Casal: 1x2
Gênero: Yaoi, Romance, Angst
Beta: Esse capítulo não foi betado.
Obs: Os personagens Tamara Brown, Max Thompson e William Carvell foram criados por Thoru, já os personagens Cliff Owen e Alice Chambers pertencem a Blanxe.
Partes em itálico significam lembranças.
You´re Still You
Capítulo 17 - Final
Heero estava decidido a colocar tudo de lado e ir conversar com Max, mesmo que isso significasse passar por cima da imposição feita pelo pai dele, da última vez que haviam se encontrado. Não iria desistir. Não poderia deixar de lado e simplesmente ignorar as coisas. Errara com Duo quando resguardara seus sentimentos e, de alguma forma, via em Max algo que lhe lembrava a si próprio naquela época em que perdera Duo. Via insegurança e que ele estava confuso, mas tinha certeza que existia algo muito além disso. Heero entendia o medo do rapaz em relação as lembranças que o estavam assolando, mas queria ajudá-lo e não seria se afastando que o dele que conseguiria se livrar daquilo ou compreender o que se passava. Talvez a chave de tudo poderia ser simplesmente se juntarem para buscar uma solução.
Era justamente por isso que precisava conversar seriamente com Max e, por isso, que estava em seu carro aquela manhã se dirigindo até seu prédio. Falaria com ele de qualquer jeito.
Quando parou o veículo em frente a portaria, parou por um momento olhando a estrutura e pensando brevemente no que poderia falar para convencer Max a escutá-lo, mas foi impedido com o toque de seu telefone celular.
- Heero!
Imediatamente franziu o cenho pela urgência que percebia na voz do amigo árabe e se preocupou.
- Aconteceu alguma coisa, Quatre?
- Heero, eu acabei de receber uma carta formal aqui na Winner, neste instante. – fez uma pausa como se quisesse recuperar o fôlego ou pensar em como contar o que queria. – É uma carta de Max desculpando-se por não poder se reapresentar a empresa.
- Ele pediu demissão? – Heero perguntou atônito com o que o amigo lhe contava.
- Exatamente. – Quatre confirmou. - E eu não estou gostando nada disso. Trowa vai brigar comigo por te aconselhar assim, mas vá atrás dele, Heero. Eu estou com um pressentimento estranho.
- Eu te ligo depois, Quatre.
Desligou o telefone sem escutar a breve despedida do loiro e deixou o carro, correndo na direção da entrada o prédio, onde aproveitou que uma senhora estava saindo para subir. Não se importou em esperar o elevador e pegou os lances de escadas, subindo até o andar onde Max morava. O mesmo receio que Quatre esboçara, o abalava também. Não queria acreditar em tal loucura, mas não deixara de atormentar sua mente até chegar na frente da porta do apartamento.
Estava ofegante, mas não se deteve em bater forte na madeira que o separava da verdade que temia encontrar. Só o silêncio lhe respondeu. Insistiu com mais determinação, enquanto o medo em si apenas aumentava. Estava pronto para derrubar aquela porta, quando uma voz o fez parar e se voltar para trás.
- Não adianta. Ele não está mais aí. – Tamara estava séria. – Ele se foi.
Seu mundo simplesmente desabou ali. Max não poderia ter simplesmente ido embora e lhe abandonado. Não suportaria.
- Como? – Heero perguntou, vendo seu medo se transformar em pura angustia.
- Eu também não sei direito. – ela confessou, prestando atenção nas reações do oriental. – Nós não conversamos muito, mas ele me disse que não suportava mais e que por isso decidiu ir embora com os pais. – Mesmo não gostando muito de Heero, Tamara ficou abalada com o olhar de tristeza e desolação que este demonstrou ante suas palavras. – Você o ama?
A pergunta pegou Heero de surpresa, mas respondeu sinceramente.
- Sim, eu o amo.
Ela franziu o cenho e quis certificar-se.
- Tem certeza? Você não está apenas querendo brincar com ele?
Heero se irritou. Quem aquela garota pensava que ele era? Não estava com tempo, nem humor para responder aquelas perguntas. A pessoa que amava tinha ido embora definitivamente de sua vida.
- Olha, eu não tenho que ficar sanando suas dúvidas.
- Responde logo a droga da minha pergunta! – ela exigiu e isso foi a gota que faltava para Heero explodir.
- NÃO, eu não o amo! Eu estou aqui batendo DESESPERADAMENTE na porra da porta do apartamento dele, porque eu sou um idiota! Eu quase matei aquele infeliz do ex-namorado dele naquele dia, porque sou um psicopata incurável! O que eu preciso fazer para que você e o resto do mundo entenda de uma vez por todas que eu amo Max?! Colocar um néon na minha testa?! Cristo!! Eu o amo e estou perdendo-o, e… - as palavras morreram em sua boca, pois Tamara estava bem a sua frente e lhe estendia um pedaço de papel, o qual receoso ele pegou. – O que é isso?
- O endereço da casa dos pais de Max no Canadá. – ela deu ombros. - Eu deveria entregar para o pessoal que virá fazer a mudança, mas…
Heero olhou-a completamente confuso.
- Por quê? Pensei que não gostasse de mim.
- E continuo não gostando, mas você é o idiota que ama o meu amigo. Eu só queria ter certeza disso.
Heero ficou mais uma vez sem palavras, rendido pela confiança que a ruiva estava depositando nele com aquele gesto. Era mais do que um incentivo para que continuasse e não desistisse de Max.
-
Quatre estava preocupado com Heero. Já telefonara avisando há horas e nada do amigo lhe retornar e explicar o que estava acontecendo. Já chegava no final de seu dia na empresa e nada. Estava realmente pronto para ligar para o japonês, quando Trowa entrou na sala. Sem precisar avaliar muito, percebeu a ansiedade do marido, onde os olhos preocupados denunciaram que estaria com algum problema.
- O que foi dessa vez, anjo? – Trowa perguntou, se aproximando da cadeira onde o loiro estava sentado, e abaixando-se para dar-lhe um beijo nos lábios. – Mais algum problema com Max?
- Por que presume que seja um problema com Max?
- Porque é tudo o que você tem se preocupado ultimamente, Quatre. – viu a feição culpada do marido e acariciou-lhe a face. – Vamos, o que aconteceu dessa vez?
