Ordinary Star - by Celly M e Lili Psique
Resumo: Kamus é um magnata da indústria cinematográfica, em busca de uma estrela para suas produções. Jamais imaginou que iria encontra-la num lugar mais do que inusitado... Romance yaoi lemon.
Disclaimer: Saint Seiya / Cavaleiros do Zodíaco pertence a Masami Kurumada. Infelizmente. E os sobrenomes Fauvet e Kazantzakis são criações da Calíope Amphora.
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Capítulo 01 - Apresentações
O ramo cinematográfico sempre fora cruel, tanto com diretores, como com atores, produtores, roteiristas. Eles eram criticados por suas atuações, direções, cortes nos orçamentos, escalação do elenco. Quando eram premiados, tinham a mídia a seus pés, quando não eram, caíam no esquecimento ou viravam piada no meio.
Kamus Fauvet (1) sabia de todos aqueles pontos negativos, mas assim mesmo resolveu aceitar a herança do tio, um magnata, dono de um dos estúdios mais famosos dos Estados Unidos. O homem comandava a maioria dos filmes chamados blockbusters, ou seja, aqueles criados especialmente para atrair milhões de pessoas às salas de exibição e faturar quantias exorbitantes. Aqueles filmes não eram existencialistas nem refletiam sobre o real sentido da vida ou seus valores morais, e exatamente por esse motivo atraíam tantas pessoas.
Nascido e criado em Nice, na França, desde novo Kamus era um fanático pelas artes. Foi morar muito cedo nos Estados Unidos, mais por obra do destino do que por sua vontade. Os pais morreram cedo demais e o deixaram aos cuidados de seu tio, que naquela época estava apenas começando com o cinema. Foi paixão à primeira vista quando o menino, com seu onze anos de idade, adentrou os estúdios naqueles carrinhos de golfe para um passeio pelo local, realizado com freqüência pelos turistas.
"Um dia tudo isso será seu, Kamus... e você deve lutar para que nunca deixe de existir".
Aquela predileção parecia uma furada, ou uma maldição, o que melhor conviesse a quem a escutara.
A verdade era que há muito tempo o estúdio não recebia um projeto entusiasmante, sedutor, algo que tirasse o sono do francês. Era bem verdade que o último filme, protagonizado por atores que estavam na mídia todo o tempo, havia sido um sucesso de público. Mas os mesmos estavam caindo no lugar comum. Estavam todos enfadonhos e repetitivos. Hollywood perdera e muito seu glamour. Tudo havia ficado vulgar demais, fácil demais. As mulheres eram belas, porém inúteis. Os papeis destinados à elas eram sempre os da mocinha sofredora ou escandalosa. Os heróis eram brutamontes mais preocupados com os cortes de cabelo do que com seu papel original.
Fora numa dessas festas, que sempre aconteciam nas colinas de Beverly Hills, numa das mansões mais caras de Los Angeles, que Kamus cruzara com seu amigo e produtor, Dhoko. Era difícil encontrar alguém com idéias que se parecessem com as dele, mas Kamus considerava o outro seu mentor. Apesar da grande diferença de idade, ambos nutriam uma paixão pelo cinema de antigamente, um pelo simples fato de ter vivido naquela época de grandes estrelas como Greta Garbo, Marilyn Monroe, Clark Gable, e o outro por puro fascínio.
– Temos perdido nosso tempo, Kamus. – Disse Dhoko, mostrando a festa à volta deles. Estavam no segundo andar da casa, olhando para o sem número de convidados, aspirantes a atrizes e atores, produtores fracassados, diretores arruinados. – O cinema não é o mesmo. Tenho inúmeros projetos, mas nenhum ator suficientemente capaz para protagoniza-los. Faltam-lhes glamour, inteligência, sensualidade. Consegue me entender?
– Perfeitamente. – Kamus concordou, tomando um gole do champanhe caríssimo. – Tenho vontade de simplesmente me dar férias. Voltar para a França e ficar por lá por alguns anos. Só o fato de entrar na minha própria casa e ver todos aqueles quadros dos atores de antigamente me dá enjôo.
– Isso seria um erro. Não podemos fugir, devemos continuar procurando. Seu tio não lhe perdoaria se você desistisse, até porque tem muito talento, como os de antigamente.
– Me inspira falando desse jeito, mas estamos pela hora da morte.
