Capítulo VII

Os grandes olhos castanhos de Padfoot miraram o dono com piedade enquanto a cabeça peluda e dourada era depositada sobre o joelho de Harry, que olhava para a parede oposta ao sofá onde estava sentado sem muito interesse. Instintivamente a mão ergueu-se para poder acariciar o cão que soltava pequenos resmungos do fundo da garganta em simpatia ao estado miserável de seu mestre. Alheio a isso Harry continuou acariciando o cachorro enquanto se perdia em pensamentos. Não tinha ainda entendido direito o que havia acontecido há uma semana atrás e esse último mês foi uma loucura e passava em sua mente como um borrão, como um sonho doido e doloroso. Por breves minutos ele teve a chance de recuperar Draco, mas essa chance escorreu pelos seus dedos como água. Por quê? O que ele tinha feito de errado? Por que Draco tinha ficado tão furioso por ter recuperado a memória? O que havia por detrás da sua falsa morte que ele não queria recordar? Padfoot soltou outro choramingo piedoso e Harry sorriu um pouco para o animal, batendo com a mão sobre o assento do sofá ao seu lado, incitando o cachorro a subir. Com um latido ele pulou sobre o sofá e com o focinho molhado começou a cutucar a bochecha do moreno em sinal de carinho. O auror passou o braço por sobre o pescoço peludo e depositou a sua cabeça sobre ele, aceitando o consolo do canino. Por dias seus amigos tentaram fazê-lo reagir de alguma forma, arrancar dele o que tinha acontecido em Refuge, mas Harry recusava-se a relembrar aquela discussão dolorosa e queria muito ficar sozinho, sem Hermione o paparicando como uma mãe preocupada ou Ron tentando animá-lo inutilmente.

-Harry! – um grito e uma batida forte na porta acordou o rapaz do seu estado de torpor e o tirou de seus pensamentos deprimentes. –Harry eu sei que você está aí, abra essa porta agora! – a voz firme de Ron soou do outro lado da maneira enquanto as batidas ficavam mais violentas, fazendo a porta tremer intensamente. O moreno ignorou os apelos do amigo e voltou a olhar de maneira desinteressada a parede a sua frente. –HARRY! – mais um estrondo que quase fez o apartamento tremer e depois de alguns segundos o silêncio e de repente.

BAM!

A porta bateu na parede e lá ficou e um ruivo irado apareceu emoldurado pelo portal, com a varinha erguida e ainda fumegando por causa do feitiço usado para o arrombamento. Com força o inominável desprendeu a maçaneta da porta da parede, deixando um buraco para trás enquanto colocava a madeira de volta ao batente. Assim que esse problema foi resolvido, o rapaz caminhou a passos pesados até o amigo e o olhou duramente, parando a sua frente e cruzando os braços sobre o peito de maneira desafiadora.

-Você vai consertar o estrago na minha parede. – falou Harry com uma voz monocórdia e os olhos sem vida não estavam encarando Rony.

-Assim como vou ter que consertar o estrago que vou fazer na sua cabeça se você não reagir? – ameaçou o ruivo, brandindo a varinha pelo ar em aviso.

-Foi Hermione que o mandou aqui? – o outro perguntou, finalmente voltando o seu olhar para o amigo e Ron pôde ver que os orbes verdes estavam vermelhos, assim como o rosto do rapaz. De duas a uma, ou Harry passou as últimas noites de reclusão em claro, ou passou chorando, e ele iria descobrir o porquê hoje ou não se chamava Ronald Weasley.

-Meu caro, você tem sorte que eu consegui persuadir Hermione a não vir. Ela já estava começando a considerar testar a nova fusão dela em você! – respondeu sarcástico e acariciou a cabeça de Padfoot, que rapidamente saiu de cima do sofá para ceder lugar ao inominável. –Harry, o que foi que aconteceu? Há uma semana você desaparatou de Hogsmeade decidido a por um fim nessa história sobre o Malfoy e quando volta, volta com uma cara de que o seu animal de estimação foi atropelado. O que houve? Não funcionou? Ele ainda acha que é Elliot Hart?

-Sim e não. – respondeu Harry dando de ombros, não querendo realmente falar sobre isso, mas sentindo que se não desabafasse com alguém iria explodir. Padfoot era um ótimo ouvinte, mas um péssimo conselheiro, e ele precisava de alguém que soubesse formar sentenças que fossem além dos latidos. Não que Rony fosse o rei da psicologia moderna, mas no momento dava para o gasto. –Ele se lembra de quem é, mas não aceita o fato. – o ruivo piscou os olhos azuis, não entendendo nada e Harry virou-se para olhar o amigo intensamente, a vida parecendo voltar aos poucos dentro dos orbes verdes à medida que começava a relatar os acontecimentos passados. –Ele se lembra que é Draco Malfoy, mas se recusa a aceitar isso, dizendo que é Elliot Hart. Ele me expulsou a pontapés da casa dele, disse que eu estraguei tudo, que sou um idiota egoísta que não sabe de nada e que eu não tinha o direito de arruinar a vida dele. Que ele estava feliz como estava. Eu não entendo, pensei que ele fosse uma vítima das armações de Dumbledore, mas ele não pareceu muito perturbado por ter perdido a sua identidade no mundo bruxo, na verdade ele pareceu mais perturbado em recuperá-la. Não entendo mesmo. – concluiu o rapaz inspirando profundamente para recuperar o fôlego depois desse desabafo. Rony virou-se no sofá para poder encarar a mesma parede que Harry tanto observava quando chegou, e franziu as sobrancelhas apimentadas.

