Capítulo 8- O começo

A luz fraca da manhã entrou por uma fresta da cortina e iluminou a cabana. Não era uma luz forte, mais foi o suficiente para despertar Draco. Ele já estava acordado e quase consciente, mas não quis abrir os olhos. A cama estava tão quente e confortável que parecia querer o convidar para voltar a dormir. Além disso, sentia as mãos de alguém mexendo em seu cabelo, o que o fazia querer permanecer de olhos fechados por mais um bom tempo. De fato, podia ficar assim pelo resto da eternidade. Era tudo o que queria, continuar ali, preso naquela cabana com Gina pra sempre. Queria que seus momentos com ela não acabassem nunca, queria que o tempo não passasse pra que eles nunca tivessem que voltar para Hogwarts. Era tão estranho pensar que há alguns dias estava louco para sair dali e agora tudo o que queria era não voltar nunca mais.

Ele deu suspiro profundo. Estava se sentindo tão bem. Não sabia exatamente o que era, mas estava se sentindo... diferente. Sentia-se tão tranqüilo, com se nada mais importasse, como se o mundo pudesse acabar a qualquer momento que não importaria, pois ele morreria sendo a pessoa mais feliz do mundo. Não se lembrava de se sentir assim desde... Pensando bem, ele nunca havia se sentido assim antes.

Ele deu um bocejo e finalmente abriu os olhos. A primeira coisa que viu foi os olhos castanhos de Gina o observando atentamente. Ela sorriu e disse, baixinho:

- Bom dia, Bela Adormecida...

Draco sorriu e beijou de leve os lábios dela.

- Bom dia.

Ele a observou atentamente, tentando guardar cada detalhe de seu rosto. Não ia querer esquecer daquilo nunca. Não ia querer esquecer daqueles dias, daqueles momentos e de tudo que aconteceu ali.

Era tão bom ficar perto dela. Era tão bom se mexer inconscientemente na cama à noite e sentir o corpo dela perto do seu. E era tão bom poder acordar e ficar assim, perto dela, simplesmente olhando para ela.

Gina continuou olhando para ele por alguns segundos, até se levantar de repente. Draco a observou andar até a janela, enquanto se perguntava por que diabos ela havia saído de perto dele.

Ela afastou um pouco as cortinas e ele pôde ver o dia ensolarado que estava lá fora.

- Viu? Parou de chover!

Draco não disse nada. Não sabia o que dizer. Ele percebeu que Gina estava feliz, mas não tinha certeza se ele mesmo se sentia assim. Não queria ir embora, não queria que esses dias tivessem que acabar. Mas a tempestade não duraria pra sempre, ele sabia disso. E agora que chegara a hora de dizer adeus e voltar a sua vida normal, não sabia o que fazer.

- O que foi? –Perguntou ela.

- Hm?

- Você parece pensativo...

Ele balançou a cabeça, tentando não pensar mais nisso. Seria melhor aproveitar os últimos momentos em vez de já pensar no fim.

- Não é nada. Venha aqui.

Gina voltou para a cama e o beijou. Os últimos dias haviam passado tão rapidamente. Parecia que tudo acontecera em um piscar de olhos. Foi tão rápido, porém tão certo. E agora iria acabar...

Draco a abraçou, sentindo o calor de seu corpo, tentando guardar cada sensação que tinha quando estava perto dela.

- Eu não quero ir embora... – Ele sussurrou às costas dela.

- Hey... Não é o fim...

Draco olhou para ela, mas não disse nada. Não sabia se concordava com ela. Era óbvio que ele também não queria que acabasse, mas não conseguia se imaginar com ela em Hogwarts do mesmo jeito que estavam ali. Era como se tudo que acontecera na cabana não passara de um sonho e ele não quisesse acordar mais. Mas ele também não queria misturar o sonho que estava vivendo com a realidade que estava acostumado.

