Cap. 4 – Uma festa do barulho

Gina e Harry mal se falaram durante o dia inteiro. Uma hora, Gina ia cuidar das crianças e Harry arrumava algo para fazer. Em outra hora, as crianças chamavam a atenção de Harry, e Gina foi para a cozinha preparar o almoço. Se eles tinham que se falar, ou fazer alguma pergunta, eram sempre monossilábicos ou acenavam "sim" ou "não" com a cabeça. Evitaram se encarar por muito tempo.

Isso não era nada bom, segundo as crianças. Teriam que fazer algo para remediar a situação, mas não sabiam o quê.

Até que chegou a hora de ir para A Toca. Harry usou o automóvel ao invés do flu, pois Gina alegou que chegariam todos empoeirados, além da "bendita torta que temos que levar", além de que não era muito saudável para John.

Diante desses argumentos que ouviu calado, Harry preparou o carro e foram. Chegando lá, foram recepcionados pela Sra. Weasley.

– Ah, que bom que chegaram!

– Oi, vovó! – as crianças correram para a abraçá-la. Harry levava a torta e Gina carregava John, que abriu os braços para ir com a avó.

– John, cada vez mais pesado. – disse, pegando o bebê no colo. Vendo a torta de maçã, se voltou para Gina – Torta de maçã! Que original, querida!

– A idéia foi minha vovó! – gritou Lílian, um pouco indignada por não receber os créditos – Mamãe e papai brigaram porque não se decidiram, então eu resolvi fazer a torta.

– Você fez?– A Sra Weasley desfez o sorriso – Seus pais brigaram e você fez a torta sozinha?

– Não, vovó! Eu ajudei – disse Paul, pulando para chamar a atenção – A idéia foi da Lily, mas eu salvei a torta, porque ela esqueceu de colocar um ingrediente, aí eu ajudei!

– Vocês dois fizeram? Sozinhos na cozinha? – A Sra. Weasley permaneceu séria e encarou Harry e Gina, já totalmente sem graça – E seus pais não viram?

– Só viram depois, quando já estava terminando. – disse Lílian, inocentemente – Eu ia cortar a maçã, quando papai chegou.

– E a Lily nem ia precisar ter usado a faca, se eu não tivesse devolvido a varinha da mamãe. – acrescentou Paul – Aí sim, teríamos feito tudo sozinhos!

– É mesmo? – Harry e Gina recuaram ao ver os olhos da Sra. Weasley faiscando para eles.

– É, mas depois ficamos de castigo. – disse Lílian, abaixando a cabeça e Paul a imitando – Papai explicou que não devíamos ter cozinhado sem eles por perto...

– E nem ter mexido na varinha da mamãe... – concluiu Paul.

– Bem... espero que vocês tenham aprendido então... – a Sra Weasley ofegou, parecia que ia ter um ataque – Agora, vão brincar com seus primos, que eu vou ter um papinho com os pais de vocês, para ver se eles aprendem algo...

As crianças correram para encontrar os filhos de Rony e Hermione, além do filho recém nascido de Fred, que estava no colo de Angelina. Harry e Gina engoliram em seco, ainda estavam parados à porta quando Hermione se aproximou.

– Finalmente chegaram! – disse, e olhou para a torta – Muito original, Gina! Aposto que Rony vai adorar.

– Foi a Lílian e o Paul que fizeram – disse a Sra. Weasley, sem desgrudar de Harry e Gina, que não sabiam para onde correr.

– Ah... – Hermione ficou constrangida – Hm, Rony ainda não chegou, pedi para ele comprar qualquer bobagem e ele volta em uma hora, mais ou menos. Bem... Molly, acho melhor dar uma olhada nos gêmeos, eles entraram na cozinha com um saco que se mexia... Acho que querem misturar algum ingrediente no molho do cachorro quente.

A Sra Weasley finalmente desviou o olhar do casal.

– FRED E JORGE! Não se atrevam a mexer nesse molho! – e se voltou para Harry e Gina – Não pensem que esqueci de vocês!

E saiu cozinha adentro, inconsciente de que John ia em seu colo, assustado com o grito que ela dera. Harry e Gina suspiraram aliviados. Hermione continuava observando, quieta.

– O que aconteceu?

– Longa história. – disse Harry – Onde posso colocar isso?

