Título: Alice
Autor: Danielle
Disclaimer: Trata-se de uma estória cujo único propósito é entreter sem a intenção de infringir os direitos autorais das obras nas quais foram inspiradas ou auferir qualquer lucro.
Sumário: Uma misteriosa garota chamada Alice Spencer chega de Metrópolis em Smallville e chama a atenção de Lex. Estória original, parcialmente inspirada em "The World of Metropolis", de John Byrne e "Lex Luthor: An Unauthorized Biography", de James Hudnall.


Capítulo 1 - Recomeço

Cansada de vir dirigindo de Metrópolis, Alice resolveu estacionar o carro em frente a um restaurante de beira de estrada, nas proximidades de Smallville. Ainda não sabia se seu destino era a pequena e desvanecida cidadezinha do Estado do Kansas, embora tivesse tido boas referências a seu respeito. Na verdade, Alice pretendia começar uma nova vida onde quer que fosse. Enquanto saboreava um sanduíche com uma cerveja, o noticiário das seis, transmitido pelo aparelho televisor que estava em cima do caixa, divulgava que vinha uma tormenta por aqueles lados. Alice tratou de se apressar, como muitos dos motoristas que estavam fazendo uma refeição no estabelecimento, e voltou para a estrada.

Enquanto dirigia, ouvindo música pelo rádio, notou um vendaval que se intensificava à sua volta. Como a estrada estava deserta, acelerou e, ao avistar uma placa que dizia Smallville à dois quilômetros, seus ânimos se acalmaram. Uma nuvem negra nos céus anunciou a tempestade que se aproximava. Preocupada, assim que adentrou nos limites da cidade, Alice tentou encontrar um lugar para ficar. Porém, não era nem sete horas e tudo estava completamente vazio e fechado. Parecia uma cidade fantasma, com tampas de lata de lixo que rolavam pelo meio da rua e postes de luz que faiscavam. Até que, finalmente, ela avistou um lugar que parecia estar aberto. Era uma cafeteria com uma bonita fachada que provavelmente homenageava o cinema que por anos deve ter funcionado no mesmo local, e se chamava Talon.

Alice entrou no estabelecimento, mas parecia não haver ninguém para atendê- la, até que surgiu uma moça e um rapaz que vinham dos fundos. Eram Lana e Clark. Estavam rindo e ela o agradecia por tê-la ajudado a arrumar o encanamento. Quando percebeu a presença de Alice, limpando as mãos num pano, Lana perguntou gentilmente o quê ela desejava, e esta respondeu:

"Estou procurando um lugar para ficar. Está vindo uma tempestade e não conheço nada por aqui".

Lana e Clark se entreolharam, e ela, disse, então à mulher:

"O hotel mais perto que tem por aqui fica a uns cinco quilômetros".

Alice enfiou as mãos nos bolsos das calças jeans e suspirou. Não estava disposta a dirigir mais com aquele tempo. Ficou olhando para a porta de entrada que estava semi-aberta, para ver se já estava chovendo. Achava, naquele instante, que tinha feito a maior bobagem de sua vida indo para um lugar como aquele. Enquanto ela pensava no que faria, Clark cutucou Lana e disse, suficientemente baixo para que a mulher não os ouvisse:

"Por que não a deixa ficar no quarto que você tem lá em cima apenas por essa noite?"

Lana enrugou a testa, mas antes de contestá-lo, notou que Alice parecia mesmo inofensiva. Fitou Clark e, confiando na avaliação dele, disse:

"Você pode passar essa noite aqui. Tenho um quarto sobrando no segundo piso".

Orgulhoso da generosidade da amiga, Clark sorriu, enquanto vestia o casaco que estava sobre o balcão.

"Eu ia ficar muito feliz se você pudesse fazer isso por mim", disse Alice, com um sorriso de alívio.

Depois de se apresentarem e de Alice estar instalada, Lana acompanhou Clark até a saída. Ainda ventava muito, mas a chuva ainda não tinha começado.

"Nossa, Clark", disse Lana, olhando para a rua, e o vento que fazia as janelas tremerem e os postes balançarem. "É melhor você ir logo antes que comece a chover pra valer".

"É, essa noite promete", concordou ele. "Qualquer coisa", disse ele, referindo-se ao problema no encanamento, "pode avisar que venho correndo, tudo bem?"

"Não se preocupe", respondeu ela, sorrindo. "Amanhã a gente se fala".

