7. Perturbações

-Juro que estou bem – dizia Ginny enrolando o dedo no fio do telefone enquanto conversava com Tom.

-Fiquei muito assustado com este seu sumiço repentino. Não só eu como todos os repórteres que estiveram na inauguração do seu prédio. Cherry quase pirou.

-Como foi a festa falando nisso? – perguntou ela angustiada, sabia o quanto os nova-iorquinos eram críticos.

-Foi divina, mas ninguém sabia dizer onde você estava, então eu disse que você teve uns probleminhas de saúde na família e teve que viajar de ultima hora.

-Muito obrigado Tom. Tudo que está acontecendo aqui é tão louco...Estou a beira de ter uma sincope nervosa a qualquer momento.

-Querida, se você quiser pego o próximo avião para me juntar a você. Sabe que não seria problema nenhum.

Ginny suspirou profundamente. Queria ter Tom ali para lhe ajudar, mas tudo aquilo era tão chocante, que achou melhor não envolver o amigo.

-Sei disso, mas acho que é melhor eu ficar sozinha por enquanto. Qualquer coisa me ligue aqui no hotel, se não estiver deixe um recado que retorno assim que puder.

-Esta bem, querida. Cuide-se e não hesite em pedir nada se precisar.

Desligou o telefone e se jogou na cama.

Depois de ter passado dois dias em Hogwarts nem o maravilhoso quarto do Plaza, melhor hotel de Londres lhe parecia bom o suficiente.

Acabara de se hospedar ali para manter as aparências para os trouxas e não levantar suspeitas em caso de estar sendo vigiada por comensais.

Segundo Hermione a imprensa trouxa estava comentando sobre o sumiço repentino da Construtora Ginny Wilde, responsável pelo mais novo e gigante prédio de Nova York, e a estratégia seria Ginny fingir estar tirando um tempo para descansar na Europa com seu filho, já que o sumiço de Luke não era conhecido pelos trouxas.

Fechou os olhos e focalizou Luke em sua mente. Sentiu seu coração doer pela falta do filho, estava cada vez mais tensa com tudo que vinha ocorrendo.

De todo tempo que se lembrava de sua vida nunca havia desmaiado, nem mesmo quando estava sentindo as piores dores de parto.

No entanto, apenas em ouvir aquela voz e encarar os olhos verdes do tal Harry Potter, fizera-a perder todas as forças.

Ele lhe lembrava alguém, com toda certeza, mas de certo, como dissera Hermione, era apenas pelo fato de já terem convivido juntos no passado.

Devia ser mesmo apenas isso. Pensou ela, sentindo-se perturbada novamente apenas por pensar nele.


-Vai ser impossível chegarmos a um acordo com toda essa maldita barulheira. – Rony gritou exaltado para todos que estavam presentes na sala de reuniões da Ordem da Fênix. E no mesmo minuto, fez-se o silencio entre os membros, constrangidos.

-Sim, muito obrigado, Rony. – disse Penny se levantando – Peço a todos que apenas escutem por um momento. Como já mencionamos antes esta missão deve ser realizado em completo sigilo. Os Comensais com toda certeza já desconfiam que a trouxemos para cá, foi por isso que achamos melhor manter as aparências e manda-la para um hotel trouxa.

-Mas ela está correndo riscos lá! – protestou Herbert.

-Johnson, você realmente achou que colocaríamos a minha irmã lá sem um feitiço protetor? – disse Fred, olhando para Herbert como se fosse retardado.

-Mesmo assim, - insistiu – ela pode querer sair do hotel, neste caso o feitiço colocado no hotel não funcionaria.

-Ela tem ordens de só sair do quarto quando algum de nós for vê-la. – disse Hermione.

-E vocês acham que ela realmente levou isso a sério? – disse Molly, se manifestando pela primeira vez – Vocês tiveram a oportunidade de conhecer a minha filha, e mesmo não se lembrando do passado acho que não mudou tanto assim a ponto de não burlar algumas ordens.

-Principalmente porque ela sabe que tudo isso é grave. Mas não exatamente o quanto é grave. – Lupin falou, pensando nisso pela primeira vez.

-Eu ficarei de guarda no hotel – disse Harry, sua voz saiu tensa – vou me hospedar em um dos quartos do mesmo andar que ela esta.

-Não seja tolo. – disse Penny severamente - Você sabe muito bem que não pode deixar Hogwarts, Harry.

-Sim, neste caso eu posso. – respondeu ele friamente – Estamos falando da minha esposa e do meu filho. Não se esqueça Penny.

-Não se esqueça você que não pode dar uma de irresponsável a hora que quiser. Uma comunidade inteira ainda depende de você.

