Título: A seqüência ideal sempre soa duas vezes
Autor: Danielle
Disclaimer: Trata-se de uma estória cujo único propósito é entreter sem a intenção de infringir os direitos autorais das obras nas quais foram inspiradas ou auferir qualquer lucro.
Sumário: Lois, Chloe e Clark descobrem que o Talon já foi um clube noturno e também cenário de um caso de homicídio. Quando Lois e Chloe tentam investigar as circunstâncias em que o crime efetivamente se deu e nada descobrem a respeito, Lois e Clark têm sua própria versão dos fatos através de um par de sonhos um tanto quanto revelador (para ambos). Parcialmente inspirado no episódio The Dream Sequence Always Rings Twice, de Moonlighting.


Capítulo 1

"Perdi alguma coisa?" perguntou Clark trazendo uns vídeos, tão logo bateu e entrou pela porta aberta do apartamento de Lois e a viu sentada no sofá com alguns impressos sobre a mesinha de centro à sua frente, enquanto falava ao telefone e Chloe se aproximava dele com uma caneca de café na mão.

"Hum... vai ser festival Hitchcock essa noite?" perguntou ela, pegando os vídeos da mão dele. "Não imagina o quanto isso é oportuno..." comentou, olhando para a prima.

"O quê houve?" perguntou ele, desconfiado, ignorando o comentário da amiga, e apontando para Lois, que ainda falava ao telefone.

"Nossa sessão pipoca foi para o espaço" respondeu Chloe.

"Como assim?" devolveu Clark, confuso.

"Lois achou que podíamos assistir a um filme na antiga sala de cinema do Talon—" respondeu Chloe, olhando para a prima, com um pequeno sorriso no canto dos lábios, enquanto tomava um gole de café.

"E—?" indagou ele, não entendendo o que aquilo podia significar, embora imaginasse que boa coisa não devia ser em se tratando de Lois.

"Bom, o fato é que hoje pela manhã fomos ver o que havia de bom por lá e o único rolo de filme que encontramos foi O Mágico de Oz, e como você deve imaginar, leões falantes e macacos voadores não fazem muito o estilo da Lo" continuou Chloe. "Ao tentar encontrar outros filmes, ela descobriu uma salinha atrás da área de projeção... uma espécie de almoxarifado. Foi então que encontramos um monte de quinquilharias" completou, apontando para os impressos sobre a mesa.

"Quinquilharias?"

"É... uma arara com roupas de dançarina mofadas, um antigo toucador com luminárias ao redor... e isso" respondeu ela, mostrando a ele uma fotografia enquadrada que estava sobre o balcão da pia ao lado de um envelope, e que mostrava a frente do Talon completamente diferente há várias décadas, e onde se lia escrito na fachada 'Talon Cove'.

Clark arqueou as sobrancelhas, surpreso.

"Isso mesmo" disse ela. "O Talon já foi uma casa noturna antes de se tornar cinema"

Clark devolveu a fotografia a Chloe, e aproximou-se da mesa onde estavam os papéis.

"Casa noturna? Ainda não estou entendendo..." comentou, e quando pegou um dos papéis que pareciam ser impressões de antigas edições do The Ledger e do The Daily Planet, cuja manchete da edição que estava no topo da pilha dizia 'Talon Cove fecha após assassinato', Lois parecia estar encerrando a ligação.

"De qualquer forma, agradeço a atenção" disse ela, com um sorriso.

Clark apenas a observava, tentando entender o que estava acontecendo.

"Muito bem!" exclamou ela, levantando do sofá tão logo desligou o telefone, e olhando para a pilha de impressos à sua frente como se tivesse diante de si um tesouro, fazendo Clark sorrir com a empolgação dela. "Acabei de falar com Nell, a última pessoa que talvez pudesse nos ajudar, e ela não sabe de nada"

"Nell?" indagou Clark, enrugando a testa. "Nell Potter?"

"Como ela já administrou o Talon, segundo o que a Chloe me contou, achei que seria a pessoa que poderia saber alguma história do lugar—" explicou Lois, apontando para os impressos.

E antes que Clark perguntasse sobre o quê aquilo tudo se tratava, ela continuou:

"Mas não ajudou muito. Ela não sabia que o Talon já foi um clube, muito menos da existência da sala que encontramos ou de uma chave-mestra que a pudesse abrir" continuou, caminhando em direção ao balcão da cozinha para também se servir de café.