-Está querendo me dizer que o Malfoy se recusa a ser um Malfoy? – ponderou Ron e Harry deu um aceno positivo com a cabeça. –Então me explica como foi que isso aconteceu? – continuou o ruivo, remexendo dentro de suas vestes e puxando um exemplar do Profeta Diário daquele dia, um que Harry nem se prezou a olhar quando a coruja o trouxe pela manhã. O inominável entregou o jornal ao amigo, onde na primeira página estava a manchete:

CHEGA AO FIM O INVENTÁRIO DA FORTUNA MALFOY

O inventário relacionado à fortuna Malfoy que estava discorrendo há dez anos desde a morte de seus últimos herdeiros finalmente foi encerrado. A briga entre os parentes mais próximos para obter uma fatia do dinheiro foi terminada quando ontem à noite o Ministério da Magia recebeu uma carta cujo em anexo vinha um testamento autêntico – segundo os especialistas do Ministério – de Draco Malfoy, o qual quotamos:

"Venho em nome deste documento expressar que como herdeiro direto dos Malfoy tenho livre decisão sobre o destino da fortuna da família caso o nome Malfoy venha a se extinguir. E, por isso, faço meu desejo que todos os bens em meu nome sejam entregues a minha tia Adromeda Tonks e a minha prima Nifandora Tonks após a minha morte. E todos os bens pertencentes a Lucius Malfoy e que receberem aprovação do Ministério podem ser leiloados e seus lucros redirecionados ao Hospital St. Mungus para Doenças e Acidentes Mágicos e a criação de bolsas de estudos para a Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts."

Harry continuou lendo a matéria que explicava o porquê da fortuna Malfoy estar em inventário, contava também um pouco da história dos Malfoy's e por fim chegava à parte em que relatava o dia das suas mortes, quando foram encontrados em sua mansão com a marca negra pairando sobre a casa e escritos nas paredes que os acusavam de serem traidores.

-E daí Ron? – perguntou o rapaz, devolvendo o jornal ao amigo e Rony sacudiu a cabeça diante da ingenuidade do moreno.

-Harry, Nifandora me disse que não foi encontrado nenhum testamento depois da morte dos Malfoy que pudesse por fim a briga que tinha começado assim que Lucius foi enterrado. Nada foi encontrado na mansão, em Gringotes, os advogados dos Malfoy disseram que Lucius nunca chegou a conversar com eles sobre isso. Acho que o bastardo achava que iria viver para sempre, ou que Voldemort ganharia a guerra ou que ele se safaria da prisão como fez nas outras vezes. Não acha suspeito que depois que você confrontou o Malfoy sobre tudo, surja essa carta com um testamento perdido, com explicações plausíveis para o Ministério, mas que para quem sabe da história é totalmente chula, sobre o porquê esse testamento não foi encontrado? É uma jogada perfeita. Ele continua no mundo dos mortos e através desse documento oficial encerra qualquer pendenga com a família sem precisar se revelar. Agora me diz, se isso não é querer admitir que é um Malfoy, eu não sei o que é.

-Certo, ele usou de seu poder como herdeiro legítimo para poder acabar com a briga em relação à fortuna. Mas você não vê Ron? É um testamento, isso quer dizer que Draco abdicou do seu direito de voltar a ser um Malfoy. Ele deixou tudo para os Tonks e para o St. Mungus e Hogwarts e isso deixa claro que ele não tem nenhuma intenção de voltar ao mundo mágico.

-Talvez você só precise convencê-lo disso, Harry. – respondeu Rony com um sorriso misterioso e Harry o olhou de maneira desconfiada.

-O que você quer dizer com isso? – perguntou o rapaz com um tom perigoso na voz. Ron sabia de algo, algo sobre o Malfoy e que ele não iria lhe contar nem sob tortura.

-O que eu quero dizer é que – o ruivo levantou-se do sofá e ajeitou as vestes de maneira displicente, desfazendo uma dobra aqui e acolá. – um nome é apenas um nome. Não importa se ele é Elliot Hart ou Draco Malfoy, se ele é realmente o cara que você ama, eu não o deixaria escapar desse jeito. Você teve uma segunda chance Harry, para que perdê-la revirando mágoas do passado quando o presente é o que conta? – terminou, olhando de maneira significativa para o amigo e depois abrindo um grande sorriso, inclinando-se um pouco e apertando o ombro dele em sinal de conforto e apoio. –Vai dar tudo certo companheiro, acredite. – deu uma piscadela marota e com um aceno de despedida caminhou para a porta, sendo acompanhado de perto por Padfoot. Fez um carinho na cabeça do cachorro e antes de fechar a porta atrás de si para ir embora, ainda virou-se para Harry e disse:

-Tonks disse que te espera de volta amanhã no trabalho, que a moleza acabou. Ela anda meio besta desde que ficou mais rica. – riu divertido e Harry o acompanhou. –E eu se fosse você colocaria uns feitiços bem reforçados nesta porta porque a Mione disse que iria lhe fazer uma visita depois do trabalho. – ergueu uma sobrancelha para o amigo e gargalhou quando o moreno encolheu os ombros e fez uma careta, antecipando o pior. –Boa sorte. – despediu-se e fechou a porta atrás de si.

