Disclaimer - Nenhum personagem me pertence, são todos da JK.


Capítulo 2

Uma semana havia se passado. Uma semana sem dinheiro ou emprego. Uma semana angustiante e absurdamente rápida. Virgínia arrumou as suas roupas e colocou-as em uma mala. Alguns outros pertences também, nada muito valioso. O pouco que tinha estava depositado em um canto da sala, esperando pelo dia em que alguém encarregado da hipoteca viesse e mandasse Virgínia sair daquela casa. Algo que, se ela não estava enganada, aconteceria em pouco menos que três dias.

Suspirou. Sabia que chorar não a levaria a lugar algum, portanto não o fez. Já estava na hora de crescer e ser dona de sua própria vida. Precisava de uma estrutura, de algo consistente. E, como não tinha mais ninguém para providenciar isso, Virgínia não podia desmoronar naquele momento. Ainda assim, sentia-se completamente desanimada. Simplesmente não sabia o que fazer.

Foi até a janela da sala e afastou um pouco as cortinas. Não havia nada diferente. Nenhuma movimentação na rua. Caminhou até a mesa da cozinha e sentou-se. Segurou a caneta novamente e voltou sua atenção para o papel em branco a sua frente. Pretendia escrever uma carta ao homem responsável pela hipoteca. Quem sabe assim não conseguiria mais alguns dias, ou uma semana. Não sabia como pedir, mas fez questão de florear a carta ao máximo e fazê-la o mais melancólica possível. Esperava comover o homem. Tinha que dar certo.

Buscou um sinônimo para 'desamparada'. Já havia usado a palavra no início. 'Sozinha' também já aparecia no segundo parágrafo. Levantou-se e voltou para a sala. Precisava de inspiração. Deveria ter começado a carta antes. Procurou o dicionário, buscou a letra 'D'. 'Desiludida', pensou, ao folhear as páginas amareladas pelo tempo. Virgínia era realista. Sabia que não podia ficar esperando um milagre. Não adiantava se iludir com falsas esperanças.

O silêncio foi gradualmente quebrado pelo barulho de um automóvel que vinha se aproximando. A garota foi até a janela e viu que o automóvel parava em frente a sua casa. Um rapaz alto de cabelos claros saiu do carro e caminhou lentamente até a porta de entrada. Virgínia não precisou de muito tempo para lembrar-se de que já o conhecia. Espiou por uma pequena fresta na cortina, e observou cada movimento dele. Os passos largos e firmes. Um excelente porte. Os olhos cinzentos fitando a rua, atento a qualquer movimentação. Ela acompanhou sua mão indo em direção a porta e, instantaneamente, ouviu o barulho das batidas.

Afastou-se das cortinas e, num movimento automático, levou a mão aos cabelos, para ajeitá-los. Caminhou até a porta calmamente, o barulho de seus sapatos ecoando pela sala. Levou a mão á maçaneta, mas não abriu a porta de imediato. Sabia o que aquele homem iria propor. Não queria acreditar em uma mentira. Não queria se decepcionar, nem ter falsas esperanças. Respirou fundo. O que quer que fosse, pensaria duas vezes, ou mais. Abriu a porta.

Era um homem muito bonito. Entrou, e Virgínia pediu que sentasse. Não quis chá, nem água. Era muito direto, e foi logo ao assunto. Queria saber se ela ia ou não para Munique. Ela nem havia pensado sobre aquela proposta. Uma proposta bastante estranha, na verdade.

Tom. Vivia esquecendo aquele nome. Tom Riddle. Virgínia não se lembrava de ter qualquer contato com ele durante as visitas no Natal. Nunca gostou de ir á Munique visitá-lo. Ficava sozinha a maior parte do tempo, brincando no jardim enquanto sua mãe e Tom conversavam dentro de casa. Isso quando ele não se trancava na biblioteca e só saía horas depois. Não o culpava. O único atrativo daquela casa enorme era a biblioteca.

Talvez ele estivesse mesmo querendo ajudar. Talvez quisesse se redimir por não ter ajudado antes. Se não desse certo, procuraria um emprego. Consideraria aquilo tudo como algo provisório. Não conseguiu pensar em algo que pudesse dar errado.

Levantou os olhos para o rapaz a sua frente. Ainda relutava em dizer, mas sabia que ir para Munique era o melhor a fazer. Suspirou mais uma vez, sabendo que não tinha outra opção.

"Quando podemos ir?"


Não sabia ao certo quanto tempo tinha se passado, nem quanto tempo faltava para chegarem. Virgínia já estava cansada de ver paisagens, e começava a sentir náuseas. Não gostava de ficar muito tempo sentada, preferia caminhar.

"Mas a srta não pode ir caminhando até Munique", disse Draco. Viu seus olhos através do espelho do motorista, e ele parecia divertido com aquela observação. Lógico que não poderia caminhar até Munique, era só um comentário. Voltou a observar a paisagem, mas ele continuou "É muito longe, mesmo para quem gosta de caminhar. Estamos quase chegando."

A paisagem foi mudando gradativamente. Levou algum tempo, mas as casas foram substituindo os campos, até chegarem a Munique. Completamente diferente de onde ela acabava de vir, a cidade estava consideravelmente movimentada. O contraste gritante a animou. Aquela mesmice na cidade onde morava trazia uma melancolia infindável. A falta do que fazer, ou de alguém com quem conversar abria espaço para as lembranças que Virgínia preferia deixar guardadas.

