LOIS LANE

Lois Lane chega em Smallville num período qualquer entre a terceira e a quarta temporada, quando Clark e Lana ainda estão num conturbado momento de readaptação.

Capítulo 1 - Uma Garota chamada Lois Lane

Lois Lane era seu nome. Disse isso enfaticamente ao sujeito de cabelos brancos que estava atrás do balcão de informações da estação rodoviária de Smallville, Kansas, perguntando se havia algum recado para ela. Carregando apenas uma mochila e uma pequena bolsa de mão, a garota havia acabado de descer do ônibus que vinha de Metrópolis. Devia ter combinado melhor, pensou ela, que esperava encontrar a prima do lado materno, Chloe Sullivan. Imaginou que Chloe pudesse ter deixado um recado, mas não, segundo o homem que dava informações. Estava vinte minutos atrasada e o celular não respondia. Devia estar a caminho, pensou Lois, que não gostava de perder tempo. "Esperar era para os tolos", era seu lema. Olhou ao redor e ficou imaginando que fim de mundo era aquele em que os tios viviam. Havia pouquíssimas pessoas na estação e apenas dois ônibus, um que acabara de chegar, o seu, e outro que partia para Greenville. O calor era insuportável. O ar estava seco. Lois se sentou num banco vazio e abriu um livro que carregava dentro da mochila: "The Front Page", de Ben Hecht e Charles MacArthur, por muitos considerada "A Bíblia do Jornalismo", cuja leitura já se estendia a poucas páginas do final.

"Lois!", exclamou alguém que vinha apressadamente na sua direção. A garota ergueu os olhos e viu que se tratava da prima. Fechou o livro, e se levantou para um abraço apertado.

"Desculpe a demora", disse Chloe, desajeitada com as chaves do carro na mão e a bolsa semi-aberta na outra.

"Tudo bem", respondeu Lois, apanhando a bolsa ao chão e ajeitando a mochila às costas. Seus cabelos eram lisos e compridos. Apesar da viagem longa, ela mantinha a postura e parecia que tinha acabado de se aprontar. As madeixas estavam ajeitadas atrás das orelhas, as quais exibiam um pequeno e delicado par de brincos que lhe fora dado de presente pelos pais no Natal passado.

"Meus pais pediram desculpas por não estarem aqui. É que essa viagem surgiu de repente, e não tinha como adiar", disse Chloe, referindo-se ao fato de que os pais não estariam em Smallville naquelas próximas semanas, de modo que as duas ficariam sozinhas em casa. Lois já sabia por antecipação desse fato, mas não parecia se importar, desde que pudesse fazer seu trabalho.

"É, uma pena", disse Lois, apenas por educação e completamente alheia à demonstração de alegria de Chloe, que queria colocar muitos assuntos em dia com a prima que já não via há tantos anos. "Mas eu entendo... Além do mais, vou ficar tão pouco tempo que seria mesmo desperdício eles se esforçarem para ficar por minha causa".

Chloe sorriu. Mas era um sorriso desconfiado. Afinal, Lois já não era mais tão parecida com ela como nos tempos de infância, pensou. Na última semana, quando se falaram ao telefone, percebeu que Lois já não era mais tão divertida como antes. Notou o livro debaixo do braço da prima enquanto se aproximavam do carro. Sabia, pelos tios, que a prima era uma aluna aplicadíssima, o que podia se comprovar pela leitura avançada, recomendada para estudantes de jornalismo. Lois, no entanto, terminava o segundo ano, como Chloe.

"Não está zangada pelo atraso, não é?", perguntou Chloe, antes de entrar no carro, com a porta já aberta. O silêncio de Lois a incomodava.

Lois a encarou do outro lado do veículo e, percebendo que não estava sendo suficientemente gentil, sorriu:

"Vou ficar se parar de perguntar!"

