Eclipse Vermelho
Madam Spooky
-
Retratação: As personagens de Inuyasha não me pertencem. Não tenho intenção de violar nenhum direito com este fanfic, apenas divertir.
N/A: Em primeiro lugar, mil desculpas pela enorme demora. Eu estava realmente evitando escrever esse capítulo. Ele deu muito trabalho para sair porque não é o tipo de coisa que eu gosto de escrever... De qualquer maneira era importante para a história e as coisas devem melhorar daqui para frente...
Vai ser difícil acreditar nisso depois dessa, mas eu não odeio a Kikyou... (especialmente se o Sesshoumaru estiver envolvido, he he...)
Por precaução, esse capítulo fica classificado como R (não vou mudar a classificação do fic, pelo menos por enquanto, porque é unicamente por causa desse capítulo!). Os próximos estarão mais leves.
-
Capítulo 3
Reviravolta do Destino
-
A aldeia ficava em um vale cercado por quatro montanhas. Diziam os mais velhos – aqueles cujos dias eram gastos as sombras das árvores em longas conversas sobre o passado – que houve uma época, quando os youkais dominavam o mundo e os humanos eram apenas escravos de sua vontade, elas tinham sido apenas três. Então os deuses se compadeceram das pessoas na Terra e, no período de uma noite, inundaram este mundo com uma grande tempestade que destruiu a maioria dos youkais e causou um curso tão forte de água que a montanha mais alta tinha sido cortada ao meio. O que restara para ser visto foram duas paredes de pedra entre as quais um rio corria abundante durante boa parte do ano, desde que fossem generosas as tempestades de verão.
Naraku gostava de olhar a paisagem e pensar naquela velha história, imaginando como os humanos eram tolos em acreditarem nos deuses e sua compaixão. Criaturas tão insignificantes como eles causavam-lhe um indefinível sentimento de rancor e desprezo. Eles não tinham condições de governar o mundo, fracos como eram. Sesshoumaru era um tolo por permitir que vivessem tranquilamente quando poderia sem muito esforço organizar uma ofensiva e em um piscar de olhos destruir todos eles.
Mas isso estava prestes a acabar.
Os exércitos dos grandes reinos do Sul estavam começando a se organizar, culpando uns aos outros pelos ataques que os homens sob suas ordens vinham fazendo as aldeias de reinos menores. Desde épocas ancestrais, ocasionalmente um daqueles reinos dava ouvidos a ambição e tentava conquistar mais terras pela força, causando uma pequena guerra que duraria apenas tempo suficiente para que seu governante percebesse que sozinho não chegaria a lugar algum contra todos os outros exércitos colaborando entre si. Era isso o que as pessoas comentavam, que mais uma dessas batalhas fortuitas estava vindo, mas dessa vez não seria tão simples assim. Ele estava lentamente tecendo sua teia em volta dos reinos cujos exércitos o interessavam. Eles lutariam uns contra os outros, enfraqueceriam gradativamente e, quando suas defesas estivessem alquebradas, seria sua vez de reivindicar seus interesses pela força.
Levaria tempo para seus planos se concretizarem, mas isso era o que ele mais tinha. No dia que todos os exércitos do Sul se unissem sob seu comando, o intocável Norte seria esmagado e então nada impediria que os tempos das lendas, quando os youkais dominavam abertamente toda a Terra, se tornassem a realidade.
Um pássaro branco deu um vôo rasante sobre a água quase escassa do rio e voltou para o céu emitindo um pio agudo. O som tirou Naraku de seus pensamentos. Todos os seus planos estavam caminhando da maneira que desejava, então ele pode se dar ao luxo de sair e conferir pessoalmente um pequeno problema no qual tinha um interesse particular. Deixou a proteção das árvores e caminhou para mais perto da margem do rio, deixando sua figura envolta em uma pele branca, cuja cabeça empalhada do animal ao qual um dia pertencera cobria a sua própria, a mostra sem nenhuma cerimônia. Não estava preocupado com caçadores naquele momento. Sabia que todos os homens da aldeia tinham partido para a montanha, onde achavam que poderiam obter respostas para seus problemas com a chuva que não dava mostras de aproximação. Homens estúpidos eles eram. Não precisava ter nenhuma capacidade fora do comum para saber que nenhum monge no mundo poderia ajudar quanto a isso, a chuva viria quando fosse o tempo.
Aproximou-se lentamente da água. Quando seus pés quase a tocavam, abaixou-se e submergiu a mão em concha, trazendo para si um pouco do líquido precioso. Por um instante foi seu próprio rosto o que viu, a pele branca como a neve, os olhos negros e inexpressivos, as mechas de cabelo igualmente escuro moldando a face sobrenatural acentuada por um sorriso cruel. A imagem não durou mais que alguns segundos, desaparecendo em pequenas ondas que pouco a pouco retornaram, formando uma nova. A princípio viu apenas a imagem indistinta de um homem escorado a parede de madeira do que parecia ser uma cabana, mas logo ela foi se aproximando até que o rosto do desconhecido ficasse bem visível.
- Inuyasha – disse Naraku. A voz baixa e ecoante se perdeu pelo lugar aberto.
Seus homens tinham lhe enviado notícias sobre a morte do youkai de olhos dourados, mas em nenhum momento acreditara neles. Assim que foi possível esgueirou-se do castelo de Hakuren, onde atuava como um dos conselheiros de um jovem rei, e partiu para aquela aldeia, de maneira que pudesse ter certeza do paradeiro daquele que vinha se tornando através dos anos um incômodo cada vez mais desagradável.
Não precisara chegar perto da aldeia ou da cabana para saber que estivera todo o tempo certo em não subestimar a sorte de Inuyasha. Estava próximo o suficiente para observá-lo com simplesmente suas habilidades telepáticas. Para alguém tão bem treinado como ele, a floresta tinha muito a contar. Vira como a sacerdotisa chamada Kikyou o encontrara e como o mantivera seguro e cuidado até então. Também pudera sentir a raiva do youkai e a decepção para consigo mesmo, por ter caído tão facilmente em uma emboscada levada a cabo por um grupo de humanos.
Patético... Naraku largou a água que ainda refletia o rosto do rapaz e andou na direção de algumas rochas, sentando-se ao chegar até elas. A paisagem ali era mesmo tranqüilizadora. Ele podia passar o resto do dia a observá-la, esquecido de seus planos e do youkai que ainda se recuperava na cabana de caçadores em algum lugar daquela floresta, mas por hora tinha coisas a fazer. Inuyasha estava fraco e vulnerável naquele momento, seria a ocasião ideal se mata-lo fosse sua intenção. No fundo de seu ser tinha certeza de que um dia eles estariam frente a frente e nesse dia ambos seriam destruídos, como era suposto que acontecesse com duas coisas que se mantinham em equilíbrio, mas não agora. Por enquanto ele se contentaria em jogar um pouco com o youkai.
Youkai... Se a real designação dos dois não fosse tão abominável para as duas raças que os originaram, talvez se acostumasse a chamá-lo do que Inuyasha realmente era. Assim como ele mesmo. Únicos no mundo... Os opostos perfeitos. Em um mundo povoado por youkais e seres humanos, eles foram um infeliz acidente, nascidos para algum fim ainda desconhecido daquela coisa traiçoeira chamada destino.
