Mais do que palavras

N.A.: Gente! Demorou mas veio a prometida fic! Olha, não aconteceu como eu tinha imaginado... era para ela ser spoiller 1 a 5, mas como li o 6, tive que dar uma modificada no enredo. A fic é Pós-Hog, ok? A música do primeiro cap é "In the shadows" do The Rasmus, sabem como é, né? Eu não resisto a uma musiquinha nos caps... Bom, espero que gostem:


Capítulo 1 - Caprichos do destino

"Todos os homens buscam a felicidade. E não há exceção. Independentemente dos diversos meios que empregam, o fim é o mesmo. O que leva um homem a lançar-se à guerra e outros a evitá-la é o mesmo desejo, embora revestido de visões diferentes. O desejo só dá o último passo com este fim. É isto que motiva as ações de todos os homens, mesmo dos que tiram a própria vida." (Blaise Pascal)


No sleep
(Sem descansar)

No sleep until I'm done with finding the answer
(Sem descansar até eu conseguir achar a resposta)

Won't stop
(Não vou parar)

Won't stop before I find the cure for this cancer
(Não vou parar antes de achar a cura para este câncer)

Sometimes I feel like going down, I'm so disconnected
(Às vezes eu sinto um desânimo, estou tão desconectado)

Somehow I know that I am haunted to be wanted
(De algum jeito eu sei que eu estou sendo perseguido para ser preso)

Correr, tudo o que pensava e se esforçava para fazer era correr. Seus pulmões doíam pela dificuldade e a falta do ar. As pernas, já feridas o bastante para fazê-lo se jogar no chão e não querer mais levantar, faziam um último sacrifício, ou o impulsionavam, ou paravam e encaravam seu destino, e este poderia ser o momento derradeiro com o qual sempre nos deparamos, a morte.

Um obstáculo surgiu no caminho: o tronco de uma árvore caído. Por que em sua vida sempre apareciam obstáculos? Ele nunca tinha sido um obstáculo para ninguém. Achou que sua perna não conseguiria passar por sobre o tronco, mas conseguiu, quase caindo em seguida. Aquela floresta escura e gelada foi a melhor saída que encontrou, entretanto, obstáculos não faltavam. Primeiro, um rio de águas profundas e geladas pelo o qual teve que nadar, e depois esse tronco. Sem mencionar que o fato de estar ensopado causava um frio incontrolável, fazendo com que tremesse da cabeça aos pés enquanto corria.

Quando chegaria ao prédio que estava à frente? Podia ver, elevando-se acima da copa das árvores mais distantes um grande edifício, com colunas gregas e janelas iluminadas. Não se lembrava do que funcionava naquele local. Por mais que pressionasse seu cérebro para recordar.

Mais um esforço profundo o levou a correr por vinte minutos. Morto, já estava quase morto quando finalmente viu o muro. Precisava se esconder, e rápido. O que aconteceria se o encontrassem? Seu pai não o perdoaria, com certeza morreria antes de pensar em fazer qualquer coisa. Por que era tão idiota? Como se deixou apanhar? Deveria ter sido mais cuidadoso e pensado melhor antes de tomar as atitudes que tomara.

They say that I must learn to kill before I can feel safe
(Eles dizem que eu preciso aprender a matar antes de me sentir seguro)

But I, I'd rather kill myself than turn into their slave
(Mas eu, eu prefiro matar a mim mesmo a me tornar um escravo deles)

Sometimes I feel that I should go and play with the thunder
(Ás vezes eu sinto que eu posso ir e brincar com o trovão)
Somehow I just don't wanna stay and wait for a wonder
(De algum jeito, eu não quero ficar e esperar por um milagre)

Com muita dificuldade, pulou o muro. Do outro lado, um prédio de três andares e no térreo, uma janela aberta. Perfeito. Parou de correr e sentiu-se desabar no chão. Arfou por alguns segundos até recuperar o ar, mas não recuperou a sanidade, seu corpo doía mais do que nunca. Malditas maldições! Pegou a varinha e pronunciou um feitiço para desarmar a proteção da janela, mas o disse sem palavras, apenas movimentando os lábios. Esse era seu primeiro castigo. Não falaria mais, ficaria mudo. O feitiço não funcionou, provavelmente não estava apenas sem falar.

