Exordium Luna

- Capítulo 4 -

Fairy Tale

(Moony-Sensei)

(N/A: Enfim, eis a descoberta... Estava na hora, né? XD Bom, só para esclarecer possíveis dúvidas, esse capítulo se passa todo no segundo ano de Hogwarts).

Uma boa maneira de se conhecer uma criança é observando suas reações ao ouvir um conto de fadas.

James sempre gostou das histórias trouxas que sua mãe lhe contava, e o príncipe com toda certeza era o personagem que mais gostava. Ele era corajoso e sempre estava disposto a sacrificar tudo por sua amada e por seus amigos. Adorava as histórias em que eles defendiam seu povo também.

O importante era que esses personagens davam uma idéia do que ele queria ser no futuro...

Um herói.

A senhora Potter sempre achou graça do modo como seu pequeno filho se empolgava diante desses contos.

Walburga Black nunca contou uma história a Sirius, independente de ela ser trouxa ou não. Diferente de seu amigo James, sua família não via como algo importante nada que estivesse ligado a demonstrações de carinho. No entanto isso não impediu que o jovem Black tivesse contato com um desses livros trouxa. E o menino até que achou interessante...

Gostou mais do amigo do príncipe, que apesar de não ser o principal, realmente sabia aproveitar a vida. Ele era livre, vivia de acordo com suas próprias regras e ainda era o homem em que o príncipe mais confiava.

Peter por sua vez tinha ouvido um desses contos através de seu pai. O homem sempre lhe contava todos os tipos de histórias. Desde as primeiras rebeliões bruxas até as grandes conquistas trouxas.

O garoto sempre percebeu a admiração que o seu pai tinha por pessoas de grande poder. E graças a essa percepção, pôde notar o modo como o seu pai o mirava com certo ar de desapontamento quando o comparava com os filhos de seus amigos.

O pequeno Pettigrew nunca tinha demonstrado nenhum tipo de habilidade. Na verdade, nada que o menino fazia era bom.

Sabia que seu pai já havia desistido de esperar por algum feito extraordinário seu. Mesmo assim, achava que qualquer mudança, por mais medíocre que fosse, talvez o deixasse um pouco mais orgulhoso.

Porém, desde a primeira vez que compreendeu aquele olhar que o seu pai, por acidente, lançou, Peter não conseguiu mais se considerar hábil a nenhuma tarefa que apresentasse dificuldade.

E por isso, nutriu uma secreta simpatia pelo subordinado do rei, homem esse que, de acordo com a história que seu pai contou, entregou todos os segredos do reino para o exército inimigo.

De certa forma o entendia. Não era fácil saber que para os outros ele nunca seria bom o bastante para ser considerada uma pessoa especial, e que seria fadado a ocupar o eterno papel de admirador. Um mero coadjuvante que não teria reconhecimento e que provavelmente nunca o mereceria.

Remus teve contato com uma dessas histórias quando ele e seu irmão compraram alguns livros em uma livraria trouxa.

Romulus não entendeu o motivo de os trouxas gostarem tanto daqueles livros. Remus e ele já haviam lido uma meia-dúzia e não puderam perceber muita diferença entre eles.

O licantropo também notou essa semelhança. De certa forma todos os personagens já tinham um destino traçado.

Os bons, apesar de todas as adversidades, sempre tinham sua recompensa no final. Os maus quando não morriam eram presos...

Era um final justo para a maioria das pessoas que liam, mas para aqueles dois meninos não era um final feliz.

Desde que Remus havia se tornado um lobisomem, tudo o que Romulus mais queria era que o irmão não seguisse o caminho de dor e miséria que os seus iguais estavam destinados a ter. Por isso, histórias como aquelas, nas quais as pessoas nunca podiam mudar e, inevitavelmente, acabavam sempre tendo o mesmo fim, nunca atrairiam a sua atenção.

Os irmãos não tinham dado muita importância a esses contos, até o dia em que se depararam com uma história em que o vilão não era um ser humano, e sim, um monstro.

Romulus percebeu uma mudança em Lupin e naturalmente associou-a ao fato de o castanho ter se identificado com o monstro.

"Remus, você não precisa ficar se comparando com... Você não é igual a ele."

Entretanto, para a sua surpresa, aquele conto tinha mostrado ao lobisomem uma realidade muito mais cruel do que ele podia imaginar.

"Não, eu não sou... Porque... Todos esses personagens... Até mesmo esse monstro... Todos eles têm um lugar... De uma maneira ou de outra eles fazem parte de uma história, entende?"

Remus fitou o irmão por uns instantes antes de continuar.

"E mesmo que eu queira... Eu nunca vou fazer parte de algo. Porque diferente desse monstro, ainda me resta uma parte humana. Mas ela é incompleta... E a outra metade é desigual, por isso... Eu nunca vou poder juntá-las."

Romulus ficou calado, era horrível ouvir palavras como aquelas de um menino cuja vida estava apenas no começo.

O que mais o perturbou foi o fato de seu irmão ter dito aquilo com uma frieza digna de alguém que, por não poder mais lutar, estava sujeito a viver uma vida vazia, destinada àqueles que não têm mais nada a perder.

oOOoOOoOOoOOoOOoOOo

Férias de verão - período de dois meses sem aulas, que separa o fim de um ano letivo e o começo de outro.

Meses nos quais os estudantes da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts aproveitam para matar as saudades dos entes queridos, viajarem, reencontrarem velhos amigos e principalmente: descansarem.

Descanso e diversão sempre foram as duas tarefas preferidas de James Potter. E depois de seu primeiro ano em Hogwarts era mais do que esperado que o menino chegasse em casa com o ânimo renovado... Pronto para fazer mil coisas de uma vez.

Mesmo só tendo um filho, a casa dos Potter, constantemente, era uma das mais agitadas da região, pois a energia que o de óculos tinha equivalia a de cinco crianças hiperativas.

A quantidade de brincadeiras que podia aprontar deixava sua mãe de cabelos em pé e o senhor Potter dividido entre a raiva e o riso.

