Título: Retrato de Família

Personagens/Casal: Ron & Hermione; Harry Potter, Ginny Weasley, Personagens Originais.

Categoria: Romance/Drama

Spoilers: Ordem da Fênix

N/A: Qualquer semelhança com o filme "Um Homem de Família" não é mera coincidência.


Disclaimer: Se fossem meus, eu não estaria postando aqui.


Capítulo 1

Feliz Natal, Hermione

"– Quem está aí? – meus lábios tremeram ao proferir essas palavras. Não de raiva ou indignação como na maioria das vezes, mas de medo. Eu subia as escadas da casa de meus pais a passos lentos, a varinha iluminando o caminho à minha frente. O barulho se tornava cada vez mais próximo e meu coração batia cada vez mais acelerado. Em tempos normais, eu teria ignorado o que meus ouvidos me indicavam, acreditando ser apenas o farfalhar das folhas ao vento. Mas esses não eram tempos normais. Voldemort fora derrotado por Harry, mas alguns de seus seguidores continuavam fiéis á sua memória, buscando vingança a qualquer preço.

A porta de meu antigo quarto estava entreaberta e certamente era lá que eu deveria entrar. Respirei fundo. Certo. Eu estava pronta para enfeitiçar quem quer que fosse! Um... dois... três!

-Expel... Rony?!".

Minhas pegadas ficavam marcadas na espessa neve que cobria todo o chão, e o forte vento bagunçava meus cabelos. O caminho até a antiga cabana de Hagrid ficava cada vez mais difícil, e eu tive que fazer uso de magia para conseguir chegar até ela.

Entrei sem bater. Essas formalidades já não se faziam necessárias. Desde que eu aceitara o cargo de professora de Transfiguração em Hogwarts, a casa de meu amigo, morto na guerra contra Voldemort, se transformou em meu pequeno refúgio. Eu tinha um quarto dentro do castelo, obviamente, mas não era tão aconchegante quanto aquele velho casebre, que trazia de volta à minha mente lembranças de momentos felizes.

Era véspera de Natal e poucos alunos decidiram passar a data longe de seus familiares, como sempre. Eu, como nos últimos seis anos, participei do grande banquete e me retirei rumo ao meu esconderijo, procurando por um pouco de paz para ler minha correspondência. Desde que o correio chegara, pela manhã, anseio por esta ocasião: ler as cartas a mim endereçadas nesta data especial. Sempre espero o relógio dar as doze badaladas: é como se eu estivesse mais próxima daqueles que me escreveram.

Apesar da distância de meus amigos e familiares, eu era muito feliz em Hogwarts. Transmitir o conhecimento que me foi passado por grandes mestres a pequenos bruxos ansiosos por adentrar no mundo da magia era maravilhoso! A sensação de vê-los executando feitiços simples com empolgação e evoluindo a cada novo encontro era algo que não poderia ser comparado a nada nesse mundo. A não ser, é claro, descobrir um novo livro na biblioteca.

Acendi a lareira e sentei-me próxima a ela. Estava realmente muito frio. Enfiei uma de minhas mãos por dentro de meu casaco e retirei as cartas, colocando-as na mesa à minha frente. A primeira era de Harry, que me desejava um Feliz Natal e lamentava não poder estar com os amigos nessa data especial, e dizia que ainda procurava um livro que eu não tivesse lido para me presentear. Coloquei-a de lado, abrindo a próxima.

Papai e mamãe estavam bem. Meu pai andava teimando em não ir ao médico tratar de um problema na coluna, e minha mãe pedia para eu aparecer quando pudesse, para tentar convencê-lo. "Não sei quem é mais teimoso, ele ou você Hermione!". Ora essa!

- Eu não sou teimosa, Sra. Granger! Sou apenas uma pessoa convicta de meus pensamentos e princípios!

Coloquei a carta junto com a de Harry. A próxima era de Gina. Abri lentamente, pensando nas revelações que aquele pedaço de papel pudesse trazer. Mas também não havia nada. Fred e Jorge continuavam com sua loja de logros no Beco Diagonal, e "tentaram convencer mamãe a escolher uma nova casa para morarmos. Mas você conhece minha mãe, Mione, não quer sair da Toca de jeito algum! Acho que aqui ela se sente mais próxima dos filhos, mesmo eles estando tão longe. Daqui a um tempo, quem sabe, eu também encontro meu próprio caminho e começo a viver minha vida sozinha. São apenas planos, mas não custa sonhar. Aliás, mamãe manda um beijo para você e pergunta quando vem nos visitar. Estamos todos com saudades, Mione".

- Todos? Tem certeza, Gina? Acho que você se enganou... – disse para a carta, e a dobrei cuidadosamente, colocando-a junto das outras. Havia ainda um outro envelope esperando para ser aberto, mas eu não sabia de quem era. A letra não era das melhores e não havia remetente. Abri cuidadosamente.

"Hermione

Por favor, não tente jogar esta carta no fogo quando a abrir. Sei que essa é sua vontade, assim como a minha era de que eu não precisasse escrever para você. Mas o que tenho a dizer é importante. Me procure na lareira da Toca imediatamente.

Afetuosamente, Rony."

- Eu te odeio com todas as minhas forças, Ronald Weasley! – gritei para a carta. Porque ele havia escrito? O que haveria de tão importante para me dizer? - Porque você simplesmente não esqueceu que eu existo, Rony?

O que eu deveria fazer? Atender ao seu pedido ou simplesmente fingir que não recebi a coruja pela manhã? Após alguns minutos de reflexão, optei pela primeira alternativa. Afinal, deveria ser importante: não nos falávamos há oito anos, desde que eu o encontrei no meu antigo quarto na casa de meus pais.