Ótimo! Agora, além de mudo, estava proibido de praticar magia! Enfiou a varinha no bolso e caminhou, arrastando-se, até a janela. Aproximou cautelosamente a mão da abertura e fez o teste, ela passou sem problemas. Quem era o bruxo imbecil que deixava a janela aberta e não fazia nenhum feitiço protetor nela? De qualquer maneira, isso o favoreceu, portanto, não reclamou. Pulou a janela e entrou no pequeno apartamento.

A dor em seu abdômen era tamanha que antes de procurar um local seguro colocou a mão sobre o ferimento e ao tirá-la assustou-se com a grande quantidade de sangue que ensopou a mão. Iria morrer, e isso era certo. Impressionado com tudo e exaurido pelo esforço físico, desabou no chão, inconsciente, antes que pudesse se esconder.


Exausta, estava realmente exausta. Não conseguia nem sequer raciocinar com clareza quando abriu a porta de seu dormitório. Aquele trabalho no refeitório da faculdade acabava com qualquer uma! Mas pelo menos ela podia estudar, além de ter moradia de graça. Não teria condições de pagar a mensalidade da Faculdade Britânica de Médi-Bruxaria, não mesmo. Aquela era a melhor do mundo na especialidade que ela queria, médi-bruxa pediatra. A solução era se esforçar e trabalhar para estudar, essa bolsa-emprego era tudo o que precisava.

Espreguiçou-se e fechou a porta atrás de si. Como conhecia bem o lugar onde morava há oito meses, andou sem acender qualquer luz. O plano era se jogar na cama, sem nem mesmo se trocar. Uma vozinha chata no fundo de sua mente a lembrava que tinha prova de anatomia no dia seguinte e deveria estudar, mas fez questão de não ouvir.

Andava até a cama quando de repente topou com algo e caiu por sobre o que quer que fosse aquilo. Gritou com o susto, mas logo se recompôs. Estava sobre uma pessoa, pois pôde sentir a respiração lenta e sofrida sob si. Mas como alguém havia entrado em seu dormitório? Levantou os olhos e viu a janela aberta, xingou-se por ser tão distraída e esquecê-la assim.

Surpresa, saiu de cima da pessoa, que presumiu ser um homem pelo porte e murmurou um feitiço para acender as luzes. Logo que colocou os olhos sobre o homem, levou um grande susto.

Cabelos louro platinados, vermelhos em alguns pontos por estarem manchados de sangue... um pequeno desespero apoderou-se de Gina. Ao mesmo tempo tentava raciocinar. Já tinha visto aqueles cabelos antes, e não eram cabelos de uma cor banal. Aproximou-se do ferido, tirando a franja um pouco comprida do rosto dele. Estava muito ferido com cortes e hematomas, mas conseguiu reconhecê-lo.

Era ninguém mais, ninguém menos que Draco Malfoy!

O que ele fazia ali, em sua residência? Em quais circunstâncias aqueles ferimentos haviam sido feitos?

Não sabia o que pensar nem o que fazer. Levantou-se confusa. Deveria avisar alguém? Harry, Rony, ou alguém da faculdade? Afinal, um procurado Comensal da Morte estava ali, desmaiado. Mas antes de tomar qualquer atitude, percebeu que sua roupa havia se sujado de sangue ao cair sobre ele. Malfoy estava ferido, e ela, como futura médi-bruxa não poderia deixá-lo assim.

Abaixou-se sobre o ferido e o observou. Era impressionante a quantidade e também a gravidade dos ferimentos. O que haviam feito a ele? Os feitiços usados eram dos mais poderosos, pois Malfoy tinha cortes por todo o corpo, hematomas púrpuras, e sangramentos dos mais intensos. Ficou compadecida com a situação do inimigo. Até mesmo na face ele tinha cortes, e um enorme marcava sua bochecha. Sua fisionomia era de sofrimento e exaustão. Parecia perturbado, pois seus olhos remexiam-se sob as pálpebras. Era verdade que Malfoy nunca tinha sido bom com ela, sempre fora um grande inimigo, mas não conseguia ver alguém daquela maneira sem se emocionar.

