Capítulo XXXII – Tudo sobre nós
Hiashi contemplou o pequeno lago que ficava ao lado de seu quarto. A manhã estava fria e úmida, o que prenunciava que o outono seria um pouco desconfortável. Estava na hora de procurar um marido para Hinata, pensava ele. Alguém que pudesse arrancar-lhe todo aquele amor tolo que a menina possuía por Naruto. Mas, desconfiava ele, aquilo seria uma missão um pouco difícil. Já pensara em toda Souke, e era difícil ver alguém rapaz que realmente pudesse ter a força necessária para lutar pelo amor de Hinata. Havia muitos que dariam tudo para ficar com ela, é verdade. Mas estes estavam mais interessados no cargo que ela exercia que em sua pessoa. E, apesar de tudo, não desejava para ela o mesmo casamento arranjado providenciado pelos seus pais, mesmo que ele tivesse sido extremamente feliz nesse matrimônio. Era nessas horas que invejava seu irmão. Ele pode escolher com quem casar, enquanto o outro se resignou a seguir o que a família queria.
"Se ao menos Neji fosse da Souke..." pensou Hiashi "Poderia casar com Hinata e se tornar o par perfeito para guiar os Hyuuga... Hizashi... Você odiou a Souke mais que tudo, e no final, quem gostaria que você pertencesse a ela sou eu...".
Quando terminou seu chá e já pensava em se levantar para ir ao escritório, alguém bateu na porta.
- Entre. – ordenou ele.
Umi abriu a porta de correr ajoelhada. Tinha a cabeça baixa e parecia nervosa.
- Hiashi-sama... – pronunciou ela com a voz trêmula.
- Estou ouvindo. – disse ele com uma leve irritação insinuando em seu interior.
- Hinata-sama não está em seu quarto...
Mesmo apertando fortemente a xícara de chá, ele perguntou com a voz indiferente:
- Já a procurou pela casa?
- Em toda propriedade senhor. Mas não a encontramos... E... – ela se calou rapidamente.
- E? – inquiriu Hiashi.
- Sua cama estava arrumada... Como se não houvesse passado a noite lá...
Colocando a xícara no chão, Hiashi se levantou e passou rapidamente por Umi. Sem dizer nenhuma palavra, a garota o acompanhou. Pensava que se dirigiam ao quarto de Hinata e se surpreendeu quando passaram direto por ele e foram até o quarto de Neji. Hiashi abriu a porta sem bater. Também estava vazio.
- Neji-sama esteve em casa essa noite. – esclareceu Umi surpresa – Não acho que ele tenha algo...
- Então você não passa de uma idiota, Umi. – decretou ele – Minha filha não sairia de casa dessa forma se não tivesse quem a encobrisse. Seja sincera, Neji não agiu de forma estranha? Não impediu alguém de ir ate o quarto de Hinata?
Constrangida, ela abaixou a cabeça.
- Hinata-sama me pediu um chá logo que anoiteceu. – admitiu ela – E Neji-sama fez questão de leva-lo.
- E depois? Você viu Hinata depois disso?
- Não senhor. Neji-sama disse que ela não estava bem, e que pedira pra não ser incomodada.
"Menino esperto... Aproveitou que ninguém contesta suas decisões e encobriu a fuga de Hinata... Para quê... Espere... Mas é lógico!"
Hiashi fechou a porta do quarto e se encaminhou para a saída da casa. Mas não precisou ir muito longe. Tão logo chegou à varanda, viu Neji caminhando de volta para casa tranquilamente. Seus olhos estavam tão fixos no rapaz que somente momentos depois viu quem vinha logo atrás dele. E sentiu seu sangue ferver. Esperava uma afronta a algum tempo vinda daquela pessoa, mas nunca daquela forma, pois, atrás de Neji, Naruto caminhava de cabeça erguida ao lado de Hinata e de mãos dadas com ela. E, para completar a cena inusitada, Tsunade também fazia parte do cortejo.
Umi observou tudo chocada e olhou rapidamente para Hiashi. Sua expressão estava inelegível. Não precisava ser um gênio para saber que em breve um duelo de vontades seria travado dentro do clã Hyuuga.
Tsunade ficou muito preocupada com a decisão de Naruto em procurar Hinata. Com certeza no estado que ele ainda se encontrava, seria muito fácil fazer uma grande besteira e acabar atraindo mais ainda a antipatia do clã Hyuuga para cima dele. E para completar seus planos de torná-lo seu sucessor, Naruto não podia possuir nenhuma indisposição de nenhum clã, principalmente de um tradicional como era o de Hinata. Afinal, mesmo que a garota fosse a líder, ainda havia um conselho por trás dela e, o mais perigoso de todos, Hiashi. E conhecendo o passado dele como ela conhecia, Hiashi iria procurar uma forma de prejudicar Naruto e evitar que aqueles dois ficassem juntos.
E foi pensando nisso que, tão logo Naruto deu as costas, ela se voltou para Sasuke e ordenou:
- Volte agora mesmo para a sede da anbu e providencie alguém para ficar de olho em Neji. E quando estiver claro que Naruto entrará no clã Hyuuga, eu serei avisada imediatamente.
E assim foi. Um anbu foi colocado para seguir Neji, e Tsunade soube que o rapaz providenciara o encontro entre Hinata e Naruto. E quando Neji saiu do clã logo cedo para buscar os dois, a Hokage imediatamente soube da notícia e pode chegar à porta do clã antes deles.
Quando Naruto viu Tsunade esperando por eles na entrada da propriedade Hyuuga, olhou surpreso para Neji.
- Não sabia que você tinha avisado à vovó Tsunade, Neji. – comentou surpreso.
- Eu não avisei... – foi a resposta contrariada do rapaz.
- Tsunade-sama – falou Hinata num tom confuso – Por que a senhora está aqui?
- Não é obvio? Vim impedir o Naruto de fazer qualquer besteira. – sentenciou ela.
- Se a senhora acha que me impedirá de falar com o pai de Hinata, eu... – Naruto começou, mas foi logo interrompido.
- E quem disse que eu irei impedir? – indagou ela calmamente – Eu estou aqui para acompanhar você. Vim dar meu apoio Naruto. A menos que você não queira que eu me meta em sua vida...
Naruto não sabia se ficava surpreso ou agradecido. Claro que ele iria querer um braço amigo naquela hora. E sentia que Hiashi com certeza o levaria mais a sério na presença de Tsunade.
- Então vamos, Vovó Tsunade! – chamou Naruto empolgado.
E foi assim que os quatro entraram decididos pelos portões do clã Hyuuga.
Hanabi se encontrava sentada na varanda da casa principal, encostada em uma coluna de madeira, com seu olhar perdido fixado no nada. Sentia-se uma idiota. Uma grande idiota. Como não pudera ter percebido antes! Era obvio que Neji sempre tratara Hinata de forma especial! E agora, o ciúme que sentia se misturava à raiva e à frustração. Se ele realmente amasse sua irmã, o que poderia ela fazer? Não podia odiá-los. Mas também pensar em Neji com outra pessoa era doloroso demais. Tão doloroso que ela sabia que seria capaz de fazer uma grande bobagem se isso acontecesse. Como a que fizera na noite passada.
Instintivamente suas mãos tocaram os lábios, num gesto desesperado. Hanabi falara tão friamente com Neji, o acusara de traição e por fim o beijara. Podia ainda sentir as palpitações de seu coração. Tocara nele e sentira seu perfume. E se dera conta de que seu sentimento era muito maior do que ela mesma suspeitava. Então como iria encarar ele novamente? Como faria para conviver com toda aquela frustração que circulava em suas veias?
Enquanto lutava contra as lágrimas, sua cabeça repousava na pilastra de madeira da varanda. Não queria ver sua irmã também. A evitara durante todo o dia anterior e sabia que seria difícil de segurar toda sua raiva contra ela, mesmo que soubesse que Hinata jamais retribuiria Neji. Sua mente estava voltada para Naruto e, pela primeira vez, a menina se sentia satisfeita com a existência dele na vida de sua irmã. Seu egoísmo infantil se misturava ao seu amor de adolescente enquanto sua mente racional se encolhia diante da força das outras.
Burburinhos vindos do portão tiraram sua mente dessas inquietações. No primeiro momento não se importou com o que quer que fosse que causava aqueles murmúrios surpresos nos Hyuuga que por ali estavam.
- O que significa isso?
- O que pensaria Hiashi-sama?
- Qual a pretensão de Neji-sama?
Todavia, ouvir o nome de Neji falado entre as palavras de desdém a fez levantar a cabeça rapidamente. E qual não foi sua surpresa ao vê-lo escoltar decididamente ninguém menos que sua irmã, acompanhada de Naruto. Por último, mas não menos surpreendente, vinha Tsunade caminhando como se protegesse a retaguarda do casal.
Como se tivesse levado um choque, Hanabi se pôs em pé de um pulo. E quando a inusitada comitiva passou por onde ela estava, começou a acompanhá-los, contudo, o fazia pela varanda, enquanto os outros avançavam pelo jardim. Em nenhum momento conseguia acreditar no que via. Os passos serenos e devagar com os quais o grupo caminhava, dava a sensação de sobriedade e coragem.
Com os olhos fixos em Neji, Hanabi procurava uma resposta para aquele ato. E começou a perceber que aquilo não condizia com os sentimentos que, em sua opinião, habitava Neji. Ela sabia que ele nunca seria o tipo de pessoa que abriria mão da própria felicidade pela de outra pessoa. Conhecia bem o suficiente dele para saber que, se ele amasse Hinata, não a entregaria a Naruto mesmo que ela não o amasse.
"Você se engana Hanabi" as palavras dele voltaram à sua mente "Eu não amo Hinata mais que amaria uma irmã...".
Então, seria verdade? Todas as atitudes deles não passaram de um profundo respeito e carinho que ele sentia por sua irmã? Por isso ele agora os levava calmamente em direção à entrada da casa principal? Queria uma resposta, um alívio para aquela sensação amarga que a incomodava desde o dia anterior. Mas eles nem pareciam reparar que ela os acompanhava timidamente da varanda.
Quando já se aproximavam de onde Hiashi estava, Hanabi se viu surpreendida pelos olhos de Neji que, mesmo sem mover a cabeça, fixou-se nela. Foi como se uma onda de choque percorresse seu corpo. Eles estavam distantes demais para falar qualquer coisa sem serem ouvidos, mas aquele olhar que ele lhe dirigiu abriu novamente as portas do coração de Hanabi. Não, ele nunca amara Hinata. Ele não mentira. Ali estava a prova, dentro da alma dele. E também havia algo mais. Existia algo por trás dos gelados sentimentos que habitavam nele, algum mistério que parecia que somente Hanabi poderia decifrar, se apossar e tomar para si. Porém, antes que ela pudesse fazê-lo, os olhos de Neji se desviaram novamente, na direção de Hiashi que os aguardava com uma expressão indefinida na face.
Um pesado silêncio se abateu quando a comitiva parou diante do ex-líder do clã. Em nenhum momento Hiashi dirigiu seu olhar à filha ou a Naruto. Encarou Neji durante alguns segundos e depois voltou sua atenção para Tsunade.
- Não sabia que a Hokage-sama se metia em assuntos amorosos como uma velha alcoviteira. – sibilou sarcasticamente.
- Não acho que esse seja o melhor lugar para tratarmos disso, Hiashi-kun. – devolveu Tsunade no mesmo tom.
Muitas pessoas do clã observavam estáticos à cena. Alguns inclusive já se posicionavam para um eventual combate, e somente esperavam uma ordem. Mas ela não veio. Hiashi observou Tsunade, que sustentou o olhar decidido. Depois deu as costas a eles, se dirigindo ao interior da casa sem falar uma única palavra.
Diante do ato, Naruto fez menção de falar alguma coisa, mas foi detido por Hinata, que apertou sua mão. Ela balançou timidamente a cabeça em negativa. Naruto só entendeu o porquê quando Neji acenou para os outros para que todos entrassem na casa.
- Hiashi-sama não pretende lidar com esse problema na frente de todo clã. – explicou ele numa voz baixa para apenas Naruto ouvir - Por isso, entrou na casa sem fazer nenhum estardalhaço.
Naruto entendeu imediatamente a situação. Iriam resolver suas diferenças dentro das paredes da casa principal da Souke. Sentindo que aquilo era um bom sinal, Naruto se encheu de coragem. Entrou de cabeça erguida e mãos dadas com Hinata, acompanhando Neji. Antes de entrarem na sala onde Hiashi os esperava, sentiu Tsunade tocar em seu ombro delicadamente e sussurrar:
- Lembre-se do que está em jogo aqui Naruto. – ela parecia temer por ele.
Mesmo satisfeito com a preocupação que ela lhe dedicara, Naruto sabia que aquelas palavras eram desnecessárias. Sua decisão já fora tomada e nada faria com que voltasse atrás em sua palavra. Afinal, aquele era seu jeito ninja de ser.
A sala onde todos se acomodaram era grande e espaçosa. Não havia um único móvel e Naruto sabia que devia se tratar de um lugar de extrema importância para a família. Parecia ser o tipo de local reservado somente para as reuniões do clã, e possuía um ar de sobriedade que só podiam existir naqueles ambientes tradicionais cujo piso de madeira maciça podia refletir todas as emoções de quem o observava. Sentaram-se sobre as pernas, numa posição ideal para a situação tão delicada, onde toda descortesia poderia irromper porta adentro como um furacão. Hanabi também estava na sala, mas diferente dos demais, se acomodara bem próxima ao pai. E não tirava os olhos sérios de Neji em nenhum momento. Mas o rapaz continuava encarando o tio em uma atitude ousada. Quem quebrou a tensão do local foi o próprio Hiashi. Dirigindo-se ao sobrinho, indagou com a voz fria e dura.
- Neji, explique o que está acontecendo. – Hiashi nem ao menos parecia ciente da presença dos demais na sala.
- Hiashi-sama – começou ele – eu...
- Papai – Hinata interrompeu Neji, deixando-o surpreso – Quero deixar bem claro que o Neji-nii-san apenas obedeceu a minha vontade de ver o Naruto-kun, e que ele nada mais fez que cumprir minhas ordens. Toda culpa é minha. – a voz dela soou firme ao proferir aquelas palavras.
- Isso não é verdade Hinata. – afirmou o Hiashi olhando fixamente para Hinata – Neji jamais faria algo contra sua própria vontade, por mais que se ordene o contrário. E ele mesmo confirmará isso. Ou estou enganado, Neji? – agora seu olhar pousou no rapaz.
Neji olhou primeiramente para Hanabi e depois para Hiashi e confirmou com a cabeça antes de responder:
- Sim, tudo que fiz foi por livre e espontânea vontade. – e sabia que aquelas palavras não eram dirigidas somente para Hiashi, mas para si próprio.
O coração de Hanabi saltou dentro do peito. Estaria ele se referindo ao que aconteceu entre eles também? Mas suas conjecturas ficaram perdidas sob a tensão do momento.
- Não! – exclamou Hinata parecendo assustada – Eu fui a culpada por tudo!
Hinata sabia que, caso seu pai entendesse Neji como culpado, poderia lhe fazer algum mal. Afinal, apesar de tudo Neji era um membro da Bouke.
Neji reparou nas intenções de sua prima, mas não ia permitir que ela se sacrificasse por ele. Ia novamente recomeçar a falar, mas foi interrompido por Naruto que sentindo que não poderia esperar um convite para participar da conversa, e com todas suas palavras presas na garganta, mas almejando serem libertadas, se dirigiu a Hiashi corajosamente:
- Desculpe-me pela visita inesperada, Hyuuga-sama. – o tom que ele usou foi polido e calmo, bem diferente do que normalmente se ouvia dele, o que espantou todos os presentes, inclusive Hiashi – Mas, eu quero conversar com o senhor seriamente sobre...
- Fique quieto! – vociferou Hiashi irritado interrompendo aquelas palavras – Isso é um problema dos Hyuuga, você não tem o direto de intromete-se!
Naruto sentiu a irritação borbulhar dentro dele, mas se controlou. Não podia estragar aquela oportunidade. Teria que vencer a resistência de Hiashi e a violência não era o caminho aceitável se ainda pretendia ser um Hokage. Mas naquele momento, quem intercedeu por ele foi a pessoa que ele mais queria poupar:
- Não papai. Por favor, ouça o Naruto-kun! – com os olhos fixos no pai, Hinata pediu – Isso também é sobre como eu me sinto com tudo isso!
- Como você se sente? – perguntou Hiashi como se zombasse daquelas palavras.
- Por favor, ouça! – insistiu ela mais uma vez.
- Eu não preciso escutar nada vindo dele! – argumentou.
- Por favor! – ela estava desesperada e não escondia aquilo.
Pai e filha se encaram durante alguns instantes. Mesmo impaciente com a discussão travada pelos dois e que o deixava de fora, Naruto soube que era melhor não interferir naquele momento. Sabia o quanto era difícil para Hinata enfrentar o pai e ela estava fazendo aquilo na tentativa de preservar o amor dos dois. Devia a deixar falar por enquanto.
- Por favor, Hiashi-sama – falou Neji calmamente aproveitando a pausa na conversa – Eu lhe peço que ouça o que o Naruto tem a dizer.
- Ponha-se em seu lugar Neji! - ordenou Hiashi irritado – Você não tem permissão para falar.
- O senhor mesmo me encarregou da proteção de Hinata-sama há seis anos atrás. – a voz de Neji soou fria, mas impaciente - Disse-me que eu devia me preocupar com ela e zelar por sua felicidade. E é isso que estou fazendo. E continuarei fazendo, mesmo que o senhor não se agrade disso!
Mal terminou de proferir essas palavras, Neji foi invadido pelo medo. No instante que seu tio moveu a mão, ele sabia o que iria acontecer. Levando dois dedos à altura do rosto, Hiashi pronunciou:
- Saki. – e não havia nenhum sentimento em sua voz.
Uma dor dilacerante se apossou da cabeça de Neji. Ele teve a sensação de que todo seu cérebro estava sendo pressionado por uma força muito maior, que esmagava sua mente e que aprecia querer parti-lo em dois. Soltando um grito agudo de puro desespero, Neji levou as mãos à cabeça, numa tentativa alucinada de fazer aquilo parar.
"Mate-me! Mate-me logo! Mas faça parar!". Era o que sua mente queria gritar, mas seu corpo estava tomado demais com a própria dor que nenhuma palavra podia sequer ser formulada.
Horrorizados, os que estavam presentes viram Hiashi ativar o selo da testa de Neji, e ficaram tão abismados com o ato que mal conseguiram falar. Passado alguns instantes, Naruto recuperou-se do choque e estava pronto para pular em cima daquele homem que tinha coragem de fazer aquilo com o próprio sangue, obrigando-o a parar. Mas sua interferência não foi necessária. Hanabi, como um gato enfurecido, avançou sobre o próprio pai, colocando as mãos em seus ombros, fazendo com que ele fosse obrigado a olhá-la.
- Se o senhor não parar com isso agora – gritou ela descontrolada – irei odiá-lo para o resto de minha vida! – e tomando fôlego continuou no mesmo tom, de forma de mais apaixonada. – Você não tem direito de fazer isso com o homem que eu amo!
As palavras foram ditas com violência e sinceridade. Hiashi encarou sua caçula, surpreso. Hanabi sempre fora menos emotiva que a irmã, mais centrada e mais decidida também. Sempre apoiara o pai em todas suas decisões e eram muito mais próximos do que ele jamais conseguira ser de Hinata. E ali estava ela, com um ódio palpável refletido em seus olhos jovens, e com a consciência de que seria capaz de cumprir as palavras que acabara de gritar. E ali estava uma desconhecida proclamando seu amor por outro desconhecido, ele não acreditara que aquilo passara totalmente despercebido aos seus olhos.
Hiashi baixou a mão, desativando o selo. Neji caiu para frente, coberto de suor e arfando com os cabelos se espalhando pelo chão de carvalho.
Rapidamente Hanabi foi para onde ele estava e, colocando a cabeça dele em seu colo, passou a mão na testa molhada. Seus olhos agora brilhavam de lágrimas.
- Tsunade-sama... – começou ela numa voz quase inaudível, bem diferente do tom que usara pouco tempo atrás.
Tsunade se aproximou e examinou o rapaz rapidamente enquanto o silêncio imperava novamente na sala.
- Eu estou bem... – disse Neji afastando as mãos da Hokage – Estou bem...
