Cavaleiros Apaixonados 2

Por Mary Ogawara

Capítulo 20 – Doces lembranças – parte II

Na sala de estar da casa que por muito tempo havia sido conhecida como a mansão Kido, uma mulher cujos cabelos cor de lavanda caíam até um pouco abaixo do ombro contemplava um dos porta-retratos que ficavam em cima de uma mesa, bem abaixo de um espelho. Naquela noite, celebraria com um grupo de amigos os dez anos de seu casamento e o aniversário de 29 anos do marido e estava prestes a sair de casa rumo a seu restaurante favorito quando, vaidosa, quis checar pela última vez a maquiagem que havia feito para a ocasião e deteve-se em uma das cenas mostradas nas fotos.

Os rostos dos amigos que lhe eram mais queridos apareciam na foto, juntamente com o dela e o de seu marido. A mulher sorriu ao notar que o vestido de noiva não conseguira esconder uma discreta saliência em seu ventre, ao ver a expressão de indignação do marido, que tentava atacar um dos amigos, ao ver o rosto ainda inchado de uma amiga, das lágrimas que havia derramado durante a cerimônia. A foto definitivamente não fora ensaiada, mas, de alguma forma especial, conseguira ser perfeita.

Todos eram muito jovens e transbordavam alegria, e, embora na época tudo aquilo fosse demasiado emocionante por parecer um grande final, era, na verdade, apenas o começo. Nem mesmo o mais habilidoso dos viciados em apostas presentes no grupo seria capaz de adivinhar os fatos que se seguiram àquele dia tão maravilhoso.

Saori desviou o olhar para outra fotografia e sorriu, lembrando-se da semana que passou em lua-de-mel com o marido em uma praia no litoral do Brasil, sugestão de um dos amigos cavaleiros de ouro do casal, Aldebaran. "Deba", como Seiya costumava se referir a ele, não mentira: fora o lugar mais bonito que tivera o privilégio de conhecer e a semana mais romântica da sua vida.

Outra fotografia mais à frente da mesa a fez relembrar a surpresa que Seiya e ela tiveram assim que voltaram da lua-de-mel. Na fotografia aparecia mais um cavaleiro de ouro, Aiolia, acompanhado de sua esposa, Marin, a antiga mestra de Seiya. Saori sentiu seu coração acelerar levemente ao lembrar-se do momento exato em que o casal disse que entregaria seu presente atrasado de casamento, e a pessoa que aparece ao lado de seu marido na foto surgiu de repente, com um grande sorriso e os olhos marejados da emoção. Era Seika.

A querida irmã de Seiya havia, enfim, sido encontrada, ironicamente, nas proximidades do Santuário. Aiolia e Marin então revelaram ter recebido a notícia quando já estavam no Japão para a festa de casamento, e o quanto foi difícil não revelá-la quando cumprimentaram os noivos durante a recepção.

Seika, contou ela, havia perdido a memória devido ao choque de ter de separar-se do irmão, e por longos e angustiantes anos viajou aparentemente sem rumo à medida que se aproximava do Santuário, procurando sempre por algo, embora não fizesse ideia do quê. O reencontro dos irmãos, entretanto, havia feito com que ela percebesse que havia achado o que lhe faltava e, ao preencher esse vazio em seu coração, suas memórias voltaram pouco a pouco nos meses seguintes, de forma que em pouco tempo ela tornou-se parte da nova família que nascia.

Nascer... Estava aí um verbo posto bastante em prática nos meses e anos seguintes ao casamento e à chegada de Seika, que, junto com Shiryu, o melhor amigo de Seiya, haviam sido os padrinhos do casal de gêmeos que receberam seis meses depois do seu casamento, Seika e Aiolos. Uma das fotos expostas também mostravam Saori e Seiya em casa com as crianças, no quartinho com paredes pintadas para imitar um céu onde seus filhos passaram os primeiros meses.

Saori quase gargalhou sozinha ao lembrar-se do dia em que, durante um passeio com suas amigas, ainda aos seis meses de gestação, havia ido a uma loja de tintas a fim de perguntar como poderia encontrar alguém que pintasse o "céu" no quarto dos bebês e duas de suas amigas sentiram enjoos suspeitosamente súbitos assim que o vendedor mostrou-lhes a tinta azul celeste da foto. Riu-se ainda mais ao lembra-se dos rostos de Shiryu e Hyoga já no hospital ao receberem de um médico a notícia de que também seriam pais em breve.

Poucos meses após a chegada dos gêmeos Seika e Aiolos, nasceram, cm apenas duas semanas de diferença, Dohko, o filho mais velho de Shiryu e Hilda, e Alexa, a filha mais velha de Hyoga e Fleur. Alguns anos depois, o primeiro casal recebeu mais uma filha, Frida, enquanto o segundo casal surpreendeu a todos no quesito maternidade. Ao longo dos últimos dez anos, o Cisne e a antiga princesa de Asgard tornaram-se pais de mais quatro crianças: Alexei, Vladmir, Dimitri e Mikhail.

