Ouviu alguns barulhos ao seu redor, mas nada fazia sentido. Sentiu que alguém se ajoelhava ao seu lado e levantava sua cabeça um pouco.

- Onde esta a poção? - falou uma voz masculina conhecida, começava a recobrar os sentidos, mexeu a mão em um movimento débil para tentar afasta-lo - Vamos logo, ela está acordando!

- Aqui está, não fique me apressando! - respondeu uma voz feminina um pouco esganiçada.

- Isso não é forte o suficiente, ela não vai esquecer...- disse o homem.

- Você sabe que não podemos dar nada mais forte, está além dos nossos poderes. - ouviu a mulher falar, então escutou um barulho de saltos batendo no chão e uma chave sendo virada na fechadura.

Em seguida o homem voltou a segurar sua cabeça, sentiu um liquido amargo descer por sua garganta e então voltou a perder a consciência.

Acordou devagar, abrindo um olho e o outro, devagar, tentando se acostumar com a fraca iluminação do local. Odiava acordar assim, sempre parecia que tinham batido com algo em sua cabeça. Olhou ao redor, mas não viu ninguém, estava em um divã vermelho. O local era estranho, tão úmido que a água escorria pelas paredes.

Segurou o vestido suspenso, para que a barra não se encostasse ao chão que parecia sujo, estragando o branco perfeito de seu vestido de noiva. Suas lembranças eram confusas, lembrava-se de estar em uma sala bem mais iluminada do que aquela, acompanhada por um homem, mas quem era ele?

Porque não conseguia se lembrar de nada? Lembrava-se que aquele era o dia de seu casamento, e também que seu nome era Melissa Rotta, e tinha certeza que aquela não era sua casa.

A porta se abriu e por ela passou uma linda mulher usando um vestido de festa vermelho, que contrastava com sua pele branca. Ela sorriu para Gina e se aproximou com passos seguros. Ao chegar perto dela levantou a mão tocando sua face. Sentiu como se congelasse diante do contato da pele dela com a sua, seus dedos eram mais que gelados, tudo nela exalava uma falsidade, um ódio que ia além da compreensão de Gina. O que tinha feito para aquela mulher?

- Querida você está tão linda! - ela tirou a mão do rosto de Gina, virando de costas e indo em direção a uma penteadeira pegando um batom - Está melhor, espero.

- Melhor?- estava confusa, tudo que precisava era de alguma informação, algo que pudesse ajuda-la a lembrar.

- Sim, você passou um pouco mal na cerimônia, deve ser o nervosismo, óbvio. - ela voltou a encarar Gina com um grande sorriso nos lábios - Seu noivo ficou preocupadíssimo!

A imagem de um homem loiro, pálido e alto invadiu sua memória, mas nada mais, quem era seu noivo? O que tinha acontecido com ela?

- Você está pronta para voltar para a cerimônia querida?

Ficou em silencio por alguns instantes, estava pronta? Não achava que estava pronta para nada naquele momento, tudo que queria, e precisava, era sentar-se e conversar com aquela mulher, descobrir o que estava acontecendo com ela, aquela falta de memórias não estava lhe fazendo bem.

- Não sei...- falou calmamente, caminhando ainda segurando seu vestido para não encostar no chão - Eu estou tão confusa, eu não consigo lembrar!

- Lembrar de que meu docinho? - perguntou a mulher tocando sua mão e fazendo com que ela soltasse seu vestido. - Você deve estar mais nervosa do que eu imaginava, não se preocupe, Charles é um grande homem.

- Charles? É esse o nome do meu noivo? - aquele nome não lhe transmitia nenhuma segurança, ao ouvi-lo algo dentro dela acordara, algo que gritava que alguma coisa estava errada. Mais uma vez entrou em pânico, não conseguia pensar no que poderia ser, não conseguia lembrar do rosto dele!

Sentou-se em uma cadeira que estava por perto e apoiou a cabeça nas mãos, o pânico invadindo seu corpo, respirava rápido e seu coração parecia que ia saltar de seu peito. O que estava acontecendo com ela? Frases desconexas rolavam em sua cabeça, não conseguia juntá-las a nada, tudo tão insano e perdido, como se fossem memórias de outra pessoa.

- Vamos querida, daqui a pouco eles vão vir aqui para ver você, é melhor acabar com a preocupação deles logo, não se preocupe, tudo vai dar certo, você está se preocupando a toa.

A mulher levou-a por alguns corredores, ainda estava bastante confusa. Começou a ouvir pessoas falando, parecia que a festa estava para começar antes mesmo do casamento, quanto tempo será que estivera naquele quarto?

