Título: Severus e o Pêssego Gigante
Autor: Magalud
Categoria: Slash
Gênero: Drama, Suspense, AU
Classificação: M
Personagens ou Casais: SS/JP
Resumo: O cheiro de pêssegos frescos esconde um segredo de família
Spoilers: Spoilers para Half-Blood Prince. Você foi alertado.
Disclaimer: Não, continuam não sendo meus, são da Madame Rowling, mulher má, cruel e desconsiderada que faz os melhores personagens matarem velhinhos sábios em torres altas...
Data: 09/01/2006
Alertas: Não, não tem nada a ver com o livrinho infantil. Aliás, aqui não tem nada de infantil. OO
Agradecimentos: À beta Amanda Saitou!
Nota 1: Roald Dahl me mataria, com certeza
Nota 2: Levemente inspirado em fics como Indago, de LdDurham e Guilty as Sin, de Riffraff, ambas encontráveis na adultfanfiction .net. Iniciados reconhecerão um pouco dos hábitos de acasalamento da espécie nativa do planeta 40 Eridani A, tal como descrito em Star Trek: The Original Series.
Nota 3: Eu não seria justa se não reconhecesse a inspiração do líder israelense Ariel Sharon. Claro, se ele desconfiar disso, manda o Shin Bet e o Mossad, juntos, atrás de mim. J :-)

Severus e o Pêssego Gigante

Capítulo 1 – Ambiente de pomar

Desde que pusera o pé em Hogwarts, Severus Snape experimentara fortes sentimentos em relação aos chamados Marauders. Era um ódio visceral. Eles eram seus carrascos, seus algozes. Portanto, logo em seu primeiro ano, o menino franzino procurou segurança nos números: aliou-se a uma gangue de Slytherins, liderados pelo aristocrático Lucius Malfoy, um rapaz do quinto ano. Ajudava o fato de Severus ter sido escolhido para fazer parte do seleto grupo do Slug Club, do Professor Slughorn.

Mas ainda assim, ele era atormentado por James Potter e Sirius Black, que sempre estavam junto com Peter Pettigrew e Remus Lupin. Severus era bom aluno, mas o diretor Dumbledore favorecia seus alunos de Gryffindor, assim como a Professora McGonagall. E o bando de pequenos marginais claramente se comprazia em pegar no pé de Severus; portanto, nada mais justo do que retribuir à altura.

Seu caráter Slytherin logo o fez usar a seu favor o conhecimento das Artes das Trevas que seu avô lhe inculcara desde a mais tenra idade: ele pôs-se a inventar feitiços, melhorar poções. E os malditos Marauders sentiram na pele cada uma dessas inovações de Severus. Cabelos verdes, furúnculos em lugares embaraçosos, extração de sobrancelhas, sangramentos, línguas encompridadas, hálitos fétidos... A troca de maldições e feitiços ganhava proporções épicas, e fazia os alunos das demais casas temerem a aproximação dos dois grupos. Mas o confronto Snape X Marauders era sempre o mais ferino, cruel e feroz.

Quando Lucius Malfoy se formou, Severus já estava em condição de se defender melhor dos ataques da gangue de Gryffindors. E foi a saída de Malfoy que o fez aproximar-se de Lily Evans, uma Gryffindor Mudblood de quem a princípio Severus desconfiou imensamente. Contudo, ela se aproximou dele nas aulas de Poções, e os dois puseram-se a passar tempo juntos, borbulhando em seus caldeirões, conversando, fazendo os deveres na biblioteca.

Lily achava seus colegas de casa uns bobalhões mimados, e tratava Severus como um amigo, sem se intimidar com seu jeito carrancudo e fechado. O jovem Slytherin mal podia acreditar que ela não tivesse qualquer interesse por trás. Nem se engraçou para uma aproximação romântica – que teria sido rechaçada, obviamente.

- E como se chamam esses aqui? – Lily apontou a ilustração no livro sobre criaturas mágicas. – O Prof. Kettleburn não nos ensinou sobre esses.

- Kiludera – respondeu Severus. – Estão extintos, por isso ele não mencionou.

- Mas é justamente isso que estou fazendo: uma redação sobre criaturas mágicas extintas. Os nomes são estranhos: Zamanis, Matsakis, Gorevs, Adimai... E tem uns aqui que eu só vi uma citação: Koboldines. Estranho que não tenha nada sobre eles.

- Atrás de mais pontos extras, Evans?

