NUNCA ESQUEÇA VENEZA


Título: Nunca Esqueça Veneza
Autor:
Angela Miguel
Contato: angela(ponto)mig(arroba)uol(ponto)com(ponto)br
Shipper: Harry e Hermione
Spoilers: Livros 1 a 5
Gênero: Drama/Romance
Status: Completa
Sinopse: Harry revela seu maior segredo para a mulher que ama após treze anos, e agora o que está em jogo não é apenas sua vida, mas a razão de seu viver. Será que Hermione poderá perdoá-lo? Será que esquecerá Veneza, o lugar em que foram felizes plenamente?
Nota da Autora (1): Esta fanfic foi realizada para o Desafio H² e está sendo publicada aqui no em homenagem a toda a Família H²! Obrigada a todo mundo que apóia a nossa "causa", por fazerem parte dessa zona infinita e por estarem sempre defendendo nosso ponto de vista! Risos... Beijocas! XD
Nota da Autora (2):
Fanfic Vencedora do Desafio H² publicada após resultado! Espero que vocês gostem dela e espero que realmente esteja à altura do desafio! Nós somos fodões demais!


Capítulo Um ― Jardim Secreto

"She'll let you in her house
If you come knockin' la
te at night
She'll let you in her mouth
If the words you say are right
If you pay the price
She'll let you deep inside
But there's a secret garden she hides"
Bruce Springsteen – Secret Garden

Harry soltou um suspiro e lavou o rosto com a água corrente da torneira. Seus óculos estavam quase caindo da pia, quando os tomou entre os dedos e olhou o próprio reflexo no espelho. O cabelo desgrenhado, os olhos verdes e a cicatriz no meio da testa. As maças do rosto estavam vermelhas, assim como os olhos, inchados. Corrigiu a postura e caminhou de volta ao dormitório. A cama ainda estava desarrumada, os lençóis jogados, um sobre o outro, indicando intensa movimentação. O cheiro dela ainda estava gravado em seu corpo, cansado pela discussão. Tomando a mala do piso, aproximou-se da janela e a viu ali, os braços cruzados, as costas para ele, o rosto em direção à fonte.

Descendo os degraus com demora, como se desejasse não esquecer daquele lugar, paralisou ao ouvir passos. Não gostaria que ficasse explícito seu rompimento. Não gostaria que o vissem miserável. Respirando fundo, dirigiu-se para fora do casarão, na intenção de fugir de olhares alheios, e encontrou-a.

O cabelo cacheado parecia fora do controle, assim como as costas que se moviam no ritmo dos soluços da morena. Seus braços abraçavam a si mesma, a camisola e o roupão locomovendo-se junto com a corrente de ar e seu choro. A água da fonte estava molhando-a. O final do outono deixava as folhas dispostas disformemente pelo chão de pedra, uma imagem quase italiana. Algumas voavam conforme o vento, pousando ao redor do corpo agitado. Harry deu um passo à frente e tocou seu ombro com delicadeza. Todo o corpo da jovem encolheu-se e retraiu-se de seu toque.

- Hermione, eu... – iniciou, mas as palavras travaram em sua garganta.

- A-acho... A-acho melhor vo-você ir log-logo, Harry... – respondeu a voz baixa e vacilante pelos soluços. – Vá por fa-favor...

O rapaz abaixou a cabeça, em um movimento derrotado, e iniciou sua longa caminhada até o portão do casarão. Um barulho crepitante ecoava em seus ouvidos assim que seus pés encontravam as folhas do chão, envelhecidas e amareladas. Uma última lágrima caiu de seus olhos, como se fosse à gota de esperança perdida naquele momento. Como ele poderia explicar? Como poderia convencê-la de que era algo que era irremediável?

- Somente... Nunca esqueça Veneza, Hermione... – sussurrou para si, doloroso.

