Capítulo 6 – Primeiro contato
Depois daquilo, as coisas meio que passaram voando pela cabeça de Harry. Ele se deu conta, no fundo da mente, que Dumbledore acompanhou o Sr. Hafflehub até a porta, e que Snape tinha ido com eles.
Harry não sabia o que pensar. Claro que ele tinha pensando na possibilidade de Snape ser seu pai, mas como uma realidade alternativa, tipo um mundo paralelo. Nunca uma realidade ali, próxima dele.
Dobby veio trazer uma bandeja com o café da manhã, mas Harry só comeu um pedaço de torrada com suco de laranja, ainda meio distraído, sem responder direito às perguntas do elfo. Antes de Harry dar o café por encerrado, Snape apareceu com um frasco e disse:
- Beba tudo.
Harry pegou a poção e tomou, olhando para Snape como se jamais o tivesse visto. E por um lado aquilo era a mais pura verdade.
Depois que Dobby saiu, Snape recolheu o frasco de poção e disse, numa voz que Harry nunca tinha ouvido antes:
- Acho que precisamos conversar.
Harry assentiu, a garganta seca demais para falar qualquer coisa.
- A poção o fará dormir um pouco – disse Snape – Melhor tentar descansar o máximo que puder. Voltarei mais tarde.
Harry sentiu os primeiros efeitos da poção assim que Snape fechou a porta. Ele não teria sequer tempo de ficar pensando naquilo. E caiu adormecido um minuto depois.
Quando ele acordou, parecia ser bem tarde – talvez de tardezinha. Harry tinha dormido tanto que ainda estava com sono, e ele sentia as costelas menos doloridas. Talvez o repouso estivesse mesmo dando certo.
Ele foi ao banheiro e tomou um banho, observando a miríade de frascos e vidros no chuveiro. Ao contrário do que todos imaginavam, Snape realmente sabia o que era xampu e lavava o cabelo! Harry estava impressionado.
Quando ele voltou para a cama, Snape saiu de uma porta lateral – provavelmente seu laboratório particular. Harry sentiu-se constrangido e disse:
- Acho que dormi demais.
- Bobagem. Era exatamente isso que você deveria estar fazendo: descansando.
- Sim, senhor.
- Não acredito que você tenha tido chance de refletir sobre... o que aconteceu.
Harry teve que confessar:
- Não muito. Tipo, o senhor é meu pai, e é só isso que eu pensei até agora.
Snape se sentou na cama, e Harry sentiu-o desconfortável. O rapaz chegou a sentir compaixão do Mestre de Poções. Aquilo estava sendo tão difícil para ele quanto era para Harry.
- Presumo que devamos conversar.
- Eu também acho – disse Harry – Eu... não sei direito o que dizer.
Snape ergueu a sobrancelha:
- Acho que seria um tanto inútil tentarmos ignorar tudo que aconteceu até agora. Você é uma das minhas pessoas menos favoritas, para dizer o mínimo. Eu sempre achei suas atitudes muito parecidas com... – ele se corrigiu a tempo – Thiago Potter.
- Foi meio natural – disse Harry – Todo mundo sempre me disse que eu era tão parecido com ele. Escute, eu vou ter que mudar de nome? Eu vou deixar de ser Harry Potter?
Snape fez um gesto com os ombros que Harry quase achou elegante:
- Só se você quiser. Posso chamá-lo de Harry?
- Claro. Er... posso chamá-lo de... outra coisa que não Prof. Snape?
- Você deve me chamar da maneira que achar mais confortável, Harry. Se quiser trocar seu nome, eu posso providenciar.
- Não, eu... Acho que vou ficar com esse. Pelo menos por enquanto.
- Amanhã eu estarei o dia inteiro fora cuidando de algumas formalidades que advieram da descoberta que fizemos hoje. Quando você estiver melhor de saúde, conversaremos melhor sobre outras implicações de nosso laço de parentesco.
- Eu vou ter que voltar aos Dursley?
- Não se depender de mim – disse Snape – Por outro lado, eu entendo que você queira manter relações com a única parente viva de sua mãe.
- Está brincando? O senhor viu como eles me tratavam! Não quero voltar lá enquanto viver.
- Acho melhor discutir isso com Dumbledore. Há ainda o pequeno assunto do laço de sangue que o protege do Lord das Trevas. Acredite em mim: quando as Trevas ficarem sabendo do que descobrimos hoje, você vai precisar de toda a proteção que puder obter.
- Mas... não pode ser meu guardião?
- Eu j sou seu guardião. Uma vez terminado o feitiço, isso ficou magicamente estabelecido. É uma das repercussões das quais eu lhe falei. De qualquer forma, eu costumo passar meus verões em Hogwarts, e eu entendo que isso seja um tanto quanto... entediante para você.
- Mas esse é o último verão que eu passarei aqui. Depois eu me formo.
- E já sabe o que pretende fazer da vida?
- Bom, auror é a carreira que mais me interessa.
- Então você deve se esforçar para obter melhores notas. Apenas os melhores das turmas são escolhidos para o treinamento.
- É, eu sei.
- Não sei o que esperava de nossa primeira conversa, Pot- quero dizer, Harry, mas acho que as coisas serão assim por algum tempo. Aproveitando que você está aqui, acho melhor você ver a primeira modificação que mandei trazer. Venha comigo.
Snape o levou à sala de onde emergiu. Era um pequeno quarto. Ali havia uma cama, algumas prateleiras vazias e uma escrivaninha.
- Este é o seu novo quarto. Não é muito, mas é apenas temporário até você voltar ao dormitório de sua casa quando as aulas começarem.
- Não vou poder ficar aqui com o senhor?
- Harry, você passou seis anos no dormitório de Grifinória. Não acredito que meus aposentos sejam assim tão atraentes.
- É que... bom, nós somos uma espécie de família, e as famílias moram juntas.
- Sim, mas regras são regras. Sinto muito.
Harry deu de ombros:
- Tudo bem.
Snape tinha uma voz engraçada ao dizer:
- Eu vou me esforçar para que sejamos uma família, Harry.
- Posso pedir uma coisa?
- Se for razoável, eu posso conceder.
- Não quero que Lúcio Malfoy seja meu padrinho.
Snape não entendeu nada:
- Mas do que você está falando, em nome de Merlin?
- Meu padrinho – disse Harry – Agora que eu sou seu filho, Sirius não é mais meu padrinho, e você pode escolher quem quiser para ser meu padrinho, mas eu não quero nenhum Malfoy para o cargo.
Aquilo tinha sido muito difícil de dizer, e Harry estava com os olhos cheios de lágrimas. Ele amava Sirius demais e ter que dizer adeus a ele seria a coisa mais dolorida que ele teria que fazer.
- Você está certo numa coisa, Harry: eu jamais convidaria Black para ser padrinho do meu filho – Harry sentiu algo no estômago quando ouviu aquilo – Mas também jamais teria Lúcio Malfoy como padrinho de um filho meu.
Aquilo aliviou Harry um pouco.
- Obrigado.
A contragosto, Snape disse:
- Na verdade, nada me resta a não ser aceitar o que já está estabelecido.
Harry não entendeu:
- Como assim?
- Black é seu padrinho há três anos. Vocês obviamente têm alguma ligação anterior que é forte. Eu reconheço isso. Ele pode continuar sendo seu padrinho. Se ele quiser.
- Sério mesmo? – Harry abriu um sorriso como se a luzinha da varinha do Sr. Hafflehub estivesse passeando de novo pelo seu corpo – Obrigado, muito obrigado!
Snape ressaltou, a voz cortante como Harry já conhecia:
- Mas se ele aprontar mais uma daquelas de deixar você solto no mundo trouxa, ele vai sofrer as conseqüências.
- Hum, isso é justo.
- Não, isso é generosidade demais para aquele vira-lata pulguento. Diga isso a ele quando você escrever para ele.
- Edwiges está aqui?
- Quem?
- Minha coruja. Aquela coruja-das-neves, uma das poucas de Hogwarts.
- Ela ainda está com Black. Vou providenciar livre passagem para ela aqui nas masmorras.
- Obrigado.
- Venha, Harry – convidou Snape – Está quase na hora do jantar. Você deve estar com fome.
Os dois comeram juntos, na grande escrivaninha de Snape no seu escritório. Harry se sentiu um pouco constrangido, a princípio, mas aquela era uma maneira de os dois irem se conhecendo. Snape disse:
- Amanhã eu não estarei aqui. Gostaria de levar você comigo, mas as ordens de Madame Pomfrey foram explícitas.
- Eu entendo – Harry se sentiu ousado – Prof- Quero dizer, o senhor ficou feliz com a decisão?
Snape pousou os talheres no prato e disse cuidadosamente:
- Harry, eu estaria mentindo se dissesse que não fiquei surpreso. Mas uma coisa é bom aprender a meu respeito. Eu geralmente faço o que devo, e reconheço meus deveres. Não sou dado a pequenos prazeres nem emoções. Claro que saber que sou pai foi no mínimo, impactante. Não sou de viver no passado, mas nesses últimos dias tenho me lembrando muito dele, a ponto de ficar imaginando o que teria acontecido se eu tivesse tomado decisões diferentes. Essa não é minha natureza. Não sou normalmente assim. Acho que ambos estamos muito impactados para reconhecermos direito nossas emoções. Talvez fosse bom nos darmos conta de tudo que isso implica, e irmos nos dando ao direito de irmos sentindo as coisas quando elas acontecerem.
Harry estava de olhos arregalados ao ouvir aquilo. Snape estava sendo honesto, sincero e até gentil com ele. Ele não tinha esperado aquilo.
- Mas... nós somos uma família?
- Mais do que você imagina, Harry.
- Me diz uma coisa: o senhor tem namorada?
- Não, não tenho. Eu não tenho... perfil para essas coisas.
- Mas o senhor não é tão velho assim.
- Não se trata apenas de uma questão de idade, Harry. É muito... complicado e particular.
- Desculpe. Não quis parecer enxerido. Eu só queria ver se a família poderia...er... aumentar.
- Isso, Harry, é assunto para mais tarde. Mas fique tranqüilo: eu lhe prometo uma família.
Aquelas palavras fizeram algo engraçado dentro de Harry. A vida toda de Harry, ele sempre quis ter uma família. Agora parecia que ele ia conseguir uma. Mesmo que fosse com Snape, a perspectiva o fazia se sentir animado como se tivesse cinco anos novamente.