Contudo essa agitação só durou tempo bastante para James contar, detalhadamente, tudo sobre a escola. Depois disso, para o espanto dos mesmos, o garoto permaneceu um bom tempo trancado no quarto durante as semanas seguintes.

Intrigado, o senhor Potter foi verificar o que estava acontecendo com seu filho.

Descobriu que o menino passava horas e horas lendo.

A quantidade de livros que o cercava era surpreendente. Não era a toa que o jovem vinha praticamente engolindo as refeições. Ultimamente tempo era algo que nunca restava ao garoto.

Esse mesmo comportamento suspeito também poderia ser observado na casa de mais dois grifinórios que, não por acaso, eram amigos do rapaz.

Sirius Black, James Potter e Peter Pettigrew tinham deixado a plataforma nove e meia no começo do mês de julho com uma missão:

Descobrir o que havia de errado com Remus Lupin.

oOOoOOoOOoOOoOOoOOo

O melhor de se voltar para a escola depois do primeiro ano, é justamente o fato de aquele ano não ser o primeiro.

Depois de oito semanas, a idéia de retornar a Hogwarts era bastante agradável. Já que, diferente do ano anterior, os segundo-anistas não enxergavam mais aquele suntuoso castelo como algo novo.

A ansiedade e nervosismo que, meses atrás, haviam feito muitos deles terem a impressão de que suas pernas cederiam a qualquer momento, agora não passava de uma doce lembrança, levada para longe pela brisa suave da primavera.

Porém, mesmo não sendo mais um lugar estranho, Hogwarts ainda exalava aquela aura misteriosa, que os desafiava silenciosamente. Causando nos alunos um delicioso friozinho no estômago, devido à excitação diante da possibilidade de novas descobertas.

Foi com um sentimento parecido que Remus Lupin entrou no castelo naquele início de setembro.

O licantropo havia crescido alguns centímetros e suas desgastadas vestes, aparentemente, não estavam acompanhando seu desenvolvimento. No entanto elas estavam largas e deixavam claro que o castanho tinha perdido bastante peso. Seu rosto estava pálido e tinha olheiras escuras marcando seus olhos castanhos. Todavia aquele aspecto doente não chamava mais tanto a atenção dos outros alunos, uma vez que, depois de dois semestres convivendo com aquilo todo mês, não era mais novidade que Remus tivesse uma saúde frágil.

- Remus, vamos logo! Eu estou com fome! - exclamou Peter enquanto o arrastava para o salão principal.

Sirius e James ficaram um pouco para trás.

- Hum... Durante as férias eu estava tão envolvido com as pesquisas que só sabia te escrever sobre isso... - disse James.

O menino olhou para ele sem entender.

-... Eu... Nem perguntei como foi lá na sua casa... - explicou o de óculos um pouco envergonhado.

Sirius sorriu.

- Me desculpe - continuou Potter. -, deve ter sido horrível...

Black passou o braço esquerdo sobre os ombros do mais baixo, guiando-o para o grande salão.

- Não sei do está falando – replicou. - O que tem de mais em desviar de uma ou duas maldições imperdoáveis lançadas pela sua própria mãe?

James riu.

- Os Black têm seus próprios métodos para demonstrar afeto - prosseguiu Sirius divertido.

- Eu só os vi de relance lá na plataforma - comentou Potter.

- Ah, sim! É política da família... Dê o mínimo de atenção aos seus descendentes e anule suas chances de se tornarem pessoas decentes.

O moreno riu ao dizer isso, mas James percebeu um pouco de amargura em sua voz.

- Esqueça isso - disse Potter. -, o importante é que nós estamos de volta.

Ele e Sirius chegaram à mesa da Grifinória a tempo de escutar Peter reclamando com Remus que não agüentaria esperar a seleção e o discurso de Dumbledore para poder comer.

Remus riu da exasperação do amigo e procurou alguma coisa dentro das vestes. Black e Potter se sentaram de frente para os dois e Lupin achou o que procurava. Entregou ao gordinho alguns doces e um bolinho que não tinha comido durante a viagem.

- Vocês demoraram - disse o castanho, sorrindo ao vê-los.

Sirius retribuiu o sorriso do licantropo e observou o lugar por alguns instantes.

Os professores já estavam em seus lugares, McGonagall postada na frente de uma pequena fila formada pelos primeiro-anistas. Podia quase sentir o nervosismo deles. E pensar que no ano anterior ele estivera ali. Torcendo para não ser mandado para a Sonserina... Parecia uma lembrança tão distante... Concluiu que definitivamente era bem melhor ser só um espectador.

Percebeu que o céu estava tão bonito quanto da primeira vez que tinha posto os pés ali.

Sirius adorava o céu encantado do salão.

- Não deve ser fácil...

- O quê? – perguntou, voltando sua atenção ao castanho.

- Não deve ser um feitiço fácil... Parece que você ainda não aprendeu... – falou Remus, apontando para o teto encantado e rindo.

Era a segunda vez que o lobisomem o flagrava olhando deslumbrado para o mesmo lugar.

- Eu... – começou um pouco desconcertado. – Não sei... Por enquanto... Mas... Não se preocupe... Pode deixar que quando souber eu te ensino! – completou, recuperando sua habitual postura, sorrindo arrogantemente.

Lupin riu e balançou a cabeça em sinal de reprovação antes de dizer:

- É o que a minha mãe sempre diz... Sonhar é bom e rejuvenesce.

- Não se preocupe com rugas prematuras, meu caro amigo... – zombou Potter.

Black não teve tempo para responder, McGonagall começou a anunciar os nomes para a seleção das casas.

- Andrews John!

Os quatro amigos se viraram para a professora e viram um menino de cabelos ruivos se sentar no banquinho.

- Corvinal! – bradou o chapéu seletor depois de alguns momentos.

Sirius deu mais uma boa olhada em volta do salão e voltou a observar os três amigos, que prestavam atenção na seleção.

Sorriu.

