Capítulo três: A carta

O sol estava brilhante e a grama parecia um pouco mais verde no dia seguinte. Logo após o almoço, Hermione aproveitou o belo dia para deitar-se no gramado lá fora e reler o livro que terminara uns dias antes, já que não tinha nenhum novo.
Apesar de ainda estar magoada com Rony, o incidente da véspera parecera aproximar um pouco os dois. Ela até se sentira mais leve quando, pela manhã, ele lhe dera bom dia. Hermione estava até começando a deixar de lado a briga – muito mais rápido do que o de costume, diga-se de passagem.
Enquanto ela lia, não percebeu que alguém a observava, da janela do quarto dos gêmeos.
- Preciso fazer algo por ela – decidiu Rony, olhando apaixonado para a garota lá embaixo. – Mas o quê?
Gina, ao seu lado, balançou a cabeça, pensativa.
- Talvez o tradicional agrade.
- Chocolates, florres, ... – exemplificou Gabrielle, sentada na cama de Jorge.
- ... promessas que não pretende cumprir – sugeriu Harry, divertido.
Rony ignorou os três.
- Precisa ser algo diferente, que a deixe feliz. Algo que ela realmente deseje.
Gina trocou um olhar cúmplice com Harry, o que se tornara muito freqüente nos últimos dias.
- Rony – chamou ela, com cautela, debruçando-se na janela ao lado do irmão e encarando-o -, você está apaixonado?
As orelhas do garoto ficaram vermelhas. Por um momento ela pensou que ouviria uma resposta mal-criada mas, para sua surpresa, não a recebeu. Em lugar disso, Rony insistiu:
- O que eu faço? Por Merlim, é difícil! – exclamou, quase em desespero.
Harry permaneceu calado, aparentemente concordando com o amigo. Mas Gina não fez o mesmo.
- Não pode ser tão complicado, Rony. É só pensar bem. Hermione não é difícil de agradar – argumentou, mais uma vez com medo de provocar a "ferinha". – Basta imaginar o que ela realmente quer ganhar.
Rony olhou mais uma vez lá para baixo. Ele nunca admitiria em voz alta mas, na sua opinião, Hermione estava linda. Deitara de costas, de modo que seus cabelos volumosos ficaram espalhados pelo chão, a cor escura contrastando com a grama. Sobre a sua barriga estava Bichento ou, como Rony preferia pensar, "aquela desprezível bola de pelos laranja" e nas mãos havia um livro grosso.
- Já sei! – exclamou Rony.
E, sem dizer mais nada, saiu do quarto correndo o mais rápido que podia.
- Eu disse que não seria difícil – comentou Gina, espantada.
- Ele não pensou em nada – disse Harry, fazendo graça. – Deve estar com dor de barriga.
Rony subiu até seu quarto e apanhou, no fundo da gaveta de cuecas, alguns galeões e sicles. Eram as suas economias, para pagar o teste de aparatação . Mas não pensou por muito tempo antes de enfiar as moedas no bolso. Havia algo em jogo ali, e era ainda mais importante do que aparatar.
Ele correu até a cozinha, atravessou a lareira e, em vinte minutos, estava de volta com um embrulho de papel roxo debaixo do braço.
Saiu pela porta dos fundos e, escondendo o presente nas costas, aproximou-se de Hermione.
- Oi! – cumprimentou a menina afastando Bichento e sentando-se, quando Rony parou ao seu lado e a encarou, sem dizer palavra.
- Oi – respondeu Rony. – Eu tenho um presente para você.
Hermione pareceu estranhar e gostar ao mesmo tempo.
- Mesmo? E o que é? – perguntou, sorrindo.
Rony agachou-se diante dela, ainda mantendo as mãos para trás e instruindo:
- Abra as mãos e feche os olhos.
A garota o fez, cem por cento confiante. Rony, gostando muito da brincadeira, colocou o embrulho nas mãos de Hermione.
- Tente adivinhar o que é – pediu. – Não vale espiar!
Hermione riu, parecendo estar se divertindo também, e apalpou o presente por alguns segundos.
- Rony, isso é um livro?
- Ah, como posso brincar de adivinhar com alguém que sempre sabe de tudo? – disse Rony, tentando fingir revolta e rindo ao mesmo tempo.
Hermione riu também e abriu os olhos.
- Oh, Rony, obrigada – disse, ao ver o brasão da Floreios e Borrões na embalagem. Rasgou-a então e tirou de dentro um livro de capa dura com umas seiscentas páginas, intitulado Contos de fadas e de carros – o melhor da mitologia trouxa e bruxa.
A garota cobriu a boca com as mãos, impressionada. Em seguida, colocou delicadamente o livro no chão, sobre o papel rasgado e, sem avisar, atirou-se nos braços de Rony.