- Já terminou? – perguntou Snape – Rapazes da sua idade costumam comer muito mais.
- Já terminei, obrigado.
Snape franziu o cenho, mas não insistiu. Ao invés disso, tirou um vidro com uma poção roxa e disse:
- Bem, aí está. Já sabe o que fazer.
Harry tomou a poção, fez uma careta e logo sentiu os efeitos. Ele se enfiou debaixo das cobertas leves de verão e em minutos, estava adormecido. Seu pai o encarava, com feições imperscrutáveis e um coração ainda pesado.
Harry passou um dia inteiro praticamente sozinho, mas não era grande coisa, porque ele passou o dia inteiro praticamente dormindo. Ele encontrou três vidrinhos de poções, cada um com um bilhetinho: depois do café, depois do almoço, antes de dormir. Conclusão: Harry mal ficou acordado naquele dia.
No dia seguinte, ele deixou a cama e foi tomar um banho, pensando que, se pudesse, ficaria acordado por três dias seguidos para compensar o tanto que tinha dormido. Em compensação, constatou, suas costelas não doíam mais tanto quanto antes.
Deixou o banheiro e entrou no escritório, onde Snape o surpreendeu, esperando com a mesa posta para duas pessoas. Harry disse:
- Bom-dia.
- Espero que tenha descansado bastante – Snape inclinou a cabeça – Gostaria de companhia para o café?
- Obrigado – ele se sentou diante do prato vazio e a comida apareceu magicamente – Resolveu tudo que tinha que resolver?
Snape assumiu uma expressão indecifrável no rosto e ele disse, sem se comprometer:
- A maior parte, sim. Mas acho que vai gostar de saber que consegui arranjar para seus dois amigos virem para cá.
O rosto de Harry se abriu no sorriso:
- Rony?
- E a Srta. Granger, também. Eles deverão chegar a qualquer momento, para passar alguns dias com você.
- Sério? Isso foi muito legal. Obrigado.
- Mas minha palavra vale: nada de se exceder nos próximos dias. Vocês poderão explorar o terreno em Hogwarts, mas nada de nadar no lago ou andar de vassoura. Seus ossos ainda estão frágeis.
- Sim, senhor.
- Estaremos fazendo nossas refeições na sala dos professores. Espero que os três se apresentem vestidos decentemente e limpos pontualmente no horário marcado.
- Sim, senhor. Como eles estão vindo para cá?
- Eu arrumei passagens para ambos no Expresso de Hogwarts, que faz essa viagem três vezes por semana no verão. O Prof. Dumbledore concordou que eles ficassem na Torre de Grifinória. Você prefere ficar lá enquanto eles estiverem aqui?
Harry ficou dividido. Claro que ele queria ir para a Torre e ficar com os amigos, mas por outro lado, era a chance de conhecer seu pai.
- Não, eu... posso ficar aqui nas masmorras.
Ele ainda brincou mentalmente com a idéia de que era filho do Snape. A coisa toda parecia ainda ser um tanto quanto fantasiosa, mas parecia que o mundo estava começando a voltar para os eixos. Com Rony e Hermione do lado dele, ele teria mais facilidade em lidar com tudo que estava acontecendo.
O café da manhã foi rápido. Snape alegou ter poções para fazer e convidou Harry a assistir enquanto seus amigos não chegavam. Harry concordou, observando o Mestre de Poções em ação. Ele imaginou que poderia usar sua recém-estabelecida conexão paterna para pedir ajuda extra em Poções para seus NIEMs. Ele bem que podia usar uma mãozinha.
Mas tudo isso foi esquecido assim que Harry chegou ao portão principal de Hogwarts, onde Rony e Hermione lutavam para trazer seus malões para dentro, ambos com os olhos muito vermelhos e aparência cansada. Só então ocorreu a Harry que seus amigos passaram a noite viajando. Aquilo tocou o coração do rapaz: como eles eram seus amigos.
- Harry! – gritou Hermione, correndo para abraçá-lo fortemente.
- Bom ver você, Hermione – ele sorriu, sincero – Você também, Rony.
- Ei, cara! – Rony sorriu – Como você está?
- Agora estou melhor. Não posso fazer muita coisa ainda. Estou proibido de nadar e andar de vassoura.
- Soubemos o que aconteceu – disse Hermione, séria – Ainda bem que o Prof. Snape tirou você logo daquele lugar.
Rony disse:
- Minha mãe mandou um monte de coisas para você. Nunca a vi tão brava como ela estava depois que soube o que os trouxas fizeram com você.
Harry não queria falar sobre aquilo. Ia parecer um fraco, e ele não queria se sentir assim.
- Vamos para a Torre de Grifinória – convidou Hermione, antes que ele abrisse a boca – Lá você pode nos contar tudo que está acontecendo. Estou louca para saber as novidades!
Eles terminaram apenas deixando a bagagem na torre e foram passear perto do lago, aproveitando o dia quente e ensolarado. Hermione tirou os sapatos e colocou os pés na água.
- Harry, eu nem sei como perguntar isso. Rony me falou sobre a carta de sua mãe. Estou pasma com tudo isso que está acontecendo.
Rony disse:
- Harry, não precisa mais se preocupar: meu pai disse que existe um feitiço que pode dizer quem é seu verdadeiro pai.
- Eu sei – disse Harry, que já tinha tirado os sapatos e estava olhando para o lago – Eu... fiz o feitiço.
Hermione soltou um grito agudo:
- Harry! Aquele feitiço é perigoso! Cria laços mágicos e laços de sangue! Você não ia contar para a gente?
- É claro que eu ia. Mas... não sei quando.
A verdade é que Harry mal tivera tempo de pensar naquilo tudo, e ele ainda se sentia dividido. Ele não sabia se estava feliz ou triste por ser filho de Snape.
- E aí? – quis saber Rony – O que deu?
Harry jogou uma pedra no lago e respondeu sem olhar para seus amigos:
- Eu sou filho dele.
Rony soltou um assovio curto. Hermione andou até ele e indagou, preocupada:
- Como se sente?
- Sei lá – ele deu de ombros – Acho que ainda não me dei conta direito do que aconteceu. Parece que é com outra pessoa, entende? Estou me sentindo muito estranho.
- Dá para entender – disse ela – É um assunto sério, Harry.
Rony quis saber:
- Ele gostou da idéia? Digo, ele te trata mal.
Harry respondeu:
- Não mesmo. Ele cuidou de mim quando eu me recuperava. Não foi tão babacão – ele abaixou a voz – Ele prometeu que seríamos uma família.
Hermione tocou o braço do amigo, emocionada:
- Oh, Harry...
Rony quis saber:
- É isso que você quer?
- Bom, eu sempre quis saber como seria ter uma família. Mas claro que nunca imaginei que seria com Snape.
- Você sempre sentiu falta de um pai, Harry, mesmo pensando que ele era Thiago Potter – lembrou Hermione – E pelo que você está dizendo, Snape parece disposto a ser um pai para você. Se você lhe der uma chance.
Harry concordou:
- É, e... é estranho, sabe? Ele fala comigo normalmente, agora está tudo diferente. Não sei como explicar. Não é mais aquele nojento seboso que a gente conhece.
- Vai com calma, Harry – disse Rony – Ele não vai mudar de uma hora para outra. Você sabe que ele continua sendo um nojento seboso.
- Eu sei, Rony, mas ele está se esforçando. Ele não olha mais para mim com tanto ódio. Antes, quando ele olhava para mim, parecia sempre que queria me esganar. Agora ele está mais... normal.
Hermione disse:
- O feitiço pode ter ajudado. Se é que estamos falando do Feitiço da Paternidade. Ele cria laços entre pais e filhos. Dizem que até interfere nos sonhos.
Harry confessou:
- Tenho sonhado com minha mãe. Ela está sorrindo para mim, mas meu cabelo está todo estranho e minha roupa está toda preta.
- Que doido! – disse Rony – E você tem sentindo alguma diferença? Sabe, se aquilo que ela disse sobre a sua aparência ir mudando gradativamente...
- Ainda não senti nada. Mas eu olho meu nariz todos os dias, sabem, para ver se ele está ficando em forma de gancho.
Hermione disse:
- E se ficar? Você vai ficar igual ao seu pai, assim como Rony tem cabelo igual ao do pai dele. Isso é natural, Harry.
- É que eu ainda estou tendo dificuldade para me adaptar a certas coisas. O que as pessoas vão dizer? Será que eu vou ter que passar pelo Chapéu Seletor de novo?
- No último ano? – quis saber Rony – Como assim?
- Lembra que o Chapéu queria me colocar em Sonserina e eu não deixei? Agora não tem mais nada que me impeça de ir para lá.
- Ew! Você vai ser colega do Malfoy!
- Tolice – disse Hermione – Você não vai ter que mudar de casa, Harry. Não é o que você quer e duvido que o Prof. Snape faça você passar de novo pelo Chapéu Seletor.
Harry deu um sorriso:
- Sabem que ele deixou Sirius ser meu padrinho?
Rony arregalou os olhos:
- Tá brincando! Mas eles se odeiam! Você precisava ver como os dois brigaram quando eu fui avisar que seu tio tinha te levado, Harry! Parecia que Snape ia avançar em cima de Sirius!
Hermione disse:
- Ele sempre se preocupou com sua segurança, Harry. Mas acredito que deixar Sirius ser seu padrinho não deva ter sido uma decisão fácil para ele. Aliás, isso tudo não deve estar sendo fácil para ele tampouco.
- Mas nós temos seis meses para pensar numa solução antes que isso tudo venha a público. Até lá, temos que manter o mais absoluto segredo.
- Mas por quê?
- Voldemort – disse Harry – Se Voldemort descobrir, ele vai ficar em perigo.
Rony quis saber:
- Harry, do que você vai chamar o Snape? De pai, papai, Snape? Desde que não chame de "Pai", com aquele jeito afetado do Malfoy, né? Mas não pode ficar o tempo todo chamando de "ele".
- Eu não sei... – disse Harry, tacando outra pedrinha no lago – Ele me disse que eu deveria usar o que achasse mais confortável. O problema é que eu não acho nada confortável.
- Tenho certeza de que você pode resolver isso em alguns dias – disse Hermione – Mas para isso precisa conviver mais com seu pai. Acho ótimo você ter escolhido ficar nas masmorras com ele e não na Torre com a gente. Aproveite esse tempo para conhecê-lo.
- Onde ele está?
- No laboratório dele. Disse que tinha poções para fazer.