- Resumo: Max pediu demissão, eu avisei o Heero e ele até agora não entrou em contato comigo.
- Quem sabe eles conseguiram se entender. – Trowa apontou, dando de ombros levemente.
- Não gosto de ser pessimista, Trowa, você sabe disso, mas dessa vez não acredito que isso tenha acontecido.
- Então não seja. Heero vai ligar e…
Foi cortado pelo toque do telefone celular do marido, que apressadamente o pegou em cima da mesa e suspirou aliviado.
- É ele. Até que enfim! – atendeu ao aparelho rapidamente. – Heero? Onde você se meteu? Por que não me ligou?
- Calma. Eu estou no aeroporto, estou indo para o Canadá.
- O quê?! Que loucura é essa? E o orfanato?
- Max foi embora com os pais e eu vou atrás dele.
- Isso é loucura.
- Não é não. Já falei com Alice e ela vai cuidar de tudo até que eu possa voltar.
- Mas…
- Eu já disse que não vou desistir.
- Eu sei… Heero, não seja impulsivo.
- Vou tentar. Deseje-me sorte.
- Boa sorte, Heero. – disse com um sorriso nos lábios, ao mesmo tempo em que desligou o aparelho e abraçou Trowa.
- Não se preocupe. – o moreno assegurou, acariciando os cabelos loiros. - Eles vão ficar bem.
-
Heero não tivera que pensar para tomar aquela decisão. Seu ato impulsivo de largar tudo e ir atrás de Max era a única coisa que não havia qualquer questionamento em sua mente. Não deixaria de fazer tudo o que fosse possível para desfazer toda a confusão que se formara devido aos acontecimentos e não permitiria que, por culpa de sua estupidez, mais uma vez, perdesse a pessoa que amava, sem que esta entendesse o quão verdadeiros eram seus sentimentos.
Max tinha que enxergar a verdade e talvez ele próprio precisasse ver algumas. Aquilo tomou sua mente durante o vôo, enquanto, com os olhos fechados, manteve-se reflexivo. Heero sabia que tinha que chegar aos termos com o passado, colocar finalmente uma pedra em cima do que vivera com Duo para poder tentar chegar até Max, mas era tão difícil… O que sentira pelo americano ainda não morrera e não sabia como fazer para deixar isso de lado. Era como uma dependência estranha que aprendera a lidar toda sua vida.
Como ele poderia deixar Duo para trás se ainda o sentia tão perto?
- Kuso… - praguejou baixo.
Não conseguia. Era exatamente isso que não conseguia. Toda vez que tentava separar Max da imagem e dos sentimentos que tinha por Duo, voltava ao mesmo ponto, a maldita comparação, a identificação de que não existia como distingui-los como pessoas diferentes. Mas eles eram distintos, então por que estava sendo tão difícil? A semelhança não poderia enganá-lo assim… Não poderia…
Heero abriu brevemente os olhos, tendo o cenho franzido, enquanto uma lembrança subitamente veio a sua mente, fazendo com que seus pensamentos corressem a mil juntamente com as batidas de seu coração.
A recordação banal de uma noite que ambos, tanto ele quanto Duo, tinham sido escalados para se infiltrar numa base da OZ completamente disfarçados, de modo a serem confundidos com o próprio inimigo. Ele, Heero, ficara preocupado com o tipo de ação que iriam desempenhar. Lembrou-se de estar deitado na cama de um dos esconderijos, pensativo, enquanto Duo terminava de enviar uma mensagem de confirmação para G, aceitando a missão. Não tinha ficado confortável com aquele trabalho, pois sua preocupação com Duo já era grande, mesmo que este fosse completamente capaz de lidar com qualquer situação.
- Hee-chan, não sei o porquê dessa sua preocupação. Tenho certeza que você saberia me reconhecer. Tenho certeza que você não me confundiria, mesmo que eu estivesse disfarçado. – a voz de Duo ecoou em sua memória, e Heero sentiu um arrepio percorrer seu corpo pela vivacidade com que ela ressoara.
Fora o que Duo lhe falara com seu jeito travesso naquela noite para sanar o seu medo de confundi-lo com o inimigo durante uma batalha e acabar sem querer ferindo ou até matando-o. Naquela ocasião, aquelas palavras não lhe aliviaram a tensão ou o temor, mas agora, por tudo o que elas valiam, estavam trazendo uma verdadeira onda de compreensão e euforia.
Duo tinha razão.
-
Heero deixou o aeroporto, sem querer saber de hotel ou lugar para se hospedar antes. Sua urgência em encontrar Max era maior do que tudo e o privava de certos pensamentos básicos. No fundo, não estava se importando com isso. Pegou o primeiro táxi que conseguiu e lhe passando o endereço lhe dado por Tamara, o motorista o levou o mais rápido que pode até o local onde ficaria a casa dos pais de Max.
Estava muito mais do que ansioso por aquele reencontro. Existia também a dúvida de como seria a reação dos pais do rapaz. No pouco contato que tiveram, eles deixaram claro, principalmente o pai, que não queria nem ele, nem qualquer um de seus amigos se aproximando de Max novamente. Por algum motivo, não se importava, pois se para chegar até seu objetivo, tivesse que passar por cima deles, faria sem remorso.
Quando Noelle foi atender as batidas na porta da frente, pensou que encontraria alguma encomenda ou até mesmo que poderia ser um de seus vizinhos, mas ao abri-la e dar-se diretamente com o semblante fechado de Heero Yui, fez com que ela travasse.
- Eu quero falar com Max, mas antes acho que deveríamos conversar.
Ela engoliu em seco e tomando uma postura mais rígida e determinada, o enfrentou com o olhar.
- Max não quer falar com o senhor. Pensei que meu marido tinha deixado isso bem claro.
- Eu só quero uma chance de tentar convencer Max que as coisas não são o que parecem. – Heero disse, segurando a porta que seria fechada bem diante de si.
- Você só quer confundi-lo ainda mais. – ela contradisse.
Heero não sabia como fazer para convencer que não queria prejudicar Max e que estava ali pelo sentimento forte que nutria pelo jovem.
- A Sra. não está entendendo. Eu o amo e só quero ajudá-lo.
- Seu amante morreu há 21 anos atrás, piloto Gundam. – Peter apareceu ao lado da mulher. – Deixe nosso Max em paz.