- Um dia, Inuyasha... - ele disse mirando a floresta, como se as árvores não existissem e pudesse olhar diretamente para o rosto do youkai a quem se dirigia. - Mas agora não. Por enquanto eu vou te dar um pequeno problema para se ocupar. Vamos ver se assim você esquece da nossa pequena pendência por um tempo maior que da última vez.
Com essas palavras, fechou os olhos e ficou completamente imóvel e concentrado. Os lábios esticaram-se em um sorriso de triunfo ao perceber quão frágeis eram os alvos que estivera procurando. Não haveria dificuldade alguma em levar a cabo o que planejara.
-o-o-o-o-o-
Começou com um súbito enfraquecimento, passando a uma leve tontura e por último a uma sensação de languidez. As pernas estavam dormentes, as mentes em branco. Eles tinham sido mergulhados em um agradável estado de entorpecimento onde nem seu próprio nome parecia importante. Havia apenas aquela voz fraca, ordenando a seus corpos que seguissem adiante. E assim eles fizeram.
Eiji franziu a testa quando o grupo de homens começou a diminuir a marcha. Eles estavam agora a menos de dois quilômetros da aldeia, inclusive já podiam ver a forma do vale surgindo entre as paredes de pedra esculpidas naturalmente na montanha. Até um instante antes, as vozes deprimidas dos homens do grupo preenchiam seus ouvidos com lamentos sobre como a ida até o mosteiro se mostrara inútil. Tudo o que tinham conseguido em resposta era a declaração de uma dupla de monges velhos e quase surdos de que a seca era uma conseqüência da presença de youkais na floresta. Que eram eles que surrupiavam o pouco de comida que ainda restava e, com sua aura maligna, faziam com que a terra se tornasse improdutiva. Agora, porém, o silencio tomava conta do grupo e de repente todos, a sua exceção, pareciam ter diminuído o passo e entrado em silêncio meditativo.
- Pai... - o garoto correu para perto do homem que seguia no final da fila, logo a sua frente. Era alto e tinha um corpo forte, conseqüente dos trabalhos pesados com os quais se ocupara durante toda a vida. Ele não respondeu, limitando-se a olhar para frente e continuar andando devagar, em um ritmo ligeiramente desengonçado. Seus olhos azuis pareciam turvos e vidrados e, ao perceber isso, Eiji recuou, assustado.
A floresta estava silenciosa agora. O som dos pássaros tinha enfraquecido e o sol estava amainando rapidamente. A noite se aproximava e a última coisa que Eiji queria era que a escuridão os envolvesse enquanto ainda estivessem naquela montanha. Além de não ter uma natureza das mais corajosas, o estado dos homens o estava deixando nervoso. Eles tinham mudado de ativos trabalhadores do campo para sonâmbulos de uma hora para outra. Aquilo era no mínimo estranho. Seria em decorrência de algum tipo de planta? Já ouvira muitas histórias bizarras sobre os efeitos que as ervas encontradas por aquela região eram capazes de causar.
Um pressentimento ruim instalou-se no coração dele. Eram tempos adversos aqueles... Quando o mundo parecia estar se preparando para uma mudança. Ultimamente, inconscientemente as pessoas pareciam estar sempre olhando para o céu, longe com seus pensamentos, esperando que alguma coisa viesse. Ele podia notar isso nos suspiros inconscientes do pai, no olhar desatento da mãe que encarava a floresta da cozinha de casa para logo franzir a testa, como se não lembrasse o que deveria estar fazendo, e voltar a suas tarefas diárias. Até mesmo podia perceber algo nos animais que ultimamente estavam mais inquietos do que o normal.
E havia o youkai na cabana dos caçadores.
Quando ouvira as palavras dos monges sobre os youkais serem responsáveis pelos problemas com a colheita, imediatamente a lembrança do encontro com Miroku lhe retornou a memória. Precisou usar de toda sua força de vontade para não confiar ao pai àquela informação. Nunca tinha escondido nada dele, ainda mais uma coisa tão séria e faze-lo causava nele um sentimento horrível de que estava cometendo uma espécie de traição. Por outro lado, se quebrasse a promessa que fizera a Miroku e dissesse o que sabia, não só perderia a amizade do jovem monge como causaria problemas a Kikyou e ela sempre fora uma boa pessoa e sacerdotisa, que ajudava aos outros sem preconceitos ou reservas de qualquer espécie e especialmente sem esperar nada em troca.
- O templo...
Os lábios do pai de Eiji se moveram, pronunciando aquelas únicas palavras. No mesmo instante elas ecoaram pelas gargantas de todos os outros homens. O garoto parou no mesmo lugar, assustado pela maneira como as vozes soaram distantes, quase como se quem as pronunciasse não fossem eles, mas suas vozes tivessem se tornado um caminho para os murmúrios do outro mundo.
- Pai? – Eiji chamou. Ao ouvir o som rouco que sua voz se tornara, assustou-se e recuou, afastando-se do grupo o máximo que podia sem, no entanto, perde-los de vista.
- Kikyou...
Eles disseram em seguida, da mesma maneira distante e espectral.
Então começaram a correr.
-o-o-o-o-o-
Kikyou deixou escapar um grito baixo, os olhos fixos na gota de sangue que deslizava do dedo ferido. Puxou o espinho ainda fixo sob a pele e levantou-se, sem pressa, deixando as ervas que colhia no chão e dirigindo-se até o poço, única construção visível no espaço aberto do pátio do templo.
Procurou com os olhos o balde cheio de água que tinha deixado por perto antes de começar com a lista de tarefas para as quais Kaede lhe designara antes de sair. O encontrou virado, um pouco afastado do poço, e teria praguejado se proferir palavras baixas fosse de sua índole. Limitou-se a suspirar, imaginando que algum animal tivesse passado descuidadamente por ali ou que até mesmo Miroku, correndo rápido e desatentamente como sempre fazia, virara o pequeno recipiente de madeira e seguira adiante, sem sequer preocupar-se em olhar para trás a fim de constatar que estragos fizera pelo caminho.
A jovem sacerdotisa recolheu o objeto resignadamente e o amarrou a corda que descansava na beira da parede do poço, descendo-o até ouvir o barulho da madeira chocando-se contra a água. Mais tarde, quando tivesse cuidado de seus afazeres, teria uma séria conversa com o irmão sobre desperdício. Em épocas de seca como aquela, tudo o que eles menos precisavam era de baldes cheios de água derramados na terra seca sem propósito algum.
Quando puxou de volta o recipiente cheio, apoiou-o com cuidado na borda do reservatório e começou a tratar do dedo machucado. Todo cuidado era pouco com aquela vegetação. Ela costumava ser traiçoeira, revelando seus espinhos quando menos se esperava. Eram anos de prática que tinha, mas de vez em quando um ou outro pequeno acidente como aquele ainda acontecia. Felizmente dessa vez havia sido um espinho inofensivo, mas poderia ter acontecido com uma planta venenosa. Precisava prestar mais atenção dali em diante.
Kikyou sorriu satisfeita quando o sangue que cobria a ponta do dedo desapareceu com a água. Como sacerdotisa estava acostumada a ver ferimentos infinitamente piores que aquele, mas ainda assim, a visão do sangue lhe trazia um mal estar desagradável. Fazia com que se lembrasse de anos atrás, quando ainda era uma criança e seus pais tinham sido mortos naquela noite gelada de inverno. Todas as lembranças sobre o incidente estavam agora borradas e confusas, exceto a do sangue manchando o tapete branco como neve na entrada do quarto dos pais e o youkai sorridente, fitando-a com seus olhos incrivelmente opacos, de pé sobre ele.
