Coisa Estúpida

By Marmaduke Scarlet

Agradecimentos: Meus sinceros agradecimentos à minha beta, Gween Black, que mesmo não tendo betado a maioria dos capítulos, os leu e agüentou bravamente as minhas crises de loucura eme-esse-ênica, me encorajando a continuar, além de ter, é claro, me ajudado a resolver um problema envolvendo física que foi absolutamente essencial na vida dessa fic. À Florynha, que leu todas as minhas fics, riu com elas, e ficou horas no telefone me contando isso. À Thaís, pelas viagens interplanetárias e tardes no shopping compartilhadas, e pelas fotos para capas de fic. Seu apoio na minha precária carreira de capista foi inestimável! Amigos e família. Imprestáveis. Todos vocês. Nenhum de vocês fez um comentário que prestasse. Mas obrigada por me agüentarem com tanta paciência e bom-humor (ou não). Amo vocês.

Como sempre, gostaria de agradecer a todas as pessoas que leram essa fic, especialmente as que deixaram reviews. Valeu, pessoal.

Epílogo

Dois meses depois.

- Porque um bruxo não pode escolher sua forma animaga?

É extremamente difícil estudar com Peter. Em primeiro lugar, é impossível manter a concentração com ele perguntando coisas de dois em dois segundos, sempre mastigando alguma coisa furiosamente, apesar de Madame Pince ter deixado bem claro que qualquer tipo de comida é expressamente proibido nas dependências da biblioteca.

- Peter, por favor, você sabe isso. – respondo pacientemente, desviando os olhos do enorme livro de Poções a minha frente. Estamos indo para os exames do meio do ano, que são uma espécie de prévia dos NIEM's, então está todo mundo louco, estudando, fazendo trabalhos ou revisando. Tia Georgia May está absolutamente convencida que os professores de Hogwarts possuem tendências marxistas, segundo mamãe me informou na resposta da última carta que mandei pra casa, explicando que não iria mais voltar para casa nos feriados, devido à quantidade absurda de coisas para fazer aqui.

- Quais são as constelações que podem ser vistas no céu de Fevereiro, no Hemisfério Sul? – é a vez de Sirius perguntar, entediado.

- Acho que é por isso que eu larguei Astronomia assim que tive a chance. Por Godric, eu não sou o oráculo!

- Ah, dane-se – Sirius resmunga, indo pegar o Quadribol Através dos Séculos para se distrair.

Puxo um tinteiro para perto, e tento voltar a me concentrar, enquanto copio os tipos de poções que levam ovos de Cinzal¹ na composição. Na verdade, só a Poção do Amor leva ovo de Cinzal na composição, pois é um ingrediente muito valioso. Então, procuro o próximo item da pesquisa gigantesca do Slughorn, o Erumpente².

- Alguém sabe como posso me suicidar com um clips e um post-it? - Lily pergunta, se atirando na cadeira ao meu lado.

- Transfigure o clips numa manticora e use o post it para escrever uma carta explicando porque você está se suicidando. - Sirius sugeriu, sem desviar os olhos do livro.

- Ai, não fale essa palavra. - Lily fala, de uma forma teatral, acrescentando um gemido de desespero para dar maior ênfase à coisa.

- Que palavra? - Sirius pergunta, erguendo uma sobrancelha.

- Transfigurar.

- Está tendo problemas com Transfiguração de novo? - pergunto.

- Não diga 'de novo' como se fosse um hábito. - ela diz, aborrecida. Me sinto tentado a informá-la que é um hábito, mas na última hora me calo. Lily não está com humor pra "discussões amigáveis", como o Sirius chama nossas... discussões.

- Stephanie está me matando. - Lily diz, os cabelos ruivos se espalhando por cima dos livros quando ela deita a cabeça na mesa. - Ela inventou uma apresentação absolutamente completa para o nosso trabalho de Transfiguração, envolvendo maquetes enfeitiçadas. Primeiro ela me pediu para listar as características que determinaram a forma animaga dos bruxos mais famosos da lista de animagos registrados do Ministério. Agora, ela quer que eu faça bonecos de massinha! Imagine! Uma miniatura de massinha de modelar da MaGonagall!

Sirius começa a rir, aqueles latidos ecoando pela biblioteca inteira. Peter olha para ela como se as duas, Lily e Stephanie, tivessem três cabeças. Como Remus não está aqui, cabe a mim ser o solidário.

- Tenho certeza que seu trabalho será o melhor de todos.

