N/ADesisti de esperar pela minha Beta, já havia mandado o cap há séeeeeeeculos e nada! Enfim, resolvi postar. Sorry, pessoal, mesmo!
CAPÍTULO 17: Missões
Sirius olhou mais uma vez para o jornal aberto em suas mãos, embora não o estivesse realmente lendo. Aqueles meses no local já tinham servido para aprender a se comportar como um nativo, falar, ler e escrever como tal, embora o sotaque inglês nunca o deixasse em paz. Como Lílian havia dito certa vez, eles seriam trouxas ingleses morando no belo e calmo país tropical. Apenas isto. Virou a página do jornal e percebeu que estava na seção de esportes. Ajeitou seus óculos escuros e aproveitou para olhar melhor a sua volta. Tudo muito tranqüilo, tudo normal naquela praça onde estava sentado tomando um café, que no momento estava depositado sobre a mesa, uma daquelas de pedra, muito desconfortável e humilde se comparada às das praças inglesas, pensou Sirius.
- Nenhum sinal? – ouviu a voz de Lílian na escuta em seu ouvido.
- Nada – respondeu ele em voz baixa, como se falasse sozinho de algo relativo ao jornal.
Respirou fundo, estava entediado, cansado, chateado, com raiva! Sua missão ao ir pra lá nunca foi ficar vigiando nem seguindo todos os passos de ninguém! Isso era trabalho de detetive, não de um Auror!
- Nós viemos pra cá pra passar informações sobre os Comensais ingleses e impedir que eles espalhassem suas técnicas, missões, maldades, o que quer que seja!; pelo amor de Merlin, o que estamos fazendo aqui?? – perguntou ele, com o jornal mais alto para tampar-lhe o rosto, mas logo voltando a baixá-lo para que não perdesse um só movimento da praça e do hotel ao qual estava vigiando.
- Eu sei, eu sei, Sirius – veio a voz de Lílian num sussurro cansado, ela estava dentro do esplendoroso hotel. Obviamente no ar condicionado, pensou Sirius. – Mas esse cara um comensal inglês, e dos grandes, eu sei disso! Se o pegarmos, vamos impedir o plano deles, ou ao menos parte dele, de difundir as técnicas de terror e a bela ideologia deles por aqui... não podemos deixar que eles seduzam esse povo! E essa é a nossa missão. Essa máfia está mais perto de nós do que nós pensamos... quem sabe isso tudo não acaba logo e voltaremos pra ca-
- Desculpe interromper seu discurso, chéry, mas ele vem vindo. Posso farejar um deles quando estão perto... – Sirius levantou um pouco o jornal, parando apenas na altura dos olhos, observando o homem de terno azul claro passar por ele em direção ao hotel e, analisando-o, começou a descrevê-lo para Lílian – Terno alinhado, azul claro, chapéu no mesmo tom, cabelos lisos e castanhos-louros, mala preta na mão direita, ar de quem se acha importante... vamos ver se vai continuar assim em Azkaban... acabou de entrar, com dois brutamontes às suas costas.
Lílian levou seu drink aos lábios, bebendo apenas uma gota, e olhou para o hall de entrada, localizando imediatamente o homem, que olhou para todos ao seu redor. Lílian sorriu para ele e levou o drink novamente à boca. Depois saiu em direção ao elevador ao qual sabia que o comensal iria. Chegar ao local antes era uma boa tática para se disfarçar a perseguição. Antes mesmo que apertasse o botão do elevador, outra pessoa o fez.
- Boa tarde, senhorita – disse o homem em português, sorrindo – visitando o país?
- Oui – respondeu em francês, mudando depois para um português carregado de sotaque francês. Optou por mudar sua nacionalidade, já que o outra era visivelmente inglês – Non pude resitirr a les fotografias, belle país, non? – disse tão rápido que nem deu tempo do homem reparar nas palavras em si, mas no sotaque em conjunto.
- Oui. – brincou ele, respondendo positivamente em francês também.
Lílian sentiu uma mistura de nojo, raiva e desprezo, enquanto apenas retribuía o sorriso galanteador do idiota, ou melhor, do comensal. Para a sorte dela, a porta do elevador se abriu e eles logo entraram. Os dois e mais os guarda-costas dele. Havia também o funcionário do hotel no elevador.