Entrou na sala e todos olharam para ela. As cadeiras estavam colocadas de modo a formarem um corredor entre os dois blocos, havia um homem parado junto a um altar.

Olhou para ele com esperança de finalmente se lembrar, mas mais uma vez nada aconteceu, a não ser uma nova onda de pânico. Aquele homem não era o mesmo que viera a sua mente quando a mulher lhe falara de um noivo, ele tinha cabelos negros e um brilho maníaco em seus olhos.

Engoliu em seco e olhou ao redor, ninguém ali parecia verdadeiro, pareciam todos um pouco mecanizados, não tinham nenhum calor humano, era como estar no meio de bonecos que não pensam ou sentem, que simplesmente existem.

Agora todos estavam, em silencio, colocados em seu lugar, como numa bizarra peça de teatro. Uma música suave começou a tocar, Gina foi levemente empurrada para frente e então começou a andar devagar em direção de seu noivo, se tinha aceitado se casar com ele aquilo não poderia ser tão ruim, certo?

Ao parar ao lado do homem sentiu uma coisa estranha, como se aquilo para ele fosse uma vitória. Ignorou seus pensamentos tentando sorrir. Olhou para frente, além do altar e sua visão ficou escura então se sentiu mergulhando, como em um sonho.

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-Aaaahhhh!- Gina corria como uma desvairada pelos corredores com um grande sorriso no rosto e um Draco em seu encalço.

Ele então abraçou ela por trás.

- Eu disse que ia te pegar.- então ela caiu no chão se contorcendo de cócegas.

- Desculpa, desculpa...- ela respirou fundo para recuperar o fôlego enquanto ele sentava ao seu lado- Eu juro que nunca mais rio de você quando você tropeçar.

Então os dois trocaram um olhar e caíram na gargalhada. Depois de um minuto ou dois Miranda entrou correndo no corredor em direção a eles.

- Está tudo bem? Eu ouvi gritos e correria...- então olhou o rosto dos dois que tentavam sufocar as risadas -Já é a segunda vez essa semana! Tratem de se comportar!

No momento em que ela virou o corredor os dois caíram na gargalhada mais uma vez.

Draco observou o rosto dela, como era lindo seu sorriso, não conseguia se controlar quando ela ria assim, não conseguia não rir junto.

Percebendo que ele a olhava Gina foi parando de rir devagar, também encarando aqueles olhos cinzas, tão lindos e tão alegres naquele momento. Corou e desviou o olhar depois de um tempo, com uma risada nervosa. Ele então tocou seu queixo e virou o rosto dela para si, juntou seus lábios com os dela num beijo calmo e cheio de vontade, que foi interrompido por alguém que fazia um barulho como que se quisesse limpar a garganta para ser notada. Separaram-se e deram de cara com uma das criadas de Gina, Naomi. A garota foi com ela deixando um Draco com raiva da criada para trás.

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Andaram por vários minutos, então Gina parou para ver um pequeno passarinho que tentava achar comida por ali, quando ela se levantou foi acertada por uma bola de neve nas costas. Virou imediatamente, já com alguma neve na mão, observou Draco rir de sua cara de completa indignação. Então levantou a mão e jogou a bola de neve nele, que parou de rir imediatamente já fazendo outra bola para jogar nela, mas sendo acertado antes de conseguir termina-la. Ficaram nisso por cerca de quinze minutos, quando ele a derrubou na neve e começou a fazer cócegas, obrigando ela a pedir trégua, mesmo que falando que aquilo era completamente contra as regras.

Ficaram do lado de fora por algum tempo ainda e entraram um pouco antes do almoço para trocar de roupas e ficar apresentáveis para comer junto com os pais dela.

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Eles foram para a sala e lá encontraram uma lareira já acesa, esquentando todo o cômodo, e duas cadeiras uma virada de frente para a outra, sentaram um e cada uma e se enrolaram em cobertores, rindo da indignação da mulher, que entrava e saia da sala resmungando e trazendo chás quentes e bolsas de água quente, tudo para mantê-los aquecidos e curar aquele resfriado.

- Eu quase nunca fico doente...- falou Gina tomando uma xícara de chá muito quente.- Acho que a última vez que fiquei de quarentena foi quando eu tinha cinco anos.

- Hoje em dia uma poção pode curar a gripe ou um resfriado, mas aparentemente nossa enfermeira não gosta desse tipo de coisa, prefere o modo antigo.- falou Draco acomodando-se melhor na cadeira.