-Assim como a Ginny. – a cada palavra sua voz ficava mais fria, e seu peito se enchia mais de raiva – E você não tem que ficar me lembrando os meus deveres, Penny. Não sou uma criança irresponsável.

-Mas age como se fosse.

Ninguém ousava se intrometer na discussão entre os dois. Harry e Penny se encaravam com os olhos faiscando, esperando a resposta do outro.

Lupin fez um barulho com a garganta, corajosamente.

-Acho que não é momento pára esta discussão. – disse ele.

-Isso mesmo – falou sr Weasley, levantando-se e puxando sua própria varinha.

Fez um gesto largo fazendo aparecer sobre a superfície da enorme mesa redonda em que todos estavam sentados em volta uma imagem de uma enorme casa sobre um penhasco.

-Aqui está. Esta é a mansão onde Voldemort está vivendo. Conseguimos a informação há algum tempo, mas não podemos reportar ao Ministério. Isso seria manda-los direto para a boca da cobra.

-É também a central dos Comensais de confiança. Apenas os do circulo mais intimo dele podem entrar. – Continuou Tonks, ela apontou o dedo para onde parecia ser a porta da frente da mansão – Sabemos que ninguém usa essa entrada. Deve ter alguma magia forte de proteção.

-Um campo de pressão cerca toda a mansão dia e noite. É desativado apenas nos horários que vocês-sabem-quem determina. – Continuou sr Weasley – como vocês podem ver, é quase impossível entrar.

-Tudo indica que Luke foi levado para a Mansão. Dolohov foi o encarregado de traze-lo em segurança até a Inglaterra, até vocês-sabem-quem mais precisamente. Temos a informação confirmada por um dos nossos espiões que ele está sendo mantido bem alimentado, mas no mesmo corredor que vocês sabem quem dorme.

-Tonks, para que tudo isso se não temos nem idéia de como passar sequer pelo campo de pressão? – disse Rony irritado, ficando cada vez mais vermelho.

-O ponto é exatamente esse Rony. – disse Penny – estamos discutindo como faremos para entrar na mansão. Até agora a Ordem fez muitas loucuras, mas nada comparado a invadir a residência de Voldemort. Não temos nenhuma noção do que pode acontecer lá dentro. Não é território neutro.

-Eles invadiram Hogwarts. – disse Harry com a mesma voz fria que falara com Penny, olhando fixamente o modelo da mansão emitido pela varinha do sr Weasley – Nós conseguiremos achar um jeito de invadir a mansão e recuperar meu filho.


-Ginny, você precisa leva-lo para longe. Está correndo muito risco ficando aqui. Pegue-o e traga para que possamos cuidar dele. Este mundo já não é mais seguro. – a voz inconfundivelmente feminina que vinha visitando Ginny a muitas noites em seus sonhos lhe fez despertar. Um rosto aparecia em meio ao nevoeiro, e então seu coração disparava.

Levantou-se da cama e checou o relógio no criado mudo. Três da manha.

Mais uma madrugada sem poder segurar Luke, alimenta-lo e então faze-lo dormir, enquanto cantava alguma musica inventada na hora. Foi ao banheiro lavar o rosto e se preparar para mais uma noite sem dormir.

Deixou a água ser aquecida na pia, e então começo a esfregar seu rosto. O espelho ficou embaçado pelo vapor, e sem pensar, desligou a torneira e começou a passar a palma da mão para poder ver seu reflexo.

-ARGHHH! - Gritou desesperada olhando para o espelho, e se afastando. Tentou abrir a porta, mas estava trancada. Ela nunca trancava o banheiro.

-Se acalme, Ginny. – a mesma voz de seus sonhos chegava aos seus ouvidos, porem desta vez, bem real.

-O que você quer? – disse tentando não demonstrar seu medo.

-A pergunta não é essa Ginny. Você sabe porque eu estou aqui. – Ginny tentou se espremer ainda mais na porta, que realmente não se abria quando o rosto da mulher ficou nítido no espelho. Longas pestanas curvadas delineavam os olhos de cor lilás mais serenos que a ruiva já vira.

-Eu não sei porque está aqui. – respondeu tentando parecer relaxada. A mulher do espelho riu.

-Você não precisa ter medo Ginevra. Se desejar tanto ir para o quarto, pode ir. – ela piscou os dois olhos do espelho, e então a porta se abriu.

Ginny saiu do banheiro batendo a porta fortemente.Ficou alguns segundos com os olhos bem apertados com medo de abri-los, e então quando sua respiração se acalmou, voltou a abri-los.