Antes de cruzar o portão, lançou um olhar ao casarão. O novo Quartel General dos Aurores, os corajosos profissionais que ainda tentavam lutar contra Voldemort e seu Império de Terror. Um lugar que trouxera tantas coisas boas e tantas lembranças memoráveis. Mas que, durante aquela última missão, levaria apenas as lágrimas e a mágoa de Hermione. E desta vez, com toda a razão. Mentira. Enganara. Escondera a maior de suas revelações. E na noite que a pedira em casamento, que resolvera contar tudo a ela, percebeu que seu maior erro foi não ter confiado. Confiado naquela que o amara incondicionalmente.

Era um longo caminho até a estação mais próxima de trem, o trem de volta para Londres e para o Ministério da Magia. Deveria comandar mais uma missão dos jovens Aurores e comparecer a algumas reuniões com o Conselho. O trem que o levaria de volta à dura realidade sem Hermione. Harry retirou os óculos por um momento, limpou os olhos, e pensou que aquela caminhada seria muito boa. Boa para socar-se o máximo que podia, repreender-se por não ter confiado, odiar-se por ter perdido a mulher de sua vida. Como poderia ter deixado-a escapar entre seus dedos dessa maneira? Ela nunca voltaria a confiar nele, nunca.

Harry optara pela carreira de auror no quinto ano e seguira o sonho. Além de uma ajuda para o combate contra Voldemort, poderia proteger com mais autonomia e poder os queridos. Um longo treinamento, dias e noites sem dormir, ferimentos inúmeros e afastamento quase que total de seus amigos por dois anos. Até completar seus vinte e um anos, sair de Hogwarts foi treinamento intensivo para Harry, muita saudade dos amigos e muitos vôos para Edwiges. Porém, assim que seu treinamento acabara, um completo auror formado estava, e novo integrante das forças especiais do Ministério da Magia. Harry era realmente talentoso, apesar do que muitos diziam sobre sua fama tê-lo colocado lá, e ganhara posição de destaque no esquadrão de Aurores do Ministério.

Mas, melhor do que isso, somente o reencontro com todos os seus amigos e, especialmente Hermione. A bruxa mais inteligente de Hogwarts resolvera seguir a carreira de medi-bruxa, e uma de muito sucesso. Costumava pesquisar centenas de poções de cura, e seu trabalho regularmente era em St. Mungus.

Porém, logo que o Quartel General dos Aurores, criado especialmente para a batalha contra Voldemort, ficara pronto, Hermione transferiu-se junto de Harry para lá e transformara-se na coordenadora chefe de primeiros socorros. Uma maravilha, já que a proximidade entre os eternos amigos somente facilitou o relacionamento que viria a seguir.

Numa batalha ocorrida em Veneza, na Itália, Harry e o esquadrão tiveram alguns problemas sérios com ferimentos e Hermione fora mandada urgentemente para lá, na missão de curá-los – especialmente incluindo maldições novas criadas por Voldemort. O estado de saúde de Harry era um dos mais críticos, e Hermione passou dois dias ao seu lado, sem dormir, fazendo absolutamente tudo para salvá-lo. Entretanto, em um espaço das 48 horas, Harry despertou com sérias alucinações, gritando e delirando. Hermione não soube o que fazer, a não ser esperar que o ataque passasse, causado possivelmente pelos fortes remédios dados a ele. E foi em um dos momentos de maior delírio que Harry ergueu-se parcialmente da cama e pegou-a pelos braços, dizendo que não podia viver sem ela, que a amava sem pensar duas vezes e que ela seria sua mulher.

Um beijo seguiu à confissão delirante do jovem, mas Hermione preferiu assumir que aquela fora apenas uma alucinação séria, nada mais. Mesmo que o beijo tenha sido perigosamente arrebatador. Harry recuperara-se algumas horas depois, exausto e pálido. Na noite seguinte, convidara-a para jantar em troca dos cuidados, um jantar no mesmo hotel em que todos estiveram hospedados, e em uma fonte muito parecida com aquela do QG, ele declarou-se. Daquela noite em diante, Harry e Hermione eram um casal, feliz e apaixonado. E isso fazia cinco anos.

