Epílogo

Seis meses depois

Ginny sentia que o seu coração iria explodir. Andava de um lado para o outro no quarto, a agarrar o vestido para este não sujar. Estava nervosa, cheia de dúvidas e com uma sensação horrível. Não era assim que devia se sentir no dia do seu casamento. Devia estar feliz, radiante, a saltar de alegria. Então porque estava daquela maneira? E porque tinha a sensação que algo terrível estava para acontecer?

Respirou fundo pela milésima vez em uma hora. Tudo correria bem. O que poderia correr mal, afinal?

Sentiu baterem á porta. Finalmente Hermione chegara com a poção calmante. Correu até á porta, tão depressa que tropeçou na beira da cama e caiu com a cara no chão. O vestido voou por cima de si. Ginny tentou livrar-se da quantidade de tecido em cima de si mas só conseguiu se embrulhar mais no vestido.

-Precisas de ajuda? – Ginny ouviu alguém perguntar e não era Hermione.


Draco, apesar da aparência calma, estava em pulgas. Olhou discretamente para o relógio. Sabia que as noivas tinham a tradição de se atrasar e ela só estava atrasada cinco minutos mas tinha a sensação que alguma coisa estava errada.

"Tem calma Draco, o teu nervosismo está a te deixar paranóico!" ele ordenou-se.

Mais cinco minutos e Draco já respirava impacientemente.

Outros cinco minutos e estava capaz de subir as paredes. Mas onde estava ela? Será que tinha desistido do casamento? Não! Tinha que ser outra coisa.


Ginny olhou para a mulher que estava á sua frente. Se tivesse uma varinha era capaz de matá-la ali mesmo.

-Onde está ele? Diz-me sua…Rrrr! – a ruiva estava a dar em doida. Andava de um lado para o outro tentando se acalmar e pensar racionalmente.

-Oh minha querida. O teu querido filho está num lugar seguro… por enquanto! Mas tudo depende de ti. – Pandora disse com um sorriso insolente nos lábios.

-Como é que alguém pode jogar tão baixo? O Adam é apenas uma criança…

-Mas eu não fiz nada ao teu lindo filho… ainda! E se lhe acontecer alguma coisa, será culpa tua. Tu tiraste-me o Draco, ele tirou-me a minha liberdade… agora eu tiro-vos o que têm de mais importante. Acho que é justo.

Ginny teve que respirar fundo três vezes para não perder a cabeça. Tinha que pensar em Adam. Pandora tinha-o e algum erro da ruiva podia custar a vida do seu filho.

-Como escapaste de Azkabban?

-Oh, isso foi fácil com uma pequena ajuda do padrinho do teu famoso amigo Harry! Impressionante como, depois de todos estes anos, ainda não redobraram a vigilância para os Animagos!

-Onde está o meu filho?

-Estás a te tornar repetitiva, Weasley!

-O que queres de mim? – Ginny suspirou passando as mãos desesperadamente pela face, borrando a maquilhagem toda pelo caminho mas ela nem queria saber.

Pandora sorriu maquiavelicamente. Parecia que a ruiva finalmente tinha chegado onde a morena queria.

-O que eu quero? Será que não sabes mesmo, Sardas?

-Queres me fazer sofrer, queres magoar o Draco, ou seja queres te vingar de… - de repente fez-se luz na cabeça de Ginny. – queres que eu abandone o Draco no altar…

Ao dizer estas palavras Ginny sentiu o seu coração apertar-se um pouco, as lágrimas que já corriam pela sua face aumentaram de intensidade se é que ainda era possível.

-Estás a ver como até consegues ser inteligente.

-Tudo bem. Eu não me caso com o Draco. Agora leva-me ao meu filh…

-E pronto. O teu momento de inteligência foi-se! Achas mesmo que eu ia aceitar as coisas assim? Sem garantias?

-O que queres mais, Pandora? – Ginny insistiu mas desta vez um pouco mais tranquila.

-Quero que faças uma Promessa Inquebrável! Quero que me prometas que nunca mais olhas na cara do Draco sem o meu consentimento.

Ginny faria tudo pelo seu filho mas não podia deixar de duvidar. Finalmente julgara que iria ficar com Draco e…


Draco estava desesperado. Uma hora de atraso era muito tempo, até para uma noiva. Enviara Hermione havia já quinze minutos e a morena ainda não descera. Estava quase a gritar e ir á procura de Ginny quando Hermione apareceu, com uma cara preocupada e a correr desesperadamente pelo jardim até chegar a Draco.

-Ela… fugiu… Azkabban… Adam… - Hermione tentou falar ofegante.

-A Ginny fugiu? Levou o Adam? E que raiu foi ela a Azkabban fazer? – Draco quase gritou.

-Não! A Pandora está cá. Ela raptou o Adam. – conseguiu a futura Sra. Ronald Weasley.