Kikyou espantou os pensamentos enquanto voltava para o lugar onde tinha deixado as ervas. O machucado tinha sido pequeno, mas estava latejando ritmicamente, a sensação de dor fazendo-a de repente sentir-se exposta e indefesa, como uma criança que se encontra desarmada no centro de um vale cujas montanhas em volta estejam servindo de forte para dois exércitos inimigos. Ser uma sacerdotisa, sempre aquela a ajudar os outros, às vezes faziam-na esquecer de que também era humana e vulnerável. De que de vez em quando ela também precisava ser ajudada.
O sol tinha se escondido completamente, deixando o céu em um tom cinza pálido que refletia apenas um último vestígio de luz. A sacerdotisa olhou para as árvores que rodeavam o templo e franziu o cenho. O som dos grilos que costumavam povoar os finais de tarde estava estranhamente ausente, além disso, toda a floresta parecia quieta, como se esperasse por alguma coisa.
Toda aquela quietude era um mau presságio...
Um sinal de alerta disparou na mente de Kikyou. Kaede sempre a ensinara a jamais deixar de levar em conta as mudanças no ambiente a sua volta, mesmo que ela não pudesse sentir nenhuma energia estranha se aproximando. As ervas foram momentaneamente esquecidas e apenas o ambiente passou a importar. Nenhum som. Nenhum movimento. Até mesmo o vento parecia ter feito uma pausa. Toda a paisagem esperando... Mas esperando o que?
De pé, no meio do pátio, olhando em volta e lutando contra a parte de sua mente que a mandava sair dali antes que fosse tarde demais, Kikyou começou a pensar novamente nos pais. Não conseguia se lembrar do rosto deles, por mais que tentasse, mas havia muitas lembranças de dias felizes que podia invocar. Coisas que tinham acontecido há tanto tempo e em um cenário tão distinto àquele que pareciam quase irreais, como se fossem imagens remanescentes de um sonho.
Mas por que estou pensando neles agora? Kikyou pensou. O coração estava começando a bater mais rapidamente e ela percebeu que estava tremendo. O cinza pálido do céu estava escurecendo cada vez mais à medida que a noite reivindicava seu espaço e aquela voz fraca dentro da cabeça dela, mandando-a sair dali o mais rápido que pudesse, estava começando a gritar mais alto. Não deixarei o templo abandonado. Não importa o que está vindo, cumprirei meu dever como sacerdotisa e permanecerei aqui...
Ela lembrou-se do arco e flechas de Kaede, guardados em um baú no quarto da velha sacerdotisa e desejou ter tempo para correr até lá e traze-lo. Sempre, desde que começara a viver ali, tivera uma estranha atração pela arma. Kaede dizia que há muito tempo as sacerdotisas costumavam utiliza-los para lutar contra os youkais. Mas isso tinha sido antes da ordem ser estabelecida entre eles. Antes de haver um grande youkai governando o sul e dele ter proibido que os humanos fossem tratados apenas como alimento.
Passos se aproximando de repente. Kikyou pode ouvir o som de gravetos sendo quebrados sob os pés de um grupo de homens. Eles estavam dizendo alguma coisa, mas ela não conseguia entender o que era. Podia ouvir os ruídos das vozes deles soando ao mesmo tempo sussurradas e ecoantes, um som que ela nunca tinha ouvido semelhante até então. São homens... Homens da aldeia... Ela tentou se tranqüilizar, convencendo-se de que isso queria dizer que não havia grande perigo, mas a sensação de alerta, a vontade de fugir, a certeza de que havia algo de terrivelmente errado acontecendo, não a abanaram, pelo contrário, se tornaram ainda mais fortes. Chegou mesmo a olhar para trás, calculando mentalmente quanto tempo levaria para entrar na casa e sair pelos fundos, de onde poderia seguir para a aldeia e ter com Kaede, mas nesse instante, o portão entreaberto do templo se moveu violentamente para o lado e eles apareceram, finalmente parando de se movimentar.
A noite tinha caído completamente sobre o vale. Um pássaro gritou ao longe, dando boas vindas a escuridão, então o silêncio voltou a imperar.
Kikyou recuou um passo, forçando a vista na direção dos homens. Era um grupo pequeno, uma dúzia de trabalhadores do campo cujos nomes e familiares ela conhecia de cor. Abriu a boca para perguntar o que queriam, mas as palavras foram contidas assim que seus olhos acostumaram-se a pouca luminosidade e encontraram-se com as pupilas turvas dos visitantes. Os olhos dele eram assim... Os olhos daquele youkai há tantos anos... Novamente a imagem daquela noite, do homem que o pai dela acolhera e que pagara sua bondade com horror e morte. Por que as lembranças insistiam em voltar para confundi-la em um momento como aquele? Elas estavam ali para lhe dizer alguma coisa? Será que quando a escuridão se dissipasse e um novo dia surgisse, ela ainda seria a mesma Kikyou que era naquele momento? Será que ela ainda existiria?
- Kikyou...
Os homens disseram. A palavra surgiu dos lábios do primeiro deles, um velho de cabelos acinzentados e corpo pequeno, então ecoou pelos de todos os outros, soando daquela maneira estranha, reverberando pela floresta apesar de soar muito baixo, quase como se tivesse tido origem muito longe, em algum lugar além das montanhas, talvez além de qualquer montanha ou terra conhecida.
Kikyou recuou novamente, entendendo que fosse o que fosse que estivesse acontecendo, aqueles homens não estavam em seu estado normal e sua intenção para com ela não parecia apenas a de ter uma conversa. Eles a estavam fitando daquela maneira perturbadora, com suas pupilas ausentes, parecendo estar apenas esperando um sinal para recomeçar a avançar.
Silêncio.
Nenhum movimento.
Pelos instantes que se seguiram a sacerdotisa prendeu a respiração, movendo apenas os olhos em volta do lugar, procurando alguma coisa com que pudesse se defender caso suas suspeitas estivessem corretas. A floresta em volta do templo continuava estranhamente silenciosa. O pátio largo parecia abandonado em meio a toda a quietude. Kikyou cerrou os punhos ao constatar que não havia nada que pudesse lhe servir de arma ao redor. Naquela manhã o muro estava cheio de pedaços de madeira que Miroku trouxera da floresta havia alguns dias para que pudessem alimentar o fogo durante a noite, à tarde, porém, ela mesma decidira levar tudo para dentro, de maneira a desocupar aquele espaço e facilitar sua tarefa de varrer as folhas secas do chão.
Agora mesmo o único objeto disponível era o balde quase cheio que ainda descansava na borda do poço e a corda que utilizara para erguê-lo.
A noite estava completamente escura. Raios de luar brilhavam por entre os galhos das árvores, mas estas eram altas demais para permitir uma visão da lua. Kikyou olhou para o céu em busca de estrelas, mas viu apenas uma meia dúzia delas espalhadas longe umas das outras e tão pequenas que quase não se percebia que estavam lá. Um subido calafrio de medo congelou a espinha dela quando de súbito o significado de todo aquele cenário lhe chegou ao entendimento.