"Você está alimentando uma cobra, Gina Weasley!", não pôde evitar o pensamento ao levitá-lo e colocá-lo suavemente sobre sua própria cama. Era melhor cuidar sozinha de tudo, pelo menos os primeiros socorros, se avisasse alguém sobre a presença do moço eram capazes de não socorrê-lo. Os professores da faculdade já estavam irados demais com os comensais depois que eles explodiram uma ala do hospital universitário atrás de um dos aurores quinze dias antes.

Seu cansaço sumiu de repente. A adrenalina de tentar salvar aquela vida, mesmo que ele não merecesse, era tanta que não pensava em mais nada. Primeiro limpou todos os ferimentos, como aprendera. Os feitiços que sabia ainda eram fracos, pois era aluna do primeiro ano e não tivera a oportunidade de estagiar no hospital, mas deveriam ser suficientes para evitar que ele morresse.

"Você está salvando a vida de Draco Malfoy, alguém que a mataria sem pensar duas vezes...", pensamentos como esse ocorriam a ela durante todo o trabalho. Fechar os cortes não fora nada fácil, exigiu uma porção de feitiços e mais goles de uma poção que aprendera e sempre carregava consigo. Seu medo era de não conseguir regenerar órgãos vitais, outra poção deveria dar conta disso.

Lembrou que Malfoy já tinha passado por uma situação semelhante quando fora atingido por Harry com o Sectumsempra. Gina não tinha certeza se era o mesmo feitiço usado desta vez, se fosse, ele ficaria com muitas cicatrizes.

Depois de três horas, o socorro estava terminado, e ele continuava desacordado, contudo não parecia mais desmaiado, deveria estar adormecido. Percebeu que ele se debatia um pouco e tinha no semblante uma expressão aflita. O mais estranho era que ele mexia a boca e nenhum som saia. O que teriam feito? Mas Gina estava cansada demais para pensar sobre isso e acabou adormecendo em uma poltrona ao lado da cama.


Lately, I've been walking, walking in circles
(Ultimamente, tenho andado, andado em círculos)

Watching, waiting for something
(Observando, esperando por algo)

Feel me, touch me, heal me
(Me sinta, me toque, me cure)
Come take me higher
(Venha me deixar melhor)

Estava vivo ou havia mesmo morrido? Ficou na dúvida ao sentir-se acordado, afinal a dor que sentira era quase nula. Para onde tinha ido a sensação de ser atropelado pelo Expresso de Hogwarts? Draco não sabia. Lentamente abriu os olhos. Primeiro viu um teto, colorido, com estrelas amarelas brilhantes e uma meia Lua, depois, baixou o alvo de visão e viu, em frente à cama na qual estava deitado, uma grande estante, cheia de livros grossos. Reparou em si. Estava coberto por uma colcha cor de rosa pink, era de dar ânsias, mas não podia reclamar. Só concluiu que aquele não era o paraíso e também não podia ser o inferno, lá não deveriam ter dragõezinhos e lobinhos de pelúcia.

Aos poucos, lembrou-se da noite anterior. Estava no quarto de alguém, ou melhor, de alguma garota. Havia corrido pela floresta, fugindo da cabana na qual estava escondido e fora descoberto por seu amado pai, isso depois de uma incessante tortura e um feitiço para "ensiná-lo a não dedurar seus companheiros". Podia ouvir a voz irada de Lúcio como se ele estivesse ali.

Diante das terríveis lembranças cobriu a cabeça com o cobertor rosa. Seu mundo não podia ser assim? Cor de rosa? Por que tudo para ele tinha que ser sempre cinza, preto, frio, gelado? Assustado com a perspectiva de sofrer mais torturas acabou adormecendo novamente, não estava totalmente recuperado.

Quando acordou mais uma vez, o quarto não estava mais iluminado pela luz do dia, estava escuro e já deveria ser noite. Mais consciente de tudo, tentou se levantar para fugir dali, aquele local não deveria ser seguro o bastante para passar mais de um dia. Entretanto, quando tentou se levantar, uma tontura o invadiu, a visão distorceu-se e foi forçado a deitar novamente.

Ficaria preso mais um tempo. Deitado, pensou no que aconteceria se Lúcio o descobrisse ali e entrasse pela porta, irado, proferindo maldições imperdoáveis para todos os lados. Não era uma visão agradável. Ouviu a porta se abrir e ficou atordoado, seu pensamento se tornara verdade?