- Obrigada mesmo – disse baixinho a um Rony completamente sem ação. – Eu nem sei como agradecer, Rony.
Ele pensou por um momento, enquanto retribuía timidamente o abraço. Não pensara em pedir nada em troca daquela gentileza, mas teoricamente ela estava oferecendo e Rony não deixaria passar a chance.
- Bem... – ele começou, sentindo as orelhas queimarem – você poderia jantar comigo amanhã à noite.
Hermione largou o abraço e afastou-se de Rony, encarando-o intrigada.
Por um momento, ele pensou ter feito uma besteira.
- Rony, amanhã é a festa do Harry – ela lembrou, forçando um sorriso.
- Sim, mas... – ele teve de pensar rápido. E fosse o que Deus quisesse. – Você poderia, se quiser, é lógico, ser meu p-par. Como em um baile.
Um momento de expectativa antecedeu o amplo e feliz sorriso que Hermione abriu em seguida.
- Certo. Serei seu par no "baile" de amanhã.
Rony de repente sentiu o coração bater forte, embora estivesse mais tranqüilo. Aquela proposta de companhia fora o maior improviso de sua vida – ele nunca chegou a entender bem por que o fizera – e mesmo assim funcionara! Era impressionante. Se existisse realmente um baile e ele planejasse convidar Hermione, não teria dado tão certo.
E agora estavam lá os dois, sentados no chão bem próximos um do outro, sorrindo como dois bobos. Era um momento muito propício para romance. O cérebro de Rony até começou a processar alguma atitude romântica, mas foi interrompido pela Sra. Weasley. Ela acabara de enfiar a cabeça pela janela e mandar que Rony desgnomizasse o jardim.
- Mas, mãe – ele reclamou -, eu fiz isso domingo!
- Sim, eu lembro. Mas os gnomos não – disse a Sra. Weasley, em um tom definitivo, saindo então da janela.
Rony se levantou praguejando, esquecido por um momento de que estava tentando ser uma pessoa mais agradável. Hermione levantou-se também, com seus dois livros nas mãos.
- Eu te ajudo – ofereceu.
O garoto voltou-se para ela e demorou um pouco para responder, o que o fez parecer um pouco idiota.
- Não precisa – afirmou. – Eu faço, sem problemas.
- Claro que precisa – insistiu Hermione. – Eu vou deixar meus livros na cozinha e já venho.
E foi o que fez. Enquanto esperava por Hermione, Rony deu uma olhada pelo jardim. À primeira vista aparentava estar limpo mas, prestando bastante atenção, era possível ver umas sombras castanhas passeando entre os arbustos ou correndo pela extensão da sebe, bem escondidas. Hoje o trabalho seria difícil.
Hermione voltou da cozinha e parou ao lado de Rony, arregaçando as mangas.
- Sabe do que eu acabei de lembrar?
- Do quê? – quis saber Rony, interessado.
A garota olhou para ele, sorrindo.
- Eu nunca fiz isso antes.
- O que, desgnomizar o jardim? É fácil! – afirmou ele. – Observe como o mestre aqui faz.
Ele lançou então mais um olhar rápido sobre o jardim, identificando algo em movimento atrás de um arbusto particularmente volumoso.
Não sem antes ajeitar o cabelo, Rony correu em direção ao gnomo e se jogou sobre ele. Mas a criaturinha conseguiu esquivar-se um segundo antes, fazendo com que o garoto caísse deitado no com a cara no chão. O gnomo ainda pisou nas costas de Rony enquanto corria para se esconder atrás de uma árvore.
O menino se levantou com o rosto corado – parte por raiva, parte por vergonha – e partiu mais uma vez atrás do gnomo. Desta vez foi mais cauteloso: deslocou-se vagarosamente até a árvore e contornou-a da forma mais silenciosa possível. Mas, quando chegou do outro lado, onde estava o gnomo? Ele fora mais esperto. Contornara a árvore pelo lado contrário a Rony e se encontrava agora parado atrás do menino.
Antes que Hermione pudesse gritar para alertá-lo, Rony levou uma forte mordida no tornozelo.
- Ora, seu demônio maldito! – gritou ele, correndo mais uma vez atrás do bicho.
Em cinco minutos Rony estava suado, com as calças cheias de terra, o cabelo com várias folhas de grama e nenhum gnomo em mãos.
E foi depois de uns dez minutos que, ao parar para respirar, ele olhou para trás e viu algo que o espantou. Hermione não estava mais parada observando suas desventuras. Encontrava-se agachada junto à sebe, com uma laranja recém colhida em mãos. Ela arrancara um gomo da fruta e o apertava, pingando seu conteúdo no chão.
