Disclaimer: James, Lily, McGonagall etc pertencem a JK Rowling and all that jazz.


"By all means let's be open-minded,

but not so open-minded that our brains drop out."

– RICHARD DAWKINS

Quando o fim finalmente chega, vem com o golpe de um machado ao meio-dia – como o conto de Cinderella às avessas – ou com uma caminhada até o cadafalso. O campo de batalha pode lhe providenciar uma cova conveniente. Ou você pode perder sua coroa ao lutar para trazer ao mundo o herdeiro do reino. Biologia se torna destino.

- Credo, mulher, esse é o livro mais depressivo da história da humanidade.

- Que bom que sou eu, e não você, que o está lendo, então. – respondo, sem nem sequer desviar o olhar do livro.

- Sobre o que é esse livro? – Domenic pergunta, alguns segundos de silencio mais tarde.

- Sangue, vísceras, gente sendo assassinada. – respondo, ainda que não tenha cem por cento de certeza, já que recém estou na página seis.

- Nossa, que agradável. Por que você está lendo isso? – Dom volta a perguntar, e eu largo o livro em cima da classe, usando um lápis como marcador de página.

- Não estou muito a fim de prestar atenção nessa aula. – respondo, pois me parece uma desculpa razoável. Estamos no segundo tempo de História da Magia com o Binns, e essa é a matéria mais chata do currículo escolar. A verdade, no entanto, é que peguei esse livro na biblioteca na esperança de identificar algum padrão de comportamento que pudesse aplicar àquelas pessoas cujos nomes não mencionarei, mas não posso falar isso para Dom, nem mesmo omitindo os nomes.

Estou muito, mas muito confusa com tudo o que aconteceu ultimamente. A impressão que eu tenho é que minha vida de repente virou um romance pré-adolescente barato, o que é péssimo. Sério. Você já leu um romance pré-adolescente barato? Eu já, e eles são uma droga.

Mas eu pensei muito durante o resto da noite, já que obviamente não consegui dormir depois que Maddison me acordou para jogar aquela bomba em cima de mim – não literalmente, óbvio, mas pelo estado extremamente atrativo dos meus cabelos e das minhas olheiras, bem que poderia ter sido.

De qualquer forma, tenho um plano. Vou resolver essa bagunça que se tornou minha vida, me formar, pintar meus cabelos de loiro e me mudar para a Indonésia – estudos comprovam que ninguém pode ser infeliz na Indonésia, uma vez que a Constituição deles proíbe amigas de insinuarem que estão saindo com o mesmo cara que você quando na verdade não estão – portanto, o paraíso na terra.

O primeiro passo desse plano é, obviamente, resolver essa encrenca chamada... essa encrenca cujo nome não mais mencionarei (cheguei a conclusão que mencionar o nome deles desalinha meus chis, e não posso sair por aí com meus chis desalinhados). Aparentemente, cinco da manhã é um horário mágico para o desenvolvimento de planos, quem diria, porque cheguei a conclusão que essas pessoas cujo nome não mencionarei (doravante chamados apenas de A Grande Encrenca, porque isso já tá ficando chato) são o centro da coisa toda.

Começarei, então, tentando descobrir se eles estavam realmente falando a verdade quando começaram com aquele papo de "não somos o que você acha que somos". Como não pretendo voltar a falar com eles, fui na Biblioteca antes do café na esperança de achar alguns livros sobre a mente psicopata e seus funcionamentos – na verdade, o ideal seria algo do tipo "como descobrir se seus colegas de aula tramam sua morte – 5 passos básicos", mas acham que ainda não escreveram essa magnifica obra ainda.