Então o vento soprou violentamente pelo espaço do pátio, levantando uma nuvem de poeira e, como Kikyou esperara, os homens que a observavam recomeçaram a se mover.
Ela voltou-se para a casa do templo e fez a única coisa que a situação lhe permitia: começou a correr, sem importar-se em olhar para trás e certificar-se se estava sendo ou não seguida. O espaço até a construção de madeira onde vivia era grande e estava muito mais perto do portão que de lá. Novamente pensou no arco e flecha de Kaede, desejando-o tê-lo consigo. Mesmo nunca tendo empunhado-o, talvez ele fizesse alguma diferença.
Mas se for o destino... Não! Kaede quem a ensinara sobre o destino. Uma desculpa para todas as vezes que ela não conseguisse salvar alguém; para que os trabalhadores do campo não precisassem culpar a si mesmos pelos prejuízos que às vezes tinham graças ao próprio descuido; para que as pessoas achassem que não podiam fugir da miséria ou da morte...
Os pais dela nunca a ensinaram sobre destino. Por muito tempo, antes de aprender o significado daquela palavra, imaginara se de alguma maneira eles poderiam ter sido salvos. Se ao menos seu pai nunca tivesse aberto a porta para o youkai naquele dia... Mas ele era um bom homem. E a besta que lhe roubara a vida era forte demais. Talvez destino fosse isso. Ninguém poderia fugir de um caminho apenas porque sua natureza nunca permitiria que seguisse por um outro. Não era uma questão de não poder escolher... Mas de não ser capaz de seguir outra escolha.
O vento tinha voltado a soprar e ele trazia os sons dos passos do grupo de homens que corria no encalço dela. Kikyou aumentou o passo o máximo que pode, concentrando-se na visão da casa e no pensamento de atravessá-la correndo até os fundos e seguir para a aldeia, a procura de Kaede. Se os aldeões estavam sendo controlados por alguma coisa como aparentava, talvez a velha senhora pudesse fazer algo por eles.
Faltavam apenas alguns metros para a casa. Talvez então aquele pressentimento tivesse sido um engano e ela estivesse prestes a provar a si mesma que tinha condições de mudar seu destino. Tentou correr ainda mais rápido, querendo que aquilo acabasse o quanto antes, mas no instante em que seus pés impulsionaram-se ainda mais para frente, uma mão alcançou seu ombro e a puxou violentamente para trás, lançando-a contra o chão com tanta força que seu corpo deu um giro em volta de si mesmo antes de parar.
Kikyou arregalou os olhos ao perceber que os homens estavam agora de pé a sua volta. Eles tinham parado novamente, mas estavam juntos demais um do outro para lhe dar espaço para fugir. Ela moveu-se lentamente, tentando avaliar os danos antes de tentar se levantar. No instante em que afastou o braço para frente, o ombro foi atingido por uma pontada de dor tão forte que quase a derrubou novamente. O gi branco que vestia estava agora sujo de terra e os braços expostos cobertos por arranhões. Kikyou olhou para cima, para os rostos inexpressivos dos homens e deixou escapar um gemido de dor e medo; eles continuavam parados, olhando para ela, e tudo o que podia ver deles eram os olhos turvos e a sombra das faces banhadas por um pequeno resquício de luar. Novamente o silêncio, agora acompanhado por um fraco sopro de vento, e então aquela sensação de que tudo aquilo era um palco preparado para sua última cena.
Então é assim que acaba?, Kikyou pensou. E por um instante ela desejou que assim fosse. Talvez se não resistisse, eles a matariam rapidamente e ela finalmente poderia rever os pais, voltar à época em que fora mais feliz, a única de sua vida na qual pudera ser ela mesma. Eram muitas vezes as que pensava naquilo, mas sempre se envergonhava por achar que de certa forma estava desprezando toda a bondade com a qual Kaede a acolhera e ensinara durante os últimos anos. Naquele momento, entretanto, ela esperou sentir a sensação familiar de embaraço diante do pensamento, mas a mesma nunca veio. As coisas, pelo contrário, pareciam incrivelmente mais claras. Ser uma sacerdotisa não tinha sido sua escolha. Acreditar no destino, dedicar sua vida aquela aldeia quando na verdade ela só queria ser ela mesma... É assim que acaba. É na hora da morte que toda a verdade vem à tona, nisso eu posso acreditar...
E ainda sentindo aquele desejo estranho de entregar-se a morte, ela resistiu quando os homens se aproximaram. Ergueu os braços defendo-se como podia quando as mãos deles voaram para cima dela e acertaram seu corpo frágil com a força de quem estava acostumado a lidar com o campo e animais grandes. Os olhos dela pediram compaixão quando um deles a ergueu para que um outro pudesse continuar com os ataques cruéis. Mas ela não chorou. Tampouco implorou ou emitiu qualquer ruído que não fossem gemidos que escapassem as suas forças.
Quando o medo e a dor desapareceram, Kikyou soube que estava prestes a acabar. Ela olhou uma última vez em volta, para o lugar que foi sua casa durante aqueles últimos anos, olhou para o portão e por um instante pensou ter visto a silhueta de um garoto observando-a de lá.
As imagens começaram a ficar borradas em seguida, apesar de que os sons de ataques continuavam. Em sua mente, a imagem de Miroku apareceu e subitamente sentiu-se culpada por excluí-lo de seus medos e por ter desejado abandona-lo. Meu pequeno irmão... Eu sinto muito por não estar aqui para você... Ele tinha sido só um bebê quando deixaram aquela vida para trás e não conseguia lembrar-se de ter sido ninguém além do que era agora. Quantas vezes o invejara por isso... Ele era tudo o que lhe restara de sua família e o amara como a ninguém no mundo, mas não o suficiente para desejar enfrentar junto com ele aquele pequeno espaço onde passaram a viver. Ela tinha sido fraca e covarde, vivendo conforme lhe diziam para viver, mas sempre desejando desistir. Eu sinto tanto...
Kikyou sentiu uma grande tristeza. Talvez tivesse chorado se estivesse consciente, mas agora tudo o que podia fazer era lembrar e se arrepender. A imagem de Inuyasha na cabana dos caçadores surgiu logo em seguida a do irmão e ela finalmente entendeu que tivera esperanças de que ele pagasse sua bondade em ajudá-lo da mesma maneira que o youkai que matara seus pais. Ela tentara de alguma maneira mudar seu destino... Mas quem podia dizer que este não estava correndo exatamente como estava escrito para ser?
Os sons da noite, dos grilos e dos pássaros voltaram, indicando que a cena enfim acabara e as cortinhas podiam ser fechadas, então silenciaram.
Ela estava se distanciando mais.
Com suas últimas forças tentou se lembrar dos rostos dos pais, mas foi inútil, eles estavam tão distantes dela quanto ela estava do resto do mundo.
Eu sinto muito..., pensou. Então mais nada.
Kikyou sentiu que desaparecia completamente.
-o-o-o-o-
O vento é o melhor amigo do youkai, dissera-lhe seu pai uma vez – É por causa dele que sentimos o cheiro de um inimigo antes mesmo que ele alcance o nosso território, é ele que balança os cedros e levanta a terra tornando uma emboscada muito mais fácil de ser percebida. O vento tem muito a nos revelar. Mantenha seus sentidos abertos a ele ou você estará perdido.