Ele se levantou e tirou os cabelos que caiam no rosto. Olhou por um momento para Hanabi antes de voltar à sua posição ao lado de Hinata, tentando transparecer a mesma disposição de antes, mesmo que sua face denunciasse o contrário adquirindo agora um tom pálido e cansado. Hanabi se pôs ao seu lado. Parecia que queria protegê-lo de outra investida de seu pai.
- Hiashi, entendo seus sentimentos, mas não seus atos. – disse Tsunade com um tom nada satisfeito – Mas peço que deixe o Naruto falar.
Pela primeira vez desde que tudo começara, Hiashi olhou para Naruto. Passou um momento enquanto os dois se encaravam. Um ar gélido pairava entre os dois. Pareciam estar se analisando, procurando os pontos fracos um do outro, tentando descobrir a motivação um do outro. Por fim, Hiashi concordou com a cabeça. Naruto tinha permissão falar.
Mesmo satisfeito com a afirmativa de Hiashi, Naruto se sentiu frustrado diante da cena. Não podia mais deixar ninguém tomar suas dores ou resolver seus problemas. Estava grato a Neji e Tsunade por tudo que fizeram, mas chegara à hora de tomar seu destino com suas próprias mãos. E, se possível, as de Hinata também. Olhou para a garota antes de começar a falar. Ela sorriu encorajando-o.
- Obrigado por me ouvir, Hyuuga-sama. – agradeceu Naruto primeiramente.
Hiashi limitou-se a lhe sustentar um olhar gélido. Mas o rapaz não se intimidou.
- Eu... – começou Naruto – Sei que o senhor não gosta de mim. E até entendo os motivos. Não sou membro de nenhum clã importante. Realmente deve ser uma situação inusitada. Sou somente um jounin comum. Não sei o que me espera o futuro, enquanto Hinata é agora a líder do clã. Mas eu...
- Imaginava que você fosse falar algo assim – interrompeu novamente Hiashi – Você pensou que eu permitiria que você se relacionasse com minha filha apenas por que você teve coragem de vir até aqui? Você é mais burro do que eu imaginava. – e olhando para Tsunade, disse com desdém – Essa conversa é apenas uma perda de tempo. Eu não tenho a menor intenção de deixar minha filha com ele. - e se voltando para Naruto, acrescentou – Se você entendeu isso, saia desta casa imediatamente!
- Papai! – exclamou Hinata desesperada fazendo menção de se levantar.
- Espere Hinata. – pediu Naruto. Quando ela olhou para ele sentiu que não havia nenhuma intenção de sua parte em se dar por vencido, por isso sentou-se novamente, e Naruto continuou como se não houvesse ouvido a ordem de Hiashi – É verdade que não sou grande coisa, Hyuuga-sama. Também não posso dizer que sou o par ideal para uma líder de clã, mas eu... – baixando os olhos, e como inspirasse coragem, ele levantou a visto e o brilho determinado em seus olhos era palpável. - Por Hinata, me esforçarei para me tornar melhor!
Hiashi apertou um pouco os olhos.
- Por Hinata? – repetiu ele desconfiado.
- Sim. – confirmou Naruto.
Como Hiashi não disse mais nada, Naruto se viu disposto a continuar com seus argumentos:
– Eu não tive família. Nunca conheci meus pais. Fui impedido de ter uma infância tranqüila como a maioria das crianças, fosse por ser órfão, fosse pela Kyuubi que carrego dentro de mim... – a tristeza transparecia pelas palavras de Naruto que, enquanto falava, levou a mão ao umbigo – Eu sempre estive sozinho. Sem ninguém com quem contar, sem um lar. Estive sozinho. Até Hinata aparecer na minha vida.
Como se também sentisse toda aquela dor que transparecia nele, Hinata se aproximou mais dele e colocou suas mãos em cima das dele. Naruto ficou surpreso com aquele gesto, mas sentiu um alívio ao encarar aqueles olhos doces e tranqüilos. Hinata confiava nele. Sentiu-se encorajado a continuar.
- Essa solidão... Esse desespero... É algo que não quero para ninguém. E quando eu já nem cultivava a esperança que alguém pudesse suprir toda essa carência que eu sentia, a Hinata entrou na vida. – e olhando pra Hinata, sorriu meigo e continuou. - Ou melhor, ela sempre esteve. Apenas eu demorei a perceber... Mas quando me vi totalmente envolvido por aqueles sentimentos que ela despertou em mim... Compreendi que nunca haverá outra pessoa em minha vida. E sei que é recíproco. – ele voltou os olhos para Hiashi mais uma vez antes de falar – Não quero que ela sofra a mesma solidão que eu sofri. Por isso vim aqui falar com o senhor. Quero ficar junto dela. E sei que ela também quer ficar comigo.
Hiashi olhou para Naruto e depois para Hinata. E aquela demonstração explicita de amor entre ambos ao se olharem o incomodou, mas mesmo assim, deu de ombros.
- Isso é tudo? – perguntou friamente – Você acha que eu permitiria que você ficasse com minha filha apenas por causa de algumas palavras vazias? – e arqueou as sobrancelhas de modo irônico.
Diante do olhar estarrecido de todos, Hiashi sorriu zombando de tudo que dissera Naruto. Ele sentiu toda sua felicidade escorrer por suas mãos. Hinata tremia e seus olhos ameaçavam derramar lágrimas de dor. Mas Hiashi não parecia se importar com isso.
- Você não é digno dela, Uzumaki Naruto. – disse ele friamente - Não perca seu tempo aqui. Você mesmo admitiu que não é ninguém, então...
- Ele é alguém sim! – vociferou Tsunade surpreendendo todos – Não o trate como um qualquer, Hiashi!
- Luta pela comodidade de seu "preferido" Tsunade-sama? – indagou ele olhando friamente para ela.
- Não. Luto primeiramente por alguém que eu considero meu filho! – a palavra "filho" foi dita com ênfase, enquanto ela levava a mão ao coração – E ele não é somente isso. – ela deu uma pequena pausa, olhando bem para Naruto. E quando seus olhos se encontraram o rapaz soube exatamente o que ela iria fazer. Dirigindo-se ao pai de Hinata, ela pronunciou satisfeita - Sinta-se honrado de ser o primeiro à saber Hiashi, que Naruto é oficialmente meu sucessor! Ele será O Sexto!
A revelação caiu como uma bomba para toda a placidez que Hiashi demonstrara desde o começo da conversa. Os únicos que não estavam surpresos era Naruto e a própria Tsunade. Mas apesar de lembrar-se das palavras ditas por Tsunade naquela situação em que ele se encontrara no dia anterior, Naruto ainda não tinha parado para analisar as implicações que aquilo poderia lhe trazer naquele momento, por isso não mencionara nada a Hinata quando estava juntos. Temeu que ela ficasse magoada com a omissão daquele fato tão importante, mas a garota não parecia aborrecida com isso, muito pelo contrário. O que Tsunade acabara de dizer lhe soara como uma ótima força para ajudá-los. Hanabi, ao contrário, olhava para Naruto com a boca aberta e Neji exibia uma discreta incredulidade. Hiashi permanecia lívido, mas logo recuperou a voz:
- Isso... É alguma forma de blefe, Tsunade-sama? – sibilou ele enfurecido.
- Esse não faz o meu estilo, e você sabe disso, Hiashi. Prezo por você e todo seu clã, e não seria capaz de uma atitude tão baixa quanto mentir apenas para formar um casal. – ela estava muito segura apesar da nítida dúvida de Hiashi - Naruto realmente é meu sucessor, basta apenas tratarmos de algumas pendências burocráticas que foram deixadas de lado até esse problema ser resolvido. Se ainda duvida, mande alguém de sua confiança ao meu escritório e apanhe todos os papéis com Shizune. – e ela deu um pequeno sorriso satisfeito e ao mesmo tempo nitidamente sarcástico.
Com um olhar de pura descrença, Hiashi analisou o rapaz à sua frente. Parecia estar verificando sua capacidade diante do cargo que futuramente, se Tsunade estivesse certa, ele ocuparia. Imaginou o que a Hokage havia feito para convencer os anciões da vila à aceita-lo.
- Quem diria que você chegasse tão longe, moleque-raposa... – murmurou deixando bem aparente sua oposição àquilo. E também o seu desprezo.
- Eu gostaria que Hyuuga-sama me chamasse pelo meu próprio nome. – pediu Naruto educadamente, mas deixando entrever sua irritação pela alcunha imposta.
- Você realmente se sente especial, não é? – zombou Hiashi – Pensa que, estar por trás da saia da Hokage-sama lhe fará o digno de desposar minha filha.
Tsunade apertou os olhos. Hiashi estava mais irredutível que ela imaginara. Voltou sua atenção para Naruto. Ele também não parecia disposto a desistir.
- Eu sou digno de Hinata! – argumentou ele veementemente.
- Não, não é. – vociferou Hiashi - Ela é a líder do clã Hyuuga! Sua obrigação é prezar pelo bem estar de nossa família. Hinata deve se casar com alguém dos nossos e gerar filhos fortes, que possam herdar a magnitude dos Hyuuga. Não há lugar no ventre dela para filhos seus!
- Eu não me casarei com outro homem que não seja o Naruto-kun! - Hinata assumiu uma postura destemida diante do pai. Em nenhum momento pareceu hesitar diante dele e continuou bravamente sabendo que era hora de dizer aquilo – E quanto aos seus herdeiros... O senhor não precisa se preocupar. – levando a mão ao ventre ela continuou – Eu já espero o herdeiro dos Hyuuga, papai. E esse herdeiro é filho do homem que será o Sexto Hokage de Konoha! Sinta-se feliz, pai. Seu neto que eu espero será filho de Uzumaki Naruto!
Hiashi encarou a filha, perplexo, sem saber o que dizer diante da revelação. O mundo dele pareceu de repente virar de ponta cabeça. Naruto apertou a mão de Hinata e sorriu para ela. Sabia que era difícil para ela assumir isso para o pai diante de todos. Tsunade e Hanabi se entreolharam sem saber o que dizer. Nenhuma delas esperava esse desenrolar da história. Neji apenas abaixou a cabeça.
- Neji... – chamou Hanabi surpresa – Você já sabia?aq
- Sim. – disse ele simplesmente.
Naruto viu uma emoção diferente brotar nos olhos de Hiashi. O fato que seria avô parecia mexer com ele. E decidiu aproveitar aquele momento para dar o que, ele sabia, ser sua ultima cartada para quebrar a frieza do homem à sua frente. Se não fosse assim, talvez nunca mais pudesse encarar Hinata com orgulho de ter lutado por ela.
- Hyuuga-sama, eu amo sua filha. Amo com toda força que um homem pode amar uma mulher. E quero ficar com ela. Entendo sua preocupação, mas, eu lhe imploro, permita que eu possa fazer Hinata ser feliz, como minha esposa. – e dando uma pausa acrescentou. - Por favor!
E para surpresa de Hiashi, Naruto se inclinou até encostar sua testa no chão, em sinal de respeito, submissão e, principalmente, desespero. Não havia mais o que ser dito.
Ver Naruto se humilhar daquela forma apenas para poder ficar com ela, fez Hinata se sentir mal. Não queria tanto desprendimento da parte dele. Tudo que fizera já bastara. Mas diante de toda inflexibilidade de seu pai e de seu estado, sabia que ele faria isso e muito mais. Por isso, decidiu que Naruto não se humilharia sozinho.
- Pai... – falou ela segurando as lágrimas – Eu também te imploro. Amo o Naruto, e preciso ficar com ele.
E Hinata repetiu o gesto de Naruto, encostando a testa no chão. Tudo agora dependia de como seu pai encarava aquele gesto.
Neji viu que não podia ficar alheio àquela cena. Já chegara tão longe, que ultrapassar a linha de novo não seria impróprio.
- Hiashi-sama, não arranque a felicidade dos braços de Hinata-sama. É a sua filha. – falou como se Hiashi tivesse toda a obrigação de deixar Hinata seguir o próprio coração.
E tal como o casal, Neji se inclinou para seu tio.
Hanabi queria ver sua irmã feliz, mesmo que fosse com alguém que ela não considerava ideal para sua irmã. Mas ela estava grávida e lutava desesperadamente por sua felicidade. E até mesmo Neji parecia querer unir o casal, lutando como um verdadeiro protetor de sua irmã. Igualmente a ele, ela também devia se posicionar.
- Papai... Será que o senhor não viu durante todo esse tempo o quanto a nee-san sofreu? Desde que ela se separou de Naruto ela não deu mais um sorriso feliz... Por quanto tempo o senhor quer que isso continue? – E encarando fixamente o pai, baixou lentamente a cabeça até o chão, torcendo intimamente para que aquele gesto não fosse inútil.
Vendo toda aquela humilhação para trazer a razão àquele velho tolo, Tsunade deixou a raiva tomar conta de si.
- Hiashi, você sempre foi um homem sensato. – começou ela olhando-o fixamente – Mas o que tenho a minha frente agora não é mais do que um tolo. Agrada-o ver toda essa humilhação a sua frente? Agrada-o ver suas filhas e seu sobrinho se humilharem diante de você? Por que a mim não agrada nada ver o meu filho se rebaixar pra você como fosse um qualquer... E ele não é. – e encarando-o raivosamente indagou - O que mais é necessário pra que você aplaque essa fúria inútil? Quer me ver aos seus pés também? – finalizou num tom irônico.
Hiashi olhou para as quatro pessoas ajoelhadas à sua frente, com suas cabeças baixas e esperando sua decisão. Depois olhou para a Hokage, que o encarava ferozmente. Deteve seus olhos por mais tempo sobre Hinata. A situação em que ela se encontrava deixava as coisas mais difíceis de resolver. Depois, seus olhos se voltaram para Naruto. O rapaz parecia mesmo disposto a tudo por Hinata. Pela primeira vez, sentiu realmente que ele dizia a verdade e amava incondicionalmente sua filha.
Hiashi mais uma vez em sua vida estava dividido entre a felicidade de quem era importante em sua vida e o clã. Nenhum dos que abaixaram a cabeça para ele viu a indecisão que perdurou alguns momentos naquele pai. Todos esperavam seu pronunciamento. Depois de alguns momentos ele tomou uma decisão.
- Levantem a cabeça. – pediu ele.
Todos levantaram. Depois, começaram a esperar ansiosamente o pronunciamento de Hiashi. Ele suspirou. Tinha algo em mente e seria mediante aquilo que saberia de Naruto estava mesmo disposto a ficar com Hinata, ou não.
- Esse filho que a Hinata carrega em seu ventre, receberá o sobrenome Hyuuga e será o próximo líder de nossa família. - ele parou um pouco de falar enquanto encarava Naruto - Essa é a minha condição, Uzumaki Naruto. Se você aceitá-la, terá meu consentimento e poderá casar com Hinata. Não importa o que tenha acontecido aqui, a família Hyuuga vem em primeiro lugar.
Naruto se viu surpreendido pela exigência. No primeiro momento, pensou em recusar. Afinal, era seu filho, devia ter o seu sobrenome e não o dos Hyuuga. Mas, ao olhar a expressão de pânico de Hinata, soube que aquele seria um preço pequeno a se pagar diante da felicidade dos dois. Olhou para Tsunade. A Hokage afirmou discretamente com a cabeça.
"E, no final das contas, qual a importância de um mero sobrenome? Ele será meu filho e de Hinata, e isso é o que importa." pensou ele decidido.
- Aceito. – disse por fim, para alívio da garota.
Hiashi se levantou sem dizer mais nada. Dirigiu-se até a porta e abriu ela lentamente. Antes de sair, contudo, falou friamente sem olhar para trás:
- Ouse fazer minha filha sofrer, Uzumaki Naruto, e eu irei tirá-la de você da mesma forma que agora a estou confiando.
- Nunca farei Hinata sofrer. – afirmou ele com convicção.
- O casamento será realizado o mais breve possível. – continuou ele – Neji cuide de tudo.
- Sim Hiashi-sama. – respondeu Neji.
Mas Hiashi já tinha saído.
Naruto e Hinata se olharam, quase sem poder acreditar no que acabara de acontecer. Estavam, enfim, juntos e com a permissão do pai dela. O consentimento de Hiashi era fundamental, pois iria aplacar qualquer reação por parte do próprio clã, e garantiriam que nenhum conflito se estabelecesse em Konoha. Naruto tinha certeza que, caso o pai de Hinata se mostrasse inflexível, ele iria acabar desistindo realmente do cargo de Hokage, pois decidira que não sairia daquela casa sem a certeza que Hinata seria sua esposa. Descobrir que seria pai só aumentou aquela vontade. Em seus olhos, Hinata demonstrava que sentia o mesmo. Sim, ela seria capaz de negar o clã por ele, depois que ouvira de seus lábios que ele a amava. Mas sempre soubera que Naruto conseguiria convencer seu pai. Acreditava nele acima de tudo.
As lágrimas foram inevitáveis. De ambas as partes. Eles começaram a chorar, mas o sorriso nos lábios mostrava que eram lágrimas de alívio e felicidade. Sem se conter, eles se abraçaram, sentindo que jamais poderiam renegar um ao outro.
Tsunade observou os dois com um aperto no coração. Lembrava de Dan e de toda felicidade que foi negada a eles. Sabia que fora impróprio de sua parte, como Hokage, interferir naquela situação delicada. Todavia, se sentia mais que satisfeita por tê-lo feito.
- Bem, está tudo terminado. – disse ela sorrindo – Vocês dois vão finalmente poder ficar juntos, depois de todas as atribulações. Vocês me deram muito trabalho...
Naruto e Hinata relutantemente se separaram do abraço. Limpando as lágrimas, eles sorriram de volta para Tsunade.
- Desculpe por tudo, Vovó Tsunade! – pediu Naruto meio encabulado coçando a cabeça. – Mas sei que a senhora me entende, né?
- Entendo até demais... – murmurou um pouco chateada.
Todos riram diante do comentário.
- Mas muito me surpreendeu – continuou ela – que você esteja grávida, Hinata. Vocês se descuidaram demais.
Envergonhados, eles baixaram a cabeça, mas não deixaram de se olhar de relance com um pequeno sorriso nos rostos.
- Neji quase me matou do coração quando me disse isso... – reclamou Naruto.
- Foi? – estranhou Neji.
- É claro! – disse ele veementemente – Você chega pra mim todo sério e me diz: "Hinata-sama não tem mais muito tempo...", o que você acha que eu pensei?! Que ela tinha uma doença terminal e ia morrer! – concluindo gesticulando energicamente.
Tsunade riu diante da ênfase dada por Naruto a essas palavras.
- Eu me referia ao fato de logo a barriga começar a crescer – disse Neji – Por que então todos saberiam que a Hinata-sama estava grávida e seria muito ruim pra ela.
- E por quê? – perguntou Hanabi a Neji.
- Eu sou líder do clã Hanabi – explicou Hinata tristemente – Uma mulher na minha posição ficar grávida fora do casamento é inconcebível.
- Mas tudo se resolveu bem. – falou a Hokage aliviada.
-Então eu vou ser tia! – exclamou Hanabi feliz. – Serei uma ótima tia!
Naruto olhou um pouco surpreso para a animação de Hanabi. Sempre suspeitara que a menina nutria uma antipatia por ele, mas a atitude dela diante do pai, se ajoelhando e pedindo pelos dois o deixara espantado, e extremamente satisfeito. Querendo deixar aquilo bem claro, olhou com carinho para a menina e disse sorrindo:
- Obrigado por ter ficado ao nosso lado, Hanabi-chan.
Hanabi encarou Naruto, espantada com a forma íntima com que ele se dirigiu a ela. Ainda não entendia por que a irmã se apaixonara por alguém tão sem graça quanto ele. Mas até que os dois formavam um par interessante, concluiu. Ele parecia ter toda a energia e disposição que sua irmã precisava.
"E ela tem a inteligência que falta a ele..." pensou se controlando para não cair na risada. E sabendo que precisava retribuir a gentileza, disse na forma mais séria que podia naquele momento:
- Eu sempre fico do lado da minha irmã. E se ela acha que pode ser feliz ao seu lado, eu a apoiarei. – e apertando um pouco os olhos, completou mudando o tom de voz - Mas se em algum momento você a fizer sofrer, vai ter que se ver comigo! Vou te encher de porrada até você ficar tão quebrado que só comerá ramen por canudinho! - e para da ênfase às suas palavras, mostrou um punho bem fechado.
- Hanabi! – repreendeu Hinata diante das palavras de sua irmã.
Mas Naruto pareceu não se importar, muito pelo contrário. Começou a rir abertamente, deixando Hanabi um pouco irritada.
- O que foi? – perguntou ela aborrecida – Ta achando que não sou capaz disso?! Ou tá rindo de mim, é?!