"E como vocês conseguiram abrir?" perguntou Clark, confuso, olhando para Lois e depois para Chloe.

"Você acha que alguma porta fechada no mundo pode deter nossa amiga aqui?" disse Chloe, que com um sorriso apontou para a prima.

"Você arrombou a porta?" deduziu ele, surpreso, olhando para Lois, que tomava um gole de café.

"Nada que a ajuda de um extintor de incêndio não possa resolver" explicou, sugerindo ter arrebentado a maçaneta com o mesmo.

Clark arqueou as sobrancelhas.

"Como?"

"O quê você esperava que eu fizesse, Smallville? Afinal, a porta estava trancada"

"Por que simplesmente não tentou primeiro ver se havia uma chave para abri-la?" indagou ele.

"Porque não há. Foi o que eu acabei de descobrir com Nell" respondeu ela.

"Eu quis dizer 'antes' de arrombar a porta" corrigiu ele.

"Não acho que Lex Luthor, dono do lugar e o único a quem poderíamos recorrer, diria que não tem a chave ou mesmo que a daria caso existisse" disse Lois.

"Podia ter me esperado..."

"E o quê você poderia fazer farmboy que eu mesma não o teria feito?" desafiou ela.

"Podia então ter chamado um chaveiro..."

"Odeio esperar" devolveu ela, de imediato.

"E você simplesmente sai por ai arrebentando portas de propriedades alheias?" devolveu ele.

"Sempre bancando o escoteiro" comentou Lois, rolando os olhos. "Sabe, é bom quebrar umas regras de vez em quando..."

"E as portas dos outros, também?"

Chloe olhou alternadamente para ambos, e tentando conter o riso por conta das faíscas praticamente visíveis no ar, certa de que era o momento de acalmar os ânimos, disse:

"Muito bem. Muito bem. Vamos todos respirar fundo"

Lois e Clark se viraram então para vê-la.

"Não devíamos ter arrombado a porta" comentou Chloe, como se estivesse censurando Lois, que simplesmente enrugou a testa, confusa, e lhe lançou um olhar incrédulo. "Tudo bem... esquece. Eu não quis dizer isso" corrigiu ela, ao pensar no que acabara de dizer, e que ela própria já havia invadido muitos outros lugares antes, e olhando para Clark, completou: "São só umas coisas velhas e sem valor que encontramos lá... nada muito sério"

Clark balançou a cabeça, como se finalmente aceitasse que não havia nada demais naquilo tudo, embora não concordasse que Lois devia sair por ai arrombando portas, ainda que fosse de um lugar aparentemente inofensivo como o Talon, e caminhou em direção aos impressos dos jornais extraídos da Internet que estavam sobre a mesa:

"E do quê estamos falando, precisamente?"

"Um assassinato" responderam Lois e Chloe em uníssono, ao que Clark se virou para vê-las, e depois se voltou para os impressos em suas mãos, quando então viu a data das edições antigas dos jornais impressos.

"Que aconteceu há mais de sessenta anos?" perguntou, com um sorriso cínico, imaginando o que Lois pretendia com aquilo.

"Leia toda a reportagem, Smallville" apontou Lois, lançando um olhar de reprovação.

Clark suspirou. Odiava quando ela o subestimava daquele modo... porém, ainda assim, fez o que ela disse. Procurou entre os impressos a reportagem completa, enquanto Lois e Chloe trocavam olhares na medida em que ele a lia.

"...Rita Adams e Zack McCoy, principais suspeitos da morte de Jerry Adams foram acusados e condenados à pena máxima admitida no estado do Kansas para crimes de homicídio" disse Clark, lendo em voz alta as linhas finais da matéria.

"Na época... morte por eletrocussão" explicou Lois.

"Não brinca" disse Clark, em tom de deboche e como se já soubesse, ao que ela lhe devolveu um olhar repleto de faíscas, enquanto ele terminava a leitura:

"...Segundo o detetive Dave Matthews, que coordenou as investigações desde as prisões até o momento da execução dos homicidas, tanto um quanto o outro apontou seus respectivos cúmplices como verdadeiros maquinadores do crime, dizendo-se cada qual vítima de ardil"

Lois cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas, enquanto Clark continuava a examinar os artigos:

"Parece que Zack morou nesse apartamento e o crime aconteceu na rua dos fundos, agora beco atrás da cafeteria... e onde Jerry foi encontrado com uma contusão grave na cabeça, e que o levou à morte" completou.

