Nota: Os personagens de Saint Seiya não me pertencem, pertencem ao mestre Masami Kurumada e empresas licenciadas.


Wellcome!

Como o prometido, cá estou com uma nova fic a qual escrevi com muito gosto e que dedico a Margarida, um presente atrasadíssimo de aniversário... rs

Sejam bem vindos a mais essa fic, a primeira de muitas, nessa minha nova etapa como ficwriter. Espero de coração que curtam e se divirtam com a leitura!


Muito Bem Acompanhada

Capítulo 1: O vizinho

I – Sonho de uma noite de verão

Sentia o corpo todo dolorido como se um tufão houvesse passado sobre si. Abriu os olhos demorando a se acostumar com a claridade. Os cálidos raios de sol adentravam por entre as frestas do teto improvisado de folhas secas e pareciam lhe acariciar, como se estivessem lhe chamando, despertando-a para a vida que despontava com o amanhecer.

Estava numa cabana e pelas folhagens que via no teto, palmeiras, certamente estaria numa praia; ela constatou, tendo como confirmação o ressoar calmo das ondas que se quebravam na orla da praia.

Mas como chegara até ali afinal? –ela indagou-se sentindo a cabeça latejar. Não se recordava de nada, sua mente parecia um imenso vazio onde só havia aquela cabana. Ao seu lado direito tinha a vista do mar e as areias brancas da praia, através do que poderia ser chamado de "porta". A cabana não tinha portas ou janelas, somente aquele leito improvisado onde repousava e as paredes que a cercavam, iguais ao teto um emaranhado de folhas e cipós cerzidos. Remexeu-se sobre as folhagens tencionando se levantar, mas nesse exato momento sentiu braços fortes a impedirem...

-Estás bien?

A voz grave e masculina chegou-lhe aos ouvidos. Piscou os olhos repetidamente até que vislumbrou um par de orbes castanhos e intensos sobre si. Estranhamente sentiu um arrepio correr-lhe o corpo todo.

De onde ele havia surgido?

-Estás bien?

Ele voltou a indagar e tudo mais o que disse ficou perdido no espaço. Não entendia o idioma o qual falava, apenas uma palavra ou outra do sotaque extremamente carregado. Era espanhol; constatou.

Mas...

O que estava fazendo perdida numa ilha, sem memória, vestindo um vestido alvo e todo rasgado junto de... Uma bela demonstração do sexo oposto? Não conteve o pensamento insano diante do rosto, lábios e corpo bem talhado do rapaz que vestia apenas uma ínfima calça beije.

Repentinamente, uma estranha sensação lhe invadiu.

Empurrou-o com toda a força que tinha e desesperada, pôs se a correr para fora da cabana. Não havia explicação lógica para aquilo tudo; pensou.

O ouviu gritar algo que entendeu como se pedisse para esperar, porem a reação foi exatamente contrária. Correu ainda mais.

O que era aquilo tudo afinal? Estava ficando louca, desesperada, correndo, fugindo sem saber pra onde. Só havia a imensidão do mar à sua frente e areia. E como um turbilhão, agora tudo vinha à tona... Um navio, pessoas... Uma tempestade.

A causa do vestido branco. Seu casamento. Viajara num cruzeiro rumo às ilhas gregas e agora não havia mais nada além daquela ilha e do seu estranho nativo.

Mais uma vez os braços fortes...

-Me solta; Ela gritou desesperada ao sentir-se presa nos braços do desconhecido da cabana.

-Espera, oye…; Ele pediu sentindo-a se debater, empurrando-o e estapeando-o com ambas as mãos deixando as marcas das unhas compridas sobre seu peito. Yo te encontré en el borde de la playa, tu estabas muy herida, y…

-Me solta; Ela gritava ensandecidamente sem conseguir entender o que ele dizia, não sabia se pelo idioma diferente ou pelo desespero que a tomava.

Porem, seu desespero seria sucumbido.

Repentinamente sentiu seus lábios serem tomados pelo do rapaz. Gemeu diante do toque quente e impetuoso e se debateu durante alguns instantes, resistindo a aquela investida, no entanto, isso não fora possível. Os lábios cálidos, macios, moviam-se de forma inebriante, lasciva, enquanto as mãos grandes percorriam-lhe as costas de forma possessiva, apertando-a de encontro a si.

