"O homem é um animal inclinado ao mal, sumamente feroz e soberbo;

é naturalmente vaidoso e dará tudo só por cortejos e estimação dos outros."

(Tomás Antônio Gonzaga)

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Este capítulo é M por conter cenas de violência.

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Disclaimer: "InuYasha" é propriedade de Takahashi Rumiko.

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Noites sem Fim

Capítulo 1: Falando sobre os medos

Para Palas Lis (Feliz aniversário, menina!)

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As noites de Tokyo estavam quentes. Era muito complicado sentir calor durante o dia e também à noite, principalmente se a pessoa saía para trabalhar nesse horário. Como se sabe, os trabalhos noturnos nas empresas tinham gratificações melhores que as do período diurno.

Também era um momento perfeito para fazer outros tipos de trabalhos. Os envolvidos na yakuza, a máfia japonesa, que o digam.

Próximo a um galpão abandonado de uma empresa qualquer, um rapaz se apoiava no capô do carro e soprava um pouco de ar nas mãos fechadas. Quem o olhasse mais de perto, perceberia também que ele tremia, mas não era de frio.

O rapaz, ou melhor, aquele adolescente de treze anos olhou as horas no relógio no pulso. Foi só então que notou que tremia. Era nervosismo.

Akai Inuyasha era o nome dele.

Esperava pela volta do irmão e dos primos, que estavam dentro do galpão. O irmão – mais velho – dissera que ele faria o primeiro "serviço" da vida dele naquela noite. Inuyasha entendeu que era algo como ajudá-los a carregar algumas coisas ou dirigir ou... Qualquer coisa. Só que, quando soube que ia sair, começou a ter um mau pressentimento. Alguma coisa ia dar errada, ia sair muito, muito mal.

Sentiu um frio na espinha. Começou a suar. O peito doía por alguma razão desconhecida e conseguia até mesmo escutar as batidas do coração – se conseguisse se concentrar bem. Foi assim durante todo o trajeto de carro até ali.

-Inuyasha. – a voz do irmão soou e ele virou o rosto para trás, vendo-o aproximar-se em companhia de dois primos: Akai Miroku e Akai Hakudoushi.

-Que foi? – as mãos foram imediatamente aos bolsos para não se mostrar nervoso, olhando primeiro os primos.

Hakudoushi, um japonês descendente de noruegueses, estava com a roupa suja de sangue. Era um kimono claro que usava como uma uniforme nas ocasiões que precisava sair para fazer serviços como aquele e que combinava com a cor dos olhos e cabelos dele; carregava uma espécie de cajado de longa lâmina, que estava suja, e a colocou por cima dos ombros. Chamava atenção mais que Miroku – que tinha um sorriso que o mais novo considerava estúpido demais-, primo de Inuyasha, e Sesshoumaru, o irmão mais velho.

Ao olhar o irmão, viu que este arrastava um homem de olhos vendados, que tropeçou ao ser empurrado em direção de Inuyasha.

-Preparado, Inuyasha? – o irmão perguntou. Não estava tão sujo quanto Hakudoushi, o que significava que nem precisou usar a arma porque o primo fez todo o serviço sozinho.

Preparado? Preparado para o quê, exatamente?

Como o irmão continuou em silêncio, Sesshoumaru – um rapaz de quinze anos – precisou repetir:

-Você está pronto, irmãozinho?

-Pronto... Pra quê? – Inuyasha quis saber.

Sesshoumaru, da distância em que estava dele, jogou um objeto que Inuyasha agarrou no ar. Ele abriu as mãos e jogou-o no chão ao se assustar ao ver o que era.

-Cuidado com a minha arma, idiota. – Sesshoumaru falou com mau humor.

-Por q...? – Inuyasha se desencostou do carro e se afastou deles e do homem ajoelhado, que não tremia como ele. – O que é isso?

-Mate esse homem. – Sesshoumaru falou sem emoção.

-QUÊ? – o mais novo arregalou os olhos.

-Foram ordens de Bokuseno. – o irmão explicou, apontando para a automática a alguns passos de Inuyasha. – Pegue essa arma e faça esse serviço.

-Ei, mas ninguém me falou que eu tinha que fazer isso! – Inuyasha protestou, mais nervoso que antes. A dor no peito aumentou e sentiu alguma coisa parar na garganta para querer sair pela boca.

-Ué, pra quê? – Miroku arqueou as sobrancelhas. – Queria fazer uma preparação espiritual antes?

-Cala essa boca! – Inuyasha gritou ao primo, que deu de ombros, e olhou o irmão. – Ele nem me falou sobre isso!

-Eu acredito que nosso pai e ele tenham falado a respeito do que teria que aprender quando contaram do que fazemos parte. – Sesshoumaru tinha um tom irônico na voz. – Não é tão difícil, Inuyasha. Pegue a arma, coloque na cabeça dele e dispare.

-Não!

Hakudoushi passou por Sesshoumaru e Miroku e se aproximou do homem, fincando a arma no chão, que era quase do tamanho dele.

-Hakudoushi – Sesshoumaru o chamou e estreitou os olhos quando teve atenção dele. –, é para Inuyasha fazer isso, não você.