- Cobertura – disse o comensal.
- 19. – disse Lílian, no mais próximo do francês que pôde.
Ela então deixou o elevador no andar inferior ao último e, assim que as portas se fecharam, correu para a escada para ir ao último andar.
- Pegou tudo? – perguntou para Sirius.
- Sim, ouvi, já estou na cobertura também. – respondeu – E a equipe local cercou o prédio.
De seu esconderijo, a ruiva – que agora tinha cabelos negros – pôde ver o homem abrir a porta da imensa e luxuosa suíte da cobertura e entrar com os outros. Provavelmente haveria um comitê inteiro reunido. Ela não queria nem pensar na procedência do dinheiro que pagaria aquilo tudo. Ou eles não pagariam? Tomariam logo o hotel e pronto? Bom, não importava, eles seriam presos.
- Não se preocupe. – ela ouviu Sirius sussurrar e, antes mesmo que pudesse fazer pergunta alguma, as luzes do prédio se apagaram. Uma explosão foi ouvida, seguida pelo som de algum alarme do prédio.
A porta foi aberta e um homem saiu blasfemando em inglês. Alguém atrás dele já trazia sua varinha iluminada.
- Lum
- Expelliarmus! – gritou Lílian, fazendo várias varinhas voarem. Nessas horas era muito bom ter um excesso de força mágica, pensou ela sorrindo.
As únicas luzes que se viam agora eram os feitiços sendo disparados de um lado para o outro. Surpresos demais para contra-atacar, sem nem ao menos saber a quem atacar e aonde, tornaram-se presas relativamente fáceis para Lílian e Sirius. O homem gritou – Lílian reconhecera a voz do homem do elevador – e ela pôde distinguir a silhueta de Sirius por trás dele na penumbra e logo os dois sumiram. Lílian azarou os restantes e deixou-os desmaiado. O resto a equipe local faria. Então, desaparatou.
"Eu sou o lobo mau, lobo mau, lobo mau; pego as criancinhas pra fazer mingau!", cantava Viviane baixinho, enquanto se aproximava lentamente do outro extremo do parque inglês. Sim, ela não chegara a sair do país, apenas mudara de cidade, porém sua missão era a mais arriscada de todas e ela teria de fazê-la sozinha, já que Remus só entraria em ação mais tarde.
Em plena luz do dia!
Não sabia ainda ao certo como faria aquilo, tinha apenas um vago plano em sua cabeça, mas continuava a andar. Seu alvo era uma menina de uns 11 anos e cabelos loiros soltos que brincava de pular corda com outras duas garotas. E os outros trouxas? Eles iriam ver, e ela não podia se preocupar com isso, porque um comensal não se preocuparia com isso, muito pelo contrário, quanto mais pânico melhor!
Matar, matar aquela garotinha... por que não tinham começado pelo interrogatório?? Provavelmente porque sabiam da existência de uma Poção anti-veritasserum, e sabiam também que essa poção tinha prazo validade, que se expirava em 24 horas, e a poção que dela tinha sido tomada fazia 20 horas. Anda logo, pensava ela, se não eu estou muito ferrada! Calma, uma coisa de cada vez... aquela tarefa primeiro: tinha uma Poção Explosiva, que estava num frasco redondo, num bolso, uma faca no outro. Sem varinha.
Aproximando-se... 20 metros de distância. Cada passo era muito pesado naquele gramado. 15 metros. Colocou as mãos nos bolsos e segurou firme a poção de frasco fino e pegou a outra com os dedos. A faca firme na outra mão. 7 metros. Fria, ela devia parecer fria, cruel, insensível. 4 metros. Parou, ficou observando a brincadeira das meninas com um sorriso doce no rosto. Sorriu ainda mais para a loirinha. Depois voltou a se aproximar, já jogando a Poção Explosiva no chão, que, depois de um estrondo, levantou uma enorme poeira verde, a qual ela aproveitou para dar a outra poção à garota e agarrou-a, levando-a para trás de uma árvore, onde usou a faca para cortar (levemente, mas tão rápido que aparentou ter sido forte) a garganta dela.