– Naquela mesa, Harry, por favor – disse Hermione, apontando para uma mesa com algumas guloseimas.

– Ótimo – disse, caminhando até a mesa.

Hermione observou Harry se afastar e puxou Gina para dentro.

– Vocês brigaram?

– Duas vezes... – Gina suspirou – A primeira por uma bobagem e a segunda...

Foram interrompidas pela entrada de Gui e Fleur, com a filha Emanuelle, de 10 anos.

– Olá, todo mundo! – cumprimentou Gui. Seu rosto já não tinha tantas marcas da mordida de Grayback, Fleur sorria abobadamente, como sempre, na opinião de Hermione e Gina, e Emanuelle parecia um bolo de noiva cheio de glacê. – Chegamos na hora, não foi?

– Sim, Rony ainda não chegou – disse Harry, do outro lado da sala e se aproximando.

– Oi, tio Gui! Oi, tia Fleuma! – gritaram Lílian e Paul ao mesmo tempo e saíram rindo atrás de Phillip e Michelle.

Fleur fechou a cara para Harry e Gina, que queriam abrir um buraco no chão e se esconder ali mesmo; Gui ergueu a sobrancelha.

– Pensei que eles já tinham aprendido a pronunciar – comentou.

– É... Deve ser a falta de prática – Harry respondeu, sem graça e um pouco rubro.

– Enton talvezz devesseem aprender français – resmungou Fleur, ainda de cara amarrada. – Emanuelle nunca tev esse problem.

– É uma ótima idéia – disse Gina, tentando se controlar, pois Fleur nunca melhorara seu inglês - Vamos pensar no assunto, não é querido?

– Claro – Harry deu de ombros, voltando a falar com o Sr. Weasley.

Logo em seguida chegou Carlinhos, com sua noiva. A Sra. Weasley passou John para Gina e recomendou que desse a mamadeira, pois ele apresentava sinais de sono.

Hermione conduziu Gina para o quarto, onde as duas conseguiram conversar. Gina resumiu os acontecimentos do dia, deixando Hermione chocada. Não era muito animador falar sobre o assunto, ainda mais quando a cunhada era expert em sermões.

– Gina, há de convir que vocês precisam mesmo de uma babá.

– Minha mãe teve sete filhos e nunca precisou de babá, Mione - resmungou Gina, ao mesmo tempo em que ouviam a Sra. Weasley gritar mais uma vez com os gêmeos.

– Sabe, acho que em algum momento da criação de vocês, ela desejou ter uma... – disse Hermione, falando um pouco mais alto, pois as crianças passavam no corredor naquele instante. – Mesmo assim, você não acha que está sendo teimosa com Harry? Ele foi grosso, com toda a certeza, mas não foi...

– Eu sei que não sou uma boa mãe – disse Gina, irritada.

– Não foi isso que eu quis dizer. – Hermione corrigiu depressa – Todos cometem erros, Gina. Você acha que não passei por um apuro parecido? Outro dia Phillip sujou o lençol de chocolate e para se safar do castigo o jogou na máquina de lavar. Bem, ele usou toda uma caixa de sabão em pó. Não preciso dizer que quando o encontramos, ele estava chorando, com a máquina espalhando espuma para tudo quanto é lado e a lavanderia inundada. Se eu tivesse notado o silêncio dele ao invés de prestar atenção nos relatórios pendentes do departamento, eu não teria tido esse problema.

– E você o castigou?

– Sim, mas não por ter sujado o lençol. Já Michelle, pegou minha varinha para tentar consertar um vestido que rasgara, acabou que costurou os próprios dedos.

– Que horror! – disse Gina.

– Foi o que disse a Rony quando a vi. Imagine a agonia que não passamos quando a levamos para o hospital. – disse Hermione, num certo alívio por desabafar – Só pedimos que ela não comente essas coisas com a avó, porque sabemos como a Sra. Weasley é. Você teve foi muita sorte de não ter acontecido nada.

- É, mas poderia ter acontecido algo...

– Não pense no que poderia ter acontecido, é bobagem - disse Hermione, pegando John no colo, para fazê-lo arrotar. – Eu mesma falei com Rony sobre uma babá, mas está difícil encontrar um elfo que queira ser pago. – acrescentou, Gina escondeu o riso – Quanto a você e Harry... Todo mundo briga um dia, eu e Rony um pouco mais do que o normal, admito... Mas brigas acontecem. Você pode se redimir com ele ainda hoje.