Apreensivo, cobriu a cabeça com o cobertor, com medo de ver o que imaginara. Depois de uns minutos criou coragem e descobriu a cabeça. Primeiro viu um braço de mulher, fino e delicado, segurando algo no corredor, e depois um lampejo de cabelos vermelhos como o fogo, cabelos que lembravam alguém que ele conhecia, mas não era capaz de ligar a ninguém especificamente. Respirou aliviado, não era seu pai.

Depois de uma manhã cansativa e uma tarde de trabalho nada produtiva, Gina foi para seu dormitório. Acabava de anoitecer e seu chefe, percebendo o quanto estava cansada, a dispensou de ficar servindo no refeitório durante o jantar. Ótimo, pois sem dormir direito a noite, não conseguia fazer nada certo. O pior foi a prova, aquele seria um zero redondo, com certeza.

Pelo menos tinha conseguido a poção que cicatrizaria os ferimentos internos de Malfoy. Seu professor de poções curativas a ajudara, dando um vidro cheio e ensinando-a a fazer mais, curiosamente sem questionar nada. Deixou a poção no móvel do corredor de entrada e foi até o quarto, ver como seu primeiro paciente estava.

A surpresa de Draco ao deparar-se com Gina Weasley entrando pelo quarto foi impressionante. Ao vê-la fez a ligação dos cabelos vermelhos vivos, eram cabelos Weasleys, isso era óbvio! Agora estava definitivamente ferrado!

-Boa noite, senhor Malfoy. Como vai a estadia no hospital Weasley? Espero que esteja se sentindo melhor. - Gina não pode resistir caçoar dele, afinal, a cara de espanto fora hilária.

Ela se aproximou e tentou colocar a mão sobre a testa dele para ver se estava com febre, mas Malfoy a empurrou, bruscamente, e se sentou na cama. Draco não podia admitir uma Weasley o medicando! E o pior, nem podia ofendê-la!

-Vai dar uma de criança mimada agora? Não percebe que fui eu que curei aquelas feridas que estavam por todo o seu corpo? - Gina riu diante da expressão ofendida dele. -Calma, não te vi pelado não, não foi preciso. - ela gargalhou e o viu roxo de raiva. -Não vai me xingar, ofender? Esqueceu-se que sou a Weasley pobretona e tudo o mais? Ah, não esqueceu, você não está com cara de amnésia.

Ficou intrigada. Por que ele não dizia nada? Observou Malfoy expressar sua ira e mover os lábios sem proferir nenhum som. Ele estava mudo? Só poderia ser. Sem conseguir se segurar, caiu na gargalhada. Era muito engraçado vê-lo xingá-la sem som.

"Sua Weasley imunda! Vai ficar rindo de mim agora é?", Draco pensou muito nervoso, primeiro tentava ofendê-la e não conseguia e depois ela ria dele, como se ele fosse qualquer um! Absurdo! Irritado sentou-se e tentou segurá-la para que parasse, pegou-a pelos pulsos e conseguiu fazê-la deitar na cama, ficando por cima dela, mas ela não parava de rir.

-Me solta, Malfoy! - ela respondeu entre gargalhadas e se desvencilhou facilmente dos braços dele. Realmente estava fraco ainda, não conseguira segurá-la. -Já sei o que aconteceu. Você não pode falar!

Draco deu um olhar que expressava seu pensamento: "Nossa, brilhante!", a ironia não faltava. Ela era burra assim sempre? Ainda bem que nunca tentara conversar com esse ser antes.

-Precisa fazer essa cara? - Gina ficou irritada com ele, estava desprezando-a! -Você deveria ficar grato, sabia? Eu te curei.

"Então deve ser por isso que estou com seqüelas!", Draco revirou os olhos e fez que não com a cabeça. "Não ache que ficarei grato!".

-Queira ou não, você é meu paciente. - Gina continuou, ignorando as caretas dele. -E vou curá-lo completamente, é minha obrigação como futura médi-bruxa.

"Ah, não! Ela disse futura médi-bruxa? Estou perdido...", fez as contas, a Weasley deveria ser um ano mais nova que ele, já que o Weasley era da sua idade, portanto ela estava no... Primeiro ano da faculdade! Estava mesmo perdido... Tinha uma enfermeira Weasley e ainda no começo da faculdade.