- Muito bem. – disse uma voz grossa atrás dela, assustando-a.
O jovem rapaz de sobretudo negro sorriu e ofereceu um objeto à Viviane, que o tocou rapidamente e instantes depois ambos não estavam mais no parque, mas sim em uma sala. O rapaz, de cabelos castanho-escuros, sentou-se e indicou com a mão a cadeira em frente. Era ele, Marcus, que vinha cuidando da adesão de Viviane no lado das Trevas.
- Você é minha melhor pupila – disse Marcus em um tom baixo de voz, rodeando-a enquanto falava – mas a maior prova ainda estar por vim... espero que não me decepcione. Por favor, venha comigo.
Viviane já sabia do que se tratava e não podia negar que estava com medo de ser descoberta. 4 horas, só tinha mais 4 horas. Talvez mais 3 horas e meia, nem sabia mais ao certo. Eles entraram em uma sala que era tão bem iluminada que parecia cegar. Havia apenas duas cadeiras ali, possuindo uma delas amarras nos braços e nos pés, as quais foram amarradas nos respectivos membros de Viviane.
- Agora beba isto. – disse ele, segurando um frasco diante da boca da garota, que o tomou sem fazer perguntas.
O líquido ardeu um pouco ao descer pela garganta, mas não possuía gosto algum. O efeito foi instantâneo. Sentiu seus olhos saírem de foco por um instante e retornarem em seguida. Sua mente parecia confusa, porém limpa. Por um segundo, não soube dizer quem era ou onde estava, mas em seguida foi como se uma ficha inteira tivesse aparecido diante dos seus olhos, com o seu nome, sobrenome, endereço, profissão, amor, interesses, objetivos, hobbies, tudo. A poção-antídoto ao veritasserum que tinha tomado não a deixava mentir, isso era uma coisa impossível de se fazer quando se estava sob o efeito de veritasserum, porém a fazia acreditar de verdade na personalidade bem criada anteriormente. Era um poção um tanto quanto difícil de se conseguir seu total sucesso, havia sempre o risco de a "ficha" real sobrepor-se à fictícia, mas esse era um risco que Viviane sabia que teria de correr. Mas, no momento, ela nem sabia disso. Porque não era mais a Viviane.
- Olá – disse Marcus. – Pode me dizer seu nome, senhorita?
- Vanessa Combs. – disse ela, numa voz um tanto quanto etérea, porém confiante.
- E que dia é hoje, Vanessa?
- É Quinta, dia 27.
- E você sabe o que estamos fazendo aqui?
- Sim, o senhor está me interrogando pra saber se eu sou confiável pra me tornar uma Comensal.
- E você é? – perguntou ele.
- Sim. – respondeu apenas.
- Por que você quer ser uma Comensal? – continuou ele.
- Eu simplesmente quero. Porque eu gosto disso. Porque é divertido, porque tem tudo a ver comigo e porque eu acho que vocês é que vão vencer essa guerra, então, pra que eu ia ficar do lado deles? Além do que, a recompensa deles deve ser uma medalha, já a de vocês... – um brilho de ambição passou pelos olhos dela.
- Me diga uma coisa, Vanessa, o que você sentiu hoje quando matou aquela menina? Você pensou nos pais dela? Pensou no quê?
- Não. Eu...eu...eu gostei. Me senti potente, importante, a vida dela dependia de mim, estava nas minhas mãos, e eu a tirei.
- Você quer fazer isso de novo? Sente-se capaz?
- Sim. – limitou-se a responder ela.
- Mas você já pensou em se tornar Auror? – perguntou ele, que já tinha perguntado isso antes para Viviane e ela propositalmente havia negado.
- Sim – respondeu, dando veemência ao poder do veritasserum, já que antes teria mentido e agora seria a verdade. – Porque eu queria acabar com essa guerra, mas isso foi antes de eu perceber que eu deveria entrar, sim, na guerra, mas do outro lado. – um brilho de ambição e ganância pôde ser vislumbrado novamente nos olhos escuros da garota, deixando o outro muito satisfeito.