- Por que vocês têm tanto medo que eu me aproxime de Max?- questionou olhando de um para o outro, vendo plenamente uma resguarda surgir na rápida troca de olhares entre os dois. Algo dentro de si se aguçou e a desconfiança se instalou imediatamente, mesmo sem nem ter idéia de qual seria. – Não pode ser somente pelas lembranças de Duo.
- Vá embora daqui antes que chamemos a polícia.
- Se eu for embora e descobrir qualquer coisa que justifique a minha desconfiança, vocês terão que se entender com eles mesmo.
Noelle então cedeu um pouco, vendo que Heero iria embora deixando aquele tipo de ameaça para trás.
- Espere. Não queremos criar confusão alguma, nosso único intuito é proteger nosso filho.
Heero se voltou mais uma vez para o casal e deu sua condição:
- Então podem me começar me contando o que estão escondendo.
Existiu um momento de ponderação entre o casal, para em seguida Peter entrar e Noelle abrir a porta num convite a Heero. O japonês teve a certeza assim, que havia algo realmente importante que aqueles dois estavam escondendo. Enquanto entrava na residência dos Thompson, reparava nos detalhes da casa. Na sala, para onde seguira Peter, Heero pode notar de longe, fotografias da família, colocadas na estante e acima da lareira, aproximando-se para ver de perto. Sorriu levemente ao ver algumas fotos de Max quando ainda pequeno com os pais, outras já dele adolescente; definitivamente idêntico ao seu Duo, diferenciado apenas pelos sorrisos mais formais e contidos, quando seu americano com certeza estaria rindo sem qualquer reserva para câmera.
- Nós trabalhávamos para a OZ. – a voz do homem lhe chamou a atenção, fazendo com que imediatamente se virasse para encará-lo.
Heero tentou primeiramente digerir o que havia sido dito. Fazia anos que não escutava falar da OZ e aquilo lhe trouxe um frio no estômago, principalmente por medo do que escutaria daqueles dois ali, já que começava com uma confissão daquelas.
Nada disse, permaneceu em silêncio, e sentou-se numa das poltronas assim que o homem meneou a mão para que se acomodasse.
- Nós fazíamos todo tipo de desenvolvimento para os laboratórios. – Peter continuou, sustentando o olhar do japonês. – Na época a OZ esperava conseguir um de vocês e assim desenvolver um piloto que fizesse frente aos pilotos gundam.
- Como assim desenvolver um piloto? – Heero perguntou receoso pela resposta.
Noelle, que se sentara ao lado do marido, entrelaçou sua mão na dele e explicou:
- Clonagem avançada.
Heero engoliu em seco, aos poucos vendo as peças se encaixarem tão perfeitamente em sua cabeça que nem precisaria que eles contassem mais. Mesmo assim, ficou em silêncio e permitiu que continuassem.
- Foi quando conseguiram capturar o 02, Duo Maxwell. – Peter contou, fazendo Heero se lembrar de imediato da vez em que o americano fora pego pelo inimigo e ficara alguns dias em cativeiro, onde fora inclusive molestado, até que conseguisse finalmente localizá-lo e resgatá-lo. - Eles o levaram no primeiro dia para os laboratórios onde nós trabalhávamos com uma equipe grande e não foi hesitado colher o material necessário para o projeto.
- Nós conseguimos criar uma nova vida a partir do material genético do 02, substituindo algumas cadeias desse DNA para que o novo soldado que a OZ queria, desenvolvesse habilidades acima das expectativas. – Noelle continuou, vendo Heero observando-os num misto de raiva e ceticismo.
- Trabalhamos por meses na parte genética e quando iríamos iniciar o processo de aceleração do desenvolvimento, vocês atacaram os laboratórios. –Peter explicou. - Tudo ia ser perdido com aquele ataque, todas as pesquisas e o projeto.
- Não conseguimos apenas deixá-lo para trás. – Noelle confessou. - Ao invés de usarmos o processo criogênico, optamos por um processo de gestação normal. Isso foi praticamente pouquíssimo antes de decidirem o fim de todas as batalhas.
- Max… - Heero sussurrou, sua mente correndo a mil por pensamentos e raciocínios angustiantes. Era loucura, mas refletia que eles, os pilotos, por pouco não haviam colocado um fim a existência de Max ao destruir os laboratórios. Que se não fosse pela substituição de cadeias no DNA, o resultado que teriam não seria uma confirmação de que Duo e Max eram irmãos e sim a mesma pessoa. As alterações genéticas explicavam também a rapidez com que Max se reabilitara do acidente. Era assustador, revoltante, mas ao mesmo tempo não poderia alimentar qualquer ira contra aquelas pessoas, pois elas haviam criado aquela pessoa que amava.
- Max nasceu nove meses depois e ele era apenas um bebê… não tivemos coragem de entregá-lo as autoridades ou revelar sua procedência para futuras pesquisas. – Noelle contou emocionada pelas lembranças. – Nós apagamos qualquer traço de nosso passado, forjamos tudo sobre a inseminação e o nascimento de Max para que ele no futuro não desconfiasse de nada.
- Ele nasceu na mesma data da morte de Duo. – Heero lembrou o estranho acontecimento. - Exatamente um ano depois.
- Nós sabemos disso, por isso lhe demos o nome de Max. – Peter disse saudoso. - Nós o criamos e o amamos como um filho. Jamais pensamos que algo assim pudesse acontecer.
Heero compreendia um pouco a situação do casal. Eles tinham feito de tudo para proteger Max de qualquer problema que sua condição pudesse vir a causar e o criaram com uma vida normal. Depois de escutar tudo aquilo não poderia mesmo sentir raiva deles.
- As lembranças… - Heero levantou o fato. - Não tem como ele guardar as lembranças de Duo, mesmo sendo geneticamente um clone.
- Pelo menos não era para ter. Não conseguimos entender como isso pode estar acontecendo.
- Duo… - Heero sussurrou, com um leve sorriso no canto dos lábios.
- Como? – Peter indagou confuso.
Heero se levantou, novamente com uma empolgação crescendo dentro de si.
- Eu preciso falar com Max o quanto antes.
Noelle negou com a cabeça.
- A condição dele pode piorar se continuar em contato com você e seus amigos, ainda não entendeu isso?