Lily sorriu, e Severus percebeu, não pela primeira vez, porque o insuportável James Potter a apoquentava tanto. Era um sorriso lindo, do tipo que a gente não se cansava de ver. Contudo, Severus sabia que não devia ver nada naquele sorriso – até porque ela era uma mulher, o gênero errado para ele. Os dois estavam ali apenas atrás de pontos extras, convenceu-se.

E foi justamente pontos extras que Lily conseguiu com seu trabalho. O Prof. Kettleburn olhou para a turma conjunta de Gryffindor-Slytherin e sorriu para ela entusiasmado, sacudindo o pedaço de pergaminho com seu único braço:

- Parabéns, Srta. Evans! Seu trabalho é uma experiência multidisciplinar sobre Criaturas Mágicas e História da Magia, quase na área da Palentomagozoologia. Dez pontos para Gryffindor! – Vários Slyhterins viraram a cara, revoltados. Severus manteve seu véu de indiferença no rosto.

- Professor – disse a garota, alheia à movimentação –, eu tentei incluir os Koboldines, mas não encontrei muito sobre eles. O que pode nos dizer sobre isso?

- Oh, não há muito a dizer. Eles provavelmente estão extintos agora, como seus antecessores, os Kobolds. Veja, os Kobolds eram criaturas humanóides peludas, de olhos muito brilhantes, muito agressivas, de excepcional talento mágico. A humanidade ainda engatinhava quando os Kobolds descobriram um jeito de acasalar com os humanos, pois tinham uma sexualidade agressiva, especialmente o tipo dominante, mais físico. O tipo submisso, mais esperto e ladino, era mais talentoso do ponto de vista mágico, e também tinha sucesso em seduzir parceiros humanos. Quando os humanos evoluíram magicamente, na época da civilização mesopotâmia e da fundação de Ur, os mestiços de humanos e Kobolds já eram em grande número. Grandes sacerdotes sumérios, assírios e babilônios se reuniram num grande conclave e concordaram que era preciso exterminar os Kobolds, ou a humanidade seria extinta. Então começou a grande caçada. Até hoje os Muggles reconhecem a palavra Kobold como demônio.

A turma parecia interessada na história, e até os Slytherins mais distraídos prestavam atenção. Mas foi um Gryffindor, chamado Frobisher, que perguntou:

- Então... foi um genocídio?

O Prof. Kettleburn mancou magicamente e assentiu, pesaroso:

- Oh, sim, Sr. Frobisher, o senhor usou a palavra correta. Foi um genocídio, muito nos moldes que os norte-americanos do século XVIII planejaram para exterminar os bisões, tão necessários às culturas indígenas locais. Infelizmente, tudo indica que este tenha sido bem sucedido. Não se tem notícia de qualquer aparição ou localização de Kobolds desde o ano 33 da chamada era cristã. Contudo, seus descendentes, os Koboldines, eram mais difíceis de localizar, devido à miscigenação. Veja, ao se misturarem com os humanos, eles se tornaram quase impossíveis de se identificar a olho nu – afinal, eram uma espécie muito agressiva e inteligente, capaz de engendrar estratégicas muito engenhosas. Com o passar dos séculos, eles cada vez mais se misturaram aos humanos, e devo dizer que não foi de todo ruim, pois o gesto aperfeiçoou a magia dos bruxos. Ficaram tão escassos e escondidos que só um podia reconhecer o outro, através de feromônios secretados por suas glândulas especiais, e ainda assim, só quando entrassem na puberdade, para o amadurecimento sexual – era quando eles se tornavam agressivos e procuravam acasalamento. Nessa fase ficavam vulneráveis e aí eram caçados. Os últimos Koboldines de que se têm notícia foram mortos durante a guerra contra o Lord das Trevas Grindenwald. Sabe, embora eles nunca tenham se aliado ao tal Lord, eles foram marcados como seres das Trevas. E os últimos foram caçados também, tal como seus antecessores. Acredita-se que agora a espécie esteja totalmente extinta e seus gens mágicos perdidos para sempre.

Era uma história impressionante e as duas turmas pareciam atônitas. Até que Sirius Black perguntou:

- Professor, isso vai cair nos OWLs?

- Não, Sr. Black, certamente que não. Eu estava apenas respondendo à pergunta da Srta. Evans. Agora, turma, se vocês abrirem seus livros na página 256, podemos dar início ao estudo das criaturas que ainda não foram extintas. Vamos lá, Sr. Crabbe, não percamos tempo!

E todo o incidente teria sido esquecido por Severus para sempre, mas infelizmente não foi assim que aconteceu. Demorou a ele se lembrar dessa aula, e, antes disso, ele teve que lidar com outras preocupações não menos alarmantes em sua mente.