- Claro que não, Hanabi-chan! – negou Naruto tentando segurar a risada – É que falando assim, você me lembrou a Suzumi. Impressionante como vocês se parecem nesse aspecto. Ela com certeza diria algo assim!
Esse comentário fez com que a irritação de Hanabi desse lugar à surpresa. Ela, parecida com Suzumi?
- Agora que você mencionou... – começou Hinata analisando a irmã – Elas duas têm realmente uma personalidade parecida.
- Ei! – protestou a menina – Não me comparem àquela louca!
- Mas Hanabi-chan – falou Naruto sorrindo, mas com cautela – Agora que vou me casar com a Hinata, você vai se encontrar constantemente com a Suzumi. Afinal, ela é minha aluna e você é irmã da Hinata. – e dando uma pequena pausa, ele acrescentou – Gostaria que vocês se dessem bem... Esquecerem o que houve... Não guardassem mágoa uma da outra. Podiam se tornar grandes amigas, tenho certeza disso.
Hanabi olhou para a irmã e depois para Naruto. Eles pareciam esperar uma resposta dela.
- Não tenho nada contra a Kimura – admitiu suspirando – Nunca tive, não tenho e jamais nada daquilo teria acontecido se dependesse de mim. Apenas ela me pegou num mau dia, e me provocou até eu perder minha paciência. Sei que peguei pesado – acrescentou rapidamente ao ver Tsunade olhando-a com repreensão – mas nunca tive realmente vontade de matá-la.
Uma atitude madura, reparou Naruto. Apesar das ações infantis em alguns momentos, ele pôde ver que a personalidade de Hanabi era bem mais profunda que ele suspeitara a principio. E ficou satisfeito com aquilo. Se Suzumi pudesse entender aquilo também, elas fariam uma dupla interessante.
Neji também reparou que a atitude de Hanabi com relação à Suzumi havia sido inesperada. Quando a menina o olhou, ele lhe deu um pequeno e discreto sorriso de aprovação.
- Bem, agora eu gostaria de examiná-la Hinata. – pediu Tsunade – Afinal, você foi seqüestrada, lutou, passou por um estresse muito grande e mesmo assim não perdeu a criança. Temo por sua saúde.
- Meu bebê jamais morreria – afirmou ela com convicção – Afinal, ele será tão forte quanto o pai.
Naruto ficou vermelho ao ouvir essas palavras. Ainda era difícil acreditar que em breve existiria uma criança que ia chamá-lo de "papai".
- Venha, se aproxime. – falou a Hokage.
- Tsunade-sama, - falou Hinata pausadamente - eu gostaria de falar com meu pai antes da senhora me examinar.
- Falar com seu pai? – estranhou Naruto – Para que?
Hinata ficou vermelha.
- A-Apenas falar... N-Nada de-demais... – gaguejou ela encostando um dedo no outro.
Enquanto Naruto a olhava, meio desconfiado com o que Hiashi pudesse dizer à garota sem a presença de outras pessoas, Neji falou suavemente:
- Tenho certeza que ele ficará satisfeito em falar a sós com você, Hinata-sama. – ele a encorajou – Enquanto isso, prepararei um chá para todos.
E se levantou calmamente.
- Eu vou junto Neji! – disse Hanabi seguindo-o.
- Volto já, Naruto-kun. – disse Hinata se levantando também – Por favor, Tsunade-sama, fique a vontade.
Quando Hinata saiu fechando a porta, Tsunade surpreendeu Naruto ao passar a mão carinhosamente na cabeça dele.
- Estou orgulhosa de você. – disse ela sorrindo – Não perdeu o controle uma só vez.
- Quase perdi. – admitiu ele – No momento em que o pai da Hinata usou o selo em Neji, eu senti um desgosto tão profundo que se Hanabi não tivesse intervindo, eu faria, mesmo que significasse iniciar uma luta contra ele ou todo o clã. – e dando uma pausa, ele suspirou e continuou – Depois de tudo que ele fez por mim, de tudo pelo que ele se arriscou, vê-lo naquela situação e não agir seria incabível.
- Então devemos agradecer à impetuosidade juvenil de Hanabi! – exclamou ela rindo.
Naruto acompanhou Tsunade na risada, mas seu coração estava apreensivo. O que será que Hinata queria conversar a sós com o pai?
Havia um lugar dentro dos domínios do clã Hyuuga, onde poucas pessoas tinham a autorização de entrar. Era uma pequenina casa que funcionava de refúgio para seu pai quando ele queria descansar sem ser incomodado. Era também para onde ele se retirava quando precisava tomar uma importante decisão. Ao lado daquele local, existia um pequeno jardim. Como estavam no outono, pequenos brotos lutavam para continuar abertos apesar do frio que aos poucos se instalava.
Tirando as sandálias, Hinata avançou pela varanda e se pôs em pé em frente à porta.
- Papai. – chamou timidamente.
Após um breve silêncio, Hiashi respondeu:
- Entre Hinata.
Ela abriu lentamente a porta de correr. Seu pai estava diante de uma pequena mesa, segurando uma xícara de chá. Entrando na sala, ela esperou o convite para se sentar. Mas ele não veio.
Percebendo que ela o encarava, ansiosa, Hiashi falou em um tom um pouco aborrecido:
- Você é a líder do clã Hinata, e precisa de uma permissão minha para sentar em sua própria propriedade?
- Posso ser líder do clã, mas o senhor ainda é meu pai. Devo respeitá-lo. – murmurou respeitosamente, mas sem baixar a cabeça.
Hiashi deu de ombros.
- Sente-se. – disse por fim.
Se acomodando de frente a ele, Hinata sentiu um frio tomando de conta de seu estômago. Ainda não sabia muito bem por que viera, mas precisa desesperadamente falar sozinha com o pai.
- Você falou em me respeitar, Hinata. Mas o que acabou de fazer não foi uma falta de respeito? – indagou Hiashi olhando para o líquido da xícara.
- Não. – respondeu ela sem pestanejar – Quando eu engravidei do Naruto-kun ainda vigorava nosso acordo papai. E nenhum momento eu lhe desobedeci. Não fui eu a procurar o Naruto-kun... Mesmo que essa fosse minha vontade... – admitiu ela.
- Não me refiro a sua gravidez. Refiro-me ao fato de você querer ficar com ele.
- Não posso mais desprezar meu coração papai. Morreria se o fizesse... – ela o olhou como se quisesse mostrar todo o sentimento que habitava seu interior.
Um pesado silêncio se instalou durante alguns momentos, até que Hiashi o quebrou:
- Por que veio até aqui, Hinata? – perguntou ele analisando suas feições.
Apertando as mãos sobre o colo, Hinata desviou sua vista até o chão. Sem querer, lágrimas começaram a cair.
- E-Eu q-queria t-ter a certeza que o s-senhor n-n-não me odiaria... Papai...
Aquelas palavras o surpreenderam. Diante de toda determinação que ele vira em sua filha naquele dia e depois da revelação que uma criança estaria a caminho, não podia deixar de admirar que mesmo assim ela pensava em seus sentimentos.
Hiashi suspirou. Hinata sempre fora assim. Pensava nos outros antes de pensar em si mesma. Uma criança extremamente frágil com relação aos seus sentimentos e que se magoava com facilidade. Nunca a compreendera. Sempre estivera muito mais próximo a Hanabi, talvez por que a impetuosidade da caçula deixasse sempre claro quais pensamentos passava em sua cabeça. Com Hinata não. Por sua timidez excessiva e dificuldade para se expressar, tornava as coisas mais complicadas para o pai. Como ele saberia o que ela queria? Como saberia se estava feliz, triste, insatisfeita? Nunca parara para pensar naquilo. Mas agora, que alguém brigava tanto para tê-la ao seu lado e que Hinata finalmente dizia o que realmente pensava, passou querer conhecer um pouco mais a filha que tinha.
Hinata esperava ansiosamente o pronunciamento do seu pai. Sempre fora tão difícil corresponder às expectativas dele, tão difícil ser a pessoa que ele queria que ela fosse que agora lutar por seus sentimentos parecia uma grande ingratidão. Esperou palavras duras, frias ou simplesmente a indiferença. Talvez nunca mais tivesse lugar no coração de seu pai depois daquilo. Mas Hiashi se inclinou para ela e tomou suas mãos delicadamente. Atônita, Hinata olhou para seu pai. Ele não sorria, mas sua expressão se suavizara.
- Eu não a odeio Hinata. Jamais seria capaz disso. Você é minha filha.
Fez uma pausa ao ver a incredulidade nos olhos dela.
"Que tipo de atitude eu tenho mostrado, já que agora ela me olha como se eu nunca tivesse sido um pai para ela?!" pensava ele lendo a confusão dentro de Hinata.
- Tudo que eu fiz – continuou ele – Foi na tentativa de fazer o melhor para sua vida. Proteger você e ao clã. Mas acho que só a fiz sofrer mais não é?
- Não papai! – protestou ela – O senhor...
- Deixe-me continuar Hinata. – pediu ele e Hinata se calou – A única razão para que eu permita esse casamento, é por que eu vi naquele rapaz um amor muito maior que qualquer pessoa terá por você. – disse ele em tom resignado - Ele se arriscou a vir aqui e provocar toda ira dos Hyuuga, o que comprometeria sua sucessão, e tudo por você. Ele teve a coragem de lutar pelo seu amor. Uma coragem que eu não tive...
Mais uma vez aquela sensação que Hinata sentiu quando seu pai falava de amor, como acontecera no hospital, voltou. Hiashi parecia ter sofrido muito no passado. Por quem teria sido?
- Pai... Quem foi que o senhor amou tanto? – perguntou ela curiosa.
Hiashi olhou para o céu azul que se insinuava da janela. O dia estava claro e começava a esquentar. Um pássaro voou ali perto, fazendo com que o quarto se enchesse com seu canto.
- Eu amei alguém que já se foi, Hinata. Alguém que eu nunca tive a oportunidade de fazer feliz. Foi antes de sua mãe. – e olhando para a garota acrescentou – E foi sua mãe me ajudou a superar tudo aquilo. Mas isso não importa agora. Já passou.
Então fora isso. Ele foi abandonado. Foi a única coisa que ela pode pensar. Mas não iria insistir. Falar daquilo parecia doloroso para ele, apesar do tempo que transcorrera desde então.
- Espero que você seja feliz com o homem que escolheu Hinata. E que ele a faça muito feliz. Tenha muitos filhos. Mas não esqueça de que, mesmo assim, continuará como líder dos Hyuuga. É sua obrigação.
- E eu não pretendo fugir dela, papai. – falou ela decidida – Não pretendo fugir de mais nada. – e sorrindo, continuou – Com Naruto-kun do meu lado, sinto que sou capaz de tudo!
A mão dele acariciou levemente seus cabelos. No final das contas, pensava ele, ali estava alguém para se admirar.
- Volte para junto de seu noivo Hinata. Sei que ele está ansioso para ficar com você. E feche a porta quando sair. Quero ficar um pouco só.
Hinata sorriu para o pai da forma mais doce, como jamais fizera antes. Queria abraçá-lo forte e dizer o quanto o amava. Mas Hiashi nunca lhe dera abertura para isso. Por isso, ela apenas se levantou devagar e, lançando um ultimo olhar agradecido para ele, se foi fechando a porta atrás de si.
Encostando-se um pouco na parede, Hiashi sentiu o peso dos anos como se eles tivessem rapidamente aumentado. Estava cansado e deprimido.
Hanabi seguia Neji pela varanda com alguns passos de distância. Enquanto encarava as costas dele, pensava em tudo que ele dissera na presença de seu pai e em todas as coisas que ele fizera por sua irmã. Ainda era difícil de compreender que tudo não passara de uma preocupação de caráter fraternal e que ele não via Hinata como mulher, mas como irmã. Antes que chegassem à cozinha, Neji parou de repente de andar. Involuntariamente, Hanabi fizera o mesmo.
Com a cabeça voltada para o jardim, ele parecia observar as árvores que balançavam conforme a vontade do vento. As folhas caiam pelo chão, voando até eles e muitas enfeitavam o chão de carvalho por onde andavam.
- Será um outono frio. – comentou ele olhando para as folhas que dançavam pelo ar.
- Será... – concordou Hanabi.
"Que coisa mais idiota de dizer Hanabi!" pensou a garota consigo mesma. "Você está sozinha com ele, diga alguma coisa!"
Inspirando fundo, Hanabi falou:
- Neji, sobre o que aconteceu naquela noite... – mas parou instantaneamente quando viu o olhar dele em sua direção.
Ele não pronunciou nenhuma palavra, mas seu olhar a incentivou a continuar.
As palavras, todavia se perderam quando Hanabi mais uma vez encarou profundamente Neji, e sentiu todas as suas sensações entrarem em ebulição de novo. Mas precisava falar. Juntando suas forças, ela disse olhando para o chão:
- Eu queria me desculpar por todas as coisas horríveis que eu te disse. – e dando uma pausa, acrescentou – E pelo que fiz também.
O vento frio soprou novamente, levantando as folhas que estavam no chão. Neji se aproximou um pouco da menina, deixando o coração dela ainda mais apertado.
- Você se arrepende do que fez Hanabi? – inquiriu ele olhando-a intensamente arqueando levemente uma das sobrancelhas.
Hanabi levantou a cabeça e o encarou. Por um momento, pensou em afirmar sem pestanejar que se arrependia. Até perceber a real intenção daquela pergunta. E decidiu falar o que se passava de verdade em seu coração.
- Me arrependo das palavras rudes que utilizei e das acusações infantis. – falou decidida e respirando fundo o olhou dentro dos olhos e disse – Mas não do que fiz.
Naquele instante, ela podia jurar que via uma ponta de satisfação no olhar dele, mas foi somente por um instante. Tão rápido quanto aparecera, aquele sentimento desaparecera. Mas ainda assim eles ficaram se olhando, por mais alguns momentos, até que Neji levantou sua mão direita e a levou até os cabelos da menina.
O coração de Hanabi se agitou diante da ação. Será que ele iria acariciá-la? Toca-la? Mas ele apenas puxou gentilmente algo que se prendera entre os fios castanhos de seus cabelos.
- Uma folha. – disse ele simplesmente mostrando a folha avermelhada entre os dedos.
Involuntariamente, Hanabi esticou a mão e apanhou a folha dentre os dedos de Neji. Era uma bela folha tingida de vermelho, e que lembrava uma estrela.
Mesmo sem ser um carinho físico, aquele gesto do rapaz pareceu roçar delicadamente seus sentimentos como o mais carinhoso dos afagos. Sabia que cada gesto de Neji significava algo mais profundo e ele nunca os desperdiçava com bobagens como uma simples folha. Afinal, o acompanhava de um lado para o outro desde os sete anos, quando o viu lutar com Naruto. Achava que ficando sempre com ele, poderia se tornar forte da mesma forma. Mas o que acontecera foi que toda aquela admiração se transformara em algo muito maior. E agora, ele parecia lhe retribuir toda sua insistência apenas tirando uma folha de seus cabelos. Fora a coisa mais carinhosa que ele fez por qualquer pessoa, disso tinha certeza.
- Vamos fazer o chá? – convidou ele se virando pra retomar o caminho da cozinha.
Segurou a folha delicadamente entre os dedos e lhe sorriu muito feliz.
- Sim! – exclamou Hanabi acompanhando-o.
Naruto observava o exame de Hinata apreensivo. Desde que soubera da gravidez de Hinata, temia pela saúde dela. Afinal, para quem passou tanto estresse como ela, não culpava Tsunade por ficar tão surpresa e preocupada.
- Você está magra pra quem está com dois meses de gravidez... – comentou a Hokage com as mãos sobre a cabeça da garota.
- Eu não tinha vontade de comer... – falou Hinata tristemente como se pedisse desculpa – E passava mal constantemente.
Tsunade deu um sorriso para a garota.
- Não precisa ficar assim Hinata. Tem mulheres que passam mal toda a gravidez e os bebês nascem mais saudáveis que muitos outros.
- Tomara que seja esse o caso... – disse Naruto preocupado.
Hinata sorriu para ele que retribui o sorriso. Agora que tudo estava calmo, ficava pensando como seria a criança. Menino? Menina? Isso não importava. Tudo que queria era estar ao lado de Hinata no momento em que ele ou ela chegassem às suas vidas.
"Tomara que pareça com a mãe..." pensou ele querendo que aquele sorriso de Hinata fosse herdado pela criança.
Quando Tsunade colocou as mãos sobre a barriga de Hinata, sua expressão ficou repentinamente séria, e ela parecia surpresa com alguma coisa. O coração de Naruto deu um pulo, e ele se aproximou rapidamente delas.
- O que foi? – perguntou preocupado.
Hinata lançou um olhar de medo para Naruto e depois segurou forte a mão da Hokage.
- Tsunade-sama, o que houve?
A Hokage tirou as mãos da barriga de Hinata, fechou os olhos e suspirou. Enquanto o casal assumia uma expressão apreensiva, Tsunade deu um largo sorriso e falou alegremente:
- Meus parabéns a vocês dois! – e bateu as mãos.
- Hã?! – exclamou Hinata e Naruto em uníssono.
- Isso não é de se espantar visto a tendência possuída pelo clã Hyuuga em ter casos assim, mas...
- Do que você ta falando vovó Tsunade? – inquiriu Naruto nervoso.
- Bem, quero parabenizá-los. Vocês serão pais de gêmeos!
Naquele exato momento, Neji entrou com Hanabi na sala novamente e ficou surpreso ao ver Naruto praticamente em choque, e Hinata com lágrimas nos olhos, abraçada com ele.
- O que aconteceu? – perguntou preocupado.
- Neji-nii-san! – exclamou Hinata olhando para ele – Eu vou ter gêmeos! Meus bebês serão gêmeos, como nossos pais.
Hanabi arregalou os olhos, abismada:
- Gêmeos?! – exclamou a menina – Que coisa né? Primeira gravidez e dois de uma vez!
Tsunade e Neji começaram a rir diante do comentário da menina.
- Duas crianças... – falou Naruto baixinho – Duas...
- Não está feliz, Naruto-kun? – perguntou Hinata tristemente.
- Claro que sim! – disse ele veementemente – Só que... Vovó Tsunade! A senhora precisa me dar muitas, muitas missões! Tenho duas crianças pra sustentar!
Foi impossível não cair na gargalhada diante do desespero com que falava Naruto. E ele estava realmente falando sério.
- Calma Naruto. – disse a Hokage sorrindo – Como meu sucessor, você terá missões mais perigosas... E mais bem pagas também. Poderá sustentar seus filhos sim, e muito bem.
- E os Hyuuga têm dinheiro também, viu? – comentou Hanabi como se sentisse ofendida pelo que Naruto falara.
- O papai ficará feliz! – exclamou Hinata satisfeita – Dois netos.
- Ou duas netas. – completou Neji.
- Isso só saberemos daqui a um tempo. – esclareceu Tsunade – No momento, se ocupem no casamento e na saúde de Hinata. – e olhando para Naruto, acrescentou – Sei que você está louco para ficar com ela, mas eu gostaria que fosse comigo agora no escritório. Temos coisas a resolver.
Naruto olhou instintivamente para Hinata, que afirmou com a cabeça, sorrindo.
- Vá Naruto-kun. E volte na hora que quiser. Ninguém no clã Hyuuga impedirá sua entrada.
Ele queria tomá-la nos braços e beija-la, mas a presença de mais pessoas na sala o intimidava. Por isso, limitou-se a abraçá-la e sussurrou em seu ouvido:
- Não demorarei.
- Estarei esperando. – sussurrou ela de volta.
No dia seguinte, a notícia da reconciliação de Naruto e Hinata já era de conhecimento das pessoas da vila, juntamente com a notícia que ele seria o sucessor da Hokage. Para total surpresa do próprio Naruto, as pessoas estavam mais satisfeitas e alegres que ele. Por onde passou no dia seguinte ao anúncio de sua sucessão, as pessoas falavam animadamente, perguntando como estava Hinata e como andavam as coisas com a Hokage. Até Tanaka, o dono da livraria disse sorrindo:
- Eu sempre soube que vocês ficariam juntos! E você será um ótimo Hokage!
Mas ele ainda estava um pouco encabulado com toda aquela súbita atenção. E enquanto andava para o campo de treinamento, pensava em como seus alunos estavam lidando com aquilo.
Logo pode avistá-los, esperando por eles perto do memorial dos mártires da vila. Todos deram um grande sorriso quando o viram vir em sua direção.
- Bom dia Naruto-sensei. – cumprimentou alegremente Yumi.
- Bom dia Yumi. E Makoto e Suzumi também! – exclamou ele alegremente.