– Não deve se desesperar tanto, sua nova aquisição para o mundo do cinema foi importante.
– Como assim? – Kamus perguntou intrigado. Divagou sobre o que poderia ter feito de tão importante para o mundo do cinema. Sua mente o traiu, quando ele não lembrou de nada.
– Ela. – Dhoko apontou para a mulher que entrava no salão. Era bela e altiva, não podiam negar. Os belos cabelos loiros caíam majestosamente pelos ombros e um sorriso delicado estampava o rosto bonito, maquiado com perfeição.
– Hilda? Não, ela é mais imagem que qualquer outra coisa, Dhoko. Acredite em mim.
– Não duvido, mas ela tem carisma e um quê de Hollywood dos anos 50. Ela potencialmente poderia ser uma estrela.
– Concordo. Se não fossem seus rompantes de estrelismo desnecessários, os problemas com a bebida e pílulas, e claro, aquele senhor que insiste em ser reconhecido como seu marido.
Dhoko sorriu. Kamus era discreto, mas sabia de tudo o que acontecia em seu império. E tomava um cuidado imenso para somente agir quando fosse estritamente necessário. Algumas pessoas reclamavam que essas ações dele eram mais perigosas do que qualquer outra coisa. Ele mexia com o destino delas, ele era o dono de suas vidas a partir do momento em que cruzavam os portões do seu estúdio.
– Não se preocupe, meu jovem... – O homem tocou de leve no ombro de Kamus, atraindo sua atenção. - ...a verdadeira estrela está lá fora. Esperando ser descoberta por você.
– Ou por você, Dhoko. - Kamus retrucou, arrancando um sorriso do homem.
– Estou muito velho para isso. Mas você... você tem sangue quente correndo nas veias, mesmo que insista em ser esse francês gélido que comanda a tudo e a todos de seu castelo na ponta de um iceberg. Você vai encontrar a próxima estrela. E quando o fizer, vamos fazer um filme juntos. Isso é um pacto.
E o homem sumiu do campo de visão de Kamus. Pacto? Ele sempre detestara aquela palavra. Era por demais compromissada, unia demais as pessoas, levando-as às últimas conseqüências. Mas sair em busca de uma nova estrela não deixava de ser uma perspectiva atraente.
O único problema era que ele não tinha a mínima idéia de onde procura-la, nem vontade.
Foi embora da festa, deprimido, como sempre saíra de tantas outras. Não estava com vontade de estender as mesmas conversas de sempre, com as mesmas pessoas enfadonhas. Quando percebeu Dhoko ocupando-se com alguns importantes investidores e patrocinadores da indústria cinematográfica, despediu-se discretamente de alguns amigos mais próximos, e saiu.
Não gostava de dirigir embriagado, mas seu Renault Mègane Coupé-Cabriolet, vermelho, de câmbio automático, deslizava como uma pluma, e não colocava nenhuma dificuldade ao motorista. Fora que Kamus era um ótimo 'piloto'.
Desligou-se do mundo quando colocou seu cd do Pink Floyd para tocar. Aquilo sim era música. Parou em um farol no centro de LA, e observou os 'ratos' de rua. Tantos sonhos destruídos, tantas almas a serem lavadas... Culpa de Hollywood, claro. Quantos garotos e garotas não atravessavam o país, e até mesmo o mundo, para tentar a chance ali? Kamus sabia que muitos deveriam ter talento, mas não era isso que importava. Os agentes dificultavam tudo, arrancavam todo o dinheiro que conseguiam, e devolviam os aspirantes à fama à rua, sem meios nem para retornar às suas casas.
Assim avenidas como a Hollywood Boulevard enchiam-se aquele horário, mostrando belos corpos femininos e masculinos, que se ofereciam por pouco.
Kamus virou o rosto. Não gostava de observar a miséria humana. Estava longe daquilo tudo, acima, e, apesar de se condoer, não havia nada que pudesse fazer. A indústria era uma máquina, automática, que funcionava impiedosamente há décadas.
Voltou sua atenção à música progressiva que tanto gostava, e, talvez devido à sua grande empolgação no ápice da música, não percebeu que alguém ainda atravessava a avenida quando o farol abriu para os carros. E, apesar de não estar em alta velocidade, bateu o carro em um pedestre.
"Merde!", xingou-se mentalmente. Não hesitou em parar o automóvel ali mesmo, e sair dele.
