Epílogo

Enfrentei um mar de homens fardados e jalecos brancos para chegar até ela.

Em um círculo de perguntas e toques e observações eles a mantinham e para afastá-lo empurrei-os com tamanha força que cai ante seus joelhos, misturando-os com os meus, baixando sua cabeça no meu peito, perguntando em sussurros roucos porque, porque ela não havia me chamado se sabia que não havia nada no mundo que mais me importava do que protegê-la, mas Sakura só sabia sorrir, ela sorriu com os lábios colados em meu casaco velho, e sorriu quando eu falei que a amava, e que se ela estava viva era um milagre, e que eu nunca me perdoaria por não ter estado ao lado dela quando seu mundo desabara.

Nos confins de uma dor inominável ela me moveu pela sala branca e em seguida não mais sorria, mas murmurava desculpas nos pálidos lábios, e com suas mãos trêmulas afastava uns legistas desolados. O quarto minúsculo era a morte e nós estávamos vivos, mas então ela abriu o lençol, e o rosto azul de Charity tingiu todo o meu coração de negro que o fez bater mais depressa. Eu larguei Sakura e me ajoelhei diante do corpo com um talho na garganta, e não entendi, não entendera nada, o telefonema de Robin fora uma loucura, e só na palidez morta de mulher que me fizera homem eu comecei a entender.

Sakura sentou-se ao lado dela, pôs uma mão no cabelo morto de Charity, pôs a outra sobre a minha.

"Ela foi muito corajosa, muito".

Corajosa, eu não diria isso, diria apenas, com um sorriso triste, que nunca em meus anos de amor por ela, nem nos depois de ressentimento e ódio, nunca, nunca, a vira com a expressão em tamanha paz. Contei isso a Sakura. Os olhos dela se encheram de lágrimas.

"Ela morreu em paz porque fez o bem".

Sakura foi contando-me com paciência os pormenores de uma manhã horrenda e Charity que era um cadáver indigno foi de se tornando apenas uma heroína silenciosa. Todos os homens pararam para escutar o relato de Sakura. Eu o ouvia como um homem ouve a brisa do mar, entendendo mas não entendendo, acreditando mas não acreditando, sorrindo por fim, porque eu a amava, e se fosse mentira o que ela dizia, eu amá-la-ia mais ainda. "Charity soube das atrocidades do irmão, soube que ele era Jack, o Estripador, depois do incidente em Candy Pleasures, quando ele atacou Nina. Ela o seguiu. Descobriu e lutou contra ele. Mandou me chamar através da amiga Mary, que também tinha sido injustamente indiciada pelo crime... da morte de minha filha. Ficamos aqui por muito. Jack tentou nos matar. Charity morreu por isso, e Amy tomou um tiro, mas também o feriu. Ele fugiu", e então com uma força absurda, a força que estava enraizada no coração dela, gesticulou para porta. "Ao invés de nos olharem como um bando de animais de laboratório, façam o favor de ir atrás do homem que cometeu os mais horrendo assassinados de Londres, só para conseguir por as mãos no meu bordel".

Eles mexeram-se como baratas tontas, atropelando-se e partindo, como se precisassem de fato da aprovação da sobrevivente intacta daquele episódio bizarro para prosseguirem. Um deles veio tímido e pediu para remover o corpo. Sakura olhou-me e eu assenti com um movimento da cabeça.

Levaram Charity com cuidado, como se levassem um mártir de guerra.

"Ela disse no fim que eu o protegesse, me falou com todas as letras, ela queria isso, queria você muito bem".

Eu sorri; há muitos anos atrás, num bordel de tons rosas e vermelhos, num quarto escuro e envergonhado, Charity me dera a primeira dor e o primeiro dos amores. Sem ela não haveria Sakura. Sem ela não haveria um Syaoran bêbado e desesperado, atrás das sobras de atenção da mais bonita cortesã de Londres, que se enrolava nos meus braços com tamanho desamparo que abracei-a de volta.

