Prólogo

            - Bom dia, senhorita Lullaby.

            - Bom dia, professora McGonnagal.

            - Acompanhe-me, por favor.

            Ela usava o cabelo bem preso no alto da cabeça. Tinha ar grave e andava rapidamente, com passos firmes. Pensei que talvez não fosse possível acompanhá-la.

            Londres estava calma naquele dia, fim-de-semana logo em seguida a um feriado. Poucas pessoas nas ruas, mas não deixamos de tomar cuidado mesmo assim. Nós duas usávamos roupas de trouxas. A professora McGonnagal trazia um fino vestido verde acompanhado de um xale preto. Eu tinha escolhido algo mais simples, calças jeans e uma camisa branca. Botas pretas, cabelo solto, uma bolsa vermelha.

            Paramos em um beco. Casas velhas, mal cuidadas e com lixos na entrada não pareciam convidativas. Recebi um bilhete das mãos da professora: "A sede da Ordem da Fênix localiza-se no Largo Grimmauld, número 12".

***

            A cozinha estava com um clima pesado. Não poderia ser diferente. Tinham acabado de me contar tudo, como funcionava a Ordem, o que tinham feito até então.

            - Eu li sobre uma possível organização secreta. Tem gente que desconfia, mas nada próximo do que eu acabei de descobrir, da organização de vocês, do tempo que já estão agindo. Desde antes de o Ministério reconhecer a volta de... Vocês-Sabem-Quem.

            - Eles encobertaram por muito tempo a verdade. – Dumbledore falava calmamente, sempre simpático. Não se parecia em nada com a imagem de velho louco que fizeram dele.

            - Eu nunca acreditei, devo dizer. Afinal, muitas vezes vi histórias e fatos serem cortados da edição final do Profeta Diário. Quando Harry Potter foi atacado por dementadores, por exemplo.

            - É bom termos uma aliada na redação do jornal, senhorita Lullaby. O Ministério manda o que deve e o que não deve ser publicado. – a voz suave era de Remo Lupin, um jovem loiro de aparência muita cansada, mas tão simpático quanto Dumbledore.

            - Sua missão é trazer para nós o que não for publicado. – essa outra voz me causou certo receio. Vinha de homem alto, moreno, de cabelos longos e expressão fechada. Foi apresentado como Severo Snape, professor de poções de Hogwarts.

            Durou pouco tempo a reunião. Fui informada de que algumas crianças chegariam à sede naquela tarde e elas não estavam autorizadas a sabe detalhes das missões da Ordem.

***

            - Você vai gostar muito das crianças, Diana. Vamos arrumar os quartos delas, devem chegar logo após o almoço.

            - Ninfadora...

            - Tonks. Por favor, me chame de Tonks.

            - Tonks, eu... Eu estou um pouco tonta. – sentei nos primeiros degraus das escadas, Tonks estava mais à frente e voltou para me amparar.

            - Sei bem o que é isso, Diana. Você acabou de entrar num mundo confuso. A Ordem é como um universo paralelo, aqui você não é mais a mesma pessoa, você é uma agente trabalhando disfarçada. Sua vida deu um giro, você só está sentindo os efeitos. – ela me ajudou a levantar, sorrindo.

            A porta da sala abriu-se bruscamente. Gritos horríveis encheram o lugar.

            - É a dona da casa. Aquele quadro irritante berra cada vez que os Weasley entram aqui. Venha, venha ver as crianças.

            - Elas... Chegaram antes do combinado. – eu tentei achar um assunto depois do susto que levei com os berros. Lupin tinha conseguido fazer a velha maluca parar.

            - Meninos, essa é Diana Lullaby, nossa nova companheira na Ordem. Diana, estes são os Weasley, Gina, Rony, Fred e Jorge, e esta é Hermione Granger.

            - Muito prazer. – a menina Granger foi a primeira a me cumprimentar. – Conheço seu nome, seu avô foi um grande bruxo do Ministério e seus pais são fundadores de uma escola de magia na América do Sul, não? Ah, sim, você é jornalista do Profeta Diário!