Inuyasha lembrou-se daquelas palavras e perguntou-se o que seu pai diria se pudesse vê-lo agora. Ele tinha sido tolo subestimando seus perseguidores e ignorado qualquer outra coisa que não fosse o fato de que eles eram apenas humanos. Por causa daquele erro estúpido, quase acabara morto sem completar aquela que tomara como sua missão na vida. Sesshoumaru estava certo, ele não estava pronto para partir. Ainda era jovem e inexperiente demais para um desafio como aquele. Se Kikyou não o tivesse encontrado e tratado de seus ferimentos talvez estivesse morto, largado em algum lugar da floresta onde os que deixara para trás jamais o encontrariam. Teria partido para o outro lado completamente sozinho, dando fim a uma vida sem nenhuma realização da qual pudesse se orgulhar.
Remoer aqueles pensamentos era a principal razão de sentir-se tão fraco. Ainda estava no chão, escorado na parede com a cabeça abaixada e a mão segurando a atadura nova que a sacerdotisa tinha trocado aquela manhã. Lembrou-se do rosto dela ao olhá-lo da porta antes de sair e também do daquele rapaz que o descobrira ali e saíra correndo apavorado sem que ele nada fizesse para impedir. Talvez devesse ter falado sobre isso com Kikyou, mas não sentia nenhuma vontade de conversar e isso fora mais forte do que qualquer preocupação que tivesse com os problemas que ela poderia ter se as pessoas de sua aldeia descobrissem sua permanência ali tão perto.
O rapaz de manto azul... Ele tinha os mesmos olhos castanhos dela. Poderia ser o irmão de quem a ouvira falar, mas, nesse caso, por que ele não entrou e pediu explicações simplesmente? Sua aparência era tão terrível a ponto de causar uma reação de tamanha repulsa?
Seus pensamentos foram interrompidos pelo som do bater das asas de um grupo de pássaros. Era um barulho fraco, que vinha de longe, de uma das montanhas que circulavam a floresta. Inuyasha franziu o cenho quando o cheiro que ele identificou como o de humanos – muitos deles – atingiu seu olfato sensível. Não ignore o que o vento tenta lhe dizer, a frase assaltou seus pensamentos e isso lhe trouxe forças suficientes para que ele se arrastasse de onde estava, apoiando-se nas paredes, até chegar à porta da cabana. Não estava trancada e ele a entreabriu o suficiente apenas para que tivesse uma boa visão da paisagem lá fora.
O cheiro dos humanos ficou mais forte assim que o vento soprou contra seu rosto, mas não havia nada estranho em seu campo de visão. À frente a floresta reinava imponente, com as árvores dançando para um lado e para o outro sob a vontade da brisa. Mais adiante, quatro montanhas, rodeadas pela luz alaranjada do sol que já estava completamente escondido atrás delas, erguiam-se, altas, apontando para o céu. As duas da esquerda, cuja lenda contava que fora uma só antes dos deuses castigarem a terra com grandes enchentes, eram verdes e havia uma cascata caindo de entre elas. A última vez que estivera ali – há muito tempo, quando os homens nem mesmo tinham invadido aquela região com seus reinos armados – elas pareceram uma visão maravilhosa e ele lembrava de ter pensado que um dia subiria até lá, somente para ver como pareceria a vista estando mais alto que qualquer outra coisa no mundo. As montanhas da direita, pelo contrário, eram escuras e pareciam ser formadas mais por rochas que por vegetação. A que estava mais a esquerda era a mais alta de todas, uma visão intimidadora. Por um minuto pensou que talvez o cheiro e os sons de pássaros que debandavam assustados viessem dela, mas isso não podia ser. Aquela era a chamada Montanha da Purificação, o lugar para onde enviavam os monges que cometiam faltas graves para que purificassem suas almas antes de serem aceitos de volta ao mosteiro. Não estava bem certo, mas tinha a impressão que nenhum dos que foram condenados ao exílio naquele lugar conseguiu retornar com vida.
Novamente um som. Dessa vez de um animal pesado, que fazia a terra tremer sobre seus passos, talvez um urso. Os olhos de Inuyasha foram atraídos para a cascata onde, um pouco ao lado, a luz de uma tocha fora acesa e agora fazia o percurso rumo à aldeia.
Como ele pensara, era um grupo de humanos, provavelmente vindo do mosteiro. Observou a luz movendo-se por entre as árvores mais algum tempo antes de fechar a porta e escorar-se na parede, uma expressão de inquietação no rosto.
Aquela tocha... A maneira como se movia... Era como se os humanos estivessem correndo. Correndo de alguma coisa? Ou para alguma coisa?
Inuyasha balançou a cabeça. Por que aquilo o preocupava? Provavelmente eles apenas estavam tentando chegar em casa antes que o céu ficasse completamente escuro e a floresta se tornasse mais perigosa. Sabia que, apesar daquela área não ser um dos territórios preferidos dos youkais de menor porte, era possível que houvesse algum perambulando a procura de comida e os homens da aldeia poderiam estar justamente pensando nisso.
Possivelmente...
Então o que era aquela sensação de que algo muito errado estava acontecendo lá fora?
A vontade dele era esquecer aquilo e voltar para seus pensamentos. Dormir, se tivesse sorte. O problema era que, apesar de poder fazer isso, sabia que não poderia esquecer aquela sensação tão facilmente. O vento estava lhe trazendo uma mensagem de que haveria problemas e, apesar de não conseguir confiar totalmente em nenhum humano, aquela sacerdotisa tinha salvado sua vida e ele estava em dívida com ela. Tirou a mão de sobre a faixa no abdômen e se mexeu, de maneira a conferir o quanto tinha melhorado. Esperou sentir uma pontada de dor, mas nada aconteceu. Provavelmente estaria se movendo mais lentamente, mas nada que o impedisse de atravessar a floresta em direção à aldeia e espreitar por entre as árvores se estava tudo bem.
Pegou as roupas que continuavam no chão – Kikyou tinha se oferecido para jogá-las fora e trazer novas, mas ele se recusara a desfazer-se delas –, vestiu-as e saiu, escancarando a porta e correndo para a segurança da floresta.
Inuyasha saltou sobre as árvores, avançando rapidamente na direção dos cheiros característicos da aldeia. De onde estava podia sentir um aroma agradável de carne cozida mesclado aos de seres humanos. Era quase hora do jantar, provavelmente em todas as casas algo estava sendo levado ao fogo, o que o ajudaria a guiar-se até seu destino. Parou por um instante no galho mais alto de um grande cedro e olhou em volta, procurando pelo brilho das tochas do grupo que vira da cabana. Não demorou muito a localizá-los, ao longe, ainda descendo a montanha o mais rápido que podiam. O youkai franziu o cenho ao perceber que o brilho que julgara como sendo tochas na verdade era alguma outra coisa. Uma espécie de energia dourada que os rodeava. E com toda certeza não era o tipo de energia que seus sentidos estavam acostumados a captar vindo de um ser humano. Era algo difícil de descrever, mas que ele já tinha visto antes. Muitas vezes, desde que se lembrava. Rodeados por aquela estranha áurea era como ficavam os humanos sob o jugo de Naraku.