- Ah, claro. - Lily disse, revirando os olhos com ironia. - Tirando o fato que a minha miniatura da MaGonagall está parecendo um trasgo montanhês desfigurado.

Eu apenas sorrio. Lily é conhecidamente exagerada e perfeccionista quando se trata de seus trabalhos escolares, então provavelmente a miniatura da MaGonagall feita em massinha de modelar deve estar perfeita.

- Jamie? - ela pergunta, depois de um tempo.

- Hum? - resmungo, enquanto afasto livros e pergaminhos atrás de minha pena. Tenho pequenos problemas com materiais escolares. Perco, no mínimo, uma borracha por semana e umas dez penas por dia.

- O que você está fazendo? - Lily pergunta, me estendendo a pena.

- Trabalho de Poções.

- Ah. Vai demorar?

- Vai.

- Quanto tempo?

- Uns três séculos, por quê?

Ela ri.

- Nada não, só estava pensando em fazer alguma coisa depois que você terminasse. - ela diz, sugestivamente.

- Eu adoraria, você sabe, mas preciso terminar isso aqui. É realmente importante. - respondo, distraído. A ponta dos dedos dela acaricia de leve o meu braço.

- Sabe, acho que era eu que deveria estar dizendo isso.

Ergo a cabeça do livro e me viro para encará-la, sorrindo. Essa situação ainda é um pouco estranha para mim.

- Deve ser convivência. - ela dá de ombros, e se inclina para me beijar. - Depois que você terminar, me procure para a gente fazer alguma coisa.

- Tudo bem.

Ela assente satisfeita, e vai embora, os cabelos ruivos esvoaçando alegremente.

- Jimmy, seu dever de casa. - Slughorn pede, simpático, parando em frente à bancada que nós da Grifinória dividimos. Ele é o único professor que me chama de Jimmy, embora nós obviamente não tenhamos intimidade suficientemente para ele me chamar assim. Aliás, a única pessoa que me continuou a me chamar por esse apelido ridiculo depois que eu fiz sete anos foi a minha mãe.

Finjo não escutar o que ele diz, para ganhar tempo. Obviamente, acabei de lembrar que esqueci de fazer o dever de casa.

- Oh, sim. - respondo. O plano é, basicamente, fingir que eu troquei os deveres de casa, trazendo o de Feitiços e deixando o de Poções no dormitório.

Então, Lily, que Merlin a abençoe, passa rapidamente por trás de Slughorn e coloca um pequeno potinho com uma coisa verde gosmenta embaixo do meu nariz.

- Algas do pântano ou sangue de mandrágora? - pergunta, com a cara mais lavada do mundo. Por um momento eu realmente acredito que ela não sabe a resposta. Então, o momento passa e eu me dou conta do que ela está fazendo.

- Algas do pântano.

- Ótimo, agora você poderia me ajudar, porque a minha poção está rosa. - ela diz, segurando a minha mão, pronta para sair me puxando.

- Rosa? - Slughorn pergunta, levemente precoupado.

- Rosa. Pink. - Lily sorri.

- Deveria estar laranja. - ele diz, distraído.

É a deixa. Lily sai quase me arrastando para perto do caldeirão dela.

- Obrigado. - sussurro, quando Sluggie já está olhando o caldeirão do Snape, do outro lado da sala, e não pode nos ouvir.

- É a última vez que faço isso.

- Tá bem. Obrigado mesmo.

Ela sorri, e eu, inadvertidamente, a beijo de leve.

Slughorn pigarreia, lá longe, e nós nos separamos, aos risinhos.

Durante o jantar, Peter aparece, desesperado.

- Preciso falar com você! - ele fala, de modo urgente. Suspiro. Todo o salão está olhando para nós.

- Tá, eu estou indo lá pegar o caderno pra você, não se preocupe. - respondo, um pouco mais alto do que o necessário, para disfarçar.

Saio praticamente o arrastando para fora do Salão, e vamos para a passagem embaixo da escada para a ala oeste, nosso esconderijo secreto.

- O que foi? - pergunto. Peter está muito bem de pé, mas eu estou mais alto do que era quando descobrimos essa passagem, no primeiro ano, e minha cabeça está num ângulo bem incômodo.

- Consegui me transformar. - Peter diz.

- Mas que coisa maravilhosa! - exclamo, tentando parecer bem contente. Lembro-me da sensação de felicidade e alegria que senti quando consegui me transformar em um animago totalmente. Tudo bem que não faz muito tempo, mas enfim.

