Regra número 2 – Seja simpática (se for de acordo com seus princípios)

Uma semana depois da vergonha que fora jogar quadribol com James, eu estava preparada para o segundo passo do meu plano. Fiquei um tempão me perguntando se este funcionaria caso uma das regras desse errado, mas tentei espantar esse pensamento e me manter otimista. Tenho a impressão – e acho que estou certa – de que já deixei Pot... é, James, bastante intrigado com o que está acontecendo, e ele provavelmente ficará ainda mais, especialmente depois de colocar em prática a segunda regra.

De manhã, eu acordei de bom humor, o que nem sempre (certo, nunca) acontece. Após me vestir e me arrumar rapidamente, desci as escadas do dormitório ligeiramente saltitante e me sentindo leve. Sim, estava me sentindo extremamente idiota por causa disso tudo, afinal ainda nem havia chegado o meu final feliz para eu estar assim, mas fazer o quê. Vi que James estava parado perto do buraco do retrato conversando com Remus. "Perfeito", pensei, e caminhei com leveza (argh) até lá.

- Bom dia! – exclamei, disparando o meu melhor sorriso na direção dos dois – Remus, James... – e saí pelo buraco do retrato, segurando-me para não rir da cara atônita que James fez.

- Bem, ele já está bastante intrigado com o que está acontecendo comigo – anunciei, sentando-me ao lado de Marlene no café da manhã.

- Só temos de torcer para ele não achar que alguém te confundiu com um feitiço e agora você está maluca – ela apanhou o Profeta Diário que um garoto havia deixado ao sair e passou o olho por ele.

Ela aparentemente não conseguiu achar nada de interessante para ler, pois em seguida jogou o jornal para mim. Apanhei-o e comecei a olhar as manchetes. Vários ataques a trouxas ali, a misteriosa desaparição de dois bruxos do ministério mais adiante, e a senhora que ganhou na loteria bruxa no final. Fechei o jornal com um arrepio por causa das más notícias cada vez mais constantes e fiquei contente pela senhora, uma boa novidade no meio de tantas ruins.

- Ele não vai achar que estou maluca... – disse, retomando a conversa – Vai? – terminei, meio em dúvida.

- Esperemos que não... – ela falou, mostrando algo às minhas costas.

Virei-me devagar e vi James sentando-se um pouco adiante na mesa com Remus, Sirius e Peter. Fiquei observando como Potter comia e ria com os amigos, como ele passava a mão no cabelo daquele jeito que tanto me irritava antes, como ele bombardeava sorrisos brilhantes para todas as garotas que pudessem ver. Sem perceber, apoiei meu cotovelo na mesa e fiquei apenas observando, com um olhar de fascinação. De repente, ele virou-se e olhou diretamente para mim, e reparou no meu olhar abobalhado dirigido a ele. "Droga!", virei-me rapidamente para Marlene, mas já era tarde demais.

Tudo bem que eu realmente quero conquistar o cara, mas manter minha integridade também é algo importante. E ficar mandando olhares apaixonados do outro lado da mesa definitivamente não me ajuda nesse quesito.

- Lene. Ele ainda está olhando? – fiz uma careta.

- Está. Com uma cara bem esquisita, por sinal.

- Ah, que ótimo – abaixei minha cabeça, quase encostando minha testa nos ovos mexidos que estavam no meu prato.

- Que foi agora, Lil? – Alice chegou e sentou-se ao meu lado.

- Eu só faço besteira! – falei, abaixando de novo e desta vez atingindo em cheio os ovos com a minha testa – Está vendo? – me levantei, fervendo de raiva de mim mesma e correndo para o banheiro. A minha sorte é que o Salão Principal já estava bem mais vazio, então nem toda a escola viu a minha triste e patética cena.

Enquanto lavava minha testa no banheiro, me xingando mentalmente, duas garotas do sétimo ano que eu só conhecia de vista entraram e começaram a conversar, ignorando total e completamente minha presença. Tiro meu chapéu a isso, não é nada fácil ignorar uma ruiva que esteja com o rosto da mesma cor dos cabelos e com a cabeça enfiada na pia.

- Tricia acha que James vai convidá-la para sair com ele amanhã – uma loira falou, soltando uma risada afetada.

- Coitada! Mal sabe ela que ele vai convidar você – a outra, de cabelos castanhos, falou enquanto arrumava a gravata azul e prateada.

- E é bom mesmo que convide, estou precisando me entreter, se é que me entende – a loira, que descobri ser sonserina, piscou. As duas riram.

- E se ele convidar Lily Evans, como sempre? – opa, meu nome ali! Passei a prestar mais atenção ainda.

- Ela vai apenas dizer não, e então meu caminho estará livre – a loira deu de ombros. A outra parecia estar em dúvida, mas se calou.