-Por Merlin o que você tanto quer? – disse ela, finalmente, perdendo realmente o medo e começando a se enfurecer com a mulher.

-Quero que você me escute, Ginevra. – Não havia espelho entre elas desta vez. Os olhos lilases estavam mais claros ainda, e os longos cabelos mesclados em tons dourados caiam até sua cintura decorado com flores que Ginny jamais vira antes.

-Pois bem. Estou te escutando. – disse a ruiva corajosamente, sentando-se na beira de sua cama, do lado contrario á estranha mulher.

-Sou Tália.

-Você é uma bruxa? – perguntou a ruiva, incerta fazendo a outra gargalhar.

-Não meu bem. – disse quando parou de rir – Eu não sou uma bruxa. Mas este não é o momento para falar de mim.

-Mas... – Ginny ia protestar, mas sentiu seus lábios serem selados com o gesto de mão que a outra fez.

-Vim aqui sem ter muito tempo, para te alertar, Ginevra. Você escolheu se esquecer por uma razão muito forte. Para que você seu filho e o homem que ama pudessem viver. Assim que pegar Luke, se ele não estiver marcado, fuja. Suma de todos. Porem, se ele já tiver caído em desgraça com a marca, não há mais nada que você vá poder fazer. Não se esqueça.

-Espere! – Ginny conseguiu voltar a fala enquanto a mulher a sua frente começava a se dissolver em nevoa – Eu preciso saber do que você esta falando!

-Quando quiser nos encontrar, entre em contato com seu coração e com a natureza.

Ginny queria gritar para ela não ir. Mas logo que pisco, a nevoa já tinha deixado seu quarto, e tudo parecia extremamente normal. Olhou a televisão sentindo que aquele lugar estava se tornando trouxa demais para ela. Seu coração estava acelerado.

O que ela quisera dizer com marca? Colocou uma capa sobre a camisola, e resolveu dar uma volta na rua para poder se acalmar daquele estranho encontro.


-O que você está querendo dizer com alguém mais jovem? – disse Draco irritado.

-Que eu não posso ser vista por ai andando com você! – disse a garota, olhando para ele de cima a baixo, enquanto jogava os cabelos para trás. – Não que sua aparência seja de todo mal, mas você parece antiquado demais.

-Olha garota, já é ruim o suficiente ter que andar atrás de uma trouxa adolescente o dia todo. Não me irrite mais. – ele falou entre dentes.

-Trouxa? – ela riu - E eu devo saber o que isso quer dizer? Deve ser alguma gíria do seu tempo.

-Eu não sou velho, e isso não é nenhuma gíria que você uma simples sangue... – conteve-se antes de adicionar o ruim a sua frase. – Olha, eu não estou feliz de estar aqui, então por favor vamos fazer isso funcionar da melhor maneira.

-Sim, vai funcionar perfeitamente bem se você mudar essas roupas esquisitas! Meu pai disse que ninguém saberia que você é meu segurança.

-Eu não sou seu segurança pra começo de conversa.

-Claro que é. Se vai andar atrás de mim para me proteger, é meu segurança.

-Eu vou te proteger, mas não sou seu empregado. – ele falou carrancudo. Ela o estava tirando do sério.

-Eu só estou te pedindo pra trocar de roupa. Se você quiser, eu mesma vou com você a uma boa loja de gente normal, comprar roupas adequadas pra você andar comigo. – Ela jogou novamente os cabelos para trás. Draco irritou-se com esse gesto, já era a segunda vez que ela o fazia. Teve vontade por alguns momentos de gritar e dizer que não mudaria sua roupa, mas algo na maneira que ela pediu, mais educadamente, o fez dar de ombros. E também, já que viveria entre os trouxas, pelo menos seria conhecido como um trouxa de classe alta.

-Está bem. Vamos comprar essas roupas.

-Vocês vão para algum lugar? – Jefrey Bulevan, o Ministro da Magia trouxa descia as escadas de sua mansão para se juntar a Draco e a filha na sala.

-Sim. Vamos comprar umas roupas mais adequadas para ele. – Scarlet sorriu para o pai, que pareceu ligeiramente tenso.

-Scarlet, não creio que passeios sociais sejam do agrado do sr Malfoy.

-Pai, se ele vai ser visto comigo em todas as ocasiões tem que estar no mínimo vestido de maneira apropriada. – ela piscou os olhos verdes para o pai e sorriu – alem do mais, se não confiasse nele, não me deixaria em suas mão, papai.

Jefrey pareceu ligeiramente em duvida.

-Tudo bem, podem ir. Creio que vai precisar mesmo se parecer com um jovem normal, já que vai ser estudante de Oxford, sr Malfoy.