Como ele poderia voltar a Hogwarts, voltar a andar com seus amigos sonserinos e estar com Gina ao mesmo tempo? Ou será que ela estava pensando que ele iria fazer as pazes com os grifinórios e eles todos seriam amigos para sempre? Não podia ser de nenhum dos dois jeitos. Não tinha solução, não daria certo. Mas Draco não queria pensar nisso agora, só queria aproveitar os últimos momentos com Gina.

- Você está estranho... – Disse ela, percebendo que ele estava preocupado com algo.

- Não é nada... Só estava pensando.

- E eu posso saber o que é que está tirando seus pensamentos de mim? – Perguntou ela, sorrindo.

Ele suspirou antes de dizer:

- Isso foi tão estranho...

- Isso o quê?

- Isso tudo. A tempestade de dois dias, tudo que aconteceu aqui... Eu e você...

- Você fala como se tivesse sido ruim. – Disse ela, em voz baixa.

- Não é isso. É só que...

- Eu sei, eu e você, Malfoy e Weasley quem iria imaginar? - Ela disse, como se já estivesse cansada de pensar nisso. - Você não devia ligar tanto pra isso. Coisas estranhas acontecem às vezes, Draco. Você só tem que saber aproveitar o lado bom delas...

Ele a olhou considerando o que ela disse. Estava certa, é claro que estava. Ele não devia se preocupar tanto. Não por enquanto.

Draco sorriu antes de beijá-la novamente e disse:

- Falando em aproveitar, você não acha que já se aproveitou demais da minha boa vontade? – Gina franziu a testa – Minha camisa. Eu vou querer de volta, viu?

Ela sorriu antes de se levantar, pegar sua própria blusa e dizer:

-Vire-se.

Draco obedeceu. Ela levou alguns segundos na tarefa de se trocar, depois jogou a camisa de Draco sobre o ombro dele.

- Pronto. – Disse, antes de caminhar até a lareira e se sentar no chão.

Draco se virou novamente e vestiu a camisa. Depois foi se sentar ao lado dela.

Gina o olhou atentamente e disse, com um sorriso torto:

- Eu preferia você sem ela...

- Não foi você que teve que passar a noite com frio por causa de um ato de cavalheirismo.

Ela riu novamente, antes de apoiar sua cabeça no ombro dele. Eles ficaram um tempo em silêncio, simplesmente ouvindo a respiração um do outro.

- Eu nunca pensei que isso poderia acontecer... –Disse ela, dando um suspiro.

- O quê? Você finalmente sucumbir ao charme de um Malfoy e confessar que não há homem mais perfeito? – Perguntou ele, rindo.

- Não... Eu me apaixonar por ele apesar de todo o seu egocentrismo.

Draco parou de sorrir no momento em que ouviu a resposta de Gina. Ela não podia ter dito isso, podia? Sim, ela disse. E com a maior naturalidade do mundo. Ela estava apaixonada por ele. E ele sabia que ela havia dito com sinceridade.

Não que fosse uma coisa ruim alguém estar apaixonada por ele, mas Draco não tinha certeza se isso era uma coisa exatamente boa. Não no seu caso.

O que ele deveria dizer? Que ela estava enganada, que ela não podia estar apaixonada por ele? Que ele não sentia por ela o que ela sentia por ele, e que era melhor desistir logo antes que isso vá longe demais?

"Quero dizer, foram só dois dias. Foram só alguns beijos, foram só algumas palavras trocadas" Ele tentava convencer a si mesmo. Mas sua consciência parecia querer lembrá-lo de certas coisas. "Não foi isso, foi tudo isso. Você sente algo por ela. Algo muito grande."

Afinal, ele sabia que podiam ter sido poucos, mas foram os momentos mais longos e especiais que já tivera. Não podia negar que sentia algo por ela, algo que o fazia querer ficar perto dela para sempre. Que fazia com que seu coração batesse tão forte contra o peito que sentia que ele poderia pular para fora a qualquer momento. Que fazia com que ele sentisse uma extrema vontade de agir sem pensar, de aproveitar cada minuto como se fosse o último, sem se preocupar com o depois, sem se preocupar com nada... Sem pensar.