Irresistivelmente entreabriu os lábios, dando-lhe passagem para que pudesse aprofundar a carícia e as mãos que outrora se debatiam agarraram-se aos ombros fortes como se precisasse de apoio, diante daquele torpor que lhe invadia, enquanto se deliciava com a língua que a acariciava e a consumia.

Um longo gemido escapou dos lábios da jovem.

Ouvia as incessantes batidas das ondas a se chocarem contra a orla da praia, o cheiro de maresia a lhe entorpecer junto ao calor daquele beijo, das mãos e daquele corpo que parecia moldar-se ao seu.

Não tinha mais controle sobre si. Não sabia mais quem era, o que devia, o que não devia fazer. Só havia aquele momento a obliterar qualquer pensamento coerente em sua mente, o desejo que os movia e quando deu por si já estavam ambos a se entrelaçar sobre a areia. Sentia o corpo musculoso moldando-se ao seu, suas mãos grandes a vagarem por seu corpo e seus lábios que por fim haviam cessado aquele beijo, a deixarem uma trilha ardente por seu pescoço e queixo , contornando-lhe as maçãs do rosto indo deter-se na curva do pescoço.

Cravou as unhas sobre os ombros do rapaz e não conteve um longo gemido, ao senti-lo mordiscar-lhe o lóbulo da orelha. O toque quente e provocante de sua língua a percorrer aquele ponto sensível.

-Te deseo...

Ela o ouviu murmurar enrouquecidamente ao pé do ouvido, minando-lhe todas as forças e repentinamente um vórtice colorido pareceu sugá-la para uma dimensão diferente...

Ele sumira. As ondas, o mar, a praia. Tudo desaparecera como que por obra de bruxaria. Despertou. Estava num quarto entre lençóis alvos e macios, cheirando a lavanda.

Não havia areia. Não havia mar e nem cabana e... Muito menos ele; constatou, fitando o teto durante alguns instantes.

O que fora aquilo? Ainda sentia o coração acelerado e se fechasse os olhos, sentira aqueles lábios macios também.

Porem não precisou de mais que meio minuto para entender e de acelerado, seu coração passou a bater desesperado...

O "piiipiii" ensurdecedor do velho despertador chegou-lhe aos ouvidos. Por que raios não trocava aquela velharia por algo digital, algo que a despertasse e não a matasse de susto todos os dias? –Indagou-se a jovem antes de se voltar para o criado e praticamente golpear o despertador.

-Foi um sonho...; Ela suspirou. –Um sonho maravilhoso e... Uhg? –A jovem fez uma careta, meio enojada. Estava toda... Lambida? –RAMÓN!!!

Ela falou de forma, enérgica, pra não dizer colérica antes de se voltar para o lado esquerdo da cama. O pequeno yorkshire a fitava com os olhinhos brilhando, tal qual uma criança que acabava de fazer uma travessura e se divertia com isso. Antes que fizesse alguma coisa, viu o cãozinho se jogar sobre e si e voltar a lambê-la.

-Uhg? Sai Ramón, que nojo...; Ela disse tentando afastar o bichinho que insistentemente tentava lamber-lhe o rosto e a orelha.

-Bela forma de começar o dia; murmurou por fim cessando os "acessos" do bichinho e se levantando.

-Acordar de um sonho, bem...; A jovem corou antes de continuar. –Por Zeus, nunca mais assisto Lost à noite! Deprimente. Sonhar com um deus grego, ou melhor, espanhol e despertar com as lambidas de um cachorro? Ah que ponto você chegou Lara Petrakis...

Sob o olhar triste do bichinho que estranhamente parecia ter se "ofendido" com o comentário a jovem caminhou até o banheiro no lado esquerdo do quarto. Caminhou até a pia enchendo as mãos de água e levando-as ao rosto. Os grandes e expressivos orbes castanhos se fitaram demoradamente no espelho.

Há quanto tempo aquilo estava acontecendo?

A resposta era óbvia. Desde que, ele, chegara.

Ele, o novo vizinho, Shura Duero. Um belo espanhol, alto, moreno e sarado que tinha que vir morar justo ao seu lado...

