Disclaimer: Os personagens originais de Saint Seyia não me pertencem e são propriedade de Kuramada. Contudo, o enredo dessa fanfiction é de minha autoria.
Resumo: Um garoto de programa, um assassino profissional, um destino. Porque a vida está cheia de surpresas e ninguém está preparado para elas. Romance UA. Yaoi, lemon. MiroxCamus.
I – Capítulo
Desconhecidos
– Quem é ele? Esse?
– Esse. É jovem, não é?
Não moveu um músculo do rosto frio. Analisou a foto apenas.
– Onde?
– Aqui está o endereço. O nome da boate é Hímeros. Não é uma boate de luxo como a Hi-Fi, mas é muito conhecida pela prostituição de homens. É imbatível. Por isso não vai ser fácil entrar – a clientela é seleta. Mas eu arrumei as coisas para você. Um convite vip, está no seu envelope.
– Ele é acessível?
– Mais ou menos. É careiro. E é popular. Vai ter que se esforçar se quiser ir para a cama com ele.
Ele franziu as sobrancelhas.
– Isso é necessário?
– De que outra maneira vai se aproximar dele?
– Tenho meus métodos.
– Está bem, você é que sabe. Mas já está avisado de que ele é um homem difícil.
– Ele tem família, amigos? Admiradores ricos? Alguém que vá procurar saber dele ou investigar se alguma coisa acontecer?
– É pouco provável. Ele mora nos fundos da boate – isso é típico de quem não tem família. Quanto aos amigos, bem... São amigos da boate – esse tipo de gente sabe que tem que ficar calada quando coisas assim acontecem.
– Sem admiradores?
– Ninguém poderoso o bastante. Ou mesmo interessado o bastante.
– O pagamento será como combinado?
– Cinqüenta por cento está no seu envelope, junto com alguma coisa para suas despesas: bebidas, táxi, essas coisas. Invista. Eu quero o serviço bem feito. Ninguém pode desconfiar de nada.
– Sete dias?
– Isso. Você tem uma semana para me entregar essa cabeça. O resto do pagamento vem quando eu souber que ele está morto.
– Está bem. – ele assentiu com a cabeça, terminando de contar as notas do envelope branco entre os dedos. – Até o final da semana você vai ter a notícia que quer.
Pôs o envelope no bolso de dentro do casaco. A foto da vítima, contudo, ainda estava entre seus dedos. Homem, vinte e poucos anos, caucasiano, olhos azuis claros, cabelos longos, loiro mel, ondulados como cabelo de boneca, lábios carnudos escarlates, lápis de olho e rímel transparente, claro. Pelos ossos dos ombros, devia ser atlético. Um belo homem.
Era jovem. Demais. Mas o assassino era um profissional – não se pergunta a razão de uma morte. O cliente paga, você entrega, era assim a vida. Um mundo com o mínimo de honra funcionava sob certos acordos implícitos. Discutir a metafísica das coisas, o que é a morte e por que se morre – bem, este era um luxo que não lhe cabia na escala social a que pertencia. Um assassino profissional nunca fazia perguntas. Essa era a lei áurea, o código canônico, a norma de ouro da sua profissão: não perguntar.
E este era um homem do mundo, vivido, invisível como convinha ao seu ofício abraçado há tantos anos. Ninguém sabia onde morava, com quem se relacionava e de onde vinha: ele era a personificação do código de sigilo da sua arte de matar. Ninguém sequer sabia seu nome e o chamavam de Camus, seu sobrenome, sem saber que antes do assassino Camus existia o Albert Leon, filho bastardo de uma holandesa, mulher de alta sociedade, casada e do jornalista Albert Camus.
Seu nascimento nobre não o ajudou muito. Em nome da honra da senhora sua mãe e do marido estéril dela, foi abandonado, recém-nascido, em um orfanato onde aprendeu todos os vícios do mundo.
Recebia visitas da mãe duas vezes por ano, só para ter certeza de que a odiava pelas míseras notas que lhe dava de presente – comprando seu afeto com dinheiro, já que o marido morrera e ela não tinha parentes: mas tinha medo de morrer sozinha. Quis resgatar o menino para ser seu acompanhante, mas Camus, com 12 anos, já era da rua e da vida, já havia matado por prazer e por dinheiro e não estava disposto a ser civilizado por aquela mulher.