- Mas não completamente.

Cara, isso é decepcionante. Mas é claro que ser um animago é uma coisa muito difícil, e Pete está realmente se esforçando. Às vezes eu me pergunto se não estamos exigindo muito dele, ou qualquer coisa assim. Afinal, ele só tem dezessete anos. E animagia é difícil o suficiente para fazer com que bruxos adultos não consigam se transformar.

Penso em alguma coisa para dizer no sentido de encorajá-lo. Essa semana é de lua cheia, e Sirius e eu já estivemos na casa dos Gritos duas vezes. Conseguimos nos transformar a duas semanas atrás, e essa é a primeira lua cheia que participamos realmente. Tudo foi absolutamente incrível, mas eu sei que o pobre Pete se sente um pouco mal de não nos acompanhar. Tenho tentado ser legal com ele, para que não se sinta posto de lado, mas está complicado com todo essa malabarismo que Sirius e eu (mais eu do que Sirius, na verdade), estamos fazendo para conciliar tudo.

- Minhas orelhas ainda ficam humanas. - Peter diz, apreensivo. Imediatamente a imagem de um camundongo com enormes orelhas humanas me vem a cabeça. Mordo o lábio porque sinto uma onda de risadas histéricas subirem pela minha garganta. Mas, quanto mais me esforço para impedi-la, mais forte ela se torna. Deixa disso, cara! Não se deixe vencer. Não é hora para ser invadido por risadas. Consigo localizar minha perna com a mão, e me belisco. Devo pensar em coisas tristes. Devo pensar em coisas mortas, o Ministro nú e... Celestina Warbeck.Puxa, isto não está dando certo, está? O problema é que não é nada fácil manter as coisas em perspectiva quando você está expremido numa passagem pequena embaixo de uma escada e sua cabeça está definitivamente num ângulo muito estranho. Quero dizer, não é exatamente uma postura meditativa, é? Você não vê gurus de ioga dizendo que o melhor lugar para encontrar a paz interior é dentro de uma passagem estreita. Vamos e venhamos, essa passagem está mais para guarda-roupa de anão do que para uma passagem em si.

Peter me olha com cara de "o-que-vamos-fazer-agora".

- Eu queria ir com vocês hoje. - Pete diz com cara de infeliz.

Suspiro. Não é a melhor hora para bancar a Madre Teresa, mas eu não consigo ver um amigo mal sem deixar de ajudá-lo. Não dá. Isso é tão parte da minha personalidade que eu já faço no automático.

Repasso com Pete toda os passos para uma transformação completa, uma lista de instruções úteis que Padfoot e eu bolamos. Não há muito que eu possa fazer por ele nesse momento, porque a transformação animaga é uma coisa muito índividual, e depende praticamente só da capacidade do bruxo ou bruxa que está tentando executá-la.

Peter assente com a cabeça e sai da passagem. Ou do armário para anões, mas isso fica um pouco estranho.

Eu saio também, e ele diz que vai para o dormitório tentar mais um pouco. Sinto um pouquinho de pena dele, porque parece estar apavorado. Quero dizer, para o Peter recusar ir jantar é porque a coisa é realmente grave.

Volto para o meu lugar na Mesa da Grifinória e descubro que já estão servindo a sobremesa. E eu mal tinha começado a comer a comida...

Me sirvo de uma porção gigantesca de torta de maçã e começo a comer devagar pensando na desculpa que vou dar para Lily. Olho para o Sirius. Ele parece bem tranqüilo. Não tem que dar desculpa para ninguém, é claro. Decido que vou mentir um pouquinho só para a ruiva esta noite, em vez de soltar a maior mentira do século, como de praxe.

- Lily, querida... - começo, e ela me olha um pouco desconfiada. Remus me disse um dia que eu não sei dar boas desculpas, mas acho que ele estava brincando. - vou me deitar mais cedo hoje. Estou com um pouco de dor de cabeça.

Deve ter colado, porque de repente ela me olha meio preocupada.

- Mas você está bem, não está?

- Sim, sim, é só um leve latejar nas têmporas. - minto, massageando a têmpora para dar mais ênfase à história.

Ela assente com a cabeça, mas ainda me olha preocupada. Me sinto culpado. Na verdade, estou ótimo, a não ser por uns poucos arranhões e por uma noite mal-dormida, porque a gente chegou às cinco e meia da Casa dos Gritos, e as oito já estávamos na aula.