Renovado com a visita do amigo, Harry ergueu-se do sofá pronto para colocar toda a sua vida em ordem e decidido a resolver qualquer problema relacionado à Draco. Mas quando foi dar um passo em direção ao banheiro e sentiu que algo pesava em sua perna, olhou para ela desgostoso, vendo o gesso ainda como um apetrecho bizarro e pálido na sua perna morena. Bem, que Draco e trabalho ficassem para mais tarde, porque primeiro ele iria ao St. Mungus tirar essa porcaria. Realmente odiava ter que se curar da forma trouxa.


O sol se punha atrás das montanhas ao longe, deixando o céu de uma cor vermelho alaranjada. Algumas estrelas começavam a surgir e a silhueta da lua já se arriscava no céu enquanto a grande bola vermelha sumia a cada segundo no horizonte de Refuge, suas cores e luzes se refletindo nos olhos cinzentos que a observava sem nenhum interesse aparente diante do belo cenário que se fazia presente naquele momento.

Elliot abraçou os joelhos, ajeitando-se melhor sobre as telhas escorregadias por causa do limo que se acumulou com os anos de chuva, e depositou a cabeça sobre os braços cruzados, soltando um longo suspiro entre os lábios finos. Ao longe pôde ouvir o telefone de seus avós tocar intensamente e a voz de Elizabeth o atendendo com certo pesar.

"Não, ele ainda não está bem. Não sei quando ele retorna Mônica." – dizia a mulher para a enfermeira que ligava para o rapaz pela quarta vez somente naquele dia. Há uma semana o loiro tinha pedido folga do hospital, dizendo para ser chamado somente em caso de emergência e que não tinha previsão para voltar ao trabalho. Vantagens de ser o próprio chefe. Há uma semana o médico ignorava conhecidos, família e amigos, se refugiando nas matas em companhia de Anúbis, ou então no telhado da casa, coisa que costumava fazer quando jovem para poder observar as estrelas.

"Eu digo a ele." – a voz da Sra. Hart soou abafada do andar inferior e silêncio seguiu-se depois disso, com os olhos cinzentos fixos no céu quase escurecido e no tom alaranjado que sumia gradualmente agora que o sol tinha se posto.

-Elliot. – Owen o chamou pela janela do sótão, espreitando-se pelo buraco para poder alcançar o telhado. Quando se pôs de pé sobre a casa arriscou uma olhada para o chão, vendo que uma queda dali poderia ser dolorosa. Detestava esta mania do neto de se esconder em lugares perigosos quando queria pensar. Mas ele sabia que quando Elliot fazia isso era porque o assunto era sério, e hoje ele iria descobrir o porquê. Há dias que o rapaz estava retraído, mal comia ou falava, dormia mal e às vezes acordava no meio da noite gritando e chorando por causa de pesadelos, fazendo Elizabeth e ele correrem para o quarto do neto para acalmá-lo, e mesmo assim ele não dizia nada. Não contava o que lhe afligia.

-Owen. – respondeu com a voz sumida, com a lua agora sendo refletida em seus olhos cinzentos. Esfregou os braços para poder espantar o frio noturno que estava começando a surgir e sentiu os seus dedos roçarem sobre uma imperfeição em sua pele. Esticou o braço para ver as três linhas finas, as cicatrizes que eram uma de suas várias lembranças de escola. Com o feitiço de memória destruído, os feitiços de camuflagem se foram com ele, assim como o feitiço que bloqueava a sua magia. Tudo foi embora por causa do Potter. Continuou olhando para o mesmo braço, agora os orbes cinzentos percorrendo a pele clara e procurando outra imperfeição nela, a pior de todas, mas não havia nada lá. A marca grotesca que apesar de desaparecida diante da morte do seu conjurador, ainda estava impressa na sua alma junto com as lembranças de todas as coisas horríveis que fez por causa dela.

-Meu filho o que há de errado? – perguntou Owen, acomodando-se ao lado do neto e passando um braço por sobre o ombro dele, o sentindo se encolher sob o seu abraço como se temesse que ele fosse fazer algo.

-Como... – começou Elliot, recolhendo o braço e o cruzando de novo e finalmente mirando o homem ao seu lado. -... Como foi que vocês suportaram? – perguntou com a voz falha e os olhos começando a arder novamente. Sentia-se um tolo e fraco por estar se deixando dominar pelas emoções, mas cada vez que começava a odiar a si mesmo por causa disso lembrava-se que não era mais um Malfoy e, portanto, não precisava mais se esconder por detrás de um nome e uma tradição que por dezesseis anos foi matando-o aos poucos, até que um dia o eliminou de vez.

-Suportamos o quê? – o homem ergueu uma sobrancelha grisalha confuso. Ao menos o rapaz tinha voltado a falar, mas não estava fazendo nenhum sentido.