- Mas que diabos...? – murmurou Rony, sem entender o que ela estava fazendo.
Hermione parou de pingar a laranja, deixou o gomo no chão e afastou-se um pouco, agachando-se atrás de um arbusto.
Não demorou muito para que um gnomo feioso saísse de trás da sebe e agarrasse o gomo. Foi a deixa para Hermione o apanhar. O bichinho começou a guinchar, mas ela ignorou. Girou-o por cima da cabeça e jogou-o para longe.
- Sabe, é até divertido – disse, voltando-se para Rony, que a olhava abobado.
- Como você fez aquilo?
Em vez de responder, ela encolheu os ombros.
Rony levantou uma sobrancelha. O método de desgnomização de Hermione era muito mais eficiente e esperto. Sendo assim, ele o adotou e, juntos, os dois passaram o resto da tarde assim: armando armadilhas para os gnomos e depois lançando-os para fora da casa.
Quando finalmente entraram em casa, estavam muito suados e cansados. Rony se sentia satisfeito consigo mesmo. Na manhã anterior, duvidava que Hermione voltasse a ser sua amiga e agora os dois não só eram amigos como haviam passado a tarde toda correndo juntos pelo jardim e se divertindo como Rony nunca imaginara que poderia se divertir com aquela tarefa doméstica. Ele tinha certeza agora de que as coisas estavam indo muito bem. Não seria difícil alcançar sua meta de conquistar a garota até a noite seguinte.
Logo que Hermione saiu do banho, Rony entrou. Ela, então, dirigiu-se até a sala, onde pretendia começar a ler seu livro novo. Antes disso, pôs-se a pensar por um momento no que passara naquele dia. Sorriu ao perceber a evolução no comportamento de Rony em poucos dias. Aquele garoto doce e divertido que ela amava parecia finalmente ter vindo à tona. Mas essa mudança repentina teria acontecido espontaneamente? Ela achava que não. Provavelmente tinha algo por trás de tudo aquilo. O difícil seria descobrir o quê.
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- Não posso crer! – exclamou Mariana animada, espiando Rony e Hermione, do alto da escada da sala.
- Nem eu – disse Harry, sorrindo.
Os gêmeos e Mariana haviam chegado há alguns minutos, portanto não puderam espiar a diversão do casal no jardim. Mesmo assim estavam espantados com a cena que presenciavam. Hermione estava sentada no sofá lendo um livro e Rony, sentado ao seu lado, simplesmente esticava o pescoço e, sem vontade de ler, contentava-se em observar as ilustrações.
- Ficam tão bonitinhos juntos – disse Mariana, agarrando a mão do namorado.
- O que diabos Rony andou fazendo? – perguntou Fred, curioso. – Ontem mesmo os dois gritavam um com o outro como um par de velhos jogando truco!
Gina sorriu.
- Ele não fez nada demais. Nós fizemos. Nosso plano funcionou tão bem que acho que estamos vendo alguma coisa acontecer.
Gabrielle ergueu os olhos para ela.
- Alguma coise? – repetiu, sem entender muito bem.
Jorge e Fred deram risadinhas.
- Sim, estamos vendo alguma coisa acontecer.
- Do que eston falande? – perguntou mais uma vez a garota, intrigada.
Mas ninguém respondeu. Estavam todos animados demais com a eficiência de suas tramas.
Saíram então do seu posto de vigia e deixaram que o casal tivesse alguma privacidade.
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- Rony, se você não abrir essa porta em três segundos eu juro que a arrombo – ameaçou Gina, do lado de fora do quarto. – Um, dois...
A porta se abriu.
- Você realmente acredita que tem força para arrombar a porta? – perguntou Fred em tom de conversa, abandonando o quarto de Rony.
- Tenha dó, Jorge, você tem consciência de que a festa já começou e ninguém teve paciência para esperar vocês?
Eram sete e meia da noite da quarta-feira. A festa começara às sete horas, mas Rony só acabara de se arrumar agora. O Sr. Weasley chegara a compará-lo com Fleur e se arrependeu de tê-lo feito quando Gabrielle se mostrou ofendida.
- Eu sou o Jorge – corrigiu o gêmeo, saindo também do quarto. – E você vai ter que admitir, Gina, que a espera valeu a pena. Rony!
O garoto atendeu ao chamado e saiu do quarto. Estava ainda mais bonito do que no casamento. Hoje usava vestes a rigor azuis com detalhes dourados, emprestadas por Fred. Seus cabelos estavam bem penteados e ele mantinha as mãos nas costas, tentando disfarçar a ansiedade.
- Tem razão, ele está lindo – afirmou Gina, sorrindo.
- Obrigado – disse Rony, encaminhando-se para a escada.
- Você vai se lembrar de todas as nossas instruções?