-Só que preciso saber... o que o trouxe aqui? Por que está mudo? - Gina estava curiosa, e não poderia cuidar de alguém assim, sem saber nada... O que será que havia acontecido com o Malfoy depois de Hogwarts? Não o vira desde a morte de Dumbledore, que deveria ter sido executada por ele. O que ouvira era apenas especulação do Profeta Diário. Agora que os Comensais da Morte estavam reunidos, guiados por Belatriz, tudo era especulação.

"Você quer que eu lhe diga!", Draco pensou olhando entediado para ela. Se era tão curiosa, por que não descobria sozinha!

Gina lembrou-se de que ele não podia falar.

-Ah, é. Você não fala! - disse rindo mais uma vez, em pé de frente a cama na qual ele estava. -Mas acho que pode escrever, né?

Como ela conseguia ficar tão descontraída numa situação daquela? Era o que Draco se perguntava ao vê-la virar-se para a estante e revirá-la a procura de papel e pena. Era mesmo verdade que os Weasleys não batiam bem... Em seguida ela se virou com o material necessário e colocou sobre o colo dele.

-Pode escrever. O que aconteceu? - Gina perguntou e ficou observando Malfoy enquanto ele esforçava-se para segurar a pena, molhá-la na tinta e desenhar algumas palavras. Ele parecia ainda muito cansado.

"Sua Weasley imbecil, não interessa o que aconteceu comigo, enxerida!" - Draco escreveu e jogou o papel em cima de Gina.

-Você está melhor do que eu imaginava. - ela disse depois de ler o que ele havia escrito. -Os xingamentos indicam que não perdeu a memória e continua o mesmo Malfoy desprezível e mimado de sempre. - o seu tom de voz não era irritado, era mesmo descontraído, o que deixava Draco mais revoltado. -Mas se você não me disser porque está mudo, serei obrigada a parar de medicá-lo e entregá-lo ao Hospital Universitário, e lá, eles não gostam muito de comensais...

Emburrado, Draco estendeu a mão e pegou novamente o pergaminho. Escreveria o que ela queria, afinal, não sabia exatamente como o Ministério o trataria se fosse capturado, ou pior, sabia como Lúcio o trataria se fosse capturado.

"Uma maldição".

-Isso eu imaginava. - Gina disse entediada. -Explique melhor.

"Fui descoberto por fazer algo que não devia e recebi meu castigo. Satisfeita agora?"

-Não. Quem fez isso? - era tão difícil assim para ele explicar as coisas? Gina estava começando a não gostar nada nada da idéia de cuidar dele.

"Você não precisa saber".

-Mas como você é chato! Estou dizendo que vou te entregar.

Aquela Weasley era a mais teimosa da família! Draco não queria contar coisas pessoais para alguém que considerava sua inimiga e que poderia usar isso contra ele, mas não tinha escolha, acabou escrevendo, após um grande dilema:

"Lúcio".

Gina não acreditou quando pôs os olhos no pergaminho. O próprio pai havia feito isso com ele? Esse homem que trazia más lembranças era mesmo alguém cruel. Deixar Malfoy mudo poderia ser um castigo de pai para filho, contudo, aqueles ferimentos não poderiam ser feitos por um pai que ama seu filho. Quase o mataram.

-Seu pai fez isso? Que horror! - Gina não pode evitar a exclamação. Mas após escrever quem lhe fizera aquilo Draco havia se virado de costas para ela. Não queria mais conversa.

Compadecida com a situação, Gina achou melhor deixá-lo descansar e parou de insistir no assunto. Mas estava receosa, deveria cuidar dele ou entregá-lo? O que Harry a aconselharia? Gina sentia falta dele... Desde o sexto ano em Hogwarts estavam dando um tempo... Para ela aquilo era o mesmo que terminar. No começo havia entendido o lado dele, mas agora o Lord das Trevas estava quase derrotado, era verdade que ainda existia um Horcrux, mas Harry poderia ter reatado o namoro antes de acabar com esta última.

Fora um pesadelo, quando Gina pensou que tudo tinha acabado, quando seu namorado tinha conseguido derrotar o seu maior inimigo, algo estava errado. Harry havia matado o Voldemort refeito com o sangue dele mesmo, mas um erro deixara o inimigo na vida miserável proporcionada pelas Horcruxes. Existia mais uma delas. Era o que os Comensais da Morte e a líder deles, Belatriz Black, alegavam.