- Quanto tempo será que eles vão nos deixar aqui? Esse chá está me dando sono...

- Claro que está, você deve ter tomado o bule todo. Eu só tomei uma xicara.

Ela olhou para ele com o canto do olho depois voltou a encarar a lareira. Passou-se uma hora e ninguém vinha para dizer que eles podiam sair.

- Eu não agüento mais! Eu quero sair daqui, está sala está me sufocando!

Ele riu da cara de indignada dela, e falou:

- Nós vamos sair daqui logo, não se preocupe...

- Você está muito calmo para quem está preso aqui ao mesmo tempo que eu!

- Eu tenho mais paciência que você, só isso.

- Ok Sr eu-tenho-mais-paciencia-que-você, eu vou me acalmar.- ela sentou-se na cadeira e olhou para ele.- Agora, vamos jogar uma coisa!

- O que?- pediu ele olhando para ela com o canto do olho, meio desconfiado.

- Eu faço uma pergunta e você responde e depois você pergunta e eu respondo, mas tem que falar a verdade! Os dois fazem um feitiço pra não poderem mentir.

Ele a encarou por alguns momentos, ela sorria desafiando-o, então concordou. Os dois juntaram as mãos e fizeram o feitiço, nas próximas duas horas não poderiam mentir.

- Eu começo!- falou Gina animada.- Ah...Me conta uma coisa que você nunca contou pra ninguém.

Ele olhou para ela parecendo pensar, então olhou para ela.

- Eu tive um amigo imaginário quando eu era criança.

Ela olhou para ele.

- Isso não vale! Muitas crianças têm amigos imaginários.

- Você não entendeu, meu amigo imaginário era um pônei verde, e ele falava.

Ela começou a rir, jogou a cabeça para trás.

- Eu não consigo imaginar você falando com seu pônei verde! Simplesmente não parece você...

- Roy era o melhor amigo que alguém pode ter, então não fale dele!

Ela riu mais um pouco então parou. Ele olhou para ela com um sorriso.

- Pois bem, me conte algo que ninguém sabe, ninguém mesmo.

Ela pensou um pouco e parecia que ia falar quando colocou as mãos na boca impedindo as palavras de saírem. Ele olhou para ela falando.

- O que você ia falar?

O feitiço fez efeito e ela não pode mentir, foi logo falando o que tinha tentado segurar.

- Quando eu tinha quatorze anos eu tive uma queda pelo Mestre de Poções, durou umas duas semanas.

Ele caiu na gargalhada, mal conseguia falar, soltava palavras meio engasgadas no meio do riso.

Ficaram ali por mais várias horas, até depois que o efeito do feitiço passou, Gina esquecendo totalmente de seu momento claustrofobia.

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Draco se mexeu na cama e Gina cobriu a boca com a mão, para que os soluços não escapassem mais, o garoto abriu os olhos e imediatamente sentou-se na cama.

- Tudo bem Gi? - estendeu a mão e tocou o rosto dela suavemente, sentiu uma lágrima e limpou-a, abraçando a garota em seguida.

- Desculpe Draco, eu não queria te acordar, mas eu fiquei tão nervosa, e eu não sabia pra onde ir... - ela o abraçava com força, com o rosto colado no pescoço dele.

- Tudo bem, tudo bem, calma...

Ela se afastou um pouco dele e encarou aqueles olhos, que pareciam estranhamente preocupados naquele momento.

- Draco, eu li o livro e ainda assim eu não tenho idéia do que pode acontecer comigo, com você, eu só sei que algo terrível já aconteceu, e que as pessoas estão com medo que aconteça de novo.

Ele voltou a abraça-la e sussurrou em seu ouvido.

- Eu tenho certeza que tudo vai dar certo, não se preocupe com isso...

- Mas eu tenho medo, tenho medo de jamais sair daqui, eu tenho medo de morrer, eu tenho medo de te perder...

- Olhe pra mim, - ele encarou ela, que chorava mais do que antes. - nós dois entramos nessa coisa juntos, e nós vamos sair dessa, contanto que nós fiquemos juntos. E não se preocupe, nada nem ninguém vai tirar você de mim.

Ela sorriu pela primeira vez naquela noite, então ela se deitou junto com ele, simplesmente com a cabeça apoiada no peito dele, enquanto ele mexia em seu cabelo. Algo nesse gesto dele dizia que tudo ficaria bem, e ela acreditou, porque simplesmente sentia que podia confiar nele como jamais confiara em ninguém em sua vida.

