BRANCO

PARTE VI - AMIGOS PARA SEMPRE

Clark, Corey e Selena aguardavam na sala de espera do consultório veterinário que ficava no centro de Smallville. Corey estava visivelmente abalado, envolto dos braços de Selena, que, pela primeira vez em muito tempo, via toda a fragilidade do filho vir à tona. Lembrou que, nem mesmo quando se separou de seu pai, viu-o chorar. Clark os observava e pensava o quanto era importante que eles saíssem de Smallville, antes que Lionel Luthor mandasse outro de seus capangas para se certificar de que o serviço foi completo, já que o primeiro estava morto.

"Sra. Eaton", disse a médica-veterinária, vindo da sala de cirurgia. Todos se levantaram, ansiosos pelas notícias de como estava Buddy. "Ele está bem. Extraí o projétil e ele está adormecido, recuperando-se, no pós- operatório".

"Posso vê-lo?", perguntou Corey, mais do que depressa.

"Claro", disse a médica, com um sorriso, abrindo uma porta de empurrar e chamando sua assistente. "Janice, leve-o para ver o cão que acabamos de operar".

Corey seguiu a simpática assistente e Clark e Selena ficaram aliviados. A médica, no entanto, parecia preocupada. E seu olhar deixou Clark intrigado, como se ela tivesse descoberto alguma coisa em Buddy.

"Vocês fizeram queixa na delegacia?", perguntou ela, que, ao recebê-lo, soube apenas que o cão havia sido baleado por um suposto assaltante.

"Nem tivemos tempo para isso", respondeu Selena, prontamente.

"Pois deviam fazer", disse ela. "Não queremos que isso volte a acontecer por aqui".

"Claro", concordou Selena.

Quando a médica saiu, ela se sentou e Clark também.

"Vocês precisam deixar Smallville", disse ele.

"E vamos para onde?", indagou ela, ainda confusa.

"Não sei, Sra. Eaton", respondeu ele. "Mas quem está atrás de Buddy pode querer voltar".

Selena sorriu. Era um sorriso amargo.

"Eu queria que nada disso tivesse acontecido", disse ela, de repente. "Queria que nunca tivéssemos encontrado o Buddy".

Clark desviou o olhar. Era um pensamento sensato, porém, injusto, a julgar pelo amor que Corey tinha por aquele animal.

"Por outro lado", continuou ela: "nunca estive tão próxima do meu filho como nesses dias".

Clark sorriu.

"Esse animal é mesmo muito especial", disse ela. "Mais do que inteligência, é como se ele tivesse emoções humanas e sabendo que alguma coisa não anda bem, faz todo o possível para ajudar ou melhorar".

Clark concordou. Havia muito mais coisas sobre Buddy, que eles ainda não sabiam e, provavelmente, jamais saberiam.

...

Duas semanas haviam se passado. Depois de também visitar Buddy, que se recuperava gradativamente, sob internação, Clark ajudou os Eaton na sua mudança. Estavam indo para Greenville. Jonathan e Martha Kent, que já haviam voltado de Metropolis, também os ajudavam. E a mãe de Clark preparou- lhes umas tortas para levarem durante a viagem, que seria longa. Jonathan colocava a última mala de Corey na carroceria da caminhonete de Selena, enquanto Clark conversava com Corey.

"Quero que me telefone se tiverem algum problema", disse ele.

"Certo", disse Corey, olhando para Buddy, que estava no banco do carro, e que viajaria no banco da frente com ele e sua mãe. Buddy os observava com atenção, com o tórax ainda imobilizado. "Ele gosta de você".

"Também gosto dele", disse Clark. "É uma criatura muito especial".

Clark então olhou para a mãe de Corey que agradecia Martha e Jonathan pela ajuda, e depois disse a Corey:

"Mantenha contato, certo?"

Corey consentiu e os dois sorriram.

Os Kent observaram a caminhonete de Selena sumir rua abaixo, onde seguiriam para a estrada que dava acesso à Greenville.

"Espero que dê tudo certo para eles", disse Martha, enquanto Jonathan a abraçava pelos ombros.

Clark olhou para sua família, e viu como era importante ter alguém, e como Corey havia descoberto isso. Sorriu e teve certeza de que um dia voltaria a vê-lo.

...

Lex Luthor estacionou seu porsche cinza em frente ao Centro Veterinário de Smallville. Tirou os óculos escuros e olhou a fachada do estabelecimento, que ficava quase no centro de Smallville.

