ALICE

Capítulo 4 - Fim de Caso

Deitada ao seu lado na cama, Alice apoiou a cabeça numa das mãos, e ficou contemplando o amante por um tempo. Lex dormia profundamente. Ela sorriu e o beijou na testa. Depois, desvencilhou-se dos lençóis negros de cetim e vestiu a camisa de cor vinho que ele usava. Olhou-o mais uma vez. Dormia tranqüilamente. Enquanto o observava por mais um instante, ficou pensativa. Por mais que achasse estranho, Alice acreditava que podia amar alguém como ele. Sabia que havia algo que era bastante familiar em Lex, mas ainda não sabia o que era. Com sede, resolveu sair do quarto e procurar pela cozinha.

Ao caminhar por um longo corredor, Alice viu uma porta aberta, da qual se aproximou. Descobriu, então, que se tratava do escritório de Lex. Antes, porém, de voltar à sua busca pela cozinha na mansão Luthor, viu um bar. Achando que não havia nada demais, resolveu se servir de um pouco de água mineral. Enquanto bebia, notou alguma coisa na mesa de Lex e, antes de voltar para o quarto, resolveu ver o que era. Tratava-se de uma edição do Diário Planeta de algumas semanas passadas. Alice lembrava daquela edição. Percebeu que a reportagem da qual mais se lembrava era justamente a que estava em destaque sobre a mesa. Havia uma foto de Perry White, onde dizia que o ex-correspondente de guerra pretendia assumir a chefia do Diário Planeta, depois de alegar que o mesmo acobertava os interesses dos poderosos de Metrópolis.

Abismada, Alice se sentou na cadeira de Lex. Percebeu, então, que havia outros jornais sobre a mesa, que falavam do mesmo assunto, sobre a pretensão de Perry White se tornar editor-chefe do Diário Planeta; sobre Perry White não conseguir alcançar sua meta por causa do alcoolismo; e sobre Perry White e seus problemas pessoais. Viu, então, uma foto do repórter, caminhando pelas ruas de Metrópolis, ao lado da namorada. Alice lembrava daquela foto. Ela e o namorado Perry estavam saindo de uma sessão de cinema, bem na época em que ele estava alegando as mentiras e verdades do Diário Planeta, e o quanto o jornal mais conceituado de Metrópolis precisava de um novo editor-chefe. Um paparazzi saiu do nada e os surpreendeu com o flash da máquina.

Alice lembrava daqueles dias. Foram momentos difíceis para ela e o namorado, e que culminaram o fim do romance. Perry lhe dizia como o Diário Planeta estava sendo deturpado e como, em pouco tempo, podia vir a se tornar um Inquisitor, de tão infame que estava se tornando, acobertando algumas pessoas de influência em prol de algumas pequenas vantagens. Alice lembrou das terríveis discussões que teve com Perry, que afundava cada vez mais num lamaçal de problemas.

E como se não bastasse o problema de alcoolismo do namorado, que se agravara mais quando Lionel o prejudicou, Alice tinha que lidar com o assédio da imprensa que trazia a cada novo dia, problemas pessoais de Perry, que o faziam ser ainda mais desacreditado por todos de suas calúnias incalculadas. A vida de Alice também estava sendo revirada e ela estava quase enlouquecendo. E ela lembrou como sofreu naqueles dias, e como Perry parecia não se importar mais, almejando apenas trazer a público suas idéias insensatas. Uma lágrima rolou por sua face ao ver aquelas reportagens sobre a mesa de Lex.

Alice, então, lembrou das últimas palavras de Perry antes de deixar Metrópolis, no sentido de que havia uma família poderosa que estaria manipulando o Diário Planeta. Os maiores temores de Alice, recaíram, então, sobre os Luthor. Amargurada e, mais uma vez, ferida, Alice respirou fundo e se levantou. Caminhou, lentamente, de volta para o quarto e, depois de vestir-se, ficou olhando Lex dormir por mais um tempo. Realmente, pensou, podia tê-lo amado. Pegou, então, uma rosa vermelha que apanhou de um vaso a caminho de volta para o quarto, deixou sobre o travesseiro ao lado dele, e foi embora.

...

Quando Alice chegou ao Talon, já era noite. A garota que lhe deu carona na estrada perto da mansão Luthor, deixou-a em frente à cafeteria e seguiu em frente. Ao entrar, deparou com Lana e Clark, que conversavam no balcão, com uns poucos fregueses à volta. Antes que Lana lhe perguntasse como havia sido seu dia, Alice apenas se limitou a cumprimentar Clark e subiu, imediatamente, para o seu quarto. Os dois se entreolharam, perplexos.

"Acho que o encontro, afinal, não foi tão bom assim", comentou Clark, que já sabia, por Lana, que ela tinha saído com Lex.

Lana enrugou a testa e foi atrás de Alice. Ao ver a porta semi-aberta, entrou, e a viu arrumando suas coisas. Alice percebeu a presença de Lana, mas permaneceu calada, fazendo suas malas, que sequer haviam sido totalmente desfeitas.