- Como está o sensei? – perguntou Makoto preocupado.
- Agora está tudo bem, Makoto.
- Nosso sensei será Hokage, que honra! – disse Suzumi sorrindo.
Naruto soltou uma risadinha e coçou a cabeça encabulado.
- Mas não será agora. Eu ainda tenho muito que aprender com a Vovó Tsunade.
Uma sombra de preocupação passou pelos olhos de Yumi.
- Mas o senhor não vai nos deixar né? – indagou aflita.
- Claro que não! – negou ele diante dos olhares preocupados – Vocês terão que me agüentar até todos virarem chunnis! Ou jounins, depende da circunstância.
Eles riram felizes. Não queriam perder um sensei de novo. Principalmente o sensei que havia se tornado Naruto.
- Ah, sensei. Parabéns pelo casamento. – falou Makoto.
A data já tinha sido marcada para o fim daquele mês e Naruto deixou bem claro que a presença de seu time era fundamental naquele momento.
- Obrigado Makoto. – agradeceu sorrindo – Vamos começar o treinamento então?
O treinamento daquele dia foi bem diferente. Naruto pediu para eles narrarem a luta que tiveram contra o jounin da Nuvem, lembrar os erros, e verem onde tinham que melhorar. Depois, Naruto entregou um pedaço de papel de chakra para cada um, explicando que poderiam saber qual tipo de elemento cada um possuía o que facilitaria o treinamento. O resultado não fora surpresa nenhuma para Naruto. O papel de Yumi ficara instantaneamente molhado, indicando que a menina possuía o elemento Água. O de Makoto ficou todo chamuscado, elemento Fogo. E o de Suzumi se tornou pó, elemento Terra.
- Qual seu elemento sensei? – perguntou Makoto encantado com aquele papel tão peculiar.
Naruto segurou um pedaço do papel, que se partiu em dois imediatamente.
- Vento. – disse simplesmente.
Ao entardecer, Naruto se despediu dos garotos e rumou para o clã Hyuuga. O Time decidiu comer alguma coisa juntos antes de voltar cada um para sua casa.
- Que tal takoyaki? – sugeriu Yumi.
- Beleza! – concordou Suzumi.
- Não poderia ser ramen? – pediu Makoto esperançoso.
- Não. – exclamou as duas meninas em uníssono.
-Não sei por que eu ainda pergunto... – disse o garoto tristemente.
Quando chegavam ao restaurante, o estômago de Suzumi se apertou imediatamente. Saindo do dojo de Lee, Hanabi vinha acompanhada dos garotos de seu time. Era a primeira vez que elas se viam desde o fatídico episódio em frente ao escritório da Hokage. Imediatamente a garota parou de andar. Hanabi, percebendo a presença de Suzumi, parou também.
- Suzumi, calma. – pediu Yumi.
Mas ela não precisava dizer nada. Há muito tempo Suzumi já havia tomado uma decisão. Sabia exatamente o que iria fazer no momento em que encontrasse Hanabi novamente. Por isso, se aproximou sem medo da menina que a encarava.
- Hyuuga. – disse Suzumi – Preciso conversar com você.
Hanabi analisou a garota à sua frente.
- Claro Kimura. – concordou.
Suzumi fez sinal para Hanabi e as duas se afastaram. Os demais garotos se entreolharam preocupados.
- Devemos impedir? – perguntou Tasuki ao seu colega.
- Não. – falou Kasuma cruzando os braços – Creio que não devemos interferir.
- Mas não vai ser perigoso? – cogitou Makoto.
- Suzumi não está disposta a brigar. – esclareceu Yumi.
Elas foram até um canto mais afastado, fora da vista de seus respectivos colegas e ficaram frente a frente, se encarando.
A decisão de Suzumi viera no momento que soubera que seu sensei iria se casar com Hinata. Ela sempre soubera que sua paixão adolescente era simplesmente impossível e ficava feliz de saber que Naruto finalmente ia ficar com quem ele amava. E sabia o que acarretaria esse contado maior com os Hyuuga. Então, o mais sensato era resolver aquela pendência o mais rápido possível.
- Estou ouvindo. – disse Hanabi de braços cruzados e com expressão séria.
Suzumi suspirou.
- Foi mal. – disse ela.
Hanabi pareceu confusa.
-Como? – perguntou.
- Eu disse, foi mal! – repetiu Suzumi de cabeça baixa.
- Isso eu ouvi, mas realmente não estou entendendo sua linguagem Kimura. – disse Hanabi com um ar confuso e sarcástico.
- Foi mal é foi mal! Simples! – se aborreceu a garota.
E como Hanabi continuava a olhá-la sem entender, Suzumi explodiu.
- Porra! To tentando te pedir desculpa merda! – gritou a garota surpreendendo Hanabi - Pronto, falei! Foi mal ter dito aquelas coisas da Hinata-sensei e ter provocado a briga! Entendeu agora, o quer que eu desenhe?!
Quando Suzumi já se preparava para virar as costas e ir embora, Hanabi falou:
- Foi mal também.
Suzumi estancou no caminho e se voltou rapidamente para a garota. Hanabi olhava para o chão e tinha uma expressão indefinida no rosto. Depois, levantou a cabeça e murmurou:
- Eu não devia ter pegado tão pesado com você. Sei que exagerei.
As duas se olharam durante alguns momentos, constrangidas, sem saber o que dizer a outra.
- Acho que nós duas fomos muito otárias. – disse Suzumi por fim.
- É, realmente. – concordou Hanabi - Nos metemos em assuntos que não eram nossos e acabamos nos desentendendo. No final, eles se resolveram sem nossa ajuda.
- Tudo foi um grande mal entendido, não é? Nenhuma de nós estava certa. – murmurou Suzumi com a cabeça baixa.
- Acho que nós duas estávamos certa Kimura. Do nosso ponto de vista. Eu não conhecia o lado do Naruto e você não conhecia o da minha irmã. Lutamos pelo que acreditávamos. – finalizou convicta.
Um silêncio repentino sobreveio entre elas. Não queriam admitir, mas realmente tinham muito em comum. Suzumi olhou para Hanabi novamente, que sustentou o olhar. E no final, ambas sorriram.
- Amigas? – perguntou Suzumi estendendo a mão para Hanabi.
Hanabi hesitou um pouco, mas apertou a mão de Suzumi.
- Aliadas. – corrigiu Hanabi.
E sorriram uma para a outra.
- Mas ainda irei me vingar. Teremos uma revanche e vou te derrotar Hyuuga. – avisou Suzumi.
- Esperarei ansiosamente Kimura. – concordou Hanabi
Perto dali, sem conseguir conter a curiosidade, os dois times observaram a cena se camuflando detrás de uma parede. Quando tudo pareceu ter se resolvido, Yumi comentou contente:
- Que bom! A Suzumi agiu corretamente!
- E a Hanabi não explodiu! – comemorou Kasuma.
- Surpreendente... – murmurou Makoto.
Tasuki olhou para os três garotos como se não entendesse aquela alegria contida em suas palavras.
- O que vocês estão comemorando? Isso é terrível! – exclamou ele assustado.
Os outros olharam confusos para Tasuki, não entendendo por que ele se mostrava tão averso àquela cena. Como todos ainda esperavam uma resposta, Tasuki falou irritado:
- Será que vocês não compreendem? Estamos falando de uma amizade entre Hyuuga Hanabi e Kimura Suzumi! Imaginam o que essas duas são capazes de fazerem juntas?! È o fim da vila de Konoha!
Ele falou aquilo num tom tão sério e urgente, que foi impossível não rir diante de suas palavras. E enquanto os outros riam de suas palavras, Tasuki tentava faze-los levar suas palavras a sério, sem perceber que Hanabi e Suzumi se aproximavam.
- É sério! Elas são capazes de juntas destruírem Konoha!
- E como elas fariam isso? – perguntou Kasuma contendo o riso.
- Utilizando técnicas proibidas, maldições esquecidas e uma girafa! – exclamou ele meio alucinado.
- Uma girafa? – perguntou Makoto confuso.
- É, uma girafa! – afirmou ele com as mãos na cabeça.
Antes que pudesse explicar a razão de uma girafa poder levar Konoha à ruína, Hanabi e Suzumi deram ao mesmo tempo um grande chute na bunda de Tasuki que, pego de surpresa, caiu de cara no chão. As meninas se entreolharam surpresas. Não haviam combinado nada, apenas agiram iguais por impulso.
- É parece que vocês formam uma boa dupla. – comentou Kasuma sorrindo.
- Acho que vou ficar com ciúmes! – brincou Yumi.
- Ei, ei! – protestou Suzumi – Não foi porque selamos um pacto de não-agressão, que somos necessariamente amigas!
- Sou obrigada a concordar – falou Hanabi cruzando os braços – Afinal, o que será de minha boa fama se me virem na companhia de alguém que anda tão mal vestida quanto ela.
- Eu não ando mal vestida! – reclamou Suzumi.
- Imagina! – exclamou a outra irônica – Só se veste como uma delinqüente e fura a cara toda...
- Melhor que ser uma patricinha esnobe quanto você! Além do mais, eu tenho estilo próprio, ta? – Suzumi passou a mão nos cabelos ruivos – E meus piercings são charmosos!
- Só se forem charmosos pra um sadomasoquista! – rebateu Hanabi.
- Ora sua!
Enquanto elas discutiam, Tasuki finalmente se levantara e passou a assistir o embate delas com a mesma cara bestificada dos outros.
- Espero que você tenha a decência de se vestir melhor no casamento da minha irmã! – exigiu Hanabi.
- Claro que sim! Comprei até uma bermuda nova! – falou animada.
- Bermuda?! – exclamou Hanabi horrorizada – Vestido é a roupa ideal para um casamento!
- Eu não vou pôr um vestido! – Suzumi pareceu horrorizada diante da idéia.
- Isso vai longe... – murmurou Yumi.
Makoto concordou com a cabeça. Era impressionante a capacidade de Suzumi em arranjar briga rapidamente.
- Vamos apostar! – propôs Hanabi – Uma luta! Se eu vencer, você veste um vestido no casamento!
- E se eu vencer, você vai de bermuda! – contrapôs Suzumi.
- Isso não vai dar certo... – comentou Kasuma.
- Eu avisei... – lembrou Tasuki.
Foi uma luta rápida. Com um movimento preciso, Hanabi dominou Suzumi, derrubando-a no chão e sentando sobre suas costas, enquanto puxava o braço dela pra trás.
- Me larga sua imbecil! – gritou Suzumi.
Mas Hanabi não se importou com o insulto, muito pelo contrário. Começou a rir vitoriosamente.
- A Suzumi vai de vestido! A Suzumi vai de vestido! – comemorou a garota.
Os colegas se entreolharam. Parecia que o casamento de Naruto iria render muitos frutos ainda.
- Sasuke-kun, vamos chegar atrasados!
- Pronto! Podemos ir.
Sasuke colocou a jaqueta e rapidamente fechou o portão. De mãos dadas, caminharam em direção ao restaurante de Konoha. Já se passara três dias desde o anuncio que Naruto seria oficialmente o sucessor de Tsunade e o alvoroço que causou na vila fez com que Sakura e Sasuke se tornassem alvos preferidos de perguntas. Afinal, fizeram parte do mesmo time de Naruto e eram reconhecidamente grandes amigos. Naruto também passara os últimos dias ocupados, na maioria das vezes dentro do escritório da Hokage, de onde só saia para visitar Hinata no clã Hyuuga. Aquela seria primeira vez que o veriam já como futuro Hokage.
Aparentemente eles foram os últimos a chegar. Sentados à mesa já estavam Naruto, Hinata, Tsunade, Jiraya, Kakashi. Sasuke estranhou a ausência de Shizune, mas nada comentou.
- Ah, finalmente chegaram o senhor e a senhora Uchiha! – falou Naruto alegremente.
Os dois sorriram sem jeito enquanto sentavam.
- Ainda não. – falou Sakura – Oficialmente não somos marido e mulher.
- Mas já moram juntos e para mim isso é suficiente. – falou ele sorrindo – E até já encomendaram o herdeiro!
- Naruto, olha como fala. Você também já encomendou o seu. Ou melhor, os seus. – falou Tsunade sorrindo.
- "Os seus"? – perguntou Jiraya aparentemente ainda alheio aos acontecimentos – É mais de um?
- Naruto decidiu que um era pouco para ele. – revelou Kakashi sorrindo – E pediu dois à cegonha...
Todos começaram a rir enquanto Hinata e Naruto enrubesciam ao mesmo tempo.
- Pelos meus cálculos eles vão nascer em torno de setembro. – falou Sakura contando nos dedos – Na primavera. Que lindo!
- E o nosso nascerá em novembro. – disse Sasuke – Isso não é interessante? Eles crescerão juntos.
- Talvez façam parte do mesmo time! – falou Hinata animada.
- Difícil. – disse Tsunade pensativa – Os filhos de Naruto possivelmente herdaram o Byakugan. Os de Sasuke, o Sharingan. Um time com duas linhagens dessas seria muito forte e ficaria desequilibrado.
- Não exatamente, Tsunade. – falou Jiraya – Se os bebês forem tão burros quanto o Naruto, não há linhagem que dê jeito.
- O que você quer dizer com isso, seu ero-baka? – gritou Naruto olhando irritadamente para Jiraya, enquanto todos riam.
- Jiraya-sama, ele podem herdar a inteligência da Hinata-chan! – falou Sakura, satisfeita por ver a cara de Naruto ficar mais irritada também.
Sasuke também estava achando engraçada a cara de Naruto enquanto ele tentava fazer com que os outros o levassem à sério.
- Jiraya-sama – falou Sasuke atraindo a atenção de todos - O Naruto não é tão burro assim. Veja bem, eu esperava sinceramente quando ele disse que estava indo buscar a Hinata, que o clã Hyuuga seria devastado e deixaria a anbu sobrecarregada. Mas ele não fez isso. Foi lá e conversou civilizadamente. Não foi fascinante? – disse Sasuke dando uma ênfase irônica ao fascinante.
Naruto se espantou. Jamais esperava um elogio daquele da parte de Sasuke mesmo que ele contivesse um ar de deboche. Mas ele o interpretara mal. E foi por isso que ele falou:
- Sasuke, eu realmente não sou tão burro. Eu queria a Hinata sim, mas não era louco de tomar a ira de todo clã Hyuuga para mim. Afinal, eu serei o próximo Hokage. Devo respeitar todas as pessoas da vila e não sair explodindo-as por ai. Mesmo que tenha vontade de fazer isso. – completou piscando o olho.
Tsunade não foi a única a sorrir diante do comentário de Naruto, mas foi a que mais colocou sentimentos em seu rosto, sem dúvida. Naruto já pensava como um Hokage, mesmo sem ser um. Quando comunicara sua decisão ao conselho da vila, alguns haviam se mostrado relutantes em apoiar a sucessão de Naruto. Diziam que ele talvez não tivesse as condições necessárias para se tornar o sexto. Mas estavam enganados.
"Ele tem o principal, amor pelo cargo. Talvez bem mais que eu... E sabe das coisas instintivamente, o que é um grande trunfo para ele" pensou ela. Claro que a ligação vantajosa que ele iria firmar no final daquele mês com o clã Hyuuga era um peso a mais ao seu favor.
- Se calou de repente, Vovó Tsunade. – falou Naruto apertando os olhos – Já bebeu muito?
- Ainda nem comecei... – disse ela enchendo o copo de sakê.
Eles fizeram os pedidos quando a atendente trouxe o cardápio e Naruto fez questão que Hinata pedisse um prato mais reforçado.
- Você precisa comer! Afinal tem que se sustentar e mais os dois pestinhas que estão ao dentro!
- N-Naruto-kun... Não chame as crianças de pestinhas... – pediu Hinata ruborizando com a forma carinhosa que ele falou.
- Até quando vai ficar vermelha falando com esse idiota, Hinata? – perguntou Sakura sorrindo – Você vão casar!
- E quando vocês vão casar? – perguntou Naruto para ela e Sasuke.
- Bem... Quando a Sakura quiser... – disse Sasuke desconversando um pouco.
- Ah... Quando o Sasuke-kun achar mais apropriado... – Sakura assumiu uma cor escarlate que contrastou enormemente com sua roupa.
- Por que vocês não casam no mesmo dia que nós? – perguntou Hinata animada.
- É mesmo! – concordou Naruto – E então Sasuke? O que acha?
- Mas ai a festa teria que ser maior! – exclamou Jiraya – Afinal, é um casamento duplo.
- Seria interessante... – murmurou Kakashi – Seria a primeira vez que um time se casaria no mesmo dia...
- E quando você casa Kakashi-sensei? – perguntou Naruto.
- Casar com quem? – perguntou ele com um ar estranho, mas que ninguém prestou realmente atenção.
- Bem, não sei... Não queremos apagar a brilho do seu casamento Naruto... – falou Sakura passando a mão nervosamente pelos cabelos.
- Não apagariam de forma alguma! – disse Hinata juntando as mãos – E seria muito romântico também!
- E seria um trabalho a menos pra fazer. – disse Tsunade – A burocracia do casamento seria enfrentada de uma vez só por mim...
Todos riram do comentário de Tsunade, até Sakura que parecia preocupada. Mas quando Sasuke olhou para ela com um sorriso sincero no rosto, ela ficou sem ação.
- Então Sakura, quer se casar comigo no dia trinta desse mês, no templo de Konoha e ao lado de Naruto e Hinata? – pediu de uma forma que ao ver de Sakura era tão charmoso e envolvente que por um momento ela ficou sem ação.
O rosto dela adquiriu uma cor escarlate e Naruto começou a rir, possivelmente de sua expressão bestificada.
- A-A-Aceito! A-Aceito s-sim!
As palmas acompanharam o beijo carinhoso que Sasuke deu em seus lábios e a atendente ficou totalmente sem graça em ter que avisar que trouxera a comida naquele momento tão romântico.
O resto do jantar foi dedicado à discussão de planos tanto do casamento quanto da sucessão de Naruto. Tsunade avisara que ele ficaria muito ocupado a partir dali, pois teria que tomar lições com ela e aprender seu serviço e ao mesmo tempo cuidar de missões com seu time.
- Depois do desempenho deles no resgate de Hinata, acho que vou designar muitas missões para vocês agora... – disse ela sorrindo.
- Espera ao menos acabar a lua-de-mel, né? – disse Naruto apreensivo.
- Que lua-de-mel? Sucessores não têm isso! – falou Tsunade maldosamente.
Diante do olhar desolado de Naruto, todos começaram a rir, mesmo sabendo que Tsunade não falava aquilo a sério.
Jiraya observou toda a cena e suspirou. A paz estava alcançada. Quando soubera que Hinata fora seqüestrada, ele voltara rapidamente para a vila. Sabia que Naruto acabaria fazendo algo, de um jeito ou de outro. Todo o desespero que ele sentira no dia que achava que tinha perdido-a só prenunciava a intensidade de seus sentimentos. E agora, aquele menino bobo que ele havia ensinado era um homem feito, ia casar, ter filhos e se tornar Hokage. Começara a sentir o peso da idade em seus ombros.
- Que cara é essa ero-senin? – perguntou Naruto preocupado com a expressão que surgira na face de seu mestre.
- Nada demais... Só pensamentos incomuns...
- Jiraya-sama ficará para o casamento? – perguntou Hinata ansiosa. Sabia que Naruto ficaria muito feliz se isso acontecesse.
- Acho que sim... – e diante do sorriso dos noivos, ele completou – Na verdade, estou pensando em ficar uns tempos por aqui... Dar um tempo nas minhas andanças...
- Sério Jiraya? – se surpreendeu Tsunade – Que inusitado.
- Não sou mais bem vindo na vila, Tsunade? – provocou ele.
- Você sabe que não é isso. Só acho que Konoha não tem as coisas que você mais gosta: farra e muita mulher fácil! – provocou ela de volta.
- Também não tem cassino e mesmo assim você sobreviveu. – revidou ele.
- Ah, então você está insinuando que eu não sobreviveria sem jogar é?
- Não Tsunade. – falou com em tom de deboche - Estou afirmando isso!
E a discussão deles começou para a perplexidade de todos na mesa.
Naruto não pode deixar de sorrir satisfeito. Nada melhor que ter as pessoas mais importantes para ele naquela hora. Porém... Alguém faltava...
- Ei, cadê Iruka-sensei que não chega? – perguntou ele chateado.
- Ele deve ta corrigindo provas dos alunos – falou Kakashi pensativo – Ele me falou que estava sobrecarregado de trabalho...
- Mas ele devia estar aqui! – disse Naruto – Eu vou buscá-lo!