Não que isso fosse ruim, ao contrário, o ruim era que muito pouco o via. Só o via em duas ocasiões, ou melhor, três. À noite, quando saía todo perfumado e bem vestido e depois de manhã bem cedo no dia seguinte entrando no apartamento. E a terceira, era quando o porteiro vinha lhe trazer alguma encomenda ou conta, coisas do tipo.

Parecia que um clima de mistério rondava em torno do novo vizinho, algo que nem mesmo o casal maravilha do apartamento ao lado havia descoberto. O casal gay vivia entre "juras de amor", declarações, flores, mas a cada pulada fora que o italiano dava...

É bem, talvez não fossem tão maravilhosos e perfeitos assim, como dizem que os casais gays são, já que Vicenzo adorava uma loira siliconada ao estilo Pâmela Anderson e sempre tirava a sua "Flor" do sério. Afrodite surtava a cada deslize do companheiro e em meio a esses surtos – Muita briga, gritaria, com direito a jogar as roupas do namorado pela janela – resolvera que nada melhor do que pagar na mesma moeda. Era aí que entrava o novo vizinho.

Por acaso havia melhor forma de enciumar o namorado do que sair com um homem lindo? Um candidato à altura? Que chegava a fazer o atual ficar no chinelo? Assim pensava Afrodite, e a exatos dois meses que o novo vizinho havia chegado, em meio a mais uma das crises conjugais com Vicenzo, Frô, achou que não faria mal algum tentar uma aproximação.

No entanto, o plano furou. Três meses haviam se passado e tudo o que conseguira fora descobrir o nome do vizinho, agora completo: Shura García Duero. E devia estar satisfeito porque conseguira mais do que qualquer pessoa do prédio havia conseguido até então. Mas talvez a decepção de Afrodite fosse por um outro motivo... Descobrir que o novo vizinho era hétero.

Certo dia saindo para o trabalho sem querer ouviu uma conversa de Frô com um amigo... Amigo?

Ou seria... Amiga? Não soube definir quem era "a loira".

"-Ah Misty, tu num acredita, mas... Lembra do vizinho gostosão que te falei?".

"-O espanhol?".

"-É. Acredita que aquela gostosura gosta de mulher? Eca! –Afrodite torceu o nariz.".

"-Que desperdício; Completou Misty fazendo uma careta de reprovação.".

"-Pois é, esses dias tava saindo pra ver se encontrava o Vicenzo e...".

"-E? Brigaram de novo? Melhor dizendo, você tava vigiando o bofe de novo, né? Dite, Dite...; Misty sorriu debochado.".

"-Digamos que as duas coisas, mas o fato é que... Acredita que tava saindo aqui de casa eram umas três da manhã, eu acho e... Adivinha? Quem eu encontro em frente ao prédio a ponto de engolir a língua de uma patrícinha, dentro de um carro importado?".

"-Mentira...; Misty levou ambas as mãos até a boca num gesto de surpresa.".

"-Que nada era ele... E te juro, acho que nem o Vicenzo nunca me deu um beijo daqueles, nossa e... Espera! –disse Afrodite, repentinamente levantando-se do sofá e indo até a porta semi-aberta. –Não sabia que ouvir a conversa dos outros é falta de educação mocréiazinha?".

Dito isso Frô fechou a porta literalmente em sua cara e infelizmente, não soube mais nada a respeito de Shura Douro e a sua provável namorada do carro importado.

Aquilo estava indo longe de mais, como lhe dissera Marin . Sonhava com ele praticamente todas as noites e a cada sonho descobria que não havia limites para a sua loucura, prova disso era o sonho que havia acabado de ter. Isso sem contar o ciúmes que sentia da tal patricinha do carro importado. Tinha vontade de estrangulá-la.

Balançou a cabeça para os lados, tinha que tentar esquecer essa obsessão pelo vizinho. Ele era lindo e o clima de mistério em volta de si só o tornava ainda mais interessante, porem, ele tinha namorada, então era melhor esquecê-lo de uma vez antes que se machucasse de verdade.

Suspirou resignada. Levou as mãos pálidas até os cabelos que não iam mais que os ombros, e atou-os num coque solto, prendendo-os com uma presilha.

-Você tem que esquecer Shura Duero! Tem que esquecê-lo e...; Lara foi entoando o mantra enquanto caminhava até o quarto, até que ouviu a voz conhecida e arrastada do porteiro do lado de fora.