"Por gentileza, quero falar com a Dra. Morgan", disse ele à recepcionista, assim que entrou.

Na verdade, sabendo que o cão branco que havia fugido do laboratório subsidiado pela LuthorCorp havia sido internado naquela clínica veterinária, Lex pretendia obter algumas informações. Imaginava que a médica-veterinária pudesse ajudá-lo. Enquanto a esperava, ouviu sussurros por trás da porta.

De repente, enquanto olhava os quadros com figuras de animais, viu a médica vir recebê-lo. Ao vê-la, porém, já não sabia mais como agir.

"Lex Luthor", disse ela, com o tom de voz de quem o conhecia há anos.

Ele apenas sorriu e balançou a cabeça.

"Lisa?", indagou ele, simplesmente, ainda incrédulo.

Em suas lembranças, ela continuava a mesma coisa. E aquele sorriso que ela lhe retribuía era o mesmo de alguns anos antes. O semblante continuava radiante. E Lex só conseguia pensar como havia perdido contato com ela. Sua única amiga. Lisa Marie Lawless. E lembrou do nome que agora ela usava: Morgan. Procurou em sua mão, uma aliança, que pudesse confirmar, mas ela não usava nenhuma, e antes que ele pudesse dizer qualquer coisa que rompesse com aquele silêncio desconsertante, ela perguntou o que ele queria.

Acreditando que falar de um de seus mais recentes pacientes não seria apropriado àquela situação tão surpreendente quanto agradável, ainda assim, Lex perguntou do cão pastor albino, já que, aparentemente, não havia nenhuma outra explicação em mente que pudesse justificar sua presença ali.

"Bem, eu atendi um animal com essa descrição", respondeu ela, colocando as mãos nos bolsos do jaleco. "Por quê?"

Lex sorriu. Não acreditava que depois de tantos anos falavam como dois desconhecidos.

"Sabia que eu estava em Smallville?", perguntou-lhe ele. Na verdade, Lex ainda estava bastante surpreso. Não conseguia imaginar que um dia pudesse revê-la.

Lisa desviou o olhar e sorriu.

"Cheguei aqui primeiro", disse ela, referindo-se ao fato de que jamais teve a pretensão de estar na mesma cidade que ele se soubesse que ele já estava nela. Lex disfarçou, como se não tivesse interpretado aquele comentário tal como ela pretendia.

"E nunca me procurou?", indagou ele, insistente.

Lisa olhou para a recepcionista que disfarçava estar fazendo alguma coisa, mas que parecia visivelmente atenta à conversa, e disse:

"Acho que agora não é uma boa hora para falarmos disso".

Lex sorriu, como se concordasse.

"E que eu me lembre, você queria saber de um paciente meu", continuou ela.

"É, eu soube o que aconteceu", comentou Lex, referindo-se ao incidente que vitimou o cão branco, informação esta, aliás, que ele obteve por meio de um dos seus seguranças. "Como conheço a pessoa que o trouxe, achei que podia ajudar", mentiu.

"Não. Ele já teve alta. E se você conhece o sujeito que o trouxe, talvez ele possa ajudá-lo melhor do que eu", disse ela.

Lex sorriu, um tanto constrangido, como se concordasse com a dedução dela e achasse por demais de inapropriada sua visita ali. No entanto, enquanto ela se virava para verificar sua agenda com a recepcionista, acreditando que ele já podia estar indo embora depois dela dizer aquilo, e da forma como disse, Lex se aproximou:

"Podemos conversar?"

Ela se virou e o encarou com seus grandes olhos azuis esverdeados.

"Acho que não temos muito o que conversar", disse ela, com um brilho diferente no olhar.

Lex estava impressionado. Havia se passado um pouco mais de oito anos desde a última vez que a viu, e ela continuava a mesma pessoa: irredutível. E isso apenas confirmava o quanto a amizade deles havia sido significativa, pois era sua genialidade que mais o agradava.

"Então está bem", disse ele, tirando os óculos escuros do bolso do casaco. "Desculpe o transtorno".

Lex Luthor lhe deu as costas e saiu pela porta do consultório. Lisa ficou observando-o através do vidro, enquanto ele entrava no seu prosche e ia embora.

"Você o conhece, Dra. Morgan?", perguntou, então, a recepcionista, que sabia bem da fama de Lex Luthor em Metropolis, e agora, em Smallville.

"Fomos apenas amigos", respondeu ela, sem tirar os olhos da porta, pensativa, e com o coração apertado. "Grandes amigos".

FIM