Hermione disse:
- Vamos voltar. Daqui a pouco vai ser hora do almoço, e eu gostaria de fazer uma visita a Hagrid de tarde.
Capítulo 7 – O guardião em ação
Eles foram visitar Hagrid depois de um almoço muito constrangedor, porque estavam todos juntos na mesa dos professores, e Rony ficava olhando para Snape disfarçadamente, quando achava que ele não estava olhando. É claro que nunca dava certo, e Snape lançava seus olhares mais ferinos para o ruivo, fazendo-o avermelhar-se, olhando para sua comida.
- Harry, você tem um pai! – Hagrid abraçou o menino com tanto entusiasmo que Harry sentiu suas costelas doerem – Que beleza, Harry!
Rony lembrou:
- É, mas o pai dele é o Snape.
- Bobagem! – insistiu Hagrid – O Prof. Dumbledore confia plenamente...
-... em Snape, a gente sabe – completou Rony, nada convencido – Mas não é horrível? Er, desculpe, Harry.
- Digo que é bobagem. Harry tem um pai vivo, que está aceitando Harry exatamente como ele é. Nem o deixou mudar de nome, mesmo que Harry não seja um Potter.
- Hagrid tem razão – disse Hermione – Snape também deixou Sirius ser padrinho, mesmo odiando-o.
- Ele quer que a transição seja o melhor possível, Harry. Ele é um bom pai.
- Mas eu não aceito que ele tenha virado bonzinho da noite para o dia! – insistiu Rony – Desculpe, Harry, eu sei que você provavelmente não ia querer ninguém falando isso de seu pai, mas ele não é boa bisca!
Harry estava confuso ao ouvir os amigos falarem. No fundo, ele concordava com Rony, mas Snape realmente tinha se tornado mais tratável desde que tomara conhecimento da carta, o que tornava tudo muito confuso.
Até o dia seguinte.
De manhã, Rony convidou os amigos para irem ao campo de quadribol. Harry disse:
- Eu não posso, Rony, lembra-se? Só semana que vem vou poder montar numa vassoura.
- Eu queria ver Hermione voar um pouco. Jogar um pouco.
- Eu?! – A garota se espantou – Mas eu sem sei jogar quadribol!
- Por isso mesmo – disse Rony – Você vive falando mal de quadribol sem experimentar. Venha jogar um pouco. Harry pode marcar os pontos, ou coisa assim. Er... me empresta a Firebolt? Assim Hermione pode usar minha Cleansweep.
Os três ocuparam a quadra numa estranha formação. E não tinham jogado sequer cinco minutos quando Hermione, num movimento errado, desequilibrou-se, gritou e tombou para o lado, largando a vassoura. Num impulso, Harry tirou sua varinha, apontou-a para a amiga e gritou:
- Arresto momentum!
E Hermione flutuou até o chão. A Cleansweep também veio descendo devagarzinho até pousar na areia.
Harry pulou o alambrado e correu até ela:
- Hermione, tudo bem?
Ela estava esfogueada, e tentava recuperar o fôlego quando Rony adernou na vassoura, antes de pousar:
- Hermione!
Ela se levantou:
- Eu estou bem. Só que faz muito tempo desde que eu subi numa vassoura. Obrigada, Harry. Eu poderia ter me machucado seriamente.
- Você nos deu um susto.
Rony disse, olhando atrás de Harry:
- Não só na gente, ao que parece.
Snape vinha correndo elegantemente, as vestes esvoaçando mais do que nunca. E não tinha uma cara nada boa.
- Essa foi a maior demonstração de irresponsabilidade e inconseqüência que já vi!
Hermione adiantou-se:
- Não aconteceu nada, professor, eu estou –
- Não estou falando de você, Srta. Granger. Harry Potter continua pensando que está acima das leis e regras!
- Eu?! Mas o que foi que eu fiz?
- Eu avisei que tomaria qualquer atitude para garantir sua saúde, e é o que pretendo fazer. Agindo como se não estivesse se recuperando! Quadribol, de todas as idéias estúpidas que você poderia ter!
Harry se avermelhou:
- Mas eu nem cheguei perto de uma vassoura! Pode perguntar a eles!
- Seus amigos estão aqui para lhe fazer companhia. Eles têm todo o direito de voar e se espatifar, se assim desejarem, mas você recebeu ordens explícitas!
- Eu não andei de vassoura!
- Você pulou os alambrados até o chão!
- Como sabe disso?
- Eu tenho uma luneta voltada para você o tempo todo!
- Estava me espionando?
- Ainda bem que eu estava, não é mesmo? Se escorregasse, estaria reabrindo seus ferimentos ou ganhando novos! Seus ossos ainda não sararam completamente, você poderia ter se machucado seriamente, e Madame Pomfrey não está aqui para costurá-lo! Por conta disso, você está confinado no seu quarto até a hora do jantar!
- O quê? Vai me dar detenção?
- Você deveria estar escovando caldeirões para aprender a obedecer! Você sempre teve um grande desrespeito pela autoridade, mas esses dias acabaram!
Harry perdeu as estribeiras e começou a tremer de raiva:
- Só porque é meu pai, pensa que pode mandar em mim?
A voz de Snape tornou-se mais baixa – e mais perigosa:
- Eu sou seu guardião e tenho o dever de discipliná-lo!
Pois Harry só se inflamou ainda mais:
- Ah, é? E onde você esteve toda a minha vida?! Onde você esteve quando eu ficava trancado dentro de um armário durante horas sem comer? Ou quando eu fazia aniversário e ninguém se importava? Ou quando os meus tios resolviam que eu tinha que apanhar para não ser igual aos meus pais?! Onde você estava, papaizinho querido?!
Hermione abriu a boca, espantada, e Rony franziu o cenho, ambos sem reação diante da explosão de Harry, esperando Snape também explodir e a discussão chegar a proporções desastrosas. Mas Snape ficou quieto um segundo, o silêncio reverberando nos ouvidos, e Hermione viu uma expressão de dor passar por um segundo nos olhos do Mestre de Poções, antes de sua voz se tornar mecânica ao ordenar:
- Para o seu quarto. Agora.
Ao que tudo indicava, Harry tinha se dado conta do que dissera, e estava um tanto chocado também. Deu as costas e foi caminhando apressadamente, vermelho e ainda trêmulo, para fora da quadra. Snape suspirou profundamente, e tinha sua voz um tanto estranha quando se virou para os dois e disse:
- Vou tentar fazê-lo jantar.
Rony se adiantou:
- Prof. Snape, sentimos muito. A culpa foi nossa.
Pela primeira vez em sua vida, Rony viu o Mestre de Poções fechar os olhos e controlar seu temperamento. Ele disse apenas:
- Eu esperava mais da senhorita, Srta. Granger. Estou decepcionado.
E virou-se, deixando Rony e Hermione no meio da quadra com o maior sentimento de culpa que eles podiam ter experimentado.
Harry trancou-se no quarto, ainda descontrolado, até a cicatriz doía. Chutou a cama e quase machucou o pé. Ele estava com raiva, mas também sentia culpa por ter estourado daquele jeito. Ele tinha dito coisas muito injustas para Snape, e aquilo pesou na sua cabeça.
Por outro lado, ele quase esperava uma coisa assim. Aquele Snape de sempre, o nojento, o injusto, não podia ter sumido, podia? Ele estava bonzinho demais, aquele não era o padrão normal de comportamento de Snape. Ah, mas ele tinha mesmo dito que ele não estava no seu normal. Essa coisa toda estava afetando Snape mais do que Harry imaginava, e Harry começou a perceber isso também. Pior ainda: ele não estava ajudando em nada.
Harry sentiu que o Snape que ele conhecia – irritável, nojento, injusto e detestável – estava dentro desse novo Snape, esse pai que ele estava tentando conhecer. Mas havia mais em Snape do que ele estava vendo. Só que, agindo como uma criança que tem ataques de raiva, ele jamais poderia esperar conhecer todas essas faces de Snape.
Rony e Hermione tinham visto tudo – o fracasso que sua família era, e isso que ela nem tinha começado a existir direito. Ele se sentiu um pouco envergonhado por eles terem assistido à discussão, porque o relacionamento dele com Snape não era mais assim. Eles tinham conversado, em termos civilizados.
A raiva lentamente estava se dissipando e dando lugar a uma terrível culpa. Ele se lembrou de como Snape viera correndo até perceber que ele não tinha se machucado. Depois ele tinha se irritado – preocupado com Harry.
Ele tinha agido como um pai superzeloso. Exagerado, na opinião de Harry, mas ele estava lá, presente. Harry tinha passado dois dias de cama e Madame Pomfrey ainda o considerava na zona de perigo. Por isso as medidas de superproteção.
Talvez Harry estivesse estranhando porque nunca tivera tanta atenção voltada para si por alguém que não queria nada dele além de aceitação.
E Harry tinha estragado tudo.
Ele saiu do quarto, procurando por seu pai. Quando não achou, ficou frustrado, mas reconheceu: não era à toa que seu pai evitava ficar perto dele. Ninguém gosta de ser maltratado.
A tarde começou a morrer quando ele se lembrou do laboratório. A porta estava fechada e ele bateu antes de entrar.
Snape mexia um caldeirão borbulhante.
- Posso entrar?
Harry recebeu um olhar e Snape lhe deu as costas. Mas em seguida passou-lhe um frasco escuro e disse:
- Você saiu do almoço sem tomar sua Poção Fortalecedora.
- Obrigado – disse o rapaz, tomando o frasco todo – Quanto tempo mais vou ter que tomar isso?
- Mais uma semana. Madame Pomfrey me escreve todos os dias perguntando sobre sua saúde.
Harry ficou espantando com aquilo, mas tentou se concentrar no que tinha vindo fazer.
- Olhe, eu... lá no campo de quadribol, eu... me excedi... Eu não queria dizer aquilo.
- Não, você disse exatamente o que queria. Eu estava esperando isso há mais tempo. Só não pensei que fosse ser tão... barulhento.
- Desculpe. É que eu achei injusto. Levei uma bronca sem ter feito nada!
Seco, Snape lembrou:
- Pensei que quisesse se desculpar, não continuar a briga.
- Está bem, está bem. Desculpe.
- Muito bem, agora me escute. Você não deve ignorar que tudo isso é extremamente novo para mim. Como é costumeiro em todas as atividades que abraçamos pela primeira vez, não é incomum que num primeiro momento cometamos erros. Espero que compreenda isso. Portanto, não vou me considerar ofendido ou desafiado por seu desabafo. Outros podem acontecer. Eu só espero que eles possam ser evitáveis ao longo do tempo.