"O quê houve?", perguntou Lana, cruzando os braços, preocupada. "Você está bem?"

Alice se sentou na beirada da cama e lágrimas rolaram por suas faces. Lana foi ao seu encontro. Sentou-se ao seu lado e a abraçou, como se fosse uma irmã que consolava a outra. Ficaram assim por um tempo, até que Alice se recompôs.

"Sabe, Lana", disse-lhe ela, subitamente, "nunca acredite que tudo aquilo que te faz bem pode ser o melhor".

Depois de um pequeno silêncio, Lana arriscou:

"Ele fez alguma coisa errada?", perguntou, referindo-se a Lex.

Alice, no entanto, não respondeu. Seu silêncio, porém, já dizia tudo. E, ao final, ambas sabiam o que era preciso fazer: afastar-se. Pois nada havia de pior do que sofrer uma grande decepção, principalmente, uma após a outra.

"Vai mesmo embora, então?", perguntou, então, Lana.

Alice apenas balançou a cabeça com um sorriso amável, como se não tivesse passado por um dos maiores golpes que sofreu na vida, e se levantou para terminar de arrumar suas coisas. Sem mais nada dizerem uma à outra, voltaram para o térreo, onde Clark as observava.

"Clark", disse-lhe Alice, com um sorriso meigo, oferecendo-lhe um aperto de mão, "foi um prazer conhecê-lo".

Ele sorriu e olhou para Lana, que apenas deu de ombros, sem ainda entender os motivos de Alice, e apenas imaginá-los. Despediu-se dela, então, e Lana a acompanhou até o carro, que estava em frente à cafeteria. Alice colocou suas coisas no banco de trás e ficou parada em frente a Lana por um tempo.

"Gostei muito de ter te conhecido", disse, então. "E acho que ainda vamos nos ver de novo, Lana".

Lana apenas sorriu, sabendo que era uma previsão bem provável. As duas se abraçaram e Alice foi embora de Smallville, levando consigo, mais do que a dor de ter amado e sofrido, a esperança de que dias melhores estavam por vir.

...

Vestido em seu roupão de seda negra, Lex olhava fixamente para a rosa vermelha dentro do copo com água que Alice deixou perto dos jornais revirados sobre sua mesa. Pensativo, ficou imaginando se a sua desconfiança exacerbada em relação às pessoas que dele se aproximavam iria um dia levá- lo à solidão absoluta. Pegou, então, a rosa de dentro do copo e jogou-a no lixo ao lado da mesa.

...

Um ano depois, em Metrópolis, Lex lia o Diário Planeta de dentro de sua limusine, enquanto saía da LuthorCorp. Perry White era o editor-chefe há mais de seis meses e uma nova fase começava para o jornal. Mal sabia, porém, White, que ele só era o novo editor-chefe do Diário por causa de Lex Luthor. Quando a limusine passou por uma loja, Lex pediu ao motorista para parar. Acreditando ter visto uma pessoa da qual jamais conseguiu esquecer, desceu e foi ao seu encontro. Ao se aproximar, percebendo que se tratava mesmo de Alice, Lex também notou que ela estava muito mais linda do que da última vez que a viu. E antes que pudesse abrir um sorriso de satisfação ao vê-la, notou que Alice empurrava um carrinho com uma criança, e que a loja em que estava era de roupas para crianças.

Alice o viu parado em frente à porta do estabelecimento, e depois de um silêncio constrangedor, sorriu, e aproximou-se dele, levando o carrinho. Lex, que até então não conseguia desviar a atenção dela, olhou para a criança, que tinha lindo olhos azuis, e segurava um brinquedo de borracha.

"Oi, Lex", disse-lhe ela.

Mesmo que já soubesse que Alice tinha voltado para Perry e que os dois haviam se casado e tiveram um filho, Lex ainda estava consternado ao ver com seus próprios olhos o fruto da relação entre um outro homem e a mulher que um dia amou.

"Alice", disse ele, simplesmente, lembrando ter um dia perdido a chance de ter uma família com a única mulher na qual podia confiar.

"Esse é Jerry", disse, então, ela, referindo-se à criança.

"Bela criança", comentou ele, olhando para o garoto e depois para ela, admirado da sua formosura. A maternidade lhe havia conferido um semblante mais áustero. Era como se Alice tivesse superado barreiras. Parecia ter amadurecido. Parecia menos frágil. Notou, então, a pequena cicatriz na sua testa. E sorriu ao lembrar do acidente.

Sem conseguir dizer mais nada, Lex apenas lhe sorriu e depois de olhar mais uns instantes para a criança, foi embora. Ao entrar na limusine, viu que Alice lhe acenava, mesmo que não soubesse, pelo vidro escuro, se ele a via.

Quando o automóvel sumiu na esquina, Alice se abaixou para ajeitar o filho, e disse:

"Viu, querido, aquele era o seu papai".

FIM