Chloe sorriu e entrou no carro. O gelo estava quebrado, pensou. Afinal, Lois não era mais do que uma menina apressada da cidade grande. No caminho para o centro de Smallville, as duas colocaram alguns assuntos em pauta, como colégio, viagens e estudos. Lois era objetiva. Limitava-se a dizer que queria cursar jornalismo pela melhor faculdade em Metrópolis e que tinha boas notas para isso. Como Chloe, seu grande sonho era trabalhar num jornal renomado, como "O Diário Planeta", o sonho secreto das duas. Chloe, para desconrair um pouco mais, perguntou dos garotos do colégio em que Lois estudava, mas ela parecia desinteressada. Não era mais a típica namoradeira.

"Onde estamos indo?", perguntou Lois, imaginando que estavam indo direto para a casa dos pais de Chloe. Estava louca para tomar um banho.

"Eu tenho que passar num lugar, mas vamos ser breves", disse Chloe, estacionando em frente ao Talon, uma cafeteria nada convencional, cuja fachada era um cinema antigo.

Lois olhou para o alto do estabelecimento e viu que, onde devia haver o nome de um filme, dizia: "O melhor cappuccino da cidade".

"Interessante...", disse ela, enquanto desciam do carro. "Sabe, para uma cidade interiorana, até que o povo daqui tem um pouco de criatividade...", comentou com a prima.

Chloe sorriu. Finalmente um elogio, pensou. Desde que saíram da rodoviária, Lois só reclamava do calor e do ar seco que quemava as suas narinas.

Ao entrarem, Lois ficou ainda mais maravilhada com o lugar. Suas mesinhas limpas e ajeitadas ficavam entre colunas com pinturas que emitavam o estilo egípcio. Aos fundos, um balcão com diversas tortas e doces, e a maior máquina de cappuccino que viu na vida. Apesar de morar numa cidade grande, Smallville começava a impressionar Lois Lane, que observava cada detalhe do lugar.

"Oi, Lana!", disse Chloe, dirigindo-se ao balcão, onde havia uma garota de olhos grandes e cabelos escuros presos ao alto por uma fivela, ocupada com um punhado de notas. "Colocando ordem na casa?"

Lana levantou a cabeça e sorriu, largando o que estava fazendo, para dar atenção à amiga.

"Ei!", exclamou ela. "Chegou bem na hora! A torta que voc6e me pediu já está pronta!", disse ela, indo para a cozinha pegar a encomenda.

"Você vai adorar!", disse Chloe para a prima. "A melhor torta de maçãs de Smallville".

Lois sorriu. Era sua preferida:

"Não precisava, Chloe! Agora sim, você me deixou sem jeito!"

Sem dizer nada, e apenas sorrindo, Chloe esperou Lana trazer a torta embrulhada. Depois de colocá-la, com cuidado, sobre o balcão, Lana se ateve à presença de Lois:

"Essa é a sua prima?", perguntou ela, com um sorriso simpático.

"Lois, essa é Lana Lang. Lana, essa é Lois Lane", disse Chloe, meio que brincando com a paronímia.

"Prazer", disseram as duas, quase simultaneamente.

"Então, você é de Metrópolis?!", disse Lana, que ainda tem um sonho secreto de um dia sair de Smallville e morar numa cidade grande. "Veio para o final das férias de verão?"

"Na verdade, eu vim para terminar um projeto de estudo para o meu colégio... Não tenho pretensão de ficar muito tempo", respondeu Lois. "Vocês estudam juntas?"

Chloe, antecipando-se, disse:

"Desde sempre, não é mesmo, Lana?"

Lana confirmou com um sorriso amável e cruzando os braços sobre o balcão, perguntou se as duas queriam sentar para comer alguma coisa. Não era dificil de perceber que Lois estava cansada demais para levar a conversa adiante, principalmente em pé, diante do balcão. As primas se entreolharam e Lois disse que queria tomar um banho antes de fazer qualquer coisa, mas que se Chloe realmente quisesse, podia ficar mais um pouco. Fazendo a vontade da visita, Chloe pegou a torta, que já estava paga e despediu-se da amiga.