– Não sei se consigo, ele ficou realmente furioso com o que aconteceu... Fora que eu falei na Fleur... Odeio quando ele elogia aquela veela de meia pataca!

– Também não gosto quando o Rony faz isso. – riu Hermione – Bem... Todo o homem gosta de ser adulado, sabe? Eu sei, parece um tanto... Primitivo, mas sempre funciona. Um elogio, um carinho fora de hora... Talvez se você oferecer algo que ele goste...

Hermione continuava sugerindo soluções para Gina, apesar dela não querer puxar o saco de Harry para fazer as pazes. Enquanto isso, as crianças conversavam no sótão.

– Então, seus pais brigaram hoje? – Foi Phillip quem perguntou.

– Sim, brigaram duas vezes – disse Paul, chateado.

– Não deviam ter brigado de novo, era para eles terem feito as pazes, porque nós fizemos todo o trabalho pesado na cozinha! Tudo isso porque eles estavam indecisos sobre o que cozinhar, e nós ajudamos! - disse Lílian, indignada.

– Não liga não, isso passa – disse Michelle, da mesma idade de Lílian, alguns meses mais velha – Papai e mamãe também brigaram hoje.

– E por que brigaram? – Paul perguntou.

– Mamãe queria que papai vestisse uma camisa que ela deu pra ele. Mas eu sei que ele não gostou da cor – respondeu Michelle. – Eles brigam, mas se gostam.

– Deve ser assim com alguns pais: tem uns que de tanto brigar, se separam. Mas têm outros que de tanto brigar, acabam gostando mais ainda um do outro – concluiu Lílian, pensativa.

– Será? Isso tudo é muito confuso pra mim – disse Paul.

– Só um pouquinho – respondeu Phillip, que tinha os olhos azuis e cabelos castanhos. – Mas acho que mamãe e papai nunca vão se separar. Porque quando não brigam, eles ficam bem agarradinhos e isso é bom sinal. Eu acho.

– É... eles se beijam... eca... – disse Michelle, fazendo as crianças rirem.

– Psiu! – ouviram chamar. Olharam em volta e Michelle encontrou os tios na porta do sótão.

– Oi, tio Fred! Tio Jorge – disse, desconfiada. Hermione sempre alertou os filhos para as "travessuras inocentes" dos tios.

– Crianças, querem nos ajudar em uma experiência? – perguntou Jorge, enquanto Fred mostrava o conteúdo de uma sacola a eles.

Gina acabava de descer com Hermione, as crianças passaram por elas correndo e Fred e Jorge vinham mais atrás, assobiando de modo muito suspeito. Elas se juntaram aos outros convidados, Gina muito admirada de que Emanuelle não quisesse brincar com as outras crianças. Talvez, por ser a mais velha dos netos, não queira se misturar, coisas de criança.

Harry ainda se mantinha um pouco distante, ela não sabia se ele estava com raiva ou simplesmente não queria mais confusões para aquela noite. Quando conseguiu que ele correspondesse ao seu olhar, ouviram uma explosão vinda da cozinha. As crianças saíram de lá correndo e rindo, se escondendo debaixo da mesa. Fred e Jorge também saíram da cozinha, a Sra. Weasley arrastando cada um pela orelha. Uma fumaça preta saiu do local e o bebê começou a chorar.

– Ah, droga... Vou matar aqueles dois! – disse Gina, se levantando. Ela ia subir quando Harry passou na sua frente.

– Deixa que eu vou – e subiu correndo. Gina pensou em subir mesmo assim, mas resolveu ficar. Não queria criar outro atrito com o marido, talvez ele preferisse ficar sozinho.

Enquanto isso, a Sra. Weasley ralhava com os gêmeos.

– Vocês não têm vergonha de incentivar os sobrinhos de vocês a adulterarem a bebida? – gritou ela – E ainda por cima o ponche que Rony tanto gosta! E se ele tivesse bebido?

– Provavelmente não teria acontecido nada, mamãe... – falou Fred.

– É, talvez o Rony só ficasse roxo com bolinhas amarelas, mas isso passa em 24 horas – completou Jorge.

– Sim, as nossas bolhas de champanhe não têm efeito assim tão drástico, era pra ser divertido...