Com vinte e sete, quase vinte e oito anos, Harry decidira que era a hora de pedir Hermione em casamento. Estavam próximos de completar cinco anos de relacionamento, duradouro e repleto de alegrias. Qual hora melhor que essa? Entretanto, havia um pequeno detalhei o qual Harry havia esquecido completamente: a profecia. A mesma profecia dita por Dumbledore no quinto ano, após a morte de Sirius. Sua luta final com Voldemort. Vida ou morte. E um segredo apenas seu e do diretor. De ninguém mais, nem mesmo a futura esposa.

E este fora seu maior erro. Não contar à Hermione. Não revelar que, um dia qualquer, encontraria Voldemort e seria a sua morte ou a dele. Como poderia esperar que ela fosse compreensiva como tantas vezes antes, que passasse a mão em sua cabeça e que dissesse que tudo bem ter escondido sua praticamente sentença de morte durante treze anos? E pior: quando ela questionara o porquê de ter escondido durante todo esse tempo, o quê respondera? "Eu não sei por que não te disse Hermione. Acho que não queria que você soubesse...". E claramente, esta não fora a sua melhor resposta.

- Idiota! Idiota! Estúpido! Besta! Ignorante! Como pôde ser tão tapado?! – murmurava para ele mesmo, chutando as pedras do caminho, aborrecido ao extremo.

A situação era que, então, tinha ferrado completamente tudo com Hermione, tinha agora sim assinado sua sentença, mas não de morte, e sim de infelicidade e tristeza. Como poderia viver sem ela? Como poderia continuar sem ela? Como poderia correr atrás de um assassino maldito que andava mutilando pessoas pelo caminho de toda a Europa? Era como se não houvesse razão para voltar para casa, depois de um dia de trabalho. Ela era seu encaixe perfeito, como poderia ser Harry Potter sem ela?

Dava para ver o trem finalmente. A mala estava começando a pesar, especialmente porque enfiara o pé numa pedra dura o bastante para sentir dor em toda a extensão da perna. O sinal do trem começava a ser ouvido e Harry teve de aumentar a velocidade para alcançá-lo. Movendo-se sobre os trilhos vagarosamente, Harry pulou na porta de um dos vagões e jogou o dinheiro da passagem na plataforma de embarque, para o senhor que reclamava em alto e bom som. O rapaz apoiou-se com dificuldade por causa da perna, e conseguiu finalmente adentrar no trem.

Escolheu uma cabine rapidamente e sentou-se ofegante. Encostando a cabeça no alto do sofá, Harry soltou o ar e bateu as mãos ao lado do corpo, sobre o casaco. Antes que pudesse retirar a mão dali, não desejando ver aquilo novamente, retirou a caixinha preta de dentro do sobretudo. Uma aliança linda, uma esmeralda delicada envolvida em diamantes. Sabia que Hermione não era uma jovem de mimos ou que gostavam de coisas caras. Mas esse desejo sempre teve, uma verdadeira aliança trouxa, daquelas de dar inveja.

Fechou os olhos. Inspirou o perfume dela ainda nele. Hermione era, sem dúvida alguma, a única mulher para ele. E sabia que era o único homem para ela, também. O amor que sentia por ela era tão cego que não podia aceitar a idéia de perdê-la.

- Eu vou te ter de volta, Mione – disse Harry, olhando para a aliança brilhando contra a luz da janela. – E você vai ser minha para sempre.


Sentada ao lado daquela fonte, Hermione respirou fundo. Harry tinha ido embora há quatro dias para Londres, e soube naquela manhã que embarcara para Veneza na manhã do dia anterior. A pista do tal matador do momento levava-os para lá. Veneza... Uma cidade que trazia lembranças inesquecíveis. Mas, por que guardar lembranças de uma época muito boa, porém mantida em cima de uma mentira? Por que acreditar nas palavras dele quando mentira sobre a coisa mais importante em sua vida? Mentir sobre Voldemort foi a pior coisa que Harry poderia ter feito a ela. Como tivera coragem para tanto?

Quando descobriu sobre o treinamento de Harry, sentiu como se o coração tivesse despedaçado. A primeira perda, naquele mesmo ano, foi demais para seu coração e sua sanidade. Mas perder Harry também?