"O nome dela".

Sakura murmurou algo contra o meu peito. "Você salvou o nome dela, Sakura", eu murmurei contra os cabelos dela.

Porque eu sabia no fundo que a nobreza de Charity era bonita porque era uma mentira. Nenhum jornalista a conhecia. Nenhum médico a vira pisar no meu coração com seus saltos inacreditavelmente cruéis. Nenhum homem naquele lugar, nem Robin que a engrandecia pela coragem de enfrentar um assassino, compreendiam Charity como eu.

Só eu sabia que de tudo que Sakura falara, as últimas palavras, as palavras dirigidas para mim, eram as únicas verdades.

Não me bateu tristeza nem raiva, porque se a mais prejudicada, se a mulher que Charity destruída quisera ser magnânima, o que eu, um detetive sem sucesso, podia fazer ou dizer.

Não sei por quanto ficamos juntos e abraçados, olhando as manchas nas paredes claras, mas por fim Robin irrompeu o silêncio, dizendo com ares preocupados que tínhamos de sair, para que fizessem a perícia. Ele convidou-me para ficar, mas eu não o ouvi. Fiz um aceno com a mão e carregando Sakura pela cintura sai pela porta.

Os policiais protegeram-nos até a saída do beco da imprensa sedenta e depois de uns bons minutos de caminhada, não estavam mais sendo perturbados. Andávamos pela aquela manhã quente vestidos em trapo. Eu tão suado de minha corrida até a alcova de Jack e Sakura em roupas manchadas pelo esforço de sua noite impossível. Já não mais segurava-se em mim a não ser pela mão, e íamos juntos pela rua de Dunny Coast, caminhando sem rumo, o único som os da agitada cidade.

Eu olhava a mão dela sobre a minha, pequena e esguia, marcada por traumas que eu jamais faria sumir. Olhava seus olhos de um verde vítreo fixados no céu, esperando uma resposta, uma resposta que eu também não podia dar. Olhava por fim seu rosto, um rosto de tamanhas nuances, emoções e expressões que meu simples esforço de decifrá-las tornava-me muito tolo.

Porque Sakura era uma mulher inalcançável. Desde a noite em que a vira dançar em cima do palco com homens loucos de desejo uivando seu nome, desde o dia em que nos atracamos numa paixão doente no meio de briga passional, eu soubera que ela não era desse mundo. Era alguém que eu amava porque estava muito acima de mim, e se eu não fora embora era porque estava enredado numa teia terrível e inquebrantável. Ela a tecera sem perceber. Colocava todos lá. Quem a amava uma vez, não deixaria de amá-la nunca.

Fora assim que ganhara a vida, espalhando seus encantos de flor usada pelos quatro ventos, atraindo clientes e tijolo por tijolo com esforço e suor erguendo sua fama. Quando se entende, como eu entendi naquela tarde absurda, que Sakura fora feita realmente para o mundo, e possuía todos os meios para atraí-lo, entende-se também que se ela o ama e se ela o quer, você é sortudo, apenas. Não fez nada para merecer.

Eu nunca fiz nada. Não a salvei de nada, não salvara sua filha, não a salvara na manhã em que ela descobriu o porquê de tudo que lhe acontecera.

Sakura, pelo contrário, transformou-me tanto que não me reconhecia. O homem que me fitava de volta no espelho, com olhos dourados astutos e lábios finos comprimidos, era um estranho. O que vivia nos becos bebendo e pensando em meios de atingi-la, ah, esse sim, eu reconhecia e buscava, porque era uma parte de mim que era esquisita, e como esquisita, curiosa, e como curiosa, um vício. Eu era viciado em Sakura, mas também era viciado no homem que ela transformara.

