia acontecer já que dividiam o mesmo teto e se algo acontecesse estaria fadado a terminar mal.
'Você disse que escolheu o curso por causa dessa faculdade! O que te levou a essa escolha?' – Sakura perguntou, na esperança de manter a conversa com ele.
'Um dia eu te conto!' – ele disse de forma misteriosa.
'Por que não agora?' – ela ficou confusa.
'Eu vou ao mercado! Você precisa de alguma coisa?' – ele levantou subitamente indo em direção à saída.
'Não! Obrigada por perguntar!' – ela ficou decepcionada por ele sair, mas aliviada por poder trabalhar.
Ela trabalhou a manhã inteira e estava satisfeita com o bom resultado. Olhou para o relógio de pulso e percebeu que o tempo passara mais rápido do que imaginou e já era um pouco mais de uma hora da tarde. Syaoran ainda não havia retornado e ela achava que talvez nem voltasse tão cedo. Ele era jovem, bonito e popular, então o que faria trancado numa tarde de sábado em casa? Agora com ela já era bem diferente. Não tinha muitos amigos e os que namoravam tinham uma vida bastante agitada e com certeza menos monótona e solitária que a dela.
Desligou o computador e decidiu fazer um breve alongamento pra aliviar o corpo da longa manhã sentada em frente a sua pesquisa. Resolveu tomar um banho relaxante e depois sairia para um passeio.
'Você parece tão distante, Syaoran! Parece estar pensando em alguma garota!' – um rapaz passava as mãos em frente aos olhos de Syaoran tentando tirá-lo do mundo dos sonhos.
'Falou comigo, Eriol?' – Syaoran recuperava-se do transe em que estava preso.
'Estava por acaso no mundo da Lua?'
'Eu só estou cansado!' – ele tentou disfarçar as suas razões.
'Isso é novidade pra mim! Desde que te conheci nunca ouvi você falar que estava cansado! Pra mim você estava pensando em uma mulher!'
'Nem todos os homens só pensam em mulheres vinte e quatro horas por dia como você, Eriol! Você é o maior Don Juan dessa universidade! Não sei como encontra tempo pra suas conquistas e estudar pras provas!'
'Eu sou uma pessoa muito organizada! Quando é pra me dedicar aos estudos e ao amor, desdobro-me em dez!' – ele falou com pinta de maioral. – 'Agora tenho que ir! Tenho um encontro com aquela gata do segundo ano! Até segunda-feira e vê se arruma uma mulher pra te animar!'
'Vai nessa, seu conquistador barato! Você ainda vai se dar mal com tantas namoradas! Só quero ver o dia em que você se apaixonar por uma garota! Aposto que vai rastejar por ela!'
'Ainda não nasceu a mulher que fará eu me ajoelhar aos seus pés! Fui!'
Syaoran viu-se completamente sozinho no agitado barzinho da universidade. Logo à frente, no balcão, havia três garotas que olhavam e sorriam para ele. Uma garota muito atraente que estava no grupo falou algo pra garota ao lado e, depois de trocarem algumas palavras, a moça veio em sua direção.
'Posso me sentar com você?' – a garota perguntou a Syaoran.
'Na verdade eu estava indo embora!' – Syaoran recriminava-se mentalmente. Como ele poderia se negar em conhecer uma gata daquelas?
'Que pena! Quem sabe numa próxima?' – a garota fingiu não ter ficado chateada e voltou para as amigas, que a receberam cheias de solidariedade.
Completamente sem jeito, Syaoran pagou a sua bebida e começou a caminhada para casa. No caminho, perguntava-se os motivos pra não ter dado uma chance para a bela garota de se aproximar. Nem ao menos permitiu apresentar-se. Os motivos ele sabia bem quais eram, só não queria aceitá-los. Ele não havia vindo ao Japão para paquerar qualquer mulher bonita que cruzasse o seu caminho.
Ele tinha um pensamento fixo no momento. Formar-se na faculdade de medicina e sobreviver morando sob o mesmo teto que Sakura. Viver com ela havia demonstrado-se muito perigoso para todas as suas resoluções traçadas antes mesmo de pisar em solo japonês. Quando resolveu procurar por Sakura e dividir o apartamento com ela, prometera a si mesmo que jamais se apaixonaria por ela. Era sua palavra que estava em jogo.