-A perda de Elliot. – murmurou com uma voz baixa, depositando a cabeça novamente sobre os braços e mirando intensamente o homem mais velho ao seu lado, que recuou assustado diante da pergunta do rapaz.

-Como assim? Não te perdemos Elliot, você está aqui. – respondeu Owen com um sorriso no rosto, mas ainda sim sua expressão parecia perturbada.

-Não precisa fingir Owen, eu sei. O... – hesitou um pouco e engoliu com dificuldade o bolo que estava em sua garganta. – Potter esteve aqui semana passada, naquela noite de tempestade em que faltou luz na cidade e vocês ficaram presos na casa dos Nixon, ele gritou comigo, disse que os Hart não eram os meus pais e que o meu nome é Draco Malfoy. No começo eu fiquei assustado, pensei que ele tinha enlouquecido, mas aí tudo voltou para a minha mente. Todas as lembranças, tudo. – soluçou, escondendo o rosto entre os braços para não ter que encarar a expressão de Owen agora que ele sabia da verdade. Com certeza ele pararia de fingir que o amava e o expulsaria de sua casa agora que ele não era mais Elliot Hart, o neto que ele, Draco, tinha roubado do bondoso casal.

Owen piscou um pouco, vendo aquele homem que conhecia há apenas dez anos – mas que ainda sim tinha um grande espaço em seu coração – se despedaçar diante dos seus olhos. Temia que esse dia chegasse, o dia em que o feitiço de Dumbledore falhasse e tudo viesse a tona. Não queria perdê-lo. A chegada de Draco foi uma chance que Elizabeth – que no começo estava relutante em aceitar, mas depois se rendeu aos encantos daquele menino – e ele receberam de ter o seu neto de volta. Por isso que apesar de ser agradável com o Potter ele tinha as suas reservas. Sabia que a misteriosa chegada do rapaz ia trazer desastre de um modo ou de outro, e não estava errado. Porque se dependesse de Owen, Elliot viveria e morreria acreditando que realmente essa era a sua vida.

-Elliot, eu não sei quanto a você, mas o rapaz que entrou na nossa casa a dez anos atrás, assustado, com a memória fraca e com medo de começar do zero é o meu neto. Não conheci o Draco Malfoy, eu conheci o Elliot. Eu criei o Elliot, paguei os estudos do Elliot, falei para toda a cidade que tinha orgulho do Elliot ser médico. O meu neto. Você éo meu neto, não importa qual vida tenha vivido antes e nada vai mudar isso. – concluiu o homem, o abraçando com força e o trazendo de encontro ao seu corpo.

-Deveria ouvir o seu avô meu querido. – o rosto de Elliot, que estava escondido no peito largo de Owen, ergueu-se para ver Elizabeth sentada no batente da janela observando os dois homens intensamente. –No dia em que Elliot morreu, um pedaço nosso morreu junto. Tínhamos perdido o nosso filho, nossa nora, e de repente perdemos o nosso neto. E então veio Dumbledore, um velho conhecido nosso, e disse que poderia trazer o Elliot de volta. No começo pensamos que ele iria usar aqueles truques doidos de magia que ele conhece e o qual nós somos ignorantes para poder ressuscitar o nosso menino, mas então ele nos diz que um outro menino precisava de um lar, de uma família... de amor. Ele nos deu você. Ele realmente trouxe de volta o nosso neto e se tivéssemos que fazer tudo de novo, faríamos. – Elliot sorriu um pouco, quase não acreditando no que estava ouvindo. Talvez a sua vida não estivesse tão arruinada assim. Porém as suas chances... Sacudiu a cabeça, não querendo pensar nisso. Era doloroso pensar nisso. Potter foi o motivo pelo qual ele decidiu morrer e Potter era o motivo pelo qual ele ressuscitou. Era uma brincadeira tão cruel do destino que ele não sabia se ria da ironia ou se se trancava em seu quarto e chorava pelo resto da vida.

-Agora saia desse frio e venha jantar, você vai ficar doente dessa maneira. – repreendeu Elizabeth de maneira afetuosa e sumiu dentro da casa.

-Sua avó tem razão. Se é por isso que você anda desse jeito, melhor esquecer. Nós te adoramos, você é da família não importa a sua origem.

-Mas as minhas lembranças são uma mentira. São as lembranças do Elliot, não minhas. Eu roubei a vida dele. – ainda tentou argumentar, mas Owen o calou com um aceno de mão.

-Pode ser, as lembranças da infância, de parte da adolescência, mas e depois? Dos dezessete anos em diante são lembranças suas, os amigos que você tem são seus amigos, não os do falecido Elliot. O diploma de médico que você tem na parede é o seu diploma, seu emprego – o outro Elliot queria ser empresário e fazer dinheiro, você queira ser médico e salvar vidas – e, por fim, a vida que você vive agora é a sua vida. Esse é você. É a pessoa Elliot Hart, não o nome Elliot Hart. Então eu sugiro que pare com toda essa besteira e entre logo para comer antes que a sua avó puxe a sua orelha. E pode ter certeza que eu vou ajudá-la nesse caso. – falou já se movimentando no telhado para poder voltar à janela do sótão.