-Ele está nervoso, não percebeu? – o primo estava inexpressivo. – É inútil pedir. É capaz de Inuyasha disparar antes de fazer a mira da cabeça desse sujeito.

Sesshoumaru foi até Inuyasha, parando no caminho para pegar a arma e entregá-la a ele.

-Não me faça perder a paciência, Inuyasha. – ele falou, forçando a mão dele a segurar a arma. – Esse homem já decidiu que prefere morrer a ter que falar alguma coisa. – empurrou o irmão até o condenado. – Mate-o.

A arma de Hakudoushi impediu que Inuyasha caísse em cima do sujeito e de chegar ainda mais perto. De costas e com o rosto virando para o lado, os irmãos conseguiram notar um brilho de aviso nos olhos lilases do mestiço. Era como se falasse para não se aproximar da presa dele.

-Saia da frente, Hakudoushi. – Sesshoumaru ordenou.

-As únicas ordens que recebo são de meus tios.

-Os seus tios são os meus pais, esqueceu? – o outro replicou com frieza.

-Ih... – Miroku murmurou.

-Inuyasha, você não quer fazer isso, quer? – Hakudoushi perguntou.

O primo ficou calado.

Diante disso, Hakudoushi tirou a arma do chão e a segurou, preparando-se para dar o golpe. Olhou o homem e viu que ele estava calmo e imperturbável diante da discussão.

Mais rápido que Hakudoushi, Sesshoumaru fez o irmão segurar a arma e o fez disparar contra a cabeça do sujeito. O tiro foi tão próximo que espirrou o sangue nas roupas de Inuyasha e no rosto de Hakudoushi, que ficou na mesma postura e de olhos fechados em sinal de irritação.

O mais novo largou a arma e se afastou dos dois, sentindo até mesmo falta de ar por causa do que acabara de fazer. Caiu de joelhos no mesmo instante que o corpo tombou no chão frio, tentando respirar enquanto olhava a poça de sangue que se formava num ponto.

Alguns segundos se passaram até Hakudoushi abrir os olhos e abaixar a arma, lançando um olhar de ódio a Sesshoumaru.

-Essa não vai passar em branco. – ele avisou, passando a manga direita no rosto para limpá-lo.

-Oh? – Sesshoumaru permitiu que um sorriso levemente divertido se curvasse nos finos lábios dele.

-Você fez isso de propósito, não é? – Hakudoushi pegou o cajado e o apoiou num dos ombros; Sesshoumaru deu um passo para trás e começou a carregar a arma.

-'Tá bom, 'tá bom... – Miroku ficou entre os dois. – Já acabamos aqui. Vamos embora.

Os dois ficaram se encarando. Parecia que ainda estudavam o adversário para começarem a brigar ali mesmo. Sesshoumaru deu as costas a Hakudoushi e este voltou a limpar mais o rosto, sujando mais a roupa.

-Levante-se, Inuyasha. – Sesshoumaru direto passou pelo irmão e entrou no carro, sentando-se no banco ao lado do de motorista, que foi ocupado por Miroku.

Inuyasha continuava no chão, olhando a trilha de sangue que escorria do cadáver e chegava até ele, abraçando-se pela cintura e respirando com mais calma.

Ergueu o rosto ao ver os pés de Hakudoushi em frente a ele, encontrando os olhos frios do primo.

-Não dê a oportunidade a Sesshoumaru de deixá-lo para trás. – ele falou. – Levante-se logo e não baixe a cabeça perto dele.

Era um bom conselho. A última coisa que queria era ver Sesshoumaru espalhando por aí que o irmão mais novo era um medroso.

Inuyasha ficou em pé e limpou a mão no casaco marrom que vestia, notando que a blusa clara por baixo estava manchada. As calças também, já que havia uma outra poça de sangue se formando perto dele e nem percebera.

Hakudoushi abriu o porta-malas e jogou a foice dentro, fechando-o e entrando no carro, encontrando Inuyasha já sentado ao lado dele no banco de trás.

-Toca pra onde, agora? – Miroku quis saber, dando a partida no veículo.

-Casa. – Hakudoushi e Sesshoumaru falaram ao mesmo tempo, travando uma batalha com olhares estreitados pelo retrovisor.

Miroku balançou a cabeça. Nessas horas é que ele gostaria de escutar os sermões do tio dele sobre aqueles dois. Felizmente os dois pararam de se olhar quando Hakudoushi retirou a parte de cima do kimono e ficou apenas com o haori, a camisa de dentro.

Dando uma olhada pelo retrovisor, ele percebeu que Inuyasha ainda tinha leves tremores e olhava para o lado de fora, especificamente para o corpo que abandonaram ali. À medida que o carro começava a se movimentar, a cabeça dele continuava virando para que o olhar alcançasse uma última vez à pessoa que matou.

O carro ganhou as ruas da capital. Quase vazias e enfeitadas pelos painéis eletrônicos e arranha-céus, a metrópole japonesa de 31 milhões de habitantes ficava 24 horas acordada. Era um misto de tradição e tecnologia que enchia aos olhos de qualquer turista. Inuyasha, no entanto, olhava tudo desinteressado. Já vira aquelas ruas milhares de vezes e nada tinha de novidade nelas.