Seus olhos e seus olhares
Milhares de tentações
Meninas são tão mulheres
Seus truques e confusões...
Foi quando percebeu a pessoa que andava do outro lado da rua. Sakura vinha distraída, caminhando lentamente, e não notou sua presença. Syaoran a seguiu com os olhos até ela ganhar distância. Uma folha seca caíra da árvore sobre a sua cabeça e ele a pegou em sua mão. Analisou e percebeu sua beleza. Ele nunca havia reparado aquela folha avermelhada tão comum no outono.
De repente, sentiu-se iluminado e percebeu que estava quebrando a sua promessa. As respostas surgiram em sua mente e em seu coração. Vergonhosamente ele sabia que não poderia fazer mais nada a respeito. Estava apaixonado. Talvez sempre estivesse, mesmo antes de conhecê-la pessoalmente. Estar apaixonado era uma experiência nova, ainda desconhecida, pois até então não havia assumido tal sentimento, mas a verdade era essa. Estivera esperando por ela.
Havia cerca de uma semana que ele só pensava nela. Passava horas imaginando o que ela poderia estar fazendo trancada em seu quarto, ou tentando adivinhar sua música favorita, ou ainda tentando descobrir como ela fazia pra levantar apenas uma das sobrancelhas quando estava com dúvida em alguma coisa. À noite era ainda pior, pois no silêncio absoluto ele podia sentir a presença dela no quarto ao lado, deslizando sobre os lençóis e talvez tendo lindos sonhos. Queria ser capaz de invadir seus sonhos e descobrir seus segredos. Perguntava-se quem seria o rapaz de sorte que habitava seus pensamentos e seu coração.
Seus dentes e seus sorrisos
Mastigam meu corpo e juízo
Devoram os meus sentidos
E eu já não me importo comigo
Voltou para o apartamento, que estava solitário sem a presença confortante de Sakura. Começou a observar detalhes que até então nunca havia notado. Na estante da sala, logo acima da grande televisão, ficavam alguns CDs. Syaoran pegou uma capa e reconheceu.
'Sakamoto Maaya! É bem o estilo dela mesmo!' - sorriu e o recolocou no lugar, pegando outro – 'Orange Range? Confesso que jamais imaginaria que a Sakura curtia esse estilo de som! Uma agradável surpresa!' – recolocou no lugar o CD.
Explorando melhor a sala, Syaoran encontrou alguns porta-retratos numa mesinha que ficava num canto meio escondido da sala. O primeiro tinha uma foto de Sakura ainda adolescente junto a um casal que ele conhecia muito bem. Os pais dela.
Ainda havia outro, onde Sakura estava com uma jovem que aparentava ter a mesma idade que ela. A garota era muito bonita e notava-se que era muito sofisticada, provavelmente deveria ser uma amiga ou ainda alguém da família, só não arriscou o palpite de que seria sua irmã, pois não havia semelhança alguma entre elas. A outra garota era muito pálida, tinha longos cabelos acinzentados e olhar violeta bem expressivo.
Num terceiro porta-retrato, Sakura estava com um rapaz. Syaoran torceu o nariz sem perceber e pegou a fotografia pra observá-lo melhor. Era um rapaz mais velho que Sakura e ele, de cabelos castanhos escuros e olhos de mesma cor. Ele abraçava Sakura com intimidade e Syaoran desejava do fundo do coração que fosse apenas um irmão dela. Entretanto, a forma que o rapaz abraçava Sakura era muito carinhosa. Syaoran fora pego desprevenido por uma onda de ciúmes e raiva que ele nem se deu conta.
Todavia, tal sensação foi embora antes mesmo de perceber o que se passava, quando ele olhou o quarto e último porta-retrato. Uma foto recente de Sakura, sozinha e no parque do campus universitário. Ela estava sentada sob uma cerejeira, no auge de seu florescer. Sakura sorria serenamente e em seus cabelos havia várias pétalas das mais belas flores. Decidiu pegar aquela foto para si secretamente, assim poderia sempre contemplar a imagem de Sakura quando desejasse.