Houve o incidente no Shrieking Shack, e Severus se sentiu mais injustiçado do que nunca pelos Marauders. Ele ainda tremia à noite, ao se lembrar do rosnado do lobisomem diante de si, a encará-lo, os olhos amarelos fixos nele. E de repente, o monstruoso cão preto começou a pular na frente da fera, como um cãozinho que chamasse para brincar, e enquanto ele ainda tentava restabelecer algum reflexo em seus nervos e músculos paralisados de terror, o cretino James Potter o arrastara para fora dali. O caso foi parar com Dumbledore, que deu a ele uma admoestação e uma promessa solene de jamais divulgar o segredo de Lupin, enquanto os Marauders se safaram com penalidades leves e meras detenções. Eles mereciam Azkaban por ameaçar uma vida humana, pensou Severus, tremendo de ódio.

Aquilo, claro, não fora o pior. Quando os OWLs chegaram, Severus tentou se concentrar nos seus estudos e suas provas, e então houve o incidente ao final da prova de Defesa Contra as Artes das Trevas, a sua pior memória... Foi quando ele foi cercado covardemente pelos quatro Marauders, que, sem qualquer provocação, passaram a atacá-lo. Lily, doce Lily, tentou defendê-lo, mas Severus estava tão enlouquecido de ódio e ressentimento que a xingou de Mudblood naquele momento. Arrependeu-se amargamente do gesto, pelo resto de sua vida. Lily nunca mais tinha sido a mesma depois daquilo, e talvez esse incidente a tivesse jogado nos braços de James Potter, com quem ela começou a sair justamente depois do episódio. Teria sido coincidência ou planejado?

Talvez tenha sido a irritação de perder a amizade de Lily Evans, talvez tenha sido outra coisa, mas o fato é que, durante seu sexto ano, Severus começou a se dar conta de uma coisa: havia algum cheiro estranho em Hogwarts. Ele foi gradualmente se dando conta daquilo. Primeiro era um aroma sutil, quase imperceptível, mas aos poucos a coisa começou a aumentar de intensidade, ao longo das semanas. O cheiro diminuía nas áreas comunais de Slytherin (quartos, salão comunal, banheiros) e nas aulas de Aritmancia, mas no mais, parecia impregnado por todo o castelo, até mesmo nas áreas externas – estufas, área de Quidditch, na margem do lago. Não que fosse um cheiro exatamente desagradável, mas o aroma perturbava Severus. Intensamente. De um jeito bem... embaraçoso, ele tinha que admitir.

O adolescente de Slytherin era um jovem normal como os outros, e sua sexualidade começava a despertar tanto quanto a dos colegas, vendo, no caso, seu interesse por rapazes crescer. Mas, ocupado com seus estudos e as demandas acadêmicas e sociais, ele não tinha tempo de investir em escapadas românticas, embora seus olhos de vez em quando se encompridassem para o rapaz chamado Callahan, dois anos mais velho do que ele e muito atraente. Mas o tal cheiro perturbava-o demais, fazia-o se sentir... inebriado, inquieto, alucinado. A intensidade era quase asfixiante, embaçando-lhe o pensamento.

O que estava acontecendo com ele?

Então ele se lembrara de uma carta de sua mãe, uma que ele mal dera importância. Tinha sido em meados do ano anterior, em plena loucura dos OWLs. Ela falara sobre família, sobre ancestrais, sobre a tradição dos Prince de serem grandes magos, algo assim... Severus não dera muita importância por causa do ódio que tinha da mãe, ódio e pena, na verdade. Eileen era uma bruxa, uma bruxa de uma família tradicional, então como ela se deixava ser abusada e escravizada por um Muggle nojento como Tobias Snape? Felizmente seu avô Prince o incentivara a aprender tudo sobre as Artes das Trevas e a fortalecer sua educação bruxa. Severus se orgulhava de ser bruxo, mesmo que fosse apenas meio-sangue, e ele não entendia a atitude de sua mãe, acovardando-se desse jeito.

No verão, Severus recebera mais uma palestra da tradição da família Prince, de suas conquistas bruxas, seus ancestrais e orgulhos. Dessa vez tinha sido do avô, uma pessoa a quem ele admirava. Ele se lembrava de que, nessa conversa, o avô lhe pedia que escrevesse se sentisse algo extraordinário ou fora do comum. Na hora o rapaz não dera muita importância. Mas naquele momento, meses depois, sem saber direito por que ou como pensara nisso, Severus viu-se escrevendo a seu avô sobre um estranho cheiro em Hogwarts que o perseguia há semanas.

TBC