Disclaimer: Personagens e lugares pertencem à tão talentosa J.K. Rowling.

Sinopse: Quando dois inimigos se tornam aliados em busca de um único objetivo em comum: vingança.


COISAS BELAS E SUJAS

CAPÍTULO I

O segredo parece-me ser a única maneira de fazer da vida moderna algo de misterioso ou maravilhoso.

A mais comum das coisas pode tornar-se deliciosa, basta dissimulá-la. (Oscar Wilde)


Draco caminhava sem rumo pelos corredores. Um aluno desavisado que ousasse cruzar seu caminho corria sérios riscos de ser azarado - nunca duvide da fúria de um homem traído.

- Merda! – Ele bradou, entrando numa sala qualquer e batendo a porta com violência. "Como ela teve coragem de fazer isso comigo? Vadia!"

O garoto caminhava freneticamente de um lado para o outro, derrubando quaisquer objetos que encontrava na frente, enquanto bradava palavras nada educadas. Minutos depois, quando finalmente conseguiu se acalmar, Draco notou a presença de mais alguém na sala. Uma garota. Ela estava parada, num canto escuro, e parecia encará-lo.

- Quem é você? – Ele perguntou, de forma grosseira.

- Isso não é relevante – respondeu a garota, quase num sussurro.

- É seu passatempo se esconder nas salas de aula enquanto todo mundo está no Salão Principal?

- Não é da sua conta, Malfoy.

Draco bufou, exausto. Seu showzinho de fúria começava a se manifestar sutilmente em seu corpo, agora que a raiva e a adrenalina pareciam ter diminuído. Um incomodo crescia nas costas, assim como uma tensão nada agradável no antebraço.

- Por que você está na sombra? Está com medo?

- De você? Vai sonhando.

Draco já tinha escutado aquela voz, mas não conseguia associá-la a alguém.

- Olha aqui, eu não estou para joguinhos, ou você aparece ou-

- Ou o quê? – Provocou ela. A garota apontara a varinha para Draco no minuto em que ele se aproximou. – O perigoso Draco Malfoy vai jogar um feitiço em mim? Ou será que ele vai ficar irritadinho e quebrar toda a sala de DCAT enquanto me chama de vadia?

- Cho?

- Isso foi um exemplo, seu babaca – a garota respondeu, friamente. - Mas é bom saber que a vadia em questão é a Cho Chang. Isso te coloca em uma posição interessante.

Draco bufou novamente. A última coisa que ele precisava era conversar em enigmas com uma estranha que sequer tinha coragem de mostrar o próprio rosto.

- Posso saber do que você está falando?

- Como se não bastasse a vergonha de ter sido traído, a namoradinha resolveu trocá-lo por ninguém menos que Harry Potter – disse a garota, enquanto caminhava de um lado para o outro, ainda nas sombras.

- E como você sabe disso? – Ele perguntou, desconfiado.

- Simples. Estou na mesma situação que você. O Harry me trocou pela Cho.

- Ah, que chato – Draco disse, o sarcasmo pontuando cada sílaba. - Eu não sabia que aquele mané tinha namorada.

- Claro que não sabia. Eu fui muito estúpida para perceber que aquele imbecil sentia vergonha de mim – ela disse, num tom de fúria contida. – "Acho melhor mantermos isso em segredo, você sabe que eles vão implicar conosco" e mais um monte de baboseiras que ele vivia me dizendo.

- Aqueles dois se merecem então. O canalha e a vadia. Que se danem, os dois! – Draco bradou, jogando-se em uma cadeira.

- Sinceramente, Malfoy, que decepção. Você vai deixar tudo como está?

- O que você quer que eu faça? Que eu vá correndo atrás da Cho, pedindo para que ela largue o Potter?

- É claro que não, seu estúpido. Como você mesmo disse, eles se merecem. E também merecem pagar pelo que fizeram – ela respondeu, maliciosamente. - Não sei quanto a você, mas ninguém me faz de idiota e sai ileso para contar a história.

Draco se ajustou melhor na cadeira, o corpo atento, enquanto ele olhava para a forma mais escura que o resto da escuridão, parecendo encará-lo diretamente.

- Você quer se vingar deles, é isso?

- Exatamente. Eu vou fazer com que o Harry se arrependa todos os dias por ter me traído.

- Parece divertido – ele disse, embora seu tom de voz demonstrasse o contrário.

- Temos um trato então?