Continuou a investigar a casa, tentando conhecer um pouco mais sobre Sakura. Ele nunca se atreveria a entrar no quarto dela, então foi até o banheiro. Chegando lá sentiu um gostoso e suave perfume, indicando que há pouco tempo Sakura havia se banhado. Uma cena chamou sua atenção. No suporte da cortina do banho estava pendurado um conjunto de roupa íntima de Sakura, branco e de renda. Ele achou atraente e imaginou como ficariam quando ela o usava. Se continuasse a ter tais pensamentos, ele teria que tomar uma ducha fria para acalmar seu instinto masculino.
Guardou a fotografia de Sakura em seu quarto e resolveu assistir à TV e talvez tirar um cochilo no sofá da sala. Logo adormeceu. Algum tempo depois despertou preguiçosamente, reconfortado e aquecido. Foi quando notou um cobertor sobre si. Ele não se lembrava de ter trazido um para a sala e, analisando melhor, não era o seu. Deveria ter sido Sakura. Silenciosamente, ele virou a cabeça e a encontrou novamente trabalhando em sua pesquisa. Seu coração disparou só com a simples visão de Sakura ali presente. Agora que sabia que nutria sentimentos por ela, como deveria agir? Deveria se confessar? Contar toda a verdade? Investigar as suas chances? O telefone tocou e Sakura o atendeu rapidamente.
'Alô! Aqui é a Sakura! Ah... oi Touya! Estou com tantas saudades! Como você tem passado? Ah... eu estou falando baixo? Impressão sua, deve ser a ligação ruim! Estou trabalhando na minha pesquisa! Claro que não... você jamais me atrapalha! Então depois a gente conversa melhor! Até logo! Eu também te amo! Bye!'
Ela deixou o aparelho de lado e voltou a trabalhar em sua pesquisa. Syaoran estava confuso. Touya seria namorado de Sakura? Ela disse que o amava e que sentia saudades. Seja qual fosse a verdade, ele lutaria por ela. Nunca estivera tão certo de algo em sua vida antes, como de que queria estar no coração de Sakura. Ela parou por um momento o trabalho e esticou os braços para alongar-se, então se virou para ele e o encontrou acordado.
'Espero que eu não tenha te acordado! Eu tentei fazer o máximo de silêncio!' – ela sorriu de um modo que Syaoran sentiu a face esquentar.
'Não... acho que já dormi o suficiente. Obrigado por ter me coberto! Você foi muito gentil!' – ele sorriu de volta pra ela.
'Não foi nada! Como foi sua tarde? O mercado estava cheio? Sábado é um péssimo dia para as compras!'
'Mercado?' – ele não estava entendendo sobre o que ela estava falando até lembrar que saiu de casa com essa desculpa – 'Ah... não estava cheio não, mas também não tinha nada que eu queria!'
'Está com fome? Eu já comi enquanto estive fora!' – ela perguntou.
'Eu não estou com fome!'
'Eu comprei uns pudins enquanto voltava pra casa! Se quiser um fique à vontade! Acho que como futuro médico você não deve ser fã de açúcar, mas eu sou viciada!'
'Pudim?' – os olhos de Syaoran brilhavam – 'Espero que seja de chocolate!'
'É sim de chocolate!' – Sakura riu ao reparar que ele parecia um garotinho quando se tratava de doces. – 'Vou pegar um pra você e outro pra mim!'
'Que delícia!' – Syaoran disse após comer dois potes de pudim. Sakura também já havia comido dois. – 'Sobrou algum?'
'Ainda tem um! Era uma promoção do tipo compre quatro e ganhe um!'
'Mas se só tem um... não é justo que eu o coma, afinal foi você quem os comprou!'
'Não me importo, pode comê-lo!'
'Está tentado manter a forma? Mulheres sempre têm mania de regime e sempre querem evitar os doces!'
'Você está me chamando de gorda?' – Sakura sentiu o sangue ferver. Ninguém seria atrevido o bastante para chamá-la de gorda.
'Eu não quis dizer isso!' – Syaoran tentou expressar-se melhor.
'Mas você insinuou!' – agora ela estava claramente aborrecida.