Pensando nisso, foi até a estante, pegou alguns livros que precisava e caminhou até a mesa no corredor, era melhor estudar e cuidar do seu presente, não pensando no futuro ou no passado. Não queria ir tão mal nas outras provas como fora na de Anatomia, ou perderia sua bolsa. Achou melhor ocupar sua mente, pensaria em como resolver a situação de Malfoy depois.

Draco não gostava nem um pouco de contar esse tipo de coisa a ninguém, mas toda a situação o fez acabar revelando o que Lúcio fizera. Somente um pouco depois pensou que não poderia ter contado justamente para a Weasley, ela acabaria concluindo que sua família cheia de irmãos era mesmo melhor que a dele. "Seria mesmo?", Draco começou a se questionar. Tudo o que ele havia aprendido a acreditar poderia ser mentira, poderia estar errado. Quem confirmava que o orgulho e a riqueza eram os melhores adjetivos para uma boa família? Ninguém... Assim como ninguém apareceu para ajudá-lo quando correu perigo. Até agora. Logo adormeceu.


Após horas estudando, Gina parou, pois estava cansada demais e não conseguia prestar a mínima atenção ao que lia. Sem mencionar que o que Malfoy disse e toda essa situação a fazia pensar e dispersar-se. Foi dormir, resolveu transfigurar a poltrona em uma cama improvisada, aumentando a parte em que se senta, de maneira que pudesse deitar-se. Como a poltrona ficava ao lado da cama, já que o quarto era ligeiramente apertado, ficou de frente para ele.

Malfoy estava deitado de lado, virado para ela, e Gina, também deitada de lado, ficou observando-o. Ele não estava muito mudado fisicamente. Ela não o via desde que ele deixara Hogwarts, ou seja, uns dois anos e oito meses. Tempo suficiente para muitas modificações, principalmente interiores. O que teria realmente acontecido a ele depois que falhara na missão de matar Dumbledore? Pensava que ele havia sido morto, mas estava enganada.

O que ela pôde perceber claramente era a grande diferença de vê-lo dormindo e acordado. Poderia dizer que era quase outra pessoa. Com aqueles olhos cinzentos e frios fechados, Gina podia dizer que ele era muito menos intimidador. Sem ter os lábios contorcidos com a ironia que costumava estar presente, pareciam mais suaves. O rosto relaxado, sem arquear as sobrancelhas, davam um ar quase angelical a ele, emoldurado pelos cabelos claros. Podia dizer que Draco Malfoy era bonito, fato que ela nunca tinha percebido, já que o olhava sempre com rancor e irritada porque ele a provocava noventa e nove por cento das vezes que se encontravam nos corredores da escola.

Dormiu o observando e quando acordou não pôde se lembrar do sonho, mas tinha alguma relação com ele. Se odiou, pois se continuasse assim, acabaria se deixando levar por sua doença crônica! Paixonite aguda! Por que tinha que se apaixonar tão fácil? E sempre por alguém impossível de correspondê-la.

"Você está é carente Gina! Isso porque o seu namorado ao invés de pensar em você, quer salvar o mundo! Tá, e a si mesmo...", pensou irritada.

Primeiro ela se apaixonara por Harry, só de vê-lo na Plataforma nove e meia, e quando soube quem ele era por sua mãe, através de uma carta de Rony, aí que se perdeu. Depois teve uma quedinha por Michael Corner só por ele ter sido gentil e chamá-la para sair quando ninguém queria. E por Dino, quando ele a consolou depois de Michael trocá-la por Chang... Era verdade que durante todo o tempo fora apaixonada por Harry, mas isso não impedia que se interessasse por outros enquanto não estava com ele, enquanto ele não a enxergava. E quando ele o fez, a sua vida fez sentido e sentiu-se orgulhosíssima por conseguir realizar um sonho. Mas Harry não seria somente isso, um sonho de garotinha? Agora que estava afastada dele, tinha sérias crises de identidade.