Imaginar que Voldemort levara Ron consigo... A última vez que Voldemort realmente estivera perto de matar Harry, de encostar em seus fios de cabelo, de tocar-lhe e realmente fazê-lo desaparecer. E já que matá-lo não deu muito certo, jogou sua maldição sobre Ron e levou o melhor amigo dos dois embora. Uma das lembranças mais horríveis para ela, a morte de um componente do trio. Nesse sentido, os dois anos que passaram afastados foi muito bom. Harry pôde livrar-se de parte da culpa que carregara desde aquele dia, e ela poderia colocar na cabeça que Ron não voltaria.

A promoção, a transferência para o novo Quartel General e a missão repentina em Veneza. A noite em que Harry delirara, que dissera que a amava. O momento naquela fonte, em que pediu para ser sua namorada e confirmara seu maior temor: colocar para fora que também o amava. Desde então, apesar de altos e baixos, Hermione nunca imaginou outro jeito de felicidade. Ter seus amigos, freqüentar a Toca quando podiam, visitar seus pais algumas vezes e passar todos os dias ao lado do auror mais talentoso do Ministério – ao menos para ela. Hermione não conseguia denominar o que sentia por ele se não muito amor, muita paixão e muito companheirismo, além da amizade eterna entre eles.

Contudo, profecia? Profecia? Que profecia? "Eu devo matar Voldemort ou ele deve me matar, porque a profecia diz que um não poderá viver se o outro sobreviver. E isso significa vida ou morte, você pode ver...", a voz dele ecoava em sua mente, temerosa, os olhos intensos sobre ela como se pedisse que Hermione desse algum indício de estar presente. Nunca tomou tal golpe antes daquela maneira, vindo dele.

- Como você pôde esconder isso de mim, Harry? – sussurrou ela, os dedos imersos na água cristalina da fonte, as folhas do outono acompanhando o movimento provocado pelos seus membros.

Seu reflexo turvo e distorcido na água denunciou o choro vindo mais uma vez. Seu trabalho estava péssimo, seu humor não poderia estar pior, tudo parecia sem sentido e chato demais. O chefe da sessão, o único com maior poder que ela no QG em relação ao atendimento dos bruxos, deu-lhe o dia anterior de folga. Mas de quê adiantara, se seus pensamentos somente concentravam-se nas palavras de Harry, nos sentidos de Harry, nos gestos de Harry, na fala de Harry, na voz de Harry, no toque de Harry...

Deixou as pálpebras caírem, inclinada sobre a fonte vestida em branco, abriu-as novamente para ver as lágrimas misturarem-se à água da fonte. E então seu reflexo não era mais o único. Uma montanha de cabelos ruivos apareceu em cena.

- Aqui de novo, Hermione? – veio a voz de Gina, sentando-se ao lado dela. – Sabia que ficar aqui debaixo dessa fonte não adianta nada, não é?

Hermione fungou e fugiu o olhar de Gina.

- Pode ser que não, mas, me machuca menos do que todos os cantos desse casarão, especialmente aquele quarto...

Gina soltou o ar, em tom de piedade, e tirou uma das mechas escuras do cabelo de Hermione de seu rosto. A medi-bruxa soltou uma risada.

- Isso é ridículo, não é? – indagou, erguendo a face levemente inchada para Gina. – Não consigo conter o choro por mais de duas horas seguidas. Preciso me conter.

- Não, o que você precisa é colocar as idéias no lugar e conversar com o Harry assim que ele voltar...

A bruxa levantou-se da fonte e sacudiu a cabeça negativamente, tomando aquela face dura e insatisfeita, que Gina sempre costumou ver quando alguém fazia seu serviço de maneira errada ou displicente. Aquela Hermione não era a Hermione que todos amavam e aprenderam a respeitar, mesmo com todo seu jeito nervoso, paranóico e neurótico. Aquela era uma Hermione amargurada, que de nada poderia fazer para conter seus impulsos de chorar e se lamentar por ter sido enganada pelo homem que ama. E que a ama de volta também.

- Harry mentiu para mim, Gina. E mentiu sobre a última coisa que deveria mentir – Hermione ajeitou o jaleco branco e saiu andando, em direção ao jardim que havia atrás do casarão. – O Harry morreu para mim, Gina!