Era um rapaz, que estava ao chão, aparentemente acordado. Kamus ajoelhou-se ao lado dele.
– Não se mexa. – Alertou. Ele podia ter se machucado seriamente, podia ter que ser imobilizado, Kamus tinha que chamar um resgate...
– Eu estou bem. – O rapaz disse, sentando-se no asfalto, mas sem esconder um gemido de dor. Logo, dois outros aproximaram-se, aparentando ter alguma relação com o 'acidentado', e Kamus espantou-se com os longos cabelos cuidados de ambos.
– Droga, Miro, como você pode ser tão desligado? – Perguntou o loiro.
– Shaka, não me enche! Eu não vi!
– Não, o erro foi meu. Não vi que você estava atravessando. – Kamus desculpou-se. Nesse momento o loiro, que pelo jeito chamava-se Shaka, levantou Miro, que gemeu ainda mais de dor. – Você está machucado, tenho que te levar a um hospital.
– Hospital? De jeito nenhum! – Miro respondeu, ríspido.
– Hospital sim. – Kamus não acreditou na teimosia.
Percebeu que a calça jeans que ele usava havia rasgado em vários lugares, e sua camisa vermelha, que aparentemente era bem justa, estava completamente estraçalhada. As costas de miro sofreram uma enorme queimadura de asfalto, por ter ralado ao cair, e Kamus sabia que, além de ser dolorido, aquele ferimento tinha grandes chances de infeccionar se não fosse tratado logo.
– Cara, a merda tá feita. E eu não posso ir para o hospital. Da próxima vez bebe menos e dirige com mais cuidado. – Retrucou o garoto, meio furioso.
Para Miro, a noite, que estava apenas começando, fora pelo ralo. E ele viu que suas próximas semanas também seriam terríveis. Suas costas estavam doendo demais, e pela cara assustada de do outro rapaz, Mu, que veio ajuda-lo com Shaka, o machucado devia mesmo estar tão feio quanto ele imaginava.
Ia dar um passo, mas notou que sua bota estava também rasgada. Justo aquela bota, que ele mais usava. Seus dois joelhos estavam ralados, e os nós dos dedos e as mãos arranhados.
– Merda, merda, merda! – Bufou, parando, soltando seu braço de Shaka com raiva.
Definitivamente, não iria conseguir trabalhar MESMO. Suas esparsas economias iriam pelo ralo para mantê-lo nesse período de abstinência forçada.
– Você vai sim para o hospital. – Kamus começou, morrendo de culpa. Nem pensou na situação comprometedora que estava vivenciando. - Eu não vou ser omisso e deixar que uma infecção comece e... – Foi bruscamente cortado.
– Cara, não é problema seu! Ainda não entendeu? Eu NÃO posso ir para um hospital, e eu não vou. Pronto. Vai tomar um banho de banheira e encher a cara de whisky caro que essa sua culpa some!
Kamus, pela primeira vez, sentiu raiva. Estava pretendendo ajudar o rapaz e ele simplesmente, além de ignora-lo, ainda o pintava como um riquinho sem sentimentos. Quem ele pensava que era? Estava a ponto de simplesmente virar as costas e sair dali, não sem antes dizer umas poucas e boas pra ele, quando uma sirene da viatura de polícia saiu de uma rua e adentrou a Hollywood Boulevard, se aproximando deles, lentamente.
– Droga...vamos, caras! – Miro disse, apressado, afastando-se do carro caro de Kamus e indo na direção oposta.
O magnata percebeu que o outro mancava e ainda sangrava, e fez algo que nem ele mesmo poderia imaginar. Foi completamente impensado, e atípico dele.
– Vem comigo, você não vai conseguir andar dez metros nesse estado lastimável. – Ele disse, segurando o braço do rapaz, que se soltou dele rapidamente, como se o toque o queimasse.
– Fica longe de mim, já me deu problemas demais por uma noite só.
– Entre logo no carro! – Kamus estava começando a perder a paciência. Que rapaz teimoso! E ele ainda não entendia o por quê de estar insistindo tanto. Talvez fosse pelo sentimento de culpa. Ele tentou uma última cartada. – Não precisamos ir ao hospital, se você quiser.
Aquilo pareceu alertar o rapaz, que finalmente olhou para os amigos, que já estavam a ponto de virar a esquina. Olhou de volta para Kamus, que estava com a mesma postura firme, mas parecia também estar esperando por sua resposta.