Resolvi que já estava com a cabeça enfiada na pia por tempo demais, então calmamente me ergui e apanhei algumas toalhinhas de papel, enxugando meu rosto. As duas se entreolharam ligeiramente assustadas quando viram que era eu, já que elas estavam falando de mim. Acenei com a cabeça para elas e me mandei. Andei calmamente pelos corredores agora vazios porque já fazia uns 10 minutos que o sinal havia tocado. Já estava atrasada mesmo, não adiantava correr.

Estava com raiva daquela garota loira, tão pretensiosa achando que James a convidaria para sair. As risadinhas delas ecoaram na minha cabeça e percebi que na verdade ela estava errada, quanto a eu livrar o caminho dela recusando o convite dele. Porque, afinal, fazia um tempo consideravelmente longo para os padrões de Potter que ele não me chamava para sair com ele. Eu simplesmente não conseguia entender o porquê disso, mas era um fato.

Eu já estava chegando perto da pesada porta de madeira da sala de Transfiguração enquanto tentava bolar uma desculpa convincente para o meu atraso quando ouvi passos rápidos. Era James, chegando correndo. Ele parou ao meu lado, arfando.

Imediatamente fiquei constrangida, pois me lembrei que ele havia me visto encarando-o e logo depois enfiando minha testa em um prato de ovo há apenas alguns minutos atrás. Mas agora ele estava ali, do meu lado, arfando e irradiando calor.

- Nós vamos ficar só encarando a porta? – ele riu da própria piada, e bateu na madeira. A professora McGonagall abriu-a e nos olhou severamente através dos óculos.

- Sr. Potter e Srta. Evans, espero que tenham ótimos motivos para terem se atrasado para a minha aula – ela nos olhou de modo penetrante, o que me deixou sem fala. Eu não havia bolado uma boa desculpa ainda!

Olhei aflita para James, que pela primeira vez não sabia o que dizer a um professor para justificar seu atraso. Ele olhou para mim e nós dois demos de ombros, voltando os olhares para a professora.

- Acho que não – ela apertou os lábios – Sinto muito, mas os senhores não poderão assistir a minha aula hoje. Com licença – e, com isso, fechou a porta.

- Por que não disse nada? – ele perguntou.

- Eu? Por que você não disse nada? Você não é um maroto? Vocês devem ter todo um arsenal de desculpas para atrasos nas aulas!

- Nós temos, mas... Na hora deu branco, não consegui falar – ele deu de ombros – Bem, paciência.

Nós andamos em silêncio por um tempo e chegamos aos jardins. Saímos e eu caminhei até uma árvore que fazia uma boa sombra, sentando-me sob ela. Ele me seguiu e sentou-se ao meu lado, mas não muito perto. Encarei o lago liso e cristalino à nossa frente.

Nós ficamos vários minutos em silêncio, meio constrangidos.

- Então... Será que eu estaria sendo muito inconveniente se perguntasse o que estava fazendo? – tentei puxar papo, me lembrando dos meus objetivos.

- Ahn? – ele parecia distraído, com o olhar perdido – Ah, não, tudo bem... Estava falando com uma tal de Megan, da sonserina – ele falou, simplesmente.

- Ah... – não sabia o que dizer depois disso.

- Uma chata, por sinal. Acho que ela queria que eu a convidasse para sair – ele fez uma careta.

Soltei um suspiro de alívio e fiquei muito vermelha imediatamente, porque James ouviu e ficou me encarando com um olhar estranho.

- E convidou? – falei, só porque não havia nada melhor para dizer.

- Claro que não... Faz um tempo que eu não me divirto em encontros. Todos eles parecem ser iguais. Eu saio com uma garota super bonita, que só sabe falar sobre ela mesma ou sobre a vida dos outros, e que no final só estava interessada na minha aparência. O que talvez não seja tão errado, já que pra começo de conversa eu só me interessei por causa da aparência dela – ele deu de ombros.

- Mas por que você só sai com esse tipo de garota se é ruim?

- Porque aqui em Hogwarts só tem elas, as loucas que teriam um ataque se eu fosse falar com elas, as que só sabem estudar, as comprometidas – ele enumerou – ou a que não me quer – ele olhou para mim quando disse isso, e eu senti meu rosto se transformar num pimentão.

- Eu... – comecei, mas não sabia o que falar.

Ele recostou-se na árvore com os braços atrás do pescoço, um sorrisinho no canto dos lábios.

- Mas tudo bem. Ao contrário do que você parece pensar, eu não penso só nisso – ele falou, me desarmando mais ainda.

Por que ele estava fazendo isso? Como eu conseguiria ser legal com ele depois disso? Olhei para ele meio chocada, e percebi que ele parecia triunfante. Senti meu rosto esquentando de novo, desta vez de raiva. Mas me controlei, eu não iria desistir tão fácil assim.