A certa altura de nosso passeio paramos. Olhávamos a entrada de Candy Pleasures. Era de tanta idade e decadência que se caísse ante nossos olhares pesados eu não me surpreenderia. Os tons vermelhos eram agora rosas pastéis e as janelas tremiam aos menores ventos. A despeito de tudo isso, dessa destruição que refletia muito sua dona, tantos homens entravam, tantos senhores distintos, que eu não pude deixar de perguntar-me se eles enxergavam o Candy sob uma lente mentirosa, que o transformasse num paraíso de prazeres ilimitados e mascarasse a tristeza que era ter que pagar para receber amor.

Um deles passou e cumprimentou Sakura. Ela lhe sorriu, acenando com a cabeça. Ele desviou os olhinhos de azeviche para nossas mãos dadas e por um momento pareceu imerso numa melancolia imensa e tão absurda que tive vontade de matá-lo. Tive vontade de gritar: você faz alguma ideia do que essa mulher passou? Faz alguma ideia do quanto lhe custa curvar os lábios e sorrir um sorriso que não quer, apenas porque precisa de seu dinheiro para viver? Você faz alguma ideia da tristeza que ela sentiu, então, senão não faz, pode ir embora, porque a sua melancolia não é nada. É uma melancolia que se envergonha de olhar para o abismo dentro do peito de Sakura.

Como se sentisse a força de meus pensamentos, o cavalheiro com suas nobres roupas e nobres trejeitos deixou de nos olhar e entrou no bordel.

"Sakura", eu ia dizer, precisava dizer, precisava arrancar o sorriso falso que ainda marcava sua boca.

Mas ela fez que não. Ergueu de leve o pescoço para o letreiro bambo do que era por vinte quatro anos seu lar.

"Quer entrar?".

O que a minha pergunta fez, eu não sei. Ela virou todo o seu corpo para mim. Pegou meu rosto entre as mãos e eu não mais enxergava Candy Pleasures, a morte ou a loucura. Eu só enxergava-a.

Era linda. A mulher mais bonita do mundo. A rainha do Candy Pleasures.

Pergunte-me de novo, ela falou, os lábios próximos aos meus. Pergunte-me se eu quero entrar.

Eu perguntei com meu coração e alma; porque se Sakura quisesse entrar agora, quisesse ficar sempre, Candy Pleasures também seria meu lar, pelo resto de meus miseráveis anos.

Que seriam muito mais miseráveis, se fossem longe dela.

Pergunte-me de novo.

"Você quer entrar?".

Os olhos verdes consumiram-se num fogo que antes eu pensara estar extinto.

Ela sorriu.


Era um grande espetáculo, afinal. O Candy há anos não estava lotado como naquele fim de dezembro. Depois do sumiço de Jack, o Estripador, as prostitutas pararam de temer andar pela rua, e as noites boêmias nunca haviam fervilhado tanto.

Espiou com seus olhos claros pela fresta das cortinas vermelhas. O pianista tocava muito bem, admitia a contragosto, mas não era Matt, não tinha seu talento nato e nem sua tocante suavidade. Lembrou-se com um sorriso que no dia da partida do pianista pedira a ele que deixasse no bordel suas habilidades extraordinárias, e ele sorrira muito encabulado. Nina, ao seu lado, grávida de seis meses, disse sorrindo que ele voltaria ao bordel para ensinar quem quer que fosse o pianista. Claro que nunca voltaram. Foram viver numa aldeiazinha perto do mar, em Yorkshire. Se foram felizes, ela não sabia. Mas sabia que nunca teriam sido felizes se ficassem no Candy.

Os homens batiam palmas e gritavam seu nome. Olhou um por um, esquadrinhando as mesas com toalhas vermelhas, percebendo os rostos de sempre. Costumava comentar com as meninas que o mudava eram os ternos e os cabelos, todos os cavalheiros de Londres tinham o mesmo nariz arrogante, o mesmo lábio mordendo um charuto, a mesma cartola de elegância, ainda que o lugar fosse um bordel. Como era sua noite de apresentação, choveriam convites para passar a noite. Ela como dona do Candy dormiria com que lhe apetecesse; um privilégio, por assim dizer.