"Encomenda para o senhor, Senhor Duero...".

Era a sua chance; pensou. Uma das poucas chances de vê-lo novamente. Esquecendo completamente a promessa feita a pouco, Lara, pois se a procurar qualquer coisa para se vestir antes de abrir a porta do apartamento. Achou uma camiseta velha que havia pertencido ao ex-namorado, mas o que importava isso agora? Vestiu-a e parecia ter vestido um longo e largo vestido.

Mas isso definitivamente não importava, afinal como todas às vezes abriria apenas uma pequena fresta na porta para observá-lo sem que pudesse lhe ver. O que não podia era sair só de roupas intimas, mesmo que até a fresta da porta.

Correu até a porta e com cuidado abriu uma pequena fresta. Frustrada deparou-se com o corredor vazio e o porteiro entrando no elevador.

-Droga; ela praguejou abrindo a porta por completo e só então reparou que a porta do vizinho estava semi-aberta.

Certa vez, disseram que a curiosidade matou o gato, porem... Não era um gato e também não era o tipo de mulher que se achava bela o suficiente para ser chamada de "gata". Era uma garota normal e nada mais. Talvez não tão normal assim, mas o fato era que, não faria mal espionar o mundo sigiloso do vizinho, mesmo que por alguns instantes; pensou.

Pé, ante pé, agora sim, agindo como um felino, a jovem se aproximou da porta ao lado e conteve um suspiro... Suspiro? Um gritinho de surpresa diante da cena que tinha frente a seus olhos.

Via através da porta semi-aberta a silhueta daquele que povoava seus sonhos...

O rapaz vestia apenas uma cueca boxer branca, e alheio aos olhares cobiçosos da jovem do lado de fora, que tentava nem ao menos respirar, mantinha os olhos fixos em um pedaço de papel, a carta que havia acabado de receber do porteiro.

"Zeus... Eu tenho que sair daqui... Eu tenho que sair daqui... Eu tenho que sair daqui...".

Lara entoava em pensamentos, porem sentia-se incapaz de mover um só músculo, não sabia se por medo de ser flagrada ou pelo simples fato de estar tão fascinada pela cena diante de si que pouco se importava com o que acontecesse.

"-Carmem? Es la tercera carta que mí manda esto mes...".

Ela o ouviu dizer claramente, enquanto balançava a cabeça como se estivesse contrariado. Mas, quem era Carmem? Imediatamente sentiu uma veinha saltar-lhe na testa. Já não chegava a patricinha do carro importado pra lhe atormentar? Agora tinha que ter fã clube também?

-Droga; ela praguejou baixinho ao ver que enquanto surtava, imaginando formas lentas e dolorosas de eliminar as possíveis "rivais" ele havia sumido de vista.

Há onde ele estava? –Ela indagou-se ao se deparar apenas com o pedaço de papel amassado e jogado sobre o chão. Apertou os olhos tentando ver algo mais que a porta aberta no fim do corredor, mas a fresta deixada pela porta semi-aberta era deveras pequena.

-Chega de loucuras por hoje Lara; murmurou pra si mesma. Sua curiosidade estava parcialmente satisfeita e iria voltar para o seu apartamento, quando um ruído lhe chamou a atenção. Água.

Ouviu o conhecido som do chuveiro sendo ligado. Voltou-se para trás e com os olhos atentos na abertura deixada pela fresta, poder ver que daquela porta aberta no fim do corredor uma fina fumaça esbranquiçada se dissipava.

Definitivamente, estava ficando louca; pensou ao perceber-se cada vez mais próxima a porta, como se tivesse o intuito de entrar no apartamento do vizinho. E se alguém a visse? Porem aquele barulho de chuveiro e a pequena peça branca jogada próxima à porta do banheiro eram motivos suficientes para dar crédito a sua loucura.

Shura Duero, estava no banho... Por Zeus! –Ela pensou enquanto inclinava-se de encontro à porta, até praticamente encostar a cabeça na fresta.

Se ele aparecesse, era só correr e se trancar em seu apartamento; ela pensou e nesse mesmo instante sentiu o sangue se enregelar. Sentiu o toque quente de uma mão se fechar em seu ombro e esquecendo completamente da "situação" em que estava, gritou voltando-se para trás com brusquidão perdendo o equilíbrio e indo ao chão.