" Mas isso não quer dizer que eu estou apaixonado por ela! Quero dizer, eu não a amo. Eu não posso amá-la."

Não?

Draco foi impedido de concluir seus pensamentos, pois um segundo depois sentiu os lábios quentes de Gina colarem aos seus e novamente esqueceu de qualquer preocupação. Não queria continuar assim sem antes ter certeza do que queria. Não era certo deixá-la pensando que ele também sentia algo por ela, se isso não fosse realmente verdade. Não podia deixá-la se iludir, sabia disso, mas como ele poderia dizer tudo o que pensava quando as mãos dela passeavam pelas suas costas e nuca, fazendo com que sentisse arrepios e vontade de beijá-la cada vez mais forte e não soltá-la nunca mais?

O beijo se aprofundava cada vez mais, terminando somente para os dois respirarem um pouco melhor, dando início a outro logo em seguida. Draco podia sentir o coração de Gina acelerado enquanto as mãos dela o puxavam para mais perto, fazendo com que ele quase esquecesse completamente do que estava pensando. Mas sua consciência falou mais alto e Draco, ainda que contra a vontade, quebrou o beijo.

- O que foi?- Perguntou ela, ainda de olhos fechados.

Ele demorou alguns segundos para responder, e por fim, disse:

- Olha, eu não sei exatamente o que você acha que está acontecendo entre nós, mas...

Ela abriu os olhos, um pouco surpresa.

- O que você quer dizer?

- Eu não sei, eu só acho que talvez você tenha confundido um pouco as coisas...

- Confundido? Como assim!

Ele respirou fundo.

- É que eu não sei exatamente o que eu sinto... E talvez um de nós... Ou melhor, nós dois estamos um pouco confusos e acabamos misturando as coisas...

- O que diabos você está tentando dizer, Malfoy?- Perguntou ela, já ficando nervosa.

- Que eu não sinto o que você acha que eu sinto. Quero dizer, eu não estou negando que sinto alguma coisa. É só que...

Mas Gina já tinha parado de prestar atenção nele. De repente, ela se virou para a porta como se algo tivesse chamado sua atenção. Draco pareceu não ter percebido.

- É difícil para mim falar sobre sentimentos, você sabe, mas...

- Shhh! – Gina fez sinal para ele se calar. – Ouça.

Ele parou de falar, confuso. Só então percebeu que havia um barulho de alguém pisando na grama molhada do lado de fora. Gina se levantou e rapidamente foi para perto da porta.

- Tem alguém aí! – Ela gritou, batendo na porta.

- Gina? – Perguntou uma voz grossa do outro lado.

- Hagrid!

- Ele tem que aparecer logo agora? – Disse Draco, indignado.

- Malfoy? – Hagrid parecia confuso – O que afinal vocês dois estão fazendo aí?

Draco pareceu impaciente e respondeu com ironia:

- Eu estava olhando a sua bela casa e pensei "Nossa, ela parece ser tão melhor e mais bonita do que a minha casa!" Então, vim conferir.

Gina fez cara de desaprovação e ignorando o comentário de Draco, esclareceu:

- Nós viemos nos proteger da chuva, mas a porta emperrou e ficamos presos.

- Eu já devia ter trocado estas dobradiças antigas – murmurou Hagrid – Está bem, eu vou dar um jeito nisso. Fiquem longe, por favor.

Os dois se afastaram da porta rapidamente e com apenas um forte chute, Hagrid arrombou a porta.

- Ufa... Deve ter sido horrível para vocês dois ficar aqui presos por tanto tempo...