Foi levado para a casa dela, na França. Detestava a França, os franceses; vivia reclamando que queria voltar para as ruas de Seattle nos Estados Unidos, para a sujeira, para os amigos levianos que o ensinaram a montar e manejar um revólver aos nove anos e que o iniciaram nas drogas ao mesmo tempo. Não se viciara, mas fizera dinheiro. Os amigos lhe deram a própria alcunha de 'ice master'. Ele era cool e stiff. Prático, inteligente, calculista e, acima de tudo, impiedoso. Recebia cartas dos amigos que iam sendo presos um por um, sua gangue se desbaratou porque ele não estava lá – e sem um cérebro, um corpo não funciona.
Domado por força da sua ambição, Camus acabou por aprender a falar francês e alemão, além de holandês. Aprendeu a falar português também, conversando com o amante da mãe, trinta anos mais novo que ela, um poeta lisboeta mau caráter que Camus idolatrava. O poeta lhe ensinou artes, etiqueta e as sutilezas do sexo e da sedução, arrumando-lhe mulheres que um garoto de 14 anos jamais teria de outra maneira. Camus o ensinou a atirar com pistolas – muito embora o aprendizado fosse inútil, o menino sabia bem disso, era sua maneira particular de mostrar ao poeta Nuno d'Almada o quanto era importante para ele.
Anos depois, a mãe moribunda prometeu deixar tudo que tinha para Camus, se ele se ajoelhasse e pedisse a benção à Virgem Maria.
"Prefiro comer coco, sua velha louca." – respondeu-lhe Camus, secamente.
A mãe agonizou por horas sem que o rapaz movesse um músculo. Ouvia-a gritar que ele se ajoelhasse, por amor a tudo que fosse sagrado, aos pés da Virgem, para reconfortá-la, implorando perdão. Camus não chamou o médico, não lhe deu remédios. Esperou. Quando estava morta, fechou-lhe os olhos, cobriu-lhe o rosto. Tinha 18 anos e estava rico.
Aí, chorou.
Não pela mãe morta, mas pela sua alma perdida que nenhum dinheiro ia recuperar. "Se esta vaca tivesse morrido antes, eu não seria este canalha que sou hoje", confessou ao poeta português, que o consolou mostrando que a alma não valia isso tudo, que ele também não era católico e que diabos! Quem queria saber de outra vida?
– Estás rico, miúdo. Acerca-te do teu dinheiro, pá! Que toda gente vos há de querer, o dinheiro vos comprará tudo! Tudo!
O português recebeu vinte por cento da herança, por vontade de Camus. Despediu-se dele com lágrimas nos olhos e voltou para Seattle sem pôr vela ou flor no túmulo da 'vaca'.
Este era Albert Leon Camus. O incógnito, o desconhecido. O homem sem nome e sem casa.
— # —
A Hímeros era uma boate das mais ordinárias. As casas mais luxuosas da cidade ainda tinham um pouco de receio em abrigar a prostituição masculina – os donos de boates achavam pouco glamuroso e diziam que a despeito da aparência mais frágil, os homossexuais eram mais passionais, criavam mais casos e davam prejuízo nas casas com aborrecimentos que eles não estavam dispostos a ter.
Mantida por um grego e um brasileiro, a Hímeros bancou a aposta de ser uma casa especializada em prostituição masculina. Sofreram os reveses da expedição competindo com a prostituição tradicional de rua, com os rapazes que ficavam doentes, com a Aids, com a polícia e com os políticos religiosos fanáticos que invadiram a casa mais de uma vez com Bíblias e archotes em punho, com homens defensores do protestantismo tradicional, cujas esposas bordavam em casa enquanto eles, honestos e ordeiros, depredavam a Hímeros de noite e depois esticavam na Hi-Fi – uma boate onde mocinhas coreanas pré-adolescentes vendiam seus corpos a preço de diamante e jovens americanas brancas ganhavam dinheiro para suas festas de formatura com preços mais acessíveis.
Assim mesmo Paulo Hermínio Aldebaran e seu sócio grego, a quem todos chamavam apenas 'Saga', logo fizeram seu nome. Contrataram go-go boys e garotos de programa lindos, jovens e muito limpos, sem doenças nem vícios. A casa popularizou-se e fez uma clientela vip: homens ricos, políticos, filósofos, intelectuais, músicos, classe média alta e gente sofisticada do jet-set de Washington D.C.