E quando ele se levantou Sasuke o puxou para baixo, o forçando a se sentar.
- Calma Naruto. – disse ele - O jantar mal começou. Ele só está atrasado.
- Isso é inédito, levando em consideração que Kakashi-sensei está presente... – falou Sakura.
- Não gostei da observação... – falou Kakashi.
Iruka chegou na metade do jantar, acompanhado por Ayame, a filha do Ichiraku, que parecia muito encabulada na presença de Tsunade e Jiraya.
- Tsunade-sama! Jiraya-sama! – exclamou ela se curvando.
- Olá Ayame. – cumprimentou a Hokage – Não precisa de tanta cerimônia. Sente-se.
- Iruka-sensei se atrasou... – falou Naruto meio chateado.
- Desculpe Naruto... Trabalho de professor é fogo!
O jantar ficou ainda mais animado com a presença de Iruka e Ayame. A garota ficara muito encabulada à principio, mas depois se soltou mais. Ficou extremamente constrangida quando Iruka revelou que eles estavam juntos e quando brincou dizendo que teria que casar logo, já que seu aluno ia fazê-lo. Naruto ficou extremamente entusiasmado com a idéia.
- Isso, você tem que casar Iruka-sensei! Não é Hinata? – perguntou ele empolgado deixando a pobre Ayame enrubescida.
- É-É N-Naruto-kun... – confirmou Hinata um pouco encabulada pelo casal.
- Eu proponho que brindemos todos à paz e o amor que ronda a Vila de Konoha! – propôs Jiraya levantando o copo.
Todos aderiram satisfeitos e Naruto sabia ser aquele o inicio de uma nova etapa para ele e todos ali presente.
- Gaara, chegou essa mensagem de Konoha para você.
O Kazekage pegou o pergaminho que foi oferecido por seu irmão e encarou o documento um pouco temeroso. Reconhecia o selo oficial da Hokage e temia que algo tivesse acontecido a Naruto ou à vila. E quando abriu e leu o que estava escrito, um discreto sorriso apareceu e seu rosto.
- Kankurou, prepare uma comitiva para irmos a Konoha em uma semana. – ordenou ele imediatamente enrolando o pergaminho.
- Aconteceu algo? – perguntou o rapaz preocupado.
- Ainda não. Mas irá acontecer. – disse ele com uma expressão satisfeita. – Iremos à um casamento. Avise a todos para prepararem presentes à altura de um Hokage.
Levantou-se da cadeira e saiu da sala em direção à sua casa. Kotori ficaria muito satisfeita com a notícia. Ela compartilhara com Gaara os temores de Naruto e o fato de ter certeza que o rapaz amava a menina chamada Hinata. A notícia do casamento anunciava que ele finalmente percebera o que sua esposa notara assim que ele pronunciara o nome dela.
E também havia Temari. A garota poderia visitar o namorado e ficar mais calma. Desde que voltara de sua última visita, ela andava ora estressada ora triste, o que era preocupante. Parara até mesmo de brigar com Kankuro. Uma visita a Konoha iria fazer bem a ela.
Quando cruzou a porta de casa, algo passou em sua mente. Ele se sentia bem pensando naquilo. A felicidade das pessoas o deixava feliz. Era bom poder sentir-se bem sabendo que as pessoas que eram importantes para ele ficariam felizes. E isso era algo que ele devia a Naruto.
- Parece que já estarei em dívida com o próximo Hokage antes mesmo de ele assumir... – murmurou sorrindo para si mesmo enquanto caminhava para encontrar sua esposa.
- Entre. – ordenou Takeshi.
Masami entrou na sala, fechando a porta atrás de si. Perguntava-se que assunto urgente teria o líder do clã para falar com ele. A mensagem chegara enquanto ele encaminhava uma missão da anbu, que foi imediatamente deixada de lado para atender o chamado do clã. Agora, Takeshi o olhava seriamente, mas com suavidade.
- Como vão as coisas na anbu, Masami? – perguntou descontraído.
- Bem, Otori-sama. – respondeu serio – Apesar de tudo, o garoto Uchiha tem feito um bom trabalho.
- Ótimo... Ele me parece competente para alguém que não é um Otori.
Concordando com a cabeça do comentário do líder do clã, Masami sabia que Takeshi apenas tentava deixa-lo a vontade para falar alguma coisa mais importante. Afinal, não imaginava que ele o tiraria as sede da anbu apenas para comentar o desempenho de Uchiha Sasuke. Por isso, ficou esperando o seu real pronunciamento.
- Eu soube – começou Takeshi – Que sua esposa está grávida de novo depois de tanto tempo... Meus parabéns.
- Obrigado, Otori-sama.
- Como Makoto-kun tem reagido a noticia? Bem? – perguntou displicentemente.
Masami analisou bem seu líder, pensando que tipo de resposta poderia dar a ele, sem parecer desrespeitoso. Por fim, baixou a cabeça e murmurou submisso:
- Tenho certeza que o senhor sabe isso bem mais que eu...
Takeshi sorriu.
- Claro que sei. – disse ele – Makoto-kun me conta tudo. Ele confia em mim. Por isso tomei uma decisão hoje que Naomi concordou plenamente. E você será o primeiro a saber.
- Que decisão seria essa Otori-sama? – perguntou ele, mas já desconfiando do que seria.
Cruzando as mãos sobre a mesa, a expressão do líder dos Otori tornou-se séria.
- Não fiz isso antes por que respeitava a sua posição como pai do Makoto. E ele era seu único filho. Todavia, você terá outro agora. – seus olhos eram puro aço moldado por sua determinação - Por isso, estou lhe comunicando que a partir de hoje, Makoto irá morar na minha casa, junto com minha esposa e eu. Ele será meu filho Masami. – a palavra filho saia facilmente dos lábios de Takeshi, e ao continuar sua voz estava cheia de reprovação - E terá de mim todo amor que você não deu.
As palavras foram ditas sem compaixão, sem hesitação. E Masami apenas pôde baixar sua cabeça perante elas. Não era mentira. Sua esposa sofreria por perder o filho, mas ela também concordaria com ele que aquela era a melhor coisa que, como pais, podiam fazer por Makoto.
- Não vai me dizer nada, Masami? – perguntou Takeshi sério – Nenhuma resistência?
- O senhor sempre foi mais pai dele que eu. – falou sem inflexão na voz - Não há o que me opor.
O líder do clã Otori descruzou as mãos e as baixou.
- Como eu esperava... – disse um totalmente desgostoso – Saia agora. E peça para o Makoto entrar.
- Sim Otori-sama. – e se curvando ligeiramente, saiu silenciosamente.
Do outro lado da porta, Makoto esperava sentindo-se mau. Da ultima vez que esperara por seu pai do lado de fora da sala de Takeshi fora quando acabara de saber sua condição de experimento. É claro que sabia que daquela vez era diferente, mas estava ansioso mesmo assim. Olhou para porta, querendo saber o que acontecia lá dentro. Mas os Otori tinham um código de honra entre si, em nunca ouvir sobre coisas uns dos outros sem permissão. E quando seu pai saiu da sala, seu coração pulou um pouco. Ele parecia estranho. O que não atentava Makoto era que aquela expressão tinha um quê de remorso.
- Otori-sama pediu para você entrar. – disse com a voz falhando um pouco.
- Certo. – respondeu entrando em seguida.
Tão logo que entrou, viu vários doces esperando por ele na mesa de Takeshi e sorriu quando olhou para o líder do clã.
- Sirva-se Makoto-kun. – disse ele sorrindo.
- Obrigado, Takeshi-sama. – e pegou um pirulito.
- Como vão os treinos com Uzumaki Naruto? – perguntou curioso.
- Bem. – respondeu o menino animado – Agora que o sensei será o Sexto Hokage, tem exigido bem mais da gente. Diz que temos capacidade de sermos os melhores da vila! E tudo faz no sentido de nos fazer acreditar que temos.
"Rapaz interessante..." pensou Takeshi "Sua convivência com Makoto fez com que ele se desenvolvesse surpreendentemente... Acho que em breve estará na hora de conhecê-lo".
- E os preparativos para o Exame Chunin? – mesmo sabendo qual seria a resposta, Takeshi aguardou o menino falar.
Makoto enrubesceu.
- A-Acho que terei que pedir para o meu pai me treinar... – disse parecendo encabulado - Eu e a Yumi fizemos um acordo com o sensei sabe... Ele só poderá treinar um de nós e como a Yumi tem a mãe dela pra treinar e eu tenho meu pai, pelo menos teoricamente, pedimos pra ele treinar a Suzumi que não tem ninguém...
- Ah, sei... – murmurou Takeshi levantando a sobrancelha – Bem, acho que tenho a solução pra você, Makoto-kun. Não vai precisar pedir para o Masami treinar você.
- Não? – se surpreendeu o menino.
- Não. – e sorrindo falou – Eu vou treinar você.
Makoto se engasgou diante do que Takeshi dissera, e quase engoliu o pirulito inteiro.
- T-Takeshi-sama v-vai m-me treinar? – balbuciou ele sem acreditar.
- Vou. – disse simplesmente – E a partir de hoje, você vai morar na minha casa, junto de Naomi e eu. Já falei com o Masami. Ele logo terá outro filho... – falou gesticulando displicentemente - Então não me sinto mal por estar tomando você dele.
As lágrimas começaram a rolar pela face de Makoto. Não acreditava no que estava ouvindo. Morar na casa de Takeshi era o mesmo que dizer para todo clã que o líder do clã o adotava como filho. E, distraído como estavam tentando conter as lágrimas, sentiu os braços de alguém o envolver.
- Makoto-kun... – era Naomi que entrara na sala – Vamos ver seu quarto?
- Naomi-sama... – murmurou ele.
- Não! – repreendeu ela delicadamente – Me chame de mamãe, ok?
Seria difícil chamar uma jovem de vinte e cinco anos de mamãe, pensou Makoto, principalmente por causa de todo respeito que ele tinha por ela. Deveria ser tão intimo assim?
- Querida – falou Takeshi carinhosamente – Leve Makoto-kun pra casa e providencie tudo. Ele parece está um pouco em choque! – brincou animado – Mandarei alguém buscar as coisas dele.
- M-Mas... Takeshi-sama... – o menino ainda parecia um pouco incrédulo – Por que...
- Eu já não te disse? Você é um filho pra mim e para Naomi, Makoto-kun... – e nesse momento os dois se olharam sorrindo e voltaram esse sorriso para Makoto – Você é nosso primeiro filho. E nós o amamos por isso. – e dando um sorriso alegre, continuou - E não prive sua pobre mãe de alimentar você! Veja como ela está animada.
Makoto sabia que ele se referia a Naomi e não a sua mãe. Queria perguntar a Takeshi como ficariam seus pais, o que eles pensariam, mas ao se deparar com os olhos do líder, soube que aquilo já estava resolvido. E sorrindo, saiu abraçado com Naomi, que já fazia planos para o jantar em família daquela noite.
Sasuke e Naruto se olharam e sorriram. Naruto estava no escritório de Tsunade aguardando ela para a aula daquele dia e ficara contente quando o amigo atendera seu chamado e, entrando na sala, se dirigiu a ele como o Sexto.
- Você não perde a oportunidade de debochar de mim, não é? – perguntou Naruto tentando parecer aborrecido, mas com um sorriso canto de boca ao ouvir a forma como Sasuke pronunciara "Sexto".
- E por que o faria? Agora que você é tão importante, é mais interessante zombar de você. – respondeu Sasuke – Mas você mandou me chamar... Pra quê? Já vai começar a abusar da sua autoridade?
Naruto caiu na risada. Estava em pé em frente à janela do escritório da Hokage e observou o céu antes de olhar novamente o amigo. Desde que toda sua angustia acabara era a primeira vez que conversava a sós com o amigo. Tinha algo a dizer e começar a falar:
- Obrigada por tudo Sasuke.
- Como? – perguntou o outro confuso.
- Por aquele dia...
"Aquele dia" estava se referindo ao dia em que tanto ele quanto Sakura e Tsunade tentaram tira-lo de seu abismo. Sasuke olhou de lado fazendo um barulho com a boca, e comentou um pouco irritado:
- Eu não fiz nada. Quem fez foi o Neji. – falou secamente.
- Não, você fez. – repreendeu Naruto – Eu queria te agradecer por tudo que você tem sido por esse três anos. Por ter me ensinado que são os laços e por ter sido meu primeiro laço, mas acima de tudo por agora me considerar o que eu sempre lhe considerei – e dando um passo a frente, colocou a mão no ombro de Sasuke - Um irmão...
Nada mais precisou ser dito. Os dois se encararam relembrando tudo o que haviam vivido como time e pessoa, e o quanto um deviam ao outro a sua vida. E sorrindo, apertaram as mãos.
- Obrigado irmão. – agradeceu Naruto.
- Não há de quê... Irmão... – respondeu Sasuke ainda hesitante.
- Quem diria não? – gracejou Naruto se lembrando de como eles se detestavam no começo.
- Pois é... Vamos até no casar no mesmo dia...
- E será em breve! Não vejo a hora de ficar sério com Hinata!
- Você está bem animado – comentou sorrindo – Então tudo pronto? Festa, roupa, a casa?
- Está tudo pron... – Naruto parou no meio da frase e olhou para Sasuke cauteloso – Você disse "casa"?
- Sim, casa. – respondeu ele sem entender – Você já deve ter procurado uma casa pra morar com a Hinata, não é? Ou você acha que cabem vocês dois e duas crianças em seu apartamento?
Diante da expressão do amigo, Sasuke o fitou incrédulo.
- Naruto... Não me diga que...
- Sasuke, nos falamos depois! – disse ele apressado se dirigindo à porta – Preciso ver a Hinata!
E quando ele saiu Sasuke não pode deixar de sorrir. Naruto podia ser sucessor, Hokage, o que fosse. Ele continuaria sendo o mesmo Naruto de sempre.
Hinata olhou para o jardim lá fora. Faltavam apenas três dias para o seu casamento e era impressionante como estava calma. Com a correria para preparar tudo e a perspectiva da presença do Kazekage e do Daymio na cerimônia, ela simplesmente se impusera uma tranqüilidade que muitas vezes não possuía apenas para assegurar seu bem estar e dos seus bebês. Como se pressentissem isso, as pessoas do clã estavam mais solicitas e ela tinha muito pouco trabalho. Seu pai a ajudava, temendo por sua saúde. Mas havia duas coisas naquele dia que ela queria resolver.
Uma delas era uma audiência que fora solicitada oficialmente naquela tarde. E ela fizera questão de atendê-la, mesmo que estivesse um pouco indisposta. O pedido havia surpreendido-a pela pessoa que a solicitara. Por isso, quando ouviu o correr da porta, voltou toda sua atenção para a pessoa que entrou.
- Neji-nii-san. – falou ela carinhosamente.
- Hinata-sama. – disse ele respeitosamente se sentando em frente a ela.
- Fiquei muito surpresa com seu pedido. Se havia algo para falar comigo, por que solicitar uma audiência?
- O que eu tenho para pedir não diz respeito somente a mim, mas ao clã Hyuuga também. – falou ele seriamente.
- O que eu puder fazer, eu farei. – disse ela firmemente.
Neji suspirou um pouco e baixou a vista por um momento. E quando a encarou novamente, falou numa voz baixa.
- Hinata-sama, eu mais que ninguém conheço as leis do clã Hyuuga. Estou a par também da minha condição de subserviência como membro da Bouke...
- Não fale assim, Neji-nii-san! – protestou Hinata – Você não é apenas um servo dentro desse clã!
- Por favor, Hinata-sama, deixe-me terminar. – pediu ele.
Ela assentiu com a cabeça. Estava ficando preocupada com o rumo da conversa.
- Mesmo ciente dessa minha situação – continuou ele – Fiz varias coisas que foram contrárias à minha posição e estou para fazer outra, muito mais grave. Por isso, vim até você, não como minha prima, mas como líder de clã. Caberá a você decidir o que fazer depois que me ouvir. Tudo que Hinata-sama decidir, eu aceitarei.
- Neji-nii-san... – murmurou Hinata preocupada.
- Eu quero dizer que me envolvi emocionalmente com Hanabi-sama, mesmo ela sendo um membro da Souke e eu da Bouke. E gostaria de pedir permissão para continuar com esse relacionamento, já que hoje ela faz quatorze anos e saiu oficialmente de sua infância.
Hinata sorriu aliviada. Então era isso. Ela já havia percebido a mudança das atitudes de Neji para com Hanabi os últimos dias, mas nada comentara. E também estranhara a menina não protestar quando avisou que não poderiam comemorar seu aniversário já que faltavam apenas três dias para o casamento. Hinata sabia que ali à sua frente estava o maior presente que Hanabi poderia receber.
- Hanabi sabe que você está aqui Neji-nii-san? – perguntou ela pensando na possibilidade de Hanabi estar ouvindo atrás da porta.
- Não. Ela foi até a vila comprar um vestido.
- Outro? – estranhou Hinata.
- Esse será para uma aposta ou algo assim. – esclareceu ele.
Quando ele a encarou nos olhos, já sabia qual seria sua resposta.
- Claro que permitirei seu relacionamento com minha irmã, Neji-nii-san. Não há nada que me deixe mais satisfeita. Mas por favor, nunca mais fale com tanto menosprezo de si mesmo. Não importa se é Bouke ou Souke. Você é essencial para este clã, para mim e principalmente para Hanabi. – concluiu carinhosa.
- Obrigado, Hinata-sama. – agradeceu sinceramente – Mas e quanto ao conselho do clã?
- Com eles eu me entendo. – disse ela sorrindo.
Naquele caso, ninguém passaria por cima de sua autoridade, decidiu ela.
"Burro! Burro! Burro!" era isso que pensava Naruto enquanto se dirigia ao clã Hyuuga. Como pudera ser tão burro? Se Sasuke não o tivesse alertado, ele ainda nem lembraria daquilo. Estava tão nervoso com o casamento, que acabara esquecendo-se de coisas essenciais como aquela. E por isso, estava chegando bem antes do que previra na casa de sua noiva, e quase apanhara de Tsunade ao avisar que iria sair mais cedo. Agora que era oficialmente o sucessor, ela fazia questão que ele passasse algumas horas do dia com ela em seu escritório. Mas não iria ficar sossegado enquanto não resolvesse aquilo.
"Espero que Hinata não esteja ocupada!" desejou ardentemente quando entrou correndo na propriedade do clã. Para seu imenso alívio, viu Neji sair da casa e Hinata logo depois.
- Hinata! – chamou ele alegremente assim que a viu.
- Naruto-kun! – mesmo estando noiva dele e saber que casariam em poucos dias, ela não pode evitar a vermelhidão que tomou conta de seu rosto quando ele sorriu para ela.
Naruto parou ofegante de frente para ela e acenou para Neji, que já se afastava para deixá-los a sós.
- Oi Neji! – disse antes de o rapaz sumir de vista. E olhando para sua noiva, falou meio encabulado – Hinata tem algo que precisamos conversar...
Hinata o encarou, preocupada.
- Algum problema Naruto-kun?
- Na verdade, há sim... Você ta ocupada agora?
Ela meneou a cabeça negando.
- Não há nada... Eu estava somente te esperando, mas achava que você viria somente ao pôr-do-sol...
- Precisamos conversar sobre algo importantíssimo! – disse ele com certa urgência.
- Naruto-kun, estou ficando assustada... – murmurou ela.
- Não! Não fique assustada! – ele se desesperou diante da expressão dela – Pense nos bebês! Eu prometo que vou resolver tudo!
- Resolver o que? – ela estava confusa.
- Onde nós iremos morar! Eu não tinha pensado nisso, meu apartamento é pequeno demais e se o Sasuke não tivesse me falado hoje, eu nem lembraria!
Ele parecia estar em pânico diante daquela questão. Mas o coração de Hinata ficou aliviado. Pensou que fosse algo mais sério. Na verdade, aquela era a outra questão que teria que resolver naquele dia. Pegando na mão dele, falou docemente:
- Calma Naruto-kun. Eu já pensei sobre isso.
- Já? – se surpreendeu ele.
- Já. Venha comigo. – e puxou delicadamente ele pela mão, na direção da saída do clã Hyuuga.
Naruto percebeu que ela estava calma e não chateada com seu desleixo. Como ela conseguia não se irritar diante de suas trapalhadas? Será que ela estava só dizendo aquilo para não machucar ele? Não, Hinata não era dessas coisas. Mas para onde ela o levava?
- Hã... Hinata? Para onde vamos?
- Eu andei conversando com o papai sobre isso. – disse ela ao cruzarem os portões – Sabíamos que você não se sentiria bem morando dentro do clã Hyuuga...