– Divertido? Divertido? Se não são perigosos, por que explodiu?

– Acho que as crianças colocaram muitos caramelos... – disse Jorge.

– Aconselhamos um para cada, mas devem ter colocado o pacote inteiro que trouxemos da loja... – completou Fred, fazendo uma careta de dor.

– Ah, céus! – A Sra. Weasley os largou, Fred foi até Angelina, que olhou feio para ele, balançando a cabeça – Parece que vocês nunca vão crescer!

– Só queríamos testar o efeito no ponche, mamãe! – os dois falaram.

Isso fez Gina se lembrar de algo muito parecido que acontecera quando era criança. Faltava um ano para ir para Hogwarts e alguns dias para Rony ir para Hogwarts a primeira vez.

– Sai pra lá, Gina! Rony gritou, batendo a porta do quarto. Não queria que a irmã o visse dobrar as vestes de segunda que levaria.

Não tendo o que fazer, Gina foi até a cozinha, onde os gêmeos mexiam o caldeirão de sopa que sua mãe preparava para Percy, adoentado naqueles dias.

O que estão fazendo? perguntou. Os dois a encararam e ela sentiu medo ao ver que os olhos brilhavam.

Nós? - Jorge perguntou, inocente - Nada!

Só íamos ajudar a mamãe, mas acho que ela ficaria mais satisfeita se você a ajudasse! disse Fred.

Por que eu?

Porque aí você vai mostrar que é uma ótima cozinheira – tornou Fred.

E ela vai ficar orgulhosa de ver como você está crescendo rápido Completou Jorge.

Gina desconfiava dos irmãos, seu histórico em traquinagens era vasto, tanto em Hogwarts como n'A Toca, mas eles tinham um argumento forte e resolveu arriscar.

E o que tenho que fazer?

Só colocar esse "ingrediente" na sopa Jorge mostrou algo que parecia uma esponja suja, com tentáculos que se movia. Até hoje Gina não saberia dizer o que era.

Eu vou ter que pegar nisso aí? perguntou, sentindo um pouco de nojo.

Você só precisa pegar na pontinha e jogar na panela respondeu Fred, explicando com gestos como fazer.

Gina se aproximou dos irmãos, que iam lhe passar a esponja suja, quando sua mãe entrou na cozinha, com um cesto de roupas limpas que acabara de tirar do varal.

Fred e Jorge! gritou, largando o cesto no chão O que pensam que estão fazendo?

- Nós, nada! responderam os dois. – Gina ia fazer!

Influenciando sua irmã de novo! Vocês não têm vergonha de não assumir suas má criações? O que iam colocar na sopa?

Algo que o Percy ia adorar, mãe...

Já pra cima, os dois! Arrumem suas coisas para Hogwarts.

Gina ainda se lembrou do castigo que os gêmeos tiveram na tentativa de envenenar Percy. Engraçado, foi a mesma situação que passou com os filhos, sua mãe os deixou sozinha em casa e eles invadiram a cozinha. Talvez Gina não fosse uma mãe tão ruim, afinal.

Harry voltava com John no colo, de olhos arregalados. Gina ia falar com ele, quando a porta da casa se abriu e Rony entrou, de varinha em punho.

– Tá todo mundo bem? Eu vi fumaça, mas o que...

– SURPRESA! – as crianças saíram debaixo da mesa gritando e correram para abraçar Rony, o derrubando no chão. As risadas amenizaram o clima da bronca, apesar da cozinha ainda estar repleta de fumaça.

– Feliz Aniversário, Rony! – Hermione o ajudou a se levantar.

– Er... Obrigado... – Rony ficou com as orelhas vermelhas – Mas eu vi fumaça vindo da casa, isso era pra me chamar a atenção?

– Não, foram Fred e Jorge – respondeu o Sr. Weasley, dando um abraço no filho.

Rony foi rodeado por toda a família que queria cumprimentá-lo, Fred aproveitou a ocasião para lhe oferecer uma bebida.

– Beba um refresco, maninho! Deve estar com sede.

Rony nem percebeu quem lhe dera o copo, apenas virou com tudo goela abaixo, antes que qualquer um o impedisse. Imediatamente a bebida começou a fazer efeito e seus olhos começaram a girar violentamente.

– Rony! – Hermione exclamou. Tomou o copo das mãos dele e o cheirou – Fred, não me diga que isso é o ponche?