- Eu jamais faria algo para prejudicá-lo. – Heero a olhou mostrando com toda sinceridade que suas palavras eram verdadeiras. - Eu só preciso conversar com ele e, se por acaso, o que eu estou pensando não ajudá-lo nesse problema, prometo não atrapalhar mais.
Viu que o casal pareceu ainda ter duvidas e insistiu.
- Por favor, confiem em mim.
-
Heero não se demorou mais na casa dos Thompson, assim que descobriu que Max não estava na cidade e sim que tinha se retirado para passar um tempo sozinho numa casa que os pais mantinham em um local mais recluso. O local era um pouco distante e usando de sua sensatez, Heero alugou um carro para depender apenas de si próprio na hora de ir e vir de algum lugar. No caminho, seguindo as indicações dadas por Peter, Heero sorriu levemente ao pensar em como Max tinha o mesmo instinto de fugir e se esconder que Duo.
Não era à toa. Como pudera ser tão burro? Não precisava mais se martirizar por sua confusão ou seus sentimentos, pois não existiam mais dúvidas.
-
Max estava perdido em seus pensamentos, enquanto olhava para a superfície do extenso lago congelado. Recordava-se de sua infância, dos momentos divertidos que passara com sua família naquela propriedade, de como sempre amara aquele lugar. O velho sentimento de nostalgia e tristeza que nunca soubera explicar de onde vinha, o atingia outra vez e, sem querer, levava seus pensamentos para lugares que preferia não ir.
Mas o silêncio daquele local era melhor do que estar sob a pressão dos olhares preocupados dos pais e a constante lembrança do porque estavam assim. Ali, conseguia sentir uma paz que precisava para tentar voltar a ser quem ele realmente era. Pelo menos até aquele momento.
Quando escutou o barulho do motor de carro se aproximando, franziu o cenho e, do banco de madeira onde estava sentado, virou-se parcialmente para a direção do som. Não esperava ninguém, mas como seus pais eram pessoas extremamente neuróticas, não duvidava que eles pudessem quebrar a promessa que tinham feito e vir atrás dele. Até preferia que fossem eles, que fosse qualquer um, menos a figura que deixou o veículo, assim que estacionou perto da casa.
Max, por um lado, se indignou, mas por outro, foi abatido pelo sentimento quente que fazia seu coração bater rapidamente. De imediato a única reação que teve foi se levantar. Ficou parado onde estava, sem saber ao certo o que fazer, se é que tinha algo que pudesse ser feito. Ficou prestando atenção na aproximação do outro homem que, como se tivesse visto algum alerta em seu olhar, parou há alguns passos de distância de si.
- O que está fazendo aqui? - Max perguntou, conseguindo manter sua voz sob controle.
- Não parece óbvio. - Heero disse, agüentando para não se precipitar e abraçar o rapaz a sua frente. - Nós precisamos conversar.
Mantendo a frieza nos olhos violetas, Max rebateu:
- Eu não quero mais contato com você, Heero.
Heero demonstrou um pouco de mágoa em suas feições, mas não se deixou convencer. Max não o afastaria com aquele tipo de argumento.
- Por quê? Por causa das lembranças? – Heero perguntou. - Você só está confuso.
Max deu uma risada sardônica e contradisse:
- Difícil dizer quem está mais confuso aqui, Heero.
- Eu não estou, quero dizer, eu pensei que estava, mas agora não mais. – o japonês disse, completamente certo de que era a verdade.
- Vai vir com a conversa que já conseguiu distinguir seus sentimentos e que não me vê mais como Duo? – Max debochou, cruzando o braço sobre o peito.
Heero respirou fundo. Era o momento que esperava. A hora de tentar fazer com que Max enxergasse a realidade.
- Não, porque eu não poderia amar verdadeiramente outra pessoa que não fosse Duo.
Max engoliu a dor. Estava confuso agora também, pois interpretara que Heero não viera até ali para resgatar seus sentimentos e sim para lhe confirmar que não lhe amava realmente. E apenas pensar naquilo, que Heero jamais teria amor suficientemente forte por alguém que não fosse Duo, doía mais do que pudera imaginar.
- Então o que está fazendo aqui? – Max perguntou, ainda mantendo seu orgulho embaixo daquela falsa máscara inabalável.
Estranhou quando Heero o olhou com carinho e confessou:
- Tentando conversar com a pessoa que eu amo.
Max estreitou os olhos, descruzando os braços e finalmente compreendendo exatamente o que Heero queria insinuar com aquelas palavras. A dor que antes lhe abatia, foi consumida por um ódio intenso.
- Você enlouqueceu? – Max ainda perguntou, para não sucumbir a ira.
Heero sabia que passaria por aquele tipo de reação, ainda mais por conhecer a repulsa de Max em ser comparado com Duo, mas era exatamente isso que queria fazer com que o jovem entendesse: que não existiam comparações.
- Você pode pensar que é loucura, mas agora eu tenho certeza. Você é o Duo.
Max não acreditava no que aquele homem estava dizendo e na cara-de-pau em vir atrás de si para lhe dizer aquela sandice. Heero estava obcecado, essa era a palavra para definir o que o japonês vivenciava e ele, Max, não estava disposto a compartilhar daquela loucura.
- Eu quero que você vá embora agora mesmo!
Max tentou passar em direção a casa, mas Heero bloqueou a passagem, se colocando em sua frente.
- Esse é o problema, Max. Você não aceita. Por isso está sofrendo com as lembranças.
Max fechou fortemente os punhos ao lado de seu corpo, contendo neles o ímpeto de socar o homem a sua frente pela audácia de querer lhe impor tamanha loucura.
- Heero, você está tão doente por esse sentimento que tem pelo Duo. – ele tentava manter a voz controlada. - Só porque pareço com ele… Está com essa fixação de que somos a mesma pessoa.
Foi a vez de Heero se estressar. Max estava completamente fechado a qualquer raciocínio que o levasse a mesma conclusão que ele tivera. Ficar lhe acusando de estar obcecado por Duo só porque eram parecidos, era a forma que o jovem encontrava para negar a verdade. Tinha que fazer Max perceber o que ele tinha percebido, mesmo que não pudesse contar sobre sua origem.
- Não é fixação! Você é o Duo. Por que você não aceita que são a mesma pessoa e pára de ficar bloqueando as coisas? Porque é exatamente isso que está te confundindo... Você está sofrendo ainda mais porque não aceita.