O carro entrou em uma rua não muito movimentada e parou em frente a um enorme portão, e Draco desceu do carro para abri-lo. Virgínia não sabia que horas eram, mas o céu já estava escurecendo. Voltou-se para a casa e constatou que ela era enorme para alguém que morava sozinho. Um dos motivos que a levavam até aquele lugar já estava justificado. Também não gostaria de morar em um lugar assim sem alguém para fazer companhia.

Assim que estacionou o automóvel, Draco conduziu a garota até a porta de entrada. Chamou uma das empregadas para levar Virgínia até seu quarto, seus pertences iriam em seguida.

"Onde está o meu tio?" perguntou ela, terminando a frase após alguns segundos de relutância.

"Creio que na biblioteca, srta", disse a empregada "mas ele pediu para não ser incomodado" completou timidamente.

A última coisa que queria era incomodá-lo. Preferiu seguir a empregada até o quarto. Subiram as escadas que levariam a um corredor pouco iluminado. Mal se lembrava daquela parte da casa, já que não podia fazer barulhos enquanto seu tio estava naquele andar. Pisava levemente quando passava pela porta da biblioteca. E, ao passar pela mesma porta naquele momento, caminhou com a ponta dos pés, como fazia quando era criança. Nem se deu conta do que fez, e quando estava a uma distância relativamente segura, voltou a pisar normalmente.

Antes de dobrar o corredor, escutou uma porta se abrindo, e virou-se para trás. Viu um homem que reconheceu de imediato. Tom Riddle, encostado na moldura da porta, ainda conservava sua fisionomia de anos atrás. O ambiente mal iluminado impedia Virgínia de vê-lo melhor, mas ainda assim podia distinguir suas feições. Parecia cansado, mas sustentava uma postura altiva, e aquilo nunca fora diferente. Seus olhos eram duas incógnitas, e brilhavam em meio àquela luz fraca. Não mudara nem a forma de manter os cabelos, curtos e alinhados. Manteve o mesmo olhar e postura quando Virgínia aproximou-se.

"Boa Noite, sr Riddle", disse, sem saber ao certo o que ia fazer. Era estranho ver alguém depois de tantos anos e iniciar uma conversa casual. Duvidava que ele ainda se lembrasse de como ela era. Começaria agradecendo, então. "O senhor não sabe como eu agradeço o que tem feito por mim –"

"Você deve estar cansada, Virgínia", interrompeu-a. E ela ficou feliz que Tom tivesse feito aquilo. Não sabia como agradecer sem parecer falsa ou ingrata. O que quer que Virgínia fosse dizer a ele não se enquadraria naquela situação um tanto incômoda. "Maria deve ter preparado um banho para você", continuou. "Conversaremos no jantar."

Dizendo isso, fechou a porta novamente. Pelo pouco que Virgínia se lembrava de Tom, podia dizer que ele não havia mudado nem um pouco. Seguiu Maria até uma porta no final do corredor, onde era seu quarto. A empregada abriu a porta, e Virgínia se deparou com um ambiente mal iluminado, mas ainda assim muito bonito. Havia uma enorme cama perto da janela. Do outro lado do cômodo, Virgínia viu um armário nada modesto, e sabia que precisaria ter o dobro de roupas que ela tinha para preenchê-lo totalmente. O papel de parede salmão percorria o ambiente, combinando com o tom do acolchoado sobre a cama.

Virgínia tirou o casaco que vestia e deixou-o em uma cadeira perto da porta que dava acesso ao banheiro. Abriu-a e encontrou uma enorme banheira repleta de água quente. Fechou a porta atrás de si e começou a tirar as roupas. Reparou que havia uma quantidade considerável de sais de banho e sabonetes perto da pia. Pegou os sais e jogou-os na água, que ficou ligeiramente cor-de-rosa.

Por mais que aquela casa não fosse efetivamente dela, Virgínia já se sentia muito bem instalada. Afinal, não era nem um pouco difícil acostumar-se com algo tão confortável. Aquela não era a melhor hora para aproveitar a cama macia ou o banho quente, ainda estava de luto por sua mãe. Mas não pôde deixar de sorrir ao entrar na banheira e sentir a água molhando seu corpo e aquecendo-o de imediato. Resolveu esquecer as preocupações, pelo menos por enquanto. Precisava deixar toda a angústia e tristeza se esvair de sua mente. Fechou os olhos e tentou não pensar em nada, somente em como seria sua vida dali em diante. A sensação de segurança e estabilidade, junto com o conforto daquele lugar, fazia Virgínia desejar morar lá por um bom tempo. Já não sentia saudade de sua antiga casa, e não achava que encontraria dificuldades em se adaptar á vida em Munique.


NA: Wow! Quantas reviews! o Quero agradecer a todos que leram e comentaram aqui (Amanda e Luana, Bel, Layra, Nika, DinhaChirstensen, Laurita, Mandoca, Lispotter, Ryuuzakii e Ana K13 Poste – Obrigada ), e também justificar a demora, é claro. Eu estou em ano de vestibular, e não tenho muito tempo para escrever ;-; Mas eu não pretendo abandonar a fic, nem colocar o bigode ridículo no Tom, nem deixar sem explicação o fato do Draco ser choffer. E, obviamente, as reviews me estimulam a escrever e me enchem de inspiração XD Eu sei que o Tom teve uma participação insignificante até agora, mas as coisas vão melhorar daqui pra frente. Beijos a todos!