– Sabe que não sei da onde saiu? Foi o Jorge quem ofereceu – respondeu Fred, sorrindo como se não tivesse feito nada.

– Eu peguei na cozinha, mas estava tão escuro por causa da fumaça que não sei ao certo se era o ponche "estragado", ou outro... – Jorge fingiu inocência.

Rony começou a ficar zonzo e cambaleava, procurando apoio. Gui e Carlinhos seguraram seus braços. Seus olhos ficaram vermelhos e um pouco inchados e ele começou a soluçar.

– Hic!... Fiquei tooonto de repenteeee... Hic! – conseguiu balbuciar, com a fala arrastada.

– Seus loucos, ele ficou embriagado! – foi a vez do Sr. Weasley brigar com os gêmeos.

– Rony, Rony! Sente-se, querido! Vai ficar tudo bem – a Sra Weasley se exasperou e voltou-se para os filhos – Vocês dois, deviam tomar jeito! Principalmente você, Fred! Pensei que tomaria juízo depois de casado, olha o exemplo que dá para seu filho!

– Estamos apenas cuidando dos negócios, mamãe – defendeu Jorge.

– Além do mais, o meu filho terá um bom exemplo! – retrucou Fred – Sou um empreendedor nato e honesto! Apesar das brincadeiras, nunca roubei ninguém. Em outras palavras, um homem de caráter.

– Você quis dizer com desvio de caráter, isso sim – retorquiu Angelina, segurando o bebê. Parecia furiosa. Subiu as escadas para colocá-lo no berço, fazendo Fred ficar um pouco sem graça.

– Bem, pelo menos agora sabemos que se misturarmos as bolhas de champanhe no ponche, elas aumentam o teor alcoólico – comentou Jorge, quebrando o silêncio. – Mas acho que foi só porque foram muitas bolhas...

– Isso não tem graça, Jorge! – brigou a sra Weasley novamente – Vocês embriagaram seu irmão!

– Tecnicamente não fomos nós, mamãe, foram as crianças – disse Fred.

– Ninguém disse que era para jogar todas as bolhas de uma vez – concluiu Jorge.

– Vocês dois não se emendam! – Hermione puxou a varinha. Rony interviu.

– Esssstá tuuuudoo bem, Herm... Hic! O proooblema é sóóóó a tontura... – ele tentava se manter em pé, com Gui e Carlinhos o apoiando. ­­– Podem me soooltar... Hic!

Querendo se livrar dos irmãos, Rony deu um puxão muito forte, se desequilibrando e cambaleou até a mesa de doces. Não conseguiu se equilibrar a tempo e acabou se jogando na mesa, que desabou com todos os doces. Inclusive com a torta de maçã, que quicou da mesa e foi parar em sua cabeça.

– Rony! – todos correram para ajudá-lo. Harry desceu as escadas correndo e entregou John a Gina.

– Cuida dele, vou tentar ajudar – disse, sem olhar para ela, que se magoou com isso.

– Você se machucou, Rony? – Hermione perguntou, abrindo caminho pela comida esparramada.

– Ai... Minha cabeça... – Rony tirou a forma da torta da cabeça, e lambeu os dedos melados de recheio – Hm... Isso é bom! Quem fez?

– Nós... – responderam Lílian e Paul, que ao ver a torta completamente arruinada, espalhada pelo corpo do tio, ficaram com a fisionomia triste.

– Torta de maçã – Rony continuou – Está muito boa, é sério. Mas acho que a base ficou muito crocante e... Hei! Minha tontura passou!

– Anota aí, Jorge – falou Fred, entregando um caderninho e lápis ao irmão – O efeito passa ao ingerir doce.

– Ou maçã – continuou Jorge – Precisamos de mais testes.

– Em todo o caso, a visão de Rony bêbado valeu o dia.

– Da próxima vez vamos tentar com o Percy!

– Não vão tentar mais nada com ninguém! – gritou a Sra. Weasley e tiveram a impressão da casa tremer – Vão limpar essa bagunça agora mesmo!

– Acabarran estragando a festa – disse Fleur, com certo desprezo.

– Se limparem tudo, não terão estragado nada. – Gina retrucou do seu canto – Ainda temos comida na cozinha que não se estragou e tem também o bolo de aniversário.