– E eles? – Miro perguntou, apontando para os amigos.
Kamus ia responder, quando o rapaz de cabelos lavanda gritou, já sumindo do campo de visão deles.
– Não se importe com a gente!
Miro suspirou, conformado e correu, auxiliado por Kamus até o carro, que puxou um dos bancos para frente, um convite mudo para que ele entrasse atrás. Quando Miro o questionou com os olhos, ele apenas sorriu ligeiramente.
– Suas costas. Estão machucadas, é melhor que vá deitado.
Miro estranhou. Estava esperando algo como "não quero que você suje meu estofado caro de sangue", nunca aquele comentário preocupado. Não retribuiu o sorriso, mas fez o que o homem lhe disse. O carro, apesar de conversível, tinha um cheiro maravilhoso, cheiro de carro de rico, que se assemelhava muito com o perfume que o dono usava.
Kamus suspirou, aliviado. Pelo menos havia conseguido convencer o rapaz misterioso. Já que ele não queria ir a um hospital, ele poderia ligar para seu médico particular. Ele com certeza chegaria em sua casa em poucos minutos. Ter dinheiro naquelas horas era maravilhoso e ele saberia aproveitar. Só esperava que não pensassem algo errado dele.
Olhou novamente para Miro, deitado no banco de trás. Percebeu que ele arrepiou-se quando a viatura da polícia passou por eles. Coitado, ele devia ser mais um daqueles que chegavam a Los Angeles sem o mínimo de instrução e acabava por se perder na cidade.
O Mégane deslizava gostoso pela West Beverly Hills, subindo as colinas até alcançar um luxuoso e exclusivo condomínio, ocupado em sua maioria por diretores de cinema e atores em carreira avançada. Por ser um lugar bem seleto, os moradores escolhiam quais celebridades eram aprovadas para morar ali. Kamus herdou a casa com a morte do tio, mas ele era tão bem visto no meio, que, quando começou a trabalhar, já havia propostas dos moradores para que ele comprasse uma casa no lugar.
Kamus desligou o carro, olhando para trás pela primeira vez. Não pôde esconder o sorriso ao notar que Miro cochilava. Aproveitou para fazer a ligação para o médico, que não demorou muito para ser completada. Para sua infelicidade, o tal homem não poderia ir até lá, estava em uma clínica fazendo o parto de uma atriz. Tantas centenas de dólares por semana e quando precisava não tinha exclusividade. Anotou mentalmente que precisava de um novo médico.
Tocou de leve no rosto de Miro, que não acordou. Ele tentou com um pouco mais de força, mas foi preciso que quase o sacudisse para que ele levantasse, de sopetão, afastando a mão que o balançava, com um pouco de violência.
– Calma, rapaz! Já chegamos. Venha comigo.
Miro olhou-o, esfregando os olhos com a mão machucada. Sentiu tudo arder e incomodar, especialmente quando desceu do carro. Havia se esquecido da perna machucada, que cedeu, fazendo com que ele quase fosse ao chão, senão fossem os braços de Kamus o apoiando com uma agilidade impressionante. O francês escolheu por levá-lo nos braços para dentro de casa, cuidando para olhar à sua volta, para que nenhum vizinho fofoqueiro, ou paparazzi desagradável os estivesse espreitando.
Ao chegarem perto à porta de entrada, Miro ficou boquiaberto com a riqueza do lugar. A casa parecia antiga, vista de fora, apesar de absurdamente bem conservada. Sua arquitetura não era moderna. Era uma mansão retangular, branca, com três andares. Um muro altíssimo a cercava, e um enorme jardim estendia-se em volta de todo o caminho que o carro havia atravessado para alcançar a larga porta branca. As varandas enormes existiam no segundo e no terceiro andar, e davam o charme à casa.
Adentraram na mansão, as luzes acendendo pelo comando de voz de Kamus.
Por fora, imaginava-se que alguém conservador morava ali. Mas, ao entrar, qualquer um mudava radicalmente de opinião. Os móveis eram modernos, assim como a decoração. Nada de estátuas, ou tapeçarias antigas. Modernos eletrônicos faziam a vez, assim como pinturas de artistas pós-modernos famosos.
– Uau. – Miro disse, não encontrando mais palavras para descrever o lugar.