Viviane acordou horas mais tarde em uma outra sala. Estivera com a cabeça deitada sobre seus braços, que estavam dormentes agora. Era uma longa mesa branca e, sobre ela, havia uma taça com um líquido escuro. Uma poção. E ela não fazia idéia dos efeitos dela. Mas sabia que deveria tomá-la. Assim como sabia que estava sendo assistida. Remexeu-se na cadeira. Respirou fundo. Pegou a taça e bebeu tudo de uma vez. O líquido era tão forte que lhe causou uma rápida tonteira. Logo as coisas voltaram ao seu normal. Mas logo saíram de foco e, então, Viviane viu-se mergulhada numa lembrança.
Pouco antes de iniciarem suas missões, Remus a havia levado para um local privativo. Ele parecia apreensivo, preocupado, receoso, contudo decidido.
- Vi, tem uma coisa que eu preciso te contar. – começara ele.
A garota limitara-se a um olhar atento de quem espera o outro continuar.
- É que...antes de qualquer outra coisa, eu queria te dizer que eu nunca te contei isso pra sua própria segurança, e...bem...também porque eu tive medo...
- Hei! – chamara ela, cortando-o – Nós não temos muito tempo, conta logo...
- É sobre a minha doença... o motivo pelo qual eu "sumo" todo mês... é que eu...eu sou...bem...quando eu era criança, eu fui mordido por um lobo e...
Viviane acenou com a cabeça, incentivando-o a continuar diante da pausa dele.
- Eu sou um lobisomem. Pronto, é isso, eu sou uma criatura das trevas.
A morena arregalou os olhos e abriu a boca, porém, ao invés de dizer qualquer coisa, sorriu.
- Era só isso? Era por isso?? – perguntou ela – Bem, eu já desconfiava disso, eu já sabia disso, foram muitos anos de convivência com vocês... mas nunca tinha me passado pela cabeça que era isso que nos distanciava...
- Sim. – respondeu ele apenas, sem encará-la nos olhos.
Viviane então teve um ataque de risos.
Ao abrir os olhos, a cena dissipou-se em sua mente. Viviane então se assustou com o que acontecia naquela sala. Foi como se ela tivesse sido jogada de volta à realidade bruscamente, caindo logo no meio de uma crise. Uma sirene estridente apitava e ouviam-se passos apressados de todos os lados. A porta estava aberta a sua frente e parecia que tinha sido aberta por ninguém menos que Sirius Black. Sua expressão era de total preocupação.
A única conclusão a que ela conseguiu chegar naqueles rápidos segundos foi que aquela base estava sendo ataca por Aurores e Sirius havia, de alguma maneira, descoberto que ela estava lá.
- Rápido! Vem!! Precisamos dar o fora daqui! – gritou ele, estendendo uma mão em sua direção.
Apesar de extremamente confusa, Viviane sabia que não havia tempo para perguntas. A situação parecia ser crítica. Talvez os Aurores estivessem perdendo. Levantou-se rapidamente e contornou a mesa que estava entre eles. Contudo, parou abruptamente ao chegar perto da porta, levando uma mão à boca. Desespero em seus olhos arregalados.
Naquele momento não havia mais sirene, nem passos, nem Aurores nem nada. Era como se o próprio tempo tivesse parado. Havia apenas ela e Sirius, cuja expressão era de surpresa e dor.
Sirius havia projetado seu corpo para frente, como se algo o empurrasse em suas costas. Não havia dúvidas, ele havia sido atacado. Tinha os olhos arregalados e a boca aberta num grito mudo. Aos poucos, caiu de joelhos e tombou o corpo para o lado.
- Não!!!
Foi tudo o que Viviane conseguiu gritar pois, ao cair, Sirius deixou à mostra a Comensal que estava atrás dele. Com a varinha ainda apontada para frente, ou seja, para Viviane agora.
- Não se preocupe, querida, você logo vai se juntar a ele... em outro mundo. – disse Bellatrix com um sorriso, antes de proferir um feitiço.