Quando Lana voltou para dentro do Talon, Alice a estava procurando. Ao vê- la voltar da entrada, perguntou se podia tomar um café.

"Claro!", exclamou ela. "Afinal, isso é uma cafeteria!"

Enquanto lhe servia a bebida quente e fresca, percebeu que aquela bela jovem de pouco mais de vinte anos, cabelos castanho avermelhados compridos e grandes olhos verdes, tinha o semblante de como se estivesse vivendo uma grande angústia.

"De onde você é?", perguntou-lhe.

"Metrópolis", respondeu Alice.

"É mesmo?", indagou supresa. "E o quê a traz em Smallville?"

Alice tomou um longo gole do café servido por Lana. Elogiou a bebida e, depois, respondeu:

"Mudança de ares".

Percebendo que a moça não parecia querer muita conversa, Lana pegou os livros da escola que estavam sobre o balcão e começou a folheá-los. Tinha uma importante prova na semana seguinte e, embora fosse apenas sexta-feira, tinha muita coisa para fazer no final de semana. Percebendo um possível desconforto com sua anfitriã, Alice começou a puxar conversa:

"Então você ainda está no ginásio?", perguntou olhando de relance a matéria que Lana estudava.

"Isso mesmo", respondeu ela. "Segundo ano, para ser mais exata".

"Não parece", comentou Alice. "Você aparenta ser mais madura do que é".

Lana recebeu o comentário como um elogio e agradeceu com um sorriso. Serviu- a de mais um pouco de café, e só foi dormir quando Alice subiu para se deitar.

Na manhã seguinte, ao se levantar, Alice se arrumou e antes de descer com a mala pronta para partir, olhou pela janela. Embora as ruas estivessem molhadas, não parecia ter sido um grande temporal como os ventos do leste anunciavam. Estava tão cansada, que sequer ouviu o barulho na chuva ou do vento bater no vidro. Ao ver Lana atrás do balcão, sorriu-lhe, comentando que, afinal, não havia chovido tanto. Lana concordou e lhe ofereceu um pedaço de torta com café. Como ainda era cedo, sentaram-se numa das mesas e, olhando para a mala, Lana disse:

"Se quiser, pode ficar aqui por mais tempo".

Alice sorriu, quase se engasgando com o café.

"De forma alguma", disse ela. "Não pretendo incomodar ninguém. Além do mais, não sei quanto tempo vou ficar, isso se eu ficar, e sei o quanto é difícil encontrar um imóvel, onde quer que a pessoa esteja, para se estabelecer".

Lana balançou a cabeça, avaliando a situação. Mesmo assim, gostaria de ter alguém por perto, por mais que não conhecesse a pessoa. Desde o incidente com Adam, achava cada vez mais difícil ficar até mais tarde no Talon. Alice, porém, encarou-a, e depois de pensar brevemente no assunto, rendeu- se à proposta:

"Se você cobrar um aluguel justo, eu posso até pensar no assunto".

Lana sorriu e, por mais que aquela mulher lhe fosse uma estranha, acreditava que existia alguma coisa muito boa a seu respeito. Via nela uma pessoa de boa índole e de um coração extremamente generoso. Mas Lana via bondade em todas as pessoas.

No entanto, também acreditava que havia alguma coisa que abalava profundamente aquela mulher de olhos brilhantes e presença marcante. Uma pessoa como Alice, pensou Lana, tão bonita quanto aparentava ser inteligente, não estaria à toa em Smallville. Havia tanto a se fazer em Metrópolis, que ficava difícil de acreditar que alguém viria de tão longe para recomeçar, se não estivesse simplesmente fugindo de algo. Contudo, deixando as especulações de lado, Lana ficou satisfeita com a decisão de Alice, de ficar por ali, pois podia ser mais do que uma companhia, e se propôs que a ajudaria encontrar um bom lugar para ficar na cidade.

Enquanto Lana se preparava para abrir o Talon, Alice resolveu sair para comprar o jornal local. Queria dar uma olhada nos classificados. Encontrar um novo lugar e um novo trabalho eram suas principais metas para recomeçar. Como não havia revistaria por perto, decidiu ir de carro. Completamente distraída, porém, saiu sem dar sinal e sem olhar no retrovisor. Numa cidade como aquela, jamais imaginou que pudesse vir por aquela rua aparentemente tão tranqüila em plena manhã de sábado, uma Ferrari prata, que colidiu na sua lateral.