"Nós somos como esse espelho..." - a voz de Duo ecoou na mente de Max.
- Não tenho que aceitar nada! Eu sou Max Thompson! É você quem deve aceitar isso! – disparou furioso e assim que seu olhar pegou a cruz brilhando no pescoço de Heero, adiantou-se para arrancá-la de seu dono. - Isso aqui é o que importa pra você, Heero! – acusou, demonstrando o objeto em sua mão. - Pois passe a noite procurando pelo símbolo sagrado do seu amor!
Assustado com a reação e as palavras do jovem, Heero olhou para a superfície do lago onde o cordão havia sido lançado. Aquele cordão jamais deixara seu pescoço desde que Duo morrera. Era sim sua recordação mais preciosa, mas aquela pessoa que passava por si e se dirigia para a casa, era muito mais importante do que qualquer outra coisa. Então não vacilou em seguir Max, entrando na casa logo atrás dele.
Max se surpreendeu ao escutar a porta ser aberta novamente e fechar bruscamente, se virando no meio da sala para confirmar que Heero estava bem ali, demonstrando estar tão irritado quanto ele próprio.
- Não vou correr atrás daquela cruz, se é o que estava esperando. – Heero falou, parecendo ter lido seus pensamentos anteriores, e finalizou: - Eu tenho o que eu quero bem aqui, não preciso dela.
Max fechou ainda mais a expressão com a insistência do japonês em querer buscar nele outra pessoa.
- Não. Você não tem o que quer aqui, Heero. Não enquanto estiver com essa ilusão doentia.
Foi a gota que faltava para Heero e quando Max percebeu, o japonês já estava junto de si, impondo seu corpo contra o dele, enquanto tomava sua boca sem qualquer delicadeza ou permissão. Apesar da raiva, da indignação por tudo, Max simplesmente não conseguia entender porque estava sedentamente correspondendo aquele beijo.
- Não é ilusão doentia, porque você sente isso também. – Heero apartou apenas por milímetros seus lábios dos de Max, encarando os orbes violetas, que inegavelmente mostravam toda a paixão que sentia. - Negue que o motivo de sentir-se atraído por mim não é desse passado que vem tentando ignorar. – exigiu, sentindo a hesitação de Max e seu movimento de tentar se afastar, que Heero facilmente deteve, mantendo o rapaz ainda junto de si. - Você sabe que me ama da mesma forma que eu te amo… por esse mesmo motivo.
- Eu não sou Duo, Heero.
- Eu sei quem você é, Max. Não importa que seja Duo ou não. Eu amo você.
Max sentiu a boca ser devorada por Heero mais uma vez e qualquer resistência mental ou física veio abaixo. Uma de suas mãos agarrou-se aos fios de cabelos escuros da nuca do japonês, enquanto a outra buscava manter a estabilidade em seu ombro, ao sentir seu corpo ser colado ainda mais de contra ao do outro.
Heero não pediu permissão, nem tampouco encontrou protesto quando começou a despir o rapaz. Seu coração disparado, fazia com que a ansiedade apenas se tornasse maior. Sua excitação crescia conforme tocava a pele que aos poucos se mostrava completamente exposta para si e grunhiu ao perceber que sua ânsia era correspondida, quando Max começou a lhe tirar as roupas também.
Max perdia-se no beijo que não se atrevia a findar, a língua úmida que buscava dominar a sua, começava a lhe tirar o ar, mas não se importava. Há alguns minutos deixara tudo de lado simplesmente por causa daquela confissão de Heero. A única coisa que sentia e desejava era se entregar a ele, ser definitivamente dele. Era uma necessidade que não sabia e nem queria saber explicar, ele apenas sentia.
Quando seus corpos completamente nus se encostaram, Max sentiu um leve choque com o contato da pele morna de contra a sua e finalmente apartou o beijo num ofego de excitamento. As mãos firmes vagavam sem restrições por suas costa, descendo até suas nádegas, apertando-as e o comprimindo ainda mais contra o corpo mais forte.
Heero se deleitava com a entrega de Max, a respiração pesada e os olhos violetas num pedido mudo por mais. Seu próprio sexo latejava para consumar de uma vez aquele ato, enquanto sua mente apreciava o reconhecimento de cada parte daquele corpo. Viu com prazer Max morder o lábio para conter um gemido, quando acariciou um de seus mamilos, ao mesmo tempo em que um de seus dedos testava a sua entrada.
- Omae wa ore no mono da… zutto. – Heero disse junto ao seu ouvido.
Reconhecendo aquelas palavras, Max apenas replicou, enquanto Heero lhe mordia o pescoço.
- Sempre…
Heero deixou seu controle se esvair totalmente ante a voz de Max e elevou suas pernas para que envolvessem sua cintura, atacando a boca macia com mais urgência. Em meio ao beijo e ofegos, carregou o corpo envolvido no seu, até a cama, onde deixou que seus corpos caíssem pesadamente sobre a mesma. Ele desceu a boca até um dos mamilos de Max, lambendo e chupando-o, enquanto seu membro excitado roçava-se de contra o do outro.
Max estava corado, sua excitação era tanta que já não detinha os gemidos e se Heero continuasse com aqueles movimentos, embalando seus sexos juntos… O japonês parecia saber disso e continuou com aquela tortura até que sentiu a viscosidade sujar a ambos, acompanhado de um gemido alto de êxtase.
- Heero… - Max ofegou, sentindo o coração batendo forte e o torpor correr por seu corpo.
Ele voltou a si quando sentiu o peso de Heero sair de cima de si, e o calor em seu baixo ventre. Inclinando a cabeça para olhar, Max viu o japonês lambendo de seu corpo toda sujeira que fizera, atiçando mais uma vez seu sexo com a língua, excitando-o com os dedos que buscavam por sua entrada.
Heero sentiu sua ereção pulsar quando tomou o sexo de Max completamente em sua boca e escutou o gemido do rapaz. Penetrou-o com os dedos, ganhando mais gemidos, enquanto chupava e tirava todo senso do amante, mas parou antes que este gozasse novamente, abandonando seu sexo e retirando os dedos de seu anus.