A 2218 Western Avenue se tornou um endereço badalado e conhecido, freqüentado pelo creme de la creme da sociedade. Ricos, os sócios podiam dar-se ao luxo de organizar listas de presença e vetar quem quisessem, ter filas de admissão ao concorrido 'lounge' onde go-go boys que falavam dois idiomas dançavam sedutoramente e garotos de programa sofisticados e cultos vendiam prazer. Era chamada de 'a Babilônia Americana'.
Era lá que Camus ia encontrar sua vítima. Ou, como preferia, o alvo. Foi até lá, na noite de sexta. Era a noite mais forte da casa. Vestiu suas calças de couroe combinou-as com sapatos de couro de crocodilo matizado de vinho. A camisa de seda francesa, branca com bordados em baixo relevo, bem cortada, caía como uma luva sobre os músculos bem delineados de seu corpo de gato. Ajeitou a franja de cabelos bordô, lisos, finos, escorrendo sobre seu olhos azuis muito escuros.
Sentiu na alma o perfume do tédio; oh, sua profissão era aborrecida às vezes. A idéia de se deitar com um homem não o agradava em nada, mas também não o indignava. Já havia dividido a cama com todo tipo de gente (ou gentes...), mas preferia mulheres. Aí estava um aspecto pouco sedutor do seu ofício: não podia se dar ao luxo de recusar oportunidades de se aproximar do 'alvo'; precisava criar situações para estar inteirado da rotina e dos hábitos da vítima para fazer um trabalho perfeito.
Os convites vips que o cliente arrumara ajudaram-no muito. Espantou-se ao ver as filas ao redor da casa, pessoas implorando pela chance de entrar. Com o mundo andando de tal maneira a ponto de se conseguir sexo de graça com imensa facilidade, Camus achou incrível como podiam pagar fortunas por isso. Entrou discretamente e sentou-se em uma mesa próxima de um canto menos iluminado. Era bom não chamar atenção. Observou tudo e tentou lembrar-se das suas pesquisas sobre o assunto: era preciso saber distinguir os go-go boys dos garotos de programa.
Os go-go boys eram apenas dançarinos. Durante as performances, misturavam-se ao público, permitiam-se serem tocados, recebiam gorjetas altas, mas assim que acabava o show saíam pelo backstage e não mais interagiam com o público até o próximo show.
Os garotos de programa dançavam e circulavam livremente, vendo os homens disputarem sua atenção com afinco. Destacavam-se dos clientes regulares por um belo bracelete de 'esmeraldas' – pedras verdes que pareciam vidro e, por isso, ganharam o jocoso apelido de 'green knights', em referência ao romance medieval.
Os garotos de programa eram discretos, bebiam nas mesas com seus clientes, trocavam beijos pouco efusivos e carícias contidas. Um ou outro sentava-se no colo do seu cliente orgulhoso, que exibia a conquista; mas mesmo assim, eram refinados. Aldebaran repassava quinzenalmente regras de etiqueta e comportamento com os 'meninos'. Os clientes da Hímeros eram homens ricos e poderosos demais para permitirem-se ter seus nomes envolvidos com gays espalhafatosos e com uma casa de prostituição – um bordel de luxo. Ser discreto era a garantia de boas gorjetas e do retorno dos clientes: era a bandeira da casa. Cada garoto de programa tinha seu próprio quarto, decorado ao seu gosto com uma cota de dinheiro que correspondia ao seu sucesso pessoal nos negócios. Era até um chamariz aos clientes mais sofisticados: eles queriam experimentar todos os rapazes, para conhecer intimamente o quarto de cada um, entender ou apreender um pouco da personalidade dos deliciosos garotos pela decoração pessoal de seus aposentos.
Camus era um homem também muito discreto. Esperava calmamente na mesa a oportunidade de abordar a sua vítima, até que ela surgiu, vinda dos cômodos superiores, onde ficavam os quartos. Ele o viu atravessar o salão bem decorado, com luzes cheias de delicadeza e bom gosto, os cabelos loiros sendo ajeitados com os dedos, que refaziam os cachos que certamente as horas na cama haviam desfeito.