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Gina sentia-se muito bem dentro daquele vestido, essa era com certeza a melhor parte daquele lugar, era como num verdadeiro conto de fadas, onde tudo era perfeito, onde tudo sempre acabava bem.

Nessa hora seu sorriso enfraqueceu, naquele lugar as coisas não davam certo, era por isso que estava presa ali, era por isso que as coisas pareciam tão estranhas, tão diferentes. Um calafrio percorreu toda sua espinha e ela se sentiu nervosa como naquela manhã, sentiu como se seu estomago queimasse.

Respirou fundo e olhou para as pessoas que já esperavam por ela no hall, a visão do loiro olhando para ela com uma expressão de encantamento fez com que ela esquecesse todas as preocupações. Aquele olhar que vira pela primeira vez no baile de noivado dos dois ainda fazia com que ela se sentisse melhor do que em qualquer outro momento.

Parou ao lado dele e deu seu maior sorriso, queria ver ele sorrir de volta. Fazia algum tempo que vinha notando uma diferença significativa nas atitudes dele, há algum tempo que ele parecia distante, como se quisesse evita-la ou algo assim. Fazia de tudo para chamar a atenção dele, mesmo que não soubesse bem porque.

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-Não sinta medo e não se entregue. O que acontece a seguir é incerto, não conte como certo até que se acabe. Não julgue acabado até o final. E mais importante que tudo, não esqueça.

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- Você não precisa falar, só escute.- então, quando ela ia protestar, colocou um dedo sobre seus lábios - Eu preciso que você saiba que eu sinto muito, que o que eu fiz foi imperdoável. Eu deveria saber que você não gostaria daquilo, mas quando ele te ameaçou eu não consegui me controlar, eu não conseguia parar de pensar no que ele podia fazer com você.- ele apertava a mão de Gina mostrando o quanto apreensivo estava, ela sentiu-se surpresa com isso, se ele se sentia assim agora imagina o que sentira naquela noite? E o que ela havia feito? Gritado com ele e o acusado - Eu fiquei assustado Gina, me desculpe, me perdoe.

Sua voz não passava de um sussurro, Gina se virou para ele e limpou uma lágrima que começava a correr por seu rosto palido e beijou-o delicadamente.

- Eu perdôo.- sussurrou em seu ouvido, então ele puxou-a para perto num abraço apertado. Naquele momento não havia nada errado, não sabia mais nada, não via mais nenhum erro ou mistério, só existiam os dois e o amor que os unia.- Eu também não estava completamente certa, eu devia ter ouvido o que você tinha pra dizer.

- Não se preocupe, agora é tudo passado, agora está tudo bem.

Levantaram, estava quase na hora do casamento, eles não podiam ser vistos juntos. Quando Draco alcançou a porta ele virou para trás, para dar uma última olhada em Gina, então mandou um beijo.

Gina não pode segurar as palavras que vieram a seguir, elas foram ditas por algo além do consciente, só sabia que um segundo antes de Draco atravessar totalmente a porta ela disse:

- Eu te amo.

O garoto retrocedeu um passo e sorriu para ela, voltando a sair logo em seguida.

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Saiu de seu "transe" respirando fundo e com uma frase marcada na memória, "Não esqueça".

Tinha esquecido, mas agora tudo estava voltando, olhou pra o lado, o homem parecia inabalado, não devia ter percebido a "ausência" dela nos últimos minutos, mas na verdade poderiam ter sido apenas segundos que pareciam mais tempo.

Ele olhou para ela e pareceu perceber que algo estava errado. Tocou seu braço e aproximou a cabeça, como que para dizer algo. Mas ela foi mais rápida e disse.

- Você não pode me enganar, você não pode me fazer esquecer o que eu sinto.

Então virou bruscamente para encarar a platéia, mas todos eles estavam sumindo, como em uma ilusão quando se torna claro que o acontecimento não passa disso, uma ilusão.

O homem tinha uma expressão de raiva e espanto, a única pessoa que restava onde antes estavam os convidados era a mulher de vermelho, que Gina agora reconhecia como a mesma mulher que a atacara no labirinto.

Sentiu a mão de Charles se fechar em seu braço, apertando com mais força do que o necessário.

- Muito bem garotinha, agora me diga, como você conseguiu voltar?

- Você não pode apagar o amor Charles, ele é forte demais para qualquer coisa e com certeza é muito mais forte do que você.