Harry não teve muita certeza de que Snape estivesse se desculpando, mas ele reconheceu o aceno de uma bandeira branca. Deu de ombros:
- Eu também espero que isso não aconteça mais. Mas ainda me sinto estranho.
- E isso é natural. Mas se você quiser alguma ajuda para controlar suas emoções, estou às ordens.
Harry notou os cantos da boca de Snape querendo se curvar para cima de maneira divertida. Ele não resistiu e abriu um sorriso:
- Vou pensar no assunto. Afinal, acho que essas cenas vão se repetir.
- Eu dispensaria a audiência.
Harry se deu conta:
- Eu estava tão nervoso que nem me lembrei que Rony e Hermione estavam lá. Será que eles ficaram muito assustados?
- Eles estavam petrificados.
- Vou falar com eles mais tarde. Ou amanhã.
- Não pretende subir para jantar?
Harry ficou vermelho:
- Pensei que poderíamos jantar aqui embaixo hoje. Eles vão entender.
Snape também viu a bandeira branca que lhe era acenada. Disse, a voz mais suave:
- Eles vão mandar grupos de resgate para recolher nossos corpos, pensando que nós nos matamos com requintes de crueldade.
Harry soltou uma risada e Snape gostou do som. Parecia ser sincero e aberto – como Harry.
Mudou de assunto:
- Já que vai ficar por aí, é melhor que seja útil. Poderia me trazer o vidro de unhas de dragão em pó do meu estoque particular? Você sabe, aquele que você vive invadindo.
- Sabe que essa é a maior injustiça do mundo? Eu nunca fiz isso!
- E como você conseguiu guelricho para a segunda tarefa do Torneio Tribruxo?
- Alguém me deu – respondeu – Mas eu não vou dizer quem.
- Lealdade total para seus amigos, hã? Muito grifinório de sua parte. Talvez eu possa lhe ensinar algumas qualidades sonserinas muito úteis.
- Não, obrigado. Eu estou bem do jeito que estou. Falando nisso, eu não vou precisar passar de novo pelo Chapéu Seletor, vou?
- Por que deveria?
- Porque eu sou seu filho, e você é sonserino. Eu não deveria estar na mesma casa?
- Às vezes você me espanta, Harry Potter. A seleção feita pelo Chapéu é definitiva, e é referente ao indivíduo. Caso contrário, as gêmeas Patil não estariam em casas separadas.
- Bom, eu estava preocupado com isso.
- Não há motivo. O fato de eu ser seu pai em nada afeta quem você é: grifinório, apanhador do time de quadribol, estudante de notas passáveis, perambulador dos corredores da escola nas altas horas com sua capa de invisibilidade...
- Para mim, tudo mudou.
- Você ainda está sob o impacto da notícia. Quando se acostumar, verá que é possível conviver com isso.
- Eu estou tão acostumado em pensar em Thiago Potter como meu pai. Eu cresci ouvindo como eu sou parecido com ele.
- Segundo a carta de sua mãe, isso não vai durar.
- Mamãe pareceu gostar muito de você... do senhor.
- Pode me chamar de você, Harry.
- Eu ainda não sei direito como devo chamá-lo. Snape me parece muito formal.
- Além de ser impreciso, afinal, é o seu nome também – Harry arregalou os olhos – Você pode não usar o nome, mas você é um Snape legítimo. Espero em breve mostrar o que isso significa.
- Hum, e nós somos ricos?
Snape deu um meio sorriso:
- Se você está pensando em algo na linha dos Malfoy, lamento decepcioná-lo. Mas temos alguns bens. Incluindo uma mansão da família.
- Se você tem uma mansão, por que fica em Hogwarts nas férias? Ela fica abandonada o tempo todo.
- Sua avó mora nela. Ela também cuida dos negócios da família.
Harry quase parou de respirar ao ouvir aquilo:
- Eu... tenho uma avó? Uma avó de verdade? Sua mãe?
- Precisamente. Ela está ansiosa por conhecê-lo. Estive com ela ontem.
- Puxa... uma avó. Como ela é? Muita velhinha?
- Por favor, faça o que fizer, jamais diga isso perto dela. Ela se casou jovem. Mas ela pode aparentar mais idade depois... de um casamento difícil. Meu pai... era um homem um tanto quanto... irascível.
- O que isso quer dizer?
- Que ele não era muito simpático.
- Oh – fez Harry, lembrando-se de um fragmento de lembrança que tinha visto durante uma aula de Oclumência. – Bom, uma coisa nós temos em comum: infâncias infelizes.
- Ao que tudo indica, é verdade.
- Quando vamos conhecer a vovó?
- O nome dela é Hisurta, e acho bom você perguntar para ela se ela quer ser chamada de vovó. De qualquer forma, até você receber uma certificação de saúde completa, não vamos sair de Hogwarts. Unha de dragão, por favor.
- O quê?
- Unha de dragão. Eu já lhe pedi há tempo. Se demorar mais, a poção vai ser toda perdida.
- Ah. Tá bom. Mas depois me fala mais da vovó?
- A poção. Concentre-se, Harry.
Ele saiu correndo para o armário dos estoques e encontrou tudo organizado, ordenado alfabeticamente. Provavelmente trabalho de um aluno em detenção, lembrando-se que ele mesmo já fizera muitas coisas do tipo. Pegou a unha de dragão e voltou para o laboratório.
Snape a colocou no caldeirão, que começou a emitir um vapor prateado suave. Harry pouco se ligava para o que acontecia no caldeirão.
- E a vovó? Já sabe sobre mim?
- Claro que sim.
- E ela gostou da idéia de ter um neto?
- Muito. Ela tinha perdido as esperanças.
- Você tem uma foto dela?
- Harry, eu passei da idade de ter fotos de mamãe na carteira como se fosse um trouxa.
- Será que ela vai gostar de mim?
- Isso você deve perguntar para ela pessoalmente. Se bem que ela já o conheça de nome, claro.
- Agora fiquei ansioso para conhecê-la – confessou Harry – Eu nunca tinha pensando em avós antes. Quando a gente vai poder ir vê-la?
Snape respondeu:
- Como eu disse há menos de cinco minutos, quando você estiver liberado por Madame Pomfrey.
- E se a gente for de pó de flu? Aí eu não preciso montar na vassoura.
- Harry, você não sai de Hogwarts até sua saúde estar completamente liberada.
- Está bem – disse o menino, com uma careta – Entendi o recado.
Snape deu um meio sorriso, apagando o caldeirão:
- Nada impede que você escreva uma carta para ela, e diga que também está ansioso por conhecê-la.
O rosto de Harry se iluminou num sorriso:
- Boa idéia! – e saiu correndo para providenciar tudo.
Snape não pôde deixar de soltar um meio sorriso. O menino podia ser previsível, às vezes.
Os dois jantaram juntos, e Harry também escreveu uma carta para Sirius contando todas as novidades, inclusive o fato de que ele continuava a ser seu padrinho. Edwiges saiu com duas cartas para um entrega noturna muito especial.
Naquela noite, Harry quase não pôde dormir imaginando como seria sua avó. A única imagem que ele tinha era de uma mulher brigando com um homem de nariz torto – a imagem que ele vira na mente de Snape durante uma aula de Oclumência. Depois ele se lembrou que ela era uma Snape. Em se tratando de uma Snape, tudo podia acontecer.
Capítulo 8 – Vovozinha querida
Aquela semana parecia não ter fim para Harry, apesar de todo o tempo que ele passara com Hermione e Rony. Eles ficaram muito espantados por Snape ter mãe, uma vez que ele nunca a mencionara. Hermione disse:
- Harry, dá para ver que você ficou feliz com isso.
- Eu jamais imaginei ter uma avó. Como é isso?
Ela disse:
- É muito bom.
Rony respondeu:
- É só um velho da família. Nada demais.
- Rony! – escandalizou-se Hermione – Harry está entusiasmado com a avó dele. Não deve falar assim.
- Hermione, a avó dele é mãe do Snape. O que você imagina que ela seja? Uma bruxa velha, ora! Provavelmente ela inspirou todas as bruxas más das histórias trouxas!
- Rony!
Harry disse:
- Ele pode ter razão, Hermione. Eu já pensei nisso.
A menina não se conformou:
- Mas você não disse que ela estava ansiosa para conhecê-lo? E que ela gostou da idéia de ter um neto?
Rony insistiu:
- Hermione, ela é uma Snape! Ela ensinou Snape a ser como é! Sabe, nojento, babacão e seboso!
- Acho que você está exagerando, Rony. Harry e seu pai estão se dando muito bem, dadas as circunstâncias. Não é verdade, Harry?
Harry teve que concordar:
- Melhor do que eu esperava. De vez em quando ele faz algumas coisas que eu não espero.
- Como assim?
- Tipo, deixar Sirius ser meu padrinho. Eu pensei que ele fosse me fazer afilhado de Lúcio Malfoy. Ele odeia tanto Sirius. Por que me deixou ser afilhado dele?
Hermione deu de ombros:
- Provavelmente há mais coisas a respeito de seu pai do que sabemos, Harry. Por isso você tem que passar mais tempo com ele e conhecê-lo bem. Eu tenho certeza de que há bastante espaço para vocês dois chegarem a um acordo satisfatório sem se esganarem.
- Antes eu tinha medo – confessou Harry – Como meu pai, ele podia me maltratar ainda mais do que como apenas aluno. Mas ele não tem feito isso.
Rony insistiu:
- Eu não acredito que Snape tenha virado bonzinho. Ele ainda faz Harry voltar para a masmorra logo depois do jantar. E proibiu Harry de fazer as coisas mais divertidas!
- Por causa da saúde dele, Rony. Sua mãe teria feito o mesmo se você tivesse passado o que o Harry passou.
Rony protestou:
- Não mesmo. Ela teria feito pior. Eu ia ter sorte de voltar a voar numa vassoura.
Harry pensou e achou que Rony estava certo. Pais, mães – todos eles eram muito estranhos.
Foi naquela noite, depois do jantar, que Snape entrou no quarto de Harry e disse:
- Madame Pomfrey acaba de me escrever dizendo que você está fora da zona de perigo. Você e seus amigos podem começar a se arriscar em vassouras e no lago quando quiserem.
- Que bom.
- Procure se conter. Madame Pomfrey está em Gales e não vai poder vir costurá-lo se algo lhe acontecer.