Max sentiu a perda dos dedos dentro de si, e a frustração de estar a beira do ápice e ter o sexo abandonado daquela maneira, mas com o beijo que se seguiu e o corpo de Heero pesando contra o seu novamente, Max se conformou, apenas abrindo as pernas para acomodar melhor o outro, envolvendo a cintura dele com elas.
Heero não desperdiçou mais tempo, ajeitando sua ereção e forçando a entrada em Max, que soltou um gemido abafado, em meio ao beijo. Preencheu pouco a pouco o corpo abaixo do seu, sentindo a pressão que as paredes faziam contra seu sexo. Quando se viu completamente imerso naquele canal, não esperou para retroagir e novamente se afundar nele.
Max observou Heero erguer o corpo, levantar suas pernas e continuar lhe estocando rigorosamente. Nos olhos azuis, via todo o desejo que o outro sentia e o prazer também. Sentindo os movimentos cada vez mais fortes e precisos de Heero, Max agarrou-se aos lençóis da cama e quase perdeu os sentidos quando outro orgasmo estremeceu seu corpo repentinamente, sem ao menos precisar ser tocado para isso.
Sentiu o embalo em seu corpo perdurar por mais algumas estocadas e o calor do líquido morno lhe preenchendo.
Heero pendeu o corpo para cima de Max mais uma vez, sentindo o calor de sua pele, os ofegos de sua respiração e olhando no rosto suado, que mantinha os belos olhos violetas fechados, acariciou uma de suas faces. Sua própria respiração pesada, seu corpo e seu coração completamente satisfeitos por aquele momento.
- Eu te amo, Max. – Heero disse, vendo os olhos do rapaz se abrirem e fitá-lo.
Max levou uma de suas mãos ao rosto do japonês e o beijou lentamente.
- E eu acho que não tem como me separar de você agora. – Max confessou, vendo o sorriso deixar mais lindo o semblante de Heero.
-
Max acordou logo que o dia clareou. A sensação que ainda estava adormecida em seu corpo era boa demais para descrever. Nem mesmo com Cliff sentira aquela plenitude, aquele sentimento que o mundo poderia acabar naquele instante, mas estaria completo e feliz. Olhou para o homem adormecido ao seu lado e pensou nos acontecimentos da noite anterior. Em sua cabeça ainda rodavam as palavras ditas por Heero, lhe afirmando que era Duo.
Seria verdade?
Ainda não conseguia assimilar a idéia como verdadeira, apesar de sentir uma grande nostalgia ao se entregar para Heero. Havia a possibilidade de estar influenciado pelas lembranças de Duo, mas não existia explicação sensata para as recordações tão vívidas despertando em sua mente... A não ser que fossem suas próprias, como se sempre tivessem existido e por algum motivo perdesse a memória e somente agora elas ressurgissem.
Estava ficando confuso de novo.
Passou a admirar o rosto do japonês ao seu lado. Decerto, o que sentia por ele era muito forte e especial, algo que não conseguia controlar, mesmo que tentasse muito. Se era culpa de Duo ou não, já nem importava.
Foi quando um arrependimento estalou em sua mente. A forma infantil como tratara Heero anteriormente lhe causava vergonha. Aquela cruz era a última lembrança de Duo que o japonês guardara por anos. E ele, Max, simplesmente a arrancara de seu pescoço e jogara fora como se fosse nada.
Se mexendo vagarosamente para não incomodar Heero, Max se levantou da cama. Um sol fraco agraciava a manhã, mas não bania o frio incomodo da estação, por isso, Max tratou de se agasalhar e saiu. Ao ver a superfície do lago, agradeceu por não ter nevado a noite.
Encontraria a cruz de Duo e devolveria para Heero.
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Heero despertou assim que escutou a porta ser fechada e piscou os olhos para espantar o sono, logo percebendo que Max não estava a seu lado. Mexeu-se, levantando o corpo e finalmente notando que estava sozinho no chalé.
A noite que tinha passado com Max havia sido perfeita. Sentira-se completo como há muito já não se sentia, desde que Duo…
Não era hora de ficar pensando nisso, não quando Max tinha saído sem acordá-lo, nem deixar aviso algum. Era estranho e no fundo temia que ele pudesse fugir mais uma vez, por isso, levantou-se colocando a roupa rapidamente e saindo.
Foi recebido por uma lufada de ar gelado e procurou ao redor com o olhar para ver se ainda conseguia localizar Max, não querendo acreditar que ele tinha mais uma vez lhe deixado para trás. Sorriu aliviado quando o viu andando sobre o lago congelado, um pouco inclinado, procurando por algo.
Sua mão reagiu instintivamente indo até seu pescoço, sentindo de repente um aperto no coração e a falta súbita que o cordão lhe fazia.
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Max sabia que deveria ter caído por ali, mas estava difícil de localizar exatamente onde estava o bendito cordão. Ia encontrá-lo, não desistiria porque queria devolvê-lo para Heero. Andava pela superfície congelada com cuidado, mas a camada estava tão espessa que não se preocupava tanto.
Mais alguns passos para a esquerda, outros para o centro e ele viu o ponto dourado embaçado pelo gelo e sorriu, soltando um suspiro de contentamento e alivio. Se adiantou e abaixou-se para pegar o objeto gelado entre os dedos. Conseguira recuperá-lo e estava realmente feliz por isso.
Max se assustou quando escutou um barulho embaixo de si, mas ao mesmo tempo desviou sua atenção para a voz de Heero que lhe chamava da porta do chalé. Foi quando repentinamente o gelo cedeu embaixo de seus pés e não teve muita reação principalmente quando sua cabeça se chocou com uma das bordas de gelo, enquanto simplesmente afundava naquelas águas.
Heero parou de respirar quando viu o gelo quebrar e Max cair no lago. Tentou processar em um único segundo o terror que o assaltava e a iniciativa de fazer alguma coisa. Sem perder qualquer tempo a mais, correu sem se preocupar com nada mais. Quando chegou ao local, tomando cuidado para não causar mais uma quebra na superfície, e viu que Max não parecia ter tentando retornar a tona, Heero não pensou e simplesmente pulou atrás, na esperança de resgatá-lo.