Ele soltou um urro de raiva e jogou-a no chão com força. Logo depois puxou-a para cima e, ainda apertando seu braço, levou-a para uma sala fria. Chegando lá segurou seus ombros e puxou-a para perto dele, deixando seus rostos tão próximos que fez com ela temesse o que ele podia fazer.

- Você diz que eu não posso apagar o amor, que ele é mais forte do que eu, muito bem então. - ele jogou-a em uma cadeira e caminhou rapidamente até uma estante de vidro, de lá tirou um pequeno frasco com um líquido vermelho.

Chegou perto de Gina e ficou olhando para ela durante longos minutos. Aproximou seu rosto dela e sussurrou em seu ouvido.

- Eu sempre terei uma nova chance. - então segurou a cabeça dela e derramou o líquido em sua boca, forçando-a a engolir - Agora você pode amar a vontade, como um anjo de vidro.

Passou a mão no rosto dela num gesto quase carinhoso, se é que isso era possível em uma figura como ele.

Gina começou a sentir sua pele ficar gelada, tentou se encolher para se esquentar, mas não conseguiu. Estava mole como água, não tinha mais poder nenhum sobre seus movimentos.

Charles se afastou da garota e chamou Jennifer, sussurrou algo em seu ouvido e depois ficou encarando Gina com um sorriso maligno no rosto. Um homem entrou na sala e pegou Gina no colo com muito cuidado, saindo logo em seguida com passos apressados.

Gina estava atrasada para a cerimônia, e, para Draco, aquilo não podia ser uma simples falha da garota, algo estava errado, muito errado, e ele estava prestes a descobrir o que.

Estava parado do lado de fora da sala em que Gina estava mais cedo, esperando que ela atendesse a suas batidas. Já estava ficando impaciente.

O resto das pessoas não parecia achar estranho que ela estivesse quinze minutos atrasada, na verdade achavam bastante normal. "Ela só está fazendo charme!", fora o comentário de um homem com roupas roxas. Não acreditava nessa teoria, Gina não ficaria "fazendo charme" por tanto tempo, principalmente com ele batendo na porta, que estava trancada, o que ele considerava mais estranho do que tudo.

Bateu mais uma vez na porta, ainda sem resposta nenhuma. Uma garota de longos cabelos loiros e olhos amendoados estava parada no corredor, olhando para ele, não podia deixar de notar que ela era muito bonita, e com certeza em outras circunstancias, teria parado o que estava fazendo para falar com ela, mas naquele momento nem pensava nisso. Só pensava em uma maneira de abrir a porta e de fazer com que ela parasse de encara-lo daquela maneira, estava começando a ficar nervoso.

Chamou mais uma vez, mesmo que a esperança de que ela atendesse já tivesse acabado há muito tempo. Olhou para o lado para checar se a garota continuava lá quando levou um susto ao vê-la quase colada a ele, com seus lindos olhos quase tão aflitos quanto os de Draco.

- Não adianta, ela não está ali. - falou ela com a voz embargada - Eu devia ter dito, eu devia ter dito. Malditas regras, maldito juramento!

- O que?- falou ele confuso - Quem você deveria ter avisado? Sobre o que?

- Você não pode mais perder tempo! - falou ela com a respiração descompassada - Você tem que ir atrás dela, você tem que salvá-la!

- Salvá-la? Salvá-la do que?

- Ele a pegou! - ela caiu sentada no chão, com as mãos no peito e uma expressão de dor inconfundível.

- Você está bem? - perguntou Draco se ajoelhando e tocando no rosto da garota, ela estava ardendo em febre - Eu vou buscar ajuda, fique aqui.

- Não!- a garota segurou seu braço - A vida está se esvaindo dela! Eu vou ficar bem, vá!

Ele não pensou duas vezes, levantou e olhou para o lado do corredor de onde ela viera, duas garotas corriam e se ajoelhavam junto a ela.

- Vá! - gritou uma com cabelos escuros.

- Nós vamos cuidar dela! - completou outra que tinha os cabelos cor de fogo, como Gina.

Saiu correndo do castelo, com a varinha em punho e mais determinação do que em qualquer outro momento de sua vida.

Parou após passar pelos jardins em direção do portão de saída, não tinha idéia de onde ela poderia estar, sabia que estava com Charles Gein, mas isso não facilitava muito já que não tinha nenhuma idéia de onde o homem morava, ou de onde poderia estar.

Ouviu o barulho de alguém correndo e reconheceu um dos meninos que cuidavam dos cavalos, correu até ele e viu que o garoto já arrumava um cavalo.

- Aqui está senhor.- ele entregou a rédea para Draco e fez uma grande reverencia.