- Está bem.
Ele se virou para ir embora, mas disse:
- E vamos visitar sua avó assim que ela permitir.
Harry disse, todo animado:
- Ela me escreveu. Disse que está ansiosa para me conhecer assim que for possível.
- Então tenho certeza de que o encontro será em breve – disse Snape – Ela sempre cumpre o que promete.
Harry precisou ficar mais alguns dias na expectativa. Durante esse meio tempo, ele foi com Hermione e os Weasley até o Beco Diagonal para comprar os livros para seu último ano. Foi um dia agradável, que eles passaram com os Weasley, e mais tarde Harry voltou por flu até Hogwarts. Rony e Hermione foram passar o fim de semana com a família, e Harry iria passar com a sua.
Ele foi visitar vovó Snape.
Seu pai preferiu ir usando pó de flu, então Harry não pôde ver o lado de fora da mansão assim que chegou. Sacudindo as cinzas de sua capa, ele ajeitou o cabelo, quando Snape disse:
- Ela deverá chegar a qualquer momento. Lembre-se: viemos passar o fim de semana. Se ela falar em passar o resto das férias...
Foi interrompido por uma voz vinda do andar de cima:
- Severo, é você?
Snape ergueu a voz:
- Sim, mamãe. Já chegamos.
Harry nem conseguiu olhar direito a sala ricamente decorada de móveis de couro, tapeçarias e retratos que o olhavam curiosamente. Ele seguiu Snape, que foi até a escada. Então ele viu descendo, usando uma bengala, uma senhora um pouco mais velha do que a Profª McGonagall, com vestes bruxas e jóias, magra, os cabelos presos por um coque leve. Harry observou-a, o coração acelerado de ansiedade. Notou que, apesar de usar a bengala, ela se movia com agilidade, as mãos enrugadas segurando firmemente no apoio da escadaria de mármore.
- Oh, finalmente – ela disse, descendo os últimos degraus – Vocês chegaram. Bem-vindos.
Snape beijou-lhe a fronte:
- Como tem passado, mamãe?
- Longe do meu filho desnaturado que não vem me visitar.
- Aqui estou eu.
Os olhos pretos de Hisurta Snape se voltaram para Harry e ela abriu um sorriso:
- E você trouxe o meu neto. Eu esperava uma criança, mas é um homem. Vamos, rapazinho, cumprimente a sua avó.
Harry estendeu a mão, polidamente:
- Como vai a senhora?
- Muito melhor, agora que o vejo pessoalmente. Suas cartas me causaram uma ótima impressão. Vamos, vamos nos sentar. Onde estão suas malas?
Snape apressou-se em dizer, sentando-se numa poltrona:
- Viemos apenas passar o fim de semana, mamãe. Temos que estar de volta a Hogwarts na segunda-feira pela manhã.
- Mas o menino está de férias. Por que ele tem que voltar com você?
- Dificilmente está em férias – ressaltou Snape – Ele precisa da proteção de Hogwarts contra o Lord das Trevas.
Aquilo pareceu satisfazer a velha senhora, que disse:
- Entendo. Isso me cheira a alguma coisa de Dumbledore, aquele velho danado.
- Precisamente, mamãe.
- Mas deixe-me ver meu neto – ela se voltou para Harry – Harry Potter. Quando Severo me contou, eu tive dificuldade em acreditar.
Sem jeito, Harry sorriu:
- Eu... ainda estou me acostumando a isso também.
- Você tem sorte de ter chegado à família tardiamente. Se meu falecido marido estivesse vivo, ele teria simplesmente deserdado os dois – Severo e você.
Harry arregalou os olhos:
- Ele ouviu falar de mim?
Vovó Snape estreitou os olhos e disse:
- Acho que você o matou, rapaz.
Harry ficou apavorado e Snape disse:
- Mamãe, que exagero!
- Eu... eu....
Hisurta Snape colocou a mão no braço de Harry, sorrindo:
- Não precisa ficar terrificado, meu jovem. Eu quis apenas dizer que Solemnus era um grande partidário de Você-Sabe-Quem. Quando você o derrotou, foi um grande golpe para ele. Acho que ele jamais se recuperou. Acabou morrendo de desgosto. Por isso é que eu sou duplamente grata a você.
Harry arregalou os olhos: ele não estava entendendo direito aquela avó. Ela parecia ser meio maluca, mas Snape não tinha dado essa impressão. Ela deu um tapinha no braço dele, satisfeita:
- É, meu neto, você livrou o mundo de duas pestes.
- Mamãe, olha a linguagem – disse Snape.
- Estamos todos em família, Severo. Além disso, os retratos já sabem como eu penso. Quando seu pai era vivo, eu não podia falar o que pensava em voz alta. Mas mantive minha cabeça. Graças a ela, consegui sobreviver a seu pai. Mas chega de falar desses assuntos desagradáveis. Aposto como Harry vai querer conhecer a casa. Mostre a ele, Severo. Eu vou para o jardim da ala oeste, preciso olhar meus bulbos de tulipas.
- Sim, mamãe. Venha, Harry, vamos levar nossas coisas para cima.
Snape subiu as escadas e Harry viu dois corredores – obviamente um era da ala oeste e outro da ala leste. Snape o levou até seu quarto, no lado oeste da casa. Ele viu os móveis antigos, os grandes quadros e tapetes até chegar ao quarto e teve um choque. Ali dentro, havia uma cama de quatro postes, um pôster bruxo na parede dos Chudley Cannons e um quadro bruxo de um piquenique em família, provavelmente no século 18. Harry não pôde deixar de imaginar que aquele quarto tinha sido decorado especialmente para ele. Sorriu para Snape:
- Esse é o meu quarto?
- Se quiser – disse ele, observando os jogadores do Cannons se movimentando rapidamente no pôster – Tomei a liberdade de mandar trazer o pôster desse time de quadribol. É o seu preferido, não é?
- Como sabia?
- Eu presto atenção aos detalhes, Harry. Essa é uma das qualidades dos sonserinos. Bem, pronto para a grande tour pela sua nova casa?
Harry sentiu o estômago afundar. Sim, aquela casa era dele também, e ele não tinha percebido isso. Ele ainda teria que pensar muito até aceitar totalmente as implicações de ter uma nova família.
- Harry?
Dando-se conta de que tinha ficado parado, Harry logo se corrigiu:
- Sim, sim, claro.
Snape começou a mostrar os quartos do andar de cima, e em pouco tempo Harry ficou com medo de se perder dentro da casa. Embaixo, a coisa parecia um pouco mais clara, com o salão de jantar, a sala de estar, a sala de estar íntima, a biblioteca, o estúdio, o escritório da vovó e os jardins. Eles foram encontrar vovó Snape no jardim, cuja varinha em riste revestia com gelo um canteiro onde a terra estava revolvida.
- Os bulbos precisam de temperatura fria, e esse verão pode acabar com eles – explicou ela, recolhendo sua varinha e andando pelas demais áreas – Você gosta de plantas, Harry?
- Eu estudo Herbologia.
- São uma grande terapia. Aprende-se muito cuidando de plantas. Falando nisso, Severo, eu pedi que Twinky colhesse suas ervas e deixasse no seu laboratório, caso você fosse precisar levar alguma coisa para Hogwarts.
Snape disse:
- Estão colhidas?
- Foram retiradas essa manhã. Eu sei que você gosta delas bem frescas.
Ele disse:
- Preciso começar a processá-las imediatamente, ou elas perderão suas propriedades mágicas.
Hisurta sorriu, os olhos negros faiscando:
- Então vá para o porão, meu filho. Eu e Harry estaremos bem.
Snape soube naquele instante e Harry desconfiou que vovó Snape tinha armado para os dois ficarem sozinhos. Com as capas esvoaçando dramaticamente, Snape entrou para tratar de suas preciosas ervas.
- Ah, ele é tão previsível... Mas agora estamos mais à vontade, não é, Harry?
- Sim, senhora. Er... Como quer que eu a chame? Madame Snape, Vovó Snape... Sra. Hisurta?
Vovó Snape riu-se:
- Se quiser me chamar de vovó, está tudo bem, Harry. Eu acho que estou acostumada à idéia. Mas só que você é um homem feito, não um netinho para eu contar historinhas! Mas eu quero saber de tudo, hein?
- Tudo?
- Caso você arrume uma namorada e pretenda me dar bisnetos, eu tenho que ser avisada com antecedência. É preciso um preparo psicológico para certas coisas.
- Oh – disse Harry – Está bem.
- Espero que nós sejamos muito unidos. Nossa família não é muito grande, então é importante que fiquemos juntos. Severo mantém distância por medo que eu entre na luta contra Você-Sabe-Quem. Você sabe que seu pai tem um trabalho muito importante nessa luta, não sabe?
- Sei. Mas isso não deveria ser secreto?
- Exato. Para todos os propósitos práticos, Severo e eu não nos falamos desde que ele se juntou aos Comensais da Morte. O que não está longe da verdade. Só recentemente eu vim a saber que ele realmente está do outro lado. Eu fiz de tudo para ele não se juntar a eles, mas Solemnus foi peremptório. Foram dias muito difíceis até seu pai finalmente concordar em se unir a Você-Sabe-Quem. Solemnus o coagiu de todas as maneiras possíveis. Seu avô era um homem terrível, Harry. Eu sempre tentei criar Severo com carinho, mas seu avô me tolhia as ações. Seu pai praticamente não teve infância, e foi forçado a aprender todas aquelas mágicas das trevas. Solemnus também me tratava muito mal. No dia em que Severo se juntou aos Comensais, ele me prendeu no quarto, e lá me deixou três dias, com ordem para os criados apenas me levarem comida. Ele temia que eu convencesse Severo a desistir. Eu quase consegui, mas no fim as ameaças dele prevaleceram.
Harry disse:
- Foi isso que o separou de minha mãe.
Vovó Snape pôs-se a caminhar pelos canteiros floridos, dizendo:
- Eu não sei muito sobre sua mãe, só o que apareceu nos jornais da época de sua morte. Eu jamais soube que Severo sequer teve uma namorada. O que você sabe sobre ela?
- Ela nasceu numa família de trouxas. Eu vivia com a irmã dela, que tem pavor de bruxos.
- Severo me contou o que aconteceu com você na semana passada – o rosto dela adquiriu uma afabilidade forçada - Depois deixe o endereço deles, para eu dar uma visitinha, quem sabe agradecer por terem cuidado de você esses anos todos.