O silêncio continuou no veículo até Hakudoushi fazer uma pergunta quando ele e Sesshoumaru perceberam que não estavam indo para casa:

-Para onde está nos levando?

Miroku não respondeu. Continuou dirigindo e o carro se aproximava da zona de turismo e diversões da Baía de Tokyo.

-Miroku. – Sesshoumaru resolveu falar. – Para onde pensa em me levar sem me dizer? – usou o pronome pessoal como se fosse mais o mais importante dentre os quatro.

-Calma. Já vão ver.

Ficaram calados durante o trajeto inteiro, até Miroku parar em frente ao que parecia ser uma casa de chá que ficava aberta às madrugadas.

-Chegamos. – Miroku anunciou com um sorriso malandro. – Venho aqui sempre que me deixam sair à noite.

O rapaz ia descer do carro, mas gelou ao sentir uma adaga tocar no pescoço e a automática de Sesshoumaru um pouco acima da orelha esquerda.

-Eu tenho uma prova para fazer à uma da tarde, infeliz. – Hakudoushi avisou, estreitando o olhar e pressionando a lâmina na pele do primo para meter-lhe medo. – Eu quero dormir e você nos traz a um bordel?

-Dê a partida agora, Miroku, ou vou trancá-lo no porta-malas e jogar esse carro dentro da baía.

-Não é "bordel". – Miroku se defendeu, erguendo as mãos. – É uma casa de chá, não 'tão vendo?

Os primos continuaram desconfiados.

-Ei, 'cês não confiam em mim, não? Eu não sou doido de trazer o Inuyasha pra um bordel; ele é menor!

-Você também é. – Hakudoushi falou.

-E está dirigindo sem licença. – Sesshoumaru completou.

-Bem, ninguém reclamou até agora... – o rapaz deu de ombros. – Vamos nessa? – deu um sorriso forçado e abriu a porta, uma tentativa de convencer os outros a fazerem o mesmo.

Desistindo de ameaçá-lo, Sesshoumaru e Hakudoushi guardaram as armas e desceram do carro.

-Você não quer descer também, Inuyasha? – Miroku o convidou, usando um tom amigável.

-Não. – ele respondeu.

Escutou algo como um "Feh" de Sesshoumaru.

-Vamos lá. – Miroku abriu a porta e Inuyasha não teve outra escolha senão descer.

Os dois irmãos e Hakudoushi acompanharam Miroku até a porta de entrada. Era um lugar luxuoso, ideal para quem tinha dinheiro e queria marcar reuniões de negócios num ambiente agradável.

-Ta-da! – ele deslizou as portas para os lados e liderou o grupo até uma das mesas vazias.

Era ainda madrugada, mas era impressionante como havia muita gente no local. Mais uma prova de que a vida noturna era muito agitada na cidade.

-Olá. – uma garota trajando um kimono colorido demais apareceu e sentou-se perto de Miroku. – O que está fazendo numa hora dessas?

-Negócios, Botanzinha... Negócios. – Miroku ergueu uma mão e acenou num gesto categórico – Nada que sua cabeça deve saber.

-Oh? – ela ergueu uma sobrancelha e olhou os acompanhantes dele. – E quem são eles?

-Meus primos. – ele falou com orgulho. – Não tem uma salinha sobrando por aí? A gente queria conversar longe de todos.

A sobrancelha dela ficou ainda mais erguida.

-Vou ver... – ela levantou-se e ajeitou as sandálias e o kimono, perguntando. – Querem "companhias" também?

Os outros três olharam suspeitamente Miroku, que deu uma risada muito sem graça.

-Só a sala, Botanzinha... Por favor. – ele evitava olhar os primos para não ficar com medo.

Quando a garota foi embora, Sesshoumaru foi o primeiro a falar:

-"Não é 'bordel'".

-"É uma casa de chá, não 'tão vendo?" – Hakudoushi completou.

Miroku ergueu uma sobrancelha.

-Tio Toga costuma vir aqui pras reuniões com Bokuseno-sama, sabiam? É por isso que elas me conhecem.

-"Elas"?

-Detalhes, detalhes... – Miroku balançava as mãos para que eles esquecessem o que dissera.

-Tem uma sala pra vocês. – a garota colorida voltou e anunciou; os quatro se levantaram. – Vou levá-los até lá.

Seguiram-na por um corredor bem iluminado, subindo escadas de madeira para irem ao segundo andar. Uma sala estava com as portas deslizantes convidativamente abertas: era para eles. Do lado de fora, para recepcioná-los, estava uma garota com a mesma roupa que Botan. O olhar dela e de Inuyasha se encontraram quando a ela percebeu que ele analisava a roupa dela.

-Podem entrar. – ela se curvou ligeiramente e fez o tradicional gesto com as mãos para que entrassem.

-Isso, entrem, entrem! – Botan passou na frente deles e entrou na sala, indicando os lugares em que deveriam se sentar, falando num tom alegre. A outra garota também ajudava a acolhê-los, ficando mais próxima de Inuyasha que dos outros.

-Miroku-sama... – Botan uniu as mãos e encostou o rosto nelas. – Eu achei uma sala só pra gente... Faz tempo que não conversamos, né?

-É? – o outro se fez de desentendido, coçando um dos lados do rosto.