Kamus sorriu discretamente e colocou-o sentado no sofá de umas salas, sumindo por um corredor sem dizer nenhuma palavra. Miro ainda observava atônito o lugar, quando o francês voltou, trazendo uma maleta que ele conhecia bem como sendo de primeiros socorros.
– Pra quê isso? – Ele perguntou, quando Kamus sentou-se ao lado dele.
– Meu médico não poderá vir aqui hoje e eu não vou deixa-lo sangrar e seu ferimento infeccionar. Posso fazer uns curativos, nada muito profissional, mas pelo menos vai ficar um pouco melhor. – O francês respondeu, prendendo os cabelos em um rabo de cavalo, as mãos aproximando-se da camisa que o outro usava. Rapidamente Miro esquivou-se.
– Já disse que estou bem.
Kamus suspirou, sentindo sua calma esvair-se.
– Olha, ou você me deixa fazer isso ou me deixa fazer isso. Eu não vou machucar você.
Miro sentiu-se infantil, olhando para aquele desconhecido que parecia querer ajeitar as coisas da melhor maneira possível. Relutando por alguns minutos, ele analisou suas opções, que honestamente, eram escassas. Ele não tinha a mínima idéia de onde estava e sentia dor por todo o corpo. No dia seguinte poderia estar machucado de verdade, com todos aqueles ferimentos expostos, e sem chance de escapar de um hospital. Por fim, olhou para o solícito homem a seu lado e suspirou, balançando a cabeça afirmativamente.
Podia jurar que vira então um sorriso nos lábios do outro.
Kamus estava aliviado pela segunda vez na noite, por ter convencido o rapaz. Cuidadosamente, ele usou uma tesoura para cortar o que restara da camisa barata que Miro usava. Descartou-a na mesma hora para só então analisar o estrago que havia sido feito. Para sorte de ambos, não era nada muito grave, o corte não era profundo. O único problema era que esse tipo de ferimento ardia demais.
Ele apenas limpou o local, removendo a pele que estava solta e aplicou o único remédio que havia na casa e que ele lembrava bem que servia para aquilo. Durante todo o tempo, Miro estava calado, apenas retesando com força o corpo quando os cortes foram limpos com anti-séptico.
Meia hora depois, Kamus havia limpado todos os ferimentos e certificado, em sua leiga experiência, que Miro não havia quebrado nenhum osso. A perna, a princípio sofrera uma torção, e Kamus aplicara uma pomada para que a dor diminuísse. Ela ficaria nova em folha em algumas semanas.
Um silêncio perturbador se instaurou no lugar e o francês foi o primeiro a levantar-se do sofá, procurando algo a fazer ou quem sabe, perguntar para o outro rapaz. Aparentemente a segunda opção era a mais interessante.
– Você gostaria de comer alguma coisa... Miro... é esse o seu nome, não é?
– É sim. E não precisa se preocupar, eu estou bem. Só me diz como sair daqui, eu não vou mais te incomodar. – Ele respondeu, levantando-se com alguma dificuldade. A quem estava querendo enganar? Não estava bem, a perna ainda doía bastante.
– De maneira alguma, não vou deixar você perambular pela madrugada nesse estado. Você passa a noite aqui. Vou procurar algumas roupas para você e depois fazer algo para comermos. Meus empregados já estão deitados, e não vou acorda-los, mas estou com fome também. Fique à vontade.
Dito isso, Kamus sumiu novamente pelo corredor, deixando Miro confuso. Alguns momentos depois, ele reapareceu com uma calça de pijama cinza e uma camisa de malha branca. Estendeu as peças para o rapaz, que corou, não sabendo o que fazer.
– Não gostaria de tomar um banho antes de trocar de roupa?
– Olha... – Miro já ia dizendo que não, mas o francês interrompeu-o.
– Venha comigo, o banheiro fica por aqui.
Adiantava discutir com aquele cara? Não, não adiantava. Miro seguiu-o, subindo a enorme escadaria no cômodo seguinte. Ironicamente, ele lembrou-se daquele filme 'E o Vento Levou', que tinha visto há anos. Teve dificuldade para subir as escadas, mas apoiou-se com uma mão no corrimão, enquanto o outro o ajudava ao lado.
Quando entrou no banheiro, ficou ainda mais boquiaberto. Aquele lugar era umas três vezes maior que o apartamento que dividia com Shaka e Mu.