Harry sentiu que esse não era o verdadeiro objetivo da visita. Ele também sentiu que Vovó Snape não era uma pessoa para ser subestimada.
- Isso não vai ser necessário, obrigado.
- Mas acho que isso é necessário. Afinal de contas, se sua mãe tivesse procurado Severo quando estava grávida, seu avô teria expulsado vocês três – se não fizesse coisa pior. Seu pai me disse que você é um grifinório legítimo, e ela também era.
- É verdade.
- Bom, eu mesma era de Corvinal. Mas isso faz muito tempo, você não vai querer saber de histórias antigas.
Harry ficou espantado:
- Eu pensei que a senhora fosse de Sonserina.
- Eu? Como você acha que mantive minha cabeça durante todos esses anos, hein?Ah, mas é claro que fui pegando uma coisinha ou outra dos sonserinos. Severo teria se dado bem em Corvinal. Ele é muito inteligente, sempre foi, desde pequeno. Mas até que foi bom. Solemnus teria tido uma síncope se ele não tivesse entrado em Sonserina.
- Como a senhora foi se casar com ele, se ele era um homem tão terrível?
Ela se riu:
- Ah, vocês jovens às vezes se esquecem dos costumes antigos. Foi um casamento arranjado. Sabia que a família Snape não produz mulheres há cinco gerações? Você mesmo é prova da tradição. Nem sempre bruxas de sangue puro estão disponíveis para casar com os Snape homens, então era costume fazer arranjos com outras famílias de não tão alta estirpe, como a minha. Sou filha de bruxo com uma trouxa. Meu pai se esforçou muito pelo meu casamento. Eu não queria casar com Solemnus de jeito nenhum, mas minha família queria muito por causa do prestígio dos Snape – eu soube mais tarde que houve troca de ouro envolvida na transação. De qualquer modo, isso pertence ao passado. Eu sobrevivi ao casamento e hoje posso me dar ao luxo de fazer o que eu quiser por minha família. E isso inclui você, Harry.
- A senhora preferiria um neto mais criança? Ou um não tão famoso?
Ela o olhou seriamente e disse:
- Harry, eu estou lhe dando as boas-vindas à família. Não importa se você tem essa cicatriz na testa ou não. Para mim, você é filho do meu filho, só isso. Espero deixar isso bem claro. Sou uma mulher idosa, tenho as minhas manias, e uma delas é tratar as pessoas pelo que elas são. Sei que você optou por não mudar seu nome para Snape, e não posso culpá-lo por não querer o nome: a família está cheia de bruxos das trevas. Mas você é um Snape e vai ser reconhecido como um, tanto quanto eu sou uma Snape.
- Obrigado. Às vezes é difícil fazer as pessoas olharem além da cicatriz.
- Não precisa se preocupar que não vou exibi-lo por aí para as demais famílias bruxas. Na minha idade, eu não freqüento mais a sociedade. De vez em quando alguém vem me visitar para ver se ainda estou viva. Mas isso não é nem uma vez por mês.
- Então a senhora vive sozinha?
- E estou muito bem assim. Os criados me ajudam com a casa, e eu cuido dos negócios. Talvez eu possa interessá-lo nos negócios da família, Harry. Afinal, um dia isso tudo vai ser seu. O que você pretende fazer quando deixar Hogwarts?
- Eu quero cursar o treinamento para auror.
- Ah, mas meu neto tem mania de herói! – Harry ficou vermelho – Eu disse isso no bom sentido, Harry. Não quero constrangê-lo. Você deve fazer de sua vida o que achar melhor.
Ela se sentou numa varanda de frente para os jardins. Harry se sentou na cadeira ao lado.
- Aqui é bonito. Não imaginei que fosse tão bonito.
- Fico feliz que goste. Severo me contou que você é ofidioglota. É uma habilidade rara. Gostaria de ter uma cobra como bicho de estimação?
Harry disse:
- Eu tenho um bicho de estimação. É uma coruja chamada Edwiges. Ela não ia se dar bem com a cobra.
- Oh, não, claro que não. Bem, foi uma idéia. Eu gostaria de lhe dar um presente. Soube que seu aniversário foi há pouco tempo.
- Não precisa não, vovó. Eu já recebi um monte de presentes nas últimas semanas.
- Você é um bom menino, Harry. Vou gostar de tê-lo como meu neto. Diga-me: você é bom na escola? Gosta de Poções?
Harry deu de ombros:
- Eu não tenho talento para Poções. O Prof. Snape sempre me deixou em detenção por causa disso.
- Severo lhe deu detenção uma vez?
- Não, na verdade foi bem mais de uma vez.
- E você lhe deu motivo?
- Bem, nem sempre. Ele não gostava muito de mim, por causa de meu... er... quero dizer, por causa de Thiago Potter.
Vovó Snape parecia cada vez mais espantada:
- Então ele era injusto com você?
Harry tentou consertar:
- Mas isso foi antes! Agora ele não é mais assim.
- Oh, meu pobre rapaz – disse a avó – Severo puxou um pouco do temperamento do pai. Ele é teimoso quando quer. Espero que as coisas entre vocês tenham melhorado.
- Muito – garantiu Harry apressadamente – Muito mesmo.
- Tenho certeza de que isso vocês poderão resolver com o tempo. Mas todo esse negócio de segredo... Isso pode ser muito ruim. Quando se guarda um segredo, muita coisa pode se imiscuir em torno dele. Não, um segredo sempre arrasta consigo um bando de outras conseqüências.
- Mas a senhora guarda um segredo. A senhora sabe das atividades dele junto aos Comensais.
- E não é um segredo fácil de guardar, tanto é que nós nos falamos muito pouco, meu filho e eu. Espero que com você as coisas sejam diferentes, Harry. Mas Severo mudou totalmente desde que entrou em contato com Você-Sabe-Quem. Primeiro, ele resistiu. Ah, sim, ele resistiu a Solemnus, mas ele era um homem terrível.
- Mamãe disse que ele estava sob muita pressão. Ela lutava contra Vol- contra Você-Sabe-Quem.
A velha se espantou:
- Você pronuncia o nome dele?
- Sim. Medo do nome só aumento o medo da coisa em si.
Ela deu uma risadinha:
- Está aí alguma coisa que Dumbledore diria. Mas eu não pronuncio o nome dele. Eu o odeio com todas as minhas forças. Esse desgraçado foi o motivo de Severo ter se tornado uma pessoa difícil. Ele não queria se tornar um Comensal, mas o pai tanto o pressionou que o fez se unir àquele homem horrível. Severo o desafiou abertamente. Mas eu jamais soube o que o fez desistir e entrar para os Comensais. Quase morri de desgosto. Fiquei sem falar com ele. Até que um dia eu descobri por acaso que ele era um espião. Mas nossa relação já estava desgastada.
- Eu sinto muito.
- Oh, que amor. Hoje voltamos a nos falar, mas é muito raro. Ele não me visita há dois anos. Se não fosse você, acho que ele não teria vindo.
Num impulso, Harry levou a mão à testa, pois sua cicatriz começou a arder. Mas era diferente de antes. Parecia que havia uma dupla ardência.
- O que foi, Harry?
- Nada – mentiu ele – A cicatriz às vezes arde.
A esperta Vovó Snape sentiu que havia algo mais ali, mas resolveu não insistir. Ela começou a falar que o almoço seria servido logo, mas Snape voltou do laboratório, segurando o braço e disse:
- Surgiu um imprevisto. Precisarei sair e não sei quando voltarei.
Harry arregalou os olhos, pois ele sabia qual era o imprevisto: um chamado de Voldemort. Ele convocara seus Comensais através da Marca Negra, por isso Snape segurava o braço.
Vovó Snape indagou:
- Tem certeza que não pode adiar? Eu esperava um almoço em família.
- Lamento, mamãe, mas não posso adiar.
- Está bem, meu filho. Tenha cuidado.
Snape se virou para Harry:
- Faça companhia à sua avó e não a aborreça.
Harry entendeu aquilo como sendo um aviso para não contar que ele sabia aonde Snape estava indo. Harry assentiu e o Mestre de Poções virou-se indo para a sala, de onde Aparatou sem demora.
Capítulo 9 – Coisas em família
Harry passou o dia praticamente sozinho com sua avó, preocupado com Snape, pois sua cicatriz não parava de doer. Ele podia jurar que também seus músculos doíam, mas procurou não pensar nisso. Os dois almoçaram cedo e passaram a tarde conversando na elegante sala de estar íntima.
Vovó Snape trouxe a única foto de Snape que ela tinha conseguido salvar da fúria de Solemnus. Harry olhou a foto dos três, ansioso. Snape deveria ter mais ou menos a sua idade, e era magro, com os cabelos negros compridos e sedosos, uma expressão dura no rosto sem marcas. Solemnus era um homem alto, de cabelos pretos que começavam a ficar brancos, também magro, com o nariz em forma de gancho e olhos cruéis. Hisurta aparecia como uma mulher bem mais jovem, magra, de cabelos castanhos compridos e olhos escuros tristes.
- Foi a única foto que eu consegui esconder – disse Vovó Snape – Todas as fotos de Severo quando bebê foram queimadas num acesso de raiva. Precisava ouvir os gritos.
Harry quis saber:
- Não há retratos na casa? Digo, quadros grandes, desses que se mexem.
- Solemnus só deixou um retrato de si mesmo, que eu mantenho no porão. O retrato vive reclamando aos gritos que está pegando poeira, e aí mesmo é que eu o deixo sozinho e empoeirado. Nem os elfos domésticos vão vê-lo. Eu deveria tê-lo queimado. Eu recomendo que você evite o porão, Harry. Se ele souber quem é você, vai enchê-lo de desaforos.
- Obrigado pela dica – sorriu Harry – Sabe, a casa não é bem o que eu esperava. Eu estive na casa de meu padrinho, e ela é muito mais assustadora.
- Seu padrinho?
- Sirius Black.
Vovó Snape quase teve um ataque:
- Quem?! Mas ele é o braço direito de Você-Sabe-Quem! Um assassino perigoso!
- Não, vovó, isso não é verdade. Sirius é inocente. Ele nunca matou ninguém nem traiu minha mãe.
- E ele é seu padrinho?
- Isso mesmo. Meu pai deixou que ele continuasse a ser meu padrinho, mesmo que eu não seja mais um Potter. Sirius e Thiago eram grandes amigos, mas meu pai odiava os dois.