- Primeiro eu preciso saber com quem estou lidando – e levantando-se, ele caminhou lentamente em direção a garota.

- Tudo no seu tempo, Malfoy – ela respondeu, apontando novamente a varinha para ele. - Temos um trato ou não?

Draco revirou os olhos. Aquela situação inesperada o intrigava, era como se ele tivesse sido seguido até ali e presenteado com uma oportunidade que parecia boa demais para ser verdade.

- Ok, vamos fazer o que então?

- Já vi que paciência não é uma virtude sua – ela respondeu, calmamente. - Não acho cauteloso começarmos tudo tão rápido, a raiva pode atrapalhar tanto o meu julgamento quanto o seu.

Draco fitou a garota, cheio de desconfiança. Todo aquele mistério o fazia sentir-se inevitavelmente tentado a aceitar a proposta. No entanto, selar um acordo bruxo com alguém que ele nem conhecia parecia arriscado.

- E então, temos um acordo?

- Eu sei que nós estamos na mesma situação, mas por que você faz tanta questão de selar um acordo comigo?

Foi a vez da garota bufar.

- Sua resposta está na própria pergunta. Nós estamos na mesma situação. Nada como ter inimigos em comum para motivar pessoas a trabalharem juntas. Além disso – ela suspirou enquanto empunhava com mais firmeza a varinha. - Ter alguém com um caráter tão questionável do meu lado pode ser útil caso eu pense em fraquejar.

Draco riu.

- Obrigado.

- Você aceita trabalhar comigo ou não?

Ele a observou em silêncio, ponderando o risco. Parecia pequeno se considerasse toda a situação – duvidava que qualquer garota de Hogwarts oferecesse algum perigo real. O máximo que poderia acontecer seria descobrir que tudo não passara de uma simples brincadeira.

- Tudo bem. Eu aceito o trato – ele disse, estendendo a mão para a garota. Ela, por sua vez, não repetiu o gesto. - Você não vai fazer nada?

- Palavras são mais eficazes, Malfoy – ela respondeu. - E eu sei que se eu segurasse sua mão, você me tiraria de onde estou para ver meu rosto.

Ele sorriu maldosamente - era exatamente isso que ele pretendera fazer, mas a garota tinha sido mais esperta. "Ela é uma Sonserina", ele pensou. "Mas o Potter não namoraria uma Sonserina. Então é provavelmente uma Corvinal."

- Pois bem – ele continuou, calmo. - Nosso trato está selado com palavras. E como qualquer trato bruxo, ele não pode ser quebrado.

- Se alguém aqui está sujeito a quebrar esse trato, esse alguém é você.

- Isso não vem ao caso – ele continuou, não se deixando afetar pelas palavras dela. - Além do mais, nós dois sabemos as consequências de quebrar um acordo bruxo.

- Sim, sabemos. E é por isso que levaremos esse acordo até o fim.

- Perfeito. E quando você fará a gentileza de se revelar?

- Em breve, Malfoy, muito em breve.

- Estarei esperando ansiosamente – ele disse, num tom levemente sarcástico. - Até nosso próximo encontro. – E com isso, Draco saiu da sala.

Minutos depois, a garota lentamente saiu das sombras. Ela tinha um semblante inexpressivo e seus olhos estavam vermelhos, razão pela qual não tinha se revelado. Draco perceberia que ela estivera chorando e ela não permitiria que ele presenciasse aquele seu momento de fraqueza. Há muito tempo ela não se permitia chorar daquela maneira. Naquele instante, ela jurou para si mesma que não choraria por Harry novamente. "Nunca mais."

Ela limpou as lágrimas que ainda molhavam seu rosto. A pele muito branca contrastava com a tonalidade vermelho fogo de seus cabelos. Sentou-se no chão, de volta às sombras. Sabia que Draco estava lá fora, esperando que ela saísse - e ele realmente estava. O garoto esperou incansavelmente por ela e quando percebeu que estava quase na hora do jantar, desistiu. Lançou um último olhar à porta, inconformado, e rumou para o salão principal.

Atenta aos barulhos que vinham de fora, a garota constatou que Draco já tinha saído. Sempre tivera ótimos instintos e eles lhe diziam que ela poderia sair da sala sem problemas. Cuidadosamente, ela abriu a porta e procurou pelo rapaz e pôde ver a sombra dele sumindo no fim do corredor.

- Até nosso próximo encontro, Draco Malfoy – ela murmurou para si mesma e então rumou decidida na mesma direção que ele havia seguido.