Disclaimer 1: Os personagens de Yu Yu Hakusho não me pertencem e esta ficção não tem fins lucrativos.

Disclaimer 2: Esta estória é uma tradução autorizada dos originais em inglês de "The Crystal Heart", publicada neste site sob o pen name de 'Dragonflyr'.

Nota da tradutora: Juntei, por conveniência, os capítulos 02 e 03. Para traduzi-los em seqüência ficou mais fácil e como eram curtos, eu os condensei. As marcações e títulos originais porém foram mantidos e estarão indicados.

Capítulo Dois

Arrependimentos

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Hiei encarava atônito a forma caída diante dele. A poça rubra no chão lentamente espalhou-se, tocando suas botas. Ele não se moveu, apenas olhava fixo em silêncio.

"Por quê...? Kurama…" A mente de Hiei tentava compreender o que tinha acabado de presenciar: Kurama estirado diante de seus olhos, o Coração de Cristal ainda seguro em sua mão fria. Os olhos de Hiei procuraram as faces da jóia manchadas de sangue entre os dedosdo amigo. Amigo. O que realmente Kurama era – ou tinha sido para ele? É óbvio que Kurama pensava diferente.

Hiei percebeu que suas pernas tremiam e antes que pudesse parar, tinha os joelhos afundados no tapete úmido. Sentia o sangue de Kurama ensopar suas calças. Os olhos de Hiei pousaram sobre o rosto da raposa, escondido pelo cabelo escarlate.

Lentamente, em um movimento preciso e mecânico, ele virou o corpo de Kurama e deitou a cabeça do kitsune sobre o colo. Os olhos frios, sem vida de Kurama estavam ainda abertos e Hiei desviou o olhar enquanto os fechava gentilmente. Quando voltou-se para fitar o rosto sem vida de seu amigo, alguma coisa acendeu em seu coração. Algo que o fez esquecer por completo Mukuro e o Coração de Cristal pelo qual Kurama tinha se sacrificado.

"Kurama…" Hiei conseguiu sussurrar. Ouviu um suave 'tunk' ao seu lado e virou-se para ver uma jóia em forma de lágrima repousando sobre o tapete ensangüentado. Ergueu a mão e sentiu, em espanto, sua bochecha úmida – sequer tinha percebido que estava chorando.

"Eu… Eu… Eu sinto muito, Kurama," Hiei engasgou-se com mais pedras de lágrimas que caíam no tapete. "Eu... Eu…"

Tentou dizer algo, mas sua voz congelou. O que mais poderia dizer agora? Agora que tinha percebido o quão errado estava acerca dos seus sentimentos?Mas de que servia isso agora? Kurama estava morto e era tudo sua culpa.

"Sua felicidade é tudo o que eu sempre quis."

Aquelas tinham sido as palavras de Kurama. Ele tinha morrido para fazer Hiei feliz, para que Mukuro não o rejeitasse. Mas Hiei nunca mais poderia ser feliz agora.

"Baka", Hiei murmurou, abraçando Kurama junto dele, afundando seu nariz naquelas mechas rubras ainda com um brando perfume de rosas. "Você não podia pensar em você só por uma vez?" Apertou os olhos e suspirou, num balbucio quase infantil "Eu amo você. Por favor, não me deixe sozinho."

As pedras de lágrimas desciam em cascata sem controle agora, mas Hiei não se importava. A poça de sangue no chão tinha ensopado sua roupa por completo, mas Hiei não se importava. O Coração de Cristal, aquela coisa que Hiei esteve tão determinado a possuir, jazia abandonado no tapete manchado de sangue e ele não se importava.

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Mukuro virou-se para a porta de seu quarto que abrira-se. Hiei estava lá, mas ela mal o reconheceu – a cabeça baixa, coberto de sangue: sangue que não cheirava como o dele; a mão direita tremia, alguma coisa segura no seu punho enfaixado.

"Hiei…?" Ela não esperava que ele voltasse. Pelo menos, não tão rápido.

"Eu disse que traria ele para você e aqui está." Hiei rosnou tão baixo que ela mal conseguiu compreender as palavras. Mukuro deu um passo para o lado – alguma coisa passou zunindo pela sua cabeça, se estilhaçando contra a parede atrás dela. Voltou os olhos para a porta, mas Hiei já tinha desaparecido. Desta vez, ela sabia que ele não ia voltar.

Com um suspiro, Mukuro encarou os fragmentos do Coração de Cristal no chão, especulando como Hiei o tinha conseguido e a quem ele pertenceu.

# —

Capítulo Três

Desaparecido

"Algum sinal dele?" Koenma perguntou a Botan, que entrava no seu escritório, o cabelo desgrenhado pelas longas horas de vôo sobre o seu remo e com olheiras de exaustão sob seus olhos.

"Não, senhor." Suspirou, afastando uma mecha safira de perto dos seus olhos. "Mukuro também não vê Hiei há mais ou menos três meses." Ficou em silêncio por algum tempo, antes de olhar novamente para seu patrão, os olhos lavanda cheios de lágrimas. "Você... Você... Você não acha realmente que Hiei é o responsável, não é?"

"Eu não sei, Botan." Koenma respondeu, sério. "Hiei estava bloqueando minha vigia na noite em que tudo aconteceu, então eu não tenho provas de que não foi ele. E ele estar se escondendo agora e sequer ter aparecido para o funeral de Kurama não ajuda a limpar o nome dele também."