Rony fez que sim com a cabeça.
- Não se preocupe, eu tenho tudo sob controle.
- Não é o que parece – murmurou Jorge no ouvido de Gina, quando Rony se virou e eles puderam ver que o garoto retorcia as mãos suadas.
Antes de descer as escadas, ele lançou um último olhar para dentro do quarto. Era possível ver ao longe a cúpula com a rosa quase morta, com apenas algumas pétalas. Segundo Gina lhe informara naquela tarde, a última delas deveria cair antes da meia noite.
Gina e Rony desceram e usaram o Pó de Flu, enquanto os gêmeos preferiram aparatar. Logo estavam os quatro se juntando aos outros convidados, na casa nova de Harry.
Rony chegou e deu uma olhada no lugar. A casa quase não tinha móveis ainda - a sala possuía apenas um sofá pequeno a um canto, a mesa de jantar com as cadeiras e um lustre enorme e lindo pendendo do teto, contrastando com a total ausência decoração.
- Rony – chamou o Sr. Weasley, aproximando-se -, que bom que chegou. Sua mãe está precisando de ajuda na cozinha.
Rony hesitou por um momento, olhando inseguro para os lados. Encontrou Gina e Mariana, cochichando entre si.
- Pode ir, Rony – anunciou Mariana. – Hermione está lá em cima conversando com Harry, quando ela descer nós o chamaremos.
O garoto meneou a cabeça e seguiu em direção ao corredor de onde seu pai acabara de vir. Antes que atravessasse a porta que levava à cozinha, Gina o chamou. Ele virou-se.
- Não vá quebrar nenhum prato! – ela recomendou, imitando o modo como ele torcia as mãos de ansiedade.
Rony ignorou a irmã e entrou na cozinha.
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Harry e Hermione estavam sentados sobre a cama nova deste, em seu novo quarto. O cômodo, assim como a sala, ainda estava bem simples. Harry comentara que pretendia sair dali a alguns dias para comprar a mobília que faltava.
- E o que você acha? – quis saber Harry, referindo-se ao relacionamento da amiga com Rony.
Hermione suspirou.
- Acho que Rony está mudado. Está sendo bom e amável comigo. Mas ele já se comportou dessa forma uma vez e, quando eu estava mais envolvida, me machucou – ela confessou.
- Talvez ele... – Harry pensou por um momento. Ele realmente não se considerava a pessoa mais recomendada para dar conselhos amorosos. – Talvez ele tenha se arrependido do que fez, Mione. Você sabe que o Rony realmente gosta de você.
Hermione se permitiu um sorriso.
- Acontece apenas que Rony é um pouco lesado e demorou para que entendesse como devia te tratar – concluiu Harry, contente em não estar falando bobagem.
- É, talvez seja isso – concordou Hermione.
- E o que você vai fazer então?
Ela encolheu os ombros.
- Vou descer as escadas, esperar por meu "par"... e ver o que acontece!
Harry ergueu as sobrancelhas, pensativo.
- Hermione Granger vai enfrentar uma situação sem um plano pronto em mente – ele disse, espantado. – Não é só Rony que está mudando.
A garota riu.
- E você? – quis saber. – O que vai fazer em relação a Gina.
Harry ergueu os olhos para ela, surpreso.
- Do que está falando?
- Ora, Harry, não seja dissimulado – pediu a amiga. – Todo mundo reparou como vocês andam íntimos nos últimos dias.
"Odeio mal-entendidos", pensou Harry. Hermione não podia saber que o plano para uni-la a Rony era o motivo de Gina e ele estarem se falando com tanta freqüência. Não podendo explicar isso para a amiga, ele simplesmente disse:
- Mione, Gina e eu somos amigos. Só isso.
- E o que aconteceu entre vocês no último semestre, Harry? Vocês eram felizes juntos.
- Isso é passado – ele respondeu, sério.
Hermione franziu o cenho.
- Francamente, Harry. Você não terminou com Gina por deixar de gostar dela. Você terminou com ela, mas justamente por gostar dela.
Harry estava começando a se aborrecer com aquilo.
- Hermione, o que eu faço ou deixo de fazer da minha vida amorosa é problema meu – levantou-se então da cama. – Se me dá licença, estão dando uma festa lá embaixo.
Hermione esperou que ele estivesse próximo à porta e disse algo que fez com que Harry prestasse atenção nela, mesmo que se mantivesse de costas, com a mão na maçaneta.
- Harry, você terminou com Gina porque estava colocando a vida dela em risco. Mas isso não faz sentido nenhum porque estamos em uma guerra e, do jeito que Gina, assim como nós, está sempre envolvida com a Ordem, a vida dela continua em perigo. Portanto, você tem duas opções, se ela se for. Pode ter a certeza de que cumpriu sua parte fazendo-a feliz até seu último dia ou viver com remorso por não ter demonstrado o quanto gostava dela.