Era bom estar de volta.

oOOoOOoOOo

Há certas coisas que fazem um lugar ser familiar. Normalmente são pequenos detalhes, que vagarosamente tomam conta do local, trazendo uma impressão reconfortante para os que ali se encontram.

Hogwarts era um lugar especial para Remus, principalmente porque ali ele se sentia protegido. Sabia que graças aos esforços de Dumbledore por um bom tempo ele não apresentaria perigo às pessoas.

A Casa dos Gritos nunca seria um local onde ele se sentiria à vontade, pois, de certa forma, ela era uma forma sólida de todo o seu sofrimento. No entanto Remus não podia evitar que um pequeno sorriso se formasse em seus lábios todas as vezes que se encontrava no chão do lugar, encarando as paredes e as janelas, por onde a luz só podia entrar por uma pequena abertura, já que várias tábuas bloqueavam o sol.

Mesmo com o corpo dolorido e com inúmeros machucados marcando sua pele, era gratificante ter aquela sensação de alívio e gratidão quando voltava para sua forma humana.

Por mais uma noite, ninguém, a não ser ele, tinha se ferido. Era um sentimento bom. Que tomava conta de seu corpo antes de perder a consciência.

Aquilo servia quase como um consolo depois de mais uma semana de sofrimento.

Foi pensando nisso que Remus fechou o livro de Transfigurações.

Olhou para a biblioteca, Madame Pince estava folheando um livro distraidamente. Mais à frente Snape já ocupava a mesa de sempre... Seus amigos provavelmente ainda dormiam... E daqui a mais ou menos duas horas o resto do castelo começaria a despertar, acabando com a tranqüilidade que aquelas três pessoas tanto prezavam e que as havia tornado quase cúmplices.

O castanho riu de suas próprias conclusões.

Nem mesmo os pensamentos sombrios sobre sua última transformação contaminaram seu espírito, já que esse estava possuído pela satisfação de estar mais uma vez em casa.

oOOoOOoOOo

Enquanto isso, no dormitório do segundo ano da Grifinória, ao contrário do que Lupin imaginava, James, Sirius e Peter não estavam dormindo.

Desde o início do ano, todos os dias, depois que o lupino deixava o quarto, os três grifinórios se reuniam na cama de James.

Durante as férias de verão eles tinham procurado em vários livros alguma coisa que desse pelo menos uma pista do que poderia estar acontecendo com Remus.

Recorreram a todos os livros que falavam sobre doenças, maldições, criaturas mágicas e como não obtiveram sucesso, juntaram todos eles e levaram para a escola. Se procurassem juntos descobririam mais rápido. Porém, para a decepção dos mesmos, depois de um mês não tinham encontrado nada de novo.

- Não adianta, James... A gente já olhou isso daqui umas cem vezes e nada! – disse Sirius irritado, jogando o livro no chão. – É melhor nós descermos... Não agüento mais ficar aqui trancado!

James olhou para a pilha de livros que havia se formado no chão e suspirou.

- É... Mais tarde a gente procura de novo – concordou derrotado.

- Por que a gente simplesmente não pergunta para ele? – indagou Peter. – Seria bem mais fácil.

- Seria mais fácil ele mentir de novo, Pete – replicou Potter aborrecido.

- O Remus nunca vai falar! – continuou Black. – E a gente só vai poder encostá-lo na parede quando soubermos da verdade.

oOOoOOoOOo

O tempo sempre passa mais rápido quando estamos ocupados...

Remus sabia que os segundos não corriam mais depressa só porque nas últimas semanas ele estava realmente atarefado. Contudo era o que sentia quando mirava a janela da biblioteca e, ao invés de observar as folhas secas do outono caindo, agora olhava os flocos de neve, que se desprendiam de alguma parte daquela barreira alva formada pelas nuvens, seguindo seu caminho até o chão para então compor o enorme tapete branco e gelado que cobria o jardim de Hogwarts.

Já estavam no fim de novembro e dali a pouco menos de um mês seria o Natal. Apesar do clima frio e de, fatalmente, quase ninguém deixar o castelo, muitos alunos estavam animados, fazendo planos para o feriado, tentando adivinhar o que ganhariam. Alguns felizes por poderem passar o natal em casa, outros por terem conseguido permissão para ficar na propriedade.

Para Lupin o feriado não seria dos mais divertidos, porque na semana seguinte ao Natal seria lua cheia, e o pensamento de virar o ano na forma de lobisomem o deprimia profundamente.

- Tem o natal... Pelo menos tem o natal, Remus... – sussurrou para si mesmo, tentando se animar com aquele ponto de vista.

Ao menos o Natal ele poderia passar com os amigos. Eles estavam planejando ficar na escola.

Nem isso o animou.

Depois da agitação de início de ano, que o impedia de pensar em coisas desagradáveis, à medida que os meses foram passando, a segurança, que por um bom período o tranqüilizou, agora não fazia mais tanto efeito.

O tempo mostrou ao castanho que existia algo que ele temia tanto quanto morder alguém.

O medo de seus amigos descobrirem sobre sua licantropia o consumia a cada lua cheia que passava.

Eram duas dores diferentes que, apesar disso, o afetariam com a mesma intensidade se chegassem a acontecer.

James, Sirius e Peter tinham adotado o silêncio desde o começo do ano. Na maior parte do mês tudo corria normalmente, ele e os amigos continuavam conversando e se divertindo como no ano anterior. Mas tinha alguma coisa diferente...

As perguntas haviam cessado.

Quando o lobisomem ia informá-los que ficaria fora novamente, os três meninos não falavam nada, eles apenas o observavam e vez ou outra faziam um sinal afirmativo com a cabeça. Não tinha mais perguntas nem desejos de melhora.

No começo aquele silêncio aumentou a confiança do castanho. O menino pensou que os três grifinórios haviam desistido e aceitado o fato de ele e de sua família serem realmente doentes.

No entanto, pouco a pouco, aquela postura começou a incomodá-lo. É claro que estava aliviado por não precisar dar mais tantas explicações. Porém aquela atitude foi afetando-o lentamente e o que antes o mantinha protegido, atualmente lhe causava aflição.