Com um único salto, Inuyasha desceu da árvore e posicionou-se sobre mãos e pés, em uma postura que o fazia parecer ainda mais selvagem. O ferimento no abdômen pulsou diante do esforço, mas ele ignorou a sensação, concentrando-se em volta, a fim de localizar qual era a fonte daquela energia. Se Naraku estava realmente ali, provavelmente significava que tinha vindo certificar-se de que ele estava realmente morto. Mas sendo assim, por que controlar um grupo de aldeões sem nenhuma habilidade incomum? Ele não precisava dos olhos deles para ter uma boa idéia da área e sabia muito bem que mandar humanos comuns atacá-lo não daria nenhum resultado. Só se os estivesse usando para incitar revolta entre os outros humanos... Outra coisa que Naraku sabia é que se a aldeia inteira se rebelasse contra sua presença, ele sairia do esconderijo e fugiria. Atacar seres mais fracos quando havia alternativa não era de seu feitio. Sim, devia ser isso... Quando ele se revelasse, haveria alguma provável armadilha esperando para pega-lo. Seus ferimentos não estavam tão ruins quanto antes, mas mesmo assim, sem estar com cem por cento de sua força seria uma presa fácil.
Continuou na mesma posição por mais algum tempo, mas acabou voltando a ficar de pé. Não adiantava nada. Por maior que fosse sua concentração, jamais encontraria Naraku quando ele não quisesse ser encontrado. Pensou em voltar para a cabana, mas ainda havia aqueles homens descendo a montanha... O melhor era sair dali o mais rápido possível e procurar algum lugar longe de aldeias para se recuperar.
Voltou a saltar sobre as árvores, dessa vez na direção contrária a fragrância da comida dos humanos. Avançou o mais rapidamente que pode sem forçar ainda mais o machucado. Quando o sol escondeu-se completamente no horizonte, já estava relativamente longe da cabana, da aldeia e da sacerdotisa que o ajudara. Só lamentava ter estado tão profundamente imerso nos próprios pensamentos, em lamentar os erros que cometera, que sequer procurara uma forma de agradecer. Ela tinha merecido ao menos uma palavra grata... Era humanos como ela que o faziam confiar no que o irmão Sesshoumaru dizia sobre os youkais não deverem abusar da força mesmo que pudessem faze-lo. Que assim como havia youkais bons e maus, havia humanos bons e maus.
A noite estava caindo sobre a floresta. Inuyasha respirou fundo. Então sentiu que o vento parava de soprar.
Ele estacou tão abruptamente que quase seus pés deslizaram de sobre o galho e escorregaram para o chão. Equilibrou-se na última hora, segurando o tronco da árvore na qual estava com uma mão e o local do machucado com a outra. Se continuasse fazendo esforço daquela maneira, acabaria precisando de cuidados outra vez. Resmungou em voz baixa, zangado consigo mesmo, então voltou a prestar atenção a sua volta. Não sabia quando acontecera, tinha estado novamente mergulhado nos próprios pensamentos, mas o tempo parecia ter parado. Nenhum vento, nenhum dos sons típicos da floresta... Nada.
Sem o vento para espalhar as fragrâncias, seu olfato era praticamente inútil. Naquela quietude os ouvidos não seriam também de grande ajuda. Tudo em volta parecia normal, a não ser pelo estranho fenômeno de toda a natureza ter decidido silenciar de repente.
Como daquela vez...
Subitamente, Inuyasha entendeu o que estava acontecendo. Fosse o que fosse que Naraku tinha preparado para ele, não visava atingi-lo diretamente, apenas assusta-lo. Ou ainda enviar um recado de que estava vivo e em pleno uso de suas forças. Tentou imaginar o que poderia estar acontecendo mais atrás, mas mil possibilidades dançavam dentro de sua mente, cada uma menos animadora que a outra. Os humanos dominados não passavam de marionetes nas mãos daquele youkai e ele podia manipulá-los de qualquer forma que lhe conviesse. Isso incluía faze-los matar a todos os outros aldeões ou mesmo uns aos outros.
Sem pensar duas vezes, Inuyasha deu meia volta e começou a saltar de volta na direção da aldeia. Talvez não chegasse a tempo de impedir o pior, mas pelo menos tentaria. Seria lamentável se a aldeia de Kikyou fosse destruída porque ele não voltara para averiguar. Estava em dívida com ela e, com o envolvimento de Naraku, podia dizer que devia também a si mesmo.
-o-o-o-o-o-
- Você se parece comigo... Precisa de ajuda?
A mulher cujo rosto estava imerso nas sombras recuou. Olhou para trás, onde uma estrada de terra expandia-se para dentro de um bosque de árvores muito altas, mas não conseguiu se mover. Ela parecia querer desesperadamente sair das sombras e seguir adiante, mas algo a impedia. Algum tipo de força invisível que estava além de dela mesma.
- Eu posso ajudar você? – Kagome voltou a perguntar.
- Eu quem ajudarei você – a mulher respondeu com uma voz suave. – Siga até o templo, no final da floresta. É fácil encontra-lo, você tem apenas que manter os olhos nas paredes de pedra que cercam o vale. É lá que você vai descobrir o que está procurando...
Kagome abriu os olhos de repente, então se ergueu até acomodar-se melhor na sela de Buyo. Estivera cochilando novamente, mas felizmente o cavalo continuara galopando em linha reta como ela lhe ordenara.
- Obrigada Buyo.
Acariciou o pelo do cavalo lentamente, esticando as costas a fim de aliviar-se do desconforto que a cavalgada lhe infligira. Nem mesmo tinha idéia de quantas horas fazia desde que parara pela última vez. Decidira-se por continuar o máximo de tempo possível, de modo a acabar com aquela tarefa o mais rápido que pudesse, mas estava começando a perder a noção do tempo.
A jovem princesa do Norte deixou escapar um bocejo enquanto olhava em volta, para a floresta cuja vista parecia ser sempre a mesma. Estava escuro agora, o caminho iluminado apenas pelos raios de luar que conseguiam penetrar a folhagem densa. As árvores pareciam ainda mais intimidadoras cercadas de sombras, como se cada uma delas guardasse uma fera prestes a atacar. Kagome franziu a testa. Agora que estava completamente acordada, lentamente começava a lembrar-se do que estivera sonhando: havia uma estrada de terra e uma árvore pequena, em meio a cedros gigantescos, cheia de galhos e folhas amareladas que voavam ao sabor do vento. Sob ela estava uma mulher cujo rosto estava escondido pelas sombras, mas que de alguma maneira sabia que se parecia muito com ela mesma. Siga até o templo, no final da floresta. É fácil encontra-lo, você tem apenas que manter os olhos nas paredes de pedra que cercam o vale. É lá que você vai encontrar o que está procurando..., ela tinha dito. Teria sido apenas um sonho? Ou aquelas palavras significavam alguma coisa?
A mulher do sonho parecia tão perdida... E ela olhava nostalgicamente para a estrada de terra que adentrava os cedros...
Kagome balançou a cabeça. Ainda estava impressionada com o sonho que tivera anteriormente com o pai, era isso. Como podia achar que algo que lhe diziam em sonho poderia servir de indicação no mundo real?
Ainda tentava convencer a si mesma da loucura daquilo quando a floresta ficou para trás e ela se viu em um campo aberto. Havia uma cabana no meio da clareira, provavelmente pertencente a algum caçador, e então, à frente, mais floresta. A jovem prendeu a respiração ao perceber que adiante, além da floresta, quatro montanhas se erguiam, duas delas parecendo paredes de pedra, exatamente como ouvira no sonho.