Ela sabia quem queria.

Sentado na última mesa, bebendo um uísque âmbar como seus olhos, estava o único homem que a teria na noite. O único.

"Pode entrar", sussurrou Mary, sorrindo. Ela voltara ao Candy com uma disposição incrível. Não, não gostava de ser prostituta. Mas também não gostava de passar fome. Com o passar das semanas tornara a ser bonita e viçosa, e fazia muito sucesso.

Não era o destino que esperava para ela, porque era muito boa de coração, e possuía uma inocência que não era compatível com a sujeira de Londres. Mas lembrando dela magra e com os olhos fundos numa cama de hospital, agradecia aos céus que ao menos em pé ela pudesse ficar.

O palco não era estranho. Eram como companheiros de longa data. Ela sabia onde pisar, ele sabia onde iluminá-la. Ela cantou uma famosa canção em francês, foi dançar nas mesas, foi beijar uns rapazes bobos – e ricos, o que importava, afinal – foi passar dançando seu quadril para o homem que queria, ele bebia a bebida com os olhos apertados de saudade, ela sorria, sorria porque ele estava ali, porque ele nunca ia embora. Ela também não iria nunca, se pudesse tê-lo para sempre.

O que uma mulher faz ao um homem, só uma mulher da vida pode compreender.

Quando terminou de cantar L´amour est um oiseau rebelle foi para o camarim para sua terceira muda de roupa. Os cachos ruivos tombaram nos seus ombros, ela os afastou, deixou-os do modo que ele gostava – ele sempre sorria quando dizia que não havia nada mais cheiroso na terra do que seus cabelos cor de fogo e foi para o salão novamente.

Cumprimentou os homens que tinha que cumprimentar, e com o olhar ia indicando a eles as moças que os serviriam. Muitas já iam se achegando com seus perfumes fortes e seus lábios pintados, Mary indo encontrar-se com um príncipe. Não podia evitar, a cortesã sempre a favorecia, Mary era muito gentil para ficar na mão de um velho crápula qualquer.

Quando por fim conseguiu se afastar de todos sem parecer rude, inclinou-se na mesa do homem. Ele vestia as roupas de sempre: um casaco marrom, uns sapatos não muito bons, uma gravata de uma cor neutra, um uísque que combinava com tudo isso. Tocou os cabelos que caíam na sua testa. "Está bonita".

Sorriu enormemente. Era um elogio sincero, e quando se vive num mundo de prazeres pagáveis, não se espera ouvir isso a menor que tenha que dar algo dela.

Ela já dera o coração, há muitos anos, a primeira vez que ele batera na porta do Candy Pleasures.

"Estou lembrando da primeira vez que a vi cantar. Foi essa música, não é? Não sou muito bom com francês", ele admitiu naquele sorriso dele que nunca chegava ao olhos. "Mas você está dizendo que o amor é um pássaro rebelde... é isso, não é?".

"E que ele é filho da boêmia", os olhos dele escureceram quando se desviaram para seus cachos soltos, para seu decote generoso, para a sua pele de cetim. Ele tocou-a na base pescoço, ela estremeceu. "Sobe comigo", falou num murmúrio.

Ele puxou-a pela mão e levou-a até as escadarias; beijou-a como se não pudesse encontrar fim que não fosse o gosto dela no seu.

"É tão absurdo...", falou entre os beijos.

"O que é absurdo, amor?", ele perguntou, já tirando o casaco, já mergulhando o nariz no cabelo dela, aspirando, embriagando-se.

"Eu nunca... nunca...", a mão dele invadiu suas saias, ela conteve um gemido rouco. "Nunca imaginei que teria uma história tão parecida com a de Sakura".