-Obrigado vovô. – respondeu o loiro com um sorriso e secando as lágrimas com as costas das mãos. –Mas mesmo assim eu preciso fazer uma última coisa como Draco Malfoy antes de voltar a ser totalmente Elliot Hart. – disse enquanto acompanhava o homem para dentro da casa.

-O quê?

-Existe uma coisa do meu passado que ainda não está resolvida. Parece que eu andei recebendo muitas segundas chances na vida, e acho que acabei de jogar uma delas fora por causa da raiva e do choque.

-Fala do Potter? – perguntou o homem quando eles chegaram ao topo da escada que levava para o sótão.

-É – começou hesitante e depois deu um pequeno sorriso. – eu falo do Harry.


A chave virou no trinco da porta e o seu barulho ecoou por todo o apartamento. Harry empurrou a madeira, entrando silenciosamente na casa e fechando quietamente a porta atrás de si enquanto tirava a sua capa e pendurava no cabideiro perto da entrada. Com ares cansados andou até a cozinha, acendeu a luz dela e caminhando a passos lerdos pelo cômodo começou a preparar uma xícara de chá. A volta ao Ministério tinha sido extremamente estafante, a começar por Tonks que o encheu de abraços e beijos por ter resolvido o caso Malfoy. Bem, ele não sabia se merecia tantos agradecimentos, visto que foi o próprio Draco que resolveu o caso, mas Harry acreditava que tinha uma parcela de culpa já que foi ele que trouxe de volta a memória do loiro. O rapaz chegou até a perguntar a chefe se ela queria o endereço do primo "morto", mas Tonks pareceu ter muito mais bom senso que ele.

"Se ele realmente quiser contato com a família, pode nos procurar quando se sentir confortável, diga isso a ele Harry." – foi o que a mulher pediu, mas Harry não sabia dizer se podia cumprir esta ordem visto que Draco o odiava mais do que o odiou na escola. Talvez se mandasse uma coruja... Ele não iria fazer mal a uma coruja, iria? Mas havia o risco de ele não abrir a carta. Bem, isso era uma coisa que Harry tinha que pensar depois.

-Padfoot! – chamou quando a chaleira apitou e ele derramou a água quente dentro de sua caneca pintada com o símbolo da Grifinória. –Padfoot? – repetiu visto que o cachorro não tinha lhe respondido nem o recebido com festa como normalmente fazia. Olhou para o relógio da cozinha que marcava duas da manhã e ponderou. Hermione ainda tinha a cópia da chave do seu apartamento – o que a permitiu que entrasse dias atrás enquanto ele tomava um banho para recuperar as forças e por isso recebeu o maior sermão da sua vida sob o chuveiro – então, ela poderia muito bem ter "arrombado" a sua casa de novo e levado o cão para passear. Vai saber. A cada ano que passava sua amiga ficava ainda mais esquisita. Harry tinha a teoria de que ela andava testando feitiços em si mesma. Rony dizia que o problema de Hermione era falta de sexo, Harry acabava concordando, Hermione os acusava de estarem tão precisados quanto ela e então os três começavam uma discussão infrutífera sobre a decadência de suas vidas amorosas.

-Eu realmente preciso arrancar aquela chave da mão dela. – resmungou enquanto tomava um gole de seu chá e ia em direção a sala. Hermione poderia ficar perigosa com a chave do apartamento de um deles na mão porque assim era um modo que ela tinha de bancar a mãe super protetora vinte e quatro horas por dia. Certo que Harry nunca soube o que é ter uma mãe, mas ele não precisava da sua melhor amiga, que, aliás, tinha a mesma idade que ele, agindo como se fosse a sua. Quer dizer, com certeza Lily Potter não era tão possessiva quanto Hermione Granger. Ou será que era? Remus às vezes dizia que via semelhanças incríveis entre as duas mulheres. Assustador e bizarro pensar nisso, ainda mais com o seu cérebro ainda dormente por causa dos relatórios que teve que tirar do atraso por causa de suas inesperadas férias.

-Espero que ela não traumatize o meu cachorro com discussões sobre Fusão Mágica, assim como ela me traumatizou. – resmungou mais uma vez, tomando outro gole de chá e acendendo a luz da sala.

-Creio então que ele está salvo. – a voz soou vinda do sofá e o moreno virou-se bruscamente, quase derrubando a sua caneca, para ver Elliot sentado no móvel com o dócil e silencioso Padfoot deitado sobre o seu colo e mexendo as orelhas para serem coçadas. –Acho que o seu cachorro gostou de mim. Então, Padfoot é o nome dele? – o loiro deu um sorriso escarninho. –Que conveniente. – gracejou, mas Harry não reagiu, ainda chocado diante da sua inesperada visita. –Você tem uma casa interessante aqui Potter. Eu poderia dizer que não é nada perto do que esperava do grande Potter, mas estaria mentindo. – comentou jocoso, erguendo-se do sofá e deslocando Padfoot de seu conforto, o fazendo chiar em desagrado. –Ela parece com você. Tem a sua cara. Eu diria até que é... aconchegante. – terminou com um tremer de ombros e começou a rodar pela sala agora iluminada. Quando entrou no apartamento de Harry mais cedo preferiu deixar tudo apagado e esperar pelo rapaz tendo apenas o cão como companhia. Queria surpreendê-lo e, pela cara que ele estava fazendo, com certeza conseguiu.

