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PARTE I - DEMÔNIOS DA NOITE

Era sexta-feira, e em frente ao Wild Coyote, quando a noite estava apenas começando, um grupo de motoqueiros que viajava há muito tempo, dirigindo suas Harley-Davidson's, estacionou-as em frente ao bar. Estavam dispostos a descansar da viagem, tomando o quanto pudessem. Quando entraram, os sete motoqueiros chamaram a atenção de todos que estavam bebendo e dançando. Eram grandes e se vestiam como típicos harleyros, com suas jaquetas e calças de couro preto. Alguns eram carecas, outros tinham cabelos compridos e vestiam lenços na cabeça. Nas costas de suas jaquetas, havia um emblema, o nome do grupo: "Demônios da Noite". O dono do bar logo os reconheceu, assim como alguns outros frequentadores, que não hesitaram, e foram saindo aos poucos, tão logo os recém-chegados se afastaram da porta da entrada e se aproximaram do bar.

Mike Tunney, dono do bar, era alto e encorpado. Tinha, atrás do seu balcão, um enorme taco de baseball. Sabia, porém, que aquilo não seria suficiente para enfrentar os Demônios da Noite, caso precisasse. E Tunney realmente não queria ter que precisar fazê-lo. Encarando-os, sem medo, foi o mais gentil possível, quando o líder do bando aproximou-se:

"Hector", disse ele. O motoqueiro consentiu, como se permitisse que o chamasse pelo primeiro nome. "O quê vão querer?", perguntou, então, pensando o bastão de baseball, que estava bem abaixo da caixa registradora.

"Uma tequila para mim e cerveja para todo o resto do meu pessoal", disse ele. Hector tinha uma voz imponente e todos se calavam enquanto ele falava, como se fosse o senhor absoluto. Era adorado e venerado pelos membros da sua gangue, composta, na sua maioria, por renegados.

Enquanto os Demônios da Noite expulsavam alguns fregueses de uma mesa onde todos eles pudessem se sentar, Mike ordenou que seus garçons tratassem de atendê-los o mais depressa possível e que dessem preferência para eles, já que tinham a fama de quebrar o pescoço de alguém por qualquer motivo banal.

"E, então, Hector?", perguntou Slash, o braço direito do líder do grupo, enquanto bebiam sua primeira rodada de drinques. "Agora que voltamos para essa porcaria de cidade, o quê vamos fazer?"

"Vamos vingar o Eric (01), como planejamos", respondeu ele, cujos olhos negros e sem brilho se escondiam por trás dos cabelos castanhos compridos e embaraçados.

Os Demônios da Noite observavam seu líder tomar de uma só vez sua tequila, e depois que ele limpou a barba com a manga da jaqueta, disse:

"Vamos esmagar aquele garoto que colocou meu irmãozinho atrás das grades".

Slash, que flertava com uma garota que estava ao lado de uma máquina de jukebox, e que estava apavorada demais com o bando de selvagens, perguntou:

"Como é mesmo o nome do babaca?"

Com as mãos sobre a mesa, Hector brincava com o anel de prata que usava num dos dedos, e que tinha uma pedra verde-esmeralda, que ele usava, e com o olhar perdido, disse:

"Clark Kent".

"Aqui está", disse Frank, um dos garçons do Wild Coyote, trazendo mais uma rodada de drinques para o bando.

Enquanto Hector ainda estava com o olhar desorientado e seu amigo Slash apenas tentava acompanhar seus pensamentos, o jovem garçom, que os servia, e conhecia a estória da família Marsh, comentou:

"Soube o que aconteceu, Marsh", disse ele. Hector levantou os olhos e todos os Demônios da Noite pararam de falar entre si, e largaram seus copos sobre a mesa. Antes, porém, que desse conta de que havia dito alguma besteia, Hector perguntou:

"O quê você soube?"

O garçom ficou um tanto desnorteado, e quandojá não sabia mais o quê dizer, Hector se levantou e caminhou na sua direção. Todos os demais Demônios da Noite se levantaram, e Mike, que do bar percebia que algo terrível estava para acontecer, telefonou para a Delegacia de Polícia.

Encurralado num canto do bar, o garçom não viu outra alternativa a não ser prosseguir com seu estúpido e inoportuno comentário:

"Do seu irmão, Eric".

"O quê tem ele?", vociferou Hector.

"Que ele tentou se matar no centro de reabilitação para delinqüentes juvenis e acabou internado no Sanatório Belle Reve".

Hector deu então um grunhido e com um simples tapa fez o jovem garçom voar por cima da mesa. Alguns fregueses, grandes e encorpados, acostumados com as brigas no Wild Coyote, mas que, no entanto, ainda não conheciam a reputação do bando de Marsh, aproximaram-se, e em protesto à agressão contra Frank, reagiram em seu nome. Mas os Demônios da Noite eram incrivelmente mais fortes. Eles atiravam seus oponentes longe, com incrível facilidade. Mike pulou por cima do bar, com seu bastão de baseball, e Slash simplesmente arrancou-o de sa mão e o partiu ao meio. Antes que Mike pudesse reaagir, Slash ainda o pegou pelo pescoço e o levantou para o alto, esganando-o.

"Esperem!", gritou Hector, como se fosse o rugido de um leão enraivecido.

Todos pararam de lutar. Havia feridos por todo lado. Mulheres choravam histéricas, enquanto muitos já tinham saído do bar. Slash abaixou Mike Tunney, mas sem tirar a mão do seu pescoço, ouviu atento seu líder:

"Isso é apenas um recado", disse ele, olhando para todos no estabelecimento. "Avisem a todos: os Demônios da Noite estão de volta e essa cidade vai incendiar!", gritou ele.

Hector deu uma risada enlouquecida e todos os membros de sua gangue também riam doentiamente, enquanto saiam do estabelecimento em meio às pessoas que se arrastavam pelo chão, como se fossem sobreviventes de um campo de batalha.

Continua...

...

NOTA:

(01) Eric Marsh, do episódio "Witness", da segunda temporada, #2.20.