Capítulo 2

Metropolis, 2015

"É arriscado, porém necessário" disse Superman a Lois no terraço do Planeta Diário, segurando suas mãos, e olhando firmemente nos seus olhos. Os dois estavam frente a frente, e bastante próximos um do outro. Havia medo e tensão da parte de Lois, e ela tentava desesperadamente esconder isso dele.

"Se vocês realmente confiam nele... não sou eu que vou interferir" disse ela, preocupada e certa de que, se aquilo era mesmo necessário para salvar o futuro da humanidade e conhecendo-o como conhecia, nada mais o faria voltar atrás. Além do mais, ela era Lois Lane. E por mais que temesse pela segurança do Homem de Aço, ela jamais o impediria de fazer o que era o certo.

"Matt é um bom homem, e suas intenções são sinceras" disse ele, passando a mão nos cabelos esvoaçantes de Lois. "Além do mais, ele já nos ajudou outras vezes, e você sabe disso"

Ela sorriu um sorriso amargo. Tinha uma estranha sensação de que algo ruim estava para acontecer. Mas o encarou com firmeza, e sorriu.

"Sim, eu sei" disse ela.

Superman também sorriu, apesar de ainda não compreender a preocupação da esposa, a qual, por sua vez, também não estava muito certa do sentimento que a compelia a aceitar que ele se arriscasse naquela missão, e puxou-a para um abraço gentil e repleto de amor.

"Faça o que tem que fazer" disse ela, subitamente, e com um pequeno sorriso no canto dos lábios, que deu ao Homem de Aço confiança na tarefa que estava por vir. "Mas prometa que tudo vai ficar bem... e que vai voltar logo" pediu, contendo as lágrimas.

"Não se preocupe, Lois. Tudo vai ficar bem... e prometo voltar o quanto antes" respondeu, tomando-a nos braços para um beijo apaixonado.


Smallville, 2006

Clark estava a poucos passos de distância daquele homem com fisionomia incrivelmente semelhante à sua, porém, com um pouco mais de idade e muito abatido, e que permanecia prostrado à janela do celeiro, olhando agora em direção as estrelas.

"Por quê eu acreditaria em você?" perguntou, ao que o homem reagiu, virando-se para vê-lo. "Que você é o meu 'eu' do futuro?" completou.

"Você não tem muita opção, Clark" revelou, com sua voz firme, porém visivelmente cansada, percebendo a desconfiança de seu outro eu. "Sei que é difícil, pois somos muito diferentes, e não vai encontrar em mim qualquer resquício de que um dia fui você" completou, enigmático.

Nesse momento, Clark percebeu um pequeno sorriso de desapontamento no canto dos lábios do sujeito, que continuou:

"Eu lembro como esses foram anos difíceis" e ele olhou ao redor no loft com denotada intimidade com o lugar, e caminhou para perto da mesa de estudos de Clark, onde pegou um livro, e ao folheá-lo, encontrou um retrato de Lana Lang. E sorriu. "Muitas dúvidas. Poucas expectativas"

"Fala como se me conhecesse" retrucou Clark, ainda não muito certo se devia confiar naquele homem de boas maneiras, e preparado para reagir a qualquer momento, caso necessário. Nem que tivesse que usar seus poderes.

"Não se preocupe. Não vai precisar fazer isso" disse o sujeito, para surpresa de Clark.

Incomodado, porém, ignorando a intromissão do misterioso homem, Clark insistiu: "Não respondeu a minha pergunta"

"Claro..." disse o estranho, colocando o retrato de volta no lugar, e encarando Clark com firmeza, disse: "Você sabe, mas não quer acreditar"

Clark enrugou a testa, e ele continuou:

"E esse é o momento em que eu digo coisas que você jamais diria a qualquer outra pessoa para que acredite em mim e finalmente compreenda o que estou fazendo aqui" e encarando-o nos olhos, disse: "Como o fato de que veio de um planeta chamado Krypton extinto há milhões de anos luz e cuja destruição foi desencadeada por Zod, por sua vez, aprisionado na Zona Fantasma por aquele a quem você se recusa chamar de pai biológico"

"Eu não sei do que você está falando" disse Clark, defensivo, porém perplexo.

"Calma, Clark. Não precisa tentar se esquivar. Sei que deve estar sentindo agora a mesma perplexidade de seis anos atrás, quando aqui mesmo nesse celeiro, você descobriu toda a verdade... de que não pertencia a esse lugar" disse.

O homem sorriu um sorriso amargo, e caminhou pelo loft, sob o olhar atento de seu outro eu.

"Você ainda se culpa pela morte dele" revelou, referindo-se a Jonathan, quando então Clark, estarrecido, fitou-o nos olhos. Aquela era uma revelação que o arrebatou, pois era íntima demais.

O homem então encarou Clark, e seus olhos ficaram repletos de brilho, momento em que seu rosto se transformou numa inquietante expressão de tristeza e vazio. Ele então olhou em direção à mesa de estudos de Clark, onde encontrou o retrato de Lana dentro do livro, e disse, pensando no grande e único amor de sua vida:

"Você está aprendendo a diferenciar aquilo que é passageiro... daquilo que é para a vida eterna"

Clark enrugou a testa.

"Por que está dizendo essas coisas?"

Mas o intruso o ignorou:

"Você acha que está sozinho, que os poderes que tem o separam de tudo e de todos, e que jamais vai poder ser feliz ao lado de alguém" revelou, ao que Clark permaneceu imóvel, enquanto o ouvia com atenção, aceitando aquelas palavras como o próprio conflito interno que vivia naqueles últimos anos. "Eu sei que também existe algo dentro de você que quer se libertar. Você quer usar seus poderes, ajudar e salvar muito mais pessoas, mas sem medo de comprometer quem você é e as pessoas que estão ao seu redor"

"Como pode...?"

"Não se preocupe, Clark" disse ele, firme, e com um meio sorriso. "Vai aprender a conciliar as duas coisas"

Houve um pequeno silêncio, e Clark se aproximou, enquanto o homem suspirava e estava agora com o olhar perdido, provavelmente pensando em alguma coisa triste e que o deixava simplesmente enlevado demais para dizer qualquer coisa.

"Quero que busque no seu íntimo aquilo que você sabe que é certo. Você nunca me desapontou nesse sentido, nunca deixou de fazer aquilo que é correto e melhor para todos" completou.

"Tudo bem" disse Clark, dando-se por vencido. "Digamos que você seja mesmo o meu 'eu' do futuro..."

O homem sorriu, e se aproximou, estendo-lhe a mão:

"Chame-me de Kent, e eu o chamarei de Clark"

Clark olhou para sua mão, como se não acreditasse no que estava fazendo. Mas não havia como não acreditar que aquele era uma versão madura dele mesmo. Pois, como se não bastasse a incrível semelhança física, aquele sujeito havia descrito tudo o que o atormentava ao longo dos anos de tal forma que ninguém mais o faria. Ele então aceitou o cumprimento, e quando se desvencilharam, perguntou:

"O quê houve para você vir até aqui... e como voltou no tempo?"

"Como vim até aqui é uma longa história..." respondeu, e novamente o semblante de Kent se transformou de uma confiança inabalável, para um olhar de profundo pesar, quando completou: "O motivo... é que somente você pode me ajudar a impedir um evento que vai refletir no futuro"

Nesse momento, Clark teve uma estranha e gélida sensação de que algo terrível estava prestes a acontecer.

Continua...