- Eu nunca soube que Severo tivesse amigos. Mas aquele garoto Malfoy achava que seu pai ia ser um bruxo das trevas. Ele foi usado como incentivo para fazer Severo se juntar aos Comensais. Lucius Malfoy.
Harry fez uma careta:
- Eu não sei se eles são amigos, vovó. Talvez meu pai não possa se dar ao luxo de ser inimigo dos Malfoy.
- Com o prestígio e influência deles, bem poucos podem se dar a esse luxo, Harry. Sei que eles têm um garoto em Hogwarts. Você o conhece?
- Draco Malfoy. Eu o conheço. Somos inimigos declarados.
- Hum, não é uma atitude muito inteligente, Harry.
Harry disse, decidido:
- Eu não vou ser amigo de Malfoy nenhum! O pai dele tentou me matar três vezes! Draco também vive me desafiando na escola!
- Ah, bom, isso é diferente – assentiu Hisurta – Ainda assim, nós temos negócios com eles. Quando você e Severo anunciarem o laço de parentesco, essa relação pode mudar. Para pior ou para melhor, ainda não sabemos.
E foi nessa hora que Harry sentiu. Vinda aparentemente do nada, a dor que começou na sua cicatriz se espalhou por todo o corpo. Ele não se apercebeu que começou a gritar, ou que seu corpo começou a ter espasmos, ele só se deu conta do que estava acontecendo quando se viu no chão, os gritos cessando por um momento e era ele quem estava gritando, a avó muito pálida a encará-lo no chão da sala íntima.
- Harry! Harry, o que está havendo? Fale comigo, meu neto!
Mas Harry não podia responder. Seus olhos não viam sua avó, mas uma outra cena, uma cena que ele não queria ver.
Ele via Snape suspenso no ar, os braços acima da cabeça, presos por duas grossas correntes de aço presas a uma barra de ferro. Um filete de sangue corria-lhe do lado esquerdo do lábio, e ele parecia estar em grande dor. Ele estava numa floresta, e Harry soube instantaneamente que se tratava da Floresta Proibida.
Um jato de luz vermelha vindo de baixo atingiu Snape, fazendo Harry estremecer de dor enquanto seu pai gritava, a voz já rouca. E Harry sentiu como se estivesse falando, numa voz fria:
- Vejo em sua mente que você tem enganado seu mestre, Severo. Você me traiu e tornou-se um espião para aquele tolo Dumbledore. Mais do que isso, você conseguiu esconder isso de mim por muito tempo. Por esses crimes contra o Lord das Trevas, você vai morrer lentamente e com muita dor. Crucio!
Dor lancinante percorreu o corpo de Harry, enquanto Severo se contorcia de dor, os braços retorcidos, o rosto crispado. A cicatriz de Harry doía brutalmente, seus músculos também, ele sentia o que Snape sentia – e estava olhando tudo com os olhos de Voldemort, como sempre acontecia. Ele via os Comensais dispostos em círculo, olhando para Snape, que estava acima dele, e suas máscaras reluziam no entardecer.
Tudo era tão semelhante ao que Harry tinha vivido no ataque a Sirius – e Harry quase tinha perdido o seu padrinho naquela ocasião. E se fosse outra cilada? Estaria Voldemort querendo atraí-lo usando Snape?
Não, não deveria ser! Como ele saberia que Snape poderia ser usado para atraí-lo? Não, a visão era verdadeira.
- Mas espere!... – Harry chegou perto de Snape, cujos músculos ainda espasmavam de dor – Você ainda tem mais surpresas para mim, não tem, meu caro Severo? Sim, eu vejo seu controle falhando. Você tem mais segredos para revelar a Lord Voldemort, não tem? Eu vou descobrir. Só mais um pouco e todos os seus segredos serão meus!....
- NÃÃÃOO!!
Abruptamente, a visão voltou ao normal, embora seu corpo ainda sentisse os efeitos da Maldição Cruciatus. Ele ouviu a voz aflita de sua avó:
- Harry? Harry, pode me ouvir? Oh, por Merlin, Harry, o que há de errado com você?
Harry conseguiu se sentar e viu que estava no chão da sala de estar íntima, quase embaixo de uma mesinha de madeira com detalhes dourados. O coração batendo descompassadamente, o peito arfando, ele disse:
- Voldemort!... Acho que ele pegou meu pai!
- O quê? Como você sabe?
- Eu tive uma visão! Minha cicatriz. Voldemort descobriu que papai é espião! Ele vai matá-lo!
- Mas... como...?
- Tenho que impedir! Ele está quase descobrindo que somos parentes! Tenho que ir até lá!
- Harry, não! Você está doente! Está até meio verde!
- Vovó, ele vai matar o papai! Preciso impedir isso! Só eu posso lidar com Voldemort!
- Não mesmo! Vou avisar Dumbledore! Ele saberá o que fazer. Você fica quieto!
- Não tenho tempo para isso! Tem alguma vassoura que eu possa usar?
- Tem uma antiga vassoura de Severo guardada no porão – disse Vovó Snape – Mas você não está nada bem, Harry! Deve se deitar e –
Harry se impacientou:
- Não há tempo! Desculpe, vovó, mas eu explico depois! Agora preciso ir. Onde fica o porão?
- Twinky! – gritou Vovó Snape – A vassoura de Severo! Preciso dela agora!
O elfo entregou a vassoura a Harry, que montou nela ali mesmo e abriu a janela. Harry notou que era realmente antiga – mas muito boa. No fundo, porém, ele desejou que sua Firebolt estivesse com ele.
Vovó escancarou a janela que dava para o jardim, dizendo:
- Para onde você vai?
- Para a Floresta Proibida. É lá que Voldemort está.
- Vou avisar Dumbledore imediatamente. Tenha cuidado, meu neto!
Harry queria dizer que ia ter, mas ele enfrentaria Voldemort. Não havia garantias nessas circunstâncias.
Como um canhão, Harry ganhou os céus e voou como se estivesse perseguindo um pomo de ouro particularmente traiçoeiro. O coração acelerado, sua cabeça passava mil imagens do que estaria acontecendo na Floresta Proibida.
Ele demorou mais do que gostaria e mais uma vez desejou ter sua Firebolt.
Durante todo o percurso, Harry sentiu um nó de culpa a lhe embrulhar o estômago. Seu pai havia sido revelado como espião, tudo porque ele estava fora de seu normal – e o motivo era Harry. A culpa o corroia e fazia-o tentar voar cada vez mais rápido.
Pareceu-lhe demorar quase o dia inteiro, embora tenha voado durante horas, o vento frio cortando-lhe os ossos. Ele só diminuiu a velocidade quando avistou as altas torres do Castelo de Hogwarts e a imensidão escura da Floresta Proibida à noite. Ele circundou a Floresta do alto, tentando vislumbrar alguma coisa na noite fechada e sem lua.
Finalmente, ele se deu conta de um ponto entre as árvores onde havia o brilho de tochas. Manobrando a vassoura com cuidado, ele conseguiu pousar e logo se dirigiu à fonte de luz, escondendo-se atrás das árvores.
Escondido, agora do chão, o quadro que ele viu parecia ser ligeiramente diferente da visão que teve na mansão de sua família. A única coisa que não mudava era a disposição dos Comensais da Morte em círculo, agora portando tochas que faziam suas máscaras brancas ainda mais fantasmagóricas na luz bruxuleante. O coração de Harry começou a acelerar quando ele procurou Snape – e ele sentiu um frio na espinha ao percebia que poderia ter caído numa armadilha.
Mesmo assim, ele foi para trás de outra árvore, chegando mais perto, sempre procurando por Snape. E encontrou.
Seu pai estava estirado no chão, com o braços retorcidos, as vestes em frangalhos. Podia-se ver que tinha sido atingido por dezenas de feitiços e maldições, pois estava cheio de cortes e marchas roxas. Ao ver o estado de seu pai, Harry teve que se controlar para não denunciar sua posição.
Ele estava imaginando onde estaria Voldemort, quando uma voz fria surgiu do centro do círculo:
- Ora, ora, ora. Nosso convidado de honra finalmente está entre nós. Mostre-se para Lord Voldemort, Harry Potter.
Harry sentiu o frio na espinha voltando, e seu coração perdeu o ritmo. Sabendo que não adiantava mais se esconder, ele saiu de trás da árvore e viu os Comensais abrirem espaço para que ele passasse. Harry logo estava no centro do círculo, ao lado de Snape, que o encarava, alarmado, os dois em frente a Voldemort.
- Eu sabia que você tentaria vir salvar seu papai querido – Harry arregalou os olhos e Voldemort sorriu – Eu conheço o segredo de seu pai e sua mania de ser herói. Sim, esse foi um dos primeiros segredos que eu extraí da mente de seu pai. Esse foi um segredo que ele não conseguiu esconder de mim por muito tempo, o seu papaizinho querido, esse traidor.
Harry gritou:
- Solte meu pai! É a mim que você quer!
- Você tem mesmo um desejo de morrer, não é, garoto? Eu cuidarei de seu pai no tempo certo – Voldemort abriu um sorriso reptiliano para Harry – Primeiro quero acertar umas contas com você, Harry Potter.
Sem perder tempo, Harry puxou sua varinha, gritando:
- Expelliarmus!
A varinha voou da mão de Voldemort, que rosnou:
- Maldição! - os Comensais se agitaram e seu chefe os acalmou – Ninguém interfira. Isso é entre mim e o garoto metidinho.
Foi então que Snape atacou. Mal se agüentando nas pernas, ele se jogou contra Voldemort, gritando:
- Deixe meu filho em paz!
Os dois se embolaram no chão, os Comensais cada vez mais agitados, Harry aflito, de varinha a postos, e olhos fixos por qualquer chance de atingir Voldemort. Ele sabia que tinha de enfrentar Voldemort de uma vez por todas, e só ele podia fazer isso – estava na profecia.
Por isso ele se meteu no meio da briga entre Snape e Voldemort. Afinal, só ele podia resolver essa parada.
- Largue o meu pai!
E foi bem a tempo. Harry foi capaz de separá-los, mas sua distração fez Voldemort recuperar sua varinha. Os Comensais vibraram diante dessa vitória. Harry queria verificar como estava Snape, já que ele tinha simplesmente rolado para o lado e ficado imóvel, mas ele queria manter um olho em Voldemort.
- Pai? Pai, pode me ouvir?
Voldemort sorriu de maneira nojenta:
- Não se preocupe, Harry. Logo você e seu papaizinho querido estarão juntos no lugar para onde vão todos os que desafiam Lord Voldemort. Agora solte sua varinha. Não queremos que elas se enfrentem como da última vez, não é mesmo?