-Vamos conversar. – a garota o ameaçou com um olhar estreitado.

Erguendo as mãos na defensiva, Miroku sorria e, sem querer, olhou para o lado, vendo Inuyasha. A outra garota continuava do lado dele e o primo estava de cabeça baixa, olhando alguma coisa na mesa à qual estavam.

Sorriu quando teve uma idéia.

-Vamos lá, Botanzinha. – o rapaz ficou em pé e fez Inuyasha ficar em pé ao levantá-lo pela gola do casaco. – Vamos também, Inuyasha?

O mais novo ficou sem entender. Olhou o irmão e Hakudoushi, notando o choque nos rostos deles. Foi só então que entendeu.

E antes que eles e Inuyasha protestassem, Miroku o arrastou dali corredor afora. Só parou um instante na corrida para falar:

-Haru-chan, você também.

A garota corou um pouco e deixou que um sorriso curvasse os lábios. Saiu correndo atrás dos três, até esquecendo de fazer a reverência aos clientes.

A sala ficou silenciosa depois disso. Sesshoumaru encarou o primo antes que este começasse a tecer os comentários:

-Quem vai nos servir o chá, afinal?

-Miroku, seu idiota! – Inuyasha protestava no corredor, debatendo-se. Não podia simplesmente se soltar do casaco escuro para que as garotas não fizessem um escândalo ao descobrirem um assassino no local – Solte-me!

-Fica frio, Inuyasha. – Miroku abriu a porta de uma sala meio isolada da casa de chá e jogou o primo para dentro como se fosse um objeto sem valor, voltando depois para a garota, empurrando esta gentilmente pelos ombros. – Pode entrar, Haru-chan.

A porta se fechou atrás dela e finalmente se viram sozinhos.

-Ah... – ela começou timidamente. – O-Olá...

Inuyasha sentou-se no chão de madeira e suspirou. Era muito para uma única noite... Miroku ia pagar muito caro pelas brincadeiras.

-Sem essa, menina. – ele falou quando percebeu que ela ia abrir a boca para falar mais alguma coisa. – Era brincadeira do meu primo.

-Eu percebi. – ela deu um largo sorriso confiante. – Acho que ele queria que eu fizesse companhia a você.

-É? – ele arqueou as sobrancelhas, surpreso.

-Você parece muito nervoso com alguma coisa. – ela explicou, sentando sobre os próprios joelhos para ficar ao lado dele. – Quer conversar comigo para se sentir melhor?

-Não. – a resposta dele foi seca. Levantando-se, Inuyasha deu alguns passos antes de sentir o casaco ser segurado por ela.

-E-Espere... – a garota começou a falar.

-Que diabos que você...?

Não completou a frase ao vê-la pálida, olhando fixamente a mão que segurava a roupa dele. Havia sangue nela, o que só fez aumentar o nervosismo de Inuyasha.

Viu-a se afastar e levantar-se, curvando-se numa reverência exagerada de desculpas:

-S-Sinto muito, senhor! – ela quase podia encostar a testa no chão, falando rapidamente e quase sem pausar as palavras. – Sinto, sinto muitíssimo, mas eu não quis aborrecê-lo! Se eu puder fazer alguma coisa, qualquer coisa, basta pedir que eu ir--

-'Tá bom. – ele a interrompeu de repente, sentindo um alívio quando ela ficou quieta. Entretanto, ela continuava curvada com a testa encostada no chão, os olhos em alerta, o coração batendo rápido.

Suspirando de novo, ele ficou em pé ao lado dela e depois de sentou com as pernas cruzadas, tirando o casaco.

-Está com medo de mim? – ele perguntou num sussurro.

-N-Não. – ela mentiu, sem olhá-lo.

-"Haru", certo? – ele testou o nome dela.

-Takeshita Haruko, senhor. Mas as pessoas aqui costumam me chamar de Haru-chan. – ela respondeu depressa. – Há algo que o senh--

-Pare de me chamar de "senhor". – ele coçou a cabeça e dobrou o casaco de qualquer jeito, colocando ao lado dele. – Meu nome é Akai Inuyasha.

-Oh? – ela virou um pouco o rosto para o lado dele. – É parente do senhor Akai Toga?

-Sou filho dele. – o adolescente respondeu.

Haruko sorriu ainda preocupada. Aquilo significou para ele que ela sabia o que o pai dele era.

-Você poderia me ajudar numa coisa?

-No... No quê? – ela sussurrou.

-Eu preciso de algumas roupas limpas. – ele falou num pedido. – Não quero que meus pais descubram o que eu fiz.

A garota piscou em dúvida. Sentindo o mesmo que ela, Inuyasha começou:

-Eu matei um homem sem querer... – confessou num segredo. – Meu irmão me obrigou a segurar a arma e fez com que eu puxasse o gatilho... – engoliu em seco. – Isso não faz de mim um assassino, faz?

-F-Faz... – ela respondeu um pouco hesitante e ele baixou a cabeça em desânimo, segurando-a entre as mãos enquanto sentia novamente os tremores tomarem conta do corpo dele. Ela percebeu isso e sentou-se sobre os joelhos.

-Isso só o faz um assassino porque segurava a arma... O senh... Você não teve intenção de matá-lo, teve?