Eles trocaram olhares cúmplices, mas antes que Hagrid pudesse perceber, Draco disfarçou:

- Nem me fale, ter que agüentar essa Weasley...

- É melhor vocês voltarem logo ao castelo, todos devem estar atrás de vocês.

Eles concordaram e logo foram embora. Foram andando pela grama molhada, sem falar nada. Quando já estavam longe o bastante da cabana, Draco parou e disse:

- Nós precisamos conversar.

Gina também parou e se virou para ele, dizendo:

- Ok... Agora você deve dizer que tudo o que passamos ali foi bom, mas é melhor parar por aqui, esquecer tudo isso e blá, blá blá.

Draco riu.

- Não era bem isso que eu ia dizer...

- Mas era algo do tipo.

Ela começou a andar novamente, mas ele segurou seu braço.

- Gina espera. – Ela se virou – Você acha mesmo que eu teria feito tudo que fiz se você não significasse alguma coisa para mim? Você acha que eu teria te beijado da maneira como te beijei se você não fosse especial, se eu não gostasse de você de alguma forma?

Ela abriu um pequeno sorriso.

- É impressão minha ou eu acabei de ouvir um Malfoy confessando que tem algum tipo de sentimento?

- É... Quem sabe... – Respondeu ele, chegando mais perto e passando os braços em torna da cintura dela

Ela o olhou nos olhos e se viu refletida na imensidão azul. Sabia que ele falava com sinceridade, agora sim sabia que ele sentia o mesmo que ela. Mas Gina escolheu dizer o contrário do que sentia. Disse o que sua parte racional pensava.

- Não vai dar certo.

Vagarosamente, ele tirou suas mãos da cintura dela e perguntou:

- O que você quer dizer?

- Que não vai dar certo. Nós somos muito diferentes. Nunca daria certo.

- Isso não nos impede de tentar...

- Não iria durar nem uma semana! Você é um Malfoy, eu sou uma Weasley, nunca funcionaria.

- Eu sou o Draco, você é a Gina. Se sou quem sou, o que importa a minha origem?

Ela não respondeu. Não tinha o que dizer, não podia querer discutir isso. Ele estava certo. Não custava nada tentar. Podia não dar certo, podia durar apenas um dia, mas eles não tinham nada a perder.

Sem pensar em mais nada, Gina o beijou. Draco retribuiu o beijo com a mesma intensidade e quando finalmente se separaram, disse:

- Eu sabia que você não iria resistir ao charme de um Malfoy...

- Egocêntrico. – Respondeu ela, rindo.

Eles continuaram a caminhar em direção ao castelo, sabendo que a partir de agora muita coisa iria mudar. Tinham começado algo. Não sabiam direito o que era, nem até onde iria chegar, mas sabiam que era um começo. E por enquanto, isso já bastava...

Fim


N/A: Demorou, mas chegou! Último capítulo, o que eu demorei mais pra escrever, mas em compensação, foi o maior! É, esse é o fim. E apesar de parecer mais um começo, não vai ter continuação.

Sabe, eu não queria terminar essa fic. Foi tão divertido escrevê-la... Mas tudo o que é bom, um dia acaba, certo?

E como é o último capítulo, eu vou querer muitas reviews, ok? É só clicar naquele botãozinho roxinho tão simpático ao lado do "Submit review" ;)

Por fim, eu queria agradecer a todos que leram e acompanharam a fic, mandaram reviews, me deixaram feliz!xD E também obrigada aqueles que leram e não mandaram review por algum motivo. Ainda dá tempo, viu? É só clicar no botãozinho "Go". Não custa nada e vocês ainda vão fazer uma pessoa feliz o/

Ah, e antes que eu me esqueça, a frase que o Draco diz "Se sou quem sou, o que importa a minha origem?" foi copiada descaradamente de uma peça de W. Shakespeare ;)

E eu vou acabar por aqui porque esta N/A já está ficando muito grande.

A gente se vê por aí, povo o/