– É isso aí. – disse Harry, se aproximando de Rony e o ajudando a se levantar, os dois correndo o risco de escorregarem – Vou guiar o Rony até o quarto, aí ele pode se limpar, vai que a tontura volta...

– Melhor tomar uma ducha, Rony – aconselhou Carlinhos, vendo pedaços de maçã por toda a cabeleira do irmão. ­– Eu tenho algumas camisas limpas aí, acho que servem em você.

– Certo, certo. – Rony subia as escadas, mal-humorado – Já volto, então.

– Enquanto isso, vou conversar com nossos filhos a respeito de aceitar fazer experiências para os tios – disse Hermione, olhando de cara fechada para os filhos, que se encolheram num canto.

Gina observou os próprios filhos. Estavam tão decepcionados com a torta que se estragou que ela achou que não mereciam ter qualquer tipo de represália.

Harry, por sua vez, aguardava Rony sair do banho. Não comentou com ninguém, mas estava impaciente e ansioso para a festa acabar e ir embora; não se sentia nem um pouco à vontade estando na festa separado de Gina.

– Quando foi que seus filhos aprenderam a cozinhar? – Rony perguntou, assim que entrou no quarto de Carlinhos.

– Hoje cedo, depois que eu e Gina brigamos. – disse Harry, cansado – Depois brigamos de novo.

– Por isso ela não estava com uma cara simpática. O que houve?

Harry resumiu os acontecimentos do dia. Rony riu ao ouvir a história sobre Fleur, dizendo que Hermione também não gostava dela.

– Definitivamente, vocês precisam de uma babá – disse, se calçando.

– Toquei no assunto com Gina, mas ela levou para o lado pessoal. – ele abaixou a cabeça, constrangido – De certo modo, não abordei o assunto da maneira mais sutil.

– E claro que ela levou para o lado pessoal, senão não seria a Gina. – Rony revirou os olhos – Garanto que no fundo ela se sente culpada e quer provar que é uma boa mãe.

– Bem, eu não me isento de culpa, nem me sinto muito confortável com essa situação – Harry resmungou, apoiando a cabeça com as mãos.

– Também comentei com a Mione sobre um elfo, mas ela só quer contratar se o elfo aceitar receber salário. Ou seja, nunca teremos babá. – Rony revirou os olhos mais uma vez, fazendo Harry rir.

– Além do mais, sua mãe insiste em ficar com as crianças enquanto trabalhamos, mas não acho justo que ela fique com todo o trabalho.

– Só que contratar um elfo para mamãe é muito pior, ela odiaria ver um elfo mexendo nas coisas dela. Se bem que ajudaria... E como vocês ficaram?

– Não ficamos, estamos cada um num canto. Até sua mãe sabe.

– Sabe? – Rony arregalou os olhos – Como?

– As crianças contaram – dessa vez foi Harry quem revirou os olhos. Rony riu.

– Coisa de criança, se bem que não é saudável deixar mamãe saber dessas brigas. Mas elas são normais, eu e Hermione brigamos quase todo o dia. Agora... Você sabe que Gina não é do tipo que dá o braço a torcer.

– Chega a ser infantil.

– Completamente. – admitiu Rony – Mas para isso tem uma solução. Você pode optar por duas alternativas.

– Quais?

– A primeira, você pode suplicar por perdão, mesmo não sendo culpa sua. Funcionou algumas vezes com a Hermione... A segunda... Como você já é casado com a Gina, posso lhe contar. – Rony fez uma pausa e suspirou – Você pode dar um amasso nela, joga ela contra a parede, ou na cama, onde for mais perto e faz ela perder o fôlego.

– Isso se ela não me azarar primeiro – disse Harry, rindo.

– Não tem perigo, ela nem vai ter tempo de pensar em varinha. Pelo menos eu não deixo Hermione pensar. – Rony suspirou mais uma vez, satisfeito consigo mesmo – E depois de um tempo, a raiva passa. Pense nisso.

Os dois desceram as escadas, Harry pensando que a sugestão de Rony não era mesmo uma má idéia, porém talvez fosse melhor tentar esta estratégia depois de fazerem as pazes.

– Finalmente desceram! – exclamou a Sra. Weasley – Emanuelle quer dar o seu presente, Rony. Ela me disse que ensaiou o balé e quer mostrar para você.