-Como... Como você soube onde eu morava? – finalmente saindo de seu estupor, o auror fez a primeira pergunta que veio a sua mente.

-Ronald. – respondeu Elliot displicente, observando com interesse uma foto dos três amigos grifinórios em sua formatura em Hogwarts. Ele não teve uma formatura, nem chegou a completar os estudos. Largar tudo para trás foi uma decisão dolorosa, mas uma decisão que ele não se arrependia de ter tomado.

-O Rony? – perguntou estupefato e Elliot sorriu.

-Ele esteve em Refuge depois que eu te enxotei de lá, queria me dizer umas verdades, típico grifinório, sempre defendendo com unhas e dentes a sua laia. Acho que ele é apaixonado por você ou coisa parecida. – caçoou, gesticulando largamente com a mão. –De qualquer maneira, foi ele que me ajudou a implantar aquele testamento sem levantar suspeitas e acho que ele me ajudou a tomar certas decisões. Devo dizer que nunca pensei que sentiria saudades das minhas discussões com o Weasley. Parece que ele criou um cérebro durante os anos e as respostas dele finalmente chegaram a um nível aceitável. – comentou com escárnio, mas o sorriso que surgiu em seu rosto era mais de divertimento do que deboche.

-E deixe-me ver se adivinho. – Harry cruzou os braços sobre o peito e empertigou-se, ficando maior do que já era. –Ele te deu uma cópia da chave.

-Não! Eu arrombei mesmo. Sinceramente Potter, para um Inominável você está muito propenso a ser morto durante o sono, qualquer um pode entrar na sua casa. Será que você não aprendeu nada com os anos? – e soltou um tsc entre a língua, balançando o dedo indicador de um lado para o outro em sinal de repreensão.

-Se você tivesse vindo aqui com más intenções Malfoy, não teria passado da porta. – retrucou azedo. Não gostava que ninguém criticasse seu talento como auror e em defesa contra as artes das trevas. Ele foi o melhor aluno da classe, e tinha as medalhas para provar isso.

-Já disse Potter – começou Elliot com um tom firme. – não é Malfoy, é Hart. Draco Malfoy está morto. Não diria que está propriamente enterrado, mas está morto. Eu o matei há dez anos atrás junto com a minha vida, meu nome, meu passado... Minhas memórias. – Harry arregalou os olhos e recuou um passo diante da firmeza com o que o rapaz lhe disse isso.

-Como é? – perguntou incerto de ter ouvido direito.

-Isso mesmo que você ouviu. Você foi a Dumbledore como um heróico grifinório achando que eu era mais uma vítima dos joguetes dele, quando na verdade eu tive que convencer Dumbledore a me ajudar. – o loiro deu as costas para Harry, caminhando até a janela da sala e fixando o seu olhar nas ruas iluminadas de Londres. Padfoot o seguiu, sentando-se ao seu lado e acariciando a perna dele com a cabeça peluda. –Eu não agüentava mais a vida que tinha escolhido para mim. Eu era uma criança idiota e influenciável naquela época, um imbecil que achava que as crenças do meu pai eram as melhores, eram as certas, perfeitas para mim. Aceitei cair em seu mundo, aceitei seguir seus passos, mas não consegui me transformar em Lucius Malfoy. – e virou-se para poder encarar Harry que em silêncio o observava intensamente, esperando que ele lhe explicasse e respondesse as dúvidas que ficaram estampadas em seu rosto no dia em que suas memórias voltaram e o loiro o expulsou da fazenda dos Hart. –Aceitei me tornar um Comensal da Morte. Achava que assim finalmente conseguiria ser melhor que o grande Harry Potter. – falou em um tom como se a mera lembrança dessa parte de sua vida o enojasse ao extremo. –Como eu era imbecil e realmente não me orgulho disso. – ficou quieto por longos e torturantes segundos até que Harry falou:

-E o que foi que aconteceu?

-Eu vi que era capaz de manipular a mente alheia, torturar os outros para conseguir o que queria, mas eu não era capaz de matar, Potter. A sensação de ter a vida de uma pessoa em minhas mãos, me implorando por piedade, não me deu nenhum poder, na verdade me apavorou. Não era isso o que eu queria. Porém quando dei por mim já estava com a cabeça sob a lama e perdido em um mundo de medo, morte, carnificina. Comensais perdiam a humanidade pelo poder, pela sede de poder. Tornavam-se animais sem alma e eu não era capaz disso. Eu era um Malfoy com defeito. Eu não conseguia evitar sentir a dor daqueles que matei, todos os dias sempre desejei ter um modo de me redimir. E, quando em uma noite turbulenta, depois de mais um ataque, eu acordei de um pesadelo envolvendo as vítimas daquela noite, finalmente resolvi repensar a minha vida, o que eu queria da minha vida. E então eu pensei que se eu tivesse sido menos orgulhoso e mais corajoso as coisas teriam sido diferentes. Não era aquilo que eu queria e então no auge do desespero eu corri para Dumbledore. – continuou relatando firme e forte, surpreso de que as suas emoções não tinham se sobreposto as suas ações dessa vez. Onde estava, Harry sentiu os joelhos fracos e deixou-se cair como um peso morto sobre o carpete. Em passos lentos Elliot cruzou a sala e ajoelhou-se em frente a ele, o olhando diretamente nos olhos e continuando a sua história.