'Deixa de bobagem! Você é magra! Tem um corpinho perfeito!' – ele estava irritado com o fato de ela ter se aborrecido com uma má interpretação do que ele havia dito.
'Você me acha uma gorda! Ninguém me chama de gorda e sobrevive pra contar que o fez!' – o olhar dela era desafiante.
'Deixa de bobagem! Vai me dar ou não o pudim?'
'Não!' – ela cruzou os braços de forma aborrecida.
'Mas você disse que não o queria!'
'Mas agora eu quero!' – a expressão dela era vitoriosa, com um sorriso vingativo.
Syaoran a encarou e depois olhou para geladeira. Ele sabia que podia chegar antes até o pudim e o comeria na frente dela, depois diria que ri melhor quem ri por último. Sakura pareceu perceber sua intenção, pois ficou alerta e na defensiva, pronta pra proteger seu pudim. Eles continuavam a se encarar em desafio, até que Syaoran deu o primeiro passo em direção à geladeira. Ele estava quase lá quando Sakura o segurou pelas pernas, fazendo-o desequilibrar-se e cair sentado corretamente sobre uma cadeira, enquanto ela passava à dianteira. Ele recuperou-se rapidamente e a alcançou; os dois acabaram chegando juntos até a geladeira e pegaram o pote ao mesmo tempo. A disputa continuou apertada, pois ambos alegavam ser o legítimo dono do pudim.
'Pare com isso!' – Sakura gritou de repente – 'Parecemos até crianças brigando por um brinquedo novo!'
'Então o que faremos? Quer dividir o pudim?'
'Não... ele é meu! Eu o comprei!'
'Agora você agiu novamente como criança! O brinquedo é meu e ninguém mais vai brincar!' – ele imitava uma voz fina de criança.
'O que você propõe?' – Sakura perguntou.
'Um jogo de cartas! O vencedor leva o pudim!' – ele falou confiante.
'Aceito seu desafio! Mas devo avisar que sou uma excelente jogadora!' – ela tinha o olhar brilhante de excitação.
A partida começou e Syaoran não conseguia perceber pela expressão de Sakura o tipo de jogada que ela teria em mãos. Ela era sempre atrapalhada, deixando acidentalmente cair na mesa cartas de pouco valor. Vez ou outra ela fazia perguntas sobre as regras do jogo e Syaoran se perguntava se ela sabia o que estava fazendo.
'Descarto três!' – Syaoran jogava as cartas e comprava novas.
'Eu acho que só vou descartar uma! Pode, não é?' – ela jogou a carta e comprou uma nova.
'Pode sim!' – ele sorriu vendo uma seqüência surgir em sua mão. Sakura já podia começar a se despedir do seu pudim. – 'Eu aumento a aposta... se eu ganhar, além de comer o pudim, quero aquele CD do Orange Range pra mim!
'Meu CD do Orange? Mas eu não vivo sem ele!' – ela falou choramingando.
'Vai amarelar?' – ele a provocou.
'E se eu ganhar?' – ela estava irritada com a provocação e Syaoran deliciava-se com essa visão.
'Escolha algo que queira!' – ele falou fazendo pouco caso.
Sakura sentiu um arrepio na espinha. Ela queria que ele a agarrasse ali mesmo e a beijasse como se o mundo fosse acabar. Ficou triste por não ter coragem de pedir isso a ele.
'Então se eu ganhar você vai ter que trazer todos os dias uns dois pudins pra mim e ainda dizer que sou magra!'
'Fechado, mas você não vai ganhar, pois eu tenho na mão essa seqüência!' – ele colocou as cartas na mesa comemorando.
'Pena que sua seqüência não supera a minha de copas! Ganhei!' – Sakura colocou as cartas na mesa deixando Syaoran chocado.
'Como você conseguiu essas copas? Você trapaceou!'
Syaoran fazia cálculos matemáticos, analisando que era impossível ela ter adquirido aquelas cartas a não ser que tivesse roubado. Sakura ria sem parar e foi saborear o pudim.
'Você trapaceou! O pudim é meu!' – ele ainda tentou argumentar.