A noite estava linda. Não do jeito convencional, estrelado e com uma brilhante lua. Havia uma lua, sim, mas que aparecia apenas em alguns momentos, quando as espessas nuvens escuras moviam-se de modo a deixar uma brecha para a lua iluminar o mundo. Aquela parte do mundo. Não havia sinal das estrelas, já que o manto azul-enegrecido as cobria. Mas Pedro sabia, depois de tantos anos, ele sabia quando uma noite era noite de Lua Cheia.
Frank não entendia a fascinação do outro pelo céu e perguntava-se o motivo de Pedro estar há tantas horas na sacada do apartamento deles, somente olhando para cima, para a escuridão. Não havia nada para se olhar, pensava Frank, talvez Pedro estivesse apenas pensando... pensando na missão, na vida, na guerra, nos outros, nos amigos, na sua casa, na sua família, relembrando bons momentos, maus momentos, enfim, que Pedro estivesse num daqueles momentos da vida em que você simplesmente pára parar pensar. Para achar um significado para tudo isso.
O vento frio empurrava as nuvens tão suavemente que era difícil notar alguma diferença no céu, mas aos poucos certas nuvens foram ganhando uma tonalidade diferente das outras, uma tonalidade prateada, brilhante, clara, como se uma neblina encobrisse uma luz qualquer, até desaparecerem por completo e, naquela brecha, a Lua Cheia pôde ser apreciada. Completamente redonda, prateada, brilhante, iluminada. Linda.
Mas não era apenas uma lua, era muito mais do que isso. Não só para Pedro, como para cada um dos Marotos, aquilo significava amizade. Significava união. Tudo o que eles fizeram para amenizar o sofrimento de um amigo. E, quando estavam separados, olhar para a Lua era como olhar para cada um deles e não sentir-se mais sozinho. Era saber que havia outras pessoas no mundo que se importavam com você. Que gostavam de você. Que fariam qualquer coisa pro você.
E foi por isso que doeu.
Doeu tanto que Pedro não pode mais suportar olhar para a Lua Cheia.
Nunca mais.
Tiago, cujo fuzo horário não se distanciava muito do de Pedro, olhava para o céu limpo da Alemanha com profunda felicidade. Alheio aos sentimentos do outro maroto, estava deitado no gramado, como se estivesse nos jardins de Hogwarts, e sorria lembrando-se de bons momentos ao lado de seus amigos. E de Lílian. Sim, porque não importava onde ela estivesse, se lá fosse dia e aqui fosse noite, ela ainda seria sua Lily.
E não havia nada no mundo, trouxa ou mágico, que pudesse deixá-lo mais feliz do que ter os melhores amigos do mundo e a melhor garota do mundo ao seu lado.
Mesmo que todos eles estivessem longe.
- Pensando na Lílian?
Tiago se assustou e sentou-se de um pulo antes de seu cérebro lhe informar que tratava-se apenas de Alice. Ele então sorriu para a garota que sentara-se ao seu lado.
- É tão óbvio assim? – perguntou.
- O sorriso – disse ela, depois desviou os olhos para frente. – Eu estava pensando no Frank. Estava pensando se... eles estão bem, né?
- Claro que estão! Todos eles! Se não nós ficaríamos sabendo!
Depois de dizer isso e ver a cara de dúvida de Alice, Tiago teve medo.
- Eles não ia querer estragar duas missões... iam preservar uma... – começou ela, ainda sem saber se devia ou não dividir seus medos – Eles sabem que se a Lílian desmaiasse do outro lado do mundo, você iria correndo pra lá, e isso iria acabar com a nossa missão, então eles não nos contariam nada e só ficaríamos sabendo quando voltássemos... mas se ficarmos pensando nisso, vamos enlouquecer e estragar a missão do mesmo jeito... então, se não tiver acontecido nada com ninguém, vamos ser expulsos da corporação à toa...
Tiago olhou novamente para o céu, com as palavras de Alice ecoando em sua mente. E se já tivesse acontecido alguma coisa com ela? E se ela estivesse precisando de ajuda?? E se ela estivesse precisando dele? Mas também havia outros 50% de chances de estar tudo bem. Mas como iria saber disso? Ele precisava saber disso!
E havia uma maneira.