- Você já estava esperando por mim? - perguntou meio perdido, mas deixou as duvidas de lado ao ver o garoto fazer menção de sair correndo. - Espere! - ele se virou andando em sua direção - Eu não sei como chegar ao castelo de Charles Gein, você poderia me ajudar?

O garoto encarou-o com um sorriso divertido, como se a situação fosse hilária, Draco teve que respirar fundo para não acertar um soco em sua cara, mas o garoto, aparentemente pressentindo o perigo, respondeu.

- É só confiar no cavalo, assim o senhor não vai se perder.

Agradeceu com um aceno de cabeça e montou no cavalo, sussurrando para ele seu destino, logo o cavalo corria tão veloz quanto o vento pelas estradas desertas que levavam ao castelo de Charles Gein.

Observou a grande construção por toda sua extensão, parecia o castelo de um reino decadente, que precisa seriamente de reformas. As rachaduras iam desde o chão até onde seus olhos alcançavam, tinha uma cor acinzentada que passava um ar de sujo. Aquele lugar lhe lembrava Azkaban, em todo seu silencio e mistério, mas, ao contrário da prisão dos bruxos, aquele castelo não lhe causava arrepios ou o assustava, na verdade o que mais desejava era adentrar suas portas.

Andou de um lado para o outro, tentando achar uma entrada, até que viu uma pequena porta na lateral, era melhor entrar sem ser muito percebido.

Deixou o cavalo do lado de fora, meio escondido no meio das árvores, e se esgueirou para dentro. Não havia ninguém naquela sala, não tinha certeza de onde ir, seguia seus pés, que eles decidissem por ele.

Depois de cinco minutos andando ouviu alguém andando no sentido oposto ao seu no corredor, se escondeu atrás de uma estatua e ficou esperando. Aproximavam-se duas mulheres, uma delas era aquela que ele vira no labirinto, a cúmplice de Charles.

Ela dava ordens à outra, como de guardar comida e avisar a todos sobre uma nova parada no tempo. Sentiu o sangue em seu corpo gelar, isso só podia significar uma coisa, Gina estava morta.

Não, isso não era possível saberia se ela estivesse morta, aquilo não era possível, não podia ser verdade.

Assim que a mulher entrou em um quarto sua criada passou apressada por Draco, que tentava se acalmar tentava deixar sua mente clara para decidir o que faria a seguir. Depois de um minuto encarou a porta pela qual a mulher entrara há pouco tempo, se algo tinha acontecido com Gina a culpa era tão dela quanto do outro, então porque só ele deveria pagar? Olhou para os dois lados para se certificar de que ninguém o pegaria desprevenido. Alcançou rapidamente a porta já com a varinha em punho.

Abriu a porta e então houve um momento de silêncio, logo em seguida a mulher gritou, mas foi silenciada antes que mais alguém pudesse ouvir, ao menos assim ele esperava.

Saiu do quarto olhando novamente para os lados, uma raiva que nem ele sabia que sentia tomando conta de seu corpo.

Andou sem saber para onde por mais alguns corredores, sem se acalmar como gostaria, parecia que a cada passo só sentia mais raiva, só sentia mais ódio.

Parou ao lado de uma porta, de lá de dentro podia ouvir a voz de um homem, aquela voz que ouvira gritando de desespero ao receber um crucio. Sorriu a lembrar da cena, queria vê-lo sofrendo novamente, e agora não haveria nenhuma Gina para detê-lo, graças ao próprio Charles, mas que ironia. Sua morte seria a razão da morte dele.

Entrou devagar na sala, com um sorriso torto no rosto enquanto observava o outro mexer em um caldeirão. O homem pareceu sentir sua presença, virou-se e encarou Draco.

Pode ver o medo brilhar por um segundo em seu olhar, o que fez com que sorrisse ainda mais, aquilo seria mais divertido do que ele imaginara.

- Nos encontramos de novo, mas dessa vez sob novas condições.- falou Draco em sua melhor voz arrastada.

- Sim, dessa vez você não tem o elemento surpresa, será que ainda tem alguma chance? - falou Charles tentando disfarçar sua voz tremula.

- Eu venceria você mesmo com seu exército, então faria seus servos se ajoelharem aos meus pés.- falou Draco, os dois andavam em círculos, como que esperando para ver quem atacaria antes.

- Não seja tão convencido garoto, - disse Charles desgostoso - isso é o que vai leva-lo a ruína.