"E então? Estou ou não certa de que existe uma boa história a ser trazida novamente à tona a partir desses impressos? Ainda mais pelo fato de ser um crime ocorrido na cafeteria mais badalada de Smallville!" perguntou ela, enquanto Clark virava as páginas para ver se havia mais alguma coisa sobre as investigações.

"Bom... Tirando o fato de que o Talon já foi uma casa noturna por um período de tempo tão pequeno que nem metade da cidade deve saber, não vejo nada demais nisso tudo..." disse ele, sentando-se no sofá para ver os outros impressos, que só falavam das prisões, do escândalo do assassinato do dono do clube pela esposa cantora e seu amante trompetista.

"Tudo bem" interrompeu Lois. "Vamos esquecer a parte do quão impressionante é a capital do creme de milho ter uma casa noturna nos idos dos anos quarenta... porque, afinal de contas, essa também foi uma das coisas que mais me chocou de início" continuou, caminhando pelo apartamento.

"Na época parecia uma boa idéia para os empresários envolvidos no ramo da agricultura transformar Smallville no centro das atenções para viajantes de Granville a Metrópolis... atrairia mais clientes, inclusive os que se interessassem pelo crescimento da cidade" explicou Chloe.

"Foi exatamente o que o Detetive Berg me contou..." disse Lois. "Além do mais, Chloe e eu pesquisamos e parece que quando adquiriu esse lugar, William Talon pretendia transformá-lo numa espécie de referência a lugares glamourosos da época. Ele tinha essa fixação especifica por ícones do cinema"

"Lois—"

"Foi então que ele alugou o estabelecimento para o tal Jerry Adams, que lhe apresentou o projeto de um clube noturno ao estilo dos filmes da época e cuja atração principal seria Rita, sua esposa, e uma das cantoras mais proeminentes da região"

"Lois—"

"Mas isso é só história... Temos apenas que nos concentrar no crime"

"Lois!" chamou Clark.

"O quê?" respondeu ela.

"Quem é esse Detetive Berg?" indagou Clark, curioso, ignorando todo o resto dos comentários de Lois.

"É o novo assistente do xerife..." respondeu Lois, pegando o envelope que estava sobre o balcão da pia, o qual entregou a Clark "Foi ele que me deixou fazer cópia dos arquivos da polícia quanto ao caso" completou, ao que ele imediatamente abriu o envelope e viu que se tratava do Inquérito Policial que apurou Rita Adams e Zack McCoy cúmplices do homicídio de Jerry Adams.

"Você fez cópias dos relatórios da polícia?" indagou ele.

"Enquanto eu pesquisava o assunto acessando o banco de dados do Planeta Diário por aqui e imprimia essas reportagens, Lois foi à delegacia" explicou Chloe.

"E ele simplesmente lhe deixou ter acesso a esses documentos?" perguntou Clark.

"Sou muito persuasiva" respondeu Lois, com um sorriso orgulhoso.

"Quanto a isso não tenho duvidas, mas..." devolveu ele.

"Além do mais, o caso está encerrado..." completou ela. "Não foi muito difícil obtê-los"

"Considerando ainda que o Detetive Berg tem uma queda pela Lois desde o caso da garota Gretchen" completou Chloe, lembrando Clark do acontecido de mais de um ano quando descobriram um cadáver atrás das paredes do banheiro do apartamento.

"Imagino o que o Oliver acharia disso..." comentou Clark, em tom de censura.

Lois rolou os olhos e se virou para se servir de mais café.

"Isso parece incomodá-lo mais do que ao Oliver, Smallville" disse ela. "Mas isso não vem agora ao caso..."

Chloe enrugou a testa, confusa com o comentário de Clark, e em sinal de advertência para que ele evitasse de falar no namorado de Lois, sussurrou-lhe: "Eles estão brigados"

"E só guardaram o inquérito porque foi um caso de grande repercussão na época, segundo o que o detetive me contou" completou Lois. "Principalmente por causa do detalhe sórdido por trás disso tudo" enfatizou, sentando-se no braço do sofá onde estava Chloe.

"Detalhe sórdido?" indagou Clark, ainda pensando na revelação de Chloe.

Clark voltou os olhos para os impressos.