'Não chore! Estou tão feliz que vou dividi-lo com você! Mas antes de começar o jogo eu avisei que era boa!'
Ela deu uma colher para ele e ambos compartilhavam o mesmo pote. Em determinado momento, as mãos se encontraram e uma corrente elétrica passou por ambos os corpos. Faltando apenas uma pequena porção do pudim, Syaoran a pegou com sua própria colher e levou até a boca de Sakura. Ambos estavam tão próximos, os olhos fixos na boca do outro. Syaoran queria saborear a doçura presente nos lábios de Sakura. Lábios entreabertos, úmidos de forma que até brilhavam.
Sakura lutava contra seu desejo de jogar-se nos braços de Syaoran. O que o cara mais popular da universidade veria nela, que era uma desconhecida sem atrativos? Ele poderia ter qualquer garota que quisesse. Ele estava tão perto, com seus olhos tão ternos e atenciosos. Ela podia sentir a respiração dele tocar-lhe a face. Sem entender como e nem por que, percebeu que não era apenas a respiração dele que ela sentia. A mão dele tocava-lhe levemente, deslizando de sua face até a parte de trás de seu pescoço. Fechou os olhos por extinto e sentiu a outra mão dele deslizar por sua cintura. Aquilo só podia ser um sonho. Daqui a pouco ela acordaria e estaria atrasada para a aula e esquecido de estudar para alguma prova. Se fosse um sonho não haveria mal nenhum ela também tocá-lo, acariciar seu cabelo, deslizar o dedo sobre aqueles lábios que eram seu maior desejo. Entretanto, ao tocar o rapaz, percebeu que não era apenas um sonho, pois ela podia sentir muito bem o calor de sua pele e a textura em seu tato.
Então são mãos e braços
Beijos e abraços
Pele, barriga e seus laços...
Syaoran não podia acreditar que havia enxergado na expressão de Sakura o mesmo desejo que ele sentia por ela. Tão intenso e tão real que fazia seu sangue ferver. Era um sonho, para não dizer que era o destino. A atração entre eles era uma coisa inevitável.
Com a mão que estava atrás do pescoço da garota, Syaoran a aproximou até que seus lábios se tocassem num beijo guloso, faminto, cheio de desejos. Ela retribuiu com a mesma emoção e o abraçou de forma que seus corpos ficassem colados. Ela sentia-se leve, achava que até poderia flutuar se não fossem os fortes braços de Syaoran a envolverem com tamanho carinho e calor. Não era sonho. Era real e ela queria usufruir cada segundo daquele maravilhoso momento.
Ele desceu seus lábios até o delicado pescoço da moça. Trilhou-o com beijos molhados e arrancou um gemido de seus lábios. Aquele gemido fez cada pêlo de seu corpo se arrepiar, e sua virilidade despertar. Sakura sentiu a excitação do rapaz contra ela e sentiu-se totalmente entregue a ele, jogando a cabeça para trás. Cada beijo, cada toque a deixava mais mole e ardendo de desejo. Ela deslizou as mãos pelas costas do rapaz, sentindo cada músculo bem definido. Deslizou as unhas de cima a baixo e arrancou dele um sussurro que a deixou plena de que ele a queria tanto quanto ela o queria. Estava perdida e não havia volta.
O telefone tocou fazendo os dois saltarem com o susto. Syaoran queria arrebentar o aparelho por ter tocado naquele momento. Sakura parecia preocupada e disposta a atender urgentemente.
'Não atenda!' – ele a beijou nos lábios ardentemente.
'Eu preciso! Se for quem eu estou pensando, se eu não atender não vai demorar nem dez minutos e ele estará aqui pra saber o que está acontecendo!'
'Deixe a campainha tocar também! Por mim o mundo pode até explodir!' – ele disse sugando-lhe a orelha, deixando-a desnorteada.
'Ele botaria a porta abaixo se eu não atender! Ele não pode saber que você mora aqui!' – ela se desgrudou dos braços de Syaoran e atendeu ao telefonema.
'Alô! Aqui é a Sakura! Ah... oi Touya... não... eu? Ah... eu estava dormindo! Eu não estou ofegante... é impressão sua! Sério! Não, querido... não se preocupe. Não... eu não assisti ao noticiário, mas pode deixar que eu vou tomar cuidado! Boa noite! Eu também te amo!'