Infelizmente, a biblioteca de Hogwarts tem serias deficiências nessa seção e o melhor que consegui foi esse "Rainhas Malditas", na seção de Estudo dos Trouxas – o que alias, só foi possível depois da ajuda da Madame Pince, que agora parece achar que eu estou tramando um assassinato, só porque fui perguntar para ela se não havia nenhum livro sobre psicopatas, assassinatos, patologias psicológicas, sangue, essas coisas, o que é totalmente injusto tendo em vista que podemos ou não ter um assassino a solta em Hogwarts e que eu estou arriscando minha vida para descobrir isso. (Não que eu ache que A Grande Encrenca me queira morta, mas sabe como é... queima de arquivo... nunca podemos estar super certos).

- Você vai voltar a falar com a Madison?

- De novo esse assunto, Domenic?

- Ela veio falar com você ontem, na hora do almoço.

- Era sobre um projeto que teremos que fazer juntas para a aula de Adivinhação. – Qual é o meu problema? Parece que eu tenho mentido para todo mundo com quem tenho falado nas ultimas vinte e quatro horas.

Então alguma coisa me ocorre.

Merlin!

Será que psicopatia é contagiosa?

- Hm. – Dom resmunga, não parecendo muito convencido com o assunto, mas sem conseguir pensar em mais nada para perguntar, uma vez que ele não faz essa cadeira com a gente.

Olho para frente da sala de aula. Binns continua seu monologo sobre a Revolta dos Trolls ou a Rebelião dos Dragões ou seja lá sobre o que ele esteja falando hoje.

Volto a abrir o livro.

Não importa de que maneira seu fim finalmente chegue, uma verdade permanece: sua decaída não será sua escolha, embora suas ações possam apressá-la. É o seu destino. Afinal, você é uma rainha maldita – e, se formos nos guiarmos pelas lições da história, a única rainha boa é aquela que está morta.

Domenic tem razão – esse livro é depressivo. Mas depressivo de uma forma morbidamente atraente, o que me preocupa um pouco. Será que essa súbita atração é mais um sinal da minha eminente psicopatia?

- Lily, que projeto de Adivinhação é esse que você e a Madison tem que fazer? – Paro de ler e olho para Dom. Esse tom subitamente triunfante que ele está usando agora para fazer perguntas está me preocupando um pouco. – Eu não me lembro de termos que fazer algo em dupla esse ano.

Ahá! Eu sabia que tinha uma piadinha embutida nessa historia ai!

Sou salva pelo gongo.

Ou melhor, pelo fim do período.

Agora temos Transfiguração. Ou melhor, eu tenho Transfiguração, Domenic tem sei lá eu que matéria. Ou seja, passarei a próxima hora sem precisar ouvir Dom ficar me enchendo o saco sobre Maddison. Haha.

A vida é bela.

-x-

A vida é bela, mas... felicidade de pobre dura pouco.

(Não que eu seja assim tão pobre, mas enfim, você entendeu).

De qualquer forma, eu deveria saber. Quero dizer, houveram sinais. Quando cheguei na sala de aula e o único lugar vago era do lado de Michelle Lamb, eu deveria ter percebido. Isso nunca aconteceu – e eu nem sequer cheguei atrasada, ou coisa assim! De todas as pessoas, ter que sentar do lado dela?

Sinal divino, estou lhe dizendo.

Mas é claro que eu, sendo a perfeita idiota que sou, dei meia-volta e sai por onde tinha entrado? Nããão. Óbvio que não. Suspirei, fui em frente e sentei do lado dela.

Que idiota, sério.

Eu bem que mereço as coisas que me acontecem.

Enfim. Fui lá e sentei do lado dela – o que mais poderia fazer, de qualquer maneira? Tirei um zero gigantesco nessa matéria na última prova, não é como se eu realmente pudesse faltar. Então fui lá, sentei e abri meu livro enquanto a aula não começava.

As vidas de algumas dessas rainhas malditas são certamente trágicas, enquanto outras são tão exageradas que convidam à descrença ou humor. Encontre-se você rindo ou chorando, eu espero que você considere os exemplos delas como contos cautelosos para mulheres modernas que desejaram evitar o lado afiado da espado. Deixando o humor de lado, o que está revelado aqui é algo sério: o lado sombrio do poder feminino em toda sua macabra glória.

