Capítulo Seis: Estuporado

Tanto Penelope quanto Molly afundaram em um silêncio fúnebre a partir da hora em que Percy e Arthur saíram.
Penelope estava com os cotovelos apoiados na mesa e o rosto nas mãos e tinha o olhar perdido. Fora tudo muito rápido, ela não podia entender. Em um momento, Percy estava ao seu lado, então aparece Mundungo Fletcher, diz que há Comensais em Little Whinging, ela fica noiva e ele some.
Ela não agüentava pensar no que estaria acontecendo. E se Percy tivesse que enfrentar Voldemort pessoalmente? E se isso fosse uma armadilha para os membros da Ordem?
Afinal, ela não entendia por que os Comensais conjurariam a Marca Negra em um bairro de trouxas. Só costumavam fazer isso quando matavam alguém e... Será que tinham matado alguém?
Uma imagem tomou sua mente, de repente, um pensamento involuntário e horrível, que ela não conseguiu apagar. Percy morto no chão, um bruxo encapuzado gargalhando e a Marca Negra projetada no céu escuro.
Olhou para sua aliança nova e deixou escapar uma lágrima. Lembrou-se de quando se conheceram; ela havia acabado de se tornar monitora;de como, no dia dos namorados, ele enviara um cartão para ela se declarando. E do ano em que ele se tornara monitor-chefe... Ficara tão feliz.
E se ela não voltasse a ver o sorriso dele? E se não voltasse a beija-lo?
Penelope recostou a cabeça na mesa e começou a chorar baixinho. Pensou que talvez nunca deveriam ter entrado para a Ordem.
- Penelope?
Ela ergueu os olhos molhados para a senhora Weasley, que parecia estar à beira de lágrimas também.
- Não se preocupe, querida, eles vão ficar bem.
Nesse momento, as duas ouviram um baque surdo e a porta do armário onde dormia Monstro se abiu. Ele saiu correndo da cozinha. Em situações normais, Penelope teria perguntado aonde o elfo ia, mas agora não se importava.
- E se não ficarem? – perguntou ela sentindo um calafrio percorrer-lhe a espinha.
- Não pense assim. Pense que eles vão ficar bem, querida. Eu sei que vão.
Mas a senhora Weasley não parecia segura do que dizia. Ela tremia de medo também. Penelope sentiu pena da sogra. Afinal, ela estava se preocupando com o marido e com o filho, quando Penelope estava pensando apenas em Percy.
Mesmo que o namorado fosse sua prioridade, ela não queria que nenhum membro da Ordem, e muito menos um inocente morresse naquela noite. Não imaginava porque algumas pessoas tinham que morrer por fazer o bem.
Nunca sentira na vida tanto ódio quanto naquele momento. Se ela fosse capaz de matar alguém, com certeza seria um Comensal da Morte. Pessoas imbecis, fracas e egoístas, que ajudavam Voldemort a matar para conseguir o poder...
- O que está acontecendo aqui?
Os gêmeos tinham acabado de entrar na cozinha e se espantaram ao ver Molly e Penelope acordadas, esta última chorando, e os restos do jantar ainda na mesa.
As duas se entreolharam assustadas.
- Por que vocês estão acordadas?
Penelope estava pensando em alguma mentira, mas, para sua surpresa, foi Molly quem respondeu e disse a verdade:
- Estamos esperando seu pai e seu irmão.
- Esperando? – repetiu Fred sentando-se ao lado de Penelope.
- Por que? Onde o papai foi? – Jorge se acomodou em frente ao irmão.
Os dois pareciam estar um tanto quanto confusos, mas nem em meio a tal situação desconfortante conseguiram se livrar da mente alerta da mãe:
- E vocês dois, o que estão fazendo acordados?
- Monstro – respondeu Jorge mal-humorado.
- Passou na frente do nosso quarto fazendo o maior estardalhaço. Não sei como o Rony e o Harry não acordaram.
Penelope ergueu as sobrancelhas. Não gostaria nem um pouco de ser acordada por Monstro no meio da noite e receber a notícia que os dois estavam prestes a receber.
- Onde é que o papai foi, afinal?
- Little Whinging – respondeu a sra.Weasley infeliz – Mundungo viu a Marca Negra lá.
Os gêmeos fizeram expressões espantadas idênticas.
- O papai foi lutar com os Comensais?
- Quem foi junto com ele?
- Percy – respondeu Penelope recomeçando a chorar.
Fred e Jorge se entreolharam afetados. Fred, não parecendo querer ignorar a existência de Percy naquele momento, abraçou Penelope consolando-a.
- Quantos Comensais estão lá? – perguntou Jorge.
- Não sabemos – respondeu Molly.
- E membros da Ordem?
- Arthur, Percy, - começou Molly contando nos dedos - Mundungo, Olho-Tonto, Quim, Lupin e Tonks. Sete.
- Nós vamos ajudar – anunciou Fred largando Penelope e se levantando.
- Ah, não vão não – disse a sra.Weasley se irritando e levantando ao mesmo tempo em que Jorge.
- A senhora não pode nos impedir!
- É! Temos dezenove anos e somos membros da Ordem!
- Mas eu não quero que vocês vão! Já tem gente suficiente lá!
- Você deixou o Percy ir, vai ter que deixar a gente também!
- O Percy é mais velho que vocês!
- Estamos na Ordem há mais tempo!
- Vamos logo, Jorge, podem estar precisando de nós!
Mas os dois não tiveram tempo de desaparatar. O relógio de parede bateu duas horas da madrugada no mesmo instante em que chamas verdes romperam na lareira.
Todos pararam de falar (ou de chorar, no caso da Penelope). Viram sair da lareira Tonks carregando com esforço Lupin, que tinha o rosto coberto de furúnculos e parecia ter quebrado uma perna. Em seguida vieram Rony, que tinha um corte fundo no braço que sangrava muito, e Harry. Moody chegou pulando em um só pé com uma mão empunhando a varinha e a outra a perna de pau; Arthur estava com o nariz torto e sangrando, parecia ter perdido mais uns tufos de cabelo e carregava Percy, que parecia estar...
Penelope soltou um grito e se levantou tão rápido que derrubou a cadeira.
- Não acorde o resto da casa, menina! – disse Moody com rispidez, sentando-se no chão e recolocando a perna-de-pau.
- Percy... – disse ela sem fôlego enquanto o sr.Weasley largava Percy deitado no chão e abraçava a esposa – Ele está...?
- Estuporado – completou Moody tranqüilamente, apontando a varinha para Percy – Enervate!
Percy piscou os olhos e se sentou, massageando a cabeça. Penelope correu para abraça-lo.
Ela pôde ouvir Tonks brigando com Moody:
- Eu falei para reanimarmos ele antes de virmos, olha o estado de nervos que ficou a menina!
- É para ela ver um pouco da realidade da guerra!
Enquanto isso, Molly ralhava com Rony e Harry:
- Como puderam? Vocês deviam ter ficado aqui! Nunca mais façam isso, poderiam ter se machucado!
- E como você chama isso no meu braço? – retorquiu Rony apertando o corte com a manga da roupa.
Mas Penelope não prestava atenção em nada disso. Só se preocupava com Percy, não queria larga-lo de jeito nenhum, nunca mais queria voltar a pensar que algo acontecera a ele.