-Papai, outra coisa. – disse Scarlet enquanto pegava sua bolsa e a pendurava no ombro – se ele vai ser meu novo melhor amigo para todo mundo – disse ela ironicamente – acho devemos chamá-lo pelo primeiro nome.

-Sim, creio que está certa. Acho que devemos todos nos tratar por primeiro nome. O que pensa, sr Malfoy?

-Por mim tudo bem me chamarem de Draco.

Scarlet riu alto jogando novamente os cabelos. Draco teve vontade de amaldiçoa-la.

-Me perdoe, mas Draco é um nome muito engraçado! – continuou ela rindo.

-Scarlet é um nome muito trouxa também. – disse ele fingindo não ligar. Ela parou imediatamente de rir.

-É o nome de uma personagem muito importante está bem? - disse ela carrancuda.

-Para mim, isso só o torna ainda mais trouxa.

-Bom, vejo que vocês dois já estão a ponto de brigar. – disse Jefrey – Sr Malfoy, sabe que é contra minha vontade, mas sei que sua presença é necessária. Cuide bem dela, apenas peço isso.

Scarlet virou os olhos, entediada, e logo arrastou Draco porta a fora.


Sentiu o frio da madrugada atingir seu rosto. Não sabia como explicar a certeza de que há duas quadras do hotel havia uma bela praça. Sentou-se em um banco, observando a cor do céu começar a mudar, e em poucos minutos, notou alguém se sentando ao se lado.

-Não sabia que estava sendo vigiada por você.

-Ninguém sabe. – respondeu ele – Mas achei que te conhecendo como conheço, e acredite, muito, não podia deixa-la.

-Sinto uma sensação muito estranha perto de você. – se amaldiçoou internamente por ter falado aquilo. Virou o rosto para olha o homem a primeira vez aquela noite, e encontrou os grandes olhos verdes olhando-a atentamente.

-Eu sei. Mas não devo te falar agora o motivo disso. – disse Harry virando o rosto – Hermione está certa em dizer que sua cabeça está cheia demais.

-Sim. Mais cheia do que jamais esteve.

-Não devia dizer isso se não se lembra da maior parte da sua vida – ele falou sorrindo levemente.

-Você provavelmente está certo. – respondeu ela retribuindo o sorriso. – Então porque você não me conta se minha cabeça já esteve mais cheia antes?

Harry passou algum tempo olhando pra frente pensativo.

-Eu diria que sim, mas acho que não existe nada mais desesperador do que perder um filho. – disse ele parecendo perturbado.

-Nem me fale. – ela suspirou pesadamente, e ele pode ver os olhos que conhecia tão bem, se encherem de lagrimas, que ela tentava conter. Teve vontade de abraça-la e dizer que iria ficar tudo bem, mas sabia que só iria assusta-la se fizesse isso. Inevitavelmente, passou o braço por trás do ombro da ruiva, e puxou-a para um abraço.

-Vai ficar tudo bem. – ele falou, sentindo a própria voz ficar embargada.

Caminharam conversando enquanto o dia raiava de volta para o hotel, e Ginny sentiu-se a vontade, e segura ao lado dele.

-Bem, muito obrigado pela companhia e o consolo. – disse ela no lobby do hotel se despedindo.

-Eu que agradeço. – falou ele, algo em seu tom denunciando uma profunda amargura – fazia algum tempo que não conseguia conversar assim com alguém.

Ginny abriu a boca para responder, mas foi interrompida por uma mão lhe tocando a cintura.

-Achei você!

-Danny. – Ginny virou-se e encarou Danny olhando-a com um sorriso.

-Este não foi um tom muito empolgado! – disse ele, brincalhão.

-Eu só não esperava te ver aqui. – ela falou tentando parecer feliz.

-Eu vi sua foto no jornal andando aqui e fiquei me perguntando porque não te fazer uma surpresa. Você não retornou minha ligação.

-Não me passaram o recado. – ela respondeu.

-Tudo bem, querida, eu estou aqui agora – ele a abraçou e tentou lhe dar um longo beijo, mas a ruiva recuou logo que seus lábios se tocaram.

-Este é Harry Potter – ela começou a falar, mas quando seus olhos seguiram para onde Harry estivera poucos segundos atrás, ele havia sumido.

Sentiu involuntariamente um aperto no peito e logo depois, um vazio. Danny tentou abraça-la novamente, mas ela não o queria por perto.

Olhou em volta mais uma vez a procura do moreno com quem passara a noite, mas ele realmente a havia deixado sem sequer se despedir.