"- Hermione... eu... – ele tentou começar a se explicar, mas eu o interrompi assim que vi o pequeno livro de capa laranja que ele tinha em mãos. Como ele pôde? O que pretendia com isso? Corri até ele e peguei o livro, segurando-o junto ao peito, como se quisesse protege-lo.

- Como pôde fazer isso comigo, Rony? – eu estava desesperada. Até onde ele teria lido? Abri meu diário e ele ainda parecia o mesmo... Com a diferença de que Rony Weasley, a última pessoa que poderia ver o conteúdo daquelas páginas, havia sido encontrado com ele nas mãos. Rony continuou falando, mas eu não queria mais saber.

- Saia da minha frente! – eu disse calmamente.

- Hermione, o Krum... você não pode simplesmente ignorar que ele...

- Agora!! – gritei descontrolada. Quem ele pensa que é? Invade minha privacidade e vem dar palpites nas minhas amizades? Não, eu não poderia suportar isso. – Vai embora AGORA! Some da minha vida, Rony! Não quero te ver nunca mais!

Ele levou a sério tudo que eu disse. Nunca mais nos vimos."

Peguei o pó de flu que eu mantinha guardado em uma das gavetas do armário de Hagrid. Respirando fundo, entrei na lareira, decidida a verificar o que Rony tanto queria. Minha mente me traía, trazendo à tona recordações de bons momentos que passamos juntos.

- Ok, Hermione. Vamos acabar com isso de uma vez. – Joguei o pó para o alto – A Toca! - Uma fumaça verde-esmeralda se formou à minha frente e meu corpo rodopiava sem parar. Sempre achei extremamente desconfortável viajar por flu, especialmente se eu caísse com o rosto no chão da lareira desejada, como de fato aconteceu.

Após alguns segundos, reconheci o local em que me encontrava: os mesmos móveis, a mesma desorganização, o mesmo aconchego. Olhei à minha volta, mas não havia ninguém. Rony deveria estar me esperando já que tinha tanta urgência em falar comigo. Ah, como eu fui estúpida! Devia ter imaginado que se tratava de alguma brincadeira de mau gosto. Com os nervos à flor da pele, juntei um pouco mais de flu do estoque dos Weasley e entrei na lareira.

Somente então reparei no antigo relógio da Sra. Weasley, que indicava o paradeiro de todos os membros da família. O ponteiro que tinha o rosto do Sr. Weasley estampado estava um pouco apagado e dizia "descansando em paz". Os outros inclusive o de Rony, estavam parados em "Casa do Percy".

Joguei o pó que estava em minhas mãos para o alto.

- Francamente, não sei porque ainda perco meu tempo! – eu conversava comigo mesma enquanto entrava no castelo. Estava aborrecida, irritada e com muito sono; porém, antes que eu pudesse chegar aos meus aposentos, uma voz chamou meu nome. Era a Diretora McGonagall.

- O que faz perambulando pelo castelo a essas horas, Hermione? Nenhum problema, espero. – ela afirmou, certamente consciente de que nada havia acontecido.

- Nenhum, Professora McGonagall – eu disse, a encarando nos olhos.

- Você tem trabalhado demais, Granger. Talvez fosse melhor diminuir um pouco o ritmo a partir do próximo ano. Cuidar um pouco mais de sua vida pessoal, talvez. Você é jovem e inteligente, um futuro brilhante te espera.

- Eu amo meu trabalho, Professora McGonagall, e por causa dele já considero minha vida brilhante.

- Muitas vezes isso não é suficiente, Granger. Pense nisso. Boa noite. – ela se virou, subindo a escada que levava à sua sala. Parou no meio, virou-se para mim e disse, sorrindo - Feliz Natal, Hermione.

Pensei nas palavras de Minerva por alguns instantes, até perceber como estava cansada e subir para meu quarto. Deitei em minha cama e adormeci instantaneamente.

- Ela está dormindo? Acho que ela está dormindo, Eddie!

- Claro que está dormindo, Diana! Vamos acordá-la devagar!

Eu ouvia vozes de crianças na cabeceira de minha cama. Esta, aliás, não estava tão macia quanto na hora em que fui me deitar. Espreguicei lentamente, me recusando a acreditar que continuava a sonhar mesmo depois de acordada. Lentamente abri meus olhos, e...

- Feliz Natal mamãe! – uma menina de cabelos ruivos encaracolados e um garoto, também de cabelos vermelhos, um pouco mais alto que ela, disseram em coro.

O meu susto deve ter sido muito grande, pois eles saltaram para longe de mim quando gritei. Quem eram? O que faziam no meu quarto? Olhei para os lados e reparei que aquele não era o meu quarto: eu estava em um cômodo pequeno, deitada em uma cama de casal com lençóis brancos, e à minha frente havia um grande armário. Por toda a parede estavam espalhados desenhos e quadros com fotos das duas crianças à minha frente. Onde eu estava?

- Mamãe... Está tudo bem? – a pequena garota perguntou receosa, abraçada àquele que deveria ser seu irmão.

"Mamãe"?

Nesse mesmo instante, pela porta de madeira, entrou um homem bastante alto, com cabelos iguais ao do menino. Eu o reconheci na hora.

- Rony? – perguntei, ainda muito assustada, cobrindo meu corpo com o edredom.

- Feliz Natal Hermione! – ele disse, enquanto depositava uma bandeja com o café da manhã em cima da cama.