Como mais um pedaço de torta de maçã, o que obviamente foi um erro, porque a culpa me obstrui o estômago e a torta fica meio atravessada na garganta.

Sirius me olha.

- Você sabia que o nosso velho amigo Gussie está procurando por um cão? - diz, e depois cai na gargalhada, como se contasse uma piada muito engraçada.

É o nosso código. Gussie significa nós e qualquer referência a cão tem a ver com a forma animaga dele, portanto significa que precisamos nos transformar.

Balanço a cabeça, meio rindo, e dou um longo bocejo. Em seguida, beijo a Lily, dou tchau para o resto do pessoal e Sirius e eu vamos para o dormitório.

Uma hora depois, estamos indo para a Casa dos Gritos.

Às quinze para as oito da manhã Peter me acorda. A impressão que tenho é que acabei de ir deitar.

De fato, ainda estou com a roupa que usava ontem, e não tirei os óculos do rosto.

Me aproveitando do fato de Sirius ainda estar lutando para permanecer adormecido, ando o mais rápido que o meu corpo permite (é muito doloroso mexer rapidamente qualquer parte do meu corpo) para o banheiro. Tomo banho e faço o resto da minha higiene pessoal, visto o uniforme, pego a mochila e me arrasto para o Salão Principal, sentindo-me um pouco mais do que moído.

Lily está parada na sala Comunhal, me esperando, como todas as manhãs.

- Bom dia. - ela diz, docemente. Tento sorrir.

Meu Merlin, que dor.

Ela sorri, compreensiva e me estende uma xícara com um líquido âmbar. Chá.

- Peguei lá embaixo pra você mais cedo. Ajuda a melhorar, quando a gente bebe logo que acorda. Ou pelo menos é isso que a minha avó diz. - ela franze a testa, mas logo em seguida sacode a cabeça e volta a sorrir. - Tome. - diz, estendendo um frasquinho.

- O que é isso?

- Para a dor de cabeça. Pedi para Madame Ponfray.

Ah, Merlin, eu tenho vontade de beijar essa menina. Ao mesmo tempo, me sinto ainda mais culpado. Lily é tão perfeita.

- Ruiva, case-se comigo.

Ela me olha, e ri.

- Caso.

- Sério?

- Sério.

- Ótimo. Depois da formatura procuramos um juiz de paz e nos casamos. Considere-se noiva desde já.

Tomando o último gole do chá, saio andando em direção ao retrato. Lily sai correndo atrás de mim.

- Você estava falando sério? - pergunta, quando ficamos lado a lado.

- Ahã.

- Sério?

- Ahã. Você achou que eu estava brincando?

- Achei.

- Ah.

Melhor assim, penso. Agora que tomei a decisão de casar com a Lily, tenho que comprar uma aliança, uma casa para morármos e organizar um jantar para pedí-la em casamento.

Farei tudo com calma para não fazer nenhuma coisa estúpida. Acho que já fiz coisas estúpidas demais nesse relacionamento.

Então, simplesmente a beijo, porque ela é a Lily.

Ah, não posso esquecer de apresentá-la aos meus pais, é claro.


¹"O ashwinder (cinzal) se forma quando se permite que um fogo mágico arda livremente durante muito tempo. Uma cobra fina, cinza-claro, de olhos rutilantes, surgirá das brasas em que se encontra, deixando um rastro de cinzas atrás de si." Animais fantásticos e onde habitam, Newt Scamander, pg. 23

²Animais fantásticos e onde habitam, pg.36.


N/A: Fim! E eles viveram felizes para sempre! Uhausauhsuahushausa... Enfim, chegamos ao epílogo. Desculpem não ter avisado antes. Eu acho que não falei nada porque ainda tinha esperança de escrever um outro capítulo antes desse, mas acabei não escrevendo.

E sim, eu sei que o tempo verbal nesse capítulo é diferente do tempo que eu usei no resto da fic, e sei que esse final não foi o mais surpreendente do universo, mas eu meio que gosto dele.

Obrigado a todo mundo que teve paciência para chegar até aqui.

E não se preocupem, eu não vou parar de escrever. Acho que no meio do mês já publico fic nova, e estou escrevendo mais duas fics ao mesmo tempo. Se tudo correr bem, acho que teremos mais outra fic nova em fevereiro.

Tudo de bom para vocês, que todos os seus sonhos se realizem! Feliz 2007!

Até mais, pessoal.

Becitos, Marmaduke Scarlet.