- Relaxe, Potter. Já revi meus conceitos sobre você faz um tempo – falei, e foi a minha vez de me encostar displicentemente na árvore.
Ele me olhou intrigado, abrindo e fechando as bocas algumas vezes como se fosse falar mas depois desistisse de fazê-lo. Por fim, conseguiu:
- E o que quer dizer com isso? – ele levantou uma sobrancelha.
- Eu sei que ser lerdo é um costume ancestral do homens e tudo o mais, mas você me surpreendeu, Potter – falei, sem olhar para ele.
- Você não vai me explicar, vai? – ele sorriu, resignado.

- É óbvio que não – exibi um sorriso encantador.

Mais uns minutos de silêncio. A pequena diferença é que, dessa vez, eu podia quase ouvir as engrenagens girando furiosamente dentro da cabeça dele, e reprimi um sorriso. Bem, talvez eu não estivesse indo tão mal assim no plano afinal de contas!

Só que o silêncio estava se estendendo demais e começando a ficar constrangedor. Eu precisava arranjar algo para falar, e rápido!

- E a McGonnagal, hein? – soltei um barulho de deboche junto com essa frase, e imediatamente fechei os olhos. Que coisa mais incrivelmente idiota para se dizer! Eu gostava das aulas de Transfiguração e até da severa professora. Não tanto quanto Poções, claro, mas gostava... E pelo que eu sabia, James também.

- O que tem ela?

- Ela não nos deixou entrar só por causa de 10 minutos! – grande, Lily, como você é esperta!

James deu de ombros.

- Ela é bem dura, mas é legal e ótima professora – aquela mulher devia mesmo ser incrível, porque receber um tratamento assim tão respeitoso de um maroto, ainda mais às suas costas, significava muito. Eles geralmente tratavam a todos, inclusive aos professores, com tanto desdém que irritava.

- É, eu sei – eu não estava fazendo nenhum sentido , então resolvi me calar e ele não fez objeções.

O silêncio já tinha se instalado novamente e eu odiava aquilo. Normalmente, eu falava pelos cotovelos com a maior naturalidade. Bem, não com o garoto que no momento estava ao meu lado, já que eu geralmente o rechaçava. Só que, como agora eu estava caída por ele, ao invés do meu silêncio ser frio e desinteressado, ele era constrangido e desajeitado. Eu tentava pensar em algo para falar, mas antes que abrisse a boca James pareceu se sobressaltar com alguma coisa e eu o olhei com curiosidade.
- O que foi? – perguntei.

- Er, nada, nada! – ele falou, me dando a certeza de que acontecera alguma coisa – Escuta, a gente se vê na próxima aula, tudo bem? – e simplesmente começou a se afastar.
- O quê? Potter, onde você vai? Que sacanagem, nós dois ficamos de fora da aula juntos! – falei com a voz aguda enquanto ele se afastava.

Mas ele apenas entrou no castelo, despreocupado. Em um acesso de raiva e frustração, soquei a árvore em que me encostava, mas machuquei a minha mão. Praguejando o meu Manual, a árvore, James Potter, minhas amigas e o mundo todo, resolvi sair de lá.

Encontrei Marlene na entrada da aula de História da Magia.

- Por que você está com essa cara? Você e o James ficaram de fora da aula de Transfiguração juntos, devo perguntar como foi? – ela começou, com cautela.

- Digamos que eu acho que o nosso plano não está com nada – resmunguei, com a cara fechada.

- Ah, relaxa! James não deixou de gostar de você de um dia pro outro, mas ele é homem e deve ter estranhado sua mudança de comportamento – ela deu de ombros, enquanto sentávamos em duas carteiras do fundo.

Minhas esperanças quanto a todo o processo de conquista não estavam exatamente em alta no momento.


N/A: Ta-da! Surprise, surprise! Eu não morri:O Sei que vocês provavelmente pensaram que sim, já que passei, tipo... MUITO tempo MESMO sem atualizar. Mas eu preciso contar a triste verdade pra vocês: eu perdi a inspiração pra escrever fics de HP. Eu sei, eu sei, é triste, mas não posso fazer nada quanto a isso. Mas eu estou aqui atualizando porque eu não suporto deixar coisas inacabadas. E já que eu já tinha um pouco mais da metade dessa fic pronta, decidi fazer um esforcinho pra terminá-la. Pois é, essa deve ser a minha última fic de Harry Potter publicada :\\ Só sei que não é depressão pós-Deathly Hallows, porque isso começou antes de lançar o livro. Mas enfim, agradeçam a zihsendin, uma leitora nova que me lembrou da existência dessa fic, UHAUHAUHAUH E sim, é claro que peço desculpas por ter ficado mais de 1 ano sem atualização.

xx
L
itxa