- Credo, Evans, o que é isso que você está lendo?

Levanto meus olhos do livro que estou lendo, sobressaltada. Michelle Lamb está falando comigo?

- Evans? – Oh meu Deus, ela está mesmo!

- Um livro. – respondo, como uma retardada, e então me dou conta que estou soando completamente mal-educada. – Rainhas malditas. – acrescento, mostrando a capa a ela.

Michelle levanta uma sobrancelha perfeita.

- Parece... interessante. Por que você está lendo isso?

Sério, o que há com esse livro que todas as pessoas me fazem essa pergunta?

- Achei interessante. – respondo, e rezo para que ela se contente com isso, porque se não posso explicar as verdadeiras razões para ler esse livro para o Dom, imagina para a Michelle Lamb!

Graças a Deus, ela só dá um sorrisinho.

Meio incerta de como agir, tento um sorrisinho próprio de volta, enquanto começo a puxar meu livro de Transfiguração da bolsa para cima da classe.

Então ela fala:

- Entendo. Também passei por essa fase quando James e eu terminamos.

Meu livro de Transfiguração cai no chão fazendo estrondo. O quê?!

Quero dizer, não me entenda mal. Eu sei que James e a Michelle namoraram e depois terminaram e todo o resto. Isso não é surpresa. O que me surpreende é ela trazer o assunto a tona comigo. Porque né... eu não acho isso, mas algumas pessoas (cofcofDomeniccofcof) meio que acreditam que eu fui o pivô dessa separação.

Como eu disse, eu não acredito nisso, mas mesmo assim, levando isso em consideração... essa conversa não é um pouco surreal?

- Vocês estão saindo, não estão? – ela pergunta e eu quase engasgo com minha própria saliva.

Definitivamente surreal.

Diante do meu silêncio, ela simplesmente sorri – de verdade dessa vez – e vai em frente:

- Ah, tudo bem, Evans. Não guardo mágoas. Aliás, é por isso que você estão mantendo a coisa meio escondida? Porque se for por minha causa, sério, não precisa...

Essa garota está falando sério? Isso é uma piada? Tudo bem, acho que Michelle não pode saber que eu sai algumas vezes (o que, duas, três? Praticamente nada!) daí descobri que ele era um psicopata e agora estou metida nessa confusão. Mas... ainda saindo? Escondidos?

Finalmente encontro minha voz.

- Potter e eu não estamos saindo. – digo, com minha voz mais definitiva.

- Sério? – Não sei porque ela parece surpresa. A gente mal se fala. - Mas vocês saíram no passado?

Sou salva de responder isso com a chegada da Professora McGonagall. Graças a Deus.

Com o inicio da aula, somos impedidas de continuar a conversa. Mas Michelle já fez o estrago – pensamentos voam pela minha cabeça como balaços em um jogo de Quadribol e sério, como alguém pode querer que eu preste atenção no que a professora está dizendo quando minha vida se tornou uma mistura de romance adolescente ruim com filme surrealista? Porque essa é a única descrição que consigo encontrar para estar aqui sentada do lado da Michelle Lamb – de todas as pessoas! – enquanto ela me questiona a respeito do meu pseudo-relacionamento com Potter (er... saber dos crimes dele conta como relacionamento?), depois de tudo o que aconteceu.

Então, enquanto McGonagall segue falando sobre os perigos da Transfiguração Humana desassistida, uma luz se acende no meu cérebro. Michelle Lamb!

Mas é claro!

Ela e um ¼ da Encrenca saíram por séculos. Se alguém poderia saber se algo estranho com a Grande Encrenca, seria ela.

Sério, é genial. As pessoas têm razão - Deus escreve mesmo certo por linhas pontilhadas ou qualquer coisa do tipo.