- Realmente... – admitiu ele pensando em como seria constrangedor acordar todo dia e dar de cara com Hiashi pela casa.
- Só que eu também não posso me afastar do clã, devido às minhas funções... Então o papai nos deu um presente. Na verdade, deu uma idéia.
Quando se aproximaram do grande portão com o símbolo Hyuuga, Naruto compreendeu o que Hiashi fizera. E sorriu.
Eles entraram no jardim que parecia estar mais bonito naquele dia. Como da outra vez que viera ali, a casa estava muito bem cuidada. O piso de carvalho fez aquele singular ruído que parecia de pássaros cantando quando pisaram nele. Tiraram as sandálias antes de entrarem na sala onde haviam feito às pazes. Hinata sentou bem em frente à porta e perguntou com um sorriso:
- Então, o que acha de nossa futura casa?
- Bem... Acho que seu pai me surpreendeu agora... – disse ele coçando a cabeça.
Hinata sorriu enquanto ele sentava junto com ela, de frente para a porta.
- Aqui eu não fico longe do clã, nem você fica dentro dele. A casa é grande e arejada, já está mobiliada e tem esse jardim enorme! – falou ela abrindo os braços – Muito espaço para as crianças!
- E tem o piso que canta! – falou Naruto.
- O nome é piso-rouxinol. Parece que foi um presente dos Otori se não me engano...
- Isso não me surpreende... – comentou ele sorrindo. Um piso que canta combinava com um clã que ouve demais.
- Então Naruto-kun... Algo contra? – perguntou ela ansiosa.
- Claro que não! Pelo contrário! Nada melhor para nós que morar no lugar onde decidimos ficar juntos! Além do mais, sempre quis morar numa casa dessas bem tradicionais, com sala de chá e jardim com lago! – disse Naruto parecendo muito animado.
O entusiasmo dele a deixou satisfeita. Seu pai parecia ter acertado bem daquela vez.
- Hããã... Hinata... – chamou ele baixinho.
- Oi?
- Onde vocês vão acomodar as visitas agora?
- Vou mandar construir outra casa do outro lado do clã. Aquelas terras são nossas também...
- Ah, ta... – murmurou ele.
Olhando para o jardim lá fora, ele pensou em como tudo estava dando certo para os dois. Parecia que finalmente o mundo conspirava a seu favor. E não devia negar nenhuma daquelas chances.
- Hinata... – chamou ele novamente.
- Estou ouvindo.
- Você não tem mais nada para fazer no clã hoje, não é? – perguntou tentando parecer displicente.
- Não. – respondeu ela sorrindo.
- Então... Você pode demorar um pouco para voltar para casa, não é? – continuou como se nada demais passasse em sua cabeça.
- Sim posso. – afirmou ela – Mas por que...
Hinata não conseguiu terminar a frase. Com o pé, Naruto fechou lentamente a porta de correr que dava para o jardim. Compreendeu imediatamente as intenções dele e ruborizou. Naruto a tomou nos braços e a beijou ardentemente, deitando-a lentamente no chão da sala. Naquela hora, pensou Hinata enquanto sentia as mãos dele percorrerem seu corpo, mesmo que houve se algo a ser feito, ela com certeza iria ficar ali pelo tempo que fosse.
- Que inusitado você por aqui. Devia estar se preparando uma festa e não passeando tranqüilamente. – zombou Neji.
Sasuke deu um pequeno sorriso diante das palavras do rapaz. Sim era verdade. Seu casamento seria realizado no dia seguinte e havia muitas coisas a certar. Mas o principal em sua opinião fora o que seria feito ali, na área de treinamento de Konoha, a mesma que ele sabia ser onde mais provavelmente acharia Neji.
- Bem, não sou o único a não estar no lugar que deveria. Fui ao clã Hyuuga e quando perguntei por você, me responderam que também não sabiam onde você estava – disse Sasuke devolvendo a "gentileza".
- Pode até ser. Mas eu não me casarei amanhã. – rebateu Neji.
Mesmo contra a vontade, os dois sorriram um para o outro. Se fosse continuar aquela conversa, ela duraria muito tempo e acabaria em uma luta corporal. Levantando-se do chão onde havia se sentado para descansar, Neji o encarou seriamente.
- Para dispor-se a vir até aqui me procurar Sasuke, receio que não é para uma batalha mortal.
- Infelizmente teremos que deixar isso para outra oportunidade. Tenho que estar descansado para meu casamento amanhã. Eu gostaria apenas de falar com você.
Eles se encararam durante um tempo e Neji comentou:
- Estou esperando. Diga o que você veio dizer.
Sasuke suspirou. Havia demorado muito para decidir fazer aquilo. Mas sabia que estava fazendo a coisa certa. E aquilo lhe dava um grande prazer. Se já podia ver seus erros e procurar conserta-los era mais um passo dado para longe das trevas que ainda insistiam em aparecer-lhe em sonhos.
- Eu gostaria de lhe agradecer Neji. – disse Sasuke suspirando.
- Agradecer? – estranhou o rapaz.
- Pelo que você fez por Naruto e Hinata. Conseguiu uni-los e acabar com a dor deles. Eu lhe sou muito grato.
- Não entendi a motivo do agradecimento – comentou ele sem esconder a surpresa – Não fiz mais que minha obrigação diante do estado de Hinata-sama. E por que você e não o Naruto veio ate aqui?
- Ele já lhe agradeceu. - e dando uma pequena pausa, acrescentou meio a contragosto - E eu também lhe devo um pedido de desculpas. Pelas coisas que eu disse e por não ter confiado em você naquele dia.
Neji não resistiu e deu um sarcástico sorriso para Sasuke.
- Sim deve. – respondeu satisfeito – Mas já está perdoado.
Respirando fundo para controlar sua raiva, Sasuke respondeu com a voz calma e fria:
- A partir de hoje acabaremos nos encontrando sempre. Achei que seria prudente assinar um tratado de paz, não acha?
Esperava alguma resistência e se surpreendeu quando viu a mão solicita de Neji bem à sua frente. Eles apertaram as mãos confiantemente, ambos desejando que aquele tratado durasse por muito tempo. Mas nenhum dos dois jamais diria isso em voz alta. Quando soltaram as mãos, Sasuke já estava pensando em se retirar quando se lembrou de algo. Desde que Naruto lhe narrara os fatos do dia em que se reconciliou com Hinata, inclusive a conversa com Neji, uma coisa passara em sua cabeça.
- Neji, eu tenho uma pergunta para lhe fazer. É apenas uma curiosidade, não precisa responder se não quiser. – esclareceu Sasuke.
- E o que seria? – perguntou o outro.
- Você falou em obrigação pelo fato de Hinata estar grávida. Mas o que você teria feito se eles não tivessem resolvido? Afinal, a líder do clã estaria grávida sem um marido...
Sem pestanejar Neji respondeu friamente:
- Primeiramente eu mataria Naruto. Depois me casaria com Hinata-sama para dar um pai aos seus filhos.
De todas as respostas que Sasuke esperava aquela era a mais absurda. Ambos sabiam que para matar Naruto no nível que estava seria muito difícil tanto para Neji quanto para o próprio Sasuke. Mas não foi isso que o surpreendeu, mas o que ele dissera depois. Por isso, contestou:
- Mas você mesmo não disse que a ama! – protestou o chefe da anbu.
- E é verdade. Eu não a amo. Não como mulher. – e naquele momento, mesmo contra sua vontade, Neji imaginou a dor de Hanabi se ele fosse obrigado a tomar aquela decisão.
- Então... – continuou Sasuke – Por quê?
- Pelo clã. E por Hinata-sama, que é como uma irmã para mim. – esclareceu como se fosse a coisa mais simples de se pensar, mas logo depois acrescentou - Isso seria apenas em ultimo caso. Não queria machucar ninguém propositalmente.
- Entendo... – falou Sasuke sabendo que ele se referia a Hanabi – Mas para nossa paz, Naruto não é tão burro assim...
- Não repita tanto isso - avisou Neji – Ou ele pode começar a pensar que é verdade.
Foi impossível não cair na risada. E quem passasse ali naquela hora certamente acreditaria que caíra em um genjutsu, pois jamais ninguém em Konoha, nem mesmo Naruto, poderia esperar que Neji e Sasuke estivessem rindo abertamente e juntos, como dois amigos, de uma piada contada pelo gênio da família Hyuuga.
Gai levou mais um dango à boca e mastigou demoradamente enquanto encarava o amigo sentado à sua frente que sustentava uma expressão de nítida tristeza no rosto. Desde que seu relacionamento com Shizune havia acabado, Kakashi não era o mesmo. Tomando um pouco de chá, Gai finalmente falou:
- Se era pra ficar nessa tristeza toda por que você acabou com ela? – perguntou veementemente.
Kakashi suspirou e colocou a mão no queixo, apoiando o cotovelo na mesa. Analisou o homem à sua frente e calmamente, respondeu:
- Você não entende Gai. Eu gosto da Shizune, mas simplesmente não dava mais! Até me seguindo ela estava, você acredita?
- Sério? – perguntou Gai surpreso.
- E não era só isso. – continuou o outro sombrio – Ela estava se tornando histérica. Não podia me ver conversando com ninguém. Você acredita que até da Kurenai ela tinha ciúmes?
- Mas a Kurenai? Ela é casada e tem uma filha! – surpreendeu-se o outro.
- Pra você ver... Shizune estava me sufocando... – e parecendo extremamente decepcionado ele continuou – Mas eu não quero mais falar disso... Como você está com a Anko? Não ficou chateado de Sasuke ter chamado ela e a mim para ficarmos do lado dele na cerimônia de amanhã?
Gai começou a gargalhar e fez a pose de nice guy.
- Eu confio na minha namorada! Sei que o Sasuke-kun a chamou justamente por causa desse seu desentendimento com a Shizune-san.
- Não foi desentendimento Gai. Nós realmente acabamos... – e novamente adquiriu um ar triste, mas de certa forma aliviado. Não agüentava todo o ciúme excessivo de Shizune.
- Eu tenho a esperança que um dia vocês voltem... – falou o outro com um sorriso consolador – Afinal, vocês se gostam...
- Difícil... – murmurou o outro – Ela teria que mudar muito...
Quando Gai abriu a boca para falar algo, foi interrompido pela chegada de alguém. Iruka se aproximou com um sorriso tímido, mas extremamente satisfeito.
- E então? – perguntou Kakashi mudando subitamente de ares e ficando mais animado – Falou com ele?
- Falei... – murmurou Iruka ainda com a face enrubescida – E ele permitiu.
Gai bateu a mão em cima da mesa diante da noticia, assustando os dois amigos e gritou para o garçom:
- Traga sakê rapaz! Muito sakê! Vamos comemorar o noivado do meu amigo aqui! Por minha conta – e fez a pose de nice guy para Iruka.
- Calma Gai-san. – pediu o professor timidamente – Não precisa se preocupar comigo e...
- Deixe-o Iruka. – cortou Kakashi – Apesar de sabermos que o Ichiraku-san nunca se oporia ao seu noivado com a Ayame-chan, precisamos comemorar ao máximo essa noticia.
Iruka olhou para o amigo com um ar desapontado. Sabia o quanto ele gostava de Shizune e o quanto estava sendo difícil para ele àquela situação. Por isso, soube que Kakashi mais que ninguém ali precisava espairecer, por isso não se opôs a todo alvoroço que Gai começou a fazer. Afinal, eles precisavam já ir se animando para o casamento no dia seguinte. E para o seu, que ele não pretendia adiar muito.
O dia do casamento finalmente chegara. Toda vila estava em polvorosa. Todos haviam sido convidados para o casamento de Naruto com Hinata e de Sasuke com Sakura. Era inusitado como se há apenas três semanas todos na vila rejeitavam sua irmã e agora iriam vê-la em seu maior momento de felicidade, pensava Hanabi. Mas dentro do clã não era diferente. Até seu pai, que em sua opinião ainda não aceitara Naruto completamente, parecia ansioso. Mas tinha certeza que nem Hinata estava tão satisfeita quanto ela naquele dia. Por isso, se prepara bem antecipadamente. Tinha algo a cumprir antes de ir para o templo onde se realizaria a cerimônia. Por isso, quando faltava pouco mais de uma hora, ela aprontou uma pequena sacola e deixou seu quarto.
- Não irá com sua irmã, Hanabi?
A voz de Neji sempre lhe trazia alegria e daquela vez não foi diferente. Voltou-se para ele e sorriu. Adorava que agora ele a chamasse somente de "Hanabi".
- Eu adoraria ir com a nee-san, mas há algo que eu devo fazer antes de ir para o templo. – esclareceu ela.
- Isso envolve a sua "aposta"? – indagou ele olhando a sacola que ela levava na mão.
- Sim. Envolve. Mas não se preocupe. Eu não me atrasarei. Pode ir com a nee-san. Preciso assegurar a ida de alguém.
- Esse alguém seria Kimura Suzumi? – ele parecia estar a par de tudo, apesar do suspense que ela fazia.
- Sim, tem. Você verá! – acrescentou ela piscando o olho antes de dar um rápido beijo nele e sair.
Ela estava ansiosa para ver como ficaria Suzumi de vestido. A garota passara os últimos dias tentando convencê-la a desistir da aposta e até propusera outros embates, mas fora em vão. Hanabi não perderia nunca a oportunidade de presenciar aquela cena.
Ao chegar em frente à casa de Suzumi, não se espantou em ver Makoto e Yumi já lá. Seus colegas Kasuma e Tasuki estavam lá também, pois sabiam que ela passaria lá antes do casamento. E havia dois meninos cujos cabelos ruivos alertaram-na serem os irmãos de Suzumi.
- Boa tarde. – cumprimentou ela sorridente.
- Boa tarde. – respondera os outros olhando para a sacola que ela levava.
- Você está muito bonita Hanabi. – elogiou Yumi.
- Obrigada Yumi – agradeceu ela – Você também está ótima, mas devia mostrar mais o busto. Se cobrir muito não é legal. – comentou apontando para o vestido de Yumi que cobria toda a parte do busto.
Yumi sorriu sem jeito. Não queria explicar o motivo da ausência de um decote, mas também Hanabi não parecia estar interessada. Olhou para os dois irmãos de Suzumi e sorriu.
- Cadê a irmã de vocês? – perguntou gentilmente.
- Lá dentro. – respondeu Suichi.
- Mas ela já avisou que não vai ao casamento. – completou Shunsui.
- Como assim não vai? – o sorriso de Hanabi morreu instantaneamente.
- Algo a ver com um vestido... – comentou Suichi quase sem voz diante da expressão irritada no rosto de Hanabi.
- Ela não está nem louca de fazer isso! – exclamou a menina.
E dando as costas para todos, entrou na casa sem pedir licença e ainda bateu a porta irritada.
- O que faremos Yumi-nee-san? – perguntou Shunsui preocupado.
- Acho melhor as deixarmos resolverem isso... – falou a menina.
Hanabi não demorou a achar Suzumi. Ela estava no quarto, de robe e parecia triste. Mas quando viu a outra entrar em seu quarto, imediatamente assumiu uma expressão irritada.
- O que você tá fazendo aqui? – perguntou Suzumi.
- Garantindo que você vá ao casamento! – respondeu Hanabi.
- Eu não vou!
- Ah, vai sim! Nem que eu tenha que obriga-la!
- Olha aqui Hanabi, se eu digo que eu não vou, não vou e pronto! E além do mais, eu nem tenho um vestido para ir mesmo... – falou satisfeita.
- E foi já prevendo isso que eu trouxe o vestido e você vai!
- Você trouxe... Um vestido? – perguntou Suzumi horrorizada.
- Trouxe. – disse a outra triunfante tirando o vestido da sacola – E você vai vestir!
- Vou não!
- Vai sim!
Mesmo estando do lado de fora da casa, todos os garotos ouviram claramente a tentativa de Hanabi em por um vestido em Suzumi. Elas gritavam enquanto o barulho de coisas quebrando as acompanhava:
- VESTE LOGO ISSO!
- NÃO!
- VESTE!
- PARA DE PUXAR MEU CABELO SUA IDIOTA!
- VOCÊ VAI VESTIR NEM QUE EU TENHA QUE VESTI-LO EM VOCÊ! TIRA ISSO!
- NÃO PUXA MEU ROBE!
- AGORA VOCÊ VESTE! – um barulho de vaso quebrando acompanhou a frase.
- OLHA O QUE VOCÊ FEZ SUA IMBECIL!
- VOCÊ QUEM ME EMPURROU DELIQÜENTE!
- SAI DE CIMA DE MIM!
- SÓ QUANDO VOCÊ VESTIR ISSO!
- PARA DE PUXAR MEU SUTIÃ!
- TE DEIXO NUA, MAS VOCÊ VESTE ISSO!
Makoto olhou preocupado para Yumi, que olhou preocupada para Kasuma que olhou para Tasuki, que não olhou para ninguém. O menino mantinha a cabeça baixa, os olhos fechados e com um sorriso enigmático nos lábios.
- Tasuki? – chamou Kasuma.
- Não fale comigo. – pediu veementemente – Tenho que imaginar isso.
- Imaginar o que? – perguntou Makoto.
- Hanabi e Suzumi seminuas no chão se agarrando... – disse ele com uma expressão pervertida no rosto.
Kasuma deu uma cotovelada na barriga do amigo, que se curvou de dor.
- Você não tem vergonha? – perguntou o garoto – Estamos na frente de uma dama! – e apontou para Yumi.
- Você não consegue entender Kasuma, as coisas boas da vida... Ainda não tem idade para isso... – falou Tasuki como se entendesse do que falava.
- Esse papo ta estranho... – comentou Makoto.
- O Tasuki é estranho! – disse Kasuma irritado – Fica falando essas coisas sem sentido enquanto devia ta preocupado com outras coisas!
- Quando você ficar mais velho vai me entender... Agora não tem hormônios suficientes para isso...
Kasuma adquiriu uma cor avermelhada na face enquanto Tasuki sorria para ele. Os irmãos de Suzumi pareciam não acompanhar a conversa e estavam mais preocupados com o desenrolar do que acontecia na casa. Mas Yumi chegou perto de Kasuma e comentou:
- Você é o mais novo do time não é?
- Sim ele é. – quem respondeu foi Tasuki – O pequeno gênio da família Niwa, Kasuma! Com apenas nove anos de idade é chunin! Palmas para ele!
- Tasuki... Pare com isso... – pediu Kasuma encabulado.
Apesar da ironia do comentário, não havia maldade nas palavras de Tasuki, percebeu Makoto. Ele parecia admirar o colega, mas não perdia a oportunidade de envergonhá-lo. Por isso, continuou a falar:
- Ei vocês sabiam que o Kasuma é o primeiro ninja da família dele?
- Sério? – se surpreendeu Makoto.
- Sério! – afirmou Tasuki – O avô dele veio pra Konoha a pedido do falecido Terceiro para projetar prédios. Ele era arquiteto.
- Verdade Kasuma-kun? – perguntou Yumi.
- Sim. – confirmou ele sem olhar para a garota – Meu avô veio e o Terceiro gostou tanto do trabalho dele que pediu pra ele ficar. Então, o vovô trouxe toda família para a vila e estabeleceram o negócio de Arquitetura.
- Como você virou ninja então? – indagou Makoto pensando o quanto era inusitada aquela história – E tão jovem?
- O Iruka-sensei me descobriu. Quando ele me viu brincado de ninja, percebeu que eu já manifestava o chakra perfeitamente...
- E mandou três dos seus amiguinhos pro hospital nessa brincadeira... – falou Tasuki caindo na gargalhada.
Kasuma ficou mais encabulado, mas confirmou com a cabeça.
- Foi por que eu não sabia o que estava fazendo... – justificou - Depois disso o Iruka-sensei pediu para meus pais que permitissem que eu fosse para a academia. Eles não queriam a principio, já que toda família é arquiteta... Mas a Quinta os convenceu... E aqui estou eu... – soltando uma risadinha nervosa, o menino concluiu sua história.
- Então, você é muito inteligente, não é Kasuma-kun? E talentoso também... – comentou Yumi sorrindo gentilmente para Kasuma, que adquiriu uma cor vermelho berrante na face ao ver a garota olhando-o com carinho.
- O-Obri-gado Ka-Kaneshiro-s-senpai... – gaguejou o menino.
Tasuki observou a cena e comentou para Makoto:
- Parece que me enganei... Os hormônios já começaram a agir...
Makoto sorriu diante do comentário. Realmente parecia que a presença de Yumi mexia com o menino.