Remus ficava ansioso e aterrorizado só em pensar que talvez eles não tivessem se dado por vencidos e que aquele comportamento fosse só uma maneira de disfarçar e ganhar tempo para desmascará-lo.

oOOoOOoOOoOOo

Fazia alguns minutos que Sirius estava olhando para o mesmo lugar. Uma cadeira de madeira a sua frente, de onde há pouco o seu misterioso amigo de cabelos castanhos tinha se levantado.

Ultimamente o menino passava algum tempo observando Lupin...

Às vezes o olhava com tanta intensidade que esperava assim poder perfurá-lo e conseguir finalmente descobrir o que ele fazia tanta questão de esconder dele e dos outros.

Após atravessar a plataforma nove e meia no dia primeiro de setembro, Black deu de cara com Lupin, que tinha acabado de se despedir dos pais e seguia a multidão para entrar no trem.

A aparência do licantropo quase o fez desistir dos planos que tinha articulado com Potter e Pettigrew. Remus estava bem mais magro, abatido, com olheiras enormes e uma minúscula cicatriz na bochecha.

O garoto teria perdido o controle e com toda certeza faria o menor confessar tudo o que vinha ocultando se, no momento em que seus olhos se encontraram, Lupin não tivesse sorrido de uma maneira tão sincera que iluminasse o seu rosto cansado e acabasse com a coragem que antes levaria Black a fazer uma besteira.

Como resultado disso, no momento, só restava a Sirius observar aquele móvel que, por mais que quisesse, não o levaria a lugar nenhum.

Há algumas horas Remus tinha saído. Sirius e seus dois amigos estavam cientes de que ele só voltaria daqui a uma semana. Entretanto, sem a presença do mesmo, tinham mais liberdade e podiam usar o salão comunal para suas incansáveis pesquisas.

James e o moreno ainda liam alguns livros na esperança de desvendar aquele enigma. Depois de mais uma tarde sem resultados, Peter tinha desistido e provavelmente já estava dormindo.

O de óculos folheou sem muita emoção um livro que possivelmente era a décima vez que tinha em mãos. Sirius jogou em cima de uma poltrona um que mostrava algumas maldições que deixavam marcas permanentes nas pessoas.

Black encostou a cabeça no sofá e olhou para o céu. A neve tinha dado uma trégua, ainda estava nublado, mas quando as nuvens se deslocavam dava para ver algumas partes negras. De vez em quando a lua ficava visível.

Suspirou.

Uma frustração sem tamanho tomou conta de si... Estava tão perto... Ele sentia isso... Sentia que já tinham encontrado a resposta...

Contudo a solução não era papável e quando Sirius achava que estava tão perto a ponto de poder tocá-la, ela escorria pelos seus dedos como a água, e tudo o que restava era uma vã sensação de que por uns instantes tudo tinha se resolvido. No fim, não passava de uma ilusão.

Observou algumas nuvens se movendo e mais uma vez a lua cheia ficou a sua vista... O globo prateado emitiu uma luz fraca...

Provavelmente por já estarem enfadados daquela repetitiva busca os três haviam deixado passar alguma informação crucial para o desfecho de tudo aquilo e, por mais desgastante que fosse, Sirius não conseguia mais sentir raiva, pois essa há muito tinha sido substituída por uma angústia que formava um nó em sua garganta.

Olhou mais uma vez para o céu... Encarou a lua por um momento... Uma luz pálida adentrava o salão... O brilho que o alcançava era tão tímido que parecia hesitar ao passar pelo vidro da enorme janela...

Era tão melancólico...

Aquela ínfima claridade parecia expressar melhor do que qualquer palavra o que o garoto sentia... Era como se ela sempre estivesse ali... Presenciando silenciosamente a sua aflição...

Então ele percebeu.

Aquela luz, que agora parecia tão lívida e sem vida, o acompanhou há um mês atrás, mas, diferente de agora, na época ela estava tão forte que ficava difícil acreditar que aquele globo não tinha luz própria.

Lembranças de um passado não tão distante foram invadindo a cabeça de Sirius sem que ele pudesse evitar.

Ele, James e Peter estavam sentados naquele mesmo sofá se perguntando o que tinha acontecido com a mãe de Remus.

Um mês depois, os três, durante o jantar no salão principal, se perguntavam o que tinha ocorrido para Lupin ter que voltar para casa de novo.

Algum tempo depois, com mais experiência e com uma desconfiança crescente sobre o lupino, os três estavam sentados embaixo de uma enorme árvore. A capa de James jogada ao lado deles. Na ocasião tentavam bolar uma teoria sobre o constante desaparecimento de Remus.

Em todas essas lembranças ela sempre estava lá.

Foi então que Sirius finalmente entendeu...

Tudo fez sentido...

Sumiços mensais... Perda de peso... Cortes... Cicatrizes...

Já tinha lido inúmeras vezes esses sintomas. Eram todos tão parecidos que havia confundido ele e os outros. Mas agora a resposta estava ali bem na sua frente.

- Lua Cheia – sussurrou, enquanto arregalava os olhos.

Levantou-se do sofá e olhou para James, que o mirou curioso. Tudo o que conseguiu dizer foi:

- Lobisomem!– e apontou para a janela.

James olhou para o céu e observou a lua enquanto absorvia o que Sirius acabara de falar.

Black começou a procurar avidamente por um livro de capa gasta e marrom que falava sobre criaturas mágicas. Potter compreendeu o que o amigo lhe disse e o ajudou naquela tarefa. Prenderam a respiração quando o mais alto o encontrou.

Foram para uma mesa perto da lareira. Sirius colocou o livro sobre a mesa e o abriu. Folheou-o rapidamente. Estava em uma das últimas páginas.

Potter assobiou baixinho.

- Cara... A gente viu isso daqui umas cem vezes! – disse descrente com a própria falta de atenção.

- É – concordou o outro abismado, olhando para o livro. –, está tudo aqui...