– Ah, agora? - Rony engoliu em seco – Por que não cortamos o bolo primeiro? Estou faminto.

– Como quiser, querido. Vou buscar então – e voltou para a cozinha.

Harry olhou em volta. Fred e Jorge tinham dois esfregões nas mãos e estavam limpando o chão, tentando inutilmente esconder um pedaço enorme de torta de frango debaixo do tapete. Carlinhos e a noiva conversavam com Angelina sobre os planos para o casamento, enquanto que o Sr. Weasley conversava com Gui e Fleur sobre mandar Emanuelle para Hogwarts ou Beauxbatons.

– Ogwarts continua muito bagunçada, a comida muito pesada. Em Beauxbatons Emanuelle poderá ter mais disciplina – dizia Fleur.

– Mas Hogwarts é uma das melhores escolas da Europa, eu e meus irmãos estudamos lá! – contestava Gui.

– Sabe de uma coisa – cochichou Rony para Harry, em tom de gracejo – Se a filha deles receber mais disciplina, vai acabar marchando ao invés de andar.

Harry não riu. Emanuelle era uma criança muito séria para idade, isso para ele era muito preocupante.

– Rony, – Hermione se aproximou, segurando os dois filhos pelas mãos – as crianças têm algo a dizer – dizendo isso, os dois conseguiram se soltar e sair correndo – Hm... elas estão com vergonha, depois da bronca que dei.

– Posso imaginar. – Rony riu – Vou falar com elas.

– Hermione? – perguntou Harry.

– Sim?

– Onde está Gina?

– Deve estar descendo a qualquer momento, foi colocar John no berço que a Sra. Weasley improvisou. Vou acompanhar o Rony, Harry. Já voltamos – disse ela, e foi em direção à garagem, onde as crianças foram parar, acompanhando Rony.

Harry ia subir de volta, mas antes de se virar, sentiu uma mão pousar em seu ombro. Sabia de quem pertencia, olhou para trás e viu Gina.

– Tudo bem? – ele perguntou, segurando a mão dela de volta e sorrindo.

– Comigo sim. – Gina devolveu o sorriso – Mas tem duas pessoas que não ficaram nada bem.

Ela pegou na mão de Harry e o conduziu até o sótão, onde Lílian e Paul contemplavam o céu estrelado com caras tristes.

– Ainda bem que aquele vampiro velho foi embora – Harry cochichou para Gina.

– Nem me fale... – cochichou de volta. O som das vozes chamou a atenção das duas crianças.

– Ah, são vocês – disse Paul, voltando sua atenção para a janela.

– Que bela recepção, filho. – disse Harry, se aproximando – Por que vocês estão escondidos aqui em cima?

– Porque deu tudo errado. – disse Lílian, tentando segurar o choro – Desde o início.

– O que deu errado, querida? – Gina perguntou, se sentando no parapeito e apoiando a cabeça de Lílian no colo.

– A torta. – quem respondeu foi Paul – Tivemos um trabalhão e ainda levamos um castigo por nada!

– Não fiquem tristes! – Gina exclamou – O tio Rony disse que a torta estava boa, quer dizer que são bons cozinheiros.

– E já expliquei porquê ficaram de castigo – disse Harry – Sabem que podem cozinhar, desde que peçam ajuda. Com certeza estava boa de gosto.

– Não é só isso... – Paul fungou.

– Não? – os pais perguntaram ao mesmo tempo.

– Só fizemos a torta para vocês fazerem as pazes. – disse Lílian – Eu sabia que se a vovó soubesse que ficamos de castigo, ela ia falar para vocês fazerem as pazes. E vocês sempre ouvem a vovó...

- Era pra dar tudo certo. A gente ia gritar "surpresa!" e vocês iam ficar felizes e se abraçar e a abraçar a gente. E talvez, se vocês tivessem provado a torta, teriam feito as pazes na hora.

Harry e Gina se entreolharam e sorriram, ambos se sentindo culpados por agirem como crianças durante um dia inteiro.

– Bem... Eu acho que deu muito certo – Gina começou.

– Deu? – as duas crianças a encararam, ela sorriu de modo maroto.

– Claro. – Harry respondeu, se sentando também e pegando Paul no colo – Ensinou uma grande lição para sua mãe e para mim também.

– Por quê? – Lílian perguntou.