- E você Tasuki? Sua família é de ninja também? – perguntou Makoto interessado.
- Sim, meu pai é ninja, mas minha mãe não é. Na verdade, ela nem era de Konoha, o papai conheceu ela em uma missão e a trouxe pra morar aqui.
- Que história romântica! – exclamou Yumi.
- Que nada! – rebateu Tasuki – Minha mãe não agüentou essa vida de mulher de ninja por muito tempo. Quando eu tinha três anos ela foi embora e abandonou meu pai e eu. Agora, mora lá na capital e é casada com um dono de restaurante.
Não havia um pingo de tristeza ou mágoa na forma como Tasuki falara, notou Makoto. Na verdade, sua história fora contada de uma forma casual, como se tivesse acontecido com outra pessoa. E admirou o garoto por causa disso.
- E agora só vivem você e seu pai? – perguntou Yumi.
- Não. Ele casou de novo e eu já tenho dois irmãos. Minha madrasta é mais legal que minha mãe! – e levando a mão à cabeça, coçou os cabelos como se estivesse se desculpando por preferir a madrasta e não a mãe.
Era interessante como se descobria coisas tão interessadas em uma simples conversa de rua. Mas havia alguma coisa estranha na cena. E Makoto reparou que era o silêncio.
- Ta quieto lá dentro... – comentou Suichi.
E realmente era verdade. Os gritos haviam parado.
- Makoto, o que está acontecendo? – perguntou Yumi preocupada.
Ela nem precisava perguntar. O garoto já ouvia o que acontecia na casa. Primeiro ouviu um coração batendo mais rápido. Depois as palavras:
- Desculpa, caiu. – era a voz de Hanabi.
- Quebrou? – perguntou a voz de Suzumi. O coração que batia mais rápido era o dela.
- Não... Eu não sabia que era um altar... – havia um sincero arrependimento em suas palavras.
- Esqueça isso...
O silêncio durou um momento até que a voz de Hanabi falou de novo:
- É seu pai? O da fotografia?
- Sim... Foi a última foto que ele tirou antes de... – e a voz de Suzumi se perdeu antes que chegassem à sua boca, como se algo muito forte a impedisse de manifestar os seus sentimentos.
- Ele era muito bonito... – falou Hanabi percebendo o mal estar da garota e possivelmente observando o retrato, já que os passos de Suzumi se aproximaram dela e pararam a seu lado.
- Era sim. – falou a garota orgulhosa – A mamãe dizia que ele era o mais bonito na época da academia.
- Você... Parece com ele... – comentou Hanabi como se aquilo fosse uma forma de consolo.
- Ah, então você admite que sou bonita? – falou Suzumi vitoriosa.
- Nunca disse que você era feia. – rebateu Hanabi – Apenas mal vestida.
Elas fizeram mais um pouco de silêncio até Suzumi suspirar.
- Tá certo, eu ponho o maldito vestido! Mas só por que não quero e não vou magoar Naruto-sensei faltando o casamento dele...
- É assim que se fala! – comemorou Hanabi – Você põe o vestido e eu faço seu cabelo e maquiagem!
- Ai minha cabeça... – murmurou Suzumi desgostosa.
Makoto sorriu. Seria interessante ver no que isso ia dar.
- E então? – perguntou Yumi preocupada.
- Elas estão bem. Saem em breve.
E ele estava certo. Meia hora depois, Hanabi apareceu na porta, sorrindo alegremente. E anunciou como uma apresentadora de programa de televisão:
- E agora com vocês, a nova Kimura Suzumi! – e deu um passo para o lado.
Todos ficaram esperando, mas a garota não apareceu. Hanabi ficou irritada e abriu a porta.
- Vamos, não dificulte as coisas! – e puxou Suzumi para fora.
Mesmo que já estivesse preparado, Makoto levou um choque ao ver Suzumi. Hanabi fizera um excelente trabalho. A menina exibia um belo penteado, todos seus piercing haviam sido removidos, tendo apenas um discreto par de brincos nas orelhas, e vestia um belo vestido verde combinado com seus olhos e uma sandália de salto alto. Ela parecia extremamente constrangida e o garoto não parecia o único bestificado ali. Tasuki também não conseguia manter a boca fechada.
- Suzumi... – murmurou Makoto incredulamente – É você?
- Não, é sua avó! – explodiu a garota com o rosto vermelho.
- Eu queria ter uma avó gostosa assim... – murmurou Tasuki com um sorriso sacana.
- Tasuki! – exclamou Kasuma irritado.
Mas tanto ele quanto Makoto não prestavam atenção em outra coisa.
- Suzumi... – disse Makoto olhando para baixo – Eu estou vendo suas pernas...
- E que pernas... – comentou Tasuki acompanhando o olhar do outro. O vestido que Hanabi escolhera era propositadamente curto.
- E o que você queria? Tentáculos? – perguntou Suzumi mais vermelha ainda.
- Acho que é melhor irmos para a festa... – comentou Yumi sorrindo. Estava orgulhosa da amiga. Suzumi não botava um vestido desde que seu pai morrera.
- Vamos logo. – chamou Hanabi satisfeita e puxando Suzumi pela mão. Imagina quantas reações daquelas o vestido da menina ia provocar.
Naruto estava nervoso. Muito nervoso. Não importava o que dissessem a ele. Não conseguia parar de tremer. Dentro do templo, cada minuto que passava apenas aumentava sua ansiedade.
- Calma Naruto. – falou Sasuke tentando parecer tranqüilo, mas com a voz falhando um pouco.
- To tentando ficar calmo, mas não consigo! – falou o outro – Será que ainda vai demorar?
- Talvez um pouco mais... – disse Iruka colocando a mão no ombro de Naruto. – As noivas ainda nem chegaram...
- Será que elas desistiram? – perguntou Naruto em pânico para Sasuke.
- Acho que não... - respondeu ele, mas sem muita confiança.
- Olhem, elas chegaram! – disse Kakashi.
O casamento seria realizado no templo de Konoha. O celebrante era um monge vindo da capital especialmente para o evento, a convite da Hokage. Além das pessoas da vila, diversos senhores feudais estavam presentes e até mesmo o daymio do País do Fogo. Antes de entrar no templo, Tsunade fizera questão que ele falasse com todos, mesmo que Naruto avisasse que se falasse muito, talvez acabasse vomitando de ansiedade. Gaara estava ali juntamente com os outros estadistas e acompanhado de Kotori, que parecia feliz como no dia de seu casamento e fora dar os parabéns a Naruto assim que ele chegara.
Naruto vestia um quimono cerimonial, e Iruka estava ao seu lado. Como não tinha pais, escolhera o professor para acompanhá-lo, juntamente com Tsunade. Sasuke fizera o mesmo, convidando Kakashi e Anko.
Tanto Hinata quanto Sakura vestiam quimonos cerimoniais, ambos vermelhos, típicos das noivas no País do Fogo. O templo estava lotado e Naruto sabia que lá fora havia mais gente. Ele não sabia se isso era bom ou ruim. O certo é que Hinata estava linda e sorria para ele.
- Bem vamos iniciar a cerimônia. – avisou o monge.
Foram duas horas de cerimônia bonita e simples. Mesmo sendo o futuro Hokage e estar casando com a líder do clã Hyuuga, Naruto deixara bem claro que não queria algo pomposo, no que foi seguido por Sasuke. Tudo que ele queria, já estava em suas mãos. E cada vez que olhava para Hinata naqueles trajes e ela sorria para ele, sabia que não precisava de nada mais para ser feliz. Estava rodeado de pessoas amigas, casando com a mulher que amava e seu sonho estava mais próximo que nunca. Sentia-se realmente feliz.
Quando o monge pronunciou suas últimas palavras e encerrou a cerimônia, os olhos de Naruto se encontraram com os de Hiashi. Ele parecia querer se certificar que Naruto realmente ia levar tudo adiante. O rapaz sorriu para o sogro, que não devolveu o cumprimento.
"Paciência." pediu Naruto para si mesmo. Se ainda faltava ser reconhecido por Hiashi, não tinha problema. Ele já tinha chegado mais longe do que muita gente previra e lutar mais um pouco não faria mal.
Sasuke e Sakura também pareciam extremamente felizes. A garota estava à beira das lágrimas enquanto descia as escadas do templo apoiada no braço do marido. E todos cumprimentavam a nova senhora Uchiha. E isso fez Naruto se lembrar de algo.
- Hinata, você agora não é mais uma Hyuuga! Você é Uzumaki! – disse ele parecendo meio perplexo, meio satisfeito.
Hinata sorriu para ele.
- Acho que Uzumaki Hinata vai ficar bem em mim, não é? – respondeu ela com uma felicidade extrema brilhando em seus olhos.
E ficava mesmo. Na opinião dele era o nome mais bonito do mundo.
A festa de casamento mais parecia um festival. Todos na vila comemoravam juntamente com os noivos. Um grande salão fora providenciado para acomodar todos. E tão logo a festividade começou, Tsunade chamou os dois casais e falou:
- É importante que vocês falem com todos os convidados. Aproveitem que ainda não estão muito cansados e cumprimentem todos de mesa em mesa. Eu acompanharei vocês.
E assim foi feito. Para Naruto aquilo era meio maçante. Ter que falar com todas aquelas pessoas desconhecidas, que o mediam da cabeça aos pés, como se estivesse avaliando um objeto de leilão. Por isso, quando chegou à mesa do Kazekage, se sentiu mais satisfeito, não estava mais em território desconhecido.
- Obrigado por terem vindo. – falou ele pela milésima vez, mas dessa vez com a sinceridade estampada em seus olhos.
- Não perderia por nada. – falou Gaara satisfeito. – Esta é minha esposa Kotori. – apresentou ele.
- É um prazer conhece-los – falou ela se curvando delicadamente – Principalmente a esposa de Naruto-dono. Hinata estou certa?
Hinata pareceu um pouco surpresa. Era a primeira vez que via Kotori e ela já sabia seu nome.
- Sim, Hinata. É um prazer conhece-la, Kotori-hime. – e ela se curvou também.
- Você é tão bonita quanto imaginei. – falou Kotori juntando as mãos delicadamente e olhando bem para Hinata – Quando Naruto-dono falou sobre Hinata-dono eu realmente pensei que ela teria um sorriso tão meigo assim.
Naruto ficou vermelho diante das palavras da princesa, sentindo o olhar surpreso de Hinata. Ela não sabia que a princesa a defendera quando nem ao menos a conhecia. E talvez tenha sido essa ligação indireta que fez com que as duas de repente se sentissem ligadas por uma empatia logo na primeira vista, prenunciando o inicio de uma bela amizade.
Percorrer as demais mesas era mais fácil. Cumprimentar seus amigos era mais divertido e menos monótono. Não se surpreendeu com a presença de Temari na mesa dos Nara. Ela parecia estar bem à vontade com a família do seu namorado, mas notou a ausência de sua dama de companhia e que Kiba estava sozinho. Tenten e Lee pareciam estar muito bem juntos, sentados com Gai que estava inusitadamente na companhia de Anko. Eles pareciam muito animados, e Anko fez questão de dar um abraço bem apertado nos noivos. Hinata achou divertido e Sakura se sentiu um pouco incomodada. Mas a examinadora logo voltou sua atenção para Gai, que como Lee havia abandonado a roupa colante verde. Na mesa dos Akimichi, Naruto finalmente conheceu a namorada de Chouji, Miko, uma menina muito simpática, que os cumprimentou alegremente. Shino e sua família foram os mais polidos com ele e comentaram a bela decoração iluminada com vagalumes. Mas o que deixou Naruto realmente satisfeito foi conhecer a mais nova moradora da vila.
- O nome dela é Keiko – disse Asuma com a filha de apenas um mês no colo – Sarutobi Keiko.
- Que linda! – exclamou Hinata. Ainda não havia visto a menina de sua sensei.
- É uma bela menina Kurenai-sensei. – elogiou Sasuke.
- Ela vai puxar à mãe. – comentou Sakura olhando os olhos alaranjados do bebê. - Espero que sim. – disse Asuma contente.
- Quem está mais feliz é o Konohamaru. – disse Kurenai apontando o garoto – Não larga a menina um só instante. Não é, Konohamaru?
Ele não respondeu a pergunta. Sua atenção estava totalmente voltada para a mesa vizinha, onde o Time três sentava na companhia dos pais de Yumi. Desde que notara a presença de Suzumi na festa, Konohamaru simplesmente não conseguia prestar atenção em outra coisa, e nem se dava conta de que todos o observavam sorrindo.
- Parece que sua aluna está chamando bastante atenção... – comentou Asuma olhando para a cara totalmente idiota do rapaz.
- Suzumi sempre chama a atenção... – comentou Naruto sorrindo.
- Por que você não vai lá e fala com ela? – incentivou Kurenai batendo de leve nos ombros dele.
- Sei não... – murmurou Konohamaru – E se ela me der um fora? – ele parecia mais falar consigo mesmo que com Kurenai.
- Você nunca vai saber se não tentar... – falou Sasuke sorrindo.
- Bem, eu vou lá falar com a mãe e o pai da Yumi. – disse Naruto e piscando o olho, aconselhou ao rapaz – Não demore viu Konohamaru? Como você, há outros olhando para a Suzumi.
E era verdade. A menina parecia estar chamando muito a atenção dos garotos na festa, mesmo que aparentemente não se sentisse nem um pouco a vontade com isso.
- Naruto-sama. – cumprimentou Yura assim que Naruto chegou à mesa.
- Pode me chamar só de Naruto mesmo... – pediu o rapaz encabulado com a designação respeitosa vindo de alguém como Kaneshiro Yura.
- Não adianta pedir isso a ela. – falou Ryoma sorridente – Desde que soube que o sensei de nossa menina será o próximo Hokage, ela só se refere a você assim e até aumentou as horas de treino com Yumi.
- Mas eu nem reclamei pai! – Yumi defendeu a mãe imediatamente, fazendo Naruto rir.
- Ouviu isso Ryoma? Yumi concorda comigo. Ela sabe que tem que estar à altura de pertencer ao time do futuro Hokage. – esclareceu a mãe da garota.
- É um prazer revê-la, Kaneshiro-san. – falou Hinata sorrindo, observando a forma apaixonada como Ryoma olhou para a esposa e colocou a mão sobre a dela.
- O prazer é meu Hinata-sama. – agradeceu Yura enquanto segurava firmemente a mão do marido.
- Ligue pra Yura-san não sensei. – falou Suzumi sorrindo – Ela sempre é muito formal.
- E você deveria ser um pouco formal também, Su-chan. – falou Ryoma rindo para a menina – Esse seu jeito desinibido não combina com esse belo vestido!
Todos riram do comentário e Suzumi ficou escarlate como o cabelo. E para evitar mais comentário, ela se levantou puxando Makoto pela camisa.
- Olha, Makoto pediu para ir ao banheiro e não sabe o caminho. Eu vou mostrar.
E saiu puxando o pobre garoto pela festa.
- Por que eu sou o bode expiatório? – reclamou ele – Por que você não pode fugir sozinha?
- Por que não consigo me equilibrar em cima dessa sandália e preciso de uma muleta, projeto de feto. – disse ela enquanto andava mancando um pouco e segurando firmemente em Makoto.
- Somos da mesma altura cabeça de fósforo. E além do mais, não sei por que vocês mulheres calçam coisas tão desagradáveis. – e apontou para o salto agulha nos pés da menina.
- Sinceramente, nem eu. – murmurou ela desgostosa.
Quando passavam perto de onde algumas pessoas dançavam, Suzumi sentiu uma mão tocar seus ombros. Ficou surpresa ao ver Konohamaru olhá-la com o rosto meio vermelho.
- Hã... Kimura... Não gostaria de dançar? – perguntou meio encabulado.
Suzumi o olhou, meio confusa e meio encabulada com o convite. Makoto sentiu vontade de cuspir um katon em cima do rapaz, mas apenas ficou calado, esperando a resposta da colega.
- Foi mal Sarutobi, mas não dá. – falou ela como se realmente sentisse que estava chateada por recusar - O Makoto já tinha pedido primeiro.
- Já? – se surpreendeu Makoto.
- Já sim, não lembra? – perguntou Suzumi com um sorriso meio forçado dando um discreto beliscão no menino.
- Já sim! - confirmou ele tentando não gritar de dor.
- Ah que pena... – murmurou o garoto sem esconder a decepção e olhando-a mais um pouco, acrescentou – Fica pra próxima quem sabe...
E saiu com a cabeça meio baixa. Sem saber por que, Makoto sentiu uma imensa satisfação com o fora que a menina dera em Konohamaru. Afinal, não fazia o estilo de Suzumi dançar como Hanabi fazia naquele momento com Neji. Mas de repente, lembrou de uma coisa que o deixou intrigado:
- Ei Suzumi, por que o dispensou? - ele parecia muito interessado na resposta dela.
- Ele é um idiota... – falou a menina.
- Mas seu sonho não é achar um namorado legal? – perguntou ele um pouco temeroso.
- Não, não é. – respondeu ela suspirando.
- Mas você disse isso ao sensei no dia da apresentação! – revidou o garoto lembrando-se do comentário dela para Naruto.
- Eu menti! - disse parecendo meio encabulada.
- Sério? – se surpreendeu Makoto. E sem conseguir se conter, perguntou – Qual seu sonho então?
Suzumi baixou a cabeça e encarou o colega com um sorriso triste no rosto. Aquela expressão tão desamparada fez com que o coração de Makoto batesse mais rápido e suas mãos tremessem um pouco. Nunca vira aquele olhar em Suzumi antes.
- Meu maior sonho... – murmurou ela – É ouvir minha mãe pronunciar meu nome mais uma vez...
Foi quando Makoto percebeu que não conhecia Suzumi um terço do que ela realmente era. E aquilo o perturbou profundamente.
No meio da festa, Sakura já estava muito cansada. Sasuke também não parecia estar no melhor de seus humores. Depois de percorrerem toda a extensão do local, estavam ambos exautos.
- Realmente ainda bem que casamos no mesmo dia que Naruto e Hinata. – falou Sasuke quando se sentaram. – Eu não agüentaria tanta atenção, sozinho. Não mesmo.
- Você está arrependido? – perguntou Sakura insegura.
Ele a olhou seriamente e depois sorriu levemente.
- Não de ter casado com você. Mas essas aglomerações me cansam...
Sakura segurou a mão dele com ternura e com um largo sorriso, falou:
- Mas é só por um dia não é? E vai valer a pena...
E realmente valia, pensava ele quando olhou o rosto dela sorrir. Nunca pensou que Sakura fosse se tornar tão especial para ele. Finalmente se sentia feliz de verdade.
Naruto e Hinata continuaram cumprimentando mais algumas pessoas, afinal, o rapaz seria o futuro Hokage, precisava conhecer todos aqueles que Tsunade achassem que seriam importantes para as ligações de Konoha. Sasuke e Sakura ficaram sozinhos na mesa, onde foram servidos por alguns garçons. A garota já estava faminta e comeu satisfeita o que lhe trouxeram. Sasuke preferiu não comer nada, mas aceitou a bebida que lhe foi oferecida prontamente. Aquilo não lhe trazia boas recordações, mas não resistiu à vontade de prová-la novamente.
- O que você está bebendo Sasuke-kun? – perguntou ela curiosa.
- Sakê! – disse ele sem conter o sorriso quando ela fez uma careta.
- Eu me lembro da ultima vez que você bebeu... – murmurou desgostosa - Você e o Naruto tomaram várias garrafas quando ele e Hinata terminaram... Deram muito trabalho sabiam?
- E você também tinha brigado comigo, lembra? – indagou ele divertido.
- Lembro! – disse a contragosto - Mas mesmo assim eu... – porém não pode concluir a frase. Suas palavras morreram enquanto seu rosto adquiria uma cor vermelho berrante.
Por baixo da mesa, Sasuke levantara lentamente sua saia, tocando seus joelhos de forma carinhosa, mas muito sugestiva. Quando olhou para o rosto dele, viu que Sasuke trazia aquele seu costumeiro sorriso de canto de boca com uma sobrancelha arqueada. Ele pareceu extremamente sedutor com aquela expressão. Se inclinando para ela, Sasuke sussurrou em seu ouvido:
- Mas o fim daquele dia não foi de todo mal, não é? - a voz dele estava rouca e soava maliciosa.
Lembrando da cena que protagonizaram em cima da mesa na cozinha e sentindo a mão dele avançar mais em direção às suas coxas, Sakura ficou ainda mais ruborizada.
- S-Sasuke-kun... – balbuciou ela – Aqui não...
Lentamente, como se saboreasse a expressão encabulada da face dela, ele tirou a mão debaixo de sua saia. E sorriu mais ainda.