- A única pessoa que vai cair por aqui é você. - seus olhos brilharam com todo o ódio que sentia, estava quase na hora. - Como você se sentiria se tirassem tudo o que você tem? O que você faria?

Apontava a varinha para o peito do outro, ainda com um sorriso doentio no rosto, aquele sorriso que mostrava quem ele realmente era, que mostrava que aquele ainda era Draco Malfoy, apesar de tudo que tinha acontecido.

- Pare e pense garoto. - falou Charles assim que percebeu o que Draco estava prestes a fazer - Nós podemos ser grandes juntos, nós somos muito parecidos. Com o seu poder e os meus contatos nós podemos fazer isso se acertar.

- Eu não sou nem um pouco como você. - falou Draco - Crucio.

Então o homem se contorcia mais uma vez no chão gritando de dor, tão alto quanto seus pulmões podiam agüentar. Mas não seriam por muito tempo, logo não teria mais como gritar, não teria mais fôlego.

Interrompeu a maldição por um momento, se aproximando para ver o homem que respirava com dificuldade.

- Você é patético.- falou baixo, mas as palavras ecoaram na sala, onde só o que se ouvia era a respiração do outro. - Diante de alguem desarmado, desprotegido, você é o maximo, mas quando alguém tem chance de reação acabar com você não é nenhum desafio. Crucio.

O homem voltou a se contorcer no chão, ainda gritando de dor, como qualquer trouxa que fosse submetido a tal maldição. Como um amador.

Interrompeu a maldição mais uma vez, agora porque ouvia alguém tentando abrir a porta. Viu a mulher de vestido vermelho se arrastar para dentro do quarto, olhando para Charles com uma cara apavorada.

- Olhe! - mexeu a cabeça do homem bruscamente para que ele olhasse a mulher que gemia de dor cada vez que tinha que se mexer - Nós temos companhia!

Tinha um grande sorriso no rosto. Andou até a mulher e levantou-a pelo braço, arrastando-a até perto do homem estirado no chão.

- Veja que linda cena!

- Porque você está fazendo isso? - perguntou a mulher depois de alguns minutos tomando coragem.

- Porque? - ele fez uma cara incrédula - Você tem certeza que essa é a pergunta que você quer fazer?

- Ela não permitiria isso.- continuou a mulher, encarando o chão.

- Sim, mas ela não está aqui não é mesmo? E graças a quem? Quem a matou?

Ele apontou a varinha para Charles mais uma vez e disse:

- Crucio.

O homem voltou a gritar e a mulher tentava segura-lo para que não se batesse no chão enquanto se contorcia, ela chorava mais do que nunca.

- Pare, por favor, pare! - ela suplicou segurando a cabeça do outro.

Draco parou e encarou-a. Tinha certeza de que Gina jamais permitiria que ele fizesse algo como aquilo, mas a culpa de ela não estar mais ali para controla-lo era daquele homem, e tudo que queria era vê-lo sofrer, pagar por tudo que tinha feito.

- Ela não está morta - falou a mulher, como uma maneira de faze-lo parar, uma maneira muito eficiente.

- Como assim ela não está morta? - ele estava mais ansioso do que quando esperava por seu pai chegar em casa, quando tinham uma baixa no grupo de comensais - E o que é toda essa preparação?

- Ela tomou um veneno, assim que ela sucumbir a ele nós vamos entrar novamente em uma pausa, a garota está resistindo, ninguém nunca durou tanto. - havia algum veneno naquela frase, mas ele estava misturado com a dor e o medo, o que o tornava quase inofensivo.

- Onde ela está?- perguntou com os olhos faiscando.

Naquele momento Charles se mexeu, encarando a mulher com um olhar que dizia com todas as palavras "não diga nada".

Draco viu aquele olhar e novamente uma raiva intensa tomou conta de seus sentidos, já não respondia por seus atos.

Apontou a varinha para o coração do homem, olhando nos olhos da mulher, que tremia nervosa.

- Se você não falar ele morre!

Ela hesitou, pareceu pensar um pouco, trocou mais um olhar com Charles, que ainda conservava a mesma expressão.

Draco apertou a varinha e começou:

- Avada…

- No labirinto! - ela gritou chorando - Ela está no labirinto!

Draco olhou para ela como que para ter certeza que ela estava falando a verdade, então andou até o armário e reconheceu uma poção.

Olhou para os dois que pareciam acabados no chão e então jogou o pequeno frasco na direção deles. Uma fumaça cinza se espalhou ao redor deles e os dois caíram desmaiados, pelo menos pelas próximas 72 horas.