Viraram algumas páginas e pararam em uma que tinha um enorme calendário lunar. Conferiram as datas para ter certeza se combinavam com a época dos desaparecimentos.

- Olha só... Mês passado ele sumiu nesta data... Em setembro também... – continuou James.

- Aqui... – acrescentou Sirius – No ano passado ele ficou fora duas vezes em maio, lembra?

- Sim... É... É isso, Sirius... Tudo está batendo... Finalmente a gente descobriu...

Enfim tudo estava acabado. Depois de cinco desgastantes meses, finalmente eles tinham conseguido. No entanto aquela descoberta não trouxe nenhum tipo de orgulho ou felicidade aos dois. Ficaram encarando o livro por um bom tempo, até que o de óculos se jogou em uma cadeira próxima. Sirius não se moveu.

O peso de todas aquelas informações caindo sobre os dois como uma avalanche.

OooOooOooOooO

"Vamos esperar que ele se recupere"

Sirius tinha que martelar essa frase dezenas de vezes em sua cabeça sempre que avistava Remus.

Depois de duas semanas tendo que fingir não saber de nada, a paciência do moreno havia chegado ao limite.

James estava tentando a todo custo impedir que Black abordasse o castanho. O de óculos sabia que se não tivessem cuidado, talvez pudessem magoar o licantropo, por isso estava tentando ganhar algum tempo para poder encontrar a melhor maneira de esclarecer as coisas.

Entretanto para Sirius as coisas não eram tão fáceis de se compreender, pois aquilo estava afetando-o de uma maneira desastrosa.

Black não conseguia entender por que Remus não confiava nele, não entendia por que o menino preferia inventar desculpas cada vez mais esfarrapadas só para não ter que dividir seu segredo com mais ninguém.

James tinha lhe dito que provavelmente Remus estava assustado. Mesmo assim, Black não se convencia. Afinal, era seu amigo. E a idéia de Lupin temer uma represaria só o enfurecia ainda mais. Sirius nunca faria nada de mau ao menino.

Essa era a reação que se esperaria de um Black, mas não de Sirius.

Sirius não era um Black e já tinha cansado de falar isso a Remus.

Então por quê? Por que Lupin estava fazendo isso com ele?

Conforme o tempo passava essas dúvidas iam envenenando a mente do garoto. E uma raiva que nunca sentira antes agora o corroia por dentro.

As discussões com James estavam se tornando constantes.

- Não, Sirius... O Remus ainda está se recuperando da última semana...

- Que diferença isso faz, James?! – replicou sem paciência. – Eu não sei pra que você está enrolando tanto!

- É só você parar e pensar por um minuto! Você acha mesmo que é fácil para ele fazer isso?!

- Ele não precisaria de todo esse teatrinho se tivesse contado a verdade pra gente!

- Será que é tão difícil perceber que ele está com medo?!

- Medo? Medo de quê?!

- Oh! Eu não sei! Vejamos... Medo de ser rejeitado talvez?! Medo de que nós o entregássemos! De ser expulso... Isso é suficiente para o senhor?!

O tom irônico de Potter só piorou o humor de Black.

- Isso faria sentido se estivesse falando de qualquer um James! Nós somos amigos dele! Ele deveria ter nos contado!

- As coisas não são tão simples, Sirius! Se coloque no lugar dele por um segundo... Nós não temos a mínima idéia do que ele passa todo mês!

- Se ele passa por isso tudo sozinho é porque ele quer!

Potter encarou o amigo longamente.

- Você está falando como um perfeito Black agora – disse James com frieza. – sua mãe ficaria orgulhosa.

Sirius perdeu a cor, seria melhor se Potter tivesse dado um murro nele.

- Eu só não quero que isso se torne ainda mais doloroso para o Remus – continuou o de óculos com a voz controlada. – Se quiser ir falar com ele, vá então... Que se dane... Eu não vou impedir... Mas depois não conte com a minha ajuda.

James se dirigiu até a porta do quarto, porém ela se abriu antes que sua mão alcançasse a maçaneta. Remus e Peter entraram no aposento.

- O que houve? – perguntou Lupin hesitante.

- Nada – disse Potter.

- Nós ouvimos os gritos lá do corredor – continuou. – não dava pra entender, mas...

- Nós só estávamos discutindo – interrompeu-o o de óculos. – nada de mais...

Sirius riu.

- É claro... Eu posso ser só um Black, mas pelo menos eu não fico fugindo dos meus problemas igual a uma menininha assustada!

James corou.

- Qual é o seu problema?!

Potter avançou alguns passos na direção de Sirius, contudo Lupin foi mais rápido e ficou entre os dois.

- Meninos... Fiquem calmos... É melhor esfriarem a cabeça...

- É... É melhor vocês conversarem mais tarde – disse Peter.

Os dois permaneceram imóveis.

- Garotos... Não façam isso! Vocês dois são quase irmãos... Talvez... Talvez possam dizer o que está acontecendo... Nós podemos resol...

- Esta aí James! É uma ótima idéia...! Vamos contar a eles sobre a nossa conversinha...

James mirou-o descrente.

- Eu não vou ficar aqui vendo você fazer uma idiotice dessas... – disse, caminhando em direção a porta novamente.

Sirius chegou primeiro e a bloqueou.

Peter e Remus olharam espantados para os dois.

- Sai da minha frente, Sirius!

- Não! Temos que esclarecer umas coisas antes!

- Sirius... – começou Lupin. – É melhor...

- Você quer saber do estávamos falando, não é? Pois bem...

- Sirius, não...

- Vamos James... Nós estamos entre amigos, não é? E isso aqui diz respeito a nós quatro mesmo... Já está na hora de o Peter saber também... Ele nos ajudou bastante, é injusto escondermos dele...

Remus olhou para Peter, que parecia tão confuso quanto ele. Potter tirou os óculos e sentou em uma das camas.

- Eu estava perguntando para o James o que ele pretende fazer no ano novo, Remus.

- O quê?

- E você, Peter, o que você pretende fazer no ano novo? – perguntou abruptamente.