"Não entendo, Lois..." disse ele, confuso. "É um caso que foi resolvido pelas autoridades que concluíram pelo envolvimento de ambos. Não há nada a ser investigado"

"Concordo com o Clark, Lo" disse Chloe. "O quê você quer dizer com isso?"

Lois enrugou a testa.

"Ora... o fato dos dois terem sido executados afirmando serem vítimas um do outro!"

"Mas isso nem tem mais como saber e nem faria diferença, Lois..." retrucou Chloe.

"Tudo bem. Vamos tirar o fato de que eles foram cúmplices, e que o próprio Zack confessou ter golpeado o Jerry na cabeça. Mas será que só eu estou querendo rediscutir quem enganou quem?"

"Bom, nesse caso, rediscutir e especular ainda é válido" afirmou Chloe.

"Então você tem uma teoria?" questionou Clark encarando Lois.

"Isso mesmo" respondeu ela, com um sorriso.

"Uma teoria elaborada na absoluta falta de evidências para embasá-la?" completou ele.

"Digamos que embasada no senso comum" corrigiu Lois.

"Senso comum?" repetiu ele, confuso. "Então, mal posso esperar para ouvi-la" desafiou ele, enquanto Chloe apenas achava graça da situação.

Indiferente aos comentários provocativos de Clark, Lois disse:

"Rita se apaixonou pelo cara errado"

Chloe e Clark enrugaram a testa e trocaram olhares confusos, quando Lois completou:

"Ela o amava. É óbvio que ela foi a enganada" completou.

Houve um silêncio, quando Chloe finalmente se manifestou:

"Uau! De onde tirou isso, Lois?"

"Do depoimento dela" respondeu-lhe a prima, e Clark pegou os documentos da polícia que estava ao seu lado no sofá, e começou a analisá-los.

"Senso comum?" repetiu ele, com escárnio. "No depoimento do Zack, ele relata justamente o contrário" disse, lendo o documento. "Aqui diz que ele faria qualquer coisa por ela"

"Bom, nunca vamos saber como realmente foram as circunstâncias do crime" interrompeu Chloe, enquanto Lois e Clark fitavam um ao outro. "O fato é que um dos dois enganou o outro, e isso é e continuará um mistério"

"Só pode ter sido ele" insistiu Lois.

"Como pode ter tanta certeza?" indagou Clark.

"Como você pode ter tanta certeza de que foi o contrário?" devolveu Lois.

Clark deu de ombros.

"Não há nada que prove uma das duas versões" ele respondeu. "Mas não vejo porque não é possível ele ter sido seduzido por ela. Afinal, um homem apaixonado é capaz de fazer qualquer coisa pela mulher amada... principalmente se ela estiver em perigo como ele disse que estava"

"Ela não era agredida pelo marido, e mesmo que fosse tenho certeza de que não precisaria da ajuda de ninguém para lidar com a situação" corrigiu Lois, referindo-se aos depoimentos de Zack. "O fato é que tudo ia bem na vida dela, era como se não houvesse duvidas na sua vida até aparecer esse... esse trompetista que a conquistou e bagunçou toda a sua vida"

"Bagunçou a vida dela?" indagou Chloe, rindo. "Parece que alguém está levando tudo isso para o lado pessoal"

"Além do mais, o Zack tinha um motivo" completou Lois, ignorando Chloe. "Jerry era marido da mulher que ele desejava" apontou ela, levantando-se do sofá, encarando Clark.

"Mesmo? Não pensou que talvez ela quisesse se ver livre do marido?" sugeriu Clark, igualmente a encarando.

"Wow. Calma ai, pessoal!" interrompeu Chloe, colocando-se entre os dois, que continuavam a fitar um ao outro com os olhos repletos de faíscas. "O quê acham de assistirmos a um filme agora?"

Continua...


A/N: Títulos não são minha especialidade, então traduzi ao pé da letra o nome do episódio de Moonlighting, embora eu não faça a menor idéia se havia um significado implícito nele... só sei que foi idealizado a partir do nome de um livro chamado The Postman Always Rings Twice...

A/N2: A discussão sobre a versão do crime é mais pesada em Moonlighting, pois David chama Maddie de sexista e ela o chama de animal, mas considerando que Clark é um escoteiro e jamais tomaria partido com base em meras conjecturas, e que da mesma forma Lois se baseia nos fatos como eles realmente se deram, embora aqui ela tenha deslizado um pouco, a minha versão ficou mais light. :)