Os olhos de Harry estavam molhados quando ele saiu do quarto.
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A festa lá embaixo estava boa quando Hermione desceu. Fred, Mariana, Jorge e Gina dançavam animados diante do rádio, que tocava Do the hipogriff no último volume, o Sr. e a Sra. Weasley estavam na mesa de jantar conversando com Harry, Gabrielle e com uma prima de Rony chamada Henryetta que conversara com Harry durante o casamento de Gui e que a Sra. Weasley convidara para a festa porque a garota não tinha muitos amigos. Rony era o único que estava sozinho, sentado no canto do sofá com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos juntas, parecendo um pai na sala de espera da maternidade.
Quando Hermione entrou na sala, todos pararam o que estavam fazendo. Quem conversava na mesa de jantar silenciou, quem dançava parou. Até a música parou e foi substituída por uma valsa – a mais linda que Hermione jamais ouvira. Rony levantou-se do sofá e não só o seu, mas todos os olhares se voltaram para a garota.
Ela estava realmente linda. Hoje seus cabelos estavam lisos e presos atrás da cabeça de maneira elegante. Usava o vestido dourado que Gina usara como dama-de-honra no casamento e que lhe caía muito bem no corpo. As luvas na mesma cor que o vestido davam um toque especial.
Rony aproximou-se dela, fez uma reverência e estendeu a mão por um momento silencioso, porém carregado de significado, convidando-a para dançar. Ela segurou a mão dele e aceitou a dança, com um leve sorriso nos lábios.
E puseram-se os dois a valsar. Durante os primeiros passos, Hermione teve que dar alguns puxões no parceiro, que não estava muito familiarizado com a dança. Mas, pouco a pouco, ele foi pegando o jeito e os movimentos foram fluindo com leveza, como em um sonho.
Estava mais ou menos na metade da música quando Hermione deitou a cabeça em seu ombro e pôde ouvir Rony prendendo a respiração. O coração da garota batia muito forte no peito e ela se sentia mais feliz do que nunca.
Foi quase triste para os dois terem que se separar assim que a valsa acabou. Por um momento eles se mantiveram abraçados, olhando fundo nos olhos um do outro. Continuariam assim pela eternidade, se não se sentissem incomodados por ter nove pessoas observando-os, interessadas.
A fim de ter mais privacidade, Rony segurou a mão de Hermione e levou-a até o jardim. Lá havia um banco no qual os dois se acomodaram, meio virados um para o outro. Hermione pôs-se a olhar o céu estrelado e Rony pôs-se a olhar Hermione.
- Você está feliz? – perguntou Rony, acariciando a mão dela.
A garota fez que sim com a cabeça.
- Sabe, Hermione... – ele começou, com a voz baixa – eu estive pensando em tudo o que fiz de ruim para você durante todo o tempo que nos conhecemos – ela continuou atenta. – Você não imagina o quanto eu me arrependo dos meus atos.
- Rony...
- Penso em todo o tempo que perdemos – ele continuou, ignorando a interrupção. Parecia estar há tempos querendo desabafar aquilo. – Em todo o tempo que poderíamos ter passado juntos.
Hermione balançava a cabeça sorrindo, com os olhos brilhando em lágrimas de alegria.
- Rony... – ela repetiu. – Temos todo o tempo do mundo!
Ele sorriu também e segurou a outra mão dela, puxando-a de leve para mais perto. Seus rostos se aproximaram, seus olhos começaram a se fechar...
- Herm-ôn-nini!
Hermione se afastou bruscamente de Rony, que ainda permaneceu com a cabeça na mesma posição por algum tempo, mantendo uma expressão irritada e incrédula no rosto. Ela virou-se para a frente da casa, de onde viera aquele grito familiar.
Era Vítor. Ele acabara de vir correndo do quintal da frente, sem sequer passar por dentro da casa, e dirigia-se a Hermione com um envelope na mão.
- Herm-ôn-nini – repetiu, quando chegou perto dela -, uma corruja brranca estava lá forra com está carrta. Está escrrito que é parra você.
Hermione franziu o cenho e apanhou o envelope da mão de Vítor, achando estranho ele ter dado prioridade à carta a ponto de sequer cumprimentá-la. Rony, ao seu lado, cruzara os braços e parecia chateado.
Ela abriu o envelope e tirou dele uma carta pequena com a caligrafia de sua mãe, na qual liam-se as seguintes palavras:
"Hermione, seu pai está passando muito mal. Preciso que você corra para casa. Mamãe."