O gordinho olhou desesperado para Remus, pedindo ajuda. Black não deu atenção a Pettigrew, pois seu único alvo era Lupin.

- E você Remus? O que você vai fazer?

O licantropo encarou o moreno. Um brilho cruel passou pelos olhos cinzentos do menino.

Lupin piscou.

- Eu me pergunto quem vai ficar doente dessa vez... – sibilou o mais alto perigosamente.

Remus sentiu o ar escapando de seus pulmões.

- Que parente distante você vai ter que visitar? – prosseguiu.

Era como se cada palavra que Sirius proferia tivesse o poder de perfurá-lo. Não podia ser...

- Me diga, Remus! – ordenou Black.

Estava tudo acabado.

- O-o que está acontecendo? - gaguejou Peter.

- Pelo menos a um de nós você tem a oportunidade de dizer a verdade! Vamos, deve ser o melhor que pode fazer...

- Já chega, Sirius! – disse James com dificuldade.

Lupin ficou paralisado.

Por um momento se perguntou se aquilo não era só um pesadelo. Não seria o primeiro. Um assustador, porém inofensivo sonho ruim.

- Até quando pensou que conseguiria nos enganar?!

A voz do menino era tão amarga que Lupin podia senti-la... Ela ia destruindo lentamente seu muro de proteção...

- Que tipo de pessoa você acha que nós somos?

Essa frase atingiu Remus em cheio. O menino acordou.

- Você não entende – disse com a voz fraca.

- Não, eu não entendo...

- O que o Remus tem?

- Fale Remus! – decretou Black. – Pelo menos pro Peter!

O rosto do castanho se apagou.

- Se você sabe, então eu não preciso dizer.

Uma calma anormal tomou conta de si. Nada mais importava...

- Por quê? – dessa vez a voz de Sirius falhou.

- O que ele tem? O que você tem, Remus? – insistiu Peter.

Lupin continuou encarando Black.

- O que...?

- Ele é um lobisomem! – bradou Sirius, varrendo com isso o resto de cor que havia no rosto do licantropo e o som que antes enchia o quarto.

Uma expressão de horror tomou conta do rosto de Pettigrew.

Lupin mirou o menino e vacilou...

Não tinha mais volta.

Todas as coisas que tinha cultivado com tanto cuidado agora estavam estraçalhadas...

Não era pra ser assim...

Recuperou os movimentos e se dirigiu a porta. Era insuportável ficar ali.

Sirius não o impediu.

Depois de alguns minutos de silêncio, James se levantou e foi até Peter, que continuava parado no mesmo lugar.

- Lobisomem? - perguntou o gordinho num sopro de voz.

- É... Foi mal, Pete... Nós devíamos ter contado antes... - disse Potter num tom cansado.

Os dois se surpreenderam quando Black deu um soco na porta, o barulho ecoou por todo o corredor.

- Ele não vai fugir de novo! - disse o moreno antes de deixar o quarto.

oOOoOOoOOo

Remus já tinha alcançado a casa de Hagrid quando a noção do que tinha acabado de acontecer no dormitório do segundo ano finalmente pesou em seu cérebro.

Por mais que todos aqueles sentimentos tivessem tomado conta do seu ser de uma vez, só uma imagem ficava clara em sua cabeça.

A expressão que tinha se formado no rosto de Peter.

Ela era a forma mais verdadeira da ameaça que Lupin representava aos demais.

Parou um pouco antes de chegar a floresta proibida. Respirava com dificuldade. Estava desnorteado.

Tentou se acalmar, mas isso se mostrou impossível. Seu coração batia num ritmo tão acelerado que chegava a doer. Um vento frio batia impiedosamente em seu rosto e braços desprotegidos.

Saiu do castelo com tanta pressa que não teve tempo de pegar um casaco. Na verdade, duvidava muito que ele o ajudasse, pois um desespero avassalador o atingia e ele era tão gelado quanto o vento que queimava sua pele.

A situação do castanho só se agravou quando ele escutou a voz de Sirius um pouco distante. Andou apressado em direção a floresta.

Tarde demais...

- Espere! Remus, eu quero falar com você!

Ainda era possível notar aborrecimento na voz do menino. E talvez isso tenha feito o lobisomem aumentar o ritmo e começar a correr com toda a velocidade que podia. O que não era muita coisa, já que a lua cheia tinha sido há apenas uma semana. Não demorou muito para Black alcançá-lo e puxá-lo pelo braço, fazendo-o parar.

- O que você quer?! – perguntou Lupin agressivamente.

- Até quando pretende fugir?

O menor se soltou das mãos do moreno e deu alguns passos para trás.

- Você... Não entende, Sirius.

- O que eu não entendo, Remus? Me diga!

Lupin ficou parado, encarando Sirius.

Ele estava errado... Havia mentido... O que se deve dizer em uma situação dessas?

- Que tipo de pessoa você acha que eu sou? – indagou Sirius duramente.

Remus não entendeu muito bem a pergunta.

O castanho não sabia que Black tinha levado aquele problema para o lado pessoal. E o seu silêncio só exasperou ainda mais Sirius.

- Por que não nos contou?

Um minúsculo sorriso se formou no rosto de Lupin.

- Ah... É claro... – respondeu o garoto num tom que não parecia seu. – É que eu sempre me esqueço de dizer "Oi, o meu nome é Remus Lupin... Aliás, eu sou um lobisomem, muito prazer".

- Não brinque comigo, Remus! – exclamou o outro impaciente.

- Não fale como se o fato de eu ser o que sou não fizesse diferença, Sirius! Você tem noção do quanto foi difícil conseguir essa vaga? Se não fosse pelo professor Dumbledore, provavelmente eu nunca nem sonharia em estudar aqui!

Sirius tentou falar, mas Lupin o interrompeu.

- Você sabe tanto quanto eu o que significa ser um... – Remus precisou tomar um pouco de coragem para prosseguir. -... Um lobisomem no nosso mundo, mas... Sinceramente, o que queria que eu fizesse?

