VIII - UM ATÉ LOGO E MAIS ESPERANÇA NOS HOMENS

Clark bebia um pouco de limonada na manhã seguinte, enquanto Martha e Jonathan o observavam, sentados à mesa da cozinha.

"O que vai ser do Hector Marsh?", perguntou Martha apreensiva, sentindo a mão de Jonathan apertar a sua. Ainda preocupava os Kent o fato da gangue toda saber do segredo de Clark e poder um dia escapar e ir novamente atrás do filho. Já que, inclusive, sabiam da sua fraqueza.

"Seqüestro é crime grave, e eles cometeram muitos assassinatos a caminho de Smallville", comentou Clark. "A xerife me contou que a promotora responsável pela acusação vai pedir pena de morte para Hector, enquanto seus comparsas podem pegar prisão perpétua. As provas são todas favoráveis nesse sentido".

Jonathan e Martha respiraram aliviados. Justiça seria feita.

"Tenho pena dele", disse então Clark. "Ele só queria vingar o irmão".

Seus pais então o encararam, confusos. Depois de tudo o que Hector havia feito com ele, seus amigos, e como se não bastasse, as pessoas que devem ter sido mortas por ele e seu bando, nada mais obvio que ele cumprisse sua pena.

"Não sei o que é ter um irmão", justificou Clark. "Acho que até entendo um pouco a ira de Hector".

"Mas o que ele fez foi errado, filho", disse Jonathan. "Você jamais faria algo errado para vingar os erros de um irmão seu, mesmo que fosse seu irmão".

"Sim, eu sei", retrucou Clark, pensativo. Nesse instante, pensou em Diana. Era a figura mais próxima a si e que poderia comparar a uma irmã. Afinal, era sua igual. Embora fosse de outro lugar que não Krypton, Clark tinha por ela grande afeição, pois, além de suas habilidades, ela havia se mostrado extremamente benevolente ajudando-o, por mais que não confiasse nos homens, e sem ao menos o conhecer, pelo simples fato de que ela sabia que era a coisa certa a se fazer. E como se seus pais pudessem ler sua mente naquele instante, Martha perguntou:

"E Diana?"

Clark a olhou firme, respondendo apenas com sua expressão de desconserto e uma vaga tristeza de não poder mais ter aquela pessoa especial para compartilhar seu segredo. Uma nova amiga que poderia finalmente entende-lo, havia partido.

Mais tarde, no loft, Clark admirava o pôr-do-sol, pensativo. Todos aqueles acontecimentos ainda estavam frescos na sua cabeça. Os perigos que seu segredo podia causar nas pessoas que amava, seus amigos, sua paixão. O quanto ainda precisava tomar cuidado, e não se expor. Preocupava-o, ainda, o fato de Hector poder querer se vingar, e sabendo da sua fraqueza, o quanto poderia ser perigosa sua volta. Mas o que mais tomava conta dos pensamentos turbulentos de Clark Kent naquele momento, era o fato de existir alguém como ele. Ficou lembrando do episodio na ponte, da disposição de Diana em ajuda-lo, e da sua batalha interna para tentar entender os homens. Clark sorriu. Essa também era sua batalha interna.

"Uma das coisas que mais gosto no seu mundo é o pôr-do-sol".

Clark se virou e sorriu ao ver Diana subindo os degraus das escadas do celeiro, carregando sua mochila, provavelmente pronta para ir embora. E ele se perguntou porque ela ainda não teria ido.

"Queria me despedir, Clark", disse ela, como que adivinhando seus pensamentos.

"Obrigado por me ajudar", comentou ele.

"Não tem de quê", disse ela, sorrindo e olhando ao redor. "Então essa é a sua Fortaleza da Solidão?", perguntou ela.

Clark sorriu.

"Por que você não fica mais em Smallville?", perguntou ele. Imaginou que seria interessante ter alguém como ele por perto por mais algum tempo. Poderia aprender muito mais sobre ele com uma pessoa com habilidades semelhantes, por mais que não se tratasse de uma krytoniana, mas uma amazona da Ilha Paraíso. "Pode ficar aqui conosco".

Diana sorriu.

"Minha jornada ainda não acabou Clark", respondeu ela. Clark a olhou com ares de dúvida, e um pequeno sorriso no canto dos lábios. Achava que, depois de tudo o que aconteceu, ela devia ter aprendido a ter um pouco mais de fé nos homens. "Só ficou mais interessante", continuou ela.

E antes que Clark perguntasse o porque, ela disse:

"Gostei do que fizemos por aqui, Clark. Reconheço que duvidei demais da capacidade de homens e mulheres trabalharem juntos. Não apenas por juntos termos evitado que aqueles caras fizessem mal aos seus amigos. Vi também o que seus pais são, e que você é o que é não pelos seus poderes, mas pelas coisas que aprendeu com eles. Os dois. Homem e mulher. Incrível que essas duas pessoas tão diferentes possam fazer juntas", ao dizer isso, Diana olhou firme para Clark. Referia-se a ele. "Depois disso tudo, tenho mais esperança nos homens", continuou ela. "Tenho certeza de que ainda vou ver muitas pessoas boas como vocês por ai".

"Também tenho certeza disso", concordou Clark.

"Aprendi com vocês a acreditar mais nas pessoas", disse ela.

"E o que você vai fazer agora?", perguntou ele.

"Vou vagar por ai", respondeu ela. "Ajudar as pessoas com as minhas habilidades", ao ouvi-la dizer isso, Clark se preocupou, afinal, tal fato poderia expo-la, mas então ela prosseguiu: "Claro, usando-as secretamente... Pelo menos, por enquanto".

"Acha que um dia poderá usar suas habilidades se expondo?", perguntou ele, curioso em saber a opinião dela, já que a sua já estava formada.

Diana ficou pensativa, e respondeu:

"Não temos do que nos envergonhar, Clark. Se podemos fazer o bem com o que temos à pessoas de bem assim como seus pais, que dão o melhor de si todos os dias, devemos faze-lo. Além do mais, seria um grande desperdício se não pudéssemos dar o mínimo do que temos para ajudar criaturas tão controvertidas e fascinantes como os humanos". E, enquanto ajeitava a mochila nas costas, completou: "Espero que um dia voltemos a trabalhar juntos, Clark Kent".

Clark apenas sorriu, ainda pensativo nas ultimas palavras da visitante de Amazonia. Diana retribuiu o sorriso e lhe deu as costas, indo embora, não sem antes se virar e sorrir-lhe mais uma vez. Foi quando Clark teve certeza de que voltaria a vê-la um dia.

FIM