A garota começou a chorar espontaneamente, dessa vez de medo. E se seu coração batia depressa, agora era devido ao susto que levara com aquela notícia. Se a situação era grave a ponto de sua mãe pedi-la para voltar para casa...
Não, era melhor não pensar no pior. O melhor na verdade era agir depressa.
Ela levantou-se e olhou de Vítor para Rony, ambos pareciam assustados, sem saber o que fazer.
- Vá lá, Hermione – encorajou Rony, com os olhos muito tristes.
Hermione sentiu uma pontada no coração por deixá-lo, mas isso não fez com que voltasse. Ela correu casa adentro, apanhou Pó de Flú no console da lareira e a adentrou, sem dar satisfações a ninguém. Em alguns segundos, entrava na sala de sua casa.
As luzes estavam todas apagadas e o silêncio dominava. Eram nove e meia da noite, horário em que os pais de Hermione costumavam estar dormindo – não nas atuais circunstâncias, logicamente. Mas então por que estava tudo escuro? Será que eles haviam partido para o hospital?
Algo a disse que não: o ruído de tosse vindo do andar de cima.
A garota não perdeu tempo. Correu escada acima o mais rápido que seu vestido longo e sua sandália de salto permitiram.
Chegou no andar de cima ofegante e correu para o quarto dos pais, onde uma luz acabara de ser acesa. Os dois ficaram espantados em vê-la.
- Hermione, o que está fazendo aqui? – perguntou a mãe, enquanto o pai parava de tossir e começava a fazer inalação.
- Eu... – ofegou a garota – recebi sua carta.
A sua mãe continuou sem entender. Hermione olhou para o pai por um instante. Ele tossia mais uma vez dentro do aparelho de inalação mas, ao contrário da última vez em que o vira, Arnold agora não tinha os olhos vermelhos e sua garganta não estava tão seca.
Foi só então que Hermione percebeu algo errado ali.
- Papai, o senhor está bem?
Ele fez que sim com a cabeça, esboçando um sorriso.
- Melhorando – respondeu, lacônico, em seguida voltando a enfiar o rosto no aparelho.
Então Hermione entendeu. Seu pai não estava pior. E sua mãe não lhe enviara carta alguma.
- Oh, meu Deus...
- O que foi, querida? – quis saber a mãe. – O que está acontecendo, afinal?
Ela balançou a cabeça.
- Nada, mãe. Apenas um mal entendido – respondeu ela, ouvindo sua própria voz soar distante. Dentro de sua cabeça muitos pensamentos surgiam simultaneamente e ela tentava ligar os fatos. A valsa com Rony. As declarações de carinho. Vítor chegando de repente. – Eu preciso ir agora.
Mas, antes de fazer isso, explicou à mãe um resumo do que acontecera. A mãe lembrou então que mais cedo, no mesmo dia, a lista de compras que ela prendera na porta da geladeira sumira. Aquilo explicara que a caligrafia na carta fosse semelhante à dela.
O problema agora seria resolver aquele problema – Hermione largara Rony tão de repente.
- Vá até lá resolver isso, Hermione – tossiu seu pai, de trás do inalador, fazendo um enorme esforço. – Não deixe que destruam seu sonho.
Os olhos da garota se encheram de lágrimas e, sem antes dar um beijo no pai e um na mãe, ela correu escada abaixo.
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Gina entrou no jardim rindo e, sem dar importância a Vítor e sua prima que entraram pela porta dos fundos um momento antes que ele saísse, deu uns tapinhas nas costas de Rony.
- E assim que se faz, Rony – disse, sorridente. – Vejo que está correndo tudo muito bem. Devo admitir que não confiava em seus talentos, mas você me surpreendeu.
Rony ergueu o olhar triste para a irmã.
- Ela foi embora – anunciou.
- O quê? – perguntou Gina, espantada. Ela estava no andar de cima e não viu quando Hermione passou pela lareira.
Rony apoiou o rosto nas mãos.
- O pai está doente, ela precisou correr para vê-lo.
- Mas você já a beijou?
Com os olhos lacrimejando, Rony fez que não com a cabeça. Gina chutou o chão e soltou um muxoxo de decepção.
- Você a deixou partir sem dar um beijo? – espantou-se. – Rony, seu tempo está se esgotando, se é que esqueceu. Por que fez isso?
- Porque eu a amo – respondeu Rony, com a expressão cada vez mais deprimida.
Gina abaixou a cabeça, sem ter o que dizer – o que demonstrava o quão chata era a situação. Pensou em algo para dizer a Rony mas, por incrível que pareça, nada lhe ocorreu. Então, como se pudesse ler seus pensamentos, alguém colocou a mão em seu ombro e murmurou:
- Deixe que nós tentamos animá-lo.