- Que tivesse confiado em nós! Mas, pelo que eu vejo isso nem chegou a passar pela sua cabeça, não é mesmo?

Remus não conseguiu mais olhá-lo nos olhos.

- Não – continuou Black alterado. –, você preferiu ficar bancando o bonzinho... O menino perfeito que nunca descumpre as regras! E que nas horas vagas gosta de dar lição de moral nos amigos!

Sirius perdeu o controle, não se importava mais se estava gritando, se o que estava falando tinha coerência ou não. Tudo o queria era que Remus sentisse toda aquela angústia pela qual vinha passando. Queria machucar o menino. Afinal, era por causa dele que estava se sentindo tão frustrado.

Remus ficou branco.

- Você não entende! – disse o licantropo com a voz falha – Eu... Pensei que nunca fosse me aceitar.

- Não entendo mesmo! Você mais do que ninguém deveria ter aprendido a não julgar as pessoas – continuou o moreno impassível. – Mas você não nos deu nenhuma chance! Nem chegou a pensar na possibilidade.

- Não... Sirius... E-Eu não podia arriscar... Eu não tive escolha.

- Não minta! Você fez o que achou mais fácil!

Essa frase mexeu profundamente com Remus.

- Não diga isso! – falou o menino com a voz trêmula. – Você não sabe de nada, Black!

Lupin empunhou a varinha, uma fúria inexplicável o possuiu.

- Não... Fale do que você entende.

A varinha do castanho soltou algumas faíscas prateadas enquanto o menino andava na direção do mais alto.

- Você não sabe... O que eu sinto todas as vezes que tenho que mentir pra vocês! – bradou o rapaz.

O licantropo agora estava tão perto de Sirius, que o moreno conseguia ver claramente a pequena cicatriz na bochecha dele.

– Não sabe o que é ter que ficar esperando todo maldito mês a lua cheia passar!

A voz de Lupin tremia mais do que nunca... Seu rosto estava vermelho e os olhos úmidos...

- Não é você que tem que contar os dias, Sirius! Torcendo pra que ninguém desconfie! Torcendo pra que ninguém te rejeite... – disse o lobisomem descontroladamente, encostando a varinha no peito do mais alto.

A cada palavra que Remus proferia, Black notou que alguma coisa dentro do garoto morria.

- Você não tem idéia, Sirius! Então, não venha dizer que foi fácil pra mim! Eu não me orgulho do que fiz...

Black ficou entorpecido, o desgosto com que Remus disse a última frase o perturbou.

Lupin olhou meio atordoado para Sirius, como se tivesse se dado conta de que estava praticamente ameaçando um amigo. Deu alguns passos para trás.

- Eu sei que eu fui um covarde... Eu sei disso...

Os olhos do castanho ficaram desfocados, o menino tentou conter uma lágrima com uma das mãos.

- Mas o que queria que eu fizesse? – indagou Lupin desolado.

Sirius se sentiu um completo imbecil. No final, não se tratava de confiança.

- Ninguém gosta de uma aberração, Sirius. – completou Remus miseravelmente.

- Não! Não... Remus... Você não é...

Black não conseguiu terminar a frase. Descobriu que não tinha nada para dizer.

O vento estava mais forte agora... A neve começaria a cair a qualquer momento... Mas isso não importou para os dois meninos.

Sirius continuou parado olhando para Lupin, que continuava com a varinha erguida, no entanto sua mão tremia tanto que duvidou que o castanho conseguisse segurá-la por muito tempo.

Então o moreno percebeu que nenhuma palavra iria amenizar a dor que seu amigo estava sentindo, por isso deu um passo a frente e começou a caminhar na direção do mesmo...

Não se tratava de confiança.

Tratava-se de um Remus que parecia ter pressa de aprender tudo o que conseguisse... Sempre tão esforçado... Como se não tivesse tempo suficiente...

De um menino que por muitas vezes soube o que dizer para acalmar os seus mais sombrios pensamentos...

De alguém que fazia Sirius se sentir sortudo por poder voltar à escola.

Foi por ter certeza disso que Black passou os dois braços pelas costas do garoto, envolvendo-o num abraço desajeitado.

Lupin ficou paralisado, o braço ainda estava erguido por baixo do de Black, a varinha apontando para o nada.

Sirius intensificou o abraço puxando o castanho para mais perto de si. Sentiu o coração do menor bater rapidamente contra o seu peito. Com uma das mãos fez Lupin encostar a cabeça em seu ombro. Esperou até sentir a respiração dele em seu pescoço e disse:

- Nós nunca vamos te abandonar, Remus.

Diante desse gesto tão inesperado de Black, Lupin deixou a varinha escorregar de seus dedos, que agarraram as vestes negras do mais alto.

Finalmente se sentiu livre para dizer:

- Me desculpe... Me desculpe, Sirius...

Sirius ouviu a voz abafada de Remus. O corpo do licantropo tremia. Começou a afagar seus cabelos numa tentativa de fazê-lo relaxar.

- Eu fiquei com medo... Me desculpe... Eu não queria...

Remus não conseguiu mais segurar as lágrimas.

- Eu pensei... Que vocês fossem... Me deixar... – disse, soluçando. – Eu não sabia o que fazer.

Lupin queria explicar. Tinha que esclarecer as coisas.

- Eu...

- Nós nunca vamos te abandonar, Remus. – repetiu o moreno com firmeza.

Remus só ouviu o que Sirius disse em seguida graças à pequena distância que os separava.

– Eu nunca vou te deixar...

E foi justamente por dizer isso tão baixinho que Lupin, enfim, se sentiu absolvido.

O silêncio que preencheu o lugar foi acolhedor. Remus conseguiu se acalmar, e Sirius sentiu a respiração do castanho diminuir.

- Ah... Até que enfim!

Os dois grifinórios deram um pulo quando ouviram a voz de James. O menino saiu detrás de uma enorme árvore.

- James? O que... – disse Black, se separando de Lupin.