Mas antes de qualquer outra coisa, Tiago tentou acalmar Alice e, com uma certeza que não possuía, a convenceu de que tudo estava bem e que ela e Frank ainda seria muito felizes juntos. Talvez até ainda tivessem filhos! E depois que Alice foi dormir, dirigiu-se ao seu quarto e procurou desesperadamente pelo seu espelho. A única maneira segura de falar com Sirius. A única maneira possível de falar com Sirius. E saber de Lílian. Graças a Merlin era ele quem estava com ela.
- Sirius. – chamou ele – Sirius!
Uma intensa luz refletiu no espelho, fazendo Tiago fechar os olhos. Quando ele os reabriu, um Sirius preocupado e confuso o encarava.
- Só um minuto. – sussurrou ele, e desapareceu do espelho.
Sirius deu uma desculpa qualquer aos outros e entrou no estabelecimento mais próximo, que era um mini-mercado, dirigindo-se ao banheiro, tirando logo seus óculos escuros. Como podia ter tanto sol naquele país? Como podia ser tão quente?? Após verificar que o local estava vazio, puxou o espelho do bolso.
- Algum problema, Pontas?
- Não, não, eu só queria saber de vocês...
Sirius abriu um largo sorriso.
- Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você não ia agüentar e ia querer saber notícias. Nós estamos bem, cara, ela está bem. Aliás, nossa missão já está no fim, estamos acabando com a Máfia de Comensais que estava se formando por aqui!
- Eu e Alice também estamos bem... era só isso mesmo – disse Tiago sorrindo –, até porque a gente não pode saber demais... então, fala pra ela que-
- Ahhhhhh! – cortou Sirius – Não me faça de cupido-de-recados-de-Hogwarts! Não estamos nem no dia dos namorados! – depois começou a rir – Eu direi. Foi bom falar com você, Pontas, até mais.
Tiago deu seu sorriso maroto.
- Obrigado, Almofadinhas. Até mais, cara.
Sirius guardou o espelho no bolso e saiu como se nada tivesse acontecido. Um sujeito estava entrando no banheiro naquele momento e pareceu confuso, sua testa franzida com as sobrancelhas quase juntas demonstravam que ele devia ter ouvido a voz de Sirius e não tinha entendido nada. Mas Sirius não se preocupou com isso, ele não tinha dito nada demais e, na pior das hipóteses, ele passaria por um cara que fala sozinho no banheiro masculino! Sirius riu consigo mesmo com esse pensamento.
Contudo, a cara do sujeito não se comparava com os olhos arregalados de Lílian, que não havia suspeitado de nada antes e por isso ficara muito surpresa – aliás, chocada – quando ele lhe contara tudo à noite. Fora o sermão de "Ele não podia ter feito isso!! Era perigoso!", mas que contrastava com o sorriso e a felicidade nos olhos dela.
Então, naquela noite, enquanto já era dia para os outros, foi a vez dele se sentar ao luar, lembrando-se dos seus amigos e dos bons tempos de escola. Porém, ele não ficou muito tempo nessas boas lembranças. Olhar para a Lua Cheia, esplendorosa em seu último dia, o fazia lembra-se principalmente de Remus e, conseqüentemente, de Viviane. E ele não queria pensar nisso. Por mais que dissesse e agisse como se já tivesse superado tudo e esquecido Viviane, ele não tinha nem superado nem esquecido. Muito menos esquecido.
E agora só Merlin podia saber o que estava acontecendo.
- E então, Vanessa? – perguntou o mentor de Viviane – O que você viu?
Viviane olhou assustada ao seu redor, constatando que tudo estava como antes, não havia sirene alguma, nem passos, nem Aurores, nada. Ela, contudo, estava de pé, perto da porta da sala. Fora tudo sua imaginação. Tudo causado pela Poção Alucinógena. As duas cenas.
Após sentar-se novamente, começou a contar. Colocando tudo em ordem na mente primeiro. Aquele líquido, um alucinógeno! Ela nunca teria pensado que isso seria usado numa prova...