- Então vamos embora para casa... – murmurou convidativo - Onde poderemos relembrar nossas experiências com mais privacidade...
E antes que ela percebesse, eles já haviam fugido sorrateiramente da própria festa de casamento. Sakura sorriu ao pensar a cara das pessoas quando procurassem por eles.
- Você está se sentindo bem, Hinata? – perguntou Naruto preocupado.
- Estou... – falou ela um pouco ofegante – Apenas meus pés doem...
A festa já estava no fim, para o alívio de Naruto e Hinata. Depois de percorrer toda extensão do salão e cumprimentar todas as pessoas presentes, eles ainda eram constantemente solicitados. No final, todo mundo aproveitou a comemoração, menos eles. Mas não era de todo ruim, mesmo que tivessem sido passados pra trás por Sakura e Sasuke que fugiram da festa na primeira oportunidade.
- Aqueles dois foram espertos... – comentou Naruto tirando as sandálias de Hinata e observando os pés dela – Estão inchados... Vou chamar a vovó Tsunade...
- Não precisa... – disse Hinata um pouco envergonhada – Ela está cansada...
- Bem, então acho que chegou a hora de irmos... – falou ele vendo o salão completamente esvaziado. Somente Tsunade, Jiraya e algumas poucas pessoas estavam lá.
- Se você quiser Naruto-kun... – falou ela.
Naruto a observou. Mesmo cansada e um pouco pálida, Hinata sorria. Pegando delicadamente em sua mão, ele sussurrou:
- Sim... Vamos para casa...
O outono realmente fora frio, como todos previram. E logo dera lugar a um inverso mais frio ainda, mesmo que com o clima um pouco seco. Os dias se passavam tranquilamente, mas muito atarefados para Naruto. Seu time se desenvolvia mais que nunca e sempre era convidado para jantar na casa de Yumi, juntamente com Hinata.
O trabalho com Tsunade era muito mais estressantes que as missões, pensava ele. Principalmente depois dos primeiros meses. Sempre que Tsunade achava que tinha trabalhado o suficiente, dava um jeito de escapar e deixar as obrigações para ele e Shizune. Makoto ficara especialista em achar a localização da Hokage, sempre que Naruto achava que ela passava dos limites. E era muito divertido ver as brigas dos dois onde Naruto sempre acabava dando sermão em sua "vovó".
Naquele dia, nada fora diferente. Parecia uma manhã como as outras, e talvez a única coisa que chamasse a atenção era que o vento frio parecia estar mais forte que o normal. Afinal, julho chegava ao fim, e a primavera ainda iria demorar um pouco. O Time três estava sentado todos na grama úmida, se encolhendo cada vez que o vento soprava um pouco mais forte enquanto Naruto falava preocupado:
- Haverá genins da Vila da Nuvem, então quero cuidado redobrado de vocês, entenderam? Eles podem tentar uma vingança contra nós e vocês acabarem sendo envolvidos no processo.
- Sim! – exclamou os três.
- Depois de derrotar um jounin da Nuvem, o que será enfrentar meros genins? – brincou Suzumi fazendo com que seus colegas e seu sensei caíssem na risada.
- O Exame Chunin não é brincadeira Suzumi, mas eu sei que vocês conseguem. – e sorrindo acrescentou – Pelo menos será na primavera e vocês não enfrentarão esse frio, e também terão tempo para se preparar mais...
- Quando começam as inscrições? – perguntou Yumi.
- No final de Agosto. – respondeu Naruto.
- Já to ficando nervoso... – comentou Makoto com as mãos na barriga.
Naruto caiu na risada.
- Não se preocupem! Nós... – mas ele foi interrompido pela chegada de um anbu, que todos sabiam se tratar de Sasuke, apesar da máscara. – Olhem! Um passarinho! – brincou ele apontando para o amigo, e fazendo seus alunos caírem na risada novamente.
- Naruto, é necessário você ir imediatamente para o hospital. – disse Sasuke sem se abalar com a brincadeira.
Imediatamente Naruto ficou sério.
- O que houve? – perguntou preocupado.
- Seus filhos decidiram nascer antes do previsto. – revelou o anbu.
Hinata sentiu uma dor dilacerante no inicio daquela manhã, enquanto cumpria suas obrigações no clã. Estava sentada falando com Hanabi e Neji despreocupadamente quando sentiu a primeira pontada.
- Algum problema Hinata-sama? – perguntara Neji preocupado com a expressão de dor que ela fez.
- Não é nada. – disse ela sorrindo – Só um pequeno incômodo, nada demais...
- A nee-san tem que se cuidar. – falou Hanabi servindo um pouco de chá para a irmã – Se não se sente bem, vá descansar.
- Eu estou bem! – insistiu Hinata – Vamos continuar onde estávamos. – e olhando para a irmã falou seriamente – Não apresse as coisas Hanabi. Eu sei que você e o Neji-nii-san oficializaram ontem o noivado, mas falar em casamento agora é inapropriado. Espere mais um pouco.
A menina deu de ombros e sorriu.
- Eu só queria saber onde moraríamos depois do casamento. – se defendeu alegremente – Não tava marcando data ou nada assim.
- Sua irmã está certa, Hanabi. – disse Neji pacientemente - Acabamos de noivar e você ainda tem somente quatorze anos. Não há motivo para pressa.
- Ta, eu sei! – disse Hanabi acenando displicentemente com a mão – Realmente eu não preciso ter presa. Afinal, a idiota da Suzumi nem namorado têm! – ela parecia feliz com aquela situação.
Hinata não pode deixar de sorrir. Suzumi e Hanabi estavam bem próximas agora, o que era muito bom, já que sua irmã nunca tivera uma amiga de sua idade. Mas a amizade delas era um pouco estranha, pois aparentava se basear numa eterna disputa.
Mesmo se divertindo com as histórias que sua irmã começara a contar sobre ela e Suzumi, sentia que o incomodo estava ficando gradativamente maior e mais constante. E seu primo parecia notar claramente a dor que ela tentava esconder. Mas em um determinado momento, a dor veio tão forte e intensa que ela simplesmente gritou se curvando de dor.
- Hinata-nee-san! – exclamou Hanabi assustada.
Não podia ser. Faltavam dois meses ainda! Aquilo não podia estará acontecendo. Hinata olhou desesperada para seu primo.
Neji não perdera tempo falando. Rapidamente a levara para o hospital, onde a própria Tsunade a atendeu. Em pouco tempo, ela estava deitada em uma maca, com as dores aumentando, enquanto Sakura calmamente enxugava o suor de sua face.
- Calma Hinata... – dizia a médica constantemente – Vai dar tudo certo...
- Por que isso? – perguntou ela com lágrimas nos olhos.
- É normal em caso de gêmeos. – explicou Tsunade enquanto apalpava sua barriga – Mas partos prematuros são uma das especialidades da Shizune, não se preocupe.
- Onde esta o Naruto-kun? – Hinata estava muito nervosa e aquilo apenas aumentava suas dores.
- Sasuke-kun foi chamá-lo. – disse Shizune – Agora fique calma, senão só vai dificultar nosso trabalho.
- Terminará logo, Hinata. – confortou Sakura segurando sua mão – Logo, logo você terá seus bebês nos braços...
Assim ela esperava. Queria poder segurar os filhos e ver Naruto. Ele com certeza ficaria muito feliz. E foi com um sorriso no rosto que Hinata sentiu as dores aumentarem.
Hiashi observou Naruto andar de um lado para outro. O rapaz estava visivelmente muito nervoso. Quando chegara ao hospital gritara tanto em busca de Hinata que Tsunade, como castigo, o deixara de fora da sala de parto. Sasuke o olhava de braços cruzados, imaginando quando ele ia parar um pouco de parece uma barata tonta. Daquela forma ele não somente ficava mais agoniado, como passava a inquietação para todos os presentes. Na verdade, o único que parecia manter totalmente a compostura era Neji, que sentado perto da janela, conseguia expressar a mais serena paz, mesmo com Hanabi apertando seu braço, tão ansiosa quanto Naruto.
- Ta demorando... – falou Naruto mais uma vez. Já fizera aquela observação várias vezes.
- Isso é comum. – falou Sasuke – Ou você espera que tudo já tenha acabado?
- Já era para ter acabado! – disse ele colocando as mãos na cabeça.
- Um parto é algo difícil. Se você perder a calma, só será pior para Hinata que terá um marido descontrolado. – Hiashi comentou aquilo casualmente, como se sua obrigação não fosse outra a não ser aborrecer mais ainda Naruto.
Antes que o rapaz pudesse achar palavras para responder, Yumi falou tentando ajudar seu professor.
- Calma sensei. Vai ficar tudo bem... A Hinata-sensei é forte. Logo vai acabar.
- E logo o senhor vai ter duas pestinhas correndo pela casa! – acrescentou Suzumi.
As meninas falaram com tanta convicção, que Naruto viu que estava só bancando um grande idiota para todos ali presentes, principalmente para Hiashi. Mesmo já fazendo quase cinco meses de casado com Hinata, ainda sentia uma antipatia vindo do pai dela, como se ele esperasse que a qualquer momento Naruto fosse abandonar Hinata ou algo assim.
Naruto se deixou cair em uma poltrona e deixou as mãos se cruzarem sobre o colo como se fizessem uma prece. Depois de um tempo, o silêncio na sala era total. Ninguém parecia disposto a falar. Constantemente Naruto olhava para Makoto, com medo de ver alguma apreensão no rosto do menino. Sabia que seu aluno era o único ali que sabia o que estava se passando. E enquanto o garoto continuava com a expressão séria, mas tranqüila, ele se acalmava. Mas cada minuto que se passava, cada hora sem noticia apenas servia para machucá-lo ainda mais.
Havia acabado de anoitecer quando Makoto levantou a cabeça e sorriu para Naruto. E o rapaz se encheu de alívio. Como se estivesse apenas esperando o sinal do garoto, Sakura apareceu na porta da sala. Sua barriga estava bem perceptível por baixo do uniforme e ela parecia cansada.
- Bem... Os meninos nasceram. – avisou ela sorridente.
Naruto e Hiashi se levantaram ao mesmo tempo e se encaminharam até onde estava a médica.
- Os três passam bem. – disse ela antes que alguém perguntasse.
- Quando posso vê-la? – pediu Naruto ansioso.
- Agora mesmo. Mas vou avisando, ela está dormindo. E só poderá receber as demais visitas amanhã.
Todos na sala, exceto Naruto, se entristeceram de não poder ver logo Hinata e os bebês. Mas o rapaz acenou para eles antes de acompanhar a amiga pelo hospital.
- Os meninos lembram você. – falou ela enquanto andavam.
- É mesmo? Queria que eles parecessem com a mãe... – disse Naruto coçando a cabeça.
- Bem, é só uma opinião minha. – e Sakura abriu lentamente a porta.
O quarto estava escuro, e a médica acendeu a luz quando eles entraram. Naruto sentiu um alivio muito grande quando viu que Hinata parecia bem, apenas um pouco pálida. Mas sentiu logo a falta dos bebês no quarto.
- Onde estão meus filhos? – perguntou ele baixinho para não acordar Hinata.
- Sendo examinados. – e diante do olhar assustado de Naruto, acrescentou – Nada demais, só exames de rotina. Afinal, eles são prematuros. Fique com ela que mais tarde mando os bebês.
Ela nem precisava mandar. Rapidamente puxou uma cadeira, se sentando ao lado de sua esposa. Como se fosse um reflexo involuntário, sua mão foi imediatamente em direção à sua testa e ele se lembrou de quando estava naquele mesmo hospital, quase um ano atrás, com a mão sobre a testa dela, se perguntando por que ela havia passado mal. Naquele dia, ele ainda não era jounin, nem sabia o amor secreto que Hinata nutria por ele, nem imaginava o quanto chegaria a amar a garota que repousava fragilizada na cama depois de sua crise de úlcera. Porém daquela vez, ele estava ciente de seus sentimentos e não ficou receoso em se inclinar sobre ela e beijar delicadamente seus lábios.
Como se respondesse ao ato, uma janela se abriu violentamente com a força do vento frio que agora entrava no quarto, levantando violentamente o lençol de Hinata. Naruto se levantou de um pulo e rapidamente fechou a janela. Enquanto verificava se ela estava firmemente fechada, ouviu uma voz que o chamou cansada:
- Naruto-kun...
Hinata havia acordado com o barulho produzido pelo vento e Naruto odiou profundamente o inverno com seu frio intempestivo. Caminhou lentamente até um armário que havia no quarto, tirou uma manta mais espessa e foi até a cama, estendendo-a sobre a garota, que tremia de frio.
- Acho que alguém se esqueceu de fechar bem a janela... – falou ele como se desculpasse.
Ela se encolheu sob a manta que ele estendeu sobre seu corpo e sorriu.
- Onde estão os bebês? – perguntou ao perceber que só havia eles dois no quarto.
- Sakura os trará em breve. Não se preocupe. – acalmou ele.
- Mas... Aconteceu alguma coisa? – mesmo diante da tranqüilidade de Naruto, ela não pode deixar de se sentir apreensiva.
- Não, nada demais. A pior coisa que ouvi da Sakura foi o fato de ela achar que os meninos parecem comigo...
Hinata o acompanhou na risada. Pelo menos ao ver da garota, aquilo não havia nada de ruim, muito pelo contrário. Tudo que queria era que os filhos se parecessem com o pai. Naruto aproveitou que ela parecia estar muito bem e segurou forte na sua mão.
- Eu tive medo por você. – disse ele e Hinata pode sentir todo sentimento contido naquela frase.
- Eu também senti medo... – revelou ela – Afinal, minha mãe morreu durante o parto... O que eu mais temia era deixar você e nossos filhos sozinhos...
- Nem pense numa coisa dessas! – falou ele sorrindo, mas sem esconder uma pontada de medo – Você ainda tem que fazer muitas coisas por nós...
E diante do sorriso satisfeito que ela lhe ofereceu Naruto a abraçou fortemente, como no dia que em que havia dito o quanto a amava. E ele não viu empecilhos para repetir:
- Eu te amo Hinata...
- Eu sei... – sussurrou ela em seu ouvido – E nada me deixa mais feliz que ter o meu amor correspondido...
Foi um beijo delicado, mas profundo. Eles se consolavam de todo medo e receio sentido naquele dia e só se separaram quando ouviram passos no corredor que se dirigia até onde eles estavam. Sakura entrou momentos depois, empurrando dois pequenos berços. Naruto se levantou rapidamente para ajudar a amiga.
- Se você se esforçar muito por minha causa, o Sasuke me mata! – exclamou ele.
- Não se preocupe, eles tem rodinhas. – sorriu ela apontando as rodinhas dos berços – Bem, estou saindo agora. Qualquer coisa, apertem aquele botão ali e a enfermeira vai vir imediatamente. – e como só se lembrasse daquilo agora, ela advertiu – Naruto, não vá dormir!
- Sim senhora! – brincou ele batendo continência.
- Obrigada por tudo, Sakura. – agradeceu Hinata sinceramente.
- Não precisa agradecer. Só vou torcer para que o Haien não me pregue uma peça dessas e queira chegar mais cedo... – e passou a mão na barriga carinhosamente antes de sair do quarto acenando para os dois.
Naruto observou, fascinado, os dois meninos que repousavam nos berços. Agora sabia por que Sakura fizera aquele comentário. Os tufos de cabelos loiros se misturavam nas cobertas como pequenos fios de ouro. Hinata também parecia encantada com as crianças.
- Como iremos chamá-los? – perguntou ela.
- Nem pensei nisso ainda... – admitiu Naruto – Afinal eles decidiram aparecer antes do esperado que nem deu tempo para que os pobres pais fizessem uma pesquisa...
Hinata sorriu diante do comentário e concordou com a cabeça.
- Alguma idéia? – quis saber Naruto.
Quando Hinata balançou negativamente a cabeça, ele se aproximou dos bebês e pegou cuidadosamente um deles. Olhou a pulseira que havia em seu braço direito onde estava escrito "primeiro a nascer". Então, aquele se chamaria Hyuuga, pensou ele lembrando a promessa que havia feito a Hiashi. O menino dormia profundamente e parecia alheio ao pai que o segurava com um sorriso.
- Bem... Esse aqui nós podemos chamar de... – Naruto pensou um pouco e falou – Hatori. O que acha?
- Hatori... – repetiu Hinata sorrindo – Achei lindo.
- Então... Você se chamará Hatori. – disse Naruto olhando para o menino – Hyuuga Hatori.
Hinata se surpreendeu um pouco, mas depois se lembrou da promessa feita por Naruto a seu pai. Sentiu-se feliz ao notar o desprendimento de Naruto em relação a esse caso. Com cuidado, ele colocou o bebê que ainda dormia no berço e se voltou para o outro.
Diferente do irmão, o menino em cuja pulseira estava escrito "segundo a nascer" estava bem acordado e parecia saber o que se passava. Ele golpeava o ar com suas mãozinhas firmemente fechadas, chorando alto e bagunçava o lençol chutando-o como se quisesse se livrar dele. Quando Naruto o pegou no colo, ele imediatamente se calou e abriu os olhos. E qual não foi a imensa surpresa do rapaz ao ver dois pequeninos byakugans olhando-o intensamente com pequenas veias ao redor deles que apareciam e desapareciam a cada movimento do bebê.
"Esse será um Uzumaki..." pensou ele satisfeito "Como eu poderia chamar-lo?".
E andando pelo quarto com o bebê nos braços, na tentativa de acalmá-lo um pouco, Naruto achou muito bonito quando ele colocou o pequeno punho na boca e passou a sugá-lo intensamente.
- Kyoshiro! – disse animado para Hinata – Uzumaki Kyoshiro!
- Lindo! – exclamou ela alegremente.
E quando Naruto levou o menino até a mãe, para que ele pudesse saciar a fome que demonstrava, percebeu que o menino também adormecera. Cuidadosamente o repôs no berço e olhou para Hinata. Silenciosas lágrimas rolavam por sua face, e ele a abraçou. Sabia que eram lágrimas de alegria, e que tudo que precisava fazer naquele momento era abraçá-la, e esperar o pranto passar.
Rapidamente Hinata adormeceu. O cansaço do parto, aliado à emoção de ver os filhos a deixara exausta. E Naruto a cobriu carinhosamente, e fez o mesmo com os meninos. Teve um cuidado especial com Kyoshiro, que parecia propenso a se mexer muito durante o sono.
Sentado de frente para os três, Naruto não sabia mais o que fazer a não ser sorrir. Sentia-se completo e realmente feliz pela primeira vez na vida. Quando pensava nos longos anos passados sozinho, se sentindo vazio e deprimido, notava o quanto aquilo parecia distante, como se houvesse acontecido em outra era, em outro mundo. Nada parecia capaz de abalar aquele momento.
"Não tenha tanta certeza assim..." dentro dele soou a voz rouca da Kyuubi "Ainda existe um mundo lá fora garoto. E esse mundo estará pronto para engoli-lo ao menor sinal de fraqueza. Há inimigos a se enfrentar e guerras a se vencer.".
- Eu sei... – murmurou ele – Mas nunca me senti tão forte quando agora...
"O que você tem agora não é uma força, mas uma fraqueza. Três pontos fracos, que seus inimigos não hesitaram em usar...".
- Isso eu nunca permitirei. Você verá. Ela é forte. Eles serão fortes. E eu não estou sozinho. Essa vila está cheia de pessoas que darão suas vidas para que nossa paz continue para sempre.
"Você é apenas um sonhador..." desdenhou ela.
- Talvez seja... Mas concretizar meus sonhos nunca foi problema. E não fique chateada Kyuubi! – ele bateu carinhosamente no seu umbigo – Não vou esquecer você. A partir de hoje se considere oficialmente o bichinho de estimação da família Uzumaki!
"..."
Naruto riu de seu gracejo e imaginou que cara estaria fazendo a raposa naquele momento. Mas ele não mentira. Confiava nas pessoas que o rodeavam. Confiava em sua família, e confiava em si mesmo.
Uma nova Era estava para começar na Vila Oculta de Konoha. Uma Era onde nenhuma criança seria desprezada. Uma Era onde todos que quisessem virariam ninjas independentes de suas limitações ou restrições. Uma Era onde ninguém seria usado de forma inescrupulosa como arma ou para fins de guerra. Uma Era onde um irmão não faria outro sofrer apenas por poder. Uma Era onde qualquer criança escreveria seu próprio destino, sem ser presa pelas amarras de um destino imposto.
E ele seria o precursor dessa Era.
Por que aquele era seu jeito ninja de ser.