Apertando os lábios, para controlar a boca, Gina ainda tentou, mas não conseguiu:

- Até mesmo Veneza morreu para você, Hermione?

O corpo de Hermione paralisou e foi como se tivesse tomado um tapa. Veneza... Como poderia esquecer Veneza? Deixar para trás o início de tudo, o lugar que fora mais feliz em toda sua vida...? Mas, então, optou por ignorar.

- Veneza? Já esqueci de Veneza...

A auror deu de ombros, os olhos apertados e a testa franzida, incapaz de acreditar nas palavras de Hermione. Era melhor que Harry voltasse logo de sua missão, antes que fosse muito tarde. Hermione parecia irredutível. Somente esperava que sua idéia mudasse, afinal, já havia mudado outras vezes, certo?

- Srta. Weasley! Srta. Weasley! – chamou um jovem moreno a atenção de Gina, que se tornou para trás, cruzando os braços. – Notícias sobre Veneza!

- E...? O que Malfoy disse? – indagou Gina, o cérebro dizendo-lhe alguma coisa pelo nervosismo do rapaz. – Vamos logo, diga!

- O Tenente está impossibilitado – disse o rapaz, o queixo tremendo. Gina sentiu o coração paralisar. – Parece que encontraram o mutilador. Mas era um componente dos Comensais como imaginávamos...

- Impossibilitado?! Impossibilitado por quê?! Diga logo! – exclamou a ruiva, sentindo o corpo perder estabilidade.

- Pelo que disseram, ele e o Capitão foram pegos desprevenidos. Ainda não sabemos mais nada...

Gina sentiu levemente a respiração deixá-la e seu pulmão pedir ar novamente. Levou a mão sobre a barriga imediatamente. Draco e Harry estavam impossibilitados?! Nada mais conseguiu pensar, já que perdeu a consciência e caiu no chão, desmaiada.


Respirou fundo, olhando de um lado ao outro, querendo saber por que ela estava demorando tanto no banho. Engoliu em seco, o coração inseguro. Mas ao ouvir a porta do banheiro abrir, aliviou-se por um momento e esperou que ela entrasse, vestida em uma camiseta sua antiga, que parava no meio de suas pernas, tão comprida para ela. O cabelo estava molhado ainda, as pequenas ondas mais resistentes que a água dançando em suas costas, deixando-a úmida.

Hermione aproximou-se dele, sentando sobre a cama e acendendo uma vela ao lado do leito. Harry tornou-se para ela, observando como sua camiseta ficava bem nela, apesar de ser quase o dobro do tamanho certo para ela. Hermione respirou fundo e mordeu o lábio inferior. Seu olhar cruzou com o de Harry. Ele abriu a boca, mas Hermione não permitiu. A jovem ajoelhou-se na cama, ao seu lado, pulando sobre ele e o abafando com um abraço apertado. As suas costas bateram contra o encosto da cama suavemente e ele sorriu levemente.

- Nunca mais faça isso, entendeu?! Não posso suportar a idéia de te perder, Harry! Pelo amor de Deus, nunca mais! – dizia ela, o rosto enfiado na curvatura do pescoço e do ombro dele, a voz abafada. – Por favor! Você não pode se arriscar mais assim! Eu não vou agüentar viver sem você, Harry! Te peço com todo meu coração, nunca mais faça isso!

Um riso veio do jovem e Hermione soltou-se parcialmente do abraço, olhando muito séria para ele. O riso desapareceu e Harry também tomou uma postura séria. Hermione estava divina sem aquele jaleco branco, com sua camiseta, ajoelhada ao seu lado, o rosto vermelho. Nunca viu coisa tão maravilhosa antes.

- Você não está me levando a sério de novo, senhor Potter? – mas a voz não denunciava humor ou graça. Hermione estava aborrecida.

- Claro que não, meu amor – corrigiu rapidamente, tocando levemente seu rosto, delineando as curvas suaves e delicadas do rosto dela. – Lógico que estou te levando a sério, tudinho mesmo – disse, tentando evitar o tom de culpa. – Mas infelizmente esse é o meu trabalho, e você sempre soube disso.