Olhou o relógio e saiu correndo, tinha pouco tempo para achar Gina e pelo que a mulher falar ela já deveria estar bem mal.

Correu para fora do castelo e pegou seu cavalo novamente, sussurrando para onde ele deveria ir e que deveria ser tão rápido quanto fosse possível. Ainda apreensivo cavalgou tão rápido quando o cavalo agüentava, sempre pensando em como encontraria Gina, e pedindo a Merlin que ela estivesse viva.

Parou na entrada do labirinto, respirando devagar. Uma névoa cobria o chão, assim como em seu sonho, mas não havia riso além de onde seus olhos alcançavam, a única coisa que podia ouvir era o silencio, um silencio tão pesado que fez com que sentisse uma pontada no coração.

Avançou ainda com o cavalo, tentando se lembrar do caminho para o centro, sentia uma coisa estranha ali dentro, como se estivesse sendo vigiado, como se alguém soubesse além de seus passos.

Olhou mais de uma vez para trás para se certificar que não estava sendo seguido, agora já cavalgava mais rápido, fugindo do que o seguia, pois tinha certeza que alguém o fazia, mesmo sem ser visto. Chegou no centro do labirinto e saiu do cavalo imediatamente, procurando por Gina.

Sentiu o ar lhe faltar quando seus olhos encontraram uma figura tão branca quanto a mais pura neve, a não ser por seus cabelos cor de fogo, deitada encima de um frio banco de pedra. Aproximou-se a passos largos e se debruçou sobre a garota. Seus olhos estavam fechados e sua respiração era fraca, estava mais gelada que o inverno, mas seus lábios ainda permaneciam vermelhos.

Passou a mão por baixo de seu corpo e abraçou-a, segurando as lágrimas que ameaçavam cair, se ela estivesse morta ele voltaria para aquele castelo e acabaria com aqueles dois.

- Draco -falou a garota fracamente, como se isso fosse tudo que ela conseguisse falar.

- Gina, - ele sorriu de pura felicidade - meu amor, você está viva, graças a Merlin.

- É...tão bom...te ver.- ela tinha um fraco sorriso no rosto.

Ele tirou a própria capa e envolveu-a no corpo gelado da garota, mas isso não pareceu ajudar, a garota estava muito fraca.

- Eu vou tirar você daqui, nós vamos até um lugar quente e você vai melhorar.- falou ele se afastando dela para buscar o cavalo.

- Não. - sussurrou ela, fazendo com que ele voltasse a se debruçar sobre seu corpo - Está tão frio, fique aqui.

Ele abraçou a garota, sentindo sua respiração cada vez mais lenta, até que, depois de um minuto ela cessou. Draco olhou para o rosto da garota, tão pacífico, seus olhos não tinham mais seu brilho, estavam gelados e desfocados.

Juntos seus lábios com os dela uma última vez e sussurrou em seu ouvido enquanto molhava seu rosto com suas lágrimas que a tanto pediam para serem derramadas.

- Eu te amo mais que tudo, não me deixe.

Sentiu um calor envolver seu corpo e abraçou o de Gina, como se não pudesse se separar dela. Abriu os olhos para ver uma luz branca envolvendo os dois corpos e então voltou a fecha-los enterrando o rosto nos cabelos de Gina.

N/A: Últimos capítulos, eu ainda estou em dúvida se vão ser mais dois ou três, talvez o próximo seja o último...Tudo depende de como os personagens vão reagir aos acontecimentos...

Desculpem muito a demora, eu nem tenho desculpas, capitulo tava pronto eu só não consegui postar...

Desculpe um bilhão de vezes!

Muito obrigada miaka, CahMJ's, Elendira e Ane Malfoy pelos comentários!

O assunto não será retomado, pelo menos não está nos planos, então eu vou falar aqui mesmo. OHarry deixou um rastro de energia pra trás, porque ele "furou" a proteção do mundo, pra ele poder entrar ali ele teve que usar uma poçãos muito poderosa, e muito poder nunca passa despercebido, foi graças a isso que o Charles conseguiu se recuperar e fazer o que fez, mas agora o Draco já acabou com ele!

hehehhehehhehheh

Desculpem as pessoas que esperavam um Draco conpreensivo e que não torturaria as pessoas por nada, esse não seria o verdadeiro Draco e ai eu jamais me perdoaria, além disso euy odeio os mocinhos que deixam os vilões sem pagar por seus crimes só porque são muito nobres pra dar o troco...

É isso...Muitos beijos e deixem reviews!