-Marin?

-O que pensa que esta fazendo Lara? –A ruiva indagou com ambas as mãos apoiadas na cintura, fitando o rosto lívido da amiga.

-Marin, por Zeus quer me matar do coração? –Indagou Lara levando ambas as mãos ao peito, onde sentia o coração dar pulos. –E, chio! –Pediu a jovem levando o indicador aos lábios em pedido de silêncio. –Fala baixo, quer que ele descubra que tem uma vizinha psicótica e pervertida? –Apontou para a porta.

-O que? –Exasperou a ruiva, os grandes orbes azuis arregalados.

-Calma; disse Lara, enquanto se levantava ajeitando a longa camiseta. –Isso pode lhe fazer mal; continuou levando uma das mãos ao ventre da outra, que roliço, não escondia os sete meses de gravidez. –Não quer assustar o pobre baby Leo logo pela manhã, quer?

-Lara; Marin falou pausadamente em tom de reprimenda. –O que estava fazendo? Estava espiando o vizinho e... De novo? –Ela completou incrédula.

-É, bem, eu...; A jovem balbuciou sem jeito, desviando o olhar. -Como vão os preparativos pro casamento? Hein? Me conta vai? –Mudou de assunto.

-Vim lhe trazer o convite, chegaram ontem à noite. Era para terem chegado há uma semana, antes de Aiolia viajar, mas houve um atraso na gráfica e...; A ruiva ponderou. –Mas, não mude de assunto! Que história é essa de vizinha psicótica e pervertida?

-Longa história... Sonhos proibidos de uma maluca carente, após assistir Lost ontem à noite, com direito a uma cena...

-Como? –Interpelou a ruiva. –Não vai me dizer que...

-É sonhei com ele de novo...; Murmurou sem jeito. –Eu sei é loucura, mas acredite você não tem um vizinho misterioso e sarado que anda de cueca boxer pela casa...

-O QUÊ? –Exasperou a ruiva.

-Buonas díaz; uma voz masculina se fez presente.

Eu morri; Pensou Lara, sentindo o chão sumir sob seus pés, fechando os olhos e torcendo pra aquilo ser mais um sonho absurdo e sem sentido. Mas não era. Abriu os olhos e, ele, estava lá.

-Perdón, estava en baño, más ouvi gritos. Alguno problema?

-Não é que; começou Marin tentando se justificar enquanto a amiga permanecia estática tal qual uma estatura de mármore a fitar o rapaz parado em frente à porta, vestindo apenas uma calça cinza e leve, com uma toalha sobre o ombro.

Estava no banho? E era preciso que dissesse isso? –Indagou-se a jovem com os olhos cravados no tórax musculoso do rapaz que conversava distraidamente com a amiga. Parecia ser talhado a mão, pelo mais exímio dos artistas; pensou enquanto via as finas gotículas de água respingarem dos cabelos molhados do rapaz e deslizarem pelo abdômen definido.

-Então, não houve nada não, é que Lara estava...

A jovem ouviu a voz da amiga tentando se justificar e então partiu pra uma atitude extrema.

-Procurando minhas lentes de contato; Ela exasperou indo ao chão e tateando-o cegamente. –Ah, achei! –Levantou-se rapidamente segurando a "lente" entre os dedos. –Era isso... Pronto Marin, já podemos entrar e perdão pelo incomodo senhor, senhor...; Balbuciou desesperada sem saber o que dizer, enquanto arrastava a amiga pelos braços.

-Shura. Puede mí chamar de Shura; ele disse.

-Está bem, Shura, mais uma vez perdão pelo incomodo e tenha um bom dia; Disse Lara enquanto arrastava de vez a amiga pra dentro do apartamento.

-Buonas díaz; Respondeu Shura balançando a cabeça para ambos os lados antes de entrar em seu apartamento.

II - Confissões

-Que história maluca foi essa? –Indagou Marin enquanto se sentava sobre a cama desarrumada. O pequeno yorkshire se entretia mordendo um par de pantufas ao pé da cama, coisa que passava de todo desapercebida pelas jovens.