Por um instante cogitou se não devia parar para descansar na cabana, mas acabou deixando o pensamento de lado. Provavelmente se parasse, passaria todo o tempo pensando no que encontraria quando continuasse a viajem e não conseguiria dormir. O melhor era acabar com a dúvida de uma vez por todas agora que estava tão perto.
- Vamos em frente! – gritou.
Buyo atendeu prontamente, entrando outra vez na floresta a toda velocidade.
-o-o-o-o-o-
O vento voltou a soprar e parecia que os grilos e pássaros estavam gritando todos ao mesmo tempo. Inuyasha teve que usar de toda sua força de vontade para não cobrir os ouvidos diante da cacofonia de sons silvestres que bombardeou sua audição apurada.
Ao invés do impacto faze-lo parar, ao contrário, o fez correr ainda mais rápido. Se agora tudo tinha voltado a ser como antes, então o que quer que tivesse acontecido, já terminara. Ele chegara atrasado como tinha temido.
A primeira coisa que notou ao sair da floresta foi que a aldeia estava mais barulhenta do que era de se esperar àquela hora da noite. Havia um movimento estranho de pessoas correndo com tochas e velas na direção contrária a montanha, entrando em meio às árvores e voltando em seguida, apenas para sussurrar alguma coisa entre elas.
Inuyasha pensou em se aproximar, mas acabou desistindo. Se fosse visto causaria uma confusão indesejável e isso acabaria por obrigá-lo a se afastar sem descobrir o que estava havendo. Optou por dar a volta, se dirigindo silenciosamente na direção para onde as pessoas estavam seguindo.
Não demorou muito, avistou os muros do templo. Várias mulheres discutiam com dois homens jovens parados na porta, implorando que as deixassem entrar, mas eles limitavam-se a balançar a cabeça negativamente e segura-las quando insistiam pela força. Alguma coisa tinha acontecido no templo. Ele podia sentir um cheiro fraco de sangue saindo de lá.
Voltou a entrar na floresta, rodeando o templo por cima das árvores até encontrar uma parte do muro completamente isolada.
O grito de uma mulher soou vindo da frente e Inuyasha sentiu o coração apertar. O que Naraku tinha feito daquela vez? A imagem de Kikyou surgiu de repente em sua mente. Ela provavelmente vivia naquele templo. Estaria bem?
A mulher continuou a gritar. Estava chorando por alguém. Um daqueles homens controlados por Naraku devia ser marido ou filho dela. Humanos eram suscetíveis aos ataques mentais do youkai e raramente sobreviviam a eles. Àquela hora já deviam estar todos mortos.
Inuyasha suspirou. Deu um salto e pulou o muro do templo, esgueirando-se pelas sombras e chegando o mais perto que podia da construção. Precisava saber se ela estava viva, apenas isso. Se não estivesse, seria mais uma pessoa que não fora capaz de salvar e teria que viver com isso. Esgueirou-se quase rastejando, o corpo colado a parede da casa, até encontrar uma janela. Olhou para dentro e não pode deixar de se surpreender com o que viu. O rapaz do outro dia, o que ele achou que talvez fosse o irmão de Kikyou, vestido com a mesma túnica de monge, estava segurando um outro garoto pelo gi e apontando a mão fechada na direção do rosto dele.
- Me diga por que eu não devo matar você agora – disse ele.
O outro olhou para baixo e não respondeu. Apenas fechou os olhos, esperando que o soco viesse e tudo acabasse rapidamente.
-o-o-o-o-o-
Miroku tinha saído bem cedo àquela manhã com a intenção de passar o dia na floresta, procurando ervas ou fazendo qualquer outra coisa que tirasse de sua mente Kikyou e o youkai na cabana dos caçadores.
Estava sendo difícil para ele vê-la todos os dias sem, no entanto, perguntar o que exatamente estava acontecendo para que estivesse mantendo uma daquelas criaturas tão perto da aldeia. Justamente Kikyou... Depois de tudo o que ela passara, de ainda ter lembranças sobre a noite em que os pais deles foram assassinados por uma besta sanguinária como aquela...
Até certo ponto, ele conseguiu distrair-se bastante o dia inteiro. Passou uma boa parte dele no rio, conversando com algumas garotas que andavam por ali lavando algumas roupas ou simplesmente levando água para casa. Até mesmo chegou a ajudar algumas delas com os baldes, sorrindo o tempo todo e não perdendo nenhuma oportunidade de dizer o quanto estavam bonitas. Foi quando a tarde começou a avançar e escuridão tomou o vale que ele começou a se preocupar sobre voltar para casa. Mais um dia estava terminando e não teria como deixar de estar frente a frente com a irmã, nem que fosse à hora do jantar. Sempre havia a opção de ir para a casa de Eiji e ficar por lá durante uma noite, mas isso apenas adiaria um confronto inevitável. Ele tinha que escolher: perguntar claramente a Kikyou o que ela estava fazendo ou esquecer tudo e simplesmente confiar no julgamento dela.
Ainda não tinha se decidido quando chegou aos portões do templo. Estava distraído, então não viu os dois homens que guardavam a porta até sentir a mão de um deles o segurar pelo braço.
- Você não pode entrar agora – disse ele.
Miroku recuou, assustado. Olhou para os rostos dos homens e os reconheceu imediatamente. Ambos eram agricultores locais, pessoas que conhecia desde criança. Sorriu e abriu a boca para cumprimentá-los, mas os olhares escuros deles o intimidou. Por que estariam ali, ainda mais parecendo tão preocupados? Será que... Kikyou!
- Eu vivo aqui! – respondeu e recomeçou a avançar, mas novamente o seguraram.
- Houve um acidente aqui, Miroku – disse o outro homem com um tom de voz mais suave. Ele tinha por volta dos cinqüenta anos, o dobro da idade do outro, e olhos azuis gentis. – Espere um pouco aqui, apenas até que Kaede diga que você pode entrar.
Mas as palavras que deviam tranqüilizar fizeram com que Miroku ficasse ainda mais nervoso. Ele recuou alguns passos, então tomou impulso e correu para dentro do templo, passando pelos dois homens antes mesmo que pudessem pensar em conte-lo. Atravessou o pátio escuro rapidamente, mas mal tinha chegado à metade quando as silhuetas de Kaede e alguns outros homens entraram em foco, todos parecendo muito pálidos, encarando alguma coisa imóvel no chão.
O garoto gelou. Parou onde estava sem se preocupar que podia ser alcançado e tirado dali a força, então olhou bem para o chão, aos pés de Kaede. Eram homens, vários deles, todos caídos e imóveis. Ele não chegou a ver os braços retorcidos e as pupilas ausentes, mas estava perto o suficiente para perceber que havia algo de anormal naqueles corpos. Alguma coisa que não estava certa, mas que não conseguia identificar a primeira vista.
- Miroku? – a voz de Kaede soou distante. Ele não estava mais no mundo real. A sua volta havia apenas os corpos e a sensação de que alguma coisa terrível tinha acontecido a Kikyou.