-Mas como você sabe ninguém simplesmente pedia demissão a Voldemort e eu, apesar de tudo, não queria morrer, mas também não tinha mais estômago nem cabeça para poder viver dentro daquele mundo e por isso sabia que não seria capaz de ser um espião e compensar pelas mortes que causei. Dumbledore sabia disso, ele sabia que eu estava na beira do abismo e foi então que eu fiz o pedido desesperado. Pedi que ele apagasse cada lembrança minha, sumisse com Draco Malfoy. Mas eu simplesmente não poderia ser desmemoriado e jogado no mundo sem mais nem menos, Comensais viriam atrás de mim, eu não estaria seguro, e foi então que surgiu Elliot Hart.

-Como?

-Elliot Hart realmente existiu e estava em coma no hospital há dois anos, os médicos estavam cogitando desligar os aparelhos porque ele estava vegetando, mas a família dele relutava, pois ainda tinha esperanças embora às chances dele fossem nulas. – continuou Elliot e então Harry lembrou-se do que Rony tinha dito sobre a autópsia do Malfoy onde dizia que ele tinha morrido por causa de um dano cerebral. Então, o corpo avaliado era de Elliot Hart? Eles trocaram de corpos?

-Então o corpo que os aurores acharam junto com os seus pais...

-Era Elliot. Os avós dele tinham dado a autorização de desligar as máquinas um tempo antes de Voldemort atacar a minha casa a caça dos traidores. Sabe como é, ele não tinha que matar apenas a mim, tinha que matar todos os Malfoy como exemplo. Então... Elliot e eu tínhamos uma grande semelhança física, não para sermos irmãos gêmeos, mas para sermos considerados irmãos. Por isso, com alguns feitiços Dumbledore, Snape e Arthur Weasley o fizeram ficar parecido comigo, do fio de cabelo a marca negra. Disseram que eu fui morto dormindo, quando na verdade era tudo uma ilusão. Snape falou a Dumbledore sobre o ataque para que todo o teatro fosse armado com perfeição, ele mesmo me "executou" e depois disso Arthur e Dumbledore recuperaram o corpo de Elliot na autópsia e devolveram para a família dele para ele ser enterrado e enquanto no meu caixão colocaram pedras. – Harry não podia acreditar na história que ouvia, pois era extremamente fantástica, tão fantástica quanto no dia em que ele descobriu que era um bruxo.

-Mas e quanto as suas lembranças? Você voltou a Refuge como Elliot, tinha as memórias do Elliot!

-Dumbledore armazenou as lembranças de Elliot magicamente antes de ele morrer e depois as transferiu para mim, trocando as minhas lembranças pelas dele. Claro que o cérebro de um ser humano é complexo, muitas lembranças são associadas com emoções e apagar todas pode causar grandes danos. Uma coisa é obliviatar um acontecimento presente e de poucos minutos, outro é apagar dezesseis anos de vida. Então Dumbledore camuflou a minha marca negra, substituiu as minhas lembranças e bloqueou a minha magia e a partir daquele dia eu me tornei Elliot. Você vê? Eu me tornei Elliot porque quis Harry, e achei que você tinha o direito de saber o porquê de eu ter ficado tão irritado com você. Dumbledore não me obrigou a nada, ninguém me obrigou a nada, foi uma escolha minha e somente minha. Foi uma maneira que eu encontrei para fugir da dor, de todas as dores. – enfatizou, olhando com mais firmeza dentro dos olhos verdes e Harry piscou, tentando entender o que o loiro lhe dizia.

-Como assim? – perguntou com o tom de voz mais firme que conseguiu encontrar.

-Eu... – agora toda a coragem tinha sumido de Elliot e ele olhou para qualquer lugar, menos o rosto de Harry. -... Eu disse que naquela época eu era um imbecil orgulhoso. Tão orgulhoso que não conseguia admitir para mim mesmo que tinha me apaixonado... – engoliu em seco. – que tinha me apaixonado pelo meu rival. Acho que essa foi à coisa que eu mais me arrependi de ter feito, de nunca ter tido a chance de dizer o que sentia. Mas a minha alma estava negra, eu estava sujo com todos os meus pecados e crimes e não seria justo te arrastar para esta sujeira, por isso achei que seria melhor para todos se eu simplesmente deixasse de existir. Sem contar que eu nunca cheguei a pensar no que a minha morte poderia causar.

-O quê? – Harry perguntou, passando a mão no rosto e olhando para os dedos molhados pelas lágrimas. Na sua frente à compostura de Elliot também parecia ir quebrando pouco a pouco à medida que ele continuava a história, pois os olhos dele estavam ficando vermelhos.