Estudou os movimentos felinos do rapaz, que andava como se deslizasse. Era bonito, muito mais do que na foto, que não fizera justiça ao matiz mate dourado do rosto de traços firmes, ao proeminente nariz grego, afinalado, orgulhoso, aos lábios úmidos cor de morangos selvagens, aos olhos azuis que mudavam de cor no escuro, aos cabelos cuja textura sob a luz era inigualável, como a de uma manta de brocados. Circulou pelas mesas até avistar Camus sozinho. O único freguês sozinho.
– Boa noite, posso te fazer companhia? – a voz de veludo. Sedutor.
– Por favor. – Camus apontou-lhe a cadeira de frente para si.
A vítima sentou-se, e Camus não pôde deixar de notar o quão teatrais eram as expressões do rapaz: nada natural, nada espontâneo. Ele todo era clichês de sedução. Desde a maneira de se sentar, de pernas ligeiramente abertas, passando pelos indefectíveis gestos de ajeitar os cabelos, a língua que roçava os lábios carnudos, molhando-os, fazendo-os brilhar sob a luz, até, por fim, o olhar de desejo mundano, vulgar.
O jovenzinho, por sua vez, olhava fixo para o drinque do homem a sua frente. O homem era mais bonito do que a maioria dos seus clientes. Não era um velho gordo, nem um político senil ou um tarado qualquer: era um homem bonito. E que bebia dry Martini...
– Dry Martini? Não é um drinque dos mais pedidos.
Camus sorriu.
– Sou um antiquado.
– Os clássicos não saem de moda.
Camus percebeu o quão rude estava sendo. Que diabos! Aquele era um prostíbulo e a regra era: se oferece bebida para a puta – no caso puto – que se cortejava.
– Bebe alguma coisa?
– Uísque. Com gelo.
Camus fez um sinal para o barman. "Uísque, on the rocks, por favor."
– É a primeira vez na Hímeros? – perguntou o garoto de programa, já devidamente provido de seu copo cheio.
– É. E você?
– Eu?
– Trabalha aqui há muito tempo? Quero dizer... Antes disso aqui ser a Babilônia da América?
Ele somente balançou a cabeça, num gesto claro de quem não ia falar sobre si. "Discreto", pesou Camus. "Já gostei dele".
– Quer dançar? – o jovem mudou de assunto.
– Não, não gosto de dançar.
O garoto de programa ia rir e perguntar que tipo de pessoa freqüenta um lounge e não dança, mas lembrou-se a tempo de que as danças e as bebidas eram apenas as saladas da entrada de um jantar do qual ele era o prato principal.
"Vamos pular a sopinha também. Este aí é o cliente tipo pedra."
– Quer ficar mais à vontade?
Camus ficou nitidamente desconfortável. Mexeu-se na cadeira:
– Nem sei seu nome ainda.
O rapaz devolveu-lhe um sorriso delicadamente honesto – o primeiro gesto não ensaiado da noite.
– Me chamo Miro. – ele ajeitou os cachos que teimavam em espalhar-se sobre a blusa finíssima de seda que delineava perigosamente os mamilos arrepiados pelo ar condicionado da casa. – E você?
– Leon.
– Vamos subir, Leon? Você me conta mais um pouco no meu quarto.
– Vamos.
Aquela deve ter sido das transas mais rápidas da vida de Camus. Chegou ao quarto – que parecia mais a alcova de Madame Pompadour – e deu de cara com uma profusão de brocados, dourados, adamascados, veludos e sedas; Miro ainda tentou duas ou três perguntas neutras para descontrair, mas desistiu diante da passividade gélida de Camus. O garoto de programa tirou a roupa e parou nu na frente do freguês, tentando desvencilhar Camus das roupas às quais ele parecia mais do que nunca estar apegado. Com muito custo, deixou-o sem camisa e de braguilha aberta. Camus, desajeitado como uma virgem, conseguiu apenas atirar o corpo loiro de bruços sobre a cama e deitar-se sobre ele. Não durou 15 minutos.