Max sentia a dor aguda em sua cabeça, ao mesmo tempo em que lutava contra o torpor de seu corpo que teimava a não responder seus comandos. Estava perdendo a consciência rápido demais e apesar de não estar em pânico, sentia que não conseguiria mais voltar. Via a claridade que emanava do buraco que ficara no gelo, onde este cedera, mas seus olhos estavam mais do que pesados. Toda aquela escuridão parecia muito bem vinda, mesmo que em seu punho ainda segurasse o cordão com pingente de cruz com toda força que podia.
Seus olhos se fecharam ao mesmo tempo em que vislumbrou alguém pular de encontro às águas.
Seu corpo convulsionou para frente e para trás, enquanto as lembranças mais uma vez lhe abatiam violentas.
Estava dentro de seu Gundam e sentia-se seguro, lutando contra o inimigo, quando percebeu que a outra máquina gigante estava em eminente perigo e se adiantou em prestar auxilio.
- Precisando de minha ajuda?
- Duo, cuidado!
Seu Gundam se virou a tempo de ver apenas os md's se grudarem ao seu corpo, e explodirem. Seu corpo se chocou para trás e depois bruscamente para frente, fazendo com que sua cabeça fosse de contra os painéis de controle. Ficou tonto, sem capacidade de reação, enquanto seu Gundam caia em queda livre e sem que pudesse fazer nada. Estava entorpecido e sabia que perderia os sentidos em pouco tempo.
- Duo! Duo!
A voz desesperada do outro piloto chegava pelos auto-falantes da cabine de navegação. Sabia que era seu amante quem buscava por uma resposta. Esperava que ele pudesse resgatá-lo antes que as patrulhas inimigas o fizessem, mas estava surpreso pelo tom urgente que voltou a se repetir dentro da cabine, quando um baque maior sacolejou seu corpo de forma brusca.
- Duo, responda! Duo!
Buscou com todas as forças que lhe restavam acalmar aquele estranho desespero do outro, imaginando se seu Gundam estaria tão ruim assim para estar deixando Heero aflito, mas sua voz soou baixa e não soube ao certo se conseguiu ser ouvido.
- Hee-chan…
Tudo ficou escuro depois disso. Não havia mais nada, além do silêncio. Sufocante e interminante silêncio.
Heero sequer registrou o frio que atacara seu corpo quando entrou em choque com as águas geladas, muito menos se importou consigo próprio, quando se arriscou a buscar Max e tirá-lo o mais rápido que pôde do lago, carregando-o com cuidado para a margem mais segura. Ele teria o levado diretamente para o carro e dali para um hospital, se não fosse por perceber que Max não respirava.
Via tudo o que acontecia como uma experiência bizarra que ele próprio não entendia. Estava em pé, há alguns passos de distância dos outros garotos, observando em confusão e angustia, o seu próprio corpo deitado no chão, enquanto o jovem Heero, buscava reanimá-lo, fazer com que seus batimentos e respiração voltassem. Percebia o pesar e contida tristeza no semblante de Wufei e ainda bem perto, o desespero nas lágrimas de Quatre que era confortado por Trowa.
- Pare, Yui. Não vai adiantar.
Viu Heero fazer uma negativa tola com a cabeça, se recusando a acreditar no que o amigo chinês tentava lhe abrir os olhos. Ele, Duo, só queria poder se aproximar e desfazer tudo aquilo, mas não conseguia se mover, não conseguia chegar até eles.
Heero tentava desesperadamente trazer Max de volta. Deitara-o no chão e começara o processo de ressucitamento, enquanto seu coração parecia querer se despedaçar devido a dor que estava sentindo. Ele estava perdendo de novo. Estava perdendo seu amor pela segunda vez, numa ironia incrível ao ver que parecia apenas estar revivendo aquele trágico momento há 21 anos atrás. A inércia, o ferimento na cabeça que sangrava, o semblante mortalmente pálido, os lábios arroxeados…
Ele não poderia perdê-lo outra vez. Não quando o tinha encontrado novamente. Não iria suportar.
- Eu não vou desistir. Não vou. Você está me ouvindo? – Heero falava sem notar que as lágrimas já corriam de seus olhos. - Você não pode simplesmente voltar e me abandonar assim. Não pode.
- Saiam daqui agora. – escutou Heero ordenar, enquanto apontava uma arma bem entre os olhos de Wufei.
Viu os amigos hesitarem, mas prontos para seguirem.
- Não demore muito aqui, Heero. Você sabe que os reforços virão e seria uma pena ver que a morte de Duo foi em vão.
Foram aquelas palavras de Trowa que o fizeram despertar para realidade. Que na verdade, seu corpo havia morrido.
- Eu mandei irem embora! – o descontrole de Heero fez com que olhasse com angústia para ele.
Era a primeira vez que via a fachada do Soldado Perfeito aos poucos desmoronar. Por sua culpa… Não queria que ele sofresse, nunca…
Os outros abandonaram o local, respeitando a ordem dada pelo garoto japonês, deixando-o sozinho em seu sofrimento. Sofrimento que Duo parecia sentir, principalmente ao vê-lo afastar a franja do rosto de seu corpo sem vida.
- Aishiteru, Duo no baka…
Era a primeira vez que escutava o outro lhe confessar aquilo.
Aquilo o chocou e o impacto foi ainda maior quando Heero o beijou e depois simplesmente desabou, abraçando seu corpo e chorando copiosamente. Toda sua crença de que nada poderia abalar aquele garoto vinha abaixo com aquela imagem. E, por mais, que se sentisse feliz por saber que era tão importante assim para Heero, a tristeza e a dor sobrepujavam tudo, pois lhe fazia mal vê-lo sofrendo.
- Eu vou voltar, Hee-chan. – Duo afirmou, agora vendo Heero a beira do lago, tentando trazer vida ao clone de seu corpo. - Não chore.
- Não faça isso comigo. – Heero ainda buscava inutilmente trazer o corpo de Max de volta a vida. – Você não tem esse direito.
Seu desespero parcialmente se extravasou quando o corpo de Max convulsionou, colocando para fora o tanto de água que havia ingerido dentro do lago. Deixando que uma risada entrecortada tomasse conta de si, Heero esperou que aquilo passasse, acalentando aos poucos o corpo do rapaz. Ele tinha conseguido. Realmente tinha conseguido dessa vez.
- Vai ficar tudo bem. Eu vou levá-lo pra um hospital e você vai ficar bem.