- Lamb? Olha só, queria lhe perguntar uma coisa.

- Vá em frente.

- Você conhece o Potter há um tempão, certo?

Ela assente com a cabeça, enquanto marca alguma coisa com lápis em seu livro. Espero que ela não esteja transcrevendo essa conversa, mas também, por que ela faria isso?

- Você nunca notou nada estranho nele?

- Em James?

- É.

- Não. O que você quer dizer?

- Sei lá... ele nunca agiu estranho com você?

Ela franze as sobrancelhas e me olha de um jeito engraçado.

- Não. Olha, Evans, eu sei que as coisas não deram certo entre James e eu, mas, como eu disse, não guardo mágoas. James é uma pessoa muito especial, é o cara mais genuíno, fiel e generoso que eu já conheci na vida. Não sei o que aconteceu entre vocês dois, mas posso lhe garantir que ele jamais iria magoar alguém de propósito. – "Sério?", tenho vontade de perguntar, porque tudo o que ela está me falando é novidade, a não ser pelo fato de que durante nossos encontros ele foi exatamente...

Então, para minha eterna surpresa, ela dá uma risadinha e acrescenta:

- Ainda mais você, de todas as pessoas.

O que ela quer dizer com isso?

Antes que eu tenho a chance de perguntar, no entanto, uma voz me interrompe:

- Senhorita Evans?

McGonagall está parada bem na frente da minha classe. Ai.

- Professora?

- Troque de lugar com Black.

O quê?! Trocar de lugar com ele seria sentar ao lado de... não. Não.

- Estou bem aqui, professora. – respondo, entrando levemente em pânico.

Felizmente, McGonagall não parece se ofender, porque simplesmente responde:

- Eu percebi, uma vez que a senhorita não para de conversar com a senhorita Lamb. – Ela levanta uma sobrancelha de um jeito muito parecido com o de Lamb (sério, como é que elas fazem isso?) e acrescenta, naquele tom muito definitivo de "não-estou-de-brincadeira-é-melhor-você-fazer-o-qu e-eu-estou-mandando-agora": - Lugar, Evans. Agora.

Viro para trás. Black já está arrumando suas coisas, parecendo ligeiramente contrariado, mas não responde nada. Olho para dele para a professora, e dela para Michelle, que me encara com os olhos meio arregalados.

Não acredito que isso está acontecendo comigo, sério.

Black finalmente termina de juntar suas coisas e se levanta.

Eu realmente não vou ter opção, vou?

Droga.

Droga, droga, droga.

Xingando mentalmente Deus e o mundo, junto meus livros e vou me sentar do lado dele.

Droga.

O ¼ da Grande Encrenca nem sequer olha para mim quando me sentou ao lado dele. Não que eu me importe, é claro. Quero dizer, é até melhor, porque se ele realmente for um sociopata, quanto menos atenção ele prestar em mim, melhor, porque terei mais chances de sobreviver e tal. Ou de repente ele pode apenas estar com medo da McGonagall, certo?

Falando nela, a professora me acompanha até meu novo lugar. O que ela acha que eu vou fazer? Fugir? Sair correndo? Desmaiar.

Se bem que desmaiar era uma boa, né? Sempre posso por a culpa em alguma doença, e daí ninguém vai desconfiar. Por que não pensei nisso antes?

Enfim.

Uma vez que já estou devidamente acomodada – ou o melhor que posso estar, com ¼ da Encrenca (que pode ou não pode ser um sociopata) sentado do meu lado – McGonagall solta a bomba derradeira:

- Estou fazendo uma coisa boa por você, Evans. – ela diz em um tom mais baixo, para que o resto dos meus colegas não possa ouvir. Acho que faço sem querer uma cara de descrença, porque ela acrescenta – Potter vai poder lhe ajudar no trabalho que vocês faram juntos nesse semestre.

O QUÊ?!


N/A: Alguém ainda lê isso daqui?