Inuyasha balançou a cabeça para os lados.

-Você conhece Bokuseno? – ele perguntou. Se Miroku realmente estivesse falando a verdade naquela hora...

-Claro que sim. – ela confirmou com um sorriso. – Ele costuma marcar reuniões aqui quase todos os dias. É nosso cliente mais assíduo.

-Meu irmão e meus primos estavam cumprindo uma ordem dele. – as mãos dele estavam no colo e o sangue nelas já havia secado, deixando apenas algumas "marcas" nas linhas das palmas. – Meu pai só nos deixou ir porque Bokuseno é líder dele... E também porque ele prometeu que não seria muito perigoso... Eu só soube durante o caminho que a tarefa era matar... – engoliu em seco. – Executar essas pessoas que planejavam matar Bokuseno e mais outros líderes da yakuza... Até meu pai 'tava na mira deles...

-Oh... – ela coçou a cabeça. – Então eu acho que não deveria se sentir culpado... Porque se eles realmente matassem seu honorável pai, você poderia se enfurecer e sentir vontade mesmo de matá-los... Aí você seria um assassino tanto quanto eles.

Inuyasha ficou pensativo. Uma vez, durante um treinamento, escutou Hakudoushi falar alguma coisa parecida. No caso do primo, ele afirmara que, se fosse para proteger alguém importante, não pensaria duas vezes antes de matar o adversário.

-É estranho encontrar gente que pense dessa forma... – ele comentou.

-Eu acho que qualquer um poderia fazer o mesmo. – ela deu de ombros de novo. – Se eu tivesse forças, também faria isso pela minha família.

-Acha mesmo...? – ele ainda tinha as dúvidas dele.

-Não gosto de pensar nessas coisas. – ela se encolheu e depois olhou a roupa dele. – Sua camisa também está suja. Eu vou pegar roupas limpas para você trocar.

Levantou-se e fez uma reverência a ele, saindo dali. Foi pelo mesmo corredor que levava à outra sala da qual vieram, passando pela porta entreaberta.

-Estavam só conversando. – Hakudoushi comentou.

-Oh?

Os dois tomavam chá. Ou melhor, só Hakudoushi. Sesshoumaru ainda não havia tocado no copo de cerâmica e tinha um ar pensativo, com os braços cruzados em frente ao peito.

-Eu disse que Inuyasha não teria coragem de fazer alguma coisa num primeiro encontro. – Hakudoushi começou a explicar. A mão direita contornava o copo e dois dedos da mão esquerda seguravam a base. Uma pose clássica herdada da cerimônia de chá. – Ficarão conversando durante um bom tempo.

-Eu já imaginava que isso aconteceria. - o primo fechou os olhos e zombou.

Hakudoushi bebeu mais um gole do chá.

-Você não deveria tê-lo persuadido a matar. – o mestiço tinha também os ar tranqüilo e os olhos fechados. – Aquilo foi um choque para Inuyasha.

-Ele se acostumará depois. – Sesshoumaru se limitou a opinar.

-Poderia ter pelo menos avisado sobre o que ele teria que fazer. Simplesmente não se chega a uma pessoa com uma tarefa que não está dentro das capacidades dela.

Sesshoumaru, para não ter que se irritar com a conversa do primo, resolveu tomar o chá. Pegou o copo e assumiu a mesma pose do outro.

-Bokuseno avisou que queria uma tarefa a nós quatro: "Sesshoumaru, Hakudoushi, Miroku e Inuyasha". – o irmão mais velho deu uma pausa enquanto bebia. – Inuyasha não deveria sair dali sem fazer alguma coisa.

Hakudoushi bebia chá tranqüilamente. Escutaram de novo passos no corredor e viram a mesma garota de antes passar pela fresta da porta.

-Quero dizer que uma pessoa fica sem saber o que fazer quando uma tarefa não é do alcance dela. Se uma criança não sabe escrever e pedem a ela para que escreva no quadro, ela não sairá do lugar. Inuyasha nunca matou outra pessoa, e isso tudo ainda é uma novidade para ele. – Hakudoushi tinha um ar sábio. – Uma conversa e um pouco de treinamento ajudaria, como tio Toga fez conosco. – tomou mais um gole e finalizou. – Provavelmente ele se acha um assassino por ter tirado a vida de alguém que nunca lhe fez mal.

-Essa tarefa eu deixo ao meu pai. – Sesshoumaru pousou o copo na mesinha e o encheu, colocando depois umas gotas de limão. O primo baixou o dele também e colocou um pouco de mel.

-O chá daqui é bom. – Hakudoushi comentou.

-Vai conseguir acordar cedo e se preparar para a prova da tarde? – Sesshoumaru quis saber.

-Já estou preparado. – o outro respondeu.

-Acha que vai passar?

-Eu costumo sempre pensar que vou alcançar um objetivo. Se não o alcanço, tento novamente.

-Eu nunca vi um mafioso que fosse médico. – Sesshoumaru foi irônico. – Vou adorar ver isso.

-Apenas quero seguir um desejo de minha mãe.

Sesshoumaru zombou.

-É estranho que realize um pedido desses só porque a outra pessoa quer. É quase como mandar uma criança analfabeta escrever o nome dela num quadro.