- Bom, primeiro me veio uma lembrança à cabeça, de um antigo amigo meu me contando um segredo... – Viviane tinha perfeita noção de que não poderia mentir muito, já que ela devia ter falado e agido como nas alucinações, tendo sido observado inclusive suas reações – e depois parecia que estávamos sendo atacados por Aurores, então você vinha me mandando agir, mas era atacado e logo depois a Auror me azarava também. Só que não deu tempo dela proferir o feitiço, então eu não cheguei a ser atingida...
Parecia que ele tinha acreditado, pois sorrira. E não havia motivo para duvidar, já que a versão coincidia com suas falas e ações anteriores.
- Certo. Amanhã você terá sua primeira missão. É simples, você só precisa capturar um Auror para nós, não precisa ser ninguém importante e não importa como você vai fazer isso. Leve o tempo que você precisar. Escolha uma vítima, observe-a, descubra seus hábitos, hobby, pontos fracos e traga-a pra cá. Eu estarei sempre por perto, mas terá que fazer isso sozinha. Tenha uma boa noite.
E, ainda sorrindo, ele deixou a sala.
Enquanto a Bipolaridade em que vivia o Mundo Trouxa durante aquele período em que eles denominaram de Guerra Fria gerava uma crise na Alemanha, dificultando o trabalho de Tiago e Alice; Pedro e Frank investigavam o assassinato do Ministro da Magia da França; e Sirius e Lílian finalizavam definitivamente sua missão no Brasil; Viviane sentia-se como se seu mundo tivesse sido virado de cabeça pra baixo.
- Mas como assim??? – gritava ela, tentando, inutilmente, não se deixar descontrolar – Já estava tudo pronto! Ele era meu!
- Mudança de planos. Não questione. Ordens superiores. Arrume-se, vamos viajar.
- Então não vamos pegá-lo mesmo?? Essa era minha missão! Vão desperdiçar um Auror que está nas minhas mãos assim??
Esse Auror era Remus Lupin, com o qual já estava tudo combinando antes mesmo de Viviane juntar-se aos Comensais da Morte. Eles simulariam tudo e depois teriam uma lista de comensais para se capturar com provas. Pessoas no Ministério e em outros órgãos importantes da Magia cujos Aurores não podiam tocar por não poder provar que eram comensais ou envolvidos, mas que depois disso seriam levados direto para a prisão.
A não ser que houvesse um imprevisto na missão.
Mas o que ela poderia fazer?? Exatamente. Nada. Ou melhor, seguir as "ordens superiores" e ir fazer seja lá o que eles quisessem aonde quer que fosse. E foi tentando disfarçar sua raiva, revolta, má-vontade, etc., que embarcou no avião.
A viagem foi tranqüila, muito mais calma do que Viviane esperava até, e não soube de absolutamente nada sobre para onde estavam indo ou o que deveriam fazer. Humpf!, bufou Viviane, uma semana inteira perdida na simulação com Remus! E ele nem devia estar sabendo da "mudança obrigatória de planos", ficaria preocupado com o repentino sumiço dela. Vi só esperava que ele não fizesse nenhuma besteira ao tentar ter notícias dela. Se ao menos ela tivesse como mandar um recado por coruja... tentaria ao chegar no país ainda não identificado, o qual ela olhava pela pequena janela do avião.
Foi com uma grande surpresa que ela olhou ao seu redor no aeroporto, percebendo que estava na França. Mas foi uma surpresa muito maior quando, no dia seguinte, a levaram para um café, cujas mesas ficavam na calçada e apontaram para dois sujeitos na rua.
- O Lorde diz que eles estão no nosso caminho e, por isso, devem ser removidos. – disse Marcus – Então é o que devemos fazer aqui, em primeiro lugar. Depois, temos outras coisas em mente também, mas por hoje isso é tudo que você precisa saber.
No outro lado da rua, caminhavam discretamente Frank Longbotton e Pedro Pettigrew. Os alvos do Lorde.
""timo!", pensou Viviane ironicamente, tentando disfarçar sua surpresa e desgosto.
- E o que sabemos deles até agora? – perguntou ela, com a voz neutra.
- Nada. Você vai descobrir.
"Que legal", controlou-se para não dizer isso em voz alta. Respirou fundo.
- Bem, então vamos lá. – disse mais para si mesma do que para Marcus, levantando-se e ajeitando seu casaco.