Ele subiu a cabeça para encarar seus olhos. "Isso de novo, Kate?", sorriu, acariciando-a na bochecha. "Você sempre diz isso quando vamos pro quarto e sempre me conta essa história, de novo, e de novo... e de novo...".

A prostituta deu de ombros, sorrindo levemente. "Que culpa tenho eu, John, que culpa, eu acho realmente absurdo. Você não sabe...", ele revirou os olhos, John já conhecia a história, mas Kate iria contar de qualquer jeito. "Quem os visse, nos últimos meses... o chinês bebendo horrores, ela no palco fingido ignorá-lo, ainda sim, bastava um olhar, um simples gesto, e os dois sumiam, era como se estivessem juntos, em outra realidade. A vida deu um jeito deles ficarem juntos, sabe? Não tinham mais ninguém".

"Como nós", ele falou, beijando seu ombro desnudo. "E o que aconteceu com eles?", ele também conhecia o fim da história, mas quando Kate contava-a, seus olhos adquiriam tamanho brilho e alegria que ele deixava-a dizer, apenas para vê-los assim.

Ela tornou a sorrir, lembrando-se da cena. Sakura e Syaoran saindo do Candy, sem nenhuma bagagem ou muda de roupa, ele sorrindo exultante, ela lhe entregando em mãos as chaves e o domínio do Candy. "Eles fugiram, o que mais podiam fazer. Tomaram o primeiro navio para a China".

"Está sugerindo que devemos fugir?", ele pegou-a no colo, fazendo-lhe cócegas na cintura. Ela riu.

"Não... Sakura me passou uma grande responsabilidade. Vou cumpri-la até achar alguém que possa fazer tão ou melhor que eu".

John assentiu, ele também tinha sonhos. Um dia teria dinheiro. Um dia seria um médico profissional. Um dia tiraria Kate do bordel e seriam delas as historias que se ouvia no submundo do prazer, junto da cortesã de olhos verdes que fugira com o chinês para uma terra onde o sol nascia e onde as pessoas podem tentar reconstruir vidas despedaçadas.

Kate foi sendo carregada escada a cima, abraçada ao seu grande amor, olhando para os fins dos degraus, pensando que aonde quer que Syaoran e Sakura estivessem, eram livres e juntos.

Que Sakura ganhara o amor porque perdera tudo, que ela era uma exceção bonita de um mundo triste, um mundo que usava espartilhos e vestidos vermelhos para mascarar a solidão de quem paga para ser feliz.


FIM

Depois de seis anos, eu finalmente apresento a vocês o fim de Candy Pleasures.

Eu comecei a história da cortesã Sakura quando eu tinha catorze anos. De óbvio que eu não sabia no que estava me metendo. Candy Pleasures tornou-se um grande projeto para mim; em parte por meu amor desenfreado por SCC na época e em parte porque o submundo londrino do século 18 sempre me atraiu. Eu fiz pesquisas, claro, mas com catorze anos eu não entendia muita coisa, e fui guiando-me muito mais pelos meus sentimentos do que por fatos históricos concretos.

Jack, o Estripador, e suas vítimas são os únicos personagens reais de minha história. E quando eu digo reais, digo que me baseei neles, e peguei emprestado seus nomes. Está muito acima de mim especular qualquer destino para Jack, mas eu quero que vocês entendam que fui fiel a sua fuga. Nunca descobriram onde Jack, o Estripador, estava. Na verdade, nunca descobriram sua identidade. O que eu fiz foi acrescentar um motivo para suas matanças e para sua partida. Em minha opinião, ele é um personagem fascinante na história mundial. Um homem capaz de tantas atrocidades e ter saído ileso é um fato difícl de compreender, e apesar de revoltante, também nao deixa de ter seu fascínio. Foi um honra trabalhar com ele, e é também um honra dizer que ele foi sem dúvida, um dos meus personagens favoritos.