A decoração era toda branca, impecável. A banheira era absurda. Redonda, ficava em um dos cantos do banheiro, e para entrar nela havia dois degraus, de granito tão claro como o do chão. Ela já estava cheia, e o vapor quente enchia o local, assim como um aroma delicioso de alguma essência que Kamus colocara na água.
Miro percebeu ainda que havia um box bem largo, com uma ducha enorme, que lembrava as de alguns motéis caros onde ele já estivera. Uma bancada larga de granito, da cor do chão, sustentava uma pia transparente, lindíssima, e o armário branco que havia embaixo era enorme.
Já tinha um jogo limpo de toalhas brancas no banco de vime, próximo à banheira, obviamente para o seu uso. Os apetrechos para o banho estavam em um suporte ao lado, completamente à mão para quem tomasse banho.
Após o momento de letargia, Miro olhou para Kamus, que tinha um meio sorriso no rosto. Chegou a conclusão de que ele devia mesmo estar com um cara de idiota completo. "Não é possível... Esse cara deve ter sacado, e está com segundas intenções..."
– Olha... – Miro ia fazer um comentário, mas lembrou-se de que sequer sabia o nome do ricaço. – Aliás... Qual seu nome?
– Kamus. Você ia dizer que...?
Miro pensou um pouco, e desencanou. Não, ele só queria mesmo ajudar.
– Esquece. – Virou, olhando de novo para a banheira. – Eu não tenho escapatória, tenho?
– Não, não tem. Vou deixar a roupa aqui em cima, – Colocou-as na bancada da pia. – e você pode usar aquelas toalhas. Fique a vontade. Vou estar aqui no meu escritório, ao lado. Qualquer coisa, chame alto que eu venho lhe ajudar.
Miro sentou-se na beirada da banheira, e constatou um problema. Seus joelhos estavam totalmente ralados. E sua calça jeans era extremamente justa. Não iria mesmo conseguir despir-se sozinho.
Olhou para o francês, que estava saindo do banheiro.
Era melhor tentar se virar sozinho, do que tornar aquilo tudo ainda mais constrangedor.
Miro tentou manter-se em pé, e abaixar a calça, mas o tornozelo não deixou. Sentou-se novamente, mas aí não conseguia pôr o peso na perna, a fim de levantar o quadril. É, não ia dar mesmo.
"Droga...", ele pensou.
– Kamus!
O francês mal tinha fechado a porta do banheiro quando ouviu Miro chamá-lo.
– Oui? – Disse, entrando novamente no banheiro.
Miro sorriu.
– Ha... você é francês? – Perguntou, encantado. Adorava os franceses...
– Sim, sou... – Kamus, respondeu, corado. Falava o inglês tão bem, e há tanto tempo, que quase não tinha mais sotaque. Os outros apenas percebiam que ele era francês quando soltava algumas expressões completamente espontâneas.
– Olha... – Miro suspirou antes de falar. – Eu sei que isso é totalmente chato, mas eu não consigo tirar a minha calça sozinho.
Kamus ficou mais um pouco vermelho, mas disfarçou bem o constrangimento. Era óbvio que ele não iria conseguir se despir com as pernas machucadas.
– Claro, desculpe-me. Eu deveria ter imaginado. Posso...? – Perguntou, ao aproximar-se e segurar no braço do outro, para ajudá-lo a ficar em pé.
– Por favor... – Miro respondeu.
Kamus o levou próximo a pia, e Miro apoiou uma mão no granito. Com a outra desabotoou a calça, e abaixou o zíper, e, ao puxa-la devagar pelo quadril, não conteve um gemido. Pelo jeito havia machucado ali também, e não tinha percebido.
O francês, solícito, foi atrás do grego, e, ao colocar as mãos no quadril do outro, para puxar a calça com calma, viu uma pequena tatuagem que ele tinha na região lombar. Era um escorpião, bem vermelho, e, pelo que Kamus pode perceber, a cauda do animal acabava no cóccix dele.
Encantando, simplesmente tocou o desenho, ingenuamente, sem perceber a situação na qual se encontrava.
– Nossa... que linda...
Miro sentiu o carinho, e virou somente o pescoço. No momento em que viu o olhar de fascínio do outro, sorriu internamente. Talvez ele não estivesse assim com apenas 'boas' intenções. Talvez Miro tivesse tido um golpe de sorte.
Deu um tapa na mão dele, e sorriu, malicioso.
– Só pra tocar são 50 dólares...