Camus ficou constrangido pela sua performance egoísta e curta. Não era porque estava lidando com seu alvo que ia destratá-lo no seu ambiente de trabalho. Não percebeu nenhum desapontamento, contudo, na atitude de Miro. Ele gemera e oferecera-se de bom grado e Camus o admirou mais ainda por isso – ele, Camus, também era um bom profissional. Fazer bem seu trabalho era uma coisa admirável e aquele garoto de programa definitivamente sabia trabalhar. E, como bonificação, ainda tinha as nádegas mais macias que ele já tivera o prazer de possuir, embora só fosse de fato realizar aquilo no seu táxi, a caminho do hotel na primeira avenida, no 2101, o modesto Lewiston Hotel. Decidiu ficar morando por perto, para vigiar melhor a vítima – e agora a vítima tinha nome e rosto... e cheiro. Miro. Lindo. Perfume The Dreamer, Versace.
Enquanto isso, Miro tomava seu banho, pronto para perfumar-se novamente e então descer para continuar a noite. "Grosso. Insuportável." Pensava, esfregando as costas tentando varrer o cheiro daquele homenzinho desprezível do corpo dele. Mas não importava o quanto esfregasse, a única coisa que conseguia era lembrar-se mais da voz modulada e grave, o sotaque francês e o hálito quente, pesado, do homem que o tivera por alguns minutos. E o perfume... sabia de cor: Tzar, Van Cleef and Arpels.
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Na noite de sábado, Camus estava de volta ao seu campo de trabalho: a Hímeros. Queria desfazer a impressão do garoto loiro sobre ele. E não sabia por que cargas d'água isso lhe importava. Mas, para fins de conveniência psicológica, convenceu-se de que era porque precisava ganhar a sua vítima com confiança. De sexta para sábado o loiro não abandonara a boate – Camus vigiara a casa cuidadosamente, mas não o vira.
Entrou e sentou-se na mesma mesa e pediu o mesmo dry Martini. Miro percebeu sua presença mas o ignorou. Ele foi abordado por três rapazes diferentes e os recusou. Também teve de esperar dois homens saírem do quarto de Miro, até o loiro decidir-se a parar de ignorá-lo e finalmente dirigir-lhe a palavra.
– Não esperava por você tão cedo. – ele sentou-se com a mesma cartilha de gestos ensaiados, metódicos, falsos.
– Quis me desculpar. Eu... Eu nunca vim a um lugar assim antes... Sabe... Quando você simplesmente está sem cabeça?
"Excitante... Mais um corno iludido, afogando as mágoas ou um tarado matando o desejo de bolinar os sobrinhos..." – Miro suspirou.
– Já vi coisas assim.
– Pois então... Mas... Já aconteceu com você? É como ir a uma festa, quando você não tem fome nenhuma... Mas você simplesmente tem que comer os doces? Só porque eles são bonitos e estão ao alcance da sua mão?
– Já me senti assim. – ele tomou um gole do dry Martini sem pedir permissão a Camus – Mas isso não acontece aqui. Quem vem aqui sabe o que quer.
– Hoje acho que será diferente. Eu sei o que quero. – lançou um olhar firme aos olhos claros do rapaz – Não deve ter sido sua melhor noite, ontem.
Miro sorriu graciosamente e Camus teve um outro vislumbre de uma fagulha fugidia de sinceridade; o loiro realmente estava curioso com aquele pedido repentino de desculpas de um cliente admitindo que tinha sido sua culpa o fracasso de uma noite.
– É o meu trabalho. – ele balançou a taça na frente de Camus, com certa ironia na voz. – E eu o faço muito bem, quando deixam.
Camus corou ligeiramente. Miro notou e achou aquilo divertidíssimo.
– Mesmo quando não deixam, eu suponho. Como eu pude observar ontem. Ainda assim, fez um bom trabalho... Mas confesso que gostaria de desfazer a sua impressão... Também faço aquilo muito melhor...
– Eu não duvido.
– Quer dançar?
– Pensei que você não gostasse...
– Não gosto. Mas vai ser interessante... E eu gosto dessa música.
Era 'I Feel You', um cover do Despeche Mode, cantado pelo Placebo – era popular, porque era a música preferida de Saga.
Miro puxou-o pela mão até a pista de dança. Movia-se na pista como na cama: gracioso, sensual e nada espontâneo. Parecia ter dançado aquela música muitas e muitas vezes, sua sensualidade ensaiada era ainda assim um estímulo irresistível, mas Camus sentia tanta falsidade naqueles toques, nos seus corpos colados, nos quadris moles e lúbricos, nos braços que enroscavam-se no seu pescoço, nas pernas que se encaixavam nas suas – tanta falsidade! Não que ele se incomodasse com isso de fato, a falsidade era uma constante na sua profissão e na sua vida também, mas aquele rapaz tão jovem ser tão artificial o incomodava. Era como se ele tivesse perdido a luz. Afastou os pensamentos metafísicos quando a realidade o invadiu – ou antes, quando as mãos calosas do jovem loiro invadiram sua calça.