Outro dos meus personagens favoritos foi Charity. Por ela ser de minha criação, desenvolvê-la foi um processo lento e que me deu tanto prazer que foi por causa dela que comecei a escrever originais e passei a demorar tanto para atualizar CP. Charity teve o fim que mereceu, eu acredito. Morrer era o jeito. Mas eu gostei de ter dado uma chance de limpar seu nome. Entendam, a policia era boa, mas não era capaz de descobrir se Charity tinha envolvimento nos assassinatos; o que foi uma deixa para Sakura salvar sua reputação. Falando sinceramente, Sakura era muito humana, e Charity era ruim – não psicopata. As circunstâncias que a botaram como inimigas seriam as mesmas que a botariam como amigas, em outro bordel, em outra vida. Charity foi como um bebê adorável para minha natural predileção aos vilões. Um dia eu ainda farei uma história em um personagem secundário triunfe, juro!

Quanto a Syaoran e Sakura, o nosso casal de protagonista, eu sinceramente não tenho muito o que dizer, e prefiro muito mais suas conclusões. Apesar de eu não gostar mais de Sakura Card Captor como antes – sempre gostarei um poquinho, afinal, foi um dos primeiros animes que assisti e razão para eu ter entrado no mundo dos fics – gostei do modo deles, principalmente de Sakura. Ela foi muito forte, e eu acho que isso que mais importa numa protagonista. Eu sempre fico com raiva quando leio uma história ou assisto um filme e a protagonista é fraca, esperando a salvação de um homem. Por isso, Sakura lutou por sua vida e por fim, pela liberdade de viver com Syaoran. Se eles foram felizes? Eu não sei. A vida não era feliz para quase ninguém naqueles anos. Se eu pudesse apostar, seria apenas que Syaoran nunca deixou de amar Sakura, até o fim de seus dias, e que ela o amava com metade de seu coração, porque o resto morreu com Amy e com as tragédias do Candy Pleasures. Ela não podia ficar lá; a vida dela acabara porque ela se recusara antes a partir.

Quando a Kate, bem... ela é uma personagem que eu gostaria de ter apresentado mais. Ela sempre esteve de ladinho nos capítulos, com sua presença alegre e gentil. Quem acompanhou a história pode vê-la em quase todos os episódios, menos nos últimos, onde sumi com ela propositalmente. Quem sabe um dia eu não faço uma história paralela para ela.

CP sempre foi para ser uma história triste, porque a vida das prostitutas não é bonita. Nunca pensei em fazer um final feliz; contrariava o espírito que a história tomou nos últimos capítulos. Mas eu peguei-me pensando se eu pudesse ser a mão do destino, o que eu preferiria. E preferi que uma mulher forte ganhasse algo, depois de perder tudo.

Se eu pudesse, mudaria muito coisa, arrumaria muitos erros, e postaria a história com diversos outros personagens e personalidades que sempre me cutucam quando eu leio Candy Pleasures. Mas gosto de pensar que se tanta gente torceu pelo fim, e foram carinhosos e pacientes com meus atrasos imperdoáveis, alguma coisa boa eu devo ter feito, então fico já muito satisfeita.

Cresci imensamente nesses seis anos, e minha escrita mudou bastante, é visível no decorrer dos capítulos. Eu não sei se ficou melhor, mas eu sei que sem Candy, eu não chegaria aonde cheguei, e não escreveria o que escrevo hoje, e tenho muito orgulho disso.

Eu gostaria de agradecer, de coração, a todos que comentaram, leram e esperaram por Candy Pleasures. Eu sou uma escritora melhor pela atenção de vocês, e com certeza em minha próxima história vou me dedicar muito, imensamente, a não cometer os mesmos erros e tropeços, e presenteá-los com o que vocês merecem, que é uma leitura de qualidade.

Até nosso próximo encontro, leitores.

Candy Pleasures

Publicado em 13-04-04

Terminado em 7-12-09

Atenciosamente, Jenny.