            Fiquei espantada.

            - Você andou fazendo sua lição de casa, Hermione. – Tonks comentou.

            - Essa é a Mione. – Rony Weasley acrescentou, erguendo os ombros. – Pare de assustar as visitas! – murmurou para ela.

            - Ah! – Hermione deu um berro e desapareceu pela porta da cozinha.

            - Não foi problema algum. Não é raro mencionarem a minha família.

            - Precisamente porque a senhorita descende de uma linhagem muito nobre de bruxos. – a mesma voz grave e um pouco assustadora. 

            - Ah, professor Snape... Sim, sim, somos bem conhecidos. Talvez isso tenha evitado os gritos daquela louca senhora no quadro!

            - Não duvido. – Tonks riu.

            Hermione voltou da cozinha a tempo de me livrar da embaraçosa conversa a respeito das glórias e do nome de minha família.

            - Molly pediu que todos fossem almoçar.

            - Eu já vou embora. Ahn... Tonks, você lacra a porta após a minha saída?

            - Claro, Severo. Vão indo para a cozinha, eu já irei para lá.

            Comecei a acompanhar o grupo até a cozinha, mas ainda não me sentia totalmente à vontade só com as crianças. Resolvi ficar para trás e esperar por Tonks. Talvez não devesse ter feito isso. Ela não tinha acompanhado o professor até a porta apenas para lacrar a porta. Eles se beijaram. E eu vi. E Tonks me viu! Que vergonha, que vergonha, logo no primeiro dia, logo a Tonks, que tinha confiado em mim.

            Mas ela não pareceu se importar. Viu que eu estava lá por cima do ombro de Snape que, por sorte, estava de costas para o corredor. Piscou para mim e despediu-se dele. Depois de fechar a porta, veio até onde eu estava.

            - Não comente com ninguém...

            - Não! Não, claro que não! Desculpe, eu deveria ter ido para a cozinha mas, olha, eu não vou falar nada, prometo...

            - Calma, calma! – ela ria. – Eu também me arrisquei demais. Não precisa ficar constrangida, eu confio em você.

             Ela puxou-me pelo braço até a cozinha. Comecei a sentir mais simpatia pelo local, pelas pessoas e pela idéia de fazer parte da Ordem.

            No fim do almoço, um homem tímido e muito gentil me chamou para conversar. Era Arthur Weasley.

            - Senhorita Lullaby, receio que sua participação na Ordem não vai limitar-se à tarefa de espionar a redação do jornal. Não queremos desperdiçar seus poderes, ouvi ótimas recomendações da senhorita.

            - Obrigada.

            - Bem, diga-me, o que a senhorita sabe sobre vira-tempos?

            - São objetos fantásticos, que permitem que se volte no tempo.

            - Sim, sim, muito bom. – Hesitou por um instante, percebi que a próxima informação seria o verdadeiro motivo da minha missão.

Pensei um pouco. Vira-tempo, volta ao passado... O que poderia significar? Para que voltar, eu, sozinha? Impedir que Vol... Você-Sabe-Quem retornasse? Sozinha, impossível! Salvar Sirius Black? Não, não... Mas Arthur interrompeu meus pensamentos:

            - E o que a senhorita sabe sobre Lílian e Tiago Potter?

***

N/A: Em primeiríssimo lugar: a intenção foi usar uma linguagem mais leve. Algo como o diário da narradora, que, eu ainda não disse, tem mais ou menos a mesma idade da Tonks. Seria uma Brigitte Jones do mundo bruxo. E, sim, ela é puro-sangue.

Segundo: As referências ao romance de Tonks e Snape são só para fazer propaganda da minha outra fic... hehe (para quem não conhece, ela se chama Em meio à guerra e está publicada aqui no ff.net). E porque eu não admitiria separá-los.

Terceiro: Pós Ordem da Fênix.

Ah, informações de última hora: já que a J.K. usa nomes com significado, eu também fiz isso. Diana é o nome romano de Ártemis, deusa grega associada à fertilidade. Lullaby significa canção de ninar. O porquê disso? Virá ao longo da fic...