"Desculpe, Chloe", disse Lois, enquanto caminhavam em direção ao carro. "É que eu estou tão cansada... Não quero estragar a sua rotina nem nada".

"Que é isso! Deixa de bobagem!", exclamou com um enorme sorriso no rosto, enquanto colocava a torta dentro de uma caixa vazia que tinha no banco de trás do carro, para que ela não virasse no caminho. "Além do mais, a gente não se vê há tanto tempo que eu quero mais é passar muitas horas comendo torta de maça e contando muitas lorotas, como antigamente..."

As duas riram, e Chloe viu dois amigos seus vindo pela calçada. Percebendo que a prima sorria e acenava para alguém, Lois se virou para ver de quem se tratava.

"Puxa vida... Não faz nem vinte minutos que você está aqui e já vai ficar conhecendo todos os meus melhores amigos!", disse Chloe, sorridente como sempre.

Eram dois rapazes. Um deles era alto e encorpado. Tinha cabelos escuros e grandes olhos azuis. O outro era moreno e com um belo sorriso. Lois não percebeu o efeito que causou em um deles, ao se virar para vê-los, e abriu um sorriso amistoso.

"Oi, meninos!", exclamou Chloe, quando eles já estavam bastante próximos. "Quero que conheçam minha prima de Metrópolis: Lois Lane. Lois, esses são Pete Ross e Clark Kent".

Lois sorriu e, intimidadora, apenas trocou apertos de mão com os dois rapazes, embora eles não escondessem a vontade de dar um beijo naquelas faces rosadas demais pelo calor. Pete era bem sorridente, mas Clark era uma incógnita. Parecia que havia perdido alguma coisa. Talvez, a razão.

"A propósito, Lois", continuou Chloe, brincando, "a torta que vamos comer hoje foi feita pela mãe do Clark, a Sra. Kent. Por isso, se tiver que reclamar depois, pode brigar com ele! Se ela erra aguma receita é porque ele deve ter comido o ingrediente secreto!"

Clark sorriu, um pouco constrangido com a brincadeira e apenas murmurou:

"Puxa vida, Chloe, o quê sua prima vai pensar de mim?"

"Não se preocupe, Clark", respondeu Lois, "Eu gosto de torta de maçã mesmo que não tenha maçã alguma!"

Os dois sorriram e, para Clark, era como se não tivesse mais ninguém à volta. Ele só via Lois Lane à sua frente, com aqueles cabelos reluzentes e seus grandes olhos escuros e cheios de expressão. Não era a garota mais linda que ele tinha visto na vida, mas havia algo diferente. Não sabia se era o sorriso ou o fogo no seu olhar. De repente, ele pensou ter ouvido Chloe dizer qualquer coisa. Lois ficou séria e, depois de um tempo, perguntou:

"Tudo bem, Clark?"

Atordoado, ele percebeu que Chloe falava com ele.

"Ei, sabichão?!", repetiu ela, séria. "Quero saber se você pode me ajudar numa coisa no editorial da escola amanhã de manhã. Pode ser?"

Clark pensou um pouco e disse que sim, não sem antes sorrir uma vez mais para Lois, que estava achando graça da situação, sem ao menos saber o quê estava acontecendo. Chloe disse um "Até logo" bastante seco para os dois rapazes e entrou no carro logo depois de Lois, dizendo que as duas estavam mutio cansadas e que tinham muito a fazer.

Quando o carro sumiu na esquina da rua principal, Pete cutucou Clark, que continuava olhando para a quebra. Sem se mover, com as mãos nos bolsos da calça e o olhar cada vez mais perdido, apenas ouviu o quê o amigo perguntou:

"Que garota bonita, não?"

Clark não disse nada, mas, no seu íntimo, sabia que, mais do que beleza, Lois Lane tinha presença. E ele jamais se sentiu tão vulnerável na vida como naquele momento.

Continua...