As apostas em torno de quando Hyoga e Fleur anunciariam o próximo bebê, quanto dinheiro gastavam com fraldas e qual o número total de filhos que teriam tornaram-se recorrentes durante os anos anteriores, até que, apenas dois anos atrás, Fleur anunciara em tom divertido que, por recomendações médicas, os dois haviam decidido encerrar a "produção" de loirinhos. Com o palpite "cinco filhos", Ikki havia vencido uma das apostas.

Com a influência da então namorada, Pearl, Ikki, por sua vez, tornara-se cada vez menos arredio e mais presente, para a alegria de todos, principalmente do irmão, Shun, pois seu apoio fora de fundamental importância durante o período mais difícil de suas vidas. Saori sentiu-se tomada por um misto de emoções ao observar a foto em que o grupo de amigos aparecia estourando uma garrafa de champanhe, comemorando a inauguração do bistrô de Shun e June.

Naquele momento, também comemoravam recém-descoberta gravidez de June, com quem o Andrômeda se casara um ano depois do casamento de Seiya e Saori. Semanas depois, no entanto, June fora despertada ainda de madrugada por dores lancinantes em seu ventre, e o grupo inteiro de amigos recebeu, já no hospital, a notícia de que June havia perdido seu bebê e tinha poucas chances de ter uma nova gravidez mais bem sucedida.

Passaram-se alguns meses até que June se recuperasse da desilusão e Ikki sugerisse ao casal a alternativa da adoção. Tanto Shun como June jamais haviam conhecido uma família de verdade e a ideia do Fênix e a oportunidade de dar a alguma criança todo o amor que eles tinham aqueceu o coração de todos. Assim, depois de mais alguns meses, a chegada de Sakura trouxe uma enorme onde de alegria que contagiou todo o grupo de amigos. Como consequência, apenas algumas semanas se passaram até que Ikki revelasse a identidade da sua nova namorada misteriosa: era Seika, a irmã mais velha de Seiya! Ao ver a foto do casamento de Ikki e Seika, um grande sorriso estampou novamente o rosto de Saori.

Era assim que ela estava, envolta em momentos passados, quando finalmente conseguiu escutar a voz do marido, que se aproximou, tomando-a nos braços e sorrindo divertidamente diante da expressão distante da amada.

- Saori? Amor?

Saori consultou o relógio de pulso. Cinco minutos desde o momento em que decidira conferir a maquiagem e o chamado do marido... Só? Incrível como o tempo faz com que mesmo as nossas mais preciosas memórias eventualmente se tornem... Apenas doces lembranças.

- As crianças estão esperando e o Shiryu ligou dizendo que já chegou. Está tudo bem? – perguntou Seiya, tocando o rosto da esposa em um carinho.

Saori sorriu em resposta.

- Está sim. Eu estava apenas recordando alguns dos acontecimentos desses últimos dez anos. – ela respondeu, finalmente – Às vezes nem parece que faz tanto tempo que nos casamos.

- É verdade. – disse ele, sorrindo mais - Aposto que ninguém acreditaria em tudo o que aconteceu se tivessem nos contado antes do nosso casamento.

- Lá vem você com as apostas novamente! – ela sorriu da mania do marido.

Seiya a beijou novamente, antes de finalmente dizer, cheio de convicção:

- Só uma coisa não apostaria.

- E o que é? – ela perguntou curiosa.

- O quanto eu continuei e continuo amando você. – ele respondeu, fitando o rosto da amada – Eu te amo, Saori.

- Eu te amo, Seiya.

FIM


Nota da autora:

Olá!

Sou a Mary Ogawara e há alguns anos já não escrevo ou publico fics, por uma série de razões que já não me cabe ou interessa comentar. Espero conseguir voltar a escrever coisas novas, mas, por enquanto, sinto apenas como se estivesse finalmente pagando uma grande dívida ao ter minar esta fic, o que me deixa feliz e aliviada.

Esta é a continuação da primeira fic que eu escrevi e durante bastante tempo fiquei devendo o final que entrego hoje. Não está exatamente como eu queria ter escrito há alguns anos, quando seria bem mais detalhado, mas a essência continua a mesma e o desfecho continua o mesmo.

Enfim, espero que tenha agradado aos novos e velhos leitores e agradeço a todas as pessoas que foram importantes durante esta minha inconstante "carreira" como autora de fanfictions, especialmente à algumas pessoas em especial – vocês sabem quem vocês são. :)

Um grande beijo e até uma próxima vez!

Mary