A garota virou-se e deu com Vítor Krum. Gina não achava bom deixar Krum com Rony naquele momento, mas mudou de idéia ao ver a expressão de profundo arrependimento no rosto do búlgaro. Talvez ele agora percebesse a quem o coração de Hermione pertencia, por direito.
Consentiu então e entrou na cozinha, deixando os dois sozinhos.
Vítor seguiu até o banco comprido e sentou-se ao lado de Rony.
- Não fique trriste, Rony – disse, um tanto quanto sem jeito. – Vai ficarr tudo bem.
Rony nem ao menos demonstrou perceber a presença do outro.
- Vamos, anime-se. É uma festa! – lembrou Vítor, abrindo um sorriso. – Sabe o que sempre me deixa mais feliz? Falarr de quadrribol – ele mudou de assunto, meio mecânico, pois seguia à risca o "roteiro de conversa" que sua prima traçara. – Qual o seu time?
Sem erguer os olhos, Rony apenas murmurou um "Cannons".
Vítor soltou um gemido esquisito.
- Uh, que pena, acabarram de cair mais uma vez parra a segunda divisão, non?
Rony respirou fundo, provavelmente não achando conveniente discutir quadribol naquele momento.
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Hermione voltou à casa de Harry, pela lareira. Todos na sala a olharam surpresos – Gina acabara de voltar do jardim comunicando o porquê de Hermione ter saído.
- Está tudo bem, Hermione? – perguntou a Sra. Weasley, preocupada, parando de servir suco de abóbora no copo de sua sobrinha.
A garota não perdeu tempo respondendo.
- Onde está Rony? – perguntou.
A Sra. Weasley simplesmente ergueu os olhos e apontou para a porta dos fundos. Pela segunda vez naquela noite, Hermione saiu correndo. Ao sair da sala ainda ouviu Raíssa dizendo:
- É uma pena que você pense valer mesmo a pena procurar alguém assim.
Ela não entendeu por que a garota diria uma coisa dessas sobre Rony, mas seguiu seu caminho sem parar para pensar.
Chegou à porta dos fundos e ia entrar no jardim, mas parou ao ouvir a voz de Vítor lá fora. Estava com um pressentimento ruim com o garoto, devido ao falso bilhete que ele lhe entregara, então escondeu-se na cozinha a fim de ouvir o que ele dizia.
- Teve a oporrtunidade de pegá-la, mas non deu cerrto – dizia ele. – E agorra está desclassificado. É uma pena, sabe, pois nós demos uma chance e ela foi desperrdiçada, enton agorra a tentativa é nossa. Ganharremos o prrêmio desta vez, tenho certeza.
Ouviu-se então a voz de Rony. Ela vinha bem mais baixa, de modo que Hermione teve que encostar o ouvido na parede para ouvir.
- Krum, não quero ser groso, mas... não vê que não é uma boa hora para cantar vitória sobre mim? Perdi, okay, quer me deixar em paz agora?
Hermione sentiu seu corpo gelar e o coração apertar. Ela não queria acreditar no que estava ouvindo.
Desistiu imediatamente de ir ter com Rony. Em vez disso, virou as costas e seguiu mais uma vez para dentro da casa.
- Hermione! – ouviu o grito de Rony, vindo lá de fora. Mas não parou por isso. Continuou correndo até a sala e Rony só a alcançou quando ela já estava com o Pó de Flu na mão. – Você voltou! – ele exclamou sorrindo e segurando-a de leve pelo braço. – Como está seu pai.
Hermione lançou um olhar de desprezo sobre Rony.
- Ah, me largue – ordenou, puxando o braço.
Rony ficou um pouco atordoado, mas não o suficiente para não reagir. Esticou o braço e tirou o pacote de Pó de Flu das mãos da menina.
- O que aconteceu, Hermione? – ele perguntou, franzindo a testa. – Aonde você vai?
- Por que se interessa? Já perdeu sua aposta, mesmo – ela respondeu, ríspida, virando as costas para ele e saindo para o quintal.
Rony precisou correr mais uma vez atrás dela e alcançou-a quando ela estava sentada no chão lá fora, chorando.
- Hermione, pelo amor de Deus, o que aconteceu? – ele perguntou, preocupado, ajoelhando-se diante dela.
- O que aconteceu? – ela repetiu, olhando para ele com amargura. – Eu descobri seu segredo, Ronald.
Ele a encarou, perplexo.
- Que segredo? – perguntou, parecendo preocupado.
- Desista, Rony – recomendou uma voz às suas costas. O garoto se levantou de um salto. Era Vítor Krum, que observava os dois com um sorriso malicioso e os braços cruzados na altura do peito. – Herm-ôn-nini descobrriu a aposta que fizemos parra ver quanto tempo você levarria parra reconquistá-la após uma brriga.