Os olhos violetas se abriram, encarando a face do amante, e não pode deixar de sorrir, mesmo que muito levemente.
- E-eu prometi… Mesmo que t-tiv-vesse… que atravessar céus e infernos… eu prometi que v-voltaria pra você.
Heero engoliu em seco e os olhos se arregalaram em surpresa, ao tentar compreender e não sucumbir ao impacto daquelas palavras.
- Max?
Com um pouco de dificuldade e tremendo visivelmente, Max levantou o braço, erguendo o punho e mostrando o cordão que pendia com a cruz de ouro para que o japonês pudesse ver.
Heero olhou o objeto estendido na mão tremula do rapaz e sentiu dessa vez as lágrimas mornas lhe correrem as faces. O gesto representava muito e dizia bem mais do que qualquer palavra que pudesse ser proferida. Ele abraçou o jovem fortemente contra si, não sabendo o quanto ou como poderia expressar a felicidade que lhe consumia naquele instante.
- F-frio… - Max balbuciou.
Heero então voltou a colocar suas emoções de lado e afastando as lágrimas brevemente com as costas da mão, agiu rapidamente.
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Quatre entrou silenciosamente no quarto, com medo de incomodar com qualquer barulho. Havia recebido um telefonema de Heero, avisando sobre outro acidente envolvendo Max e tinha deixado qualquer responsabilidade da Winner nas mãos do vice-presidente para voar diretamente até onde eles estavam. O amigo japonês havia tranqüilizado-o em questão do estado do rapaz, dizendo que apesar dele estar internado, o quadro era estável, que o susto maior já havia passado, mas Quatre não ficaria tranqüilo enquanto não o visse, principalmente depois do que Heero lhe contara por telefone.
Viu o japonês de pé junto à janela do quarto, mas sua atenção se voltou totalmente para Max, que parecia dormir tranqüilamente no leito em que estava deitado.
- Eu disse que você não precisava vir. – Heero falou, lhe desviando a atenção. - Ele está bem.
- Ele pode estar, mas e você? – Quatre perguntou, vendo nitidamente as olheiras do amigo.
Heero suspirou, olhando para o rapaz na cama.
- Quando eu cheguei aqui com ele, me obrigaram a fazer exames porque ainda estava completamente encharcado depois de ter pulado no lago.
- Você está fazendo vigília aqui desde o acidente? – Quatre se aproximou do japonês.
Com uma ponta de culpa, Heero confessou:
- Eu ainda não avisei aos pais dele e não queria deixá-lo sozinho.
- Está com medo que eles proíbam sua estadia aqui se souberem do que aconteceu?
Heero assentiu com a cabeça.
- Eu tenho certeza de que eles fariam isso. Apesar de tudo, eles o amam muito e pela segunda vez seu filho está hospitalizado por minha causa.
- Não foi sua culpa. – Quatre confortou, se aproximando e colocando uma mão em seu ombro.
- De certa forma foi. – disse desviando o olhar para o cordão com a cruz que estava em torno do pescoço de Max. – Ele queria me devolver o cordão que tinha jogado fora.
- Depois de tudo que foi dito e feito… - Quatre lamentou.
- Ele continua sendo a mesma pessoa. – Heero completou.
- E em todos esses anos você continua o amando mesmo assim.
- Zutto.
Wufei e Trowa entraram e Quatre suspirou, vendo a sobrancelha erguida do japonês:
- Como vê, não sou o único preocupado aqui.
- Ora, Quatre, mas não fomos nós que saímos correndo na frente. – Trowa reclamou.
Quatre deu de ombros, mas não contrariou.
- Ok, eu posso ser o mais preocupado, mas vocês poderiam fazer o favor de levar esse cabeça dura para descansar?
- Eu não vou deixá-lo. – Heero se retesou, ante a possibilidade de deixar Max sozinho.
- Não, você vai apenas descansar. – Quatre disse empurrando Heero na direção da porta. - Eu vou ficar aqui até que você possa voltar. Não se preocupe.
- Mas… - Heero tentou protestar.
- Vamos, Heero. Não contrarie um árabe, falo isso por experiência. – Trowa o segurou pelo braço, debochando do amante.
- É, não se preocupe que Winner é o mais indicado pra essa missão. – Wufei abriu a porta para que pudessem passar.
Heero suspirou vencido. Não teria jeito de contrariar seus amigos e, além do mais, estava mesmo cansado. Estivera velando o sono de Max desde que chegara no hospital e a exaustão não demoraria a lhe tomar. Deu uma última olhada para o belo jovem adormecido na cama do hospital e deixou o quarto juntamente com Trowa e Wufei.
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Quatre sorriu para a porta que se fechara, pensando rapidamente nos acontecimentos, em como Heero quase perdera a pessoa que amava pela segunda vez e, principalmente, agradecendo o fato de Max ter sobrevivido ao último acidente. Heero provavelmente não agüentaria se depois de tudo, tivesse que viver sem ele.
Afastou os pensamentos angustiantes e se virou, mas parou estático ao ver a figura que lhe sorria junto a janela. Um pouco receoso, desviou o olhar para o rapaz no leito e viu o mesmo sorriso, idêntico, delineado nos lábios dele.
Quando voltou a olhar para a janela, não havia mais ninguém ali.
Piscou algumas vezes, mesmo não acreditando que pudesse ter sido uma ilusão de ótica. E com um sorriso desconfiado se aproximou da cama, afastando a franja do rosto de Max e olhando-o com ternura.
- Apesar de tudo, você continua o mesmo.
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Fim
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Nota da Thoru:
Bom pessoal... Acabou!!
Primeiramente eu quero agradecer a todos que acompanharam a fic e opinaram. Valeu! E espero que vocês tenham gostado.
O meu muito obrigada para as betas que fizeram a gentileza de corrigir a fic pra gente... Beijos meninas e obrigada!!
Blanxeee-Sensei!! Obrigada por ter escrito a fic e me ajudado em praticamente tudo! Valeu... Amei essa parceria e fico muito honrada por isso.
Mokonaa... Obrigada por me apresentar ao mundo Yaoi!!!
Enfim obrigada a todos!!!
Nota da Blanxe: Agradecendo as pessoas que acompanharam, as betas e a Thoru que me permitiu escrever essa história pra ela. Adorei escrever cada linha dessa fic. Thanks, Thoru!
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