O olhar de Draco ficou arrepiante. Parecia mais frio do que o gelo, mais cortante que uma lámina, mais cruel que de um demónio.

Sem dizer nada, passou pela sua ex-mulher.

-Não, Draco! Não vás.

Draco virou-se e dedicou o seu olhar mais gelado a Hermione.

-Aquela doida raptou o meu filho, está com a minha noiva e queres que eu fique aqui sem fazer nada? Eu vou apenas torturá-la até ela me dizer onde escondeu o meu filho e depois, muito lentamente vou matá-la como golpe de misericórdia. – a voz do louro era assustadoramente calma.

-Se apareces lá ela pode fazer alguma coisa a Ginny ou ao Adam. Ela pode ter cúmplices. O que não faltam são pessoas neste mundo que te querem ver mal. – Hermione fez uma pausa para respirar. – Temos que nos concentrar em encontrar o Adam. Tu conheces Pandora melhor que ninguém, e se ela tem cúmplices mais depressa tu sabes quem eles são do que nós. Vamos falar com o Harry, pedir ajuda aos aurores. Entretanto vou ver se consigo com que a Ginny mantenha Pandora com ela.

Draco rosnou impacientemente.

-Sei que não é da tua natureza deixares os outros fazerem o teu trabalho por ti mas neste caso tu não podes fazer nada. O teu filho está á mercê daquela mulher.

-Como? – Draco perguntou.

-Como o quê?

-O que se passa? –Harry e Ron aproximaram-se de Hermione.

-O que se passa é que a minha irmã ganhou juízo e decidiu não casar com furões! – Ron brincou e recebeu um olhar gelado da namorada.

-Não é tempo para brincadeiras, Ronald!

-Como é que ela chegou até Adam? Julguei que havia alguém a tomar conta dele.

-E havia… - Draco e Hermione trocaram olhares de compreensão e o louro nem perdeu tempo. Virou as costas e caminhou a passos largos e determinados até á mansão, com o manto negro a esvoaçar atrás de si.


Pandora abriu um sorriso diabólico.

-O que eras capaz de fazer pelo teu filhinho, Weasley? – a mulher perguntou olhando despreocupadamente para as unhas longas vermelhas.

-Tudo!

-Até sofrer uma cruciatus? Quem sabe… morrer?

Ginny olhou para os olhos da outra completamente assustada. Estaria aquela sádica a falar a sério?

-Então!? Não respondes? Ou será que a vida do teu filho não vale assim tanto?

-Tu estás louca!

-Seis meses em Azkabban tem que se lhe diga. Sabes o que é reviveres vezes sem conta as tuas piores memórias, uma e outra vez, até elas se entranharem em todos os teus poros de tal maneira que até magoa fisicamente e tua mente quer apagar os gritos, o sangue, a dor, todas as imagens que correm a uma velocidade estonteante dentro do teu cérebro e não conseguires sequer um segundo de descanso, chegas a desejar morrer, a morte seria bem mais agradável que aquela tortura? As pessoas enlouquecem… mas depois no meio da escuridão, uma luz ao fundo, uma hipótese de causar tal dor aos culpados pela tua própria dor.

-Foste tu que conduziste a ti mesma a esse abismo. Tu cometeste os erros e as falcatruas mais ninguém. És tu a culpada, só tu!

-Talvez, mas é tão mais fácil pensar que se não fosses tu nada disto teria acontecido… tu e o teu filho bastardo! Por isso tu e ele irão pagar!

-Faz o que quiseres comigo mas deixa o meu filho em paz! - a voz de Ginny era aguda, quase petrificada de medo pelo seu filho.

-Crucio! – Pandora apontou a varinha da própria Ginny. A ruiva sentiu o seu sangue como se estivesse em ebulição dentro das veias, tão quente que queimava, como se em todos os seus poros, minúsculas agulhas envenenadas a picassem, como se seus ossos se estivessem a partir, ficando quase reduzidos a pó, como se o seu cérebro fosse demasiado grande e as suturas soldadas entre os ossos do seu crânio fossem abrir devido á pressão e como se todas as suas vísceras do tronco estivessem a rebentar, uma por uma libertando jorros de sangue e espasmos de dor por todo o seu corpo e o seu coração… o seu coração parecia bater com tanta força e velocidade que explodiria a qualquer momento. O ar não entrava nos pulmões como se o seu toráx tivesse colapsado sobre eles.

Não sabe quanto tempo esteve sob a maldição mas quando Pandora parou todo o seu corpo estava dormente, a sua respiração ofegante, a sua garganta áspera e notou que tinha a boca coberta de sangue há já algum tempo.

A morena tinha um brilho no olhar que Ginny só vira durante a guerra nos olhos de Devoradores da Morte.