Mais tarde ele se lembraria do toque suave de Kaede afagando seus cabelos e o conduzindo até dentro de casa. Então da voz dela, explicando que Kikyou sofrera um acidente, que estava machucada, mas que cuidariam dela até que ficasse boa. E então ele saberia que ela tinha agido daquela maneira porque o julgava nada mais que um garoto. Não quisera lhe dizer a verdade, que sua irmã tinha sido morta assim como foram seus pais. Que, embora o coração dela ainda batesse e seu rosto estivesse tão intacto quanto estivera ainda àquela manhã, ela nunca mais acordaria. Agora tudo o que eles podiam fazer era esperar que a morte viesse reivindicar sua alma.
Ele tinha ficado imóvel enquanto escutava. E também depois que Kaede o deixara, não saberia por quanto tempo. Seus sentidos só voltaram a funcionar quando ouviu a voz gaguejada de Eiji:
- Miroku, eu sinto muito...
Eiji! O único que sabia sobre Kikyou e o youkai. Por que mais alguém faria mal a ela? Sua irmã sempre fora uma boa pessoa, que levava a sério seu ofício como sacerdotisa. Ela nunca fizera mal a uma mosca e todos na aldeia gostavam dela. Então por quê...? Levantou-se de um salto, agarrou o gi de Eiji e ordenou, encarando-o com olhos tão furiosos que ele mesmo se assustaria se pudesse se ver em um espelho:
- Me diga por que eu não devo matar você agora.
Nenhuma resposta. Os olhos de Eiji estavam quase tão vagos como os seus tinham estado instantes antes. O garoto fechou os olhos e lágrimas começaram a escapar deles.
- Meu pai está morto – ele sussurrou.
Miroku o soltou com mais violência do que pretendera e o encarou ainda furiosamente.
- Como assim morto?
- Eles subiram para o mosteiro. Aconteceu alguma coisa com eles... Eles bateram nela... E era quase como se ela estivesse sorrindo...
Eiji ajoelhou-se no chão e começou a soluçar como uma criança. Miroku respirou fundo, tentando retomar o controle de si mesmo.
- Você disse a eles sobre o youkai? – perguntou. A voz soou tão fria quanto a expressão em seu rosto.
- Eu juro que não – Eiji respondeu entre soluços. Por um instante, Miroku quase teve pena dele. Mas ver um homem debulhando-se em lágrimas daquela maneira, mesmo sendo seu amigo, parecia tão patético a seus olhos que não fez nenhum gesto para confortá-lo.
Limitou-se a suspirar e andar até a porta da casa, pensando se deveria ir ver com seus próprios olhos como Kikyou estava ou ponderar sobre as palavras de Kaede e tirar conclusões por si mesmo.
Um acidente, ela tinha dito. Mas Eiji falara outra história, algo sobre terem batido nela. Apesar de o amigo ter jurado não ter dito nada, não conseguia pensar em outro motivo para alguém machuca-la a não ser aquele youkai na cabana dos caçadores. Era culpa dele! Alguém devia tê-lo ouvido naquele dia... Se ao menos tivesse perguntado a irmã o que tinha acontecido ao invés de falar para o primeiro que aparecia a sua frente...
Pensou em voltar e perguntar a Eiji o que ele tinha visto, mas os soluços do outro ainda eram audíveis e ele não queria ter que esperar.
Saiu para o pátio e andou lentamente para fora. Não percebeu a figura de Inuyasha que o seguia com os olhos escondido nas sombras. Mal teve conhecimento dos soluços desesperados das esposas dos homens mortos. Apenas continuou andando, até entrar na floresta e desaparecer por entre as árvores.
E depois disso, durante muito tempo, ninguém ouviria falar dele naquela aldeia.
-o-o-o-o-o-
Eles bateram nela... Era tudo o que Inuyasha precisava saber. Ele esperou até que Miroku saísse de vista, então voltou para floresta exatamente pelo mesmo caminho pelo qual tinha entrado no templo. Saltou para uma árvore e então para outra. Não tinha percorrido mais do que meia dúzia delas quando decidiu parar. Ficaria ali em cima o resto da noite, ouvindo as mulheres chorando e sentindo o ar pesado que pairava sobre as proximidades da aldeia.
Ele tinha deixado acontecer novamente. Mais uma pessoa boa tinha sido destruída diante do poder de Naraku.
- Maldito!
Contavam-se agora trinta anos desde que se encontraram pela primeira vez. Antes disso ele tinha sido só uma sombra, aquele que apontavam como seu oposto, mas cuja existência não passava de uma lenda para ele.
Então em uma noite exatamente como aquela, o vento tinha parado de soprar, a floresta silenciara e Naraku veio com seu exército de páreas espalhando o medo e tingindo a terra de vermelho. Ele não tinha nenhum respeito pelos youkais e ainda menos pelos humanos. Inuyasha, sendo o que era, podia entender a dor, mas jamais os atos cometidos em nome desse sentimento. Por algum tempo tentara se convencer de que se Sesshoumaru não tivesse tomado conta dele como fizera, teria se tornado tão cruel quanto seu adversário, mas não demorou a perceber que mesmo que fosse verdade, pensar assim não o faria descansar sabendo que o único ser igual a ele no mundo divertia-se provocando o caos.
Inuyasha fechou os olhos. Seu ferimento estava doendo um pouco e ele sentia-se tão cansado quanto estaria se tivesse acabado de sair de uma seção de treinamento de três dias com o irmão mais velho. Sorriu ao pensar nisso, imaginando como as coisas estariam em casa. Se Sesshoumaru continuava dando ordens, se Jaken permanecia mudo enquanto Rin fazia de tudo para incitá-lo a falar.
O vento suave e as lembranças o embalaram e estava quase adormecendo quando o barulho de um galope o despertou. Sentou-se rapidamente e olhou para baixo, a procura da fonte do barulho quando viu uma figura coberta por uma capa, montando um cavalo branco, aparecer e parar bem sob a árvore em que estava.
A figura olhou em volta e hesitou. Então abaixou o capuz, deixando a mostra o rosto pálido emoldurado por uma cascata de cabelos negros.
Inuyasha ofegou.
Higurashi do Norte. Agora a noite estava completa.
-
CONTINUA
-
Eu prometi que o Inuyasha e a Kagome se encontrariam nesse capítulo... Bom, de certa forma eles se encontraram. Agora as coisas ficarão mais fáceis para mim.
Sobre a Kikyou... Não, ela não morreu. Tudo o que foi escrito sobre ela na cena do Miroku parte das impressões dele. Tenho planos para ela.
Por favor, não me matem!! Eu realmente penei para escrever isso... T-T Não ficou nada explícito demais, mas não é o meu tipo de cena... Não sou boa em ser má...
Desculpem os erros também. Revisar capítulos depois das duas da manhã nunca acaba em boa coisa...
Quanto aos reviews, obrigada as pessoas que comentaram o último capítulo:
Kisamadesu, Bella, Akane Tendou, Hell's Angel-Heaven's Demon, Aaliah, Yume Rinku, Megawinsone, Tici-chan, Paixao, Shampoo-chan, Hikao-chan, Carol Higurashi Li, Mari Marin, Artemisa, Eyewear e Juliane.chan.
Peço desculpas por não responder individualmente, mas eu realmente tenho que correr - se quiser publicar isso e dormir algumas horas (sou só eu ou acordar cedo é um martírio?)
Obrigada por lerem!! Espero que me digam o que acharam (e não me xinguem... muito XD).
Até mais!