Harry sabia que se ele soltasse sua varinha estaria condenado, perdido e indefeso. Por isso ele hesitou, procurando freneticamente em sua cabeça uma saída para aquela situação.
Snape se mexeu no chão, e Harry percebeu o movimento, aliviando-se ao sentir que ele estava vivo. Infelizmente Voldemort também percebeu:
- Se você largar sua varinha, Harry, prometo que seu pai terá uma morte rápida e sem dor.
- Deixe-o em paz!
- Lamento não poder fazer isso, Harry. Ele me traiu. Deveria saber que Lord Voldemort não tem piedade para traidores e espiões. Agora solte sua varinha!
Harry hesitou e foi nesse momento que tudo aconteceu.
Uma série de estalidos se ouviu, e dezenas de pessoas Aparataram na Floresta: eram aurores e membros da Ordem da Fênix. Os Comensais começaram a reagir e Harry viu que Voldemort se preparava para fugir na confusão. Ele apontou a varinha:
- Tarantallegra!
As pernas do Lord das Trevas começaram a se mover numa dança frenética, e Harry achou que o efeito seria cômico se ele não estivesse tão cheio de adrenalina. Ainda assim, Voldemort mirou a varinha contra Snape e começou a pronunciar:
- Avada –
- NÃO! – gritou Harry – Avada Kedrava para você, monstrão!
O feitiço atingiu Voldemort em cheio, uma luz verde que envolveu seu peito, fazendo-o arregalar os olhos e voltá-los para Harry, surpreso. Ele obviamente não esperara por aquilo.
Como se observasse em câmara lenta, Harry acompanhou quando o bruxo das trevas abriu a boca, como se estivesse sem ar, e caiu de joelhos, os olhos vermelhos agora incapazes de se fixar em alguma coisa. Enquanto a batalha corria sangrenta, Voldemort tombou, sem vida e finalmente derrotado.
Lord Voldemort tinha acabado para sempre.
Harry não vira toda a cena, porque ele tinha se ajoelhado no chão ao lado de Snape, que jazia imóvel, de barriga para baixo:
- Não! Por favor, não morra! Não esteja morto!
Ele o desvirou e viu o rosto sujo de poeira, lama e sangue – não muito diferente do próprio Harry. Snape respirava com dificuldade, e Harry percebeu que uma lágrima caía ao ver seu pai naquele estado.
Mas ele estava bem, ele estava vivo!
Uma mão tocou o ombro de Harry e ele se virou. Quase teve um ataque ao ver quem era:
- Vovó?! O que a senhora está fazendo aqui?
A Sra. Snape franziu o cenho:
- Você realmente acha que eu iria ficar esperando em casa enquanto toda minha família saía para enfrentar Você-Sabe-Quem? Fui buscar reforços!
- Vovó, o papai –
- Vamos levá-lo já para St Mungo's. Ele deve ficar bem, não se preocupe. Estou muito orgulhosa de vocês dois.
Dumbledore chegou-se até eles:
- É melhor vocês dois saírem agora. Há uma busca em progresso pelos Comensais que fugiram pela Floresta. Vamos transportar Severo para St. Mungo's agora mesmo.
- Prof. Dumbledore – perguntou Harry –, o senhor acha que Voldemort foi embora de vez?
- Com certeza, Harry – disse o diretor de Hogwarts – A profecia foi cumprida. Voldemort está morto de uma vez por todas.
Vovó Snape abriu um sorriso cheio de dentes:
- Adorei! Ele virou Você-Sabe-Quem-Era!
Capítulo 10 – As mudanças em público
O Grande Salão estava todo enfeitado e iluminado para o banquete de começo de um novo ano. Os alunos do primeiro ano já tinham sido sorteados em suas casas e o Prof. Dumbledore se ergueu, pedindo a atenção de todos ao final do banquete:
- Bem-vindos a Hogwarts! Antes de começar o novo ano, gostaria de dizer a vocês que esse nosso banquete foi especial em comemoração ao fim de uma etapa horrível no mundo bruxo. A derrota de Voldemort deverá ser comemorada de várias formas ao longo do ano, incluindo a vinda de times de quadribol profissionais para partidas de demonstração aqui na escola. Houve participação de professores e alunos de Hogwarts na batalha final, como vocês já devem saber, mas eu pediria aos mais curiosos que refreassem seus impulsos de perguntar aos envolvidos, pois nem mesmo o Profeta Diário conseguiu esse depoimento.
Rony disse aos colegas mais próximos:
- Isso porque Dumbledore não deixou nenhum repórter entrar em Hogwarts para entrevistar Harry.
Dino Thomas indagou:
- Harry, por que você ficou em Hogwarts no verão? Seus parentes não são trouxas?
- Foi para fugir dos repórteres? – quis saber Simas Finnegan.
Harry sorriu e disse:
- Bom, na verdade, foi para passar mais tempo com meu pai.
Os colegas mais próximos ficaram olhando, chocados, para o Menino-Que-Matou-Voldemort. Rony quis saber:
- Falando nele, ele se recuperou bem dos ferimentos de batalha?
- Oh, sim – respondeu Harry – Ficou em St. Mungo's só dois dias, mas teve que ficar de cama quase uma semana. O mau humor dele estava muito além de tudo que eu já vi.
Os alunos continuavam todos boquiabertos, achando claramente que Harry é quem deveria ir para St; Mungo's.
- Mas Harry – tentou dizer Simas – Seu pai... ele morreu, Harry.
- Não, Simas, quem morreu foi um homem chamado Thiago Potter, que era casado com minha mãe – As pessoas mais próximas já olhavam abertamente – Meu verdadeiro pai é o Prof. Snape.
- Snape?! Desde quando?
Harry ia responder mas foi interrompido por Neville, muito pálido, que quis saber:
- Harry, diz que isso não é verdade! Não pode ser verdade!
Os cochichos começaram a tomar conta da mesa da Grifinória, bem como alguns gritos indignados de Gina, que começou a bater com as costas da mão no irmão mais velho:
- Como você não me contou isso? Desde quando você sabe?
- Desculpe, Gina, mas Harry queria manter em segredo.
- Eu sou sua irmã! Por isso todo mundo vivia cochichando lá em casa! Todo mundo sabia, menos eu!
Harry teve que contar aos colegas de casa a verdade sobre sua família, e toda a mesa comentou o assunto, que agora começava a se espalhar para as outras mesas. Hermione ficou confusa:
- Mas você não queria segredo?
- O segredo era por causa de Voldemort. Agora que ele morreu, não tem mais sentido esconder isso.
Naquele momento, o banquete se encerrou. Os monitores conduziam os alunos rumo às suas casas, e o burburinho era visível pelos corredores da escola.
Contudo, pouco antes de chegar às escadas que levavam à Torre de Grifinória, uma voz majestosa se ouviu:
- Potter, um minuto, por favor.
Ao ver Snape ali, vários grifinórios começaram a cochichar ao subir as escadas. Harry ficou para trás, parado ao lado do pai. Quando os alunos finalmente saíram do alcance, Snape quis saber:
- E então?
Harry sorriu:
- Eu contei para duas pessoas, e a escola inteira já sabe. Amanhã de manhã a correspondência já deve estar chegando sobre o assunto.
- Excelente. O Feitiço da Paternidade será revelado amanhã. Todos vão saber ao mesmo tempo. Não ficaria impressionado se o Profeta Diário tentasse sair com uma edição extra. Felizmente em Hogwarts estamos a salvo dos repórteres.
- E a vovó? Eles não vão importuná-la?
Snape deu um risinho:
- Se algum repórter conseguir chegar perto dela, vai ter sorte se souber o que o atingiu quando ela terminar com ele.
Harry teve que rir, porque era verdade.
- Não se engane – disse seu pai – Ela está contando com uma visita nossa no primeiro fim-de-semana de Hogsmeade.
- Mas é só daqui a dois meses.
- Antes disso, ela pretende vir à escola para assistir ao primeiro jogo de quadribol. Será daqui a um mês.
- Sério?
- Ela me pediu para confirmar a data assim que possível. E por falar nisso, é uma surpresa. Sinta-se surpreendido quando ela vier.
- Certo. Vou deixar isso de fora quando escrever para ela.
- Muito bom – disse Snape – Entendo que não possamos nos ver tanto quanto no verão, mas me deixe a par de como você vai indo.
- Tudo bem. Eu não vou sumir, pai.
Snape deu um raro sorriso. Desde que Harry derrotara Voldemort, ele passara a chamá-lo de pai – e aquilo tivera um impacto que Snape jamais tinha sonhado. Durante alguns dias ele localizara o espelho de Ojesed dentro da escola, e a imagem do espelho trouxera uma família completa: Snape vira a si mesmo, Lílian e Harry, com cerca de três anos, no colo; em outra ocasião, ele vira Harry com cerca de seis anos, abraçado a si, sorrindo. Ele gostaria de ter podido acompanhar o crescimento de seu filho, de ouvi-lo chamá-lo de papai desde pequenininho.
Mas ele não reclamava que seu filho fosse um rapaz de 17 anos, salvador do mundo bruxo e agora o chamava de pai com naturalidade.
- É melhor você subir agora – disse o Mestre de Poções – Seus amigos vão ficar curiosos.
- Está bem. Boa noite, pai.
- Boa noite, filho.
Snape observou Harry acelerar o passo para subir na escada antes que ela resolvesse se mexer. O ano letivo que começava seria um dos mais marcantes da vida do diretor de Sonserina, tanto quanto para Harry. Os dois ainda tinham muito que se acertar e se adaptar, mas entre eles havia uma imensa vontade de fazer com que aquilo desse certo. Em menos de três meses, Snape vira sua vida mudar completamente: antes amargo e solitário, ele tinha se reencontrado com a própria mãe graças a um filho que sequer sabia que existia – e agora ele tinha uma família. Harry também, e Merlin sabia que o menino queria e precisava de uma família. Só a carência de Harry por pais de verdade explicava a rapidez com que ele tinha aceitado seu odiado Professor de Poções como pai.
E isso ele era, e seria dali para frente, para valer.
Vendo-se sozinho no corredor, Snape tratou de voltar para as masmorras, a fim de descansar para enfrentar seus alunos cabeças-ocas de manhã.
De alguma outra realidade, Lílian Potter acompanhou-o com os olhos e sorriu, satisfeita.
Fim