O copo de Hakudoushi parou por segundos nos lábios dele. E neles apareceu um pequeno sorriso antes que a borda encostasse para que ele pudesse beber o líquido.

-De qualquer forma, boa sorte para você. – Sesshoumaru desejou.

-Obrigado.

Ficaram em silêncio por alguns instantes.

-Você não deseja prestar os exames de alguma Universidade também? – Hakudoushi perguntou.

-Não vejo necessidade para isso. – Sesshoumaru bebeu alguns goles, escutando o primo zombar auditivamente.

-Eu me pergunto como você será quando for um adulto. – este falou. – Um líder mafioso somente com o segundo grau.

-E eu tento imaginá-lo matando seus pacientes. – Sesshoumaru replicou tranqüilamente.

o-o-o

Aquela noite em Tokyo também não estava fria para uma pessoa. Uma adolescente de treze anos.

Em pé em frente a uma janela, ela olhava séria e friamente os jardins da casa dela pelo escritório do pai. De vez em quando os lábios ficavam apertados e as mãos se cerravam e abriam, únicos sinais que indicavam a intensa sensação de revolta e desespero que sentia por dentro.

Por volta das onze horas, alguém ligou para avisar sobre um acidente com o pai dela. Ele se encontrava em estado grave e foi levado a um hospital que não permitia a entrada de "crianças" naquele horário. Somente a mãe dela e o avô foram.

A casa dela ficava numa área pertencente a um templo. O Templo Higurashi, um dos símbolos conhecidos do Japão. A família em si era muito rica e os negócios de Higurashi Kazuo eram inúmeros. Ela não tinha conhecimento do que eram – ele nunca falara a ela -, mas tinha uma pequena idéia. Se aquela pequena idéia se confirmasse, alguns até poderiam ficar assustados com a intuição dela.

Um carro chegou à propriedade. Ficou estacionado na rua em frente à escadaria e, do andar em que estava, ela pôde ver o sócio do pai a subindo em companhia do avô e da mãe.

Ainda estava na mesma posição: cabeça erguida, olhos fixos, mãos fechadas, batidas do coração controladas. Nada poderia fazê-la perder aquele precioso controle.

Alguma coisa... Doeu no coração dela ao ver a mãe com um lenço branco no nariz e se apoiando no avô. Não podia ver dali, mas com certeza estava chorando.

Depois que eles desapareceram do ângulo de visão da janela, ela quis esperar pacientemente que entrassem na casa, subissem e fossem ao escritório. Por isso, continuou olhando o jardim, porém estava de costas a quem entrasse na sala.

Segundos depois, era isso o que acontecia. A porta foi aberta por Yamamoto Satoshi, depois entrou a mãe e o avô da garota.

-Ki... K-Kikyo! – a mãe exclamou. – Ainda está acordada?

A garota virou o rosto lentamente até encontrar os olhos da mãe:

-A senhora já deveria imaginar que sim. – ela falou com frieza. – Como está meu pai?

A mãe virou o rosto e aí sim ela começou a chorar no ombro do pai.

Yamamoto limpou a garganta:

-Eu gostaria de conversar com você, Kikyo... Se não se importar de acordar tarde, claro, porque nossa conversa será muito longa.

Viu-a arquear as sobrancelhas. A senhora Higurashi e o avô saíram da sala e fecharam a porta, deixando-os sozinhos.

Apenas naquela hora foi que Kikyo percebeu que aquele senhor de idade avançada estava com o braço machucado. Como ele acompanhava o pai no momento do acidente, provavelmente se ferira também. Com um braço imóvel, ele usou o outro para oferecer uma cadeira de visitas a ela:

-Sente-se, por favor.

Kikyo estreitou de leve os olhos. Em lugar de sentar na de visitas, ela tomou o lugar que costumava ser usado pelo pai à mesa.

Yamamoto percebeu a derrota e sentou-se na de visitas, encarando a "criança" por alguns minutos. Ela não quis perguntar nada por achar que ele ainda formulava o que ia falar.

-Kikyo... – ele começou. – Você já sabe o que aconteceu, não?

Não obteve resposta dela, mas imaginava que sim.

-Seu pai não resistiu aos ferimentos. – ele fechou os olhos e baixou o rosto. – Foi uma perda muito grande e eu não tenho palavras de consolo para dizer a você, criança... Isso porque eu também estou abalado por ter perdido meu amigo.

De novo, ela ficou calada.

-Vamos fazer os preparativos para o enterro dele ainda hoje. – ele continuou. – Peço apenas que descanse bem e tente consolar seus irmãos... Os deuses sabem que eles vão chorar por causa dele. – deu um pequeno sorriso amigável. – Por que você não...

Kikyo tinha a estranha capacidade de assustar as pessoas quando as olhava num momento de seriedade. Yamamoto parou de falar justamente por causa disso, limpando depois a garganta para disfarçar o nervoso que ela o causou.

-Então eu acho que é hora de ler isto, não? – ela tirou de dentro do roupão feminino de cor escura uma carta carimbada com o nome do pai.

Os olhos dele ficaram levemente maiores de surpresa.

-Onde ac--?