– Vamos subir? – a voz era rouca, gemida. Camus olhou para baixo, para o vão mínimo de distância entre seu corpo e o dele, e percebeu pelos volumes entre as pernas de ambos que estavam já muito excitados.
– Vamos.
Chegaram ao quarto que Camus já conhecia, mas que parecia diferente: mais claro, não sabia. Sentou-se na beirada da cama e recebeu o corpo de Miro sentado sobre o seu colo.
Deslizou os dedos pelo tórax do rapaz, subindo a sua blusa lentamente; Miro levantou os braços para ajudar o cliente a despi-lo. De braços para o alto, sentiu a boca quente do ruivo precipitar-se contra seus indefesos mamilos, atacando-os com volúpia, mordendo a carne sensível, arrancando gemidos que, dessa vez, não precisaram ser fingidos. Camus afastou os cabelos loiros e puxou o pescoço branco mais para o seu alcance – que pele tinha aquele moleque! Miro gemia abafadamente com a cabeça apoiada sobre a de Camus, os cabelos vermelhos de fogo tinham cheiro de almíscar. Miro puxou a cabeça do ruivo para provar aquela boca linda, lábios fininhos, arrebitados, provocantes. Sentiu que o outro fugiu delicadamente.
– O que houve?
Camus de uma risadinha sem graça.
– Pensei que vocês não beijassem na boca...
Miro soltou uma gargalhada deliciosa – outro rastro de honestidade que fascinou Camus.
– Você também viu Pretty Woman? Que bobagem! Mulheres até são mais românticas, mais burras para acreditar nisso! Quantas vezes você já não beijou uma mulher qualquer na boca e disse mentiras deslavadas só para levá-la para a cama?
– Muitas vezes! – admitiu Camus, rindo.
– Então! É a mesma coisa! – Miro olhou-o com os olhos azuis gulosos que pareciam que iam engoli-lo. – E não vai ser nenhum sacrifício beijar a sua boca, Leon...
– Não? – o ruivo o desafiou, abrindo o zíper da calça jeans enfeitada com tachinhas do garoto de programa.
– Nem um pouco... – Miro retribuiu a provocação deslizando sua língua que parecia um chicote de fogo pelo rosto bonito de Camus, mordendo de vez em quando os lábios do seu cliente sem permitir que ele os tivesse de vez.
Rolaram na cama, Camus lutando para beijar aquela boca de lábios grossos e Miro fugindo dele, as mãos provocando-o pela braguilha da calça aberta, tornando o desejo do outro pelo seu beijo. Até que Camus desistiu de beijá-lo e resolveu provar ao rapazinho que a noite anterior poderia ter sido maravilhosa. Forçou-o a deitar-se de costas, arrancando sem a menor paciência os jeans justíssimos. Ante o olhar fascinado de Miro, beijou seu pescoço, descendo lentamente pelo seu peito arrepiado, mamilos rígidos que foram devidamente mordidos, lambidos e chupados, para delírio de Miro, cujas mãos já se agarravam nos estrados da cama; deteve-se cruelmente no baixo ventre do loiro, lambendo círculos imaginários até os primeiros pêlos que anunciavam a chegada ao lugar de destino das suas intenções. Abaixou cuidadoso a samba canção de seda, com monogramas da Chanel, libertando o sexo já completamente ereto do garoto de programa.
– Que menino mais crescido... – debochou Camus, tateando o comprimento inteiro do rapaz que gemia baixo; brincou com a ponta da língua sobre ele, até Miro lhe implorar que fizesse logo o que tinha que fazer. Só então Camus tomou-o completamente em sua boca de lábios finos – mas muito ágeis. Miro pôs a mão sobre a cabeça de cabelos ruivos, empurrando-a para baixo enquanto seus quadris pressionavam para cima, buscando cada vez mais contato do seu corpo com a boca de seu cliente. Dos seus olhos fechados, despontavam lágrimas de um prazer intenso. Vigoroso e rápido, Camus não precisou de muito tempo para levar Miro às alturas. "Também faço o meu trabalho muito bem feito." Pensava o ruivo orgulhosamente, engolindo a recompensa completa do seu bom trabalho entre as pernas do garoto de programa, que ainda estava imóvel, mãos espalhadas displicentemente ao lado do corpo, o tórax subindo e descendo descompassado, denunciando sua respiração fora de ritmo ainda.