-Essa foi uma das verdades que o Weasley me disse quando me visitou em Refuge, de como você ficou devastado por eu ter morrido, de como ficou obcecado em destruir Voldemort depois disso. Talvez por isso que eu tenha ficado tão abalado com as suas investidas. Acho que na verdade eu tinha mais medo de te machucar do que me machucar e tentava me convencer que a culpa era toda sua. Eu realmente sinto muito Harry, mas eu fiz o que era melhor para todos, realmente fiz... – tentou continuar se desculpando, achando a sensação estrangeira e familiar ao mesmo tempo. As memórias de Elliot antes dos quatorze anos ainda estavam misturadas com as de Draco até os dezesseis e por isso atitudes ainda estavam levando tempo para se ajustar. Enquanto para Elliot pedir desculpas era algo normal, para Draco não era. Mas como ele mesmo havia dito, ele não era Draco, ele era Elliot. Esse era ele.

Harry inclinou-se um pouco sobre o corpo enquanto as desculpas do loiro entravam por um ouvido e saíam pelo outro. Vê-lo ali na sua frente como sempre imaginou que Draco fosse se não tivesse o nome Malfoy para se atrelar deixou de ser um sonho, na verdade tudo era uma realidade e os dez anos passados pareciam não ter existido. Quando saiu com o coração na mão da casa dos Hart depois da explosão do médico, achou que tinha perdido tudo novamente e por momentos viu-se mais uma vez dentro daquele quarto escuro na casa dos Black, abraçado ao Profeta Diário e chorando copiosamente enquanto as suas lágrimas manchavam a manchete do dia, a manchete que dizia que Draco estava morto. Porém agora tudo o que viveu parecia mais uma ilusão e que a verdade era o que estava acontecendo neste momento. Com lágrimas ainda rolando pelos olhos fechou a distância que tinha entre os seus rostos e roçou seus lábios sobre os de Elliot, o calando rapidamente. O loiro ainda arregalou um pouco os olhos, surpreso diante da atitude do moreno, mas depois o fechou e se deixou aproveitar o beijo enquanto seus lábios roçavam uns contra os outros em um contado suave e sem pressa. Minutos se passaram com os dois sobre o tapete explorando a nova onda de sentimentos que afloravam, até que se separaram, encarando um ao outro com intensidade.

-E agora? – perguntou Harry com uma voz baixa, como se se aumentasse o tom quebraria o momento que se instaurou na sala.

-Eu não sei. Draco Malfoy continua morto, eu dei toda a minha fortuna à única parte da família que presta: aos Tonks. O restante ficou para o Ministério. Meus avós estão me esperando de volta em Refuge. Harry... – sussurrou com um certo pesar. -... por mais que eu goste da idéia de finalmente ter você comigo, não vou largar a minha vida para voltar ao mundo mágico. Não é isso o que eu quero. Estou feliz como estou, e essa é a minha vida agora. Eu sou Elliot Hart, médico e diretor da clínica Withinburg na cidade de Refuge. Neto dos fazendeiros Hart. Não sou o garoto por quem você se apaixonou na escola. E com certeza não foi o Draco tolo que se apaixonou por você. – Harry sorriu um pouco, finalmente ele estava admitindo, como Elliot, que gostava dele.

-Eu sei. Um dilema aqui não? Você não vai largar Refuge e seu emprego de médico, e eu não vou largar Londres e a minha vida de auror. Realmente, um grande dilema. – respondeu Harry divertido, colocando a mão sob o queixo fingindo estar pensativo. –Mas talvez isso seja um sinal. – brincou, fazendo a sua melhor imitação de Sibila e Elliot riu ao lembrar-se da esquisita professora de Adivinhação.

-Sinal? – ergueu uma sobrancelha divertida e o sorriso de Harry se alargou.

-Um sinal de que devemos ir devagar. O Harry de hoje não é igual ao de dez anos. E eu tenho certeza que por mais que eu tenha conhecido o Draco, confesso que não sei muita coisa sobre Elliot Hart. – sorriu suavemente para o loiro que voltou a acariciar Padfoot que pediu passagem no colo dele quando percebeu que a conversa séria entre os dois homens tinha terminado.

-Um namoro à distância Potter? – sugeriu jocoso e riu quando viu as bochechas de Harry corarem. Bem, ao menos certas coisas não tinham mudado.

-Distância? Que distância se num estalo eu posso estar na Irlanda, sem você precisar notificar a polícia sobre o meu súbito aparecimento? – Elliot gargalhou e Padfoot latiu, acompanhando o divertimento do médico.

-Mas o que vai acontecer quando os jornais descobrirem que Harry Potter está tendo um caso com um trouxa? – perguntou um pouco preocupado e Harry deu um sorriso escarninho.

-Como se eles realmente fossem descobrir que eu encontrei o amor em uma cidade distante por causa de um erro de percurso.

-Não foi erro de percurso Harry... – sussurrou suavemente antes de beijá-lo mais uma vez. – Foi o destino.

Na cidade onde nasci, nós sonhamos.

Toda vez que sou derrubado, eu me lembro daquela música.

Isto é algo que eu posso fazer agora

Levantar e dar mais um passo adiante.

Eu cantarei a minha canção

Alto o suficiente para chegar aos céus

É a minha vida

E eu seguirei em frente.

FIM