-Meu pai tinha o dom pra prever coisas ruins. – ela deu um sorriso levemente irônico, mostrando a ele que já estava muito bem preparada para a ocasião. – Ele me entregou isso na semana passada.

-Oh... – ele murmurou, arqueando as sobrancelhas.

A filha de Higurashi balançava o envelope, como se fosse uma isca para atrair uma presa.

-O senhor quer ler? Eu ainda não li.

Yamamoto deu um suspiro e pegou a carta, abrindo o selo com cuidado. Os olhos dele correram numa leitura dinâmica pelo papel da direita para a esquerda, de cima para baixo. Limpou outra vez a garganta e começou:

-"Minha filha querida, minha Kikyo...".

O pai costumava chamá-la daquela forma. E pensar que, apesar de achar muito infantil aquilo, ela nunca mais iria escutar...

"... Provavelmente eu já estarei morto quando você ler isto. Infelizmente terá sido algo que não poderei evitar. Eu fiquei em dúvida se deveria contar tudo numa carta ou dizer numa conversa séria. Gostaria que fosse dessa última opção (sabe como este seu velho gosta de ser direto e falar as coisas cara a cara). Você, porém, está ocupada com os festivais culturais da escola e preferi não preocupá-la. Se acabar antes, com certeza conversaremos.

Kikyo, minha querida... Eu dei a você e à nossa família o melhor que poderia existir para ficarmos bem de vida. Sua mãe nunca fez uma única pergunta sobre meu trabalho, nem seus irmãos ou você. Mas eu acredito que a minha filha mais velha, inteligente do jeito que é, tenha uma idéia do que seja. Eu não menti em momento algum à nossa família. Pode rir se quiser, mas digamos que não achei necessário revelar quais eram meus negócios.

Yamamoto baixou a carta ao escutar Kikyo abafar uma risada.

Sei que já tem uma idéia, Kikyo, e vou apenas confirmá-la. Sim, meus negócios são com a yakuza. Nossa família é uma das mais importantes da máfia. Lembra daquele homem que fingia ser afeminado para irritar aquele nosso segurança prepotente? Pois é, aquele homem é meu líder e devo respeito a ele. À propósito, eu omiti o fato de que Bokuseno matou aquele infeliz. Não precisa ter medo dele, a não ser que o chame de "gay" quando ele fizer essas brincadeiras. Aliás, pergunte a ele algum dia o que tem de engraçado em se fingir de gay.

O ex-sócio notou a forma como ela franzia a testa. Parecia que tentava se lembrar de quem o pai falava na carta.

Eu digo sempre que você deve respeitá-lo e seguir as ordens dele porque você vai assumir meu cargo...

Yamamoto deu uma pausa.

-Continue. – Kikyo ordenou.

... Porque você vai assumir meu cargo. Porém, só poderá assumir meus negócios quando fizer quinze anos. Quero que termine seus estudos, pelo menos. Se quiser estudar depois disso, terá liberdade para tal.

Mas, Kikyo, eu quero que mantenha segredo a respeito disso à sua mãe e aos seus irmãos. Eles não devem saber disso. Apenas você e o senhor Yamamoto. Quero que estude muito bem para aprender a lidar qualquer situação com muita inteligência. Sei que vai conseguir. Você é tão esperta que chega a me assustar: consegue aprender tudo que a ensinem.

Yamamoto-san é o homem que cuidará de vocês até que assuma a idade mínima. Preste atenção em tudo que ele faz: a surpresa, minha filha, está nos detalhes.

Eu me despeço aqui, Kikyo. Cuide de sua mãe, do meu pai, de Kagome, de Kaede e de Souta. Deixo-os com a consciência tranqüila de que eu os protegi e os amei por cada segundo de quando estive vivo.

E, filha, cuide-se também. Este seu pai tem certeza de que fez uma boa escolha e que desempenhará um excelente papel.

Higurashi Kazuo".

Baixando a carta, Yamamoto se surpreendeu ao ver Kikyo com os olhos arregalados e o olhar perdido. Era a primeira vez que ela parecia... Chocada, ou surpresa, com alguma coisa.

-Kikyo... – ele começou um pouco hesitante, sem saber se ela realmente estava escutando o que diziam. – Eu sinto muito por seu pai... E essa tarefa também é muito...

Kikyo levantou-se subitamente. O olhar continuava perdido, mas nos lábios aparecia também um sorriso levemente mau.

-Kikyo? – ele a chamou, mas não obteve resposta. – Kikyo?

Respirando fundo e pigarreando, ele tentou outra vez:

-Kikyo-sama?

Com isso, ela pareceu voltar ao normal. Os olhos piscaram e a boca se fechou, e ela tinha as linhas da testa um pouco enrugadas em perplexidade.

-Sinto muito, senhor Yamamoto... Não escutei o que disse. – ela falou, afastando-se da mesa. Foi até a janela e fechou as cortinas, virando-se novamente para dar um sorriso.

-Eu não falei nada importante. – ele também sorriu, um pouco surpreso com tudo. – Quer conversar agora sobre os...

Kikyo balançou uma das mãos.

-Podemos deixar isso para depois? – ela perguntou, passando por ele sem nem esperar pela resposta positiva ou afirmativa. – Vou ver meus irmãos agora.

-B-Bem...