Antes de sair na manhã seguinte escreveu um bilhete e colocou a poção que o professor lhe dera no criado-mudo, ao lado de Malfoy para que ele tomasse quando acordasse, todavia quando chegou do emprego, a noite, ela não tinha sido tocada. Malfoy ainda dormia? Parecia que sim. Tinha dormido o dia todo.

Novamente estudou e foi dormir, achou melhor não acordá-lo, pois ele estava se recuperando de ferimentos graves e não devia ser nada simples para o organismo dele.


I've been watching, I've been waiting
(Estive observando, estive esperando)
In the shadows for my time
(Nas sombras pela minha vez)
I've been searching, I've been living
(Estive procurando, estive vivendo)
For tomorrows all my life
(Pelo amanhã, toda a minha vida)

Quando Draco acordou pela manhã viu ao lado da cama, no criado-mudo, uma vasilha e um bilhete.

"Ao acordar, tome esta poção, ela repara feridas internas. Mas apenas feridas físicas, não emocionais. Sinto muito pelo o que seu pai fez. Nem você merece algo assim.

Weasley, Gina Weasley"

Sentou-se para tomar a poção, mas viu que não estava sozinho, a Weasley dormia na poltrona, que estava transfigurada para ficar mais comprida, virando uma cama. Por que ela tinha escrito o bilhete e ainda estava lá? Draco não entendeu. Só compreendeu que ela não era tão desprezível quanto ele pensava. Afinal, a moça havia cuidado dele e até o confortava naquele bilhete. Talvez não quisesse mais ser sua inimiga, mesmo ele sendo um Malfoy e ela uma Weasley.

"Pare de besteiras, Draco! Você não está nada bem, essa confusão toda está te confundindo...", disse a si mesmo, querendo se convencer. Na verdade, Draco estava sensível depois de tudo o que aconteceu, depois de ter quase morrido algumas vezes. E alguém que resolvia tratá-lo bem acabava sendo admirado. Ele sentia que talvez sua vida não precisasse mais ser tão fria, tão escura... Poderia ter alguém para apoiá-lo nos momentos difíceis e ajudá-lo a fechar as feridas, abertas a muito mais tempo do que parecia.

Sentia-se bem melhor. Mesmo assim tomou a poção. E depois dobrou o bilhete, guardando-o embaixo do travesseiro, assim não comentaria nada sobre ele com e a Weasley, ou seria Gina Weasley? Ela queria que ele a chamasse de Gina? Talvez... Olhou novamente para a poltrona, a Weasley dormia profundamente, ainda devia ser bem cedo, ela não saía para a faculdade? Por suas contas era sábado, mas não tinha certeza se ela tinha aulas nos sábados.

Ela parecia tão... tranqüila ali, dormindo. A vida parecia tão simples, tão fácil para ela. Não parecia ter nenhuma dificuldade, nenhum pesadelo que a chacoalhasse e fizesse despertar sobressaltada, como acontecia com ele. Ela simplesmente dormia.

Os grandes e brilhantes olhos castanhos estavam escondidos sob as pálpebras e seus compridos e volumosos cílios, o cabelo cacheado brilhava avermelhado caído sobre o rosto e espalhando-se pelo travesseiro. E a respiração era calma e constante. Draco reparou que ela era mesmo bonita. E se questionou: "Uma Weasley pode ser bonita?".

O fato era que depois desse reencontro inesperado, a vida de ambos não seria mais a mesma. O destino que impulsionou Draco a entrar pela janela do dormitório de Gina naquela marcante noite reservava muitas surpresas para os dois, algumas boas, outras não...


N.A.:
Ta-ram! E ai, o que acharam desse comecinho? REVIEWS JÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁÁ!

Nossa, me empolguei mesmo desta vez, he, he! Ai, tenho tantos agradecimentos a fazer, bom, primeiramente ao meu maninho, Victor Ichijouji, que vem me apoiando nessa idéia desde o útero e ajudou muito nas modificações no enredo do quinto para o sexto livro, segundamente a minha beta-reader, a Michela, que é uma linda, um amor e que corrigiu muita coisa nesse primeiro cap, também a MaryMadMalfoy que nos primórdios betou a fic (eu mudei tudinho, né, Mary!) e também a todo muito que me encontrou no MSN e eu pedi para ler, leu e me encorajou a escrever, nem vou citar porque foi muita gente! Valeu mesmo amigas!