Embora não tivesse sido uma colisão grave, pois parecia que a Ferrari vinha reduzindo, Alice não conseguiu se mover. Assustada, continuou com as mãos ao volante e viu, pelo espelho, um pequeno corte que se abria na sua testa.

"O quê aconteceu?", indagou Lana, correndo para a calçada. Ao ver o acidente que acabara de suceder, correu para ver se Alice estava bem.

Lex, que descia do carro, ao notar que a motorista imprudente estava ferida, decidiu chamar uma ambulância pelo celular. Apesar de não se importar, notou que a batida não havia sido grave, a ponto de causar grandes prejuízos para ambas as partes, mas ficou notadamente preocupado com a garota, que sangrava muito. Lana pedia a ela para levantar a cabeça, de modo a evitar que saísse tanto sangue, não que entendesse muito do assunto, e Lex se prontificou ajudá-la a descer do carro depois de verificar se não havia qualquer outro ferimento, enquanto Lana corria para dentro do Talon para buscar uma toalha para segurar no ferimento.

Não sabendo direito como lidar com a situação, Lex, que já tinha chamado a ambulância, abriu a porta do carro de Alice e deu-lhe a mão, ajudando-a a sair. Desnorteada, ela se encostou na lataria e repetiu inúmeras vezes, ao ver um arranhão na Ferrari, que sentia muito. Algumas pessoas começavam a vir pela calçada, para ver o quê estava acontecendo e prestaram solidariedade, até que Lana trouxe uma toalha úmida, que Alice segurou contra o corte, enquanto a ambulância estava a caminho. Àquela altura, alguém já tinha chamado uma autoridade de trânsito que circulava pelas redondezas, e que chegou prontamente ao local para apanhar depoimento dos envolvidos.

"Muito bem, muito bem", disse o guarda, descendo da viatura. "De quem foi a culpa?"

Lex o encarou e, antes que ele se aproximasse do local da batida, caminhou tranqüilo na sua direção, dizendo:

"Temos uma pessoa ferida aqui. Será que não tem como resolvermos isso mais tarde?"

"O laudo tem que ser feito na mesma hora e local do acidente, ou espera que eu permita que o seu automóvel fique no meio da rua o dia inteiro...", perguntou o guarda, olhando para a placa da Ferrari, "... Sr. Lex?"

"Sr. Smith", disse Lex, olhando o crachá do guarda. "Eu não tenho a intenção de registrar nenhuma queixa. Foi um acidente e ambas as partes vão arcar alguns prejuízos. Garanto que a senhorita também não está em condições de prestar depoimento algum, no presente momento", disse Lex, com firmeza, afinal, já havia tido algumas experiências um tanto desagradáveis com autoridades de trânsito.

Irredutível, o guarda ponderou:

"Tenho um dever a cumprir aqui, e você parece ser uma pessoa de boa instrução, capaz de entender o quanto é importante uma responsabilidade como a minha..."

"Claro. Aplicar multas é uma função muito nobre", disse-lhe Lex, quase sarcástico. "Até onde sei, aquela pessoa precisa de cuidados médicos. Estamos esperando a ambulância chegar. Não vou prestar queixa alguma. E se a culpa foi minha, não creio que aquela garota esteja em condições de ser inquirida. Precisa de mais alguma coisa, Sr. Smith?"

"O senhor é advogado?", perguntou o guarda, irritado.

"Não, mas conheço alguns muito bons", respondeu Lex, em tom de ameaça.

Furioso, o guarda sorriu, balançando a cabeça. E assim que Lex lhe deu as costas, fez questão de anotar o número e a descrição dos automóveis envolvidos na batida e falar com algumas testemunhas que lhe confirmaram que a culpa foi da garota, antes de sair.

Quando se voltou para Alice e Lana, Lex viu que a ambulância vinha subindo pela rua e um grande número de pessoas já se formava ao redor do acidente. A poucos passos de distância ficou observando a garota ser levada para o interior do veículo médico, que fez rapidamente os primeiros atendimentos e a levou imediatamente para o Centro Hospitalar de Smallville. Aproximando- se de Lana, ainda abalado pelo acontecimento dramático naquela que tinha tudo para ser uma tranqüila manhã de sábado, ainda mais depois de um temporal, Lex perguntou:

"Quem é ela?"

Com sangue nas mãos, Lana respondeu:

"Alice Spencer".

Continua...