-Boa noite ao senhor também, Yamamoto-san. – ela saiu da sala, encerrando a conversa.

Pelos corredores, a única coisa que não saía da cabeça dela era a palavra...

"Yakuza, yakuza, yakuza, yakuza...".

O coração dela parecia vibrar por algum motivo que não sabia. Era como se realmente ansiasse por aquilo. Por tudo aquilo.

Só parou de pensar quando se viu diante da porta do quarto das irmãs. O mais novo, Souta, dormia em um quarto separado. E Kikyo se recusou categoricamente a deixar que Kaede dormisse no quarto dela.

Abriu a porta e logo o olfato sentiu o cheiro típico de quartos femininos: o cheiro de bichos de pelúcia, bonecas, dos lençóis rosados, das...

Kagome era a segunda filha do casal. Era apenas um ano mais nova que Kikyo e com quem esta mais conversava.

Kaede, a terceira filha de apenas seis anos, dormia abraçada à Kagome. As duas dormiam tão tranqüilas...

Não era justo acordá-las quando ainda sonhavam com o pai. Melhor dar a notícia durante a manhã... Elas não iriam para a escola pelas próximas duas semanas mesmo...

-Kikyo nee-sama? – escutou Kagome sussurrar quando entreabriu a porta para sair.

Kikyo virou-se e viu a irmã sentada na cama, ajeitando com cuidado a cabeça da mais nova num travesseiro, retirando as mãos que a abraçavam na cintura para colocá-las junto ao corpo adormecido.

-O papai... – a menina começou – Ele... Ele... Morreu?

Demorando um minuto, Kikyo respondeu:

-Sim.

Viu Kagome baixar o rosto e fechar os olhos, com o cabelo encobrindo-os depois. Uma das mãos foi aos olhos e limpou os cantos.

-Ele disse que nos amou e protegeu por cada segundo da vida dele.

Kagome ergueu o rosto e deu um sorriso meio triste:

-Eu sei. – ela sussurrou, depois voltou a chorar.

o-o-o

Mansão da Família Akai:

-Barra limpa. – Miroku avisou. Olhava pela fresta da porta da frente. A sala de visitas estava com as luzes apagadas e não havia ninguém mais por perto. Olhou para trás e confirmou aos primos com a cabeça. Poderiam entrar e subir sem problemas.

-Entre, Miroku. – Sesshoumaru pediu.

Primeiro entrou Miroku, caminhando cautelosamente para não pisar nas faixas dos sensores. Inuyasha entrou e perguntou:

-Sabe como desligar os sensores do corredor do meu quarto?

-Humm... Acho que sim... – ele falou com um sorriso sem graça. – Cuidado onde pisa, rapá.

A luz subitamente acendeu e se viraram para abafar um grito estrangulado. Akai Toga e Izayoi estavam sentados no sofá, com os braços cruzados, esperando por eles. E não pareciam de bom humor.

O mais surpreendente, para Miroku e Inuyasha, foi encontrar Hakudoushi e Sesshoumaru de braços cruzados também e atrás do sofá no qual o casal estava.

-Vocês têm um minuto para se explicarem antes que eu me enfureça. – Toga anunciou.

-Nós ficamos preocupados, sabiam? – Izayoi tinha a preocupação comum das mães e tias.

-A culpa foi de Miroku. – Hakudoushi começou a andar em direção das escadas.

-E de Inuyasha. – Sesshoumaru seguiu o primo.

-EI! – os dois protestaram, fechando os punhos. Aqueles dois...

-Expliquem-se. – o casal ordenou.

Inuyasha e Miroku começaram a falar uma coisa com outra ao mesmo tempo, trocando acusações e falando mal dos outros dois que subiam as escadas, que pararam apenas para vê-los numa má situação.

O telefone tocou e toca fez um sinal para que os dois parassem de falar, o qual foi logo obedecido. Pegou o fone e pigarreou antes de falar:

-Alô?

-Oi, querido. – uma voz afeminada de homem soou.

Apertando a região entre os olhos, Akai Toga jogou pragas mentalmente contra a pessoa que falava.

-Pois não, Bokuseno?

-Só vim dar uma notícia. – a voz dele voltou ao normal e estava sério demais. Alguma coisa ruim havia acontecido.

-O que aconteceu?

-Kazuo morreu no início da noite.

Toga pôs uma das mãos no fone e falou:

-Miroku, Inuyasha... Podem subir.

-Mas o quê...? – os dois falaram ao mesmo tempo. Sesshoumaru e Hakudoushi desceram depressa e se aproximaram do grupo.

-O que aconteceu, Toga? – Izayoi perguntou assustada.

-Higurashi Kazuo... Morreu.

Os olhos da mulher se arregalaram. Toga voltou a falar com a pessoa na linha:

-Conte-nos o que aconteceu exatamente, Bokuseno-sama...

o-o-o

Próximo capítulo:

"-Foi de raspão. Voltaremos para casa e cuidarei disso."

"-Você disse que queria falar com ele ainda esta semana, não é, Hakudoushi?"

"-Eu vou fumar um cigarro lá fora. Quando eu voltar, eu NÃO quero ver esse sujeito vivo".

Capítulo 2:Quando só resta a sensatez.