– Porque... – Gina ficou sem graça em falar, mas respirou fundo e continuou – Porque eu descobri que quando eu brigo com o papai, eu fico morrendo de saudades dele – disse, ficando corada até a raiz dos cabelos. ­– E porque quando eu fico com raiva, falo um monte de besteiras, e tenho que controlar isso...

– E eu tenho que ter mais paciência com as teimosias da mamãe... – disse Harry, sem graça – Porque eu também sou muito teimoso, mas eu gosto muito dela e fiquei triste por termos brigado.

– Não gostamos de brigar. – continuou Gina – Não é legal para nós e sabemos que não é legal para vocês também.

– Só que às vezes os pais brigam e conseguem fazer as pazes naturalmente. – Harry prosseguiu – O problema é que ficamos muito nervosos porque vocês dois se arriscaram em fazer algo que não era necessário...

– E acabou que descontamos um no outro – Gina suspirou, aliviada por ter esclarecido o que sentia tanto para Harry quanto para as crianças.

Paul arregalou os olhos.

– Mas vocês não estão mais zangados?

Harry e Gina acenaram com a cabeça, dizendo não.

– Hm... vocês ainda estão zangados com a gente? – Lílian perguntou.

– Claro que não! – Gina riu – Mas vocês têm que prometer que não vão mais cozinhar sozinhos.

Os dois acenaram com a cabeça, sorrindo. Cada um dos pais beijou seus filhos.

– Agora, que tal descermos todos para comer um pedaço de bolo? – Gina sugeriu – Já devem ter cantado parabéns.

– Bolo! – e os dois saltaram do colo dos pais para correrem escada abaixo.

Ficaram apenas Harry e Gina sentados no parapeito da janela. Os dois se encararam e sorriram um ao outro.

– Quer dizer que você morre de saudades de mim quando brigamos? – Harry provocou.

– Não comece a me provocar, Harry Potter. – Gina sorria, envergonhada – Porque eu morro de saudades, mas consigo resistir bem.

– Oh, céus! – Harry fingiu estar ofendido – Está ferindo meus sentimentos! Não vê como estou triste por termos brigado?

– Seu fingido! – Gina deu um tapa na perna dele – Vamos descer, devem estar nos esperando – disse, se levantando. Harry a pegou pela mão e a puxou de volta, fazendo-a se sentar em seu colo.

– Para quê? Provavelmente Emanuelle deve estar dançando, o que vai distrair a família inteira por pelo menos... 15 minutos? – disse, beijando delicadamente seu rosto, descendo devagar para a boca e pescoço.

– Harry! E se nos virem aqui?

– Voltamos a tempo do tradicional brinde do Sr. Weasley, que tal?

Gina sorriu em resposta. Harry a aninhou em seus braços e se beijaram ternamente. Da porta, dois pares de olhos prestavam atenção e tiveram que conter um grito de alegria.

– Deu certo! – Paul cochichou para a irmã, sorrindo radiante.

– Eu sabia que ia dar certo o tempo todo – Lílian estufou o peito, orgulhosa de seu plano – Agora vamos deixar os dois aí e vamos comer bolo!

Paul concordou com a cabeça e as crianças desceram correndo, passando pela Sra Weasley, que subia para chamá-los.

– Ah, finalmente! – disse ela, quando entrou no sótão – Estamos esperando por vocês! Arthur quer fazer o brinde e sabem que ele exige a família inteira reunida.

– Desculpe, mamãe – disse Gina, se levantando a contragosto.

– Já íamos descer – disse Harry, um pouco sem graça.

– Sei que iam. Mas não pensem que o fato de vocês estarem aí agarradinhos me fez esquecer do que aconteceu com as crianças. Me aguardem amanhã – disse, saindo do sótão na frente deles.

Harry e Gina trocaram olhares de resignação. Para toda a ação, uma reação – seja boa ou ruim. Lílian e Paul não seriam os únicos a receberem sermão naquele fim de semana.

Os dois saíram do sótão, de mãos dadas, em direção à sala, onde seus filhos e todos os Weasley aguardavam para o famoso brinde familiar.

Fim.


Nota da Lucy: Agradecimentos à Kakazinha por ter elaborado o challenge H/G e à Nikari Potter por ter betado a fic.
Agradeço também pelas reviews, espero que as próximas pessoas a lerem também deixem sua opinião a respeito da história.

Obrigada e até a próxima!