Camus ia levantar-se da cama, quando a voz trêmula o interpelou:
– Por que fez isso?
– Isso? – perguntou surpreso.
– Isso. – Miro completou, sentando-se na cama. – Isso o que você fez é o beijo na boca dos garotos de programa masculinos. Nenhum cliente faz isso. Eles vêm aqui para que eu lhes dê prazer e nunca o contrário.
– Bem... – Camus ficou vermelho. "Merda! Por que enfiei na cabeça que tinha que impressionar o moleque? Agora ele está impressionado demais!" – Me deu muito prazer fazer o que fiz...
O rosto de Miro pareceu iluminar-se com uma onda de rubor rosado sobre ele todo.
– Vem até aqui... – fez sinal para que Camus deitasse ao lado dele, ao que o ruivo imediatamente obedeceu. – Vou lhe dar um presente...
Ofereceu-lhe o tesouro negado a noite toda: os lábios molhados, vermelhos. Camus mal podia esperar para provar aquela língua morna na sua, a boca tenra, que colou a sua. As mãos loiras seguraram as laterais do seu rosto, acariciando suas bochechas com os polegares longos e finos enquanto a língua exigente passeava dentro da sua boca, provocando-o. Um pensamento incômodo perpassou a mente fria de Camus: se pudesse, ficaria a noite toda com aquela boca deliciosa na sua. Mas não podia. Seu envolvimento com o alvo já estava ficando 'íntimo' demais. Afastou delicadamente o outro rapaz, que parecia francamente decepcionado com a recusa.
– Preciso ir.
Miro olhou-o, ajeitando os cabelos loiros que caíam sobre os ombros.
– Volte amanhã.
Camus riu. Não do convite, mas da sua inclinação absurda de voltar ali mesmo que ele não convidasse.
– Pode me esperar.
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– Vou precisar de mais tempo.
– Como assim vai precisar de mais tempo?
– Ele nunca está sozinho, recebe homens a noite toda.
– Eu sei! Fui eu que te disse isso! E daí?
– E daí que fui lá três vezes seguidas! Já me conhecem, eu simplesmente não posso subir com ele vivo, sair pelo tubo de ventilação e deixar ele degolado na cama! Eu tenho um nome! Não posso me queimar para sempre aqui em Seattle! Eu o vigiei – ele não sai da boate durante o dia!
– O que quer fazer?
– Preciso ganhar a confiança dele, tirar ele da casa. Levar para algum lugar e alegar um arroubo de desejo qualquer, levá-lo para algum lugar ermo e fazer o serviço.
– Está bem, está bem. É melhor assim. A casa não pode ser comprometida, de maneira nenhum, entendeu? Nenhuma! Muita gente importante demais freqüenta a Hímeros. Seria ruim para todo mundo ter o nome da casa envolvido em algum escândalo.
– Então eu tenho tempo para trabalhar?
– Você tem razão, não vai ser tão fácil. Você tem duas semanas. Duas! Quero ele morto até lá. Miro tem que estar morto antes da virada do mês, entendeu?
– Eu já disse que tenho um nome. Nunca deixei de entregar um trabalho pronto. Ele vai estar morto entro de duas semanas.
– Está bem. Estamos combinados.
"Pronto, Albert Leon... Você tem mais duas semanas para cortejar o garoto de programa..."
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Comentários: Gente, meu primeiro UA! Eu estava vendo uns flogs no final de semana e tinha uma fanart comentando um manga onde um garoto de programa e um assassino em série tinham um caso. Pronto, foi o suficiente. Mudei para Saint Seiya e tirei o assassino em série – YEAH! Nasceu meu primeiro UA. Claro, tinha que ser Miro e Camus! Ada, MUITO OBRIGADA por betar minhas fics na velocidade da luz!
E, claro, mais curiosidades sobre fics... visite-me em thesenseiclub (ponto) blogspot (ponto) com !