Hermione franziu a testa, ainda bastante aborrecida, e colocou um de seus joelhos ao lado da outra perna de Harry, sentando nas pernas do homem, estendidas na cama. O contato do quadril quente de Hermione com as coxas frias de Harry provocou um arrepio no jovem.

- Sei muito bem que é o seu trabalho, Harry, mas também conheço essa sua necessidade latente de querer salvar todos os seres humanos existentes na face da Terra – Hermione disse tudo rápido, em tom ainda angustiado. – E não me venha dizer que estou delirando, pois você sabe do que estou falando! – completou mais alto, sabendo que Harry logo a interromperia. – A questão é muito simples aqui, Harry. Se você quer continuar comigo e ser um auror, sou uma ótima e compreensiva pessoa, mas não aceitarei que fique se metendo em confusão por causa do descuido de outras pessoas e quase morrer, entendeu?! Fui que cuidei de seus ferimentos, e fui eu que vi a intensidade dos golpes que tomou de uma vez só.

O auror respirou fundo e colocou as mãos nas pernas de Hermione, apoiadas nas dele, percorrendo-as com seus dedos delicadamente. A mulher tentou conter a ânsia de colocar as mãos sobre seu pescoço e sentir o gosto dele uma vez mais. Sentir o que era beijá-lo e deixar ser levada à loucura, aos pontos mais altos e mais desafiadores de seu relacionamento com Harry Potter. Mas não poderia deixá-lo fazer o que quisesse com ela, usar de seu poder de persuasão, para ignorar seus pedidos.

- Não, Harry, estou falando sério e vocês não está me ouvindo – retrucou Hermione à atitude dele, puxando seus braços de suas pernas e empurrando-os bruscamente contra o encosto da cama, provocando uma exclamação de dor do namorado. O choque de seus pulsos contra o encosto de madeira da cama deixou a impressão de muita revolta de Hermione. – Quero que sinta na pele uma vez o que é estar do outro lado, o que é receber a notícia de que seu namorado está agonizando e gritando pelo seu nome, como um maluco, completamente transtornado, até que você chegue lá e o encontre desmaiado após passar por tanta dor – nesse momento, Harry ficou totalmente sério e compenetrado nas palavras de Hermione, sabendo que não era charme ou brincadeira finalmente. – Isso mesmo – ouviu-o engolir em seco. – Já imaginou chegar de uma missão e me encontrar dessa maneira?

Logo apenas rápidos segundos, Harry respondeu. Mas, naquele curto período em que imaginou a coisa toda ocorrendo, a antiga Monitora-Chefe de Hogwarts presa em uma cama, enlouquecida, gritando seu nome enquanto todo St. Mungus ouvia, debatendo-se sem parar, sedenta pela paralisação da dor de qualquer forma, necessitando ver seu rosto mais do que tudo... Harry sentiu tudo travar em sua garganta, seu coração perder a razão dos batimentos, tudo congelado. Sabia que enlouqueceria assim como Hermione enlouqueceu ao encontrá-lo daquele jeito há uma semana atrás.

- Prometo que nunca mais farei isso, Hermione – respondeu com toda a certeza e seriedade, enquanto a jovem soltava as mãos de seus pulsos. – Me perdoe, eu juro que não farei mais isso...

Piscando os olhos rapidamente, enquanto soltava o ar, Hermione fechou os olhos e encostou sua testa com a dele. Harry sentiu a pulsação voltar ao normal, assim como seus batimentos. O perfume dela invadiu suas narinas e tomou conta de seus sentidos, todos apenas desejando ter Hermione para si, fazê-la dele mais uma noite, dar-lhe todos os carinhos compulsivos e necessários que podia.

Assim, impulsionou o próprio corpo na direção do de Hermione, erguendo-a com certa facilidade de cima, e jogando-a de costas para a cama, tudo muito rápido e quase violento. Quando as costas de Hermione bateram contra o colchão e desejou soltar um grito de dor, sentiu o corpo de Harry encaixar entre suas pernas, sua calça roçando em seu quadril, e chocando sua boca com a dela. Sem pensar duas vezes, colocou seus braços ao redor do pescoço de Harry e puxou-o para mais perto, ainda que parecesse impossível.