Rony olhou de Hermione para Vítor e depois para Hermione de novo. Algo pareceu fazer sentido então para ele.
- Não houve aposta nenhuma – declarou, em tom de desespero. – Foi um mal entendido, Hermione. Nós estávamos falando de quadribol lá no jardim. Eu nunca... – então parou de falar e voltou-se boquiaberto para Vítor, parecendo ter entendido mais uma coisa. – Você fez de propósito! – concluiu, espantado.
Vítor fez a cara de inocente mais falsa do mundo.
- Jamais! – exclamou, ofendido. – Eu avisei você que non deverria brrincarr com os sentimentos de Herm-ôn-nini, Rony. Foi você quem insistiu.
Aquilo foi a gota para Rony. Sem avisos, ele partiu para cima de Vítor, dando-lhe um soco no rosto.
Hermione cobriu a boca com as mãos e soltou um grito meio contido. A atitude de Rony fora a mais imprudente que ele poderia ter tomado, tendo em vista que Vítor era mais alto e muito mais forte que ele. De fato, não levou dois minutos para que o caos chegasse ao auge.
Quem estava na festa correu para fora a fim de verificar o motivo do grito de Hermione. Ao detectá-lo, o Sr. Weasley e os gêmeos correram para apartar a briga e tirar Vítor de cima de Rony, que estava agora caído no chão apanhando.
Hermione correu para cima do garoto. As pessoas à sua volta tumultuavam o ambiente, alguns chegavam a gritar, mas ela desligou-se disso e prestou atenção só em Rony. Debruçou-se chorando sobre o garoto. Ele tinha um olho roxo e o nariz quebrado sangrava muito, o que não era uma visão bonita. Obviamente sentia muita dor mas, ainda assim, ele tentou erguer a cabeça ao ver Hermione se aproximar.
- Não se mexa – mandou a garota. – Você está machucado.
- Desculpe, Hermione – pediu ele, com o olhar triste. – A culpa é toda mi...
Ela soltou um silvo com a boca, silenciando-o.
- Não diga isso, Rony – pediu. – Eu... eu te amo.
As palavras foram ditas. E no exato momento em que longe dali, n'A Toca, caía a última pétala da rosa enfeitiçada.
Hermione e Rony se abraçaram em uma posição estranha, ela ajoelhada e ele ainda deitado no chão. Puderam sentir um poder mágico invisível envolvê-los naquele momento, algo que os aquecia e tranqüilizava, que os fazia sentirem-se felizes, apesar de tudo.
Aquele abraço pareceu durar uma eternidade. Quando eles finalmente se soltaram, Mariana agachou ao lado de Rony, com a varinha em mãos para tratar seu ferimento.
Hermione esperou e, em dez minutos, o nariz de Rony parara de sangrar e seu olho não estava mais roxo graças a um feitiço. Ele levantou-se então e segurou as duas mãos da garota, olhando fundo em seus olhos.
- O que foi que você disse? – perguntou, sério.
As bochechas de Hermione coraram.
- Eu disse que te amo.
Rony abriu um largo sorriso.
- Eu também te amo, Hermione.
Aproximou então seu rosto do dela, colocando uma de suas mãos delicadamente em sua nuca e fez com que seus lábios se encostassem de leve. E não se desencostaram logo. O beijo se tornou pouco a pouco mais intenso e apaixonado, da maneira como os dois sempre sonharam.
Não é preciso dizer que Vítor e Raíssa foram embora da festa – não tiveram outra escolha, uma vez que a Sra. Weasley os ameaçou com a varinha. E a festa continuou sem eles, durante toda a noite e uma parte da madrugada.
Era uma hora da manhã e todos ainda estavam acordados. Rony e Hermione voltaram a valsar a mesma música que tocara mais cedo, desta vez trocando alguns beijos e juras de amor durante a dança. Sentiam-se felizes como nunca.
- Eu estou enxergando mal? – perguntou Rony a certo ponto, olhando espantado na direção do sofá.
Hermione olhou também. Harry e Gina estavam sentados se beijando.
- Não está não, eu dei um jeitinho no Harry – respondeu, sorrindo.
Rony pensou por um momento.
- Deve recomendado a ele o mesmo que nós dois vamos fazer a partir de agora, não?
- O que vamos fazer? – perguntou Hermione, franzindo a sobrancelha.
- Ora, o que se faz quando o príncipe encontra sua princesa perfeita: – ele explicou, demonstrando não ter olhado somente as figuras ao folhear o livro de Hermione – vamos viver felizes para sempre!
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Nota da autora: Agradeço a Teka Prongs pela linda proposta de challenge, a Bety pelo atencioso serviço de betagem e a Mariana Marcato pela ajuda com a inspiração pela fic. Espero que agrade a todos.