"Mas… Mas nós ainda não recuperamos a alma de Kurama…" Murmurou Botan, sem estar bem certa da significância daquilo para provar a inocência de Hiei.

"Tudo o que sabemos são os fatos." Koenma suspirou, parecendo tão cansado quanto Botan. "E os fatos são: quando Hiei entrou na casa de Kurama, ele estava vivo e quando Hiei saiu de lá, ele não estava mais."

"Eu... Eu sei… mas… mas... Hiei não teria..." as lágrimas corriam pelo rosto da entidade de cabelos azulados. Koenma suspirou, massageando as têmporas com a ponta dos dedos. A última coisa de que precisava era Botan se desesperando no seu gabinete – outra vez.

"Botan, vá descansar um pouco. Hiei vai ficar escondido o tempo que quiser ficar escondido; você sabe disso tão bem quanto eu. Quando ele quiser ser encontrado, nós vamos encontrá-lo."

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Hiei sentou-se em um galho de árvore muito alto, camuflando seu ki tão completamente que mesmo ele tinha dificuldades de senti-lo. Encarou a jóia vermelho sangue em suas mãos. A coisa que tinha atirado em Mukuro não era o verdadeiro Coração de Kurama. Ele tinha encontrado um rubi grande e barato e o atirou contra ela como se fosse o Coração de Cristal.

Jamais quebraria o Coração da raposa, pelo menos não fisicamente, de maneira alguma. Não... Os sentimentos cristalizados do seu amor eram preciosos demais para serem desperdiçados com Mukuro.

Mas sendo justo, a culpa não era de Mukuro. Ela era uma líder forte e uma boa amiga: um dos poucos amigos que ele permitiu que se aproximassem dele. Expressou seus sentimentos por ela, ou os sentimentos que achava que tinha por ela e Mukuro, que estava em uma situação limite tanto quanto ele, não pôde simplesmente rejeitá-lo. Então, ou invés disso, lhe confiou uma tarefa que julgava impossível, na esperança de que ele desistisse cedo ou tarde ou mesmo passasse o resto de sua vida tentando – em ambos os casos, evitando aquela situação de confronto tão desconfortável para ambos. E, honestamente, ela não tinha culpa. A culpa toda era sua. Ele só não estava ainda preparado para assumi-la.

Hiei continuou olhando para a jóia, a luz do sol poente cintilando pelas suas muitas facetas. Já se passavam três meses humanos agora. Sua raposa já devia estar enterrada. Por alguma razão, este pensamento o deixava irado, mas não entendia o porquê. O que mais podia esperar que fizessem com um corpo morto?

Morto.

Kurama estava mesmo morto, não?

Hiei ainda cheirava a sangue de Kurama – não importava quantos banhos tomasse ou quantas roupas vestisse, todo ele ainda cheirava a sangue da raposa. Dava-lhe ânsias de vômito todas as vezes que inspirava o odor, então Hiei passou a respirar pela boca e evitar respirar pelo nariz o máximo que podia. Ele tinha até tentado uma variedade imensa de perfumes de demônios – nenhum deles que cheirasse qualquer coisa melhor do que carniça, mas eles só disfarçavam o cheiro, não o faziam desaparecer – nada jamais faria o cheiro do sangue de Kurama desaparecer.

Já fazia uma semana que não dormia. Toda vez que fechava os olhos via Kurama enterrar a mão no peito e tirar dele seu Coração novamente. E aquelas palavras! Aquelas palavras horríveis, assombradas, que o atormentavam o tempo todo, sempre em sua mente, naquele terno contralto que ele nunca mais ia ouvir.

"Sua felicidade é tudo o que eu sempre quis."

Cerrou mais firme o Coração de Cristal em sua mão. Seu corpo se sacudiu com a força que fazia para refrear a maré de lágrimas que ameaçava explodir. Nunca em sua vida, nenhum dos inenarráveis horrores que vivenciara jamais o fizeram ter vontade de chorar... Até agora. Grunhindo, ele se levantou, contemplando o Coração em sua mão, o sangue pingando da pele ferida pela jóia que ele apertara com força demais.

"Eu vou encontrar um jeito de te trazer de volta, Kurama!", rosnou Hiei. Então, seu olhar se suavizou e ele trouxe o Coração de Cristal para junto do seu peito, junto ao seu próprio coração. "Prometo que vou." Ele repetiu, permitindo uma lágrima em forma de jóia cair na Floresta abaixo de si.

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Agradecimentos: Muito obrigado aos comentários de ( minha primeira review! ), Lu-Hiei-Harumi ( também achei a estória muito linda... Foi o maior incentivo para eu topar essa maluquice de tradução! ), Tsuki Koorime ( Ah! Muito obrigada! Eu pessoalmente amo o casal, e traduzi fic porque há uma escassez geral de fic do casal em português. Vindo de alguém que não é fã do casal como eu, o review tem ainda mais valor! ), Yue-Chan ( olha aí, dois capítulos de lambuja! Obrigada por acompanhar! ), Akai-Tenshi ( aww... Obrigada por acompanhar minhas fics e esta tradução também! ) e Olívia-jun ( pode ficar com preguiça que a tradução continua! Obrigada por gostar da tradução – é feita com muito carinho! )