-Eu faço a promessa inquebravel! – ela murmurou mal conseguindo falar.

Pandora sorriu e agarrou a mão de Ginny, apontando a varinha para ela.

-Diz… - a morena sibilou.



-Eu… juro solenemente… pela minha vida… "cough-Cough" … que jamais… casarei… com… - era-lhe dificil falar. Estava ofegante a tossir. Parecia que o sangue le havia invadido os pulmões.- … Draco Malfoy ou que sequer vou vê-lo!

Da varinha de Pandora saiu uma luz branca que se uniu ás mãos das duas mulheres. A promessa estava feita.

-Ginny! – Draco entrou de rompante pelo quarto.

O que aconteceu depois foi tão rápido que nenhum teve a certeza do que estava a acontecer. Pandora começou a rir diabolicamente. Ginny sentiu-se sufocar, como se o ar tivesse desaparecido da atmosfera. Draco correu a acudir Ginny mas quanto mais perto ele estava mais dor ela sentia.

-Não vale a pena querido! Ela vai morrer! – Pandora gritou entre risos histéricos e demoniaco .

-O que lhe fizeste? Tira o feitiço, Pandora! – Draco ordenou, levantando-se e colocando-se em frente da morena.

-Eu não fiz nada. Quem fez foi ela!

-Porque tu mentiste dizendo que tinhas o nosso filho quando ele estava lá e baixo são e salvo!

-Não tenho culpa se a tua querida amada é tão ingénua ao ponto de acreditar que eu o tinha.

-Ela estava nervosa por causa do casament…- Draco respirou fundo. – eu vou matar-te!

-Mas antes vais matar a tua noiva!

Draco olhou para Ginny. Estava já inconsciente e mal respirava. Estava mais pálida do que o seu vestido branco.

-O que foi que lhe fizeste, Pandora? É a última vez que te pergunto!

-Achas mesmo que te vou dizer?

Draco levantou-se tão rapidamente que Pandora deu um passo atrás de susto. Quando viu a expressão do louro o seu sorriso desapareceu.

-Crucio! – Draco sibilou.

Os gritos de Pandora invadiram o quarto. Draco sentiu como se aquele dia, que deveria ser tão puro e alegre estava manchado, amaldiçoado por aquela maldição. Fazia muito tempo que ele não a usava e não gosava de recordar o sentimento que tomava conta dele quando a usava mas Pandora despertara algo nele que ele havia adormecido há muito tempo.

-Vais me dizer ou não? – ele murmurou, observando serenamente a mulher contorcer-se dolorosamente.

Ele ergueu a varinha e a morena rebolou no chão.

-Uma promessa inquebrável. Nunca mais a poderás ver ou ela morrerá! – Pandora disse com um tom de desdém na voz.

Draco olhou para Ginny. A sua respiração parecia ter desaparecido. "Por favor, que não esteja morta!" ele implorou silenciosamente.

Olhou para Pandora e depois novamente para Ginny. Tinha que fazer uma escolha!

-Avada Kedavra! – ele disse. Não havia outra solução. Se Pandora não morresse levando a promessa com ela, Ginny morreria porque ele nunca aguentaria viver longe dela.

Nesse momento Ginny inspirou profundamente e abriu os olhos. Quando expirou, tossiu várias vezes e olhou em volta.

-Draco… - sussurrou. O louro sentou-se ao lado dela e abraçou-a tão fortemente que teve medo de quebrá-la mas não conseguiu largá-la.

-Pensei que te fosse perder. Desculpa por quase teres morrido por minha causa. Desculpa pelo nosso dia de casamento estar arruinado…

-Draco… - a ruiva murmurou novamente.

-Eu devia ter calculado que ela fosse tentar alguma coisa. Eu não devia ter te deixado sozinha, sabia que estava snervosa e devia ter ouvido quando disseste que estavas com um pressentimento estranho…

-Draco! – ainda era um sussurro mas era dterminante. Draco afastou-se e olhou-a nos olhos. Limpou a lágrima que escorria pela pálida e sardenta bochecha. – Eu amo-te!

E aquilo explicava tudo e desculpava tudo. Não eram necessárias mais palavras. OS lábios uniram-se e Ginny sorriu levemente.

Após conseguir se recompor, ter verificado que Adam realmente estava bem e ter insistido que não o largaria mais, nem durante a cerimónia e depois de Harry ter levado o corpo de Pandora para fora da mansão. O casamento ocorreu sem mais nenhum problema. E aquele amor que secretamente surgiu e secretamente viveu entre os dois não mas secreto foi. Mas secretamente nenhum deles mudaria um dia do passado daquela história pois todos os segredos, sentimentos escondidos e momentos sofridos haviam-nos conduzido para aquele beijo de casamente, tão perfeito e feliz que apagava qualquer sombra que pudesse ter existido entre eles.

Fim