O hálito quente dele misturou-se ao dela, ambos ofegantes, ansiando o momento em que seus corpos se unissem de fato, que suas peles esfregassem uma na outra, que seus poros apenas expelissem prazer infinito. Impulsionando seu corpo contra o dele, como ele mesmo fizera antes, mas sem erguê-lo de cima dela, Hermione chocou seu quadril com o dele e soltou um gemido entre seus beijos, simulando o contato sexual. O choque da pele de sua perna com quase a cintura de Harry, com o quadril levantado, Hermione quase perdeu o controle. Era tão estranho da parte dele agir daquela maneira, mas vê-lo bem e revigorado depois daquela semana horrível era tudo que desejava.

Harry deixou seus lábios no pescoço de Hermione, deixando um rastro quente de saliva e desejo, descendo até a gola da camiseta, enquanto suas mãos faziam o trabalho de levantar a mesma do corpo dela e retirar velozmente de suas curvas, prejudicando um maior contato entre as peles e as formas. As bocas encontraram-se mais uma vez, sugando todo o conteúdo ali exposto, toda a alma do parceiro, delícias sem controle, enquanto a suave luminosidade da vela ameaçava apagar pela brisa que vinha da janela. As pernas de Hermione enrolaram-se ao redor do quadril de Harry de novo e tentou puxar com os tornozelos o short que protegia aonde ela queria chegar o mais rápido possível.

Assim que Hermione jogou seu quadril de volta ao colchão, sem pressioná-lo contra o de Harry, e ergueu os braços para retirar a camisa, o jovem puxou a camiseta rapidamente e segurou as mãos da bruxa acima de sua cabeça com a mão esquerda, ao mesmo tempo em que a direita percorria as curvas da cintura e do colo, enlouquecido de desejo e de tocá-la com autonomia, com desespero. Antes de tocá-la aonde desejava desde o início, Harry deu uma última olhada ao rosto contorcido êxtase da namorada, da mulher que amava mais do que a própria vida, e disse:

- Prometo, Hermione, que nunca vou deixá-la e que nunca mais farei isso...

Ainda sonolento, Harry sabia que estava sob o efeito de muitas drogas. Nunca imaginou que ele e Draco fossem atacados de tal maneira, sem nenhum preparo. As lembranças de Hermione iam e voltavam em sua mente perturbada, enquanto as memórias dos pedaços de vítimas por toda a casa do suspeito.

O pior foi encontrar ainda vítimas vivas, ou ao menos seus corpos, era difícil de distinguir naquela fraca luminosidade e no ambiente no mínimo mórbido. Sabia que estava todo machucado daquela forma – e esperava não ter sido também mutilado, perdido um dedo ou coisa parecida, já que estava todo coberto e grogue – porque Draco e ele tentaram recuperar algumas daquelas pessoas. Havia quebrado a promessa daquela noite à Hermione. Mas, querendo ou não, aquela era sua profissão, e caso necessitasse morrer a salvar pessoas, isso ele faria. Sem hesitar.

Desejou virar a cabeça, encontrar um rosto conhecido – possivelmente o de Malfoy. Porém, também havia uma coleira cervical ao redor de seu pescoço. "Hermione, onde você está?", perguntou a si mesmo, desejando que ela viesse logo analisar o que estava acontecendo. Detestava imaginar que as coisas poderiam estar piores do que já estavam. Odiava muito mesmo.

Naquele mesmo instante, uma mulher alta e ruiva, com uma barriga ligeiramente protuberante, entrou no corredor do esconderijo italiano, acompanhada de uma mais baixa, morena de cabelos cacheados. A ruiva estava desmanchando-se em desespero, enquanto a morena lançou um olhar de repleto choque aos pacientes ali presentes.


Nota da Autora (3): Risos... Espero que tenham gostado do primeiro capítulo pessoal! :P Mandem reviews hein!