Viviane atravessou a rua e andou rapidamente atrás deles, até alcançá-los e tocar no ombro de Pedro.
- Com licença, vocês falam inglês?? – perguntou com um sorrindo meio sem graça, de quem está pedindo ajuda a um desconhecido – Eu estou perdida...
Tudo o que ela podia fazer era torcer para que a expressão de surpresa e reconhecimento estampada nos rostos deles não a denunciassem, mas eles logo notaram que havia algo errado.
- Pois não, senhorita? – disse Frank, numa expressão de, digamos, solidariedade.
- Eu não estou sabendo como chegar a este hotel – ela lhe entregou um pedaço de papel trouxa e apontou –, eu nem sei pronunciar isso direito... – acrescentou sorrindo.
Frank então lhe deu as instruções e, após agradecer imensamente, Viviane seguiu seu caminho até o hotel. Enquanto andava, a garota pensava na infeliz coincidência de ter que fazer alguma coisa contra seus amigos. Com Remus pelo menos as coisas já estavam armadas, ele sabia de tudo e eles tinham um plano para depois. Mas agora, ela não fazia idéia do que fazer, nem por onde começar. Pensava também no motivo que tinha levado a não-sei-quem-que-dá-as-ordem-superiores para desperdiçar Remus daquele jeito e mandá-la pra França.
Tudo estava muito estranho. Alguma coisa parecia errada, aquelas peças não estavam se encaixando direito. Ou talvez tivessem se encaixando bem demais naquele jogo.
Contudo, mais desconfiado e surpreso do que Viviane, estava Frank. Durante o resto do dia ele tinha ficado com uma dúvida na cabeça: A quem Viviane estava tentando enganar, fingindo que não os conhecia? E a dúvida só fazia crescer em sua cabeça pois, com o passar dos dias, eles foram encontrando a garota acidentalmente várias outras vezes e ela sempre parecia querer tornar-se uma amiga deles, ou algo do tipo, passando-se por uma solitária – e sempre perdida – turista inglesa, com muitas perguntas para eles, sempre alegre e comunicativa.
E, quando ele achou que nada mais poderia surpreendê-lo naquela missão, notou que Pedro não voltara para o apartamento em que eles estavam desde o dia anterior. Mesmo não sabendo sua real motivação, Frank fora direto para o tal hotel de Viviane.
- Bonsoir. – saudou a recepcionista do hotel que, ele logo notou, falava inglês – Por favor, procuro a senhorita Isabela Stuart.
Esta era a identidade falsa da identidade falsa. Afinal, ela não podia ter se apresentado nem como Viviane nem como Vanessa, qualquer um dos dois seria muito arriscado.
- Sinto muito, senhor – começou a atendente, com o sotaque francês carregado – mas a conta dela já foi fechada. – ela olhou novamente para o monitor e continuou – Esta manhã mesmo, por um rapaz.
Aquilo tudo estava definitivamente muito estranho. Então ele compreendeu até mesmo o que ela não havia compreendido antes: eles, quem quer que "eles" fossem, estavam testando-a ao colocarem-na com Pedro e ele, e parecia que ela não havia passado no teste. E, pior ainda, além de terem pegado-a, deviam ter pegado Pedro também.
Frank viajou imediatamente para Londres.
Chão frio, apenas a roupa do corpo, cabelos despenteados.
Viviane tinha as duas mãos no rosto, segurando o rosto, pressionando o rosto. Poucas lágrimas, mas muita angústia, confusão, medo e sofrimento. Apesar de ainda não terem feito nada com ela, esse era apenas o primeiro dia dela como prisioneira. Tinham armado uma teia sobre seus pés e ele não tinha percebido, caindo direitinho na armadilha deles.
Ela agora estava sentada no chão de uma pequena cela fechada, três paredes e uma porta, nenhuma janela, com as costas apoiadas numa cama dura. Pelo menos havia uma cama. E estava sozinha. Bom, se isso era bom ou ruim ela não sabia dizer, mas lhe intrigava. Pensou que fosse ser jogada numa cela com outros prisioneiros ou simplesmente morta, mas não, ela estava ali, como se estivesse sendo guardada.