-É eu sei foi ridículo, não foi? –Lara rolou os olhos para cima. Ainda lhe custava acreditar que havia feito aquilo. –Lentes de contato? Que desculpa mais esfarrapada e...

-Não me refiro a isso; Marin cortou a amiga. –E sim a essa sua obsessão pelo vizinho. Ta certo que, por Zeus, ele é mais bonito do que você havia me falado, mas isso não justifica a forma como você tem encarado isso tudo. Morre por ele, sonha e quando finalmente o vê cara a cara só falta se jogar do vigésimo segundo andar? Ainda bem, que você mora no segundo andar...; A ruiva completou olhando para a janela.

-Você não entende, ele tem a patricinha do carro importado e agora tem a tal da Carmem também...; A jovem murmurou frustrada enquanto se jogava sobre a cama com um olhar desolado.

-O que? Agora até com rivais imaginárias você sonha é isso? Lara, me conta essa história direito e...

-Eu sei, sou uma desequilibrada, mas não tire suas conclusões ainda... Tem mais;

-Mais?

-Dessa vez sonhei com o seu cunhado também...

-Aiolos? –A ruiva indagou surpresa. –Mas Lara, eu, você, Aiolia e Aiolos somos amigos desde crianças... Não vai me dizer que agora deu pra fantasiar com ele também?

-Me casei com ele essa noite; Lara respondeu fitando o teto, sem perceber o olhar chocado da amiga. –E detalhe, o trai com o vizinho...

-O QUÊ?

-A história é longa, melhor nem querer saber qual foi a loucura da vez...; A jovem respondeu sentando-se e se voltando para a amiga.

-Ao contrário, faço questão de saber e não se preocupe tenho todo tempo do mundo; respondeu Marin.

-Como quiser, só me prometa uma coisa, que jamais vai contar isso pro Aiolos, ou melhor, pro Aiolia... Depois dessa que me aconteceu com o vizinho, acredite, não seria nem mesmo justo passar por outra saia justa desse tamanho, já me constrangi demais.

-Está certo, mas porque não contar pro Aiolia? Acha mesmo que conto sobre nossas conversas pra ele e...

-Casais contam tudo um para o outro e acha mesmo que o Aiolia não contaria pro irmão que eu ando fantasiando com ele? –Lara arqueou a sobrancelha.

-Anda fantasiando? –A ruiva exibiu um sorriso maroto. –Quer dizer que não é a primeira vez que isso acontece?

-É, mas desde que o vizinho... Espera; ponderou Lara ao ver o sorriso maroto ainda a brincar nos lábios da amiga. –Se continuar com esse risinho, juro, que nunca mais conto as minhas maluquices pra você!

-Está certo, desculpa, mas é que essa de fantasiar com o Aiolos é nova, nunca tinha me dito isso antes; Marin sorriu divertida.

-Isso foi tudo o que pude ter dele, já que ele nunca passou de um sonho pra mim...; Lara respondeu com um olhar vago.

-Gostou muito dele não foi? –Indagou Marin, mas agora voltando ao tom sério. Sabia da paixão platônica da amiga pelo cunhado desde o colégio, mas que no fim de tudo nunca havia passado de bons amigos. Só não sabia que isso perdurara durante os anos, mas a julgar pelo brilho triste a tremeluzir nos orbes da jovem...

-Demais; Disse Lara voltando-se para a ruiva e tirando-a de seus pensamentos. –Mas isso é passado e, lembra? O nosso alvo é o vizinho tudo de bom...

-Ta certo, voltemos ao Casa Nova então...; Sorriu Marin.

-Casa Nova não, Casa Nova era italiano e Shura é espanhol. Don Juan combina mais com ele; Lara sorriu divertida.

-Está bem, Don Juan; Marin se corrigiu e ambas engataram uma gostosa e divertida conversa.

Continua...

o-o-o

N.A.: Douro ou Duero em castelhano, é um rio que nasce no centro-norte da Espanha na província de Sória e atravessa o norte de Portugal. Segundo a história o seu nome deriva do seguinte: "-Nas encostas escarpadas, um rio banhava margens secas e inóspitas. Nele rolavam, noutros tempos, brilhantes pedrinhas que se descobriu serem d´ouro.". Daí o nome dado a este rio: Douro ou Duero.