Quando Sakura desligou o telefone, Syaoran já estava na porta do quarto dele, ele olhava sério para ela, parecia magoado e até irritado.
'O que aconteceu?' – Sakura perguntou.
'Isso foi um erro! Boa noite!' – e ele entrou no quarto trancando a porta.
'Mas o que eu fiz de errado?' – ela perguntou a si mesma, enquanto jogava-se no sofá totalmente frustrada.
São armadilhas
E eu não sei o que faço
Aqui de palhaço
Seguindo seus passos...
Continua...
Esse é o meu novo trabalho e espero que vocês tenham gostado. Só ficarei sabendo se vocês comentarem. Confesso que eu comecei a escrever essa fic há muito tempo, mas nunca me senti motivada a tocar o projeto, então espero que vocês possam me motivar com honestidade. Vou conferir as estatísticas de acesso desse capítulo pelo site do fanfiction e caso eu perceba que o número de comentários é 3 vezes inferior ao de acessos, vou considerar que não agradou ao leitor e desistir do projeto.
Parece rebeldia? Pois não é! Explico... escrever uma história não é tão fácil e simples como muitos imaginam, preciso de muito tempo e dedicação. Tempo é uma coisa que eu infelizmente "não tenho". Boa vontade eu tenho de sobra, mas não pretendo me dedicar a escrever fics que não esteja agradando ninguém. Essa fanfic não é apenas um mero romance. É meu teste pra ver se devo ou não prosseguir com fanfictions.
Antigamente quando eu era uma garota com todo tempo do mundo, eu estava muito feliz, caso eu colocasse um capítulo no ar e se pelo menos uma pessoa gostasse. Mas agora as coisas são bem diferentes. Eu não tenho tempo pra me dedicar a escrever e por mais que eu ame escrever fanfictions de Sakura Card Captors acaba sendo um sacrifício. Para agradar aos leitores eu me tornei cada vez mais exigente com o meu modo de escrever e sacrifico horas de sono, descanso e lazer pra escrever. Então só continuarei a escrever se realmente eu perceber que quem leu gostou e teve a consideração de deixar uma palavra de apoio pra compensar cada minuto que dediquei a escrever o capítulo.
Desculpa o desabafo, mas é pra vocês entenderem caso a fic seja cancelada, ok? Afinal não é primeira vez que penso em aposentar a escrita de fanfics, mas agora a idéia parece cada vez mais sedutora.
Trilha Sonora: Garotos – Leoni. Música escolhida e inserida pela Cris-chan. Foram apenas alguns trechos, mas encaixaram perfeitamente. Adorei Cris.
Agradecimentos: A querida amiga e eterna revisora, Cris-chan! É incrível o olhar dessa garota... ela não deixa escapar nada... enquanto eu só cometo erros e mais erros. Essa fanfic é seu presente adiantado de aniversário! Espero que goste!
Agradeço também as amigas Ana Maria e Bruna-chan, que me incentivaram e me deram forças pra deslanchar essa história quando eu estava sem vontade nenhuma. Amodoro todas vocês! Também agradeço antecipadamente a todos aqueles que curtiram o capítulo e que agora deixarão suas opiniões.
Curiosidades:
Sakamoto Maaya – Pra quem não conhece, essa é uma famosa cantora e dubladora japonesa, intérprete do terceiro encerramento de Sakura Card Captors, Platina. Além de ser a voz de Tomoyo em Tsubasa Chronicles e também ser a intérprete dos dois encerramentos de Tsubasa.
Orange Range – Conjunto musical japonês que ficou conhecido por alguns encerramentos e aberturas dos animes Bleach e Naruto... eu os adoro por causa do estilo musical puxado pra hip hop.
Novidades: Ainda hoje colocarei o novo template do Blog e ainda nessa semana começarei a atualizar. Já era tempo, hein? Acessem... endereço no profile. Também participem da comunidade no Orkut... endereço no profile!
Não esqueçam de conferir as minhas outras fics, caso você tenha conhecido meu trabalho agora! E, naturalmente... comentem!
Kissus
Ruby