- Ah! – disse Potter com uma voz sedutora. – Nós nunca vamos te abandonar...

O de óculos riu antes de prosseguir.

- Cara, você quase me emocionou. Eu juro que peguei até um lencinho...

Lupin secou o rosto com as mãos rapidamente.

- Filho de uma mãe! – exclamou Black. – Você estava espionando a gente esse tempo todo?

- Não só eu... O Pete também...

O gordinho, que estava escondido atrás de uma árvore, caminhou até os amigos. Remus olhou para ele com apreensão. Sirius e James se entreolharam.

Peter estava um pouco abatido. Era visível que algo tinha abalado o loiro.

- Peter... Eu... – começou Remus.

Pettigrew sorriu. Não foi um sorriso grande, muito menos bonito. Mas foi um sorriso sincero. O suficiente para Remus. Potter e Black riram. Mais por alívio do que por achar graça.

- Sirius, meu caro, tão tolinho... Achou mesmo que eu deixaria você vir atrás do Remus, sozinho? – perguntou James descrente. – Faz-me rir!

- Desde quando estavam vendo? – indagou o moreno, tentando não demonstrar preocupação.

Potter riu com vontade e saiu correndo em direção ao castelo.

- Hey, volte aqui! – disse Black, correndo atrás do menino.

Peter e Lupin observaram por alguns instantes os dois correndo desembestados e os seguiram.

oOOoOOoOOoOOo

Quem olhasse para a cama de Romulus naquela fria manhã, possivelmente se perguntaria por que a cama de uma pessoa tão conhecida por sua organização e esmero estava tão bagunçada e cheia de pergaminhos.

Depois de ser a única pessoa com a qual Remus se sentia capaz de desabafar. Naquele ano haviam sido muitas as cartas que o castanho tinha enviado.

Por vezes Romulus se perguntou se tinha tomado a decisão certa deixando seu irmão ir sozinho para Hogwarts. Com o passar do tempo, suas cartas tinham se tornado capaz de transmitir a Romulus toda sua aflição.

Entretanto aquela manhã a mensagem que havia chegado da Inglaterra não se parecia nada com as anteriores, pois era apenas um pequeno pedaço de pergaminho, que continha algumas poucas palavras, visivelmente escritas com pressa.

Romulus releu a carta de seu tão querido irmão pela centésima vez antes de dobrá-la e guardá-la na escrivaninha.

Seu esforço não tinha sido em vão...

Agora tinha certeza que o garoto que uma vez o surpreendera falando que não fazia parte de nada, enfim, tinha encontrado seu lugar.

Continua...

Olá o/ (Vai ser um pouco grande gente... Bem, pra quem chegou até aqui vai ser moleza!)

Sobre a fic.

- Não brinque comigo, Remus! – exclamou o outro impaciente. (Eu juro que se o Sirius tivesse falado isso para o Remus mais uma vez, eu esqueceria que eles só têm 12 anos e partiria para um lemon XD) Idem para quando o Remus chama o Sirius de 'Black!' – É tão pornô!(só na minha mente insana ¬¬)

O.o na parte do abraço... Eu quase me deixei levar... Tive que recorrer ao James... Ele me salvou... Ele é uma coisa fofa, não é?

Nossa... Hoje, se não me engano, faz um mês e meio que eu comecei a publicar essa fic... E OMG esse capítulo quase que não sai minha gente... Vocês não têm noção do quanto eu penei para escrevê-lo... Tipo... Ele foi resultado de duas madrugadas e uma noite... O problema é que o intervalo entre eles foi quase de um mês... Eu simplesmente travei no final, nas últimas duas páginas eu demorei mais de uma semana... Minha inspiração tirou férias e me lascou... haha. E como eu não consigo sossegar até terminar uma coisa inacabada, minhas horas no computador foram resumidas a Moony sentada olhando pra tela do pc e dizendo (Putaqueopariu! Eu quero escrever!Escrever! Eu perdi a mão!Ferrou! Ferrou! ) #depressão#

Desculpe tomar o tempo de vocês com isso ¬.¬

Agora aos agradecimentos...

Obrigado pelas dicas de fics sobre Regulus/Snape... Eu tive a oportunidade de ler algumas e elas eram realmente excelentes!!

DW03: Eu já tinha começado a ler "Velas Negras'', mas na época ela estava nos primeiros capítulos e como eu não tinha gravado (eu sou usuária do ff (ponto) net a pouco tempo) acabei perdendo as atualizações... Valeu pela sugestão!

Uma menina (que me foge o nick agora, perdão...) do Três Vassouras me indicou uma da Dana Norram 'A Fábula do Corvo e o Pequeno Rei'... Eu procuro palavras para descrevê-la, entretanto, receio não ter encontrado nenhuma... Leiam e vocês me entenderão...

Obrigado pelos comentários de todas (Yume, DW03, Lis, Oluha ) E para as que comentaram em off também

E um super hiper ultra obrigado a essa pessoinha abençoada que caiu do céu para betar a minha fic: Condessa Oluha (acreditem se essa fic ficou mais legal de se ler, uma boa parte da culpa é dela!!!) Que corrige meus errinhos esdrúxulos e ainda me dá altos toques XD Putz... Eu estava toda feliz que tinha melhorado em relação ao 'mas' a que ficou orgulhosa com o seu comentário aí me vem as reticências i.i (Eu sempre tenho que ficar viciada em alguma coisa? XD) Hahaha

Pra terminar... Um trecho (comentado) que me rir a lot.

'Peter estava um pouco abatido... Era visível que algo tinha abalado o loiro... (Nota da Oluha:'algo'? Moony vc tá sendo boazinha, o moleque descobre que o amigo, companheiro de quarto é um monstro que devora gente! O moleque deve é estar quase fazendo nas calças! )'

É isso pessoal... Até o próximo capítulo (é... essa é uma looooong fic ela vai até Sirius ser preso, mas eu vou me conter... no máximo dois capítulos para cada ano)

Inté o/ (Não se esqueçam de deixar uma review e fazer uma pessoa feliz XD)

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