Kamus se recompôs, e voltou a ficar sério.
– Como assim?
Miro virou o corpo inteiro, para olhar melhor para o francês, nitidamente tentando seduzi-lo.
– Eu disse que se você quiser toca-la, assim, do jeito que você ia tocando, são 50 dólares. Isso apenas para tocar a tatuagem. O resto é mais caro.
Kamus continuou calado, perplexo, e franziu as sobrancelhas. O grego percebeu a confusão que parecia atordoar a mente dele.
– Não é possível... Você não entendeu?
– Não, não entendi. – Kamus respondeu, seco.
– Kamus, você estava na Hollywood Boulevard, de madrugada. – Percebeu que ele continuou quieto, como se não visse o quão óbvio era aquilo. Por fim, disse com todas as letras. – Por favor, francês, você não percebeu que eu sou um garoto de programa!
Continua...
Notinhas! (elas não poderiam faltar, claro!)
Celly M. (a psicótica pelo Saga...)
Não pude deixar de ficar contente quando a Lili resolveu postar o primeiro capítulo desse projeto tão adorado por nós duas. O segredo finalmente vai ser revelado, em doses homeopáticas pra ninguém morrer do coração. Mais um UA, como sempre diferente de tudo o que já escrevemos, incluindo Inferno, Sweet Sins, Romances Impossíveis, Sob os Holofotes, Ciúmes. Espero realmente que gostem porque está nos dando um prazer enorme escreve-la, apesar dos bloqueios constantes e das 500 fics em andamento.
Um agradecimento especial, como não poderia deixar de ser, à minha maninha-deusa-parceira de fic, por me aturar, mesmo quando eu estou um pé no saco, e por entrar de cabeça nas minhas idéias malucas. Nem preciso dizer o quão importante você é, não é mesmo? Bem, às duas Goddesses da leva, que com certeza vão gostar desse primeiro capítulo, a Calíope por ser doida pelo Casal 20 e a Juzinha por finalmente ver algo novo no ar.
Ah, os créditos e explicações seguem todos depois dos comentários da Lili. Se esquecermos de alguma coisa, no próximo capítulo vai ser comentado. Com certeza também estaremos comentando nos nossos blogs a respeito dessa fic, então fiquem ligados.
Uma centena de beijos e obrigada por terem lido tudinho! Até o próximo capítulo!
Lili Psiquê (enlouquecida pelos Anjos...)
O que dizer? Celly, não posso só assinar embaixo do seu comment? Risos..
Bom, meio mundo sabe da existência dessa fic, e, apesar de não estarmos tão adiantadas como gostaríamos, realmente resolvemos posta-la. Infelizmente, ela não deve ser atualizada com a mesma frequência da Inferno, da Romances e da Sweet. Ela deve ir num ritmo mais calmo, justamente por estar no início, enquanto as outras fics estão no ápice. Mas, não vamos fazer tortura psicológica, fiquem tranqüilas.
Cellyzinha, vc sabe como eu amo escrever contigo. Além da amiga do coração, é uma co-ficwriter maravilhosa. Nem vou começar a deslanchar os elogios, senão vc vai lançar o smiley com o saco de papel na cabeça.
Thanks especiais a Caliope (qdo é q rola outra cervejada daquela? rs) e pra Juzinha, as outras goddesses, que estão sempre ao nosso lado. Bjos tbm pra querida Arsinoe e pra Faye, que me agüentam no MSN.
Acho que é só. Senão vou ficar falando até amanhã.
Bjokas!
Créditos, observações e afins...
- seria uma idéia original se os cavaleiros não tivessem tido criados pelo Kurumada e se o filme Uma Linda Mulher não existisse. Mas sim, Saint Seiya pertence ao tio aí de cima e o filme, bem...a algum estúdio poderoso. Nós apenas juntamos as duas coisas. É um universo alternativo encantador, não é mesmo?
- o título. Please, não traduzam-no como Estrela Ordinária. O ordinary em inglês significa 'simples, comum', portanto, já vai o motivo desse título. Queríamos Pretty Boy, mas ficaria muito parecido com o filme citado na primeira observação.
- o sobrenome Fauvet é totalmente de propriedade artística da Calíope. Ela não autorizou mas estamos usando assim mesmo. É só processar depois, Goddess! LOL. Sério